segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Diário_2018

 

31.12.18

Uma nação, dois sistemas

Não tenho nada contra os chineses. Considero-os até nossos amigos… Aos poucos têm conseguido povoar o território português e vão-nos libertando do fardo da propriedade. 

A propósito de influência chinesa, parece que a China tem um papel cada vez mais preponderante nas antigas 'províncias' ultramarinas, de tal modo que me interrogo se o ´'excêntrico continente' não estará cada vez mais próximo de se tornar uma província chinesa.

De qualquer modo, antes que oficialmente tal seja reconhecido, o governo português já deu início ao processo de integração ao adaptar o princípio «uma nação dois sistemas». É só olhar para a sua aplicação no caso dos professores do continente e ilhas…

Os chineses são criativos, sem dúvida, e nós gostamos de caminhar na dianteira, por isso imitamo-los.

 

30.12.18

O candeeiro

Na casa de campo (ou no condomínio fechado), um destes candeeiros é capaz de deslumbrar a vizinhança. No entanto, o empréstimo já não cobre a iluminação exterior… Sem cheta, como satisfazer a tentação? 

- E se o arrancasse pela base? Agora, só falta um eletricista…Talvez a Oficina do Reformado possa ajudar a resolver o problema… 

É, assim, o meu país, no final de 2018. E não prevejo que 2019 possa ser melhor. 


29.12.18

O pedinte

«É o eu, encruzilhada por excelência onde tudo se cruza, converge e diverge.» Maria Lúcia Lepecky, DN 26.06.1988

As estátuas estão de costas, inconscientes da existência do pedinte, tal como este parece alheio à sua presença…

Se (re) pararmos nas estátuas, uma delas, de óculos, ignora deliberadamente a jovem e sorridente 'família', parecendo fixar-se num ponto longínquo - talvez uma palmeira colonial…

Nesta rua de Algés, a composição parece revelar um EU excessivamente mercantil - postiço… Todavia, só o pedinte sabe como esconder o olhar… 

 

 

28.12.18

Não dei conta

Luís Bento (1951-2015)

«Autor de livros sobre Formação, Gestão de Recursos Humanos e Ética nos Negócios, era comentador de assuntos económicos, sociais e políticos em vários canais de televisão e estações de rádio.» 

Não fosse um amigo ter-me doado um pacote de livros, provavelmente continuaria a ignorar um autor que procurou dar conta do modo de estar da geração nascida nos anos 50 do século passado, a minha. De rajada, li os dois livros publicados pela editora onyva: Este Nosso Jeito de SerA Alquimia dos Sentidos - Romance de uma geração.

Apesar da notoriedade de Luís Bento, confesso que vivia na ignorância da sua existência - eu que até tenho um primo com o mesmo nome, nascido no mesmo ano e dia que eu - e de desconhecimento em descobrimento, acabei por encontrar no romance um padre Francisco que me tem dado que pensar…

«... o padre, um franciscano do Seminário de Carnide, que mais tarde viria a ser bispo de Santarém…» op. cit., pág 167

O padre Francisco revela-se, em 1969, no âmbito da campanha eleitoral (da CDE), uma figura fundamental para libertar os jovens contestatários da Pontinha que se encontravam presos no Governo Civil há três dias…

Desta vez, o romance, para além de, alternadamente, me dar conta do percurso do herói na periferia da capital e na guerra colonial em Angola, abriu-me uma outra porta. Afinal, quem, era na verdade, aquele franciscano que se tornou no primeiro bispo da diocese de Santarém, tendo ido habitar o mesmo espaço donde eu saíra ainda havia relativamente pouco tempo?

O franciscano chamava-se António Francisco Marques, tendo sido bispo da diocese de Santarém, por nomeação do Papa Paulo VI, de 16 de Julho de 1975 a 28 de Agosto de 1977... 

Foi bispo da minha diocese, tendo mantido com os meus pais uma relação de que só agora me apercebo… Um bispo discreto, com uma biografia mínima, vá lá saber-se porquê!

Quanto ao romance, é de leitura fácil e bastante fiel à vida daquela época… 

Quanto a Este Nosso Jeito de Ser, algumas das crónicas traçam um retrato fiel da mentalidade portuguesa.

 

27.12.18

O veto

O presidente Nogueira diz que o veto do Professor Marcelo foi 'uma boa notícia'. Resta saber para quem!

Em ano de eleições, espera-se um fartar-vilanagem desenfreado. Seja qual for o resultado, para 2020 as nuvens anunciam-se carregadas… O melhor seria apagar, desde já, o ano de 2019.

 

26.12.18

A esta hora

A esta hora, o Presidente deve andar às voltas com a contagem do tempo de serviço dos professores. O assunto é sério, não fosse ele o Senhor Professor…

No labirinto do Presidente, os conselheiros já estão cansados de fazer projeções… É que não são apenas os professores! Não há bicho careto que não faça contas à vida…

A esta hora, o Senhor Presidente já telefonou ao 'amigo' Costa, confessando que, desta vez, não está a ver como é que vão vender gato por lebre… e mesmo assim 'era uma vez' um orçamento…

 

25.12.18

E nós tão distraídos!

The deadly tsunami in Indonesia was triggered by a chunk of the Anak Krakatau volcano slipping into the ocean, officials have confirmed, amid calls for a new early warning system that can detect volcanic eruptions. Vulcão desperto

E nós tão distraídos!  Por aqui, o almoço de Natal tão rico de reencontros que faltam os lugares de estacionamento…

Por lá, lugares vazios, vultos que se esfumam nas derradeiras lágrimas dos sobreviventes…

 

24.12.18

Inconfidência de Natal

Desde cedo habituei-me a viver com a distância. Escrevo 'habituei...', mas, olhando para trás, prefiro 'aprendi...' com a distância… 

A proximidade tornara-se mais dolorosa do que a distância. Partir tornou-se natural por necessidade. Ficar era adiar qualquer forma de ser.

Se na partida havia dor, não sei especificá-la, pois não correspondia a qualquer tipo de saudade… o que havia era uma necessidade de me adaptar à viagem, ao espaço em que acabaria por me encontrar.

Adaptar-me, não para ficar, mas para ser, o que poderia significar partir de novo… 

Ao contrário dos que voltam, felizes, o regresso foi sempre uma forma de capitulação…

Talvez seja por tudo isto que em qualquer partida antevejo um sorriso, mesmo que esta possa ser a derradeira…

Ficar é adiar, regressar é capitular…

 

23.12.18

Nunca escrevi uma estória de Natal

Faltam-me as personagens capazes de gerar uma nova intriga milenar.

Não é que o tempo seja diferente daquele que o menino encontrou nas praças, nos mercados e nos templos. O próprio espaço, de mais opaco, poderia favorecer o anonimato do novo herói…

Vejo-me, no entanto, condenado ao fracasso - o menino ao abandonar a cruz, tornou-se caixeiro-viajante…

Por estes dias, relembro a estória antiga.

Jesus entrou no Templo, expulsou dali todos os que nele vendiam e compravam, derrubou as mesas dos cambistas e as bancas dos vendedores de pombas, dizendo-lhes: «Está escrito. A minha casa há de chamar-se casa de oração, mas vós fazeis dela um covil de ladrões.»

 

22.12.18

Não sei falar camponês

«- Estamos aqui sentados debaixo da árvore sagrada do seu quintal. Pode dizer-me qual o nome dessa árvore?
- Porquê?
- Porque gosto de conhecer os nomes da árvores.
- O senhor devia saber é o nome que a árvore lhe dá a si.»
       Mia Couto, Conversas em camponês

Eu nasci e cresci no campo, mas não sei falar camponês. Nem sabia que se podia falar essa língua, até porque a escola cedo me ensinou que eu não sabia falar nem escrever… 

Agora, compreendo que me mandaram à escola para aprender uma outra língua muito distante da do meu país - uma língua artificial e artificiosa, em que a minha voz se sumia paulatinamente para ecoar outras vozes… (por lá tenho andado este tempo todo, e já cansado vou rasgando velhos e inúteis papéis de quem também nunca soube falar camponês, embora insistam no contrário...

Nessa escola primeira, criaram um 'doutor' que, em língua de camponês, soava a insulto revelador de traição. Com o tempo, esqueci os camponeses e comecei a recordar as árvores e as aves, sentindo que as não conhecia suficientemente; não lhes aprendera os nomes e as vozes, pois não faço ideia do que é que elas sabem de mim…

21.12.18

Essas errâncias

«As coisas mais importantes são outras… essas errâncias.» Mia Couto entrevistado por Teresa Roza d'Oliveira, in Letras & Letras, 3 março 1993

ouvir só ouvir 

falar por falar

ler sem querer

escrever para além do ver

caminhar sem correr

ser sem ter

 

20.12.18

Só que os satanhocos têm um desígnio

O que parece é que anda por aí muita gente sem rumo, cujo movimento se esgota no momento…

Nos últimos dias, a classe política gulosa tem passado a mão pelo lombo do satanhoco… O que ela não entende é que o satanhoco sempre foi avesso à democracia, tendo como principal intuito escorraçá-la.

Pois, talvez pudesse parecer que… só que os satanhocos têm um desígnio…

 

19.12.18

Se vamos...

"Vamos Parar Portugal como forma de Protesto"

Como é que se pode parar o que já está parado? Há incongruências miméticas difíceis de aceitar…

Se vamos, se nos movemos, é porque queremos percorrer um caminho, traçado o rumo…

O que parece é que anda por aí muita gente sem rumo, cujo movimento se esgota no momento…

 

 

 

 

18.12.18

Duas nótulas

- O que é que estes livros fazem atrás das grades?

(Há ali toda uma biblioteca sem leitores! Já nem sequer a Dona Olinda lhes limpa a poeira… Que desperdício!)

Teixeira de Pascoaes faleceu a 14 de dezembro de 1952, dado que não me ocorrera… até que, nos últimos dias, desatei a ler velhos artigos de jornais dos anos 80 do século passado, vá lá saber-se porquê. Serei o único?

 

16.12.18

Mudar não é suficiente

É preciso renascer. Mas como fazê-lo se o tempo é de colapso?

Quando as faculdades começam a falhar, fica a ilusão do tigre, não do que desce mas do que trepa..

Agora que o tempo é de lavagem ao cérebro, e já não espero qualquer transformação, vou meditar na excentricidade dos reis magos, e dos tigres que invadem as nossas paredes…

De qualquer modo, Boas Festas e Boas Entradas!… que já falta pouco para o Entrudo...

 

15.12.18

Não sobra nada!

Os franceses queixam-se de que no fim do mês não sobra nada, embora, pelo noticiado português, me fique a dúvida se os coletes amarelos não serão quase todos portugueses com uma particularidade - não falam nem português nem francês…

Parece que os franceses estavam habituados a que sobrasse alguma coisa no fim do mês… Por aqui, para grande parte dos portugueses, esse problema há séculos que deixou de fazer sentido… 

Oiço agora que, por cá, há quem esteja a organizar "saídas" de coletes amarelos. Considerando a diferença de expetativas, espero pelo teor das reivindicações, apesar de me parecer que cada português terá a sua. 

Colete amarelo já tenho! Basta ir buscá-lo ao carro, só não sei se ainda me sobra dinheiro para a gasolina…

 

 14.12.18

Calendários - ponto da situação

Durante muitos anos, regi-me pelo calendário escolar. Afinal, a minha vida decorreu quase toda nos estabelecimentos de ensino… Feitas as contas há 58 anos que cumpre o calendário escolar.

Só que ultimamente passei a dar mais importância ao calendário civil, sobretudo desde que o ministro Vieira da Silva desatou a fazer promessas que ninguém sabe se são para cumprir, e em que termos…

A verdade é que no dia 2 de janeiro de 2019, logo no início do ano civil, ao voltar à escola, entrarei no 45º ano de serviço público, a que há que acrescentar mais cinco meses de descontos para a Segurança Social, referentes a trabalho docente desenvolvido em 1974. (E quem me conhece deve estar a interrogar-se sobre dezassete anos de descontos no ensino superior privado, em regime de acumulação - esse dou-o de barato ao Estado…)

Já não sei por que calendário me devo orientar! 

 

12.12.18

Da ansiedade juvenil

Acordam tarde, sem tempo para tomar o pequeno-almoço... Arrastados para escola, chegam atrasados, «por culpa dos pais, do trânsito, dos transportes…» 

Entram na sala, indiferentes ao que acontecedesculpas esfarrapadas, sentam-se e desatam a conversar ou, então, adormecem... Os manuais dormem nas sacolas. O professor invisível procura um fio condutor que regista inutilmente no quadro, pois o Google que tudo explica está ali mesmo à mão. Tudo corre bem até que o final do período se aproxima... E aí a angústia desperta, a preocupação com a autoavaliação torna-se evidente... como se esta fosse um direito penosamente conquistado...

 

11.12.18

O terceiro estado de vítimas em potência,

O terceiro estado é constituído pelos doentes, pelos idosos, pelas crianças, pelos alunos, pelos passageiros trabalhadores, pelos presos, pelos migrantes, pelos refugiados, pelos proscritos… e por tantos outros aqui não mencionados…

Admitindo a existência deste terceiro estado de vítimas em potência, eu simplesmente não compreendo qual é o papel do Estado nos atuais conflitos laborais, até porque sempre pensei que ao Estado competia proteger o terceiro estado…

E também creio que é competência do Estado averiguar quem é que está a financiar o movimento grevista, caso contrário ainda nos acontecerá o mesmo que ao Chile de Allende, em 1972...

10.12.18

Oblívio

Andava o aluno à procura de um complemento oblíquo e escorregou-lhe a pena para o oblívio. Castigador, chamei-lhe a atenção para o desmando lexical…

Entretanto, acabo de saber que a obra Oblívio, de Daniel Jonas, acaba de ser recompensada com o Prémio António Gedeão de Literatura, instituído pela Federação Nacional dos Professores (FENPROF)…

Para que não caia no olvido (ou no oblívio), lanço desde já um desafio à FENPROF: - Não esqueça que há outros poetas   merecedores do galardão: Por exemplo, o professor (aposentado) Silva Carvalho e o professor (em exercício) António Souto.

 

9.12.18

Um fantasma apressado

Os peixinhos não sabem gramática, mas têm riscas. Têm riscas e não vivem na penitenciária…Viajam, sem rodilha, na cabeça de um fantasma apressado, sob o olhar envergonhado e surpreendido de um mirone azulado..

Eu que penso que sei gramática, não tenho riscas, mas vivo apresado com um dicionário sempre ao lado… Já não viajo… e sinto-me a todo o momento acossado pela «vossa palidez romântica e lunar», na intuição de Cesário… que, nele, era mais uma forma de dedução…

Os peixinhos não precisam de ler o caminho ou leem, apesar de desconhecerem o que é a leitura, e seguem adiante na cabeça de um fantasma apressado…

E depois há uma outra presença no mural que o peixinho parece não querer ver. Talvez que eu esteja atrasado… mais valia viajar, sem rodilha, na cabeça do fantasma apressado.

 

8.12.18

Afunilado

O título de hoje parece-me ousado, mas estou com a sensação de me ter transformado num funil que, meio sedimentado, soluça a insensatez juvenil dos meus interlocutores que acreditam que o futuro passa bem sem a leitura…

Ler é, para eles, uma atividade antiquada de quem não tinha mais nada para fazer - era definitivamente uma forma de passar o tempo. Ora hoje há outras formas mais 'pró-ativas' de o fazer, mais dinâmicas, mais interativas ou, até, mais autofágicas.

Numa certa perspetiva, da leitura só se aproveita o VER... a imagem, pois a ideia aprisiona… Contudo, ainda há exceções, com a particularidade de escreverem razoavelmente, de terem uma ou outra ideia…


7.12.18

A lupa revisionista

Para quê dar o nome de um escritor a um aeroporto? No caso, o do poeta Pablo Neruda, prémio nobel em 1971.

Por seu turno, as feministas chilenas pretendem que o aeroporto de Santiago seja batizado com o nome da escritora Gabriela Mistral, prémio nobel em 1945...

Argumento: Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto (Pablo Neruda), o homem, terá desrespeitado a dignidade das mulheres…

Compreendo o argumento e condeno a prática, mas creio que, para o bem da poesia, o melhor seria deixar os poetas de fora desta mania de batizar aeroportos, aviões, barcos, praças, ruas e vielas… 

Afinal, o que é que se espera de um poeta? Versos…

 

6.12.18

O alcance das palavras

-Marido cuco me levades

e mais duas lousas. (Inês Pereira)

Pois assi se fazem as cousas. (Pêro Marques)

Traído, insultado e abusado, Pêro não compreende o alcance das palavras da fogosa esposa…

De que serve o estudo? perguntaria Cesário…

De nada, pois, mesmo se incipiente, a memória o apaga… delita…

 

5.12.18

Verdade ou mentira?

A ser verdade, o melhor é não trabalhar… Afinal, uma boa parte dos impostos é aplicada em quem não trabalha. 

A discrepância francesa não é diferente da portuguesa. Os efeitos começam a sentir-se na radicalização social… Em 2019 se verá!

 

 

 

 

4.12.18

A literatura e a cidadania

«A literatura não existe para educar o Homem a ser cidadão, a menos que o eduque para cidadão do mundo - a única cidadania decente que hoje existe.» Jorge de Sena, O Romantismo, 1966

Perante o fastio do aluno e, sobretudo, a desvalorização da obra literária, pouco tenho a acrescentar… Temo, todavia, que a atual educação literária esteja a apostar, mais uma vez, no nacionalismo e nos restos do imperialismo cultural, isto para aqueles que continuam a ver na literatura um manual identitário…

No caso português, se excetuarmos alguma ousadia do 'projeto de leitura', o corpus literário não escapa ao narcisismo nacionalista.

De qualquer modo querer educar as novas gerações sem 'formar' os professores é infrutífero, pois estes defendem-se aplicando os modelos do passado.

Infelizmente, apesar de terem passado muitos anos, Jorge de Sena continua a ter razão… e os apóstolos da cidadania local proliferam...

 

3.12.18

No aproveitar é que está o ganho!

Considere-se a instrução, correspondente ao I Grupo, Parte III, de uma prova de avaliação de Português, 12º ano:

Tenha um smartphone ou um iPhone à mão, pesquise, copie, cole, modificando um ou outro conector… E já está!

Lá dizia Camilo Pessanha:

Eu vi a luz em um país perdido.

A minha alma é lânguida e inerme.

O! Quem pudesse deslizar sem ruído!

No chão sumir-se, como faz um verme… 

(INSCRIÇÃO)

 

2.12.18

A palavra-chave do ano

Ontem, foi feriado, e para além da atenção prestada à república de Macron e de me ter interrogado sobre o resultado de tantas idas a Berlim - bem sei que não é o resultado que interessa! -, li 22 textos sobre a aplicação do ditado «no aproveitar é que está o ganho».

Hoje que Macron avalia os estragos, e sem saber se o regresso de Berlim foi conseguido, continuo a ler sobre a visão de Caeiro…

E o que leio não me traz proveito - nem nunca esperei que trouxesse! - embora me preste a este jogo diário que não me traz qualquer ganho.

Para completar o desânimo, só me faltava que, de hora a hora, insistam em convencer-me que a palavra-chave do ano é 'professor'...

 

1.12.18

Na república de Macron

No coração de Paris, o movimento inorgânico dos coletes amarelos caiu nas mãos dos "casseurs" radicais. 

Perante os sucessivos episódios de violência, as forças da ordem revelam falta de mobilidade - uma atitude estática, só justificada pelo pesado e inadequado equipamento para este tipo de confrontos…

Independentemente das razões dos «coletes amarelos», urge enquadrá-los de modo que, de futuro, não possam movimentar-se livremente… E, sobretudo, é necessário reavaliar as causas da revolta, de modo a evitar políticas cegas, como a que parece estar a acontecer na república de Macron…

Na república de Macron, enquanto o coração de Paris é vandalizado, o Presidente mantém-se em Buenos Aires, entre os Grandes do G20...

Até Marine Le Pen revela mais bom senso do que Macron, pois esta tarde solicitou aos «gilets jaunes» que dispersassem para que as forças da ordem pudessem dominar os «casseurs» ...

 

29.11.18

Vem aí a caranguejola

Hoje percebi, ao tentar chegar a horas a uma consulta, em dia de chuvada, que a cidade de Lisboa se transforma num charco donde é quase impossível escapar… Uma cidade sitiada!

Enquanto desenhava pontos de fuga, surpreendi-me a pensar que, estando a geringonça em fim de vida, vem aí a caranguejola…

Não, não estou para mais — não quero mesmo brinquedos.
Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar…
Que querem fazer de mim com este enleios e medos?
Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar…


                        Mário de Sá-Carneiro

28.11.18

Viva a propaganda!

Em vez do desenvolvimento económico, com mais emprego qualificado e remunerações justas, o país continua a preferir uma política de baixos salários, de subsídios, de manipulação das taxas do IVA…

Diz o ministro do Ambiente que a redução do custo dos passes sociais é para aplicar em todo o território…

Mas como, se a ferrovia está descarrilada, a rede viária, em grande parte, abandonada, os meios de transporte são escassos e em mau estado de conservação?

A quem é que vai servir este novo esforço do contribuinte se, afinal, a geringonça não passa de um monte de sucata?

Viva a Propaganda!

 

27.11.18

Na Biblioteca do Liceu Camões...

O poeta, tolhido, dói-se em versos e / carpidos (A. S.)

Hoje, o António Souto oferece-nos as suas "Palavras Inadiáveis" - não sei se já com piano - virtuosas, porém, e exatas. 

Os restantes encómios deixo para os cientistas do verso e para os amigos da Hora…

Com o António ando sempre ao contrário… Eu que fui feito para ceder a direita, não por uma questão de respeito mas de jeito - o pescoço tem um qualquer defeito que o impede de volver à esquerda…

 

26.11.18

Eu não tenho casa em Lisboa

Eu não tenho casa em Lisboa. Fico-me pela Portela…, longe do metropolitano e dependente dos caprichos da carris…ou, em alternativa, refém dos fluxos de trânsito…

Tenho, todavia, uma porta de saída aérea, mas que de pouco me serve pelo motivo de não ter casa em Lisboa…

 

25.11.18

Um blogger aculturado

Não é que eu seja um blogger, pelo menos no sentido que lhe é dado atualmente. "Talvez me considere um bloguista, apesar de não gostar de muitas das palavras que resultam do acréscimo do sufixo nominal / adjetival - ista..." (“CARUMA: 2018”) 

A verdade é que espero que o Benfica não esteja a preparar-se para me acusar do que quer que seja, até porque eu não guardo informação de ninguém que seja do Benfica… nem para o bem nem para o mal.

No entanto, o simples pensamento de que o 'inimigo das águias' seja um, ou mais bloggers, levou-me a apurar o significado do termo.  

A origem estará no conceito (?) weblog - web /rede + log / registo de atividade - configurando, assim, um novo empréstimo linguístico para a expressão "diário online", ou melhor, diário em linha, um empréstimo resultante de uma amálgama

(Para os mais avançados: bloggersomeone who writes a blog (= a regular record of someone's ideas, opinions, or experiences that is put on the internet for other people to read).) (“What is the meaning of blogger | Learn English - Preply”) 

Em conclusão, mais uma ideia sem qualquer interesse, a não ser que haja alguém à procura de evidências de aculturação.

 

24.11.18

Aquém da ironia

Aquém da ironia, a incontornável realidade distingue a coragem de enfrentar os obstáculos, mesmo que o desfecho possa ser trágico, de quem, apesar de reconhecer a necessidade da luta, prefere o comodismo do sorriso, da sobranceria intelectual…

Vem isto a propósito do quê? 

Da facilidade com que nos refugiamos na ironia, ostentando-a como atestado de superioridade em lugares inundados pela estupidez…

E em rodapé, não posso esquecer que acabámos por preferir Eça de Queirós a Antero de Quental - cultivamos a ironia porque ela nos permite esquecer / esconder a realidade...

 

23.11.18

Para além da ironia de Álvaro de Campos

«Maravilhosa gente humana que vive como cães,
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!»
Álvaro de Campos, excerto de Ode Triunfal

O Poeta canta o triunfo da vida moderna, fruto da ciência aplicada, do êxodo dos campos, da multiplicação das cidades, da morte da pessoa e, sobretudo, da ilusão tecnológica

O Poeta celebra o mundo novo, todo ele artifício, apoteose da humanidade, mas do qual uma grande parte da espécie humana é escorraçada… uns dias, essa parte é infrahumana, outros, precária, tornando-se larva…

Por isso, é indesculpável que se veja apenas ironia na apologia da vida moderna.

«Ah, e a gente ordinária e suja que parece sempre a mesma,

Que emprega palavrões como palavras usuais,

Cujos filhos roubam às portas das mercearias, 

E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto é belo e amo-o! -

Masturbam homens de aspeto decente nos vãos de casa.»

Álvaro de Campos, excerto de Ode Triunfal

Cem anos depois, o que é que mudou? Talvez, a apropriação momentânea pela religião, pela arte e pela política…

 

22.11.18

Doravante, só os estilhaços

Se houver quem se interesse por ela, certamente que a encontrará sem qualquer estímulo externo… Caruma nunca quis lançar as bases de qualquer religião, porque, por princípio, não aspira ao divino. Caruma mais não é do que uma tentativa de aproveitamento do que sobra da fragmentação do espelho primordial… surgiu como expressão de quem entende que os estilhaços também podem ganhar vida própria e não como rememoração de qualquer nostalgia matricial…

… quem diz os estilhaços também poderia dizer os cacos… 

 

21.11.18

São réplicas

As velhas existem. Não são ficção nem meninas…

As velhas acreditam, detestam manipansos e nunca lhes explicaram que todos os ícones são manipansos e mesmo que lhes tenham explicado que só a solidão justifica a fé numa qualquer religião - única para elas -, elas preferem colocar-se nas mãos do IGNOTO … e imaginar-lhe um rosto, porque a abstração não se dá bem com os medos que lhes perturbam as horas…

Estas velhas vivem da fé, mas podem desprezar a caridade…  ou praticá-la em benefício próprio se o ato se nutrir da esperança de que o Manipanso as acolhe no seu regaço… 

Se me perguntarem se estas velhas são eternas, eu responderei que sim porque as réplicas, mesmo se meninas, não me deixam mentir…

Se me perguntarem se estas velhas são velhos, eu responderei que isso é ficção.

 

20.11.18

Sacudir a água do capote

Quando chove, a culpa é da chuva, quando não chove, a culpa é da seca... Quando a terra abate, ninguém assume a culpa - ainda no dia anterior tudo estava seguro até porque ninguém avisara…

Ninguém avisara nem o autarca perguntara ou decidira ler os relatórios produzidos nas últimas décadas e que já tinham servido ao Governo Central para se descartar de responsabilidades em nome de políticas de descentralização, de modernização e de pretensa democratização…

É assim em todos os pilares do território - da rede viária e ferroviária à educação; da saúde à energia e à agua… 

A chamada delegação de competências é uma farsa demagógica, pois não assegura os necessários recursos financeiros e, em particular, não gera competências locais… somente faz crescer o compadrio e o caciquismo...

 

19.11.18

Para fugir da obnubilação...

Para fugir da obnubilação, acena apenas! 

Qualquer outra saída pode tornar-se incontrolável nas palavras e nos gestos. Ainda se fosse seguidor de Marinetti, poderia recorrer à bofetada e ao soco e ter futuro, mesmo quando só o Momento importa(va)…

De facto, há momentos em que a obnubilação parece querer tomar conta da situação - a consciência e o pensamento começam a perder nitidez… No entanto, ainda há uma 'voz' que impõe rédea curta, mas até quando?

Um destes dias, restará apenas um patético aceno para não borrar definitivamente a pintura…

 

18.11.18

Acena apenas!

Se lemos e o dizemos pouco importa. O que pensamos nada acrescenta, mesmo o que sentimos é falso e justo, pois como saber se (não) fingimos…

Talvez por isso o ideal seria ir viver para a encosta e de lá contemplar o vale e acenar a quem passa… E nada dizer, mesmo que sintamos vontade de explicar, de começar do princípio, da matriz (do latim matrix, - cis) - anula esse ímpeto e acena apenas!

- Foge do Grego e do Latim! Abomina os clássicos! Passeia-te com os românticos e voa, voa com os nefelibatas e não sonhes com os surrealistas! Despreza os modernistas de todos os ismos! Acena apenas, mas bem longe dos pós-modernistas…

- Acena apenas lá da encosta para o vale, acena sem lágrimas nem sorrisos e, sobretudo, sem rimas...

 

17.11.18

Alexandre Vargas, nota imperfeita

Vargas, Alexandre (1952-2018). Filho mais novo do poeta José Gomes Ferreira, foi encontrado morto em casa no dia 15 de novembro. Poeta e tradutor.

De poesia publicou «Morta a sua Fala», «Cyborg», «Vento de Pedra», «Lua Cisterna», «Organum», além de ter participado em antologias, cadernos, etc. Traduziu os músicos-poetas Peter Hammil e Patti Smith

Sintra ocupa um lugar especial no seu imaginário.

Marcado pelo universo pós-simbolista e modernista, e sobretudo pelos fantasmas de Antero, Pascoaes, Sá-Carneiro, Álvaro de Campos e José Gomes Ferreira, é essencialmente um poeta visionário que exprime a conflitualidade interna de uma mitologia pessoal dividida entre um passado naturalista e um futuro cibernético. [...] Poeta que traduz o visionarismo da sua epopeia lírica numa discursividade a um tempo meditativa e narrativa, tecnicamente neobarroca, sustentando a retórica da imagem e os seus efeitos oniristas em mecanismos surrealizantes, mas por vezes cedendo perante a construção alegórica, exibe nas suas criações mais recentes uma forte atracão pela temática luciferina e por um experimentalismo formal vazado em enumerações caóticas, neologismos telescópicos, sinestesias e misturas polifónicas que provocam em certos ângulos uma impressão estética muito próxima de um Ângelo de Lima na sua faceta pré-joyciana. (Palavras de Luis Adriano Carlos, o antologiador de "Poesia Digital - 7 Poetas dos Anos Oitenta".)

 

16.11.18

Os fumos da Índia

As folhas outoniças dos plátanos encobrem os azulejos da fachada em frente. O som de uma vassoura move as beatas interditas e os veículos circulantes escapam-se a meio da tarde desta ensoleirada sexta-feira. Em fundo, uma sirene dá conta de uma enfermidade de última hora… 

Por baixo, adivinhado, o patrono prepara-se para acolher mais uma ilicitude em nome de uma campanha contra os fumos, que não da Índia…

É melhor ficar por aqui, não vá eu, um destes dias, referir-me aos "Fumos da Índia" e solicitar uma nota breve sobre o modo como o Poeta os denunciava n'Os Lusíadas… (A verdade é que não me atrevo a questionar os "jovens sábios" do momento… até porque a Índia está agora tão cerca.)

 

15.11.18

A receita do momento

Há que dar a palavra aos jovens sábios! Especialistas em metodologia, defendem os enlatados sem lhes discutir a origem e o conteúdo… e se alguém o fizer, acusam-no de dispersão e de anacronia, não nestes termos porque, orgulhosamente, os ignoram…

O que importa é a receita do momento, não é que a queiram memorizar e experimentar, pois só lhes interessa estarnem sequer lutar...

É preciso grande resistência para lidar com tal sabedoria, de qualquer modo finjamos que a montante nada aconteceu e que a liberdade herdada é perene…

A jusante, logo se verá ou, talvez, não seja necessário…, mas essa é uma linha impossível de abordar - está toda no Manifesto de Marinetti, publicado a 9 de fevereiro de 1909... Ai o passado!

1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.

2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.

3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.

4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com o seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.

5. Nós queremos glorificar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.

6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor, esforço e liberdade, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.

7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem.

8. Nós estamos no promontório extremo dos séculos!… Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade omnipotente.

9. Queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo –, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.

10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda a natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda a vileza oportunista e utilitária.

11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos as marés multicores e polifónicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor nocturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas lutas elétricas; as estações esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as fábricas penduradas nas nuvens pelos fios contorcidos de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, faiscantes ao sol com um luzir de facas; os piróscafos aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os trilhos, como enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão entusiasta. 

 

14.11.18

Estou curioso

Se a Polícia Judiciária não consegue identificar os meliantes que roubaram as armas de Tancos, se o Governo nada sabe sobre a matéria, se o presidente da República confessa o seu desespero por nada saber sobre quem furtou, quem devolveu e quem foi conivente, se até há gente detida por excesso de zelo patriótico, não percebo para que é que foi criada um comissão parlamentar de inquérito…

Estou, no entanto, curioso sobre os resultados de tal inquérito… até porque das comissões de inquérito anteriores só saiu fumaça... Há, todavia, um estudo que os cientistas políticos poderiam fazer: descobrir por onde é que circulam tão ilustres "comissionistas"... para além dos "passos perdidos"...

 

13.11.18

Por aqui, as velhas

Por aqui, as velhas saem à rua, enraposadas e gaiteiras. Mal se aguentam nas canelas, mas nada as impede de ir beber o chá e destratar o criado, sim, porque elas ainda nasceram no tempo da criadagem…

Estas velhas não se furtam a mostrar (o smartphone tornou-se-lhes imprescindível!) as crias, a enaltecer-lhes as virtudes e a prole, mesmo se desgarrada…

Por aqui, as velhas não necessitam de ser velhas para se comportarem como tal: - ai, ai, já estou a sentir uma dorzinha, ai! oh! amiga, não tem por aí um analgésico?
Analgésico? Devo estar a cair nalguma impropriedade linguística, lexical, em rigor, semântica…)

11.11.18

Vou ver se há castanha

Chove, há castanha, jeropiga, um casaco puído que podemos oferecer aos vencidos… Que mais queremos?

Chove, hoje não é Dia de Finados, mas é como se fosse, os governantes brindam aos vencidos e aos vencedores, e compreende-se: uns morreram mais cedo, outros mais tarde; todos morremos…

Enquanto não chega a hora, brindemos a São Martinho, se não houver água-pé, há certamente jeropiga ou um malvasia, e castanha rica que outrora era dos vencidos…

Chove, vou ver se há castanha...

 

10.11.18

Usabilidade

O desenvolvimento de produtos e serviços que sejam fáceis de usar, respondam às necessidades dos utilizadores e tornem mais simples o acesso à tecnologia são os objetivos principais de quem se dedica à usabilidade, mas também a inclusão de pessoas com limitações físicas e seniores

Usabilidade. Mais um termo arrevesado, mas a globalização impõe o neologismo... O problema é que a Escola não acompanha; apesar da doutrina da flexibilização e da inclusão, não é capaz de acompanhar a mudança... Talvez seja por isso que a boçalidade alastra, pois a descrença no passado não encontra no processo de aprendizagem as verdadeiras ferramentas que poderiam alterar os comportamentos... Porquê?

Por falta de planeamento, de investimento, de renovação e efetiva formação do quadro docente... 

 

9.11.18

Tarde, muito tarde...

Eles comentam sem ter lido. Em geral, com posicionamentos radicais. Também não se esforçam para interpretar textos. Sua leitura superficial não é somente de um escrito, mas do mundo. Apaixonados por uma causa, ideologia ou credo, dividem o mundo entre contras e favoráveis à sua posição. São maniqueístas. Mas quem são eles? Gilmar Pereira, O primor da boçalidade

Não ouvem, não leem ou leem literalmente, não têm passado nem memória, calcam os valores e só lhes interessa o poder, mesmo que não passem de súbditos que anunciam lugares-comuns como verdades…Claro que o alastrar da boçalidade é da maior utilidade para quem manuseia estes novos bonifrates que, por enquanto, ainda perguntam "Isto é fado?"

Tempo virá, no entanto, em que nem perguntas nem comentários e o coro das lamentações crescerá. Tarde, muito tarde…

Como tive acesso à password de caruma, inadvertidamente acabo de me fazer passar por ela, mas tal não tem qualquer significado nem desrespeita qualquer valor, até porque muitos outros, antes de mim, se habituaram inadvertidamente fazer o mesmo…

7.11.18

Mesmo se em efígie, Manuel Alegre

De modo que é chegada a hora de enfrentar cultural e civicamente o fanatismo do politicamente correcto. É uma questão de liberdade. Liberdade para não gostar de touradas. Mas liberdade para gostar. Liberdade para não gostar da caça. Mas liberdade para gostar. Algo que não se pode decidir por decreto nem por decisões impostas por maiorias táticas e conjunturais, Não é democrático. Para mim, que sou um velho resistente, cheira a totalitarismo. E não aceito. Manuel Alegre_ Carta Aberta

Embora ribatejano, nunca apreciei touradas, e quanto às artes da pesca e da caça sou uma nulidade. Li, no entanto, a maior parte da obra de Manuel Alegre, como li a de Miguel Torga e a de Aquilino Ribeiro... Nelas sempre encontrei a exaltação da caça, da pesca e o respeito pelos bichos, entre eles os touros... 

Compreendo a exaltação dos moralistas do momento - o politicamente correto é intemporal, apesar de oportunista. Por isso não vejo qualquer necessidade de queimar Manuel Alegre na praça pública, mesmo se em efígie...

Ninguém lhe pode pedir que abjure da obra realizada nem do combate travado contra o totalitarismo do momento...

6.11.18

A cor da leitura

«Foi então que um crítico, batendo com a mão na testa, (…) descobriu que a literatura devia ser lida, tinha de ser lida. Era preciso ler. Mas ler como a virgem lê o Primo Basílio, ler sem História, ler sem Ciência, ler sem Cultura, ler sem nada, ler apenas. Isto constituía afinal para toda a gente um grande alívio. Os povos carregados de História libertavam-se de um peso opressivo…» Jorge de Sena, A Crítica Moderna e os Prazeres da Leitura, 1963, in O Reino da Estupidez- I

Por razões profissionais, todos os dias me debato com a pergunta colocada na fachada do Liceu Camões sobre a cor da liberdade para Jorge de Sena... Já aqui escrevi que Sena tinha esperança de que um dia haveria de viver em liberdade no país em que nascera, e que a cor, acrescento eu, seria o que menos importava…

No entanto, ainda não encontrei resposta para a questão, talvez porque não haja… O que me vem à cabeça é inconfessável, pois o sangue derramado em nome da liberdade é outro oceano por achar… A cor do sangue talvez pudesse satisfazer mentes menos exigentes do que a de Sena. No meu caso, a simples ideia de que a liberdade se deixa tingir de qualquer cor aterroriza-me - azul, vermelho, verde, preto, amarelo… da cor do arco-íris…

Na verdade, esta recaída só serve para interrogar o que se passa atualmente com a leitura - muitos anos após a chegada da liberdade… Voltámos a ler como em 1963! Ler sem História, ler sem Ciência, ler sem Cultura, ler sem nada, ler apenas…

A situação é tal que dá vontade de perguntar qual é a cor da leitura… 

 

5.11.18

Reparar é tudo!

Por vezes dar um passo, escutar a voz distante, reparar na silhueta desgrenhada que se afunda num caixote de lixo, é o suficiente para ultrapassar o limiar da incompreensão…

Reparar é tudo, pois significa parar e voltar sobre si ou sobre o que se abre aos sentidos sem os quais a razão se atola no caos dos dias…

Reparar é tudo!

 

4.11.18

O muro infinito

Ontem passei por aqui, mas não escrevi que estava no purgatório na porta de saída… sem saber se em frente há um muro infinito que não deixa enxergar nem a Luz nem o Fogo.

Dizer mais é um acrescento pleonástico para almas pastosas…

Ontem, a minha alma não era de todo para ser dita.

 

2.11.18

O que parece

Parece que ninguém sabe nada do que se passa no país, se é que se passa alguma coisa…

O que parece é que quem sabe prefere negociar a informação…

O que parece é que quem governa se acobarda… e em matéria de governação, a cobardia é o berço da descrença e da consequente radicalização.

Se quem devia saber nada faz, a não ser elevar a voz ou assobiar para o lado, então, pouco falta para que a estupidez se arme da velha autoridade e faça gato-sapato da democracia.

 

1.11.18

O presentismo

… e o presentismo — quando a pessoa está presente, mas não está activa; está zombie. O presentismo é um problema que está a assumir uma dimensão importante. Teresa Paiva, especialista em sono

 

Há muitos anos, apercebi-me que, em certas reuniões, havia especialistas em estar… Entravam e saiam calados. Explicaram-me, à época, que se tratava de um comportamento sábio, de quem queria evitar conflitos antigos….

Com o tempo, também eu me habituei ao silêncio, não porque queira evitar qualquer mal-estar, mas porque deixei de compreender o frenesim reformista de quem anda convencido de que para trás fica o deserto e a estupidez…

Depois há aqueles jovens a quem "basta estar"; nas palavras de Teresa Paiva, que se encontram em modo zombie…, sem esquecer os que chegam naturalmente atrasados porque não dormiram o necessário… ou porque as linhas andam desorientadas…

Finalmente, lido diariamente com quem, porque «nunca dorme», procura a todo o custo passar os dias a dormir. 

Tudo somado, parece-me que o problema é outro: resulta da dificuldade de adaptação a uma realidade voraz…  

 

30.10.18

A dicotomia

Em Lógica, diz-se da dicotomia que é «a divisão de um conceito em dois outros que abrangem toda a sua extensão.»

Esta nota surge de uma dúvida: - A partir de que idade é que podemos exigir a alguém que conheça o significado do termo "dicotomia"? 

E a esta dúvida acrescento uma outra: - Em contexto escolar, quando e em que áreas disciplinares é que o conceito é explicitado e exemplificado?

Finalmente, num tempo de acentuada polarização política, o que fazer com aquela parte da humanidade que anda a dormir na forma?

 

29.10.18

Jair Messias Bolsonaro, a solução messiânica

Bolsonaro, que nome estranho! 

Jair Messias Bolsonaro, descendente de famílias italianas, vai tomar posse como presidente do Brasil no dia 1 de janeiro de 2019.

Provavelmente, os brasileiros votaram não no Bolsonaro, mas no Messias. E se foi o caso, até compreendo: a culpa é dos sebastianistas que colonizaram o Brasil e, sobretudo, do Encoberto, que, pelo que se pode agora entender, se terá refugiado em terras de Itália…

Italianos e portugueses sempre revelaram inclinação para as soluções messiânicas! Aos brasileiros, pouco mais restava… a não ser o Lula messiânico…

28.10.18

Só a liberdade...

Interrogo o infinito e às vezes choro…

Mas, estendendo as mãos no vácuo, adoro

E aspiro unicamente à liberdade.

            Antero de Quental

No Soneto EVOLUÇÃO, o Poeta, apesar da descrença, confessa que só a LIBERDADE é o seu caminho.

Falta pouco para saber se, na cadeia da evolução, o homem brasileiro prefere regressar à caverna…

 

27.10.18

A Razão descrê da Liberdade

Aquilo que incomoda é o vento frio que se levantou manhã cedo… 

O resto é de somenos importância como se a Luz se tivesse obnubilado. Tempos houve em que o Poeta compunha hinos à Razão, em nome da Liberdade…

Hoje, a Razão descrê da Liberdade… prefere as grilhetas da Caverna! 

Hoje, se não entenderem a mensagem não faz mal. A culpa é do vento frio que alvorou… Amanhã, para me desafiar, talvez o povo (brasileiro) consiga provar-me que é mais do que uma massa inorgânica, para quem a Luz continua a brilhar…

 

26.10.18

A violência e a corrupção no Brasil

Não é possível ignorar o que está a acontecer no Brasil, embora não se saiba ao certo qual é a causa primeira. 

Dizem-me que é a violência que elimina diariamente, pelo menos, 165 pessoas. É provável que esse factor seja decisivo, no entanto, não se deve descurar a violência provocada pela acentuada desigualdade social resultante da corrupção que infesta partidos políticos, seitas religiosas e todo o tipo de organizações nacionais e transnacionais…

Ao contrário do que defende a classe política portuguesa, a corrupção não é um mal menor; esta não é separável da violência, até porque os mentores e os agentes sãos os mesmos…

O que se passa no Brasil, tal como o que acontece nos Estados Unidos da América, deve ser interpretado como um aviso para quem, convenientemente, insiste em separar a corrupção da violência.

25.10.18

Perguntam as velhas

Perguntam as velhas: - Se o CDS e o PSD regressarem ao Governo, será que contarão todo o tempo de serviço aos professores e aos restantes funcionários públicos abrangidos pelo malfadado corte?

Perguntam as velhas: - Quando é que ficamos a saber quem é que roubou o material militar em Tancos?

Perguntam as velhas: À data da aprovação do OGE 2019, qual será o montante da dívida do Estado?

Estas velhas, apesar de decrépitas, temem que andem a ser enganadas pelos partidos (e pelos militares), e que tal faça parte de uma estratégia para as fazer regressar à infância, o que, em teoria, não seria mau, não fosse a miséria material e espiritual em que cresceram…

 

24.10.18

Dizem-me as velhas

Dizem-me as velhas que é preciso poupar nos passos. E eu concordo, até porque há sempre um coelho à espreita…

Dizem-me as velhas que o melhor será vê-los pelas costas. E eu desconfio, é que estas velhas ainda nasceram no tempo dos fascistas…

Dizem-me as velhas que há que escolher entre os democratas e os fascistas. E eu não teria qualquer dúvida não fosse os democratas terem criado as condições para o ressurgimento do fascismo…

 

23.10.18

Pardas, um pouco encardidas

Elas nem eram assim tão velhas, no entanto, pareciam pardas, um pouco encardidas… a água não corria da torneira, era preciso ir buscá-la à nascente, e só com a chegada do Outono (maiúsculo) o céu escurecia em promessa de trovoada…

São essas velhas, do antigamente, que, agora, me lembram que o Outono tem Voz - como bem lembrou Antero de Quental - uma voz arrependida de ter vivido na Ilusão, rendida a uma Beleza etérea… quando a Natureza lhe apontava o caminho das pedras, o caminho das cabras, talvez até o caminho do moinho, onde a mó cumpre naturalmente a sua função, longe de atalhos e de véus translúcidos…

Talvez por ser Outono, estas velhas são únicas, nunca conheceram o Inverno, o mesmo será dizer que, pardas e um pouco encardidas, continuam longe do Inferno…

 

22.10.18

O que eu (não) entendo

Como é que se pode proibir o que já era proibido? Como é que se pode ter opinião sobre o que não se compreende? Como é que se pode viver sem aprender a ler?

De facto, chegámos a um ponto em que, abolida a sanção, tudo é permitido.

Desde que a opinião começou a abrir caminho, o fundamental nunca foi a compreensão, mas, sim, a substituição de dogmas anacrónicos por interesses inconfessáveis, individuais ou coletivos…

Lá no fundo, é possível viver, basta não pensar.

 

21.10.18

A cadeia de comando na Barataria

As velhas só se sentam no mesmo banco uma ou duas vezes por mês. Têm mais que fazer: substituir os filhos e tratar dos netos, ir à igreja e aos correios, sem esquecer a mercearia de bairro onde as novidades são mais que muitas…

Por exemplo, nos últimos dias, gastaram mais tempo na mercearia, porque alguém se interrogava sobre "a cadeia de comando".

Alguém defendia que não era possível que o Presidente ignorasse quem é que tinha assaltado o Quartel em Tancos, o que é que tinha sido roubado e como… Afinal, o Presidente era o Chefe Supremo, dispunha de vários Serviços de Informações. O próprio Governo não poderia deixar de o informar e até a Procuradoria encontraria forma de o esclarecer. 

A não ser que a "cadeia de comando" também tivesse sido minada e aí o Presidente deixaria de ser Chefe Supremo… ou melhor, continuaria a sê-lo, mas da Barataria… 

 

20.10.18

O céu das velhas

O céu é das velhas porque lhes basta um banco. Se fosse dos velhos, seria necessário acrescentar uma mesa, de preferência, de pedra…

No céu das velhas, as sensações escasseiam e os pensamentos andam arredios, como convém a quem prefere evitar os cascos dos deuses…

Basta-lhes a palavra lenta e hesitante sobre o ladrão que devolve as armas, tão velhas como elas, e nada acrescenta sobre aquelas que, no fio dos dias, partiram para novas guerras…

As velhas já não ligam a inventários, mas custa-lhes acreditar que aquelas armas chamuscadas sejam as que foram desaparecendo dos paióis do reino… 

As velhas pensam cada vez menos, mas estão, por ora, entretidas com um velho vieira da silva que anda a brincar com as velhas e os velhos deste país… No entanto, estes velhos narcisistas têm o que merecem, pois se imaginam eternamente jovens...

 

19.10.18

Não sei se o diga...

Não sei se o diga, se o sugira, se o omita… Pouco importa, outros já o disseram, o sugeriram, o omitiram…

De qualquer modo, penso-o e calo-o… Temo, todavia, que já esteja disponível um registo do meus silêncios…

Um destes dias, ainda vou ter de pagar, o que não é grave, pois já pago todos os dias…

(Ontem, ainda havia ruído. Hoje é só silêncio!)

 

18.10.18

A sorte é uma raposada

A Sorte (boa ou má) instalou-se de tal modo na nossa mente que facilmente aceitamos que ela decida por nós.

Quase toda a Literatura a privilegia, embora sob roupagens várias - do Fado à Fortuna, sem descurar a Sina, a Moira e o Destino… - e nós embarcamos na fantasia de ocultar os verdadeiros fautores, em nome de códigos manhosos.

Vem o desabafo a propósito de quê?

Por exemplo, a propósito daquela inglesa que foi violada no Algarve e cujo violador acaba de saber que por 2.000 euros até terá valido a pena… 

Por exemplo, a propósito da encenação levada a cabo pelo Governo e seus apoiantes em torno da aposentação dos (chamados) grandes contribuintes ou em torno dos aumentos da função pública… ou em torno do descongelamento das carreiras… ou do aumento dos pensionistas…

A Sorte é uma raposada!

 

16.10.18

A cor da liberdade

(Sem ponto de interrogação. Não se trata de saber se a liberdade tem cor. Mas de viver em liberdade…)

 Não hei de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Jorge de Sena (1919-1978)     

Testemunho:

Lembrava-me de um poema já antigo dele, anterior ao seu exílio. O poema tinha a data de 9 de Dezembro de 1956, quando o poeta acabava de fazer 37 anos, vivia ainda em Lisboa como engenheiro e se preparava, a convite do British Council, a se deslocar temporaneamente à Inglaterra, para um estágio sobre betão armado.

Luciana Stegagno Picchio

 

15.10.18

Basta estar!

A verdade é que eles não querem saber, e não se importam de desperdiçar um tempo precioso… Até porque pensam que a glória não lhes escapará… Basta estar!

À dificuldade dizem não; preferem abrir um link e regurgitá-lo na hora aprazada. O trabalho intelectual não lhes causa dor; é apenas uma maçada…

Os textos perderam a autoria (cansa inquirir a referência); verdades ininteligíveis e enfadonhas sobre almas perdidas…

Deixemo-los estar!

 

14.10.18

Não basta ter sido uma criança mais ou menos afortunada...

Há dois ou três dias, perguntaram-me o que era uma varinha de condão e eu, que nunca fui muito dado ao mundo da fantasia, não consegui esconder a minha surpresa… Respondi que o melhor era o "menino" ir investigar…

Entretanto, lembrei-me que, na minha infância, me familiarizara com a varinha de vedor - o meu avô materno era um dos mágicos do lugar que conseguia com uma vara bifurcada de oliveira detetar a presença de água…

De qualquer modo, o tempo da varinha de vedor, creio, que já venceu, pois há, hoje, ferramentas de deteção mais fiáveis. O mesmo não terá acontecido com a varinha de condão ou com a varinha mágica. Basta entrar na secção de brinquedos de uma grande superfície comercial para a ver um pouco por todo o lado… 

Pensava eu que bastava ter sido uma criança mais ou menos afortunada para compreender enunciados do tipo:

«A inteligência lembra uma varinha de condão…»

«A mesma varinha, porém, por um uso intenso e persistente, acaba por esvaziar de realidade as coisas…» Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa

Em suma, antes de compreender o paradoxo pessoano, lá terei que regressar a uma infância que não foi minha, e gastar algum tempo a explicar o contributo de Jacinto Prado Coelho para a interpretação da obra de Fernando Pessoa…

Mas como o tempo de atenção é extremamente curto, provavelmente não sairei da loja de brinquedos…

 

13.10.18

O furacão das televisões

As televisões, a esta hora, digladiam-se pateticamente à procura de imagens de infortúnio. Será em nome do serviço público ou de audiências?

A RTP1 mobiliza todos os recursos tecnológicos e humanos. E os repórteres não poupam nas palavras: prometem agravamento para as próximas horas…

Esperemos que o (a) Leslie não lhes falhe! E que nos deixe dormir tranquilamente!

Por enquanto, o coro das incriminações ainda não se consegue ouvir. No entanto, se a ventania se levantar...

 

12.10.18

Andava pingarelho na costa

Não sei se Sua Excelência ficou contente ao tomar conhecimento da demissão de um dos pingarelhos mais sisudos do Governo… 

Eu não posso ficar indiferente, pois a notícia esclarece que o "pingarelho se demitiu". A decisão só podia ser sua, afinal, pois esse é um traço específico da espécie a que pertence…

No caso deste pingarelho, por ora demitido, confesso que não sabia que a sua "arrogância" tinha fundamento. A polícia judiciária militar (PJM) não respondia às chefias militares, mas ao pingarelho da Defesa.

A subtileza da questão está em que Sua Excelência, Chefe Supremo das Forças Armadas, deveria, lá no âmago, sentir-se diminuída sempre que se lembrava que no Governo da Nação havia um pingarelho que se ufanava de andar mais bem informado, ao ponto de saber que houvera um roubo que nunca o fora…

 

11.10.18

Há quem não goste do termo 'pingarelho'

Bem sei que há quem não goste do termo 'pingarelho' e que acredite que esta personagem está em extinção, não sendo digna de figurar em qualquer dicionário da especialidade…

No entanto, esta espécie é muito mais visível do que a cigarra… Em trinta segundos, eu consigo visualizar 'pingarelhos' nos Ministérios, no Parlamento, nas Autarquias, nos Partidos, na Magistratura, no Ministério Público, nas Forças Armadas, nas Universidades, nas Igrejas, nos Sindicatos, nos Clubes de Futebol, nos Hospitais, na Comunicação, dita, Social…

Esgotei os trinta segundos…

 

10.10.18

As competências do pingarelho

Quero primeiramente esclarecer que a noção de competência corresponde a uma combinação de conhecimentos, aptidões e atitudes adequadas ao contexto. (Isabel Simões Dias, Competências em Educação…)

O pingarelho é competente discursiva e comunicacionalmente, embora, por falta de conhecimento, não tenha nada a informar. 

A relação de interlocução do pingarelho é fácil, pois as armas a que recorre são as da estupidez…

O pingarelho revela um raciocínio lógico, pois, axiologicamente, o mundo divide-se em Bem e Mal, em Verdade e Mentira. Para o pingarelho, os demónios do Mal e da Mentira devem ser combatidos com recurso às armas mais mortíferas.

O pingarelho mostra-se confiante nas outras pessoas, desde que estas o sigam submissamente.

O pingarelho é um gramático extremamente competente, porque manipula as regras como ninguém. A sua felicidade maior é ordenar os homens e a natureza, vendo-os como nós de uma engrenagem em que as exceções são inadmissíveis.

No mundo do pingarelho, a competência estética é extremamente perigosa a antissocial.

O pingarelho odeia a cultura e a ciência, a não ser a da submissão e a do extermínio.

O pingarelho não é recuperável, porque a competência é de ordem interna, e a educação, para o pingarelho, só é aplicável ao rebanho. 

(Os pingarelhos crescem mais facilmente em ambientes abúlicos e niilistas.) 

 

9.10.18

Chega de pingarelhos!

Leio certas notícias, volto-as do avesso, não para distinguir as verdadeiras das falsas, mas para lhes apreciar a cor - sobre o amarelo cresce o branco a transformar-se numa crosta esverdeada, azulada - a diluir-se numa aguadilha nauseabunda…

Neste lugar húmido e escuro, a notícia é, agora, fungo à solta, que, expressão de uma moral castradora e autoritária, se prepara para estrategicamente aniquilar o que resta da democracia…

Chega de pingarelhos!

 

8.10.18

Desnorteada, a moral

A História não se faz projetando no passado os juízos morais do presente. Jorge de Sena

Desnorteada, a moral abriu caça às bruxas, o que conduz a um ajuste de contas permanente.
O problema é que a moral atual já não corresponde ao sentimento de uma comunidade... e, como tal, a própria comunidade corre o risco de se tornar na maior vítima de interesses inconfessáveis.

Por aqui (espaço urbano), não há eucalipto que escape! 

 

7.10.18

A lógica de Recep Tayyip Erdoğan

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, declarou esta semana que “não pode haver democracia com meios de comunicação social” porque estes não refletem o que pensa o povo. “Se há um povo, há democracia. Se não há um povo, não há democracia. Com os meios de comunicação e essas coisas, não pode haver democracia”, afirmou Erdoğan na quarta-feira, ao discursar em cerimónia de inauguração do novo ano escolar na Turquia. Os meios de comunicação social e outras coisas…

Argumentário do ditador educador

  1. O povo pensa, como entidade coletiva, imaculada e iluminada.
  2. A democracia é a expressão política do pensamento do povo.
  3. Os povos são todos democráticos.
  4. Os meios de comunicação social e as redes sociais corrompem o povo.
  5. Os políticos, para executarem a vontade popular, não podem ter medo da comunicação social…
  6. A nova democracia turca baseia-se na relação direta entre o líder (Recep Tayyip Erdoğan, o intérprete) e o povo.

Consequência: "Os meios de comunicação social e essas coisas" devem ser todos extintos.

 

6.10.18

Basta um cruzado!

Pois é, o dinheiro! Parece que já não compra tudo… Basta um cruzado para dar cabo do negócio!

Por este andar nem o Papa se salva. 

Numa curta ou uma longa vida, há sempre uma piscadela de olho, uma escapadela, um gesto insensato… 

Tempos houve em que os cruzados se contentavam com indulgências mais ou menos principescas. Só que hoje, a fome de vingança é absoluta - não descansa enquanto não devora o carrasco e a vítima, sob o olhar cúmplice da populaça.

 

5.10.18

A Serpente em Loures

O Presidente da República saudou esta quinta-feira os pioneiros que proclamaram a República em Loures a 4 de outubro de 1910 e pediu que se mantenha viva a democracia "mais com obras do que com palavras", constantemente. 

A Serpente, de tão inteligente, antecipou a proclamação da República portuguesa. Este simples facto obriga-me a pensar que não terá sido Deus a criá-la. Então, quem foi?

Talvez o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa saiba… 

E como, em matéria de criação, a inteligência é um requisito essencial, estou sem saber por que diacho se insiste em fazer as comemorações no dia 5. Será por vaidade ou por burrice? 

Até porque aparecem sempre os mesmos...

 

 

4.10.18

A Serpente

O tempo está de tal feição que o próprio Diabo deixou de abanar o rabo e decidiu confessar que, também, ele sofreu, desde que a serpente seduziu a Eva, todo o tipo de calúnias e de sevícias…

De acordo com certos comentadores, o próprio Deus, cujo papel nesta história é cada vez mais suspeito, pois nunca desmentiu que tenha criado a serpente, corre o risco de vir a ser julgado e, definitivamente, eliminado… 

… a não ser que decida acabar com o estado depressivo em que deixou cair o mundo, pois, já que o criou, deve saber como desfazer-se dele. 

Ao 7º dia, poderá descansar, livre de serpentes, diabos, maçãs, parras, véus, saias, batinas, chicotes e outros cilícios que não vale a pena enumerar… De qualquer modo, se tiver perdido a ousadia, basta eliminar o dinheiro...

 

3.10.18

De raciocínio murcho

É isso! Falta imaginação, criativa… apesar da outra, fantástica, grotesca…

De raciocínio murcho, preferimos a imitação. 

Do quê, pouco interessa desde que queimemos o tempo…

Em todo lado, mesmo na variação, se repete o amuo, o arrufo, o boato, o êxito…

Golpeados pela imagem, sobre a falésia, esperamos que a onda suba…

 

2.10.18

O corpo da CARUMA

Informa a estatística que, desde abril de 2006, já aqui postei 3316 "posts", que são o corpo da CARUMA… Depois desta Caruma, muitas outras surgiram mais briosas e com maior proveito… 

De certo modo, esta CARUMA feneceu quando a mobilidade cedeu o passo ao sedentarismo. Por preguiça ou por saudosismo o blogue continua, permitindo apontamentos despretensiosos, pessoais ou alheios…

Hoje, aproveito para homenagear as Antigas e Novas Andanças do Demónio, de Jorge de Sena: 

«à beira de água, as praias, de estreitas são apenas uma ligeira caruma do oceano - que as transporta misteriosamente escondidas na limpidez das ondas.»

 

Na mesma 'andança', assinala uma ideia de que me permito trazer aqui, assegurada a devida distância:

«Talvez porque não eram meus, raras vezes, em pequeno, me demorei perante os grandes mapas murais da escola ou do liceu. Poucos desses mapas não falavam. Havia na minha escola, uma caixa vertical, de onde eles emergiam, ficando suspensos depois como de uma forca, e onde podiam mergulhar de novo, para que outros subissem, era um eterno retorno arbitrado pelo desenvolver-se do programa escolar.»

Na minha escola de outrora, não me lembro de nenhuma caixa vertical, mas a ideia da forca e do cadafalso não me é estranha, só que o enforcado era eu se me esquecesse dos afluentes dos rios e das serras, sem esquecer as linhas férreas com estações e apeadeiros… 

No caso do Jorge de Sena, talvez ainda esteja a tempo de verificar se no Liceu Camões há vestígios das caixas verticais… antes que as obras comecem. 

Que Belzebu não atrapalhe! 

 

1.10.18

Alegremo-nos, irmãos!

Eis aqui a Igreja neopentecostal "Bola de Neve Church" fundada em S. Paulo, em 1999, pelo apóstolo Rinapastor, surfista, formado em marketing…

Objetivo pastoral: plantar o maior número de igrejas no menor tempo possível.
Para que conste, descobri um desses templos no bairro do Cristo-Rei, bem pertinho do Seminário dos Olivais e da Igreja católica do Cristo-Rei...

A verdade é que me sinto espiritualmente confortado, até porque já falta pouco tempo para a inauguração da "Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias" (Igreja Mórmon), no Parque das Nações, em frente do Mercado de Moscavide...

 

30.9.18

Não sou traidor

Amanhã, vou trabalhar, como sempre fiz, porque no lugar onde nasci a maioria era analfabeta… Embora, oficialmente, o analfabetismo seja residual, ponderadas as atuais circunstâncias, não vejo qualquer motivo para alterar o meu comportamento.

Não sou traidor, porque nunca aspirei a fazer parte de uma classe… Até porque, no caso presente, não se trata de luta de classes, mas, sim, de radicalização de posições prejudicial a muitos que a abraçam…

No meu caso, o silêncio seria mais cómodo. Prefiro, no entanto, explicar que o meu compromisso sempre foi com os alunos e sempre será.

 

29.9.18

Da voz, o silvo

Quando se enfurecia, a voz tonitruava, ouvia-se bem longe. Todos o conheciam pela voz assustadora, cheia de promessas de vergastadas… 

Era baixote, atarracado, trabalhava de sol a sol, mas a terra árida não lhe multiplicava o grão nem lhe devolvia as palavras - seguia um plano de que ele não era parte.

Só a vergasta o acalmava. Quando ela desabava sobre a vítima, ninguém mais o ouvia. Só um silvo repercutia…

Porquê? Não sei. Temo, no entanto, que da voz já só me sobre o silvo, mesmo quando ela se enfurecia porque a terra árida seguia um plano de que ela, por culpa própria ou alheia, não fazia parte.

Há dias em que a terra é toda árida!

 

28.9.18

A lucidez de Laborinho Lúcio

Quando me falou de olhar o ensino a partir das crianças fiquei com a ideia de que ia falar-me de competências e de vocações...

Sim, há para mim um aspecto fundamental que é este: vivemos perturbados e preocupados com a necessidade de gerar competências, competências, competências. E não nos damos conta de que encharcamos as crianças de tal maneira com competências que nunca chegamos a saber quais são as suas capacidades. Ora a escola tem um período inicial, que pode ser de anos, deve ser de anos, em que fundamentalmente o importante deve ser soltar as capacidades máximas de cada criança. E agora que eu conheço a capacidade máxima de cada criança, então sim, introduzo as competências. Como é que vou saber as suas capacidades? Distinguindo competência do conhecimento. Conhecimento, até há pouco tempo, estava ligado a uma certa universalidade do saber. Hoje, o conhecimento está muito ligado à sociedade de inovação, à criação de valor, portanto, muito comprometido com uma sociedade tecnológica. Mas o conhecimento mais global, mais universal, é fundamental para desenvolver as capacidades, e quando confundimos conhecimento com competência ou o entalamos dentro desta ideia de sociedade de inovação, entulhamos as crianças com coisas que não lhes dizem nada e deixamos de ser capazes de compreender as suas capacidades. Desenvolver as capacidades de uma criança é um dever que qualquer pessoa ligada à escola e à educação. A seguir vamos trabalhar o conhecimento, que já permite desenvolver pensamento crítico, escolher. 

Se Laborinho Lúcio tem razão, isso significa que, ao entrar no ensino secundário, cada aluno já deverá ter consciência das suas capacidades… isto é, cada aluno levará consigo um registo das suas capacidades, competindo ao professor colocá-lo em situação de… Fazer o quê?

 

25.9.18

Mediador

Hoje, iniciei o dia com uma ideia que fez o favor de se evaporar. 

Atravessei a cidade segundo um plano subterrâneo inexplicável para quem a percorre quotidianamente à superfície, mas perfeitamente aceitável para quem se habituou a viajar de metro…

Hesitei em saudar Mário de Carvalho por ter chegado aos 74 anos. Afinal, há certos gestos que o Facebook insiste que realizemos, independentemente da distância a que vivemos.

Descobri que Fernando Pessoa escolheu o dia de 1 de abril para anunciar que «o poeta é um fingidor.» Admirável sentido de humor!

Conclui que 'ao espalhar por toda a parte' a memória 'daqueles que por obras valerosas / Se vão da lei da Morte libertando', Camões assumiu definitivamente o papel de mediador, sem o qual o mérito teria o mesmo destino que a ideia matinal

E depois, há aquelas Autoridades que ninguém reconhece como tal - Harold Bloom, Eduardo Lourenço… 

 

23.9.18

Não vou ...

Não vou abdicar, nem reformar-me, nem a enterrar (espero), vou apenas poupar as palavras de tão vulgares que elas circulam. Por isso não estranhem a minha ausência. 

Regressarei se houver algo de nobre a acrescentar. 

De momento, sinto-me cansado de tergiversações - da moleza mental que medra nas redes sociais.

 

22.9.18

Pacóvio suburbano

Apesar de tão viajado, de tão condecorado, quem é que se lembra dele? Caído no esquecimento, a contas com uma cunha pacóvia, regressou agora, zangadíssimo com a plebe do Rio, declarando claramente que se recusa a mergulhar com eles, porque são «pacóvios suburbanos».

O uso do valor restritivo do adjetivo 'suburbano' leva-me a pensar (?) que o diplomata não quis deliberadamente referir-se àquela gente de origem obscura que, de tempos a tempos, assalta a grande metrópole, em nome de sombrios valores ancestrais. 

 

 

21.9.18

Martins da Cruz abandona os pacóvios do PSD

António Martins da Cruz disse: “Não me revejo em pacóvios suburbanos”. 

Diga-se de passagem que a vida do PSD nunca me entusiasmou, embora não me seja indiferente, até porque o país muito sofreu sob a batuta de Cavacos, Durões, Santanas e Coelhos…, alguns deles zelosos pacóvios…

O que me espanta é que o ilustre alfacinha Martins da Cruz só agora se tenha apercebido da existência de pacóvios no PSD até porque serviu o "filho de Boliqueime" mais do que uma década…

A verdade é que é difícil encontrar um pacóvio que tenha sido tão condecorado como ele. Pelo menos, 25 condecorações!

Porque será que levou tanto tempo?

 

20.9.18

Dentro do espelho

«- Quem tem poder, se tem poder, quer que o vejam.

- Porque a política é um espelho - disse o outro. (…) 

Mas o espelho está sempre presente - disse o outro. (…)

- A verdade é que um espelho é a televisão - disse o caixa.

- Exato - disse o outro. Um espelho que guarda as caras.

- Tem-nas todas lá dentro e quando nos olhamos vemos a cara de outro.»

                                   Ricardo Piglia, A Cidade Ausente

Quando os estímulos exteriores são muitos, recolho-me na leitura. Só que ela devolve-me o circo… Por mais que faça, não escapo à greve dos enfermeiros, à paralisação dos taxistas, à lição do Professor Marcelo Rebelo de Sousa. 

Todos eles se movem na «caixa», alardeando poder. Todos eles «estão ali» à espera da minha sujeição, do meu reconhecimento…

 

Atualização

Neste setembro, os plátanos continuam com as mesmas virtudes e os mesmos defeitos, embora sob dupla ameaça - ou os arrancam e a obra avança, ou a obra é adiada, apesar do verdadeiro motivo ser outro.

Tudo se mantém, à exceção de quem deles se ocupava abnegadamente - está de partida…


19.9.18

Da vida nada lhes interessa

Não sei se todos procuram a notoriedade, mas desconfio que sim. O caminho é que parece não oferecer dúvida desde que seja mediático.

Não duvido das suas capacidades - nem as quero avaliar -, mas desconfio que estão convencidos de que pouco serve esforçarem-se, de que o mérito já teve melhores dias, apesar de não quererem saber quais…

Embora alguns saibam que, n'Os Lusíadas, o Poeta vivia amargurado porque os homens do seu tempo nenhum valor atribuíam ao empenho (e desempenho) dos seus antepassados, a verdade é que a glória abonada pela ociosidade, pelo saque e pelos privilégios lhes parece natural…

A imagem tem hoje um tal estatuto que os anjos sem rosto já nem necessitam de penumbra. 

No olimpo das nossas retinas e dos nossos tímpanos, há cada vez mais famosos da Hora - sorriem, dão gritinhos agudos, silabam contentamentos fúteis e mesquinhos... 

 

18.9.18

A viver no Paço

Não sei se o problema é das calças, se é do sapateiro, se de ambos. No entanto, compreendo que o melhor é esquecer o protocolo, enviá-lo para o museu. A bem da nação, a Sul, o protocolo é colonialista…

O que interessa são os negócios do futuro, de preferência, que os do passado ainda eram resquícios da exploração colonialista.

Vamos lá alinhavar uma parceria fraterna, em que a razão seja determinada pela emoção, esquecendo o ensinamento do Poeta que, apesar da sua experiência austral, nos quis convencer que o coração só servia para entreter a razão…

Por aqui, o problema é o de sempre! Continuamos a viver no Paço...

 

17.9.18

Talvez, a mãe

Nem a cretinice mata a esperança, nem a desilusão me faz perder a razão. Claro, há enganos, alguns piedosos. Compreende-se que os olhos só vejam o que a vontade lhes ordena - o empirismo pode ser demolidor…

Claro que esta manhã não seria igual a si própria sem um pouco de empáfia - reiterada. E sem os ruminantes costumeiros, sem esquecer os inomináveis…

De tudo o que fica, só a saúde vale a pena. O resto é empréstimo a fundo perdido, embora não saiba se alguém avisou o Costa - talvez, a mãe. Mas quem ouve as mães? 

 

16.9.18

A mentira do SOL e a verdade de João Costa

«O TALIS é um inquérito respondido diretamente por professores e diretores sobre condições para o exercício da profissão docente: desenvolvimento profissional, ambiente, condições de trabalho, liderança, gestão, carreiras, etc.» (João Costa)

A mentira assenta na arte de empastelar; a verdade, na arte de responsabilizar os inquiridos. Afinal, eles é que fornecem os dados errados...

E os professores continuam a marcar passo, tal como o país…

Hoje, informa-se primeiro e investiga-se depois, caso a mentira seja descarada… Por seu turno, os governantes persistem no erro de pensar que nos deixamos iludir com qualquer estatística levada a cabo por aprendizes de sociólogo e de linguista...

 

15.9.18

A fingir

«É difícil saber-se se uma pessoa é inteligente ou se é um imbecil a fingir que é inteligente.» Ricardo Piglia, in A Cidade Ausente

A fingir sem nada criar. Quem cria é inteligente! Como diria Pessoa, é um fingidor. Mas este é exceção.

Temos assim dois tipos de fingidores: um inovador; o outro impostor… O último, por vezes, age involuntariamente, segue a mediocridade do meio, acreditando que o modelo é suficiente - bastará copiá-lo para poder singrar…

Estou de regresso à tarefa de fingir que sou capaz de distinguir, para além da carapaça, os criativos dos imbecis. Para o efeito, mais do que ver, vou necessitar de ouvir atentamente, sem me deixar iludir por essa cascata de ouropel que nos cerca...

 

14.9.18

Nada de mal!

Ricardo Ferreira, que foi assessor do antigo ministro da Economia Carlos Tavares, considerou hoje "natural" e não ter "nada de mal" ter saído do Governo para a EDP em 2005. 

Com tal conceito de "mal", o que não é "natural" é ter integrado um Governo de Portugal… 

O problema começa no modo como se "entra" para a política sem ter aprendido a distinguir o "bem" do "mal", a "verdade" da "mentira"... Em termos de 'educação para a cidadania', estes conceitos deveriam merecer particular atenção…

Nem sei por que motivo dou atenção a este tipo de declarações, mas irrita-me que as consideremos "naturais" e que não tenham "nada de mal"...

 

13.9.18

A rejeição

O pedido de liberdade condicional da investigadora Maria de Lurdes Lopes Rodrigues, presa por crimes de difamação e injúrias a magistrados, foi rejeitado pelo Tribunal da Relação de Lisboa. 

Não conheço a senhora nem sei se ela terá agredido fisicamente algum magistrado, estranho, contudo, que o Tribunal da Relação não aceite o pedido - gostava de conhecer a argumentação.

Num país onde tantos casos lesivos do interesse público continuam há anos por decidir, onde tantas penas continuam por aplicar, não compreendo a mão pesada do Tribunal da Relação, independentemente de os magistrados injuriados terem direito ao bom nome...

 

12.9.18

O racional específico

«Uma consciência histórica do mundo não faz parte do Mito Americano - que, por orgulho de Povo Eleito, não pode deixar de desconfiar de que a História como tal é por certo uma invenção suspeita, uma malignidade peculiar ao Velho Mundo para envenenar a América, impondo-se como passado a ela.» Jorge de Sena, in Os Americanos e a História, e Portugal,1969.

Ler este ensaio esclarece quanto à natureza do pensamento do atual Presidente dos Estados Unidos. Para Trump, o passado identifica-se com o Mal. Como um entrave à execução do seu sonho… Ele fez-se eleger para cumprir o seu próprio destino…

Estas considerações podem parecer absurdas, mas o mesmo se passa atualmente em Portugal, um país sem História, que é necessário tratar como uma criança. É necessário mimá-lo, ensinar-lhe os mínimos (aprendizagens essenciais), sem ir além do «racional específico», isto é, ignorar a História e maltratar todos aqueles cuja função é assegurar a ligação ao passado e abrir as portas do futuro.

No entanto, em Portugal, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos da América, esse trabalho é delegado nos pasquins de serviço…

Se não perceberem o título, recomendo a leitura do Despacho n.º 8476-A/2018, de 31 de agosto. 

Cheira a Estado Novo, mas por salutar ignorância… 

11.9.18

Códigos QR na nossa pele?

De acordo com um novo relatório da organização não governamental Human Rights Watch, a China está a instalar códigos QR nas habitações de muçulmanos Uigures. O objetivo é ter acesso imediato a dados pessoais dos seus moradores e controlar as suas atividades. 

O que é um Código QR?

Os QRs (quick response codes ou códigos de resposta rápida) são gráficos 2D que permitem aceder ao conteúdo de páginas WEB, através da captação de imagem. O link para as páginas WEB é acionado automaticamente quando a imagem é captada por um smartphone, tablet ou computadores com webcam, desde que equipados com aplicações de leitura e acesso à Internet. 

Peço desculpa pelo abuso de citação, mas a verdade é que me sinto cada vez menos livre. Não é que eu tenha alguma coisa a esconder, mas pela notícia parece que todos escondemos algo que pode ser aproveitado para nos condicionar, seja pelas empresas, seja pelos estados, seja por todo o tipo de organizações…

Sinto-me cada vez mais infoexcluído e, ao mesmo tempo, compreendo que essa exclusão será fatal a todos aqueles que abdicarem do conhecimento ou que se deixem manipular pelos pregadores das velhas utopias.

Já não se trata de recusar certas ferramentas, mas, sim, de aprender a utilizá-las para podermos responder… Depois da nota social, Caruma 26.3.2018, a China volta a atacar...

 

9.9.18

Escrita única

Matagosa

Há dias em que basta levantar cedo, sair de casa e caminhar sem objetivo expresso, a não ser observar o que a Natureza nos prepara…

Este é um desses dias em que a Natureza ensimesmada se debruça sobre si própria e nos deixa extasiados…

A nós a possibilidade de registar o momento de uma escrita única que nem o pintor será capaz de reproduzir.

 

8.9.18

O que dizer?

Pouco há a dizer. Terra ardida, terra esquecida ou rapidamente coberta por novos eucaliptos…

Em termos de negócio, compreendo a opção. Só não entendo é porque não são criadas zonas interditas, por exemplo, de um dos lados das vias rodoviárias - bastariam 500 metros limpos de qualquer vegetação para criar zonas de interrupção do fogo e de proteção de pessoas, casas, estradas…

A sensação com que fico é que os nossos governantes deveriam ser obrigados a viajar, por exemplo, na N2, uma ou duas vezes por ano, como propunha Almeida Garrett ao defender a lei da responsabilidade política.

E já agora os senhores da ALTICE deveriam acompanhá-los para perceberem que a oferta da empresa é extremamente deficiente em tempo normal. O que dizer em tempo de fogos?

 

7.9.18

Olhos cegos

Se eu me chamasse Julio Cortázar, sonharia que era albufeira… e até árabe. Até, talvez, fosse a lagartixa que se esconde no mato ou o gafanhoto que esvoaça sobre o arbusto - nenhum deles parece interessado em entabular conversa…

Este tipo de metamorfose só é verosímil no pretenso sonho de um argentino a viver numa metrópole europeia, Paris, de preferência…

Na albufeira há, no entanto, vida para além do sonho - uma vida audível, embora não visível mesmo tendo descido até à margem.

Se esta noite eu descer às escuras, talvez o sonho se desfaça...

 

6.9.18

Para aqui chegar

Albufeira, em Matagosa

Para aqui chegar foi preciso atravessar um extenso território repleto de jovens eucaliptos.

Daqui a três anos, não haverá casas queimadas, apenas os incautos que circulem na N2. 

Alerto desde já que a Altice não cobre devidamente esta zona do concelho de Vila de Rei.

 

5.9.18

Não vale tudo!

Da ferrovia, passando pela floresta, pela banca e pelo futebol, à saúde e à educação, não vale tudo.

Assistimos permanentemente à destruição de instituições e de serviços, e já nos habituámos a aceitar o seu desmoronamento, sem punir de forma célere e exemplar aqueles que se alcandoram a lugares para que não têm a mínima preparação.

Um exemplo: o aluguer de comboios a Espanha custará no próximo ano 10 milhões de euros - o custo de uma unidade…

Em Portugal, aluga-se quase tudo e produz-se muito pouco…. O lucro não é para quem trabalha nem para quem investe. É para quem intermedeia. Porque será?
Não vale tudo, até porque já vendemos a alma...

 

4.9.18

O passe social nacional

Em nome da solidariedade, transformar o orçamento de estado num poço sem fundo é um logro. A ideia de que água é inesgotável não tem fundamento, nem roubando-a ao vizinho…

Parece que está a chegar o passe social nacional! 

Num país em que não há dinheiro para comprar um comboio, para aliviar o imposto sobre os combustíveis, para baixar o custo das portagens, para reparar as estradas, ainda há quem nos queira convencer que, baixando artificialmente o custo do transporte coletivo, seremos todos mais felizes e que até o ambiente sairá beneficiado… (Isto revela um pensamento político miserabilista e, sobretudo, estéril.)

Não há pachorra! Basta viajar nos transportes coletivos para perceber que não passam de geringonça terceiro-mundista. Neste clima de café em chávena fria sem princípio nem fim - o poço sem fundo - preparemo-nos para assistir ao crescimento da extrema-direita…

A extrema-direita ganha força por toda a Europa e Portugal é comummente referido como exceção. No entanto, a verdade é que esta está a reorganizar-se em Portugal, reciclando o seu discurso e formando novas organizações. As atividades têm-se multiplicado nos últimos tempos, seja nas redes sociais ou nas ruas do país, ainda que pontuais e marginais. Em termos eleitorais, este espetro político continua residual - e o primeiro teste poderão ser as legislativas de 2019. 

O fim do regime está à porta!

 

2.9.18

O poço

O meu país é um poço. Tem alguma água e já teve mais… Atualmente vive da ribeira, o que significa que está à mercê do clima e, como se sabe, o clima está à mercê da ganância humana…

Já lá vai o tempo em que este poço alimentava a horta de quem não sabia o que era um supermercado…

Depois o meu país trocou a horta pelo supermercado e a ribeira pelo financiamento externo… Desde essa data, o poço ficou à mercê das silvas e como é visível, os silvas são implacáveis, mas não gostam que lhes lembrem que vivem de subsídios… até que um dia acabarão por morrer de sede…

 

1.9.18

Uma Esquerda subsídio-dependente

Durante muito tempo sonhei com uma sociedade mais justa e pensei que a Esquerda poderia ter um papel importante na realização desse objetivo… uma sociedade mais culta regida por valores humanistas…

Por razões que a História explica, Portugal teve, a partir de 1974, a oportunidade de criar as bases dessa nova sociedade. Mas desaproveitou-a. 

A Esquerda nunca soube promover o desenvolvimento da produção interna - preferiu importar ideias e bens e... assegurar a sua base eleitoral, recorrendo a uma absurda política de subsídios…

A Esquerda quer subsidiar tudo, aproveitando os fundos europeus, os empréstimos internacionais e tomando de assalto os contribuintes…

Esta Esquerda começa a não ser muito diferente daquela que governa a Venezuela… Agora a Esquerda quer um passe único para a zona metropolitana de Lisboa. E quem vai pagar?

(Da Direita nunca esperei nada, confesso.)

No país dos subsídios, ganha-se cada vez menos. 

Talvez um destes dias, alguém venha a concluir que melhor seria remunerar devidamente o trabalho e, assim, acabar com a subsidiodependência. 

O problema é que não vejo ninguém nem à Direita nem à Esquerda.

Infelizmente, a Esquerda, passados tantos depois da revolução de 1974, continua a produzir pobreza...

 

30.8.18

Uma vergonha!

Miradouro Panorâmico de Monsanto

Nem sei o que pensar! 

E ainda dizem que, em 2017, procederam a limpeza e instalaram segurança…

Se é para deixar o edificado no estado em que se encontra, o melhor é deitá-lo abaixo.

Senhor Presidente da Câmara, Fernando Medina, vá até lá e diga-nos se tal edifício vai continuar no estado em que encontra…

29.8.18

Porta fechada

Mesmo com a porta fechada, há forma de se saber se estamos dentro se fora… O que parece é que escancaramos cada vez mais as portas na esperança de que nos reconheçam algum mérito, não interessa qual. 

Desde que superemos o outro, o método pouco interessa. Do outro, esperamos que simplesmente nos dê alguma atenção, que nos inveje…

Talvez seja por isso que começámos a fechar as portas - o outro também quer ser invejado… e chama-lhe direito.

 

28.8.18

Longe de mim dizer mal...

Longe de mim dizer mal, mas há evidências que não enganam na Portela de Sacavém.

Evidências de quê? 

- Falta de limpeza

- Falta de organização

- Falta de responsabilidade

Disseram-me, entretanto, que há na freguesia (Moscavide e Portela) um "novo dono disto tudo", que não faz nada a não ser propaganda... Será verdade?

O lixo fica nos passeios esburacados, as plantas medram, as obras de urgência deixam vestígios… até o que devia estar devidamente protegido se oferece despudoradamente aos incautos: crianças, adolescentes desocupados… Isto não significa que não haja espaços urbanos bem cuidados, o que não se entende é o critério…
Por exemplo, nuns sítios, os candeeiros públicos estão apagados, noutros até há lâmpadas "tutti frutti"..., para não ficar atrás da Amadora…

Nem toda a responsabilidade será da Junta - dir-me-ão que é da CM de Loures! Pode ser. Mas para que é que serve a Junta?

 

27.8.18

O olhar preso

Se a perda de memória impressiona, a fixação em certas memórias ainda impressiona mais, sobretudo, quando o desfecho era inevitável…

O olhar preso destrói a vida, torna-a absurda, como se o único objetivo fosse recuar até um ponto descontínuo e desconfigurado… Se me perguntam por que motivo rasgo tantos papéis, é porque sei, agora, que eles se tornaram um peso inútil; sei agora que o importante é a sombra das árvores… tanto sol!

26.8.18

O que impressiona

«O que impressiona é a perda da memória, o sair das relações reais… A própria perda da memória insensibiliza. Você não tem ternura nem ódio às pessoas, porque não se lembra delas, não as conhece...» José Cardoso Pires, entrevista ao JL, 21.05.1997

a rasgar papéis, continuo... 

como aquelas oliveiras que não chegaram a ser minhas…

as figueiras, asfixiadas

perdem sentido

porque um dia por pensar

parti

papéis em vez de árvores

Já nem a sombra!

 

25.8.18

A rasgar papéis

Estou aqui a rasgar papéis,

a rasgar o tempo

e só me lembra a sombra de árvores, 

desejada…

Enchi papéis, 

preenchi o tempo e só choro a sombra das árvores, 

perdidas…

Tenho pena de rasgar estes papéis, 

de rasgar aquele tempo, 

que hei de fazer... 

Talvez ainda sobre uma árvore…

A rasgar papéis inúteis,  

rasgo outro tempo, 

quem quer saber daquelas árvores…

Por mim, deixava aqui todos estes papéis,

todas estas árvores,

não, o melhor é esquecer aqueles incêndios...

 

24.8.18

O comboio de Caminha

Passava o comboio, nele viajava sua excelência o presidente do conselho. Discreto. Parecia um relógio suíço... Passava, lento, o comboio, nele o adubo mergulhava na noite que o dia era de sementeira... Passava o comboio, nele a tropa adormecida seguia viagem sem bilhete de volta. Partia em defesa da pátria do outro lado do mar...
Passa o comboio, vai para Caminha ao encontro do Primeiro. Leva o rebanho, seguro de que a Hora não pode ser desperdiçada... No cais, estamos nós a ver passar o comboio...

 

23.8.18

Paciência

Praia da Cabana do Pescador

- Eu não tenho paciência para esta Madalena! (Avó)

- Para a bebé ao colo: A Madalena já vem! (Mãe)

Estou à espera que a Madalena surja das águas do mar...

Por enquanto só as bolas de berlim e o ondulado da banda sonora...

À volta, um país rico de sol, de pó, de lixo, de cabeças vazias... Uma toalha que se estende fácil, dois velhos que comem umas pevides... Uma fila desalinhada avança na linha de água e as bolinhas de berlim apregoadas no areal.

 

22.8.18

Credor forçado

O que é novo seduz, mesmo que haja mil entraves financeiros, ecológicos e humanos...

Talvez seja por isso que ninguém defende o alargamento do aeroporto Humberto Delgado…

Hoje, por exemplo, fui ao Parque Quinta das Conchas… Ao caminhar, comecei a ouvir os motores dos aviões… Segui o ruído, e ao longe avistei as aeronaves…

Será que não seria mais inteligente libertar os terrenos necessários para o alargamento e criação de novas pistas?

Confesso, no entanto, que não percebo nada do assunto, mas, como credor, interessa-me saber onde é que o meu contributo vai ser aplicado, já que quero crer que o Estado Português está disposto a amortizar a dívida resultante de todas as decisões precipitadas e megalómanas dos seus governantes nas últimas décadas...

Agora que se discute o Orçamento para 2019, gostaria que os Partidos impusessem um número objetivo para o progressivo ressarcimento de todos os credores, mas sem privilégios nem cedência a interesses corporativos.

 

21.8.18

Na roda de náusea

Um Adeus Português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta cama comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta dor portuguesa
tão mansa quase vegetal

Não tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

*

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.

Alexandre O'Neill, in 'Poesia Completas' 

Em 1950, Alexandre O'Neill (19.12.1924 - 21.08.1986) viu-se impedido pela PIDE, na sequência de uma cunha de um familiar seu, de ir ao encontro de Nora Mitrani. Esta surrealista francesa viera a Lisboa proferir uma conferência, La Raison Ardente... O 'Neill apaixona-se e neste belo poema de amor vinga-se "da roda de náusea em que giramos"...

 

20.8.18

Agradecimento a João David Pinto Correia (1939-2018)

Conheci o professor João David Pinto Correia no ano letivo de 1977/78. 

Na Faculdade de Letras de Lisboa, orientava o Seminário de Literatura Oral e Tradicional com que conclui a Licenciatura em Literatura.

Dele ficou-me sempre a ideia do investigador rigoroso, do didata abnegado e indulgente e, sobretudo, de um homem que apostava numa educação assente num modelo autóctone esclarecido…

E era raro, à época, encontrar professores com este perfil. Mas não tão raro como hoje.

 

18.8.18

Pessoa "Fora da Arca"

Há umas horas li uma entrevista "Pessoa visto de Perto"... 

A ideia aprofundada, durante 10 anos por Zetho Cunha Gonçalves, pareceu-me interessante. Afinal, ainda há outra Pessoa…

Mas esse havia que procurá-lo "Fora da Arca" e o investigador fez-se ao caminho e descobriu um Pessoa divertido, encantador… em particular na prosa, na polémica consigo próprio - um Pessoa histriónico!

Aquilo dentro da Arca afigurava-se incompreensível, demasiado frequentado, bolorento. O melhor era ouvir e ler os amigos e conhecidos, mesmo se falecidos… O melhor era folhear e ler os jornais, esses educadores da plebe…O melhor era suspeitar que na correspondência perdida ou sonegada só havia jovialidade

O Pessoa do futuro está agora ao alcance de todos aqueles que sempre revelaram relutância em entrar na Arca...

 

17.8.18

Pessoas obsoletas - o que fazer?

Leonardo da Vinci (1452-1519) distingue a capacidade de ver da possibilidade de representação do real (fazendo-a depender do lugar ocupado pelo observador). Ana Vaz Milheiro (Público, 14 de março de 1998, a propósito da obra "Perspectiva, Perspectiva Acelerada e Contraperspectiva", de João Pedro Xavier)

Agora que o programa de Português (ensino secundário) insiste tanto na representação do real levada a cabo pelos autores, como, por exemplo, José Saramago ou Cesário Verde, valeria a pena repensar a distinção de Leonardo da Vinci. Caso contrário, o aluno, incapaz de imaginar o lugar ocupado pelo observador, acabará por se limitar a reproduzir meia dúzia de ideias feitas sem conseguir questioná-las…

É neste ponto que o diálogo interdisciplinar poderia ter significado, pois habitualmente o professor de Português não percebe nada de "perspectiva"... Por exemplo, será que somos capazes de determinar o lugar do observador n'Os Lusíadas, quando o Poeta faz a sua apreciação crítica?

 

Esta vacuidade em que habitamos leva-me a compreender o receio de Meg Temark (Live 3.0) quando afirma que «há pressão económica para tornar as pessoas obsoletas» Pessoas obsoletas

Não há apenas pressão económica, há, principalmente, um sistema educativo que nos torna obsoletos… Assim se compreende que o mundo esteja cada vez mais à mercê daqueles que medram na sombra dos Trumps...

 

16.8.18

As portas do futuro

Valentín y Molina, los protagonistas de la novela, transcurren prisioneros y comienzan, al mejor estilo de un diálogo socrático, a interpelarse desde sus subjetividades. Puig elige crear una situación ideal en la que un militante revolucionario y un homosexual puedan iniciar un intercambio personal, como si lo hicieran bajo la consigna de las feministas de los 70: “lo personal es político”. En este sentido Molina se narra a partir de diferentes películas de clase B, posicionándose desde un lugar más personal, más experimental y subjetivo. Su contrapartida es Valentín, quien desautomatiza el procedimiento subjetivo del lenguaje de Molina intentando darle una explicación racional destructora de mitos sociales. Un homosexual que representa la sentimentalidad, la delicadeza, el deseo y el cuidado materno y, por otro lado, un militante marxista que representa la objetividad, la racionalidad y la disciplina. Si bien uno podría pensar que la figura del homosexual representaría la feminidad y la de Valentín la masculinidad, en el devenir de la novela las representaciones van mutando y se complementan entre sí. Manuel Puig

Acabo de ler El beso de la mujer araña, do argentino Manuel Puig, 1976, novela censurada pela ditadura militar. Uma obra perturbadora, pois coloca em causa muitas das certezas do leitor e, sobretudo, esta leitura deixa-me com a sensação de que cheguei demasiado tarde… deveria ter lido esta obra nos anos 70, quando a ideologia e a psicanálise se me apresentavam como as portas do futuro…

Infelizmente, a minha chegada tardia não é única neste mundo cada vez mais retrógrado, em que as portas do passado se vão escancarando...

 

14.8.18

Enigmático e suspeito

Esta seriedade é enigmática, mas tem uma explicação: procurava situar-me no percurso. 

Já não me lembro de nada do que fui ouvindo em francês ou em castelhano (por ali, o português é língua desconhecida!) … Apenas, recordo o que vi…

A verdade é que, para mim, o conhecimento pressupõe a caminhada pausada, muitas vezes, sobre si própria…

O que também foi enigmático foi o modo como fui controlado no aeroporto de Barcelona - ainda cheguei a pensar que seria um perigoso cadastrado… 

No entanto, acabaram por concluir que era "português"... Fiquei sem saber o que é que lhes terá passado pela cabeça para me pincelarem as palmas e as costas das mãos...

Alguém me disse que a minha seriedade fez de mim suspeito.

 

12.8.18

A laranja de V. S. Naipaul

V.S. Naipaul morreu.

Dele só li Uma Casa para Mr. Biswas.

Li-o lentamente, abrindo o romance ao acaso e retomando a leitura, já esquecido do que lera anteriormente.

A edição portuguesa era das Publicações Dom Quixote e, até hoje, mantenho a sensação de que a tradução portuguesa é péssima…

Perante a notícia da morte de V.S. Naipaul (1932-2018), verifico que os encómios se mantêm, o que significa que a minha dificuldade em lidar com a escrita deste Nobel da Literatura não terá uma causa exógena…

(Um destes dias, vou voltar a ler Uma Casa para Mr. Biswas. Se tiver tempo - é que o escritor tinha dias em que não escrevia mais do que um parágrafo. Tal como eu - também tenho dias em que não consigo chegar ao final do parágrafo… Ler exige tempo e, por vezes, enorme paciência, o que nem sempre é negativo…)

Entretanto, transcrevo um parágrafo revelador:

- O teu problema é que realmente não acreditas. Havia um homem como tu, em tempos que já lá vão. Ele queria gozar com um homem como eu. Então, um dia, quando o homem que era como eu estava a dormir, o outro homem pôs-lhe uma laranja sobre a barriga, pensando, «aposto que este parvo, quando acordar, vai dizer que foi Deus que lhe pôs a laranja aqui». O primeiro homem acordou, viu a laranja e comeu-a. O outro apareceu e disse-lhe: «Então, foi Deus que te deu essa laranja?» «Sim», respondeu o primeiro. «Então deixa-me que te diga. Não foi Deus que te deu a laranja. Fui eu». «Talvez», disse o outro, «mas eu pedi a Deus uma laranja enquanto dormia.»

 

11.8.18

Talvez por isso não compreenda...

«Yo no puedo vivir el momento, porque vivo en función de una lucha…»

Deliberadamente não cito na totalidade o pensamento da personagem de Manuel Puig, Il beso de la mujer araña.

Porquê? Porque objetivamente nunca me envolvi de forma direta na luta política, nunca planeei a ação, definindo uma agenda...

De facto, sempre imaginei a minha ação de uma forma mais individual: primeiramente aprender; depois ajudar os outros a aprender a viver… 

A luta política nunca a imaginei como resultado de um impulso, de um sentimento; vi-a sempre como ação responsável, assente no conhecimento do que interessaria a uma humanidade, liberta de fronteiras territoriais, religiosas, políticas e morais…

Talvez por isso não compreenda a necessidade de insistir em ideários que apostam no carpe diem horaciano, pois me parecem demasiado egoístas e acríticos...

Talvez por isso não compreenda certos ímpetos revolucionários que continuam a criar fronteiras…

 

10.8.18

Tudo muito... mas nada

Tudo muito higienizado, tudo muito refrigerado… muito calor por todo lado… tudo muito mediterrânico…

Mas nada elimina a sensação de impotência de quem entra num avião e fica ali inativo ou a fingir que lê, joga, conversa… 

Odeio essa sensação contínua que, ainda por cima, me estoira com os ouvidos e me deixa a pairar num espaço de coisa nenhuma - nem a voz se aproveita…

É assim: não fui feito para deixar o controlo à mão de uma qualquer outra entidade, mais ou menos competente, mais ou menos divina...

(La Pineda)

8.8.18

Páginas amaldiçoadas de Manuel Puig

Levantei-me às seis horas da manhã. A temperatura de 28 graus convidava a um passeio matinal e para o lugar-comum - fotografar o nascer do sol, mas ele mostrou-se cerimonioso. Acabei por percorrer todo o passeio marítimo numa extensão de mais de três quilómetros, a pensar na novela de Manuel Puig Maldicion Eterna a quien lea estas páginas

Por lá ninguém se levantava cedo, ninguém se queria (ou podia) lembrar do passado, fosse argentino ou norte-americano. Por lá, pouco mais havia do que diálogo sobre o passado, como forma de recuperar o tempo esquecido, por força de tortura ou de trauma infantil, respetivamente… as histórias iam-se se reconstituindo, apesar dos amuos e da má vontade dos protagonistas - um velho alienado e um homem de meia-idade, seu cuidador à hora e duas ou três vezes por semana…

A construção do livro intriga-me, sobretudo porque o narrador pouco diz e as personagens caem facilmente no mutismo. O final do livro, apesar do ex-professor de História querer voltar a exercer, é desesperante… A ação decorre, em grande parte, num Lar e num Hospital de Nova Iorque…

Para quem esteja interessado em mergulhar nas páginas amaldiçoadas de Puig, recomendo o que transcrevo:

La historia (casi toda) transcurre en Estados Unidos, y los personajes principales son Larry, un profesor de historia fracasado, que no confía en sí mismo lo suficiente como para dedicarse a la docencia, marxista, desempleado y divorciado, que tiene que tomar un trabajo de acompañante de gente de edad avanzada en el que conoce al señor Ramírez, el otro personaje, un anciano argentino, caprichoso, paranoico, que sufre de amnesia. Juntos irán conversando, intentando reconstruir la historia del otro, conocerla y entenderla. A Ramírez le interesa la historia de Larry porque todo le resulta novedoso y le pregunta hasta las cosas más triviales intentando, sin mucha voluntad, recordar algo de su propia vida; también a Larry le interesa la historia de Ramírez porque de a poco va descubriendo que el anciano (aunque lo niegue fervorosamente y se muestre indignado ante las insinuaciones o las afirmaciones del joven) fue en su país un militante, un importante dirigente sindical que fue apresado y torturado durante la dictadura militar y que fue por esas torturas que perdió la memoria. Es interesante ver cómo, a lo largo de la novela, y por la amnesia y los caprichos del señor Ramírez, las conversaciones pasan de ser diálogos reales, sobre la vida real de Larry (quien no parece muy contento recordando ciertas cosas, ciertos traumas) a ser historias mixtas, en las que el señor Ramírez interviene, diciendo cómo en realidad fue un episodio traumático de la vida de Larry, cómo las cosas no son en realidad como se las cuenta él sino totalmente distintas y termina contando lo que suponemos, en realidad, son anécdotas de su propia vida que conscientemente no recuerda. Estos diálogos, forzados por las interrupciones caprichosas del anciano, van volviéndose cada vez más irreales, volviéndose ficciones literarias, a medida que el anciano pregunta cosas que Larry no quiere responder y a medida que el mismo anciano evita otros temas que le traen sensaciones extrañas, indescriptibles, claramente ligadas a su pasado que no puede recordar. Esto, acaso, se vea exacerbado en uno de los últimos capítulos en los que el diálogo es también entre un anciano malhumorado y un joven idealista, pero en la Rusia zarista, en el contexto inmediatamente anterior a la Revolución rusa. Estos personajes son tan similares a los de Larry y Ramírez que también es hacia el final del capítulo que el joven se da cuenta de que el viejo, a pesar de su mal carácter, también es antizarista y apoya a los revolucionarios. O Fascínio das palavras

Más allá de esto, la pregunta de Larry es interesante: ¿Maldición eterna a quién? ¿A quién lea qué? A lo largo de toda la novela, la acción de leer toma un protagonismo especial. Desde el principio, Ramírez dice que todo lo que recuerda es lo que leyó en la enciclopedia en sus días en el hogar de ancianos de Nueva York; de hecho, dice que recuerda todo lo que lee. Dice que tiene que buscar el sentido de las palabras. Sólo conoce a través de las lecturas, y lo que piensa tiene que anotarlo en un papel, para que no se le olvide, y poder leérselo a Larry (pero siempre se olvida de agarrar el papel donde anotó sus pensamientos). También Larry lo acusa de no "saber leer las expresiones humanas". Todo el tiempo está obsesionado con las palabras, y su significado, pero también dice "Por favor, emplee palabras que signifiquen más. Conozco las palabras, pero no lo que estaba pasando dentro suyo" o, cuando Larry le cuenta sobre su infancia y su madre "Larry, por favor dígame otras palabras que usaba su madre." a lo que Larry responde "Mi madre no tenía palabras propias. Ni sabía pensar por su cuenta".

 

7.8.18

Fotos de Tarragona

Perspectivas distintas. Delas nada direi, pois o leitor detesta maçadas de veraneante...

Prometo voltar um destes dias, se a ameaça não se abater sobre mim, pois estou a acabar de ler uma novela de Manuel Puig, intitulada Maldicion eterna a quien lea estas páginas

Entretanto, será que a sandia deve ser considerada a esposa do sandeu? Por aqui, ela serve-se bem fresquinha; quanto ao sandeu, de momento, só me lembro do epíteto vicentino.

 

5.8.18

Ao sabor do tempo

Com o aumento da temperatura, a inteligência diminui - a tese não é minha, é de um monge medieval que, no essencial, defendia que o Equador não podia ser habitado pelo homem, ser inteligente...

Por aqui, não é fácil encontrar um jornal ou uma revista e a televisão é insuportável, tal é a algaraviada…

No entanto, hoje consegui comprar o Diari de Tarragona, uma espécie de JN de outros tempos com revista e tudo… e ainda, conforme o local referenciado, escrito em castelhano ou em catalão… o que dá que pensar sobre a geografia regional e humana…

Lido o jornal, ataquei a Revista XL Semanal, nº 1606, e depois de ter dado uma vista de olhos aos disparates verbais de Arturo Pérez-Reverte (meu conhecido de outras viagens), parei no artigo Agenda cultural, de Juan Manuel de Prada, e estacionei no seguinte parágrafo:

La cultura, en el sentido originario da palabra, es el alimento que el alma necesita, para no consumirse ni rendirse a la barbarie; pero lo que nuestra época llama 'cultura' no es otra cosa sino 'vivir com los tiempos' o 'estar a la moda', que como Tacito nos enseñaba no consiste en otra cosa sino em «corromper y ser corrompido».

O motivo desta reflexão terá sido o impulso «del doctor Pedro Sanchez, que para poder assistir a un corcertito de rock en Benicassim tomó el avión oficial»Parece que esta doença é, afinal, ibérica, embora o grau de servilismo possa ser distinto...

 

 

 

4.8.18

Deve ser do calor...

Apesar dos 35 graus, lá apanhámos o autocarro para B.. Cambrils, dando voltas a Salou… O passeio permite perceber como é que a sociedade espanhola se distribui dos mais ricos aos menos pobres… Sim, porque os pobres trabalham em condições deploráveis…

Salou é o coração da riqueza e assim o que vi nesta ida e volta basta-me…

De regresso a La Pineda, senti que os espanhóis quando vislumbram um português é como se estivessem a reencontrar um parente pobre...

 

3.8.18

Árvores de metal

Não sei se a ideia é homenagear se substituir as árvores - uma ideia com futuro…

A própria água talvez venha a ser de metal... Entretanto, já há quem mergulhe apenas os pés no oceano…

Compreende-se: a senhora se mergulhasse já não conseguiria levantar-se, o que levou as amigas a dar-lhe banho, despejando-lhe baldes por entre os seios, de forma pouco discreta…

Ainda olhei em torno à procura do Almodôvar, mas só avistei um enorme paquete atracado no cais não muito distante…

O resto, pelo que observo, resume-se a mais espaço, a mais gente burguesa, vinda de todos os lugares de Espanha, com alguns franceses à mistura...

 

2.8.18

Lá fiz a viagem!

A primeira dificuldade encontrei-a na letra S. Em nada facilita o despacho das bagagens - de tanta digitalização, bovinos desorientados, andamos às voltas à espera de um esclarecimento...

A segunda dificuldade resultou dos meus ouvidos não terem sido preparados para voar - qualquer dia hão de parecer chagas de cristo…

À chegada, o mundo parecia outro, as portas acolhiam sossegadamente os passageiros e até as malas surgiram no lugar certo…

Depois, o transbordo decorreu sem incidentes e dentro do tempo previsto…

Mas ainda havia uma derradeira dificuldade - a porta do alojamento. Recebido o código que permitia abrir a porta, alguém tinha dado cabo do sistema… Tudo sem falar na canícula, na desertificação, nas praias repletas de gente...

1.8.18

Bem longe da foz

Eu até posso fingir que vou (estou) de férias, mas, para mim, se as temperaturas sobem acima de 25 graus, elas tornam-se um martírio.

Estranho, não é? Mas sou assim: canso-me, irrito-me, perco a vontade de fazer o que quer que seja…

Com tanta gente a desejar não fazer nada, logo eu procuro estar sempre ativo, mesmo se oficialmente de férias.

Em conclusão, vou passar as férias a fugir do calor, só que não me deixam. Ninguém compreende esta minha particularidade, cuja origem remonta à praia da figueira, bem longe da foz ou, se a canícula aumenta, talvez mais perto...

 

31.7.18

Não é preciso estar só...

Trabalhar cansa

Não é preciso estar só para sair de casa e encontrar-se nas ruas desertas ou movimentadas, basta folhear uma página amarelecida pelo tempo e perguntar-lhe quem são estas criaturas tão silenciosas, ali esquecidas.

Desta vez, por um instante dessa solidão sobressai Cesare Pavese (1908-1950), cuja voz só o silêncio poderá consagrar, mas para isso é necessária a disponibilidade por ora perdida… esperemos que não para sempre!

 

30.7.18

A explicar o que não é...

Só amanhã é que a tarefa fica concluída, embora o resultado já tenha sido enviado por e-mail (novidade desta fase), que é necessário quebrar a rotina… tudo para agilizar o procedimento ou haverá um objetivo oculto?

Desta vez não vou comentar os resultados, pois eles nada acrescentam à ambição humana - há tantos caminhos mais lucrativos e menos cansativos! 

Os bons exemplos não faltam! E quanto ao argumento, o mais indicado é negar o que é, e explicar o que não é...

Depois de amanhã, acaba o mês de julho, embora eu não entenda porquê - capricho de imperador romano já esquecido. Por mim, aproveito a tendência e vou assobiar para outro lado, tal como o Ricardo Reis, que, dizem-me, 'não gostava de futebol', por causa da sua natureza "eufemera"...

 

29.7.18

Uma hora no Parque das Nações

Iphiclides feisthamelii gosta do Parque das Nações. Foi lá que a encontrei esta manhã. Eu não desgosto do lugar, embora viva mais a norte…

Frequentemente procuro o Tejo, hoje mais distante pois a água retira-se por umas horas, deixando à vista uma fina camada de lodo sem grandes sinais de poluição… só as gaivotas pulavam na linha de água…

Entretanto, não muito longe, sentei-me numa esplanada a ler o Diário de Notícias, agora semanário, cujo formato me incomoda tal como a arrumação dos artigos, no geral medíocres… Há por ali articulistas pretensiosas e de duvidosa cultura. Alguns claramente zebrados... o que me traz à memória os barões do século dezanove. Pobre Garrett!

 

28.7.18

O robalo sabe nadar

Logo pela manhã procurei um peixe para grelhar e encontrei. Disseram-me que vinha do mar, o pargozinho… Colocado na balança, pesava pouco mais de um kilo. Preço com um descontozinho, já que as férias se avizinham: 33 euros.

Acabei por comprar uns carapauzinhos da Caparica, porque, na verdade, há funcionários públicos que nunca aprenderam a nadar… nem a pescar!

 

27.7.18

A inocência perdida

Perdidit antiqum litera prima sonum…

(Ele arruinou a pronúncia antiga… das primeiras palavras, isto é, perdeu a inocência.)

Todos os dias, recebo a notícia de alguém que se deixou seduzir pelo dinheiro. Parece uma inevitabilidade. As vítimas são, quase sempre, deslocados, idosos, analfabetos e até alguns apressados nada inocentes…

A verdade é que se enriquece em muito pouco tempo, mas não com o salário, por exemplo, de funcionário público...

 

26.7.18

As larvas

As larvas alimentam-se de matéria vegetal, o que, em muitos casos, dá cabo das flores, das folhas… Por estes dias, preferia que elas trocassem as sardinheiras pelos dirigentes deste país, políticos ou não, sem esquecer os carpinteiros, os vidraceiros… Seguramente, as larvas estão no seu direito e prestam preciosos serviços… e bem podiam alargar o seu raio de ação… Eu ficaria feliz!

Desejando que as larvas tenham ouvido a minha sugestão, reporto aqui uma conversa magistral das minhas vizinhas de bairro: 

- Os resultados dos exames são uma miséria!

- Não admira! Entregam as provas para classificar aos «contratados», e bem sabemos que eles se estão na tintas…

- Eles querem lá saber!

- Não têm qualquer formação… a culpa é da "geringonça"...

- Que saudades do Nuno Crato!

 

25.7.18

É sempre a descer!

As aulas tradicionais já não me interessam. São secantes para mim também. Adaptar-me-ei aos novos contextos, comprarei rodinhas para as secretárias, ouvir-se-á música nas aulas, leremos Camões e Pessoa em voz alta sem noções de versificação à mistura, cantaremos Os Lusíadas em rap e a Mensagem em fado, faremos apresentações com guitarra, máscaras de teatro e fantoches, percorreremos Lisboa aos fins de semana sem a burocracia assustadora das visitas de estudo e descobriremos Saramago devagarinho, muito devagarinho, ao som do Tejo, estendido lá em baixo, ao Sol, na linha do horizonte. Treinadores de Portugal

Sou professor há 44 anos. Tenho aqui ao lado 25 provas de exame para classificar, mas perante o pronunciamento da «formadora profissional na área comportamental», Carmo Machado, vão ter de esperar… Diz ela que o mundo mudou, que os professores estão cansados e desmotivados, que as aulas tradicionais são secantesque não aprendeu nada na escola de que se lembre agora (Handy+, 1992), pois eu lembro-me do poeta que "prefere rosas à pátria" porque os outros homens, por muito que se esforcem por satisfazer a vaidade pessoal e coletiva, nada acrescentam à Natureza, ao Universo… mas os alunos não compreendem por que motivo o Poeta é secante, os professores anacrónicos, a leitura não é negociada, os seus interesses não são ativados…

Assim sendo, não me vou esquecer de comprar rodinhas para a minha cadeira e promover uma corrida do Camões (Praça José Fontana) até ao Pessoa (Martinho da Arcada). Pelo caminho ainda posso passar pela Loja do Senhor Verde e visitar a Oliveira do Senhor Saramago… É sempre a descer!

 

 

 

 

24.7.18

Apenas o lamento

Perante os desastres que vão ocorrendo, as palavras pouco podem acrescentar. Apenas o lamento inconsequente, pois há muito deixámos de respeitar os elementos… Até na terra que os concetualizou, o fogo, que não o de Prometeu, segue o seu caminho, indiferente à ganância humana e ao feitiço do "carpe diem" … 

Prometeu, desprezado pelos deuses, é hoje vilipendiado pelos homens. 

De qualquer modo, a Natureza segue o seu curso, a lembrarmo-nos que sem Ela nada seremos...

 

23.7.18

Iliteracia funcional

Um dia Edgar Poe escreveu que nove em cada dez casos, no jogo de xadrez, quem ganha é o jogador mais atento e não o mais hábil…

Admitindo que o escritor tem razão, parece-me que as escolas, em vez de discutirem a desatenção e a dispersão provocadas pelos smartphones, tablets e computadores, melhor seria que promovessem atividades capazes de fixar a atenção duradoiramente. 

Se tal tivesse acontecido, não teríamos hoje um acréscimo de iliteracia funcional… nem tantos habilidosos intrujões e burlões...

 

22.7.18

Uma pá de cal...

Lá chegará a hora em que a pá (literal ou simbólica) porá termo a todas as recriminações, a todas as suspeitas, a todas as insubmissões.

Por enquanto, talvez seja sensato dar mais atenção à origem e utilização dos elementos, ao papel que eles tiveram na construção e preservação da sociedade…

A cal é uma dessas substâncias aglomerantes que sempre me impressionou pela sua multiplicidade de aplicações… pela relação salutar que mantém com a temperatura…

Se eu fosse cal, creio que suportaria muito melhor o desassossego em que me mantenho...

 

21.7.18

Burlões e aldrabões

O Presidente da Câmara de Pedrógão Grande ainda experimentou o argumento da inveja… O vizinho denuncia porque é invejoso, pelo menos, desde o século XVI - ver Garcia de Resende… Camões acabou por escrever a Epopeia, sem no entanto, escapar à inveja coeva que lhe limpou a biografia. O próprio revela sintomas da doença coletiva, pois o Gama não se lhe compara em engenho e arte…

Não são só as multas que prescreveram. PS, PSD e CDS foram condenados pelo Tribunal Constitucional, em 2013, a devolver um milhão de euros, mas o Parlamento confirma ao SOL que chegou a ‘acordo’ com os partidos e nem todos os montantes que lhe eram devidos foram pagos. 

Durante muito tempo, utilizei o argumento da inveja, apesar de não ignorar o conteúdo da ARTE DE FURTAR, agora, creio que vou recuar e passar a defender a ideia de que a matriz da portugalidade está desde o início contaminada pela burla e pela aldrabice… e a literatura não passa de um aformoseamento da realidade, como diria o Fernão Lopes, entretanto, mandado recolher à Torre do Tombo.

20.7.18

Mais uma mocada no contribuinte

De momento estou bastante aborrecido - refém dum incumpridor construtor civil - vou lendo artigos de velhos jornais à procura de alguma pepita, e espreitando as notícias do dia… Ora, a espreitadela cai sobre as inevitáveis "almofadas financeiras"...

Perante a banalização do termo, não resisto à pesquisa da origem da palavrinha Almofada:

Origem da palavra Almofada

Do árabe al-mokhadda, que significa “o lugar da face”, “travesseiro” ou “coxim”. A palavra “almofada”, segundo alguns etimologistas, teria origem no árabe, al-mokhadda, sendo o prefixo al utilizado como um artigo definido, como “o” ou “a”. Aliás, grande parte das palavras começadas com o prefixo "al" na língua portuguesa são de origem árabe. A expressão al-mo seria relativa a “o lugar”, pois o termo ma mâ pode ser traduzido por “lugar” ou “posição”. Por fim, khadda é uma derivação da palavra khaddon, que quer dizer “face” ou “rosto”.

Ou seja, por estes dias, “almofada" passou a significar mais uma mocada no contribuinte! 

Já agora, se fossemos brasileiros, em vez de 'almofada' diríamos 'travesseiro'. E compreende-se! E eu que sou do tempo em que na esteira ainda havia um travesseiro! Quanto ao número de almofadas, esse dependia da situação financeira de cada família...

 

19.7.18

A Poesia passa bem sem a História

É lugar-comum defender que a Poesia passa bem sem a História, o que nos livra de incómoda erudição e, sobretudo, nos limpa a alma. 

Vem isto a propósito da prova de exame de Português (12º ano, 2ª fase) que, mais um vez se serve de Ricardo Reis, o heterónimo de Pessoa (que o de Saramago ficou na gaveta), "autor" da ode "Prefiro rosas, meu amor, à pátria" (1.6.1916) …, o que me obriga a recordar o desconforto pessoano perante o desfecho trágico (mais de 8000 mortos) da batalha naval da Jutlândia (31.5.1916) / post de 15.6-2015

 

A ataraxia na poesia de Ricardo Reis é uma questão mal fundamentada

Definição:

«Constituindo (a ataraxia) um estado anímico, exprime um ideal de sabedoria, um fim ou telos a atingir pelo filósofo (...) É concebida como uma ultrapassagem racional da demasiada humana vulnerabilidade e sujeição à fortuna e aos acidentes, sejam estes de origem interna, as paixões, sejam provenientes do exterior, como as doenças, a pobreza, as desgraças, o mal físico, ou o desaparecimento de entes queridos.» Rui Bertrand Romão, in Dicionário de Filosofia Moral e Política.

O conceito de ataraxia é fundamental para a compreensão da filosofia de vida de Fernando Pessoa / Ricardo Reis:

Prefiro rosas, meu amor, à pátria,

E antes magnólias amo

Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo

Que a vida por mim passe

Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa

Que um perca e outro vença,

Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a Primavera

As folhas aparecem

E com o Outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos

Acrescentam à vida,

Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indif'rença

E a confiança mole

Na hora fugitiva.

Ricardo Reis, 1/6/1916

(...)

Apesar do que é habitual afirmar-se sobre a indiferença de Ricardo Reis em relação aos acontecimentos exteriores, creio que este heterónimo é mais a expressão do desconforto de Pessoa perante o sacrifício da vida humana (8642 homens) em guerras que nada acrescentam à vida do que uma posição de alheamento da realidade envolvente.

Este poema foi escrito precisamente quando terminou a Batalha da Jutlândia:

Segundo os historiadores, trata-se da mais importante batalha naval da I Guerra Mundial. Ocorreu no dia 31 de maio de 1916, nas águas da península da Jutlândia (Dinamarca), e opôs a frota britânica comandada por Sir John Jellicoe e a frota de Alto Mar alemã do almirante Reinhard Scheer. Tal como outros combates desta guerra, a batalha teve pelo menos duas fases e viria a terminar com a fuga da frota germânica. A dureza do combate fez-se sentir nas baixas de cada lado. Nesse combate os ingleses perderam 3 cruzadores, 8 contratorpedeiros e 6097 homens contra 1 couraçado, 1 cruzador pesado, 4 cruzadores, 5 contratorpedeiros e 2545 homens por parte dos alemães. Contudo, apesar de, aparentemente, as perdas britânicas terem sido superiores às germânicas, depois deste confronto os ingleses tornaram-se senhores dos mares controlando toda a navegação. A tal ponto que, até ao final da guerra, a frota alemã de superfície teve de permanecer imobilizada nas suas bases. (Infopédia)

 

18.7.18

Aprendizagens essenciais. Em que século estamos nós?

As Aprendizagens Essenciais (AE) são documentos de orientação curricular base na planificação, realização e avaliação do ensino e da aprendizagem, e visam promover o desenvolvimento das áreas de competências inscritas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. A educação literária do ministério da educação

Sempre me ensinaram que, em matéria de ensino, é fundamental dar um passo de cada vez - do conhecido para o desconhecido, do simples para o complexo, do observável para o reflexivo, do perto para o distante, do literal para o simbólico…

Sempre me ensinaram que, em matéria de educação, o perfil do indivíduo deve ser desenhado em função do modelo de sociedade em construção…

A verdade é que devo ter aprendido tudo ao contrário. Por exemplo, pensava que Garrett e Herculano eram personalidades distintas ou que A Relíquia e Os Maias, embora do mesmo autor, teriam um papel bem diferente na formação do cidadão…

De qualquer modo, resta-me a esperança de que, eliminados Os Maias e quase todos os romances escritos no século XX, o ministério da educação elimine também a poesia - matérias que exigem tempo de leitura, de interiorização, de reflexão, pois o que nos falta é tempo… e juízo…

Em síntese, os professores de Português já não são necessários, a não ser para recitar meia dúzia de disparates propostos por volumosos manuais produzidos pelas editoras do regime… 

 

 LISTA DE OBRAS E TEXTOS PARA EDUCAÇÃO LITERÁRIA – 10.º ANO

POESIA TROVADORESCA 

Cantigas de amigo Cantigas de amor Cantigas de escárnio e maldizer - (quatro) (duas) (duas)

AUTORES E OBRAS  

Gil Vicente Farsa de Inês Pereira (integral) OU Auto da Feira (integral) 

Luís de Camões

Rimas: redondilhas (escolher 4) e sonetos (escolher 8) 

Os Lusíadas § Canto I, ests. 1 a 18; canto IX, ests. 52, 53, 66 a 70, 89 a 95; canto X, ests. 75 a 91 (a constituição da matéria épica) § Canto I, ests. 105 e 106; canto V, ests. 92 a 100; canto VII, ests. 78 a 87; canto VIII, ests. 96 a 99; canto IX, ests. 88 a 95; canto X, ests. 145 a 156 (reflexões do Poeta)

LISTA DE OBRAS E TEXTOS PARA EDUCAÇÃO LITERÁRIA – 11.º ANO
AUTORES E OBRAS  

Padre António Vieira “Sermão de Santo António. Pregado na cidade de S. Luís do Maranhão, ano de 1654” 

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa 

Almeida Garrett ou Alexandre Herculano ou   Camilo Castelo Branco, uma obra narrativa 

Eça de Queirós, um romance 

Antero de Quental, três poemas

Cesário Verde, três poemas

LISTA DE OBRAS E TEXTOS PARA EDUCAÇÃO LITERÁRIA – 12.º ANO 

OBRAS DE FERNANDO PESSOA

Poesia lírica Fernando Pessoa ortónimo 

Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos 

Prosa - Livro do desassossego, de Bernardo Soares (fragmentos) 

Poesia épica Mensagem (seis poemas)

POEMAS DE POETAS PORTUGUESES CONTEMPORÂNEOS

(três poetas de entre os que se indicam) 

Miguel Torga, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Alexandre O’Neill, António Ramos Rosa, Herberto Helder, Ruy Belo, Manuel Alegre, Luiza Neto Jorge, Vasco Graça Moura, Nuno Júdice, Ana Luísa Amaral

ROMANCE DE JOSÉ SARAMAGO, Memorial do Convento ou O Ano da morte de Ricardo Reis 

Em que século estamos nós aqui nesta nossa terra? (eco camiliano…, o tal que é equivalente a Garrett ou a Herculano.)

 

17.7.18

Caio no ininteligível

« Je sais (…) que je ne cherche pas ce qui est universel, mais ce qui est vrai. » Albert Camus, L'espoir et l'absurde dans l'oeuvre de Franz Kafka

Como não consigo lidar com o universal, pois isso pressupõe uma conceção religiosa, para mim, inatingível, limito-me a procurar a verdade, o que se me afigura cada vez mais difícil, porque, à força de tratar da mentira, caio no ininteligível, não tanto porque sejamos todos mentirosos, mas porque, a cada momento, fechamos os olhos, deixando-nos levar ora por ondas de antipatia ora de simpatia…

Perante a morte, essas ondas súbitas de simpatia levantam-se para posteriormente rebentarem na areia que tudo apaga, a não ser que uma qualquer religião decida prolongar o angelismo que as típica…

Hoje, faleceu o dr. João Semedo (1951-2018), virtuoso como é de tradição. Depois de amanhã, a onda desfalecerá…

 

17.7.18

Deve ser mentira!

De acordo com a legislação, cada partido arriscava-se a pagar entre 4.289 e 171.560 euros, enquanto no caso dos dirigentes podia ir de 2.144 a 85.780 euros. O Tribunal Constitucional (TC) deixou passar o prazo para aplicar multas aos partidos e políticos pelas irregularidades detetadas nas contas de 2009, de acordo com a TSF. Praticamente todos os partidos ficam, assim, livres das coimas, além dos 24 responsáveis financeiros. O Tribunal Constitucional

Deve ser mentira! Neste país, o Tribunal Constitucional ia lá esquecer-se. Impossível!

 

15.7.18

A extensão

A extensão tem sido descurada, mas só ela nos permite iludir o tempo.

Sem ela, não passamos de almas penadas a lastimar o tempo decorrido…

O melhor é sairmos de nós próprios e deixarmos que os pés nos levem e os olhos se deixem cativar…

14.7.18

A questão geracional

Jacinto Lucas Pires, a propósito da publicação da peça de teatro "Universos e Frigoríficos", em entrevista a Maria Teresa Horta (DN,27.12.1997), caracteriza (sua) geração dos anos 90 do seguinte modo: “Somos uma geração que cresceu a ver televisão, que leu menos livros e outros livros do que os nossos pais, leu mais banda desenhada, viu outros filmes. Tudo isto tem de trazer formas novas para as formas já existentes.

É possível que Jacinto Lucas Pires tenha razão quanto ao retrato que faz da sua geração. A memória diz-me que sim: os jovens viam muita televisão, liam menos, revelavam fastio ao ler os clássicos, preferindo leituras menos incomodativas, iam ao cinema, assunto totalmente ignorado nas salas de aula.

Quanto à recriação das formas já existentes, não parece que tenha havido uma verdadeira revolução, sobretudo se considerarmos o "cânone" estabelecido pelo Ministério da Educação.

Ao olhar para esta última geração, parece que, em muitos casos, estamos a assistir à travessia do deserto - nem televisão, nem cinema, nem banda desenhada… leitura só a dos títulos oferecidos pela Internet… e muitas imagens de SI, muitos gracejos apatetados, muita torpeza…

Mais uma razão para «persistir como Sísifo».

 

13.7.18

Sísifo

Il n'est pas de punition plus terrible que le travail inutile et sans espoir. Albert Camus

(Não há castigo mais horroroso do que o trabalho inútil e sem esperança.)

Não tenho mais nada a acrescentar, a não ser persistir como Sísifo.

 

12.7.18

Não pode ser!

Estou mesmo cansado porque o esforço de mais um ano foi defraudado. Já o sabia, e o resultado dos exames comprova-o… E como diria o Cesário Verde, estou com "as tonturas de uma apoplexia", pois há quem queira ganhar na secretaria depois de ter abandonado o terreno… com a minha ajuda…

 

 

 

11.7.18

Ad kalendas graecas soluturos

Governo e professores vão analisar custos da recuperação do tempo de serviço congelado…

Fantástico! O que é que andaram a fazer até hoje?

Bem me parecia que, para já, iam todos de férias… Em setembro, os contabilistas começam a trabalhar para o OGE de 2020... Ou será que já ninguém sabe fazer contas?

(Aldrabice!)

 

11.7.18

Dia D?

Professores e governo têm hoje o ‘Dia D’

Uma mentira mais

"D"?

Em português (em francês), o que me vem de imediato à mente, é 'derrota', 'desastre'... Ainda se fosse Dia "V"...

O meu ceticismo não é saudável, mas não acredito nestes jogos de verão - construções na areia para ocupar o tempo…

De qualquer modo, estou com os ingénuos que acreditam na mudança. Só não entendo, como é que é possível chegar-se lá, se os protagonistas continuam a ser os mesmos de sempre...

 

10.7.18

E este Tempo já não é o meu...

Doze menores, um adulto e quatro mergulhadores. A operação na gruta Tham Luang, em Chiang Rai, na Tailândia, acabou com toda a gente a salvo. Num dia que é de vitória, lamenta-se porém a morte de Saman Guman, ex-membro da marinha tailandesa, que faleceu no passado dia 6 de julho, depois de levar uma reserva de ar às crianças.

Bem sei que o que vou escrevendo não passa de um acerto de contas com o Tempo e, como tal, intransmissível e, por vezes, incompreensível, mas não posso deixar de expressar a minha satisfação pela mobilização internacional na evacuação do grupo de jovens tailandeses, tal como saúdo a coragem de Cristiano Ronaldo ao transferir-se para o futebol italiano, ou o apuramento da França para a final do Mundial de futebol…

Quando quer, o homem mobiliza-se, aplaude, reconhece a competência do Outro… só que o mesmo homem esquece as dezenas de milhar de crianças migrantes que se afogam ou vivem em miseráveis campos de acolhimento ou, simplesmente, são objeto do apetite sexual de inúmeros predadores…

E este Tempo já não é o meu - da emoção ou da resignação - mas o daqueles aquém o Tempo falha em definitivo...

 

9.7.18

A criação

« De toutes les écoles de la patience et de la lucidité, la création est la plus efficace. Elle est aussi le bouleversant témoignage de la seule dignité de l’homme : la révolte contre sa condition, la persévérance dans un effort tenu pour stérile. » Albert Camus, La création absurde

O pensamento absurdo caracteriza-se, a meu ver, pela capacidade de formular perguntas que jamais obterão resposta, o que poderia conduzir ao desespero total e suicida, tendo em conta os limites da condição humana.

No entanto, aquilo que Camus propõe, ao defender o pensamento absurdo, é que o homem se revolte contra essa condição através da ação criativa - a única verdadeiramente libertadora - que, no entanto, exige paciênciaperseverança e lucidez… E são estas qualidades que a todo o instante vislumbro nos criadores com que me vou cruzando ao longo dos dias, apesar da dificuldade em acompanhá-los…

 

8.7.18

Maria José Ferreira no MU.SA, Sintra

Para evitar apreciar o que certamente está para além do que vi hoje, em Sintra, no MU.SA - "35 ANOS DE PINTURA" de Maria José Ferreira -, proponho ao visitante deste blogue que ignore os meus "ditos" e visite o seguinte site: http://mariajoseferreira.pt/

O que eu vi na sala Claraboia, foi um mundo construído sobre uma nostalgia matriarcal africana, envolvido numa geometria falsamente surreal, pois há sempre uma linha invisível que assegura o volume dos corpos, e em que a cor deslumbra porque cria a sensação de que a solidez se pode desmaterializar a qualquer momento… 

Há por ali um ponto de equilíbrio desconcertante, genesíaco… algo, apesar de tudo, maternal.

(Peço desculpa se o que acabo de escrever não passe de desconchavo, mas é sentido.)

 

7.7.18

Trata-se de sobreviver

Neste interminável ficheiro de autores e respetivas obras, surge-me o amigo e poeta Silva Carvalho. 

Desta vez, folheio o livro "Ao Acaso" (1986), suspendo o registo, e vou lendo algumas das 300 oitavas, pensando que o Poeta merecia melhor sorte, isto é, merece ser lido e discutido… e de súbito fixo-me em três versos:

 Trata-se de sobreviver, não de sentir ida

  a memória por algum desejo ou desperdício.

  Sentir, sabe-o bem, é o maior e árduo vício.

Afinal, é isso: trata-se de sobreviver, liberto da (in)voluntária memória - duplo fardo, na ausência e na presença - e, sobretudo, de evitar o sentir, porque este prende, aliena, queima a energia que ainda resta...

 

6.7.18

Uma classe esgotada

exaustão emocional: Mais de 60% dos professores portugueses sofrem de exaustão emocional, provocada por causas como a excessiva burocracia e a indisciplina dos alunos, revela um estudo nacional com base em mais de 15 mil respostas de docentes.

Estou há tanto tempo no sistema que a conclusão não me surpreende em nada. Basta entrar numa sala de professores e ouvi-los…

Na verdade, as causas do cansaço são antigas. A diferença entre o passado e o presente reside no modo como na última década a classe política desclassificou os professores… e mais não é preciso dizer: todos sabem porquê e como… 

Uma classe política medíocre e, em muitos casos, analfabeta - culpa dos professores que os deixaram transitar...

 

5.7.18

Pensar aqui, para quê ?

« Penser, c'est avant tout vouloir créer un monde (ou limiter le sien, ce qui revient au même). » Albert Camus, La Création Absurde 

Criar um mundo aqui, para quê? 

O que sei é que o simples registo daqueles que encontrei é inviável, primeiramente porque a memória pessoal se foi debilitando, talvez porque no momento certo faltou o tempo; depois porque o outro pode não sentir qualquer necessidade de integrar o mundo a preservar…

Ainda se escrevesse um romance, poderia limitar esse mundo às relações de antipatia e de simpatia, mas se no momento certo faltou o tempo, a única saída seria dificílima porque as personagens nunca chegariam a ter relevo, consistência, uma ideia - não passariam de traços inconsistentes, absurdos…

Pensar aqui, para quê? Apenas, para dizer ao Tempo que estamos aqui e que, apesar de sós, não estamos sozinhos na sua companhia...

 

4.7.18

A alma caridosa

 A folha de Excel contraída numa página impressa.
(A vista cansada.)

- Vamos lá conferir as classificações das provas com os dados impressos! 

- Mas como se os não consigo ler?

Entretanto, uma alma caridosa decidiu que o melhor era fazer de mim. Deu tudo certo, felizmente!

Na 2ª fase, estarei de regresso, certamente, um pouco mais míope. Que importa desde que conte com a benevolência de nova alma!

Ontem, em silêncio paciente

Andei tão ocupado que não registei nada, não porque não houvesse nada para contar, mas por falta de tempo. Porém, a verdade é que estive mais de quatro horas à espera… em silêncio paciente, a beber água, só água com uma mistura intragável, para depois ser sondado do pescoço aos pés por umas criaturas brancas que se faziam de cordeirinhos mas não tinham nada de angélico…

Claro, histórias não faltariam se ainda valesse a pena contá-las, como a da velhinha incontinente, duplamente, que insistia na sua narrativa, independentemente do interlocutor a compreender ou não… ou até na ausência dele.

 

2.7.18

Que importa?

Que importa o lugar, só o tempo me foge! Só hoje já estive numa dezena de lugares, sempre com uma preocupação: chegar a tempo, cumprir um prazo...

Mesmo quando registo este pensamento, lastimo que a pressa me tenha feito esquecer do livro que tencionava continuar a ler, aproveitando a pausa forçada...
Só o tempo me foge!

 

1.7.18

No país das equivalências

Por paradoxal que possa parecer, cada vez fujo mais da opinião, até porque ter uma opinião implica partilhá-la.  Pressupõe pôr-se de acordo, tomar como sua uma ideia alheia… que, no íntimo, não se quer coletiva, porque o que queremos é impor a verdade, que enunciamos majestaticamente como nossa…

Por absurdo que possa parecer, estou há dias a ler textos de opinião em que o examinado é convidado a defender "numa perspetiva pessoal (…) o poder das palavras nas relações humanas."

Estou para aqui a fingir que a "opinião" e a "perspectiva pessoal" se equivalem, mas não consigo aceitar tal equivalência...

 

30.6.18

Anja Flach em Portugal

Ontem, na sede do MAS, em Lisboa, Anja Flach procurou convencer o auditório (pequeno) de que a resistência curda é, no essencial, um movimento de libertação comunitário, em que os membros, em grande parte mulheres oprimidas, tentam construir uma alternativa à sociedade patriarcal, capitalista - predadora...

As ferramentas de que dispõem são escassas, mas, se preservado o território comunitário*, parece possível combater, através do trabalho manual e da educação, a resignação milenar, devolvendo alguma da felicidade há muito perdida… 

A utopia curda enraíza-se num tempo anterior ao império otomano e a todos os colonialismos de que foram e são vítimas, por isso tem poucos aliados, porque na verdade não existe um território curdo, mas, sim, ilhéus em que os valores se vão diferenciando de acordo com os contactos a que se veem obrigados… 

A utopia curda continua, no entanto, cercada por poderosos interesses que visam a apropriação e a partilha do Médio Oriente e que não olharão a meios para a esmagar, até para que não sirva de exemplo a outras comunidades esquecidas…

Em Portugal, o que se sabe sobre os povos curdos é infelizmente residual, até porque a diretriz curda não passa obrigatoriamente pela construção de um Estado, como, por exemplo, o turco… 

Nós, por aqui, amamos o Estado e estamos convencidos de que ele só pensa em nós…

* o que explica a luta armada em que as mulheres têm um papel importante, tal como aconteceu durante dois anos com Anja Flach...

 

29.6.18

O rolo compressor

Nos últimos dias, o rolo compressor das perguntas e das respostas tudo tem feito para justificar o injustificável, para esmagar a nulidade do processo de aprendizagem.

Estou no ponto em que as evidências deixam de ser evidentes. Há, porém, umas tantas que eu não vou conseguir esconder debaixo do alcatrão...

28.6.18

Em bicos dos pés

O presidente Marcelo não resistiu! E lá deu uma lição ao presidente dos Estados Unidos - imaginou-se Vasco da Gama perante o rei de Melinde! - dando-lhe conta da grandeza da obra portuguesa no seu máximo esplendor atual expresso no número de emigrantes e na grandeza do Cristiano Ronaldo…

Fê-lo com ironia para que os portugueses entendam a nossa superioridade intelectual, fazendo crer que o presidente Trump não entenderia a saloiice da conversa … e nós aplaudimos com a bênção de Putim…

 

27.6.18

Uma maçada!

São tantas as palavras!
Correm sonsas e desarticuladas… 

As palavras, bem queria que fossem ingénuas, inocentes, primitivas…

Nada disso: nem sequer matreiras, mentirosas, brejeiras...

As palavras surgem ocas, disparatadas… 

- expressão de uma idiotia coletiva nutrida de presunção e água-benta.

(Já me esquecia: a Prova de Literatura Portuguesa era de fácil resolução desde que o examinando compreendesse a língua de Garrett e de Agustina Bessa-Luís!)

 

26.6.18

No caso da greve dos professores, só falta o vídeo-árbitro!

“Tal como solicitado pelo Ministério da Educação, o Colégio Arbitral deliberou, por unanimidade, que os conselhos de turma relativos aos 9.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade devem realizar-se até à data-limite de 05 de julho, a fim de emitirem a avaliação interna final. “Serviços mínimos

Comentários para quê? A verdade é que, neste século, os professores têm sido os bombos da festa. Diga-se o que se disser: ser professor tornou-se uma profissão desgastante, desrespeitada, desautorizada e mal remunerada, sobretudo para todos aqueles que, nos últimos, foram impedidos de progredir na carreira… ao contrário do que é apregoado por comentadores encartados na defesa de interesses privados.

Nota: Em vez de vídeo-árbitro, o cardeal ameaça com a solicitação de aclaração da decisão.

 

25.6.18

O programa chama-lhe 'educação literária'

«A capacidade de o cidadão se situar no mundo depende, em parte, da sua relação com a obra literária. O programa chama-lhe "educação literária"...» 

Ao contrário do que escrevi no dia 19 de junho, o exame de Português do Ensino Secundário testa minimamente a relação do aluno do 12 º Ano com a obra literária. A minha baixa espectativa gorou-se…

Há, todavia, um problema: a educação literária parece não estar a ter sucesso, pois, pela evidência recolhida, poucos são aqueles que leem as obras e que, se o fazem, lhes entendem a mensagem…

É um pouco como se os deserdados se obstinassem em desistir!

 

24.6.18

Simplesmente, cretino

Cretino é o adjetivo que serve para designar um indivíduo que tem uma incapacidade mental; serve para designar quem não tem muita inteligência - o idiota; serve para designar uma pessoa manipuladora, capaz de prejudicar os outros, mesmo que sejam seus amigos, que infringe todos os padrões de dignidade…

Para memória futura

BdC: "Um conjunto de cretinos viciou resultados. Não quero fazer parte de uma elite malcheirosa. Deixei de ser sócio e adepto do Sporting."

Apesar de tudo, BdC soube escolher o adjetivo. O problema está no objeto…

Em setembro, não me vou esquecer desta 'pérola' para treinar a técnica do retrato.

 

23.6.18

O desmaio

«O desmaio de Marcelo Rebelo de Sousa ocorreu às 12:48 durante uma visita ao Santuário.»

O Presidente da República desmaia e deixa de ser notícia. Afinal, o futuro do Bruno de Carvalho é bem mais importante…

Diz o Professor que se tratou de uma gastroenterite aguda. Será? E o médico do Presidente, o que é que não diz?

 

 

 

22.6.18

Pausa

Por momentos, saí da sala do risco, e fui à procura do sujeito e do complemento direto.

Só encontrei flores!

(Já estou de regresso…)

 

21.6.18

Na sala do risco

Até 4 de julho, encontram-me na sala do risco… que só pode ser vermelho. Ainda não especificaram o matiz… Lá chegaremos à graduação da cor.

Por favor, não me perguntem porquê.

 

19.6.18

Sobre o exame de Português de 2018

Devo relembrar, nesta data, (e não é a atormentada 6ª feira de Madalena, no "Frei Luís de Sousa"!) o que escrevi neste blogue, sob o título O ÚLTIMO PROFETA, em 19.01.2018, 6 meses antes do exame:

«Se a imaginação e o mistério não estão connosco, não vale a pena escrever.» Maria Ondina Braga entrevistada por Mário Santos, Público, 9.12.1995

Foi certamente essa certeza que alimentou Fernando Pessoa ao escrever MENSAGEM!

Perante o desconchavo a que Portugal chegara, na ausência de feitos que pudesse imortalizar, Pessoa optou por imaginar um futuro que, de algum modo, fosse capaz de despertar os portugueses coevos da modorra em que jaziam.

Esqueceu a História e atirou-se ao Mito e, pelo caminho, assumiu o papel de último profeta do Quinto Império, procurando devolver a esperança e a vontade necessárias ao Sonho, sem o qual o Senhor acabaria por esquecer o povo eleito que unira o Mar, mas que não soubera preservar o Império... 

O último profeta (Screvo meu livro à beira-mágoa), mais do que a voz do Senhor, surge como seu interpelante, procurando, assim, que o último fôlego da Humanidade seja obra de Portugal - o verdadeiro herói de MENSAGEM. 

(Este pequena reflexão foi feita a pensar nos meus alunos que, inteligentemente, a não leram…)

Sobre a prova de exame de Português 2018, prefiro, desta vez, não tecer comentários, a não ser levantar uma pequeníssima questão:

 

Até parece que a relação de interlocução tem início no sétimo verso do poema… /Mas quando quererás voltar? / Não teria sido mais inteligente ter solicitado quais são os termos dessa relação no poema e na Terceira Parte de MENSAGEM?

(…) /Tenho meus olhos quentes de água. / Só tu, Senhor, me dás viver. // Só te sentir e te sentir pensar / Meus dias vácuos enche doura. /

 

Daqui a uma hora... Prova 639

Daqui a pouco, começa o exame nacional de Português - 12º Ano. A minha expectativa é baixa: elaborar uma prova, que não revele publicamente a mediocridade a que chegámos, é tarefa difícil.

Há, no entanto, um aspeto que espero ver consagrado nesta prova de exame: o contributo da disciplina para o fomento da consciência literária, importante vector da cidadania. 

A capacidade de o cidadão se situar no mundo depende, em parte, da sua relação com a obra literária. O programa chama-lhe "educação literária"...

Temo que a "educação literária", pelas perguntas que me foram colocadas nos últimos dias, acabe por não ser aferida. 

Por exemplo, foi me perguntado "se valia mesmo a pena ler as obras de leitura obrigatória dos últimos três anos" ou se "Carlos da Maia teria sido influenciado pelo Ano da Morte de Ricardo Reis"...

 

18.6.18

Os professores e as circunstâncias extraordinárias

No caso dos professores, os factos são claros. Primeiro facto: o Governo prometeu e agora vem dizer que não pode cumprir. Segundo facto: o prometido é devido, ou como diz o primeiro-ministro António Costa, palavra dada, palavra honrada”, afirmou. Para o líder parlamentar do PSD “só circunstâncias extraordinárias podem justificar que assim não seja”. (Fernando Negrão) Cinismo político

Cavaco de cínicoPara quê pedir mais sacrifícios aos professores?

Afinal, para o ano há eleições. Com o PSD vencedor e partido do Governo, o degelo será total: atualização salarial, progressão na carreira, redução do horário de trabalho, reforma antecipada sem penalização, diminuição do número de alunos por turma, formação de professores, modernização de equipamentos, nada irá faltar!

É só um pouco mais de paciência… a não ser que da toca voltem a saltar «as circunstâncias extraordinárias» …

(atualização)
O presidente do Partido Social Democrata (PSD), Rui Rio, acredita que o país não está em condições para pagar aos professores todo o tempo de serviço congelado. 

Afinal, os professores não podem esperar pelo PSD!

 

17.6.18

O pensamento crítico ainda não acabou

O antropólogo britânico Jack Goody explica na sua obra “Domesticação do Pensamento Selvagem” que o pensamento crítico só é possível quando conseguimos ler um texto duas vezes e repensar o que lemos para podermos distinguir entre o bem e o mal, entre verdade e mentira. Quando o processo de comunicação se torna vertiginoso, assente em multicamadas e extremamente agressivo, deixamos de ter tempo material para pensarmos de uma forma emocional e racional. Ou seja, o pensamento crítico morreu! (Franco Berardi) O pensamento crítico 

Toda a entrevista do filósofo italiano dá que pensar, mas o que em mim tem mais impacto é «a ideia de que o pensamento crítico morreu», não pelo facto em si, mas por uma razão elementar - deixámos de ler devagar. Isto é, deixámos de ler várias vezes, de procurar interpretar, distinguir o trigo do joio…

Esta razão primeira é aquela que eu sempre considerei como estratégica para quem tem a missão de ensinar a ler / ensinar a aprender a ler, correndo o risco de ser enfadonho e retrógrado…A vertigem comunicacional é, por seu turno, a maior das formas de alienação capitalista atual…

E ler, saber ler, é o trampolim para o combate, mesmo daqueles que preferem o imobilismo. 

É certamente por isso que no tempo de que disponho, vou continuar a insistir na leitura literária e filosófica, apesar da escolástica jesuítica...

 

16.6.18

O meu campo é o tempo

« L’absurde ne délivre pas, il lie. Il n'autorise pas tous les actes. Tout est permis ne signifie pas que rien n'est défendu. » Albert Camus, L´homme absurde.

Nascido e criado num mundo essencialista, levei algum tempo a rejeitá-lo. A dado momento, atraído pela visão existencialista sartriana, vulgarizada, em termos literários e ensaísticos, por Vergílio Ferreira, caí num niilismo que me provocava calafrios, pois, apesar de tudo, para mim, a liberdade não poderia ser absoluta pelo mal que traria ao Outro, ao Cosmos, ao futuro de ambos…

A necessidade de negar o determinismo conduziu-me a um princípio enunciado por Goethe: «o meu campo é o tempo.» Dito de outro modo, fiz minha a ideia de que sou o meu tempo, nem o anterior nem o ulterior, o que não significa amputar e rejeitar as raízes nem alhear-me das consequências dos meus atos.

Esta consciência da situação em que me encontro ajuda-me a separar o trigo do joio numa época em que a morte do Outro se tornou num vulgar gesto instantâneo...

 

15.6.18

Triste vida!

Não costumo falar de futebol, sinto-me enjoado sempre que ligo a televisão e verifico que o Estado nada faz para acabar com as máfias que vivem do futebol, cansa-me que se desperdicem dias inteiros em torno de jogos que duram pouco mais de 90 minutos, mas vejo-me obrigado a reconhecer que dum jogo pode depender a felicidade dos povos - triste vida!

Talvez seja por isso que, hoje, horas antes de Cristiano Ronaldo entrar em campo, no Portugal-Espanha, a notícia seja:

Cristiano Ronaldo está disposto a pagar 18,8 milhões de euros ao fisco e aceita dois anos de pensa suspensa, após reconhecer quatro delitos fiscais de que foi acusado, avança o jornal espanhol El Mundo. 

Entretanto, como pode acontecer que algum aluno do 12º ano ainda esteja a empanturrar-se do costumeiro paleio vendido pela máfia das editoras, relembro que, na disciplina de Português, o fundamental é compreender, interpretar e redigir respostas adequadas às perguntas, se possível num registo de língua cuidado.

Como proposta de atividade de rememoração, capaz de satisfazer todos os requisitos mencionados, deixo, aqui, um poema de Manuel Alegre: 

Fernando Pessoa

Vem ver agora o meu país que já

não tem Camões nem Índias para achar

só tem Pessoa e o império que não há

sentado à mesa como em alto mar.

 

A viagem que faz é só por dentro

e escreviver-se a única aventura.

No pensamento é que lhe dá o vento

ele é sozinho uma literatura.

 

Eis a vida vidinha cega e surda

ditadura do não do só do pouco.

Ser homem (diz Pessoa) é ser-se louco.

 

Heterónimo de si na hora absurda

Viajando no sentir escreve sentado.

E é Pessoa: “futuro do passado”.

Manuel Alegre, Sonetos do Obscuro quê (1993)

 

14.6.18

A flor de tília da árvore do centenário

A árvore do centenário vingou. Oferece-nos a flor para que possamos preparar uma infusão que acalme os alunos, agora que os exames vão começar, e que alivie os professores da tosse seca típica de um ano de promessas ministeriais por cumprir...

 

13.6.18

Borboletas invisíveis II

Estas foram fotografadas em Cabeço de Vide, junto às Termas Sulfúreas… 

O pronome parece não ter antecedente, o que é grave, pois, por definição ele substitui um nome.

A verdade é que estas borboletas existem, mas para mim tornaram-se mais invisíveis do que eu próprio.

O mesmo acontece com a água da piscina (tanque?) fluvial. Passa ali um fio água, que se perde pelas fendas e se evapora quando o calor se intensifica…

E quanto ao cheiro a enxofre, o meu olfato nada me disse…

 

12.6.18

E nem uma palavra!

Só a vitrine separa o olhar da realidade numérica. Tudo parece claro, legível… e nem uma palavra! Talvez a luz tenha anoitecido e o sol se tenha eclipsado.

A própria Fortuna terá desertado, ciente de que nada pode fazer. Deixá-los sonhar!

 

11.6.18

Ipsos germanos indigenas

Ipsos Germanos indigenas crididerim minimeque aliarum gentium adventibus et hospitiis mixtos… Cornelii Taciti, De origine et situ Germanorum

 

 

 (Acredito que os germanos são naturais da própria terra e nunca se misturaram com povos de outras regiões…)


A razão de tal isolamento atribui-a Tácito à dureza da terra e à severidade do clima e não a qualquer preconceito de sangue…

Pode ter sido assim em tempos remotos, mas, nos últimos séculos, tudo mudou, infelizmente.

Obras de milhões no Camões

Liceu Camões vai receber obras de milhões. A notícia há muito esperada, mas o título surge envenenado:

O concurso internacional para as obras no Liceu Camões, em Lisboa, que espera há anos por uma intervenção, vai avançar até ao final do mês e envolve um investimento de 12,46 milhões de euros, segundo o Ministério da Educação.

Apesar de tudo, esperemos que a obra não encalhe nas manobras da geringonça...

 

10.6.18

Recanto

« Je veux savoir si je puis vivre avec ce que je sais et avec cela seulement. (…) Je veux seulement me tenir dans ce chemin moyen où l'intelligence peut rester claire. » Albert Camus, Le suicide philosophique.

A formulação tranquiliza, mas a verdade é bem mais cruel: vou ter de viver com o que nunca chegarei a saber, desejando que a inteligência me ajude a encontrar os recantos mais aprazíveis, onde possa afastar-me da prepotência da tirania das horas e dos ditadores do momento...

 

9.6.18

Portugal fora da rota angolana

Se alguma coisa ficou demonstrada pela viagem de Estado do Presidente angolano à Europa, que passou também por Espanha, embora aqui a título não oficial, é que na nova era da política externa angolana Portugal não estará no epicentro. Portugal não é importante para Angola

Angola precisa de capital, de investimento. Portugal precisa de exportar "trabalhadores", uns mais classificados do que outros, é verdade. Mas será que chega? 

Não. Sem capital, não há investimento, não há trabalho. O que falta a Portugal é capital. Porquê? 

Porque uma boa parte dos recursos financeiros tem sido desviada para alimentar o hedonismo das novas elites portugueses e angolanas…

Porque, apesar do que se propagandeia, a cultura lusófona mais não é do que propriedade de uns tantos literatos bem instalados…

Porque é difícil libertarmo-nos da ideia imperial de uma variante europeia normativa da língua portuguesa.

Porque na era da globalização, não é assim tão difícil mudar a língua oficial - o inglês é a língua do capital. Ou será que há outra?

Porque, no passado, não soubemos tratar os povos angolanos como "iguais" e, no presente, não nos conseguimos libertar de múltiplos preconceitos que não é necessário enunciar.

 

8.6.18

A confidencialidade de Jesus

Jorge Jesus revelou esta sexta-feira numa palestra promovida pelo International Club of Portugal a existência de uma cláusula de confidencialidade que o impede de falar sobre o Sporting.

Jorge Jesus está impedido de falar do Sporting, isto é, do que se passou nos últimos meses, designadamente em Alcochete. Por quem?

Será que se a Justiça o convocar, Jesus se recusará a falar em obediência a tal cláusula? 

Por este andar, o Redentor ainda acaba no Inferno, a não ser que se converta ao Islamismo, onde, como se sabe, esse tipo de cláusula pode ser objeto de 'fatwa' que o liberte do anátema cristão…

 

7.6.18

Taciturno

Sobre Tácito, sabemos muito pouco. Até o apelido familiar pelo qual hoje é conhecido (Tácito/Tacitus) é um adjetivo que exprime algo como não manifesto, não expresso, reservado. O que podemos afirmar sobre a sua biografia e personalidade são em parte conjeturas que resultam do cruzamento de dados soltos entre a história do seu tempo e a sua própria obra histórica. Provavelmente nasceu em meados dos anos 50 d. C.; foi senador e chegou a cônsul (em 97) e procônsul da Ásia (110-113); fez parte da elite social e económica da Roma do Principado e alcançou o topo político que a sua época lhe oferecia. Abandonou a administração imperial para se consagrar inteiramente à História. 


(De Cornelii Taciti, conservo a obra De origine et situ Germanorum, cuja leitura há muito abandonei, mas que volto a folhear…e verifico que tempos houve em que dei muita atenção aos lugares e aos costumes dos povos germanos…tudo em Latim)

Por estes dias, prefiro a reserva a pronunciar-me sobre as manobras em curso… Prefiro até revisitar Tácito, mesmo que a tarefa me imponha o recurso continuado ao dicionário…

6.6.18

No dia em que fui de férias

Neste dia 6, terminei mais um ano letivo. A opinião pública dirá que entrei de férias, indiferente ao período de avaliações que amanhã se inicia e ao período de exames que se avizinha e cujo termo está marcado para 31 de julho…

De qualquer modo, as boas almas não se cansam de me desejar "boas férias" e perguntar se volto para o ano, quer dizer, se, depois das férias, não me aposento…

O ano letivo que agora termina foi cansativo - um novo programa e novos alunos em fase de conclusão de ciclo. 

A verdade é que me é difícil persuadir os alunos (nem todos, felizmente!) que ainda há qualquer coisa que, todos, podemos aprender. A dificuldade é fruto do convencimento de que temos ideias sobre tudo e que as nossas ideias são tão válidas como as alheias, mesmo que todas juntas não tenham qualquer préstimo…

Conceber uma ideia, experimentá-la, avaliar a sua pertinência não faz qualquer sentido para quem se habituou a "achar" que as ideias são inatas, e como tal de nada serve procurar-lhes a raiz, seguir-lhes o desenvolvimento, situá-las e confrontá-las... 

No dia em que vou de férias, lembro-me sempre do Bexiguinha (Aparição, V.F), pronto a testar a sua natureza divina, pois há sempre quem tenha a ideia de que, injustiçado, o melhor a fazer é proclamar a sua superioridade intelectual, o seu insuperável desdém...

 

5.6.18

A verdade da aranha

« En psychologie comme en logique, il y a des vérités mais point de vérité. » Albert Camus, Le raisonnement absurde.

Indignar-me, só no momento. Não tenho tempo para mais. É por mais evidente que a soma da verdade de cada um não perfaz a Verdade. Nem ela é possível ou, em último caso, não está ao meu alcance…

Mais sossegado, avanço na teia, calibro todos os nós que a constituem, na esperança de que ela não desfaça a minha verdade do dia - cada indivíduo merece uma oportunidade, mesmo se cretino…

E para que o meu sossego não se desmanche, por favor, não me falem em nome da Verdade e muito menos em nome da Justiça!

4.6.18

O ministro da educação, vítima de notícia falsa (!?)

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, confirmou hoje que os professores não vão ter contabilizado qualquer tempo de serviço congelado por terem falhado as negociações com os sindicatos. Um ministro à deriva

Esta notícia deve ser falsa. Porquê? 

Porque o ministro fizera uma promessa a todos os professores que uma parte do tempo de serviço congelado iria ser contabilizado. Parece agora que essa promessa fora feita a 22 sindicatos de professores (não sei se é possível confirmar o número!) e não a todos os professores… E como os, entretanto, 23 sindicatos querem um descongelamento total, o senhor ministro, ignorando que as promessas são para cumprir, decide castigar todos os professores - diga-se que uns tantos já não lhes adianta o descongelamento, pois estão cada vez mais próximos da incineração ou da corrupção dos corpos…

E, como não poderia deixar de ser, o senhor Miguel Sousa Tavares lá veio dar mais uma bicada nos professores, profundo ignorante em matéria de remunerações e progressões, como comprovou, de imediato, ao defender a remuneração acrescida dos médicos, na qualidade de funcionários públicos… nestas coisas, há uns que são filhos e outros que são enteados! Ou será que o SNS lhe faz falta e a Educação, não?

 

3.6.18

Por pouco tempo!

Antes, era assim - 29 de abril de 2018...

31 de maio de 2018, ficou assim. Por quanto tempo?

Pode ser que a época dos incêndios não chegue, a Natureza, porém, não deixará de seguir o seu caminho…

Pelo caminho, uns tantos enriquecem à conta da falta de meios dos proprietários. Por sua vez, o Estado, providente e previdente, já abriu a caça à multa...

 

2.6.18

Borboletas invisíveis I

« Toutes les grandes actions et toutes les grandes pensées ont un commencement dérisoire. » Albert Camus, Les Murs Absurdes...

... 'dérisoire' é um dos poucos termos que sempre me deu que pensar, que nunca soube traduzir, apesar do suposto 'ridículo' em que vivemos, da 'insignificância' das nossas vidas.

Camus conforta-me ao relativizar os meus atos, pois as grandes ideias, quanto ao seu parto, não se distinguem em nada das minhas, ridículas, fúteis e inúteis... Talvez por isso tenha cedido a ir visitar a Quinta Conde de Arcos, aos Olivais. Dos viveiros às hortas comunitárias, das borboletas brancas ao majestoso dragoeiro, só as couves 'baceleiras' despertaram verdadeiramente a minha atenção. E porquê? 

Porque me fazem recordar um prato designado "papas de sarrabulho" que era confecionado com a referida couve baceleira migada e misturada com farinha de milho e um eventual ovo...

Porque atualmente, a informação disponível ignora esta variedade de couve que lembra o arbusto resultante de um bacelo selvagem e porque, em tempos de riqueza gastronómica, não há sarrabulho sem carne de porco, galinha e não sei que mais... 

 

1.6.18

Sem-abrigo com abrigo!?

O Presidente bem clama a favor da integração dos sem-abrigo e confirma, agora, que o plano está a avançar.

Pode ser que sim, embora me pareça que esta realidade social é demasiado dinâmica para que possamos confiar num plano tão bem calendarizado - os sem-abrigo morrem e outros ocupam-lhes o lugar, indiferentes ao voluntarismo presidencial... O país empobrece e o número dos sem-abrigo cresce.

Entretanto, vale a pena registar que os sem-abrigo já descobriram abrigo junto do edifício da Altice nas Picoas, até porque esta parece nem sequer cuidar do mato que medra à sua volta...

 

31.5.18

Limpeza no Santuário em dia de Corpo de Deus

A Solenidade Litúrgica do Corpo e Sangue de Cristo, conhecida popularmente como "Corpo de Deus", começou a ser celebrada há mais de sete séculos e meio, em 1246, na cidade de Liège, na atual Bélgica, tendo sido alargada à Igreja latina pelo Papa Urbano IV através da bula "Transiturus", em 1264, dotando-a de missa e ofício próprios. 

Não participei na Solenidade Litúrgica, o que, espero, não agrave a minha situação aos olhos do Divino, pois guardei o dia para limpar, em fim de prazo, terrenos, certamente, abençoados, pois num deles encontrei uma placa, em que se destaca o termo SANTUÁRIO...

Ninguém me pediu autorização para a lá colocar, mas, segundo me dizem os entendidos, doravante não posso caçar naquele bendito terreno...

 

 

 

30.5.18

Antissocial?

Preocupa-me que os Estados andem preocupados com o nascimento e a morte dos cidadãos. E depois há todos aqueles - grupos, associações, amigos - que, sempre que o Estado se agita, decidem tomar partido, esgrimindo dogmas a favor ou contra, embora se confessem defensores das liberdades individuais (no plural), sem esquecer todos os titulares de cátedra religiosa e laica...

Tanta agitação para quê? E ainda dizem que uns ganham e outros perdem e deitam foguetes e ameaçam voltar à carga - versão bélica do humano.

Desconfio que me estou a tornar antissocial. Ou será sintoma de anarquismo?

 

29.5.18

EU + THANATOS = Morte sem dor

« Il n'y a qu'un problème philosophique vraiment sérieux : c'est le suicide. Juger que la vie vaut ou ne vaut pas la peine d'être vécue, c'est répondre à la question fondamentale de la philosophie. » Albert Camus, L'absurde et le suicide.

Se eu bem entendo a essência da questão, o que está em causa é o SENTIDO DA VIDA... e só o próprio vivente é que deveria decidir o que fazer da sua vida. Não os parlamentos, onde os filósofos são raros... e provavelmente sábios para se absterem... 

Por mim, a dor individual não é matéria que possa ser legislada, tal como o prazer... 

Vamos lá regatear!

Aluno: - Quando é que faz a autoavaliação?

Surpreendido, o professor replica: - Quando é que apresenta oralmente a obra selecionada no âmbito do projeto de leitura? - E trabalho escrito, apresentou algum durante o ano?

Resposta do aluno: - O que é que isso tem a ver com a autoavaliação?

Este professor ainda é daqueles que pensa que lhe compete criar as condições para que cada aluno possa expor o modo como terá cumprido os critérios de avaliação, mas isso, afinal, não tem qualquer significado...

Sob uma amoreira, acabo de ver um papá babado com o filhote ao colo, incitando-o: - «Meu lindo menino, já deve chegar, mas é como tu quiseres, faz o que te apetecer!»

Ele nem precisa de regatear!

 

 

 

 

28.5.18

Podem os sindicatos de professores ser felizes?

A notícia da greve às avaliações no final do ano parecia refletir ameaças recentes, aceitáveis por muitas razões... só que o detalhe envenena: estas só terão início a 18 de junho, deixando de fora as avaliações do 9º, 11º e 12º anos. Consequentemente, os exames não serão postos em causa...

A meu ver, estas manobras sindicais só prejudicam os professores, contribuindo para o descrédito social da classe.

 

27.5.18

Com três sílabas...

A 'árvore' tem três sílabas tal como a 'palavra' - o 'homem' só tem duas, o mesmo acontecendo à 'mulher', a não ser que se chame Maria...

A 'árvore' não engana. Tem raízes, tronco e ramagem. Já quanto à 'palavra', nem sempre exprime lisura, embora, por vezes, seja expressão de secura...

Até o 'espírito' é constituído por três sílabas, apesar de andar longe da santidade. Basta recordar que, certo dia, "visitou" (forma eufemística para os dias de hoje) Maria, deixando-a grávida sem ela ter conhecido homem...

Serve a presente nota para mostrar a minha preferência pelas 'árvores'. De todas as criaturas, só elas me inspiram, porque, para além das estações, elevam-se aos céus sem terem necessidade de ludibriar - sem necessidade de que o espírito desça sobre elas...

 

26.5.18

O chinelo

Cai pela ribanceira abaixo. Joelho esfolado, mãos arranhadas. Tem vontade de chorar. Mas para quê?

Sacode a poeira, disfarça o rasgão e volta a subir a encosta, como se nunca tivesse saído do trilho...

Sabe de antemão que terá de prestar contas, experimentar, na melhor das decisões, o chinelo... De sola, o chinelo, que melhor seria que fosse de pano ou até de cortiça - modernices!

Fiquemo-nos pelo chinelo, bendito! As alternativas já experimentadas eram muito mais dolorosas, hoje, dir-se-ia, gravosas, pois habituámo-nos a formular juízos de valor condenatórios porque queremos estar de bem com a opinião, pondo de lado a consciência...

Depois de tanta queda e da eliminação do chinelo, mesmo se de pano, vejo-me sem saber se ainda há consciência, se ela era uma imposição cultural ou uma exigência pessoal...

O que eu sei é que só posso usar o chinelo no pé, em casa, na praia... até posso de ir de chinelo para a escola que já ninguém reclama...

 

25.5.18

Na ilha da Madeira

«Uma flexibilidade de 25% na forma como as escolas trabalham os currículos, fusão e permuta entre várias disciplinas, são algumas das ferramentas que as escolas vão poder beneficiar por via de um decreto de lei.» Tiago Brandão Rodrigues na ilha da Madeira

Com uma autonomia reduzida a 25% - para onde é que vão os restantes 75%? -, os professores, em nome do supremo interesse dos discentes, vão sentar-se a discutir graciosamente os pontos em que os curricula se interpenetram ou, até, os pontos em que a inteligibilidade de uns depende da aquisição dos outros... Será que estão preparados para tal tarefa?

Em reuniões breves e clarividentes, serão construídos 'transprojetos' - que a pluri - e a interdisciplinaridade já tiveram melhores dias! - a executar no próximo ano letivo... se a opção não for a da corrosão disciplinar (fusão)... tudo apadrinhado pelas novas tecnologias de bolso que, entre outras soluções fabulosas, vão finalmente libertar os docentes da agrura de corrigir e classificar testes e exames...  Se se optar pela corrosão disciplinar (fusão) é mesmo possível acabar com o conceito de "ano letivo"...

Pessoalmente, acho que o ministério de educação só falha nos 75% que vai querer controlar, porque se decretasse a autonomia a 100% até poderia encerrar as escolas, despedir os professores...

Desta vez, não vou querer cair para o lado da autonomia... não sei se estão a acompanhar...

 

24.5.18

Que loucura é esta?

Todos querem os meus dados, todos querem que eu os confirme. Se o não fizer, amanhã deixarei de contar... deixarei de ser ... 

Vamos ver se, finalmente, me deixam em paz!

Viva o Regulamento Geral de Proteção de Dados!

 

23.5.18

Júlio Pomar, os olhos

Em 4 de maio de 2014... «Por trás dos olhos cegos», creio que o verso é de Fernando Pessoa, revela-se no nº 7 da Rua do Vale um atelier museu pensado e desenhado pelo Arquiteto Álvaro Siza Vieira…» (Caruma)

(A verdade é que o verso é de Fernando Pessoa, por ele atribuído a Ricardo Reis.)

E hoje lá fui até ao Alto dos Moinhos e pude ver os desenhos do mestre... Por um dia, apesar de falhado o objetivo da deslocação, valeu a pena ter apanhado o metro.
Júlio Pomar na minha memória caótica surge-me nas palavras de Rui Mário Gonçalves, nas mãos de Mário Soares, nas confidências de José Cardoso Pires e antecipadamente nos versos de Pessoa...

      VIAJAR! PERDER PAÍSES! (...) DE VIVER DE VER SOMENTE!

Por lapso, ontem, não referi o Eduardo Lourenço, sempre às voltas com o passado e o futuro da nação.  E já, agora, o José Augusto-França, homem que deu assinalável contributo à divulgação das artes plásticas...

 

22.5.18

Ainda a trabalhar!

Por aqui, o que há mais são afloramentos do que já foi, do que ainda não é nem se sabe se virá a ser, não esquecendo que o que é está pronto a deixar de o ser... dizer que se trata do tempo é vago, genérico, banal... é pensar que se está instalado, bem ou mal, sem saber que o fio pode estar a ser cortado...

Por isso, hoje, vou amputar O Velho de Rui Knopfli:

Não envelheço. Torno-me antigo.
O velho sempre viveu em mim,
sempre o pressenti no olhar
magoado demorando-se nas coisas,
em certa lentidão não premeditada
dos gestos e nas lembranças confusas
de uma outra recuada idade.

O acaso (outra figura do tempo por explicar) quis que, antes de aqui chegar, tivesse dois breves encontros com presenças de outros tempos (uma mais e outra menos idosa do que eu); em comum, a exclamação: - ainda a trabalhar!
O Rui Knopfli que me perdoe, ele, que nunca me encontrou, sabe dar razão à minha temporalidade...

 

21.5.18

Relances

«... relances há/ em que creio, ou se me afigura, / ter tido, alguma vez, passado // com biografia...» Rui Knopfli, Memória consentida, in nada tem já encanto, Tinta da China, 2017

 

não sei se são relances, se fulgurações...

de súbito surgem breves histórias inteiras...

mas tão distantes que por mais convincentes se perdem em vagares indiferentes

- não cresce ali nenhuma imagem e muito menos uma qualquer hipotipose...

- dizem-me que o imaginário caiu em crise 

- não sei se acredite... não temos nada em comum a não ser o animal acossado

 

bem replica o Poeta: «cada homem é uma ilha / cega na mais densa cerração.»

... apesar do Poeta Mia Couto: «cada homem é uma raça» ...

 

20.5.18

No mundo imundo

(Poucos revelam reconhecer o mérito do adversário...

Poucos sabem respeitar o vencido...)

Vencer é hoje um objetivo maquiavélico.

Até o Poeta, quando ameaça retirar-se do mundo imundo, é acusado de sobranceria, como se a nova ordem o obrigasse a viver na lixeira mental e material que vai crescendo nas mais diversas instituições... Como se a Arte devesse subordinar-se a populismos insanos.

 

19.5.18

É já maio!

Em círculos, por vezes, tangentes, reúnem-se os professores.
É já maio, o primeiro-ministro investe tudo na prevenção dos incêndios... 

Entre professores, o tratamento desigual agudiza-se.
É já maio, a classe docente continua desclassificada... é um peso insuportável para o OGE!

É já maio, em Alvalade, o "enfant terrible" revela que a educação é intransmissível...

 

18.5.18

'mínima gente'

« Il n'y a que dans les romans qu'on change d'état ou qu'on devient meilleur. » Albert Camus

A crença no bom senso e na regeneração do indivíduo não passa disso mesmo. Esperar que ele dê atenção às vozes desafiantes é uma ilusão que só serve para nos desresponsabilizar...

Hoje, voltei a adotar um tom solene e ameaçador para condenar aqueles que, entre outros males, dão diariamente prova de desonestidade intelectual e de falta de respeito pelos seus pares, advertindo-os para um futuro / presente de permanente oportunismo e de desrespeito...

Ao cair em mim, recordei o poeta Herberto Helder:

- e eu pedi ao balcão: dê-me um poema,

e o empregado olhou para mim estupefacto:

- isto aqui é o mundo, monsieur, aqui não se servem bebidas alcoólicas...

 

17.5.18

Não há vândalos sem maioral

O termo 'vandalismo' como sinónimo de ação destruidora foi cunhado no século XVIII, em janeiro de 1794 por Henri Grégoire, bispo constitucional de Blois.

(...) O vandalismo é a ação de destruir ou danificar propriedade alheia de forma intencional com o propósito de causar ruína. Muitas vezes é um ato gratuito, ainda que possa ser encomendado sem que muitos dos intervenientes estejam conscientes desse facto.

No caso que tem abalado a nação, os rapazes têm sido acusados de atos de terrorismo. As instituições, como tal, confessam-se chocadas, defraudadas e até 'vexadas',. Creio, no entanto, que seria mais apropriado designá-los de vândalos, porque, de facto, eles não revelam querer construir o que quer que seja... eles não percebem até que ponto estão a ser manipulados...

Esta destrinça parece-me útil, pois é bem mais fácil pôr termo ao vandalismo do que ao terrorismo, como a História bem ensina, desde que as instituições deixem de andar de mão dada com tais energúmenos, a começar pelos maiorais.

 

16.5.18

Voltar a ler...

Ainda sem perceber os vândalos que, ontem, resolveram atacar em Alcochete, apesar desta incompreensão não ser absoluta, pois, todos dias, me dou conta de que as sementes de violência estão a germinar nos nossos jardins, termino a leitura de A Conquista da Felicidade (1930), de Bertrand Russell.

Por acaso, tal aconteceu na pastelaria Charrette, na Avenida Almirante Reis, Lisboa, onde, chatice, não presenciei qualquer crime, a não ser uma velha senhora muito educada, que, um pouco alterada, dava conta às amigas de que se sentia feliz ali, pois lá em casa o marido gritava com ela e os vizinhos insultavam-se aos outros. A senhora era mesmo muito educada, ao perceber que eu movia a cadeira para me levantar, pediu-me de imediato desculpa caso ela estivesse 'a falar muito alto'... Tranquilizei-a, porque não quis destruir-lhe a alegria da narrativa...

Na obra referida, Bertrand Russell analisa as condições internas que favorecem a conquista da felicidade, propondo estratégias pessoais que poderão libertar o indivíduo da alienação ideológica e religiosa, sem esquecer o narcisismo...

O caminho é necessariamente individual, tendo, no entanto, como interlocutores: o tempo cósmico, a natureza e todo o homem cujo sonho e ação se rejam por valores universais construtivos.

O conhecimento do passado, apesar de imprescindível, só será útil se orientado para a humanidade futura.

Em síntese, o que esta leitura me proporciona, para além de ter ficado deslumbrado com a competência argumentativa do filósofo, é a vontade de voltar ao início de modo a questionar as minhas indisposições, irritações, caprichos, fobias, e principalmente, a origem das minhas certezas...

                     «Soterrado / Por mil certezas de aluvião.» Miguel Torga

 

15.5.18

Vergonha

Meia centena de adeptos de cara tapada invadem Academia do Sporting em Alcochete
Inacreditável! Estes adeptos agem a mando de quem? 
Do que é que as autoridades policiais estão à espera?
E o ministério da administração interna, o que é que tem feito?

 

14.5.18

'À manhã' pelo GTESC

«Esta mulher não sossega. Desde que me cheguei ao pé dela que está com esta conversa dos bocanços. Só quer é bocanços. Não quer outra coisa. É bocanços, bocanços e mais bocanços.» Estragão (Trinta Cabelos) in À manhãCal, de José Luís Peixoto

Todas as personagens têm mais de 70 anos, nem parece. Ao vê-las e ouvi-las, é como se o Maio de 68 estivesse a florir no Alentejo...

É certo que Maria Clara teve o cuidado de substituir os 'bocanços" por 'beijocas', mas nem assim a brejeirice do texto foi prejudicada. Afinal, mesmo numa escola como a Secundária de Camões, é necessário ter em atenção o público para quem o espetáculo foi amadurecido...

Um espetáculo notável, com atores muito bem encenados e um excelente domínio do texto e do palco, em que, mais uma vez, Graça Gomes se excedeu... de tal modo que Maio de 68 floresce em todas as estações das nossas vidas.

 

13.5.18

Para o escol português...

Para o escol português - não sei se o termo ainda se adequa - só há lugar para um Senhor... 

A seu tempo, substitui-se o eucalipto, e à sua volta tudo começa a definhar.

Nós somos assim - ou tudo ou nada!

A escadaria só é imaginável na descida. O topo resulta, em regra, de um milagre - de uma Vontade externa que tudo determina...

Ontem, por exemplo, não se esperava qualquer milagre no Pavilhão Altice - afinal, o Salvador ainda não perdeu o fulgor messiânico; de Fátima, terra de milagres, não há notícia de qualquer aparição; só no Porto, a vitória dos dragões era celebrada como se o Azul tivesse baixado dos céus...

Esta mistura é, no entanto, básica. Até o dr. António Costa, apesar dos seus 96% e da celebrada esperteza, começa a definhar...

 

12.5.18

A Terra dos Sorrisos

 Dizem-me que Portugal foi o primeiro país ocidental a entrar em contacto com a Tailândia, à ordem de Dom Afonso de Albuquerque, em 1511, reinava Rama II em Ayutthaya. 

Não tenho razões para pôr em causa a informação, apesar de desconfiar sempre que me asseguram que Portugal foi ou é o primeiro em alguma coisa...

Curioso, lá estive ontem, no Museu do Oriente, a assistir ao espetáculo Danças Tradicionais da Tailândia pelo grupo Bunditpanasilpa Institute.

Apreciei a I e a II partes, tendo ficado com uma ideia do modo como aqueles povos se divertiam - não sei se ainda se divertem, e isso preocupa-me, porque pouco sei sobre a Tailândia... Percebi, no entanto, que por lá as cadeiras são desnecessárias!

Quanto à III parte - Celebração dos 500 anos do Tratado Luso-Siamês de Amizade, Comércio e Navegação (Dança da Luz e Dança de Amizade) - fiquei sem palavra... a bandeira, o folclore evocavam o tempo em que o fantasma 'limitava / todo o futuro a este dia de hoje' (Miguel Torga, Dies Irae).

 

 

11.5.18

O espetáculo do mundo

Maio 1968 - evocação no Camões

«O mundo está cheio de coisas trágicas, cómicas, heroicas, bizarras e surpreendentes e quem não for capaz de se interessar pelo espetáculo que ele oferece renuncia a um dos privilégios que a vida lhe pode dar.» Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade

A tentação é considerar que os dias oferecem trabalhos e não privilégios. No entanto, remar contra o marasmo pode ser um privilégio surpreendente.

Aqui e ali, sob um aluvião de certezas, eleva-se uma dúvida, uma faísca de compreensão. Até a repetição pode deixar no ar um "se"... Talvez, mais tarde, um filho pule da moldura e a mãe lhe acompanhe o voo e ela deixe de se sentir defraudada...

Submissos, pensando que eram insubmissos, guardam silêncio sobre o sentido, já não sabem bem se do mundo, se de si próprios... até porque o dia se vai fazendo noite - a única noite que poderá ser verdadeiramente sua...

E é um privilégio contemplar os rostos desconfiados perante a ideia de que há vida para além do aconchego, do sossego, da rotina... quase despertos, libertos do dia... maternal.

 

10.5.18

Já espigado

«... as práticas ligadas à Quinta-feira da Ascensão, o dia da Espiga, em que estas se colhem como ato propiciatório do bom desenvolvimento das searas e se realizam percursos processionais, com intervenção do clero, na prática das rezadas, rogações, bênção dos campos.» Joaquim Pais de Brito, in O Voo do Arado, pág. 222.

«Em vários locais do Ribatejo colhem-se habitualmente três espigas de trigo, três malmequeres amarelos e três papoilas, mais um raminho de oliveira em flor, um esgalho de videira com o cacho em formação e um pé de alecrim ou de rosmaninho florido. As espigas querem dizer fartura de pão; os malmequeres, riqueza; as papoilas, amor e vida; a oliveira, azeite e paz; a videira, vinho e alegria; o alecrim ou rosmaninho, saúde e força.» No dia da espiga  

Já espigado, confesso que só colhi três espigas, porque as encontrei no caminho da farmácia... Fi-lo por impulso, mas não fui mais além. Apenas fiquei a pensar na sabedoria (esperteza) de uma Igreja que 40 dias antes impôs a Quaresma e 40 dias depois convida o rebanho a colher flores... (e não me venham com o argumento estafado de que antes de Cristo viera Moisés, pois a implícita conciliação nunca existiu...), quando o que o povo precisava era de pão.

O que me preocupa verdadeiramente são as causas desta ocultação de culturas anteriores que, supostamente, viveriam longe de Deus, isto é, insistiam em viver com os seus deuses. O que me preocupa é o folclore nacionalista...

De qualquer modo, o povo que nada entende de ortodoxia, sempre soube viver de bem com Deus e com o Diabo...

 

9.5.18

Não há conto sem acontecimento...

Repito: 'Não há conto sem acontecimento'... Não me apetece voltar a explicar, embora haja quem não perceba porquê e pense que escreve contos, estórias... Ou seja, a melhor desculpa que me dão é que 'escrever já é em si acontecimento'... Indulgente, tolero...

Portanto, sempre que me contam um conto, só desperto quando o acontecimento irrompe... Hoje, o acontecimento surgiu sob a forma de epifania. Surpreendido, perguntei qual era o significado de tal termo. A resposta foi sincera 'não sei'... Ora ali estava um acontecimento - aparição -, apesar da arredia espiritualidade da hora...

... a não ser que a atenção se voltasse para a cavidade de um plátano que vai acolhendo um ninho sem que ninguém dê conta do acontecimento - e ainda bem! Ou para a luz matinal que, sem glória, procurava atravessar as copas frondosas das tílias...

 

8.5.18

apenas gente

«- mas – ia eu para dizer, mas calei-me de repente –» Herberto Helder, Letra Aberta


Há um ponto a partir do qual deixa de fazer sentido retorquir não tanto porque a gente seja mínima, mas porque é apenas gente.

Ora, se é gente é porque não ouve e o que vê é outra coisa, apenas gente.

 

7.5.18

Preferimos a 'vidinha'...

Para além do que vemos, que me abstenho de descrever para vos evitar a maçada, há sempre a possibilidade de criar uma história. De imaginar alguém que queira ir mais além, de situar, de preferência, essa enigmática personagem no tempo e no espaço, atribuindo-lhe um sonho, uma ambição, um interesse, uma inutilidade...

Mas como fazê-lo sem memória?

Por estes dias, venho insistindo nesse imenso reservatório de acontecimentos, de sentimentos, de sensações, de leituras não, apenas, como constituinte de identidade pessoal e coletiva mas, sobretudo, como alavanca essencial à resolução de problemas... 

Venho insistindo na articulação dessas memórias como a lava vulcânica essencial à criação de novas oportunidades, mesmo que, inicialmente, o vulcão se revele ameaçador...

A insistência é, no entanto, inútil, porque preferimos a 'vidinha', preferimos ficar à porta a fingir que a abelha é uma ameaça intransponível...

 

6.5.18

Ainda pensei numa corrida de obstáculos

Procurava seguir o voo das aves para os lados do Samouco, quando dei de caras com uma instalação abandonada.

Ainda pensei numa corrida de obstáculos, mas a ideia era absurda. Se se tratasse de um campo de treino militar, a disposição das estruturas daria cabo dos recrutas.

Só quando avancei na direção das salinas, compreendi que, afinal, a explicação seria simples - tratar-se-ia de uma estrutura utilizada na secagem de bacalhau - abandonada...

Por associação de ideias, veio-me à memória o esquecido Henrique Tenreiro, dirigente da Junta Central das Casas de Pescadores... o que me empurrou para uma pequena pesquisa sobre a importante personagem do Estado Novo.

 

5.5.18

Espreitas

Se estamos fartos deles, para que é que continuamos a dar-lhes atenção?

Estando a contas com a justiça, o melhor seria deixá-los em silêncio até que Ela se pronuncie...

Espreitamos cada detalhe, minimizamos ou ampliamos cada movimento. O sentimento de indignação cresce, absurdo.

Entretanto, quem é que ganha com esta morbidez em que vivemos?

A resposta é simples: os donos dos meios de comunicação.

Em nome da transparência, o melhor seria começar por esclarecer quem são os donos...

 

4.5.18

A poeira socrática

A ilusão.
A megalomania.
A pegada socrática.
(Agora, a vergonha! A destempo...)
Tanto tempo para sacudir a poeira socrática!
Tanto tempo!
Até Pirro teria deixado as sandálias na areia...

3.5.18

A Sísifo...

« Un visage qui peine si près des pierres est déjà pierre lui-même !» Albert Camus, Le mythe de Sisyphe

Pior do que ser pedra é ter de voltar a subir a montanha, embora sem pressa, pois o castigo é eterno. A Sísifo resta gerir a subida e a descida, indiferente ao olhar de Zeus...

A Sísifo resta gerir a eternidade, pesaroso ou prazenteiro, conforme o sentido de humor de cada momento... ciente de que foi a liberdade que o condenou...

Entretanto, um amigo contempla o raro equilíbrio das pedras; outro amigo espera que a festa comece para que o seu número se cumpra - ambos de passagem, felizmente... O último talvez preferisse "dizer" a septilha de Miguel Torga:

Recomeça...

Se puderes,

Sem angústia e sem pressa.

E os passos que deres,

Nesse caminho duro

Do futuro,

Dá-os em liberdade.

Enquanto não alcances 

Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.

 

Que os Poetas me perdoem, pois do fruto concedido, prefiro metade para a subida e outra metade para a descida.

 

2.5.18

É uma questão de tempo!

«O mundo é um lugar confuso, contendo coisas agradáveis e desagradáveis, em desordenada sequência. O desejo de criar um sistema claro ou regras que o governem é no fundo uma consequência do medo, uma espécie de agorafobia, o temor de espaços vazios.» Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade.

Já nem as quatro paredes garantem o sossego de quem aspira a que o respeitem ou que lhe reconheçam algum saber. 

Lá dentro, os estados de alma são de constrangimento, de um sentimento tácito de clausura, em que raramente alguém é capaz de verbalizar que só ali está porque o obrigam - a interação forçada, a escuta gorada... O mestre já não compreende por que motivo deixou de o ser...

Apetece disciplinar aquelas almas, mas como se estas se ausentaram ou nunca chegaram a ocupar os corpos que a tradição lhes reservara...

A alternativa, por um instante atrativa, esfuma-se ao pensar que, tal como os cavalos se viram substituídos pelas máquinas, também os corpos, por ora presos entre quatro paredes, acabarão substituídos por robots mais colaborativos e disciplinados...

De nada serve ter medo!

 

1.5.18

Avençado? não acredito!

Como se sabe, entre 'pinho' e 'caruma' há uma relação inquebrantável e, neste caso, há também uma coincidência no nome próprio 'manuel', o que me provoca uma certa revolta, quando vejo que as vozes se vão encarniçando contra um ministro tão dado ao fandango... Em 2009, a minha zanga era mais com o patrão do que com o empregado.

Hoje, continuo cético, pois não acredito que tenha havido um ministro avençado. O mais provável é que o BES, por algum servicinho prestado, tenha decidido remunerar o manuel pinho a prestações. Afinal, o BES não nadava em dinheiro...

Eu ainda hoje continuo a pagar prestações ao Novo Banco pelo empréstimo que me concedeu para que pudesse adquirir casa. E faço-o sempre na data estabelecida. Imagine-se o que teria acontecido se eu tivesse chegado a ministro!?

 

30.4.18

Para quê?

Para quê insistir?

Talvez porque seja a única forma de persistir...

A alternativa seria desistir, mas para quê?

Do esforço apenas o cansaço pleno... pode ser que, amanhã, tudo seja mais razoável, mais leve, mais nítido.

Hoje, a dormência entediada de quem não percebe tanto enjoo...

 

 

 

29.4.18

A surpresa

De regresso às raízes... cada vez mais trabalhosas e com uma surpresa. Vamos ver quem é que a descobre.

No campo também há ervas daninhas bem enraizadas... Por mais que nos esforcemos, elas conhecem mil e um atalhos, secam-nos o caminho, isto é, trocam-nos os passos, arranham-nos as mãos e deixam-nos de rastos.

 

28.4.18

Esqueçam as portas e as bruxas

Li um destes dias que há mais de 100 anos os jornais descobriram que podiam substituir os povos medievais na caça às bruxas através da chamada 'perseguição social'. Escolhido o alvo, de preferência, fragilizado por algum pecadilho real ou imaginado, os dias na boca do mundo, definitivamente, acabavam-lhe com a reputação...

E fazem-no impunemente a coberto da inefável liberdade de expressão, não apenas os jornais, mas todos os restantes 'meios de comunicação social', a que nas últimas décadas foram acrescentadas as implacáveis redes sociais...

Dizia-me, na última semana, uma promissora comunicadora, a propósito de 'fontes' e de 'memórias' materiais e imateriais, que eu não gosto da 'comunicação social' e sou levado a crer que ela tem razão, pois detesto a justiça popular e, sobretudo, a 'perseguição social'... embora, hoje, me sinta de bom humor, pois li algures que há em Portugal um advogado que não é despedível... E porquê este neologismo?

Provavelmente, porque o amigo Silva, que tudo paga, não lhe honrou os honorários. Certamente, uma pipa de massa!

Sinto-me indespedível. Esqueçam as portas e as bruxas...

 

27.4.18

Dá vontade de bater com a porta

«Uma personalidade harmoniosa é centrífuga. (...) Nada é tão deprimente como estar fechado em si mesmo, nada é tão consolador como ter a sua atenção e a sua energia dirigidas para o mundo exterior.» Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade.

A psicologia racional tem me ajudado a superar múltiplos obstáculos internos e externos. Surgem, no entanto, momentos extremamente deprimentes ao voltarmos a nossa atenção e energia para o mundo exterior.

Refiro-me, na circunstância, à impossibilidade de estabelecer qualquer forma de diálogo com seres que são narcisistas, presunçosos e autossuficientes.

Dá vontade de bater com a porta... é que está-se mesmo ver que nem o tempo os vencerá...

26.4.18

Adieu Philipinne, de Jacques Rozier

Derrotado pelo cansaço físico e nervoso, desaconselhado pelo trânsito lisboeta, fui à Cinemateca ver o filme Adieu Philipinne / 1963, de Jacques Rozier.

Este realizador, com este filme, propôs a nova gramática do cinema europeu dos anos 60 - Jacques Demy, Truffaut, Godard -, só que foi sendo marginalizado por desrespeitar os ditames dos produtores.

Por cá, o filme passou a 11 de maio de 1979, na Fundação Calouste Gulbenkian, e compreende-se. Em 1963, ano de estreia, o filme alude à guerra da Argélia (1954-1962).

A cena de despedida em que Michel embarca sem certeza de regresso seria suficiente para que, durante a guerra colonial (1961-1974), a obra de tal realizador não pudesse ser vista nas salas de cinema portuguesas...

À distância, percebe-se que a Europa do pós-guerra estava a mudar, todavia, em Portugal, só os exilados e os estrangeirados estavam em condições de compreender tal mudança. 

No que me concerne, os anos 60 foram de clausura... Talvez por isso a banda sonora me tenha agravado o cansaço... 

 

25.4.18

No intervalo

«O hábito de pensar em termos de comparação é um hábito fatal.» Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade.

Já não há nada que não comparemos, em termos pessoais, profissionais e políticos. E porquê? Porque vivemos minados pela inveja...

O recurso à comparação é um traço comportamental tão arreigado que, mesmo se eliminássemos os espelhos, continuaríamos a reger a nossa vida pelas silhuetas que nos assombram desde que nascemos...

No caso do 25 de Abril, continuamos a olhar para trás e, felizes, sentimo-nos superiores aos espetros do Estado Novo...

No intervalo, contentamo-nos com a devassa, sempre invejosos dos sucessos e das malfeitorias dos nossos semelhantes...

 

24.4.18

Já só rosa!

Parece que foi ontem. Primeiro, a surpresa. Depois, o receio... Tinham sido tantos anos de resignação! 

A opção foi sair à rua, ver o que estava a acontecer, sempre à distância não fosse o diabo tecê-las... até que o enxame humano assaltou o blindado à espera de que suas excelências se rendessem e elas à espera que o povo se lhes mostrasse reconhecido...

Mas o povo só queria paz, saúde, habitação e que a poesia escorresse pelas ruas e pelas gargantas... a poesia estava na rua, não só da vieira da silva, mas em todas as ruas desabrochavam cravos, querendo pôr fim ao tempo que fora de escravos...

Ainda se fossem rosas, mas essas acabaram chegando, primeiro nas jarras, ainda com cravos na lapela, e depois já só rosa com cada vez mais espinhos...

 

23.4.18

Lá terei de ser aborrecido

«Uma geração incapaz de suportar o aborrecimento será uma geração de homens medíocres, de homens que se divorciaram indevidamente do lento progresso da natureza, de homens nos quais murcham lentamente todos os impulsos vitais, como se fossem flores cortadas num vaso.» Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade.

Lá terei de ser aborrecido, mas de que serve continuar a celebrar uma revolução que produziu uma enxurrada de compadres promíscuos e corruptos? Até a liberdade de expressão se tornou libertina...

Lá terei de ser aborrecido, mas não me apetece desfraldar a bandeira daqueles que traíram as aspirações dos que acreditaram que era possível criar uma sociedade mais justa e sã...

Lá terei de ser aborrecido, pois a mediocridade nauseia-me.

Aborrecido me confesso.

 

21.4.18

O não iniciado

1494 da era cristã: «De hoje em diante serás meu aprendiz. Eu te ajudarei a transformar espinhos em rosas e juro proteger-te dos perigos que espreitam o caminho. As páginas, que são outras tantas portas, hão de abrir-se ao nosso toque

Acabei de ler O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimbler, Quetzal editores, 1997. O exemplar disponibilizado pelas Bibliotecas Municipais de Lisboa (Galveias) apresenta falhas de impressão (pág. 57-558) ... (espero que a minha incompreensão não seja justificada pela minha não iniciação...)

Um duplo crime: a matança dos cristãos-novos e o assassinato do mestre da Cabala.
A Cabala: ciência oculta judaica que procura desvendar os mistérios da criação do mundo através da interpretação da Torá, isto é, dos primeiros cinco livros do Antigo Testamento, onde de forma codificada Deus terá revelado os segredos do Universo...
Se a matança dos judeus - 4000 - é foi um crime levado a cabo por fundamentalistas dominicanos que souberam mobilizar a irracionalidade de um povo ignorante e faminto desprezado pelo seu próprio rei D. Manuel I, a morte do cabalista já resulta da cobiça, da inveja e do farisaísmo judaico...

A resolução do crime alonga-se desnecessariamente numa corrida desenfreada pelas ruas de Lisboa. A morte do mestre tio Abraão, apesar de ter decorrido durante o massacre de judeus na Páscoa de 1506, à conta da seca, fome e peste que assolaram o país, serve ao sobrinho, Berequias Zarco - futuro mestre - para tudo questionar - dominicanos; cristãos-velhos; cristãos novos; estrangeiros... e finalmente para anunciar que salvação do povo judaico só seria possível se este abandonasse a Europa... Afinal, a Inquisição estava a chegar a Portugal (1536)... Li o romance, mas não consigo desvendar o motivo que levou o Ministério da Educação a recomendar a leitura desta obra a alunos de 15 /16 anos... nem tal passaria pela cabeça de Richard Zimbler, creio...

 

19.4.18

Fumos...

Ontem, não choveu e a temperatura subiu... e como, noutras circunstâncias, fiquei mais cansado, respiração pesada, movimentos lentos, raciocínio confuso... Quando tal acontece, leio mais e escrevo menos...

Evito, assim, focar os olhos que se vão dispersando pelas páginas desnorteadas do Último Cabalista de Lisboa... prometeu, mas não vai dar conta daquela Lisboa manuelina, apesar da desumanidade...

Entretanto, a Susana regressou por uns dias, atordoada pela assédio da tripulação da Ryanair: - "Nem rei nem lei..."

 

16.4.18

Fraude inteletual

Bem sei que a fraude é diariamente notícia porque o ser humano é insaciável... Poderia aqui enunciar as múltiplas expressões, mas o melhor é o leitor consultar a Arte de Furtar...

De momento, cinjo-me ao Programa de Português, 10º ano de escolaridade, designadamente à lista de obras propostas no âmbito do Projeto de Leitura.

Pensar que um jovem de 15/16 anos está preparado para ler obras como, por exemplo, Lazarilho de TormesAs Cidades InvisíveisA Divina ComédiaO Nome da RosaA Tábua de FlandresA Eneida... é um disparate completo... em nome de um comparativismo primário habituado a procurar relações intertextuais ininteligíveis nestas idades...

Creio, no entanto, que casos há em que não se trata apenas de disparate. Por exemplo, é, para mim, incompreensível que O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimbler, surja como leitura para alunos de 15/16 anos. 

Apesar do contributo desta obra de ficção para a compreensão de um dos períodos mais negros da História de Portugal, só alguém que nunca tenha lido este romance é que se lembraria de fazer tal recomendação para leitores tão jovens... ou só alguém que, não tendo lido, cumpre uma agenda miserável.

Bem sei que há sempre o argumento de que ao professor compete contextualizar, ajustar... mas quem desenhou o Programa deveria saber que também o professor precisa de ler, de ter tempo para gerir... e esse tempo não está contemplado.

A consequência está à vista: o aluno não lê a obra, mas apresenta-a com recurso às baboseiras que a Internet lhe vai fornecendo... e, além disso, há sempre quem lhe bata palmas...

 

15.4.18

O homem e o monstro

"Estas não são as ações de um homem, são os crimes de um monstro" justificou Trump, referindo-se ao "alegado ataque químico" levado a cabo pelas forças de Bashar al-Assad em Douma... 

É verdade, Bashar al-Assad há muito que deveria ter sido afastado do poder, pois não há dúvida que se trata de um criminoso, mas não de um monstro, pois os monstros são representações psíquicas forjadas pela mente humana, em geral, para dar conta do medo que a tolhe...

Não foi por falta de ocasião, de meios ou por medo de que o derrube do ditador Bashar al-Assad ainda não foi levado a cabo, mas sim por conveniência já antiga.

Ainda assim, se queremos aceitar que Bashar al-Assad é um monstro, então temos de reconhecer que não é único...

Creio, no entanto, que este tipo de ações não pode ser assacado a um qualquer monstro, por maior que o imaginemos, mas, sim ao homem, o único ser que é verdadeiramente exterminador.

 

14.4.18

A cura é um mau negócio

Analistas do grupo financeiro Goldman Sachs tentaram abordar um assunto sensível para as empresas de biotecnologia, sobretudo as que estão envolvidas na terapia genética, um tratamento pioneiro: as curas de doenças podem ser más para os negócios no longo prazo”. Segundo a CNBC, os referidos analistas apresentaram um relatório, no dia 10 de abril, intitulado “A Revolução do Genoma”. Nesse relatório questionam: “Curar doentes é um modelo de negócio sustentável?

 

Com a Goldman Sachs, o negócio está garantido. As empresas de biotecnologia que se cuidem, pois elas são um perigo ao investirem na terapia genética... 

Em Portugal, há muito que o financiamento da saúde é visto como um risco para a saúde do capital. O ministro das finanças português, mesmo que não venha a ser nomeado comissário europeu tem, desde já, garantido um lugar no grupo financeiro Goldman Sachs...

 

13.4.18

Georg(ina)

George, apesar da província lhe prometer um futuro seguro, parte para a cidade, lugar de cultura, de libertação individual e de consequente afirmação profissional, adotando um estilo de vida experimental e, de certo modo, inconstante... Não se pode, no entanto, dizer que seja "incapaz de assistir num só terreno!"

A rutura com o lugar de origem só não é total porque o regresso provocado pela vontade de se desfazer da casa de família obriga George a problematizar a decisão de partir - a memória devolve-lhe não a família ou o lugar mas uma parte de si própria, Gi..., a primeira idade, impetuosa e definitiva...

A segunda idade, a da escolha de uma estratégia de afirmação profissional no mundo artístico e de precarização dos laços afetivos, significa para George que a liberdade e a felicidade estão ao alcance desde que o dinheiro não falte...

Só que a viagem interior despoletada pela memória acaba por confrontá-la com o futuro de uma passageira inesperada - Georgina. A Senhora velha que, amarga, lhe profetiza um desfecho solitário e angustiado...

Em resumo, Georgina de seu nome, Gi para a família e amigos, rompe com o conservadorismo da província portuguesa, estrangeirando-se (George) para poder inscrever o seu nome artístico na galeria daqueles que se libertaram da terra que os viu nascer... viajar sempre, mudar de cidade... até que...

(O enigma para mim é que entre ficar e partir, entre a rua e o comboio, parece haver uma vereda que uns tantos percorrem sem o saber. Ignorância não parece ser, vaidade também não - um caminho sem motivação.)

 

12.4.18

Desassombrado...

Se a leitura dos contos "A duquesa e o joalheiro" e "O Legado" não me oferecem qualquer dificuldade interpretativa, o mesmo não posso dizer de outros contos como, por exemplo, "A Casa Assombrada"... A ordem acaba por ser substituída por uma nova ordem - o judeu deixa-se mover pelo apelo libidinal; a leitura do diário (do legado) provoca a descoberta de que a vida levada era de mentira... e o suicídio um ato de coragem, de amor...

Em "A Casa Assombrada" um par de fantasmas, saído da tradição neorromântica, anda à procura. Do quê? De um tesouro enterrado... da alegria... do coração da casa... da luz no coração...
Através do "fluxo de consciência» dos fantasmas e da ironia autoral, Virginia Woolf... destrói a ideia de que a casa assombrada possa ser um lugar de terror... A casa fora um lugar de partilha, de amor que a morte interrompeu...

Neste último conto, Virginia Woolf questiona o imaginário do leitor, ridicularizando as suas espectativas.

 

11.4.18

Às arrecuas

Por alguma razão que não consigo descortinar, os passageiros preferiam ocupar o lado direito do topo da nave, bem longe da cabine de voo. Os ventos enovelavam-se sem, no entanto, se levantarem. Pareciam esperar uma clarificação da rota... até que, dos céus, surgiu uma voz apaziguadora que pôs cobro ao delírio...

Compete, assim, ao arquiteto redesenhar a nave e, enquanto tal não acontece, nós vamos, às arrecuas, definir o fio condutor que tem cimentado a nossa ação...

Depois, o problema foi de mangas e de efluentes... sem cravos mas com círios... e lesmas sabotadoras..

 

10.4.18

Eréndira, a princesa sorridente...

Finalmente, terminei a leitura d' "A Incrível e Triste História da Cândida Eréndira e da sua Avó Desalmada", de Gabriel García Marquez.

Descobri Eréndira no espetáculo da Barraca, “Eréndira! Sim, Avó", de Rita Lello, onde se destacou a "desalmada avó", Maria do Céu Guerra.

A representação da Avó por Maria do Céu Guerra é tão "barroca" que difícil seria não lhe reconhecer o protagonismo nesta adaptação da novela ao teatro...

No entanto, o que me obrigou a ler a obra de García Marquez foi o antropónimo Eréndira já que a candura da jovem era por demais evidente e a sua resignação absurda - Sim, Avó! A exploração sexual a que era submetida por ordem da Avó roça o indizível...

Da leitura fica-me a ideia de que a América Latina vivia (vive) muito para além de qualquer racionalidade, a não ser a do dinheiro...

E o mais irónico é que Gabriel García Marquez atribuiu a esta infeliz escrava sexual o nome mexicano de Cândida Eréndira - a princesa sorridente, a que sorri, a que sonha...; manhã risonha.

 

9.4.18

Retrato de um dador de esperma chinês

Une banque de sperme chinoise veut des donneurs de « haute qualité idéologique. Doadores de alta qualidade ideológica

Retrato de um doador de alta qualidade ideológica:

  • defensor do papel dirigente do partido;
  • leal à causa do partido;
  • cidadão honesto;
  • respeitador da lei;
  • imaculado politicamente.

Não sei se estou a compreender. Depois da nota social, podemos, doravante, avaliar a qualidade do esperma, em função do comprometimento ideológico....

 

8.4.18

Eu quero ser mito

«Eu não sou um ser humano, eu sou uma ideia, todos vocês agora vão virar Lula...»

A mitificação, de acordo com a tradição, era assunto tratado pelos poetas ou, até, pela voz do povo...

Não sendo Lula da Silva poeta, ele, decidiu, no entanto, sentenciar o futuro do Brasil, reclamando para si o lugar de (mito) fundador...

Resta saber do quê... e isso nem o próprio Lula é capaz de adivinhar, embora ameace: «eles acham que tudo o que acontece nesse país é responsabilidade de Lula, agora eu responsabilizo vocês.»

 

7.4.18

Incongruências

Poco después, el viento de su desgracia se metió en el dormitorio como una manada de perros y volcó el candelabro contra las cortinasLa Increible y Triste Historia de la Cándida Eréndira y su Abuela Desalmada, Gabriel García Márquez


Pouco depois, o vento da sua desgraça meteu-se no quarto como uma manada de cães e tombou o candelabro contra as cortinas. Pág. 78, ed. Diário de Notícias, tradução cedida por Publicações Europa-América, Lda

Com o Puidgemont à espera de que os Alemães o salvem da justiça espanhola, o Lula da Silva à espera de um milagre de dom Angélico Sândalo Bernardino, o Bruno de Carvalho à espera de que o internem numa Casa de Saúde Mental, eu, que pensava que os homens se mediam pela capacidade de aceitarem os ditames da justiça, sinto-me perplexo com a tradução de «una manada de perros» ...

A não ser que se trate de um exemplo de realismo mágico, creio que o termo espanhol 'manada' - rebanho de gado grosso (em port.) ...- deve ser traduzido por 'matilha' - grupo de cães de caça; chusma de vadios; corja, súcia, malta...

 

6.4.18

Do Brasil...

Dizem-me, do Brasil, que Lula tirou 18 milhões de brasileiros da miséria... Dizem-me que Lula também contribuiu para o bem-estar da classe média...

Por outro lado, dizem-me que, em troca, favoreceu os ricos e, sobretudo, os que sempre almejaram ser ricos... 

Não sei se seria possível fazer diferente, e custa-me acreditar que o Presidente estivesse à venda, por isso não entendo o que se passa no Brasil... 

Creio, no entanto, que haverá forças, entre os velhos e os novos-ricos, que tudo farão para evitar o regresso de Lula à Presidência, porque temem que ele acrescente mais uns milhões à lista dos menos pobres...

 

5.4.18

A chave

Durante anos, habituei-me a ver (ou a imaginar) o São Francisco de Assis a ufanar-se de ter vencido a morte. Ou seria um São Francisco temeroso da morte? 

Facto é que (e não verdade ou mentira, porque estas não passam de superstição...) que logo pelas 7h30 da manhã o observava atentamente à espera que a caveira tivesse desaparecido...

Há uns tempos, regressei ao lugar do encontro diário e, talvez, por falta de concentração, o altar pareceu-me diferente...

Hoje, finalmente, consegui fotografá-lo numa atitude de vitória como se tivesse descoberto a chave da imortalidade...

 

4.4.18

Apagar não é esquecer

Esqueçamos e deixemos que o Mondego siga até onde puder. 

Na margem, pensemos que o nosso caminho não é muito diverso, a não ser que nos ocupemos demasiado com o desnorte humano.

De nada serve apagar o que é risível e nulo, pois apagar não é esquecer.

 

4.4.18

Nem o plátano escapou!

Provavelmente, estou a ficar senil!

De qualquer modo, para quem nunca acreditou na evolução da espécie humana, aqui está mais uma prova de que esta prefere a farsola a qualquer atitude mais positiva...

Na mata do choupal, a natureza segue o seu curso, alheada dos disparates dos jovens que confundem a vida com a jocosidade.

 

3.4.18

Isto é que é cantar de galo!

CLOTILDE FAVA é filha do escultor Armando Mesquita e de Palmira da Costa Pinto Mesquita. Nasceu em Lisboa em 1941. Com um Curso de Escultura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, iniciou a sua carreira na Companhia IBM Portugal como Designer. Viveu em Angola, de 1964 a 1975, onde, como artista plástica, executou várias obras em cerâmica para diversas instituições. Clotilde Fava (ex-sogra de José Sócrates)
Exposição "Para lá do Trópico de Câncer", no Museu Municipal de Coimbra até 8 de Abril.)

2.4.18

No início da leitura

A propósito de "O Vendedor de Passados", de José Eduardo Agualusa, escrevi há dias «Isto não é leitura», porque eu não sabia nada do topónimo São Pedro da Chíbia (Huíla, Angola) ...

Conhecer o passado falsificado de José Buchamann obriga a descobrir a localidade... E hoje é fácil e dá que pensar - São Pedro da Chíbia...

 O Autor apresenta-a do seguinte modo: 

«A vila de São Pedro da Chíbia, na Província da Huíla, no Sul do país, foi fundada em 1884 por colonos madeirenses...». O lugar também foi colonizado pelos bóeres, o que dá verosimilhança à nova identidade de:

«Gouveia. Pedro Gouveia. Devia ter-te morto em setenta e sete.»

Afinal, a leitura do obra não é suficiente para compreender o que se passou em 1977, em Angola. O que se passou, por exemplo, entre Pedro Gouveia e Edmundo Barata dos Reis...

A desocultação da História é uma ponte para o entendimento da história e da intencionalidade do Autor...

 

1.4.18

Isto não é mentira!

É só passar, abrir os olhos e verificar com as próprias mãos ou, se quiserem, seguir o exemplo de S. Tomé...

Não sei se nos municípios existe a figura do zelador, mas penso que muitos riscos seriam evitados se os equipamentos fossem objeto de permanente vistoria... S. Tomé terá sido o apóstolo que duvidou da ressurreição de Cristo, mesmo não sendo Dia das Mentiras...

31.3.18

Isto não é uma leitura!

A procura de relações intertextuais parece estar na moda. Aqui ficam duas alusões a Fernando Pessoa n'O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa: a) «Abomino a mentira porque é uma inexatidão.» - Ricardo Reis; b) Fernando Pessoa transformou a biografia prosaica de um pequeno funcionário de escritório num Livro do Desassossego que é, talvez, a obra mais interessante da Literatura Portuguesa.»

A leitura de José Eduardo da Literatura Portuguesa (complexo nominal de má memória para o Autor) desloca-se progressivamente de Eça para Pessoa - Um Eça reduzido aos adjetivos: «A luz cai, magnífica, tão forte, tão viva, que parece pousar sobre as coisas como uma espécie de névoa luminosa. - Isso é o Eça» Um Eça cujos adjetivos são comparados às camisas de Nelson Mandela...

O problema é que para além das relações intertextuais, é necessário conhecer um pouco mais da nomenclatura angolana e sobretudo da luta pelo poder em 1977.

Quando se quer o poder e não se tem passado, há que inventá-lo. Esse é o trabalho, bem lucrativo, do genealogista Ventura Félix... Perplexidades de um leitor desastrado, a quem insistem em dizer que o livro é agradável... não fosse a osga (o narrador) ... lagarto, lagarto!

 

30.3.18

O significado da Páscoa

Tempos houve em que Páscoa significava rancho melhorado... Entretanto, o rancho melhorou...

E hoje, o que é que a Páscoa significa?

Pausa, festim, correria, endividamento, greves, alarmismo, violência, morte...

E o vento sopra gélido escorraçando a chuva...

Apesar de tudo, tempos houve em que na Páscoa se celebrava a ressurreição de Cristo, só que, em 2018, este dia é de mentiras...

 

29.3.18

É possível fotografar o tempo

Vou indo, devagar... não estou a replicar.

Nem já estou a ir. Fui, devagar... a pensar que podemos fotografar o lugar, mas não o tempo... até que, ao fixar-me na cor das flores e na luz da hora, me apercebo que é possível fotografar o tempo, não em absoluto, mas o tempo da florescência e do graffiti - diversos no acontecer...

Tão diversos que, no regresso, me surpreendi com a rapariga que passeava o cigarro, deixando a cadela correr sem trela e, sobretudo, com o idoso que respigava, apressado, os caixotes de lixo sem proveito visível...

 

28.3.18

De regresso...

Colocar os pés no passado, não.
Ninguém quer ser conversado...
Tento, mas, felizmente, o olvido barra esse ímpeto.
Se me arrisco, não sou o que fui, um estranho irreal... com pressa de regressar ao presente.
Lá no passado, só há lugares vazios
cómodos de se lidar
sob a luz que nunca foi minha.
Por ora, estou de regresso...
ao presente.

 

27.3.18

Sem nada por dizer

Agora, não tenho nada a dizer. A simples hipótese de 'ter' já é temerosa, pois por mais que se tenha, nunca se sabe por quanto tempo... Se a 'ter' se acrescentar 'dizer', então, a audácia torna-se prosápia...

Raros são os que chegam ao limiar do dizer.

O quê? O que ainda não foi dito ou que, em última instância, já foi esquecido. Não fosse o esquecimento e há muito que o mutismo imperaria...

Na maior parte das situações, o 'dizer' nutre-se do esquecimento - sob a forma de amnésia ou de qualquer outra obliteração...

Agora, de nada serve elogiar o 'ser', pois ao não se saber por quanto tempo, ficamos reduzidos a uma existência inquieta... enquanto não partimos, em silêncio, espero - sem nada por dizer.

26.3.18

Nota social

En Chine, les personnes avec une faible "note sociale" ne pourront plus prendre l'avion ou le train. 

Com tanta gente excelente, não se compreende que nos possamos enganar nas contas. Este plural não é majestático, é apenas uma forma de dizer que não temos nada a ver com erros alheios, europeus seguramente...

A Caixa Geral de Depósitos emprestou uns milhares de milhões de euros. Por razões que só eles sabem, nunca mais lhes pôs a vista em cima, embora esses milhares de milhões circulem por aí e por além... Como consequência, para que o Banco, dito público, no sentido de prostituído, não fosse à falência, os contribuintes veem-se obrigados a pagar o desfalque - o Estado injeta e nós amargamos...

Agora vem o Centeno dizer que os quatro mil milhões não contam...

Começo a pensar que o melhor é criar uma "nota social", tal como fazem os chineses. Se tal acontecesse, já não seria necessário desperdiçar dinheiro na construção de um novo aeroporto...

 

25.3.18

Lembra-me o típico regateio

Hoje, terá sido domingo! Ventoso... Não sei se com se sem ramos...

O dia não foi muito diferente de outros - classificação de trabalhos de 'ultima hora'. Tomada de consciência de que, para além do plágio - forma antiga de mobilidade social - se tornou mais fácil produzir uma qualquer apreciação, exposição... Esquematicamente, basta produzir ou copiar uma ideia cuja expressão não ultrapasse 30 palavras... e depois uma longa citação plasmada no centro do documento...  e assim sucessivamente.

Confesso que, neste domingo, em certo momento, dei comigo a pensar que a noção de 'critério de avaliação' mudou muito nestes últimos 50 anos... Ainda recordo que o 'critério' era um segredo bem guardado pelo professor. Nesse tempo, a ansiedade só se desfazia quando a pauta era afixada, e a decisão era acatada com um sorriso ou, muitas vezes, com uma lágrima que era preciso esconder...

Hoje o critério é público, mas prostituído. Lembra o típico regateio com os feirantes... 

 

24.3.18

Dil Leyla

No São Jorge, tive oportunidade de ver o documentário Dil Leyla, como expressão de solidariedade com o quase ignorado, por estas bandas, povo curdo.

Dil Leyla, presidente da Câmara da cidade de Cizre, na Turquia, em zona próxima da Síria e do Iraque, retoma, em 2013, a luta do pai, assassinado nos anos 90..., acabando ela própria por ser presa alguns meses após os curdos terem conseguido eleger 80 deputados para o parlamento turco... (2015)

O que é claro é que, mais uma vez, a voz dos curdos foi silenciada... e continua a ser eliminada como está a acontecer em Afrin, na Síria, pela mão do Turco Erdogan...

 

Brinquemos à mão morta

MÃO MORTA, MÃO MORTA

(usando a mão de outra pessoa)
Mão morta, mão morta
Filhinhos à porta
Não tem que lhe dar
Dá-lhe com a tranca da porta
Mão morta, mão morta
Vai bater aquela porta 
(e bate na cara da pessoa com a sua própria mão)

Uma lengalenga aproveitada por José Saramago para desenhar a personagem Marcenda: «e olha fascinado a mão paralisada e cega que não sabe aonde ir se a não levarem (...) mãozinha duas vezes esquerda, por estar desse lado e ser canhota, inábil, inerte, mão morta mão morta que não irás bater àquela porta.» José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, ed. Porto editora, pág. 26.

Marcenda, apesar da mão morta, não precisava de bater às portas..., já Lídia, apesar de ter chave, acaba a bater à porta de Ricardo Reis...

 

23.3.18

Eu compreendo a decisão do parlamento

O parlamento rejeitou hoje projetos de resolução do PCP, CDS-PP e PEV para a criação de um regime de aposentação específico para a carreira dos professores e educadores de infância, sublinhando o desgaste físico e psicológico da profissão. 

Eu compreendo a decisão do parlamento. Se o desgaste físico e psíquico fosse real, há muito que os partidos teriam deixado de contar com os votos dos professores... 

Deixar que os professores pudessem beneficiar de um regime de aposentação específico poderia abrir a porta a jovens professores mais habilitados a lidar com os problemas provocados pela acelerada mudança imposta pelas novas ferramentas colocadas ao serviço da investigação e da produção de conhecimento, e, sobretudo, de partilha global da informação...

 

22.3.18

Esforço de última hora

Amanhã, termina o 2º período escolar.

E mais uma vez, um vasto grupo de alunos irá tentar apresentar, à última hora, trabalhos individuais e de grupo, apenas com um objetivo - subir a nota.

Pouco lhes importa que a apresentação seja feita perante os colegas ou não. O que interessa é que o professor aprecie o esforço de última hora...

Também pouco importa o conteúdo. Para o efeito, todas as fontes são boas!

Aliás, questionados sobre as fontes, em regra manifestam estranheza, pois não se questionam sobre a sua qualidade... E mais grave: a maioria não leu a obra em estudo...
As consequências, quem quiser que as tire... por mim tenho dito.

 

Alvoroço

Retomando uma antiga e infeliz narrativa, o velho senhor ameaça com a polícia caso não lhe seja, de imediato, prestada uma informação sobre a rua e porta do Campus de Justiça, diga-se, de uma repartição, in loco, a que não precisa de se deslocar e que, se o fizer, só servirá para armar confusão...

Qual prestador de serviços, pro bono, lá irei à dita repartição - Campus da Justiça, Edifício L, Av. D. João II, Lote 1,08,01 J /1990-097 Lisboa - registando, aqui, a morada para memória...

A lenda diz que o velho e altivo senhor, em tempos, terá aprendido a ler. A lenda só não diz o que fazer a um senhor, abolida a escravatura... É um pouco como explicar o que fazer a um escudeiro, extinto o cavaleiro...

 

21.3.18

Num labirinto de papel

Num labirinto de papel, oiço um ininteligível altifalante que por certo dá voz a algum poeta convidado.

Hoje é dia de festa - da poesia. O mesmo será dizer que o dia é de espanto. Inicial... e não de interesseira persuasão, com maior ou menor domesticação dos tropos...

Ainda não acordara, e já me interrogava se a festa de hoje teria alguma coisa a ver com a fiesta ou, até, com o minotauro.

E não sei se por associação se por contiguidade, lembrei-me que tempos houve em que o Tejo correra em sangue por causa de uma utopia que nenhum poeta conseguiu fixar, mesmo a vida perdendo...

 

20.3.18

A Primavera dos Poetas

Dizem-me que vem aí a Primavera. Talvez. Da minha janela, apenas uma linha carregada de nuvens hesitantes sobre os esquecidos pastos do Tejo...

Dizem-me que vêm aí os Poetas carregados de nuvens prontas a regar os rebanhos sequiosos de inesperado...

Apesar do que os campos me dizem, preferia ser eu a dizê-lo, mas falta o Poeta...

 

19.3.18

Patético

- Então, meu caro, não se deu ao trabalho de reformular o seu teste?
- Não. Vou anular a disciplina...
- Nem pense. O melhor é anular-se a si próprio!
(Tempos houve, em que por esta altura, os alunos decidiam anular a matrícula a certas disciplinas.)
A resposta do professor será censurável, mas o laxismo é tão grande...

 

18.3.18

Entendo. Já não precisamos de pensar!

Entendo. O inferno é dos outros. Aqui, no nosso céu, tudo corre bem. Chove, mas a chuva é precisa, embora, por vezes, se alargue um bocado por culpa alheia, humana...

Agora, está na moda aderir... O que é necessário é estar pronto. Para pensar? Não. Incomoda. 

É mais fácil sair do redil e gritar em uníssono. Afinadinhos, de preferência. Plutôt. (Podia escrever isto em francês, mas para quem?)

Anda no ar, um certo espírito corporativo. O coletivo move, impõe, não uma ideia mas uma palavra-de-ordem. Anda no ar um certo espírito de cruzada - desperta por aí uma alma coletiva, capaz de sacrificar a vida de cada um de nós.

Já não precisamos de pensar!

 

17.3.18

No Inferno

Lá para trás, fica a ideia bíblica do Inferno, sem esquecer o Hades, e também a de Dante, as diversas masmorras inquisitoriais, os campos de extermínio nazis e da ordem nova... da indochina e da sibéria...Outro tempo!

Mas neste tempo, em que matámos a memória, o Inferno reacendeu-se na velha europa humanitária de hipocrisia, de fingida humanidade...

(Judith Vanistendael deslocou-se de forma ilegal, no final de 2017, ao campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos, tendo desenhado, de memória, uma narrativa de dez páginas...

 

16.3.18

Não há pior carrasco...

Não há pior carrasco do que aquele que se prepara para ser carrasco de si próprio - come a sopa porque lha dão, não porque compreenda ou sinta que o seu corpo precisa dela... Ou não come a sopa porque decidiu que ela o pode enfraquecer...

'De que me serve debater uma obra com os meus pares, se eu, afinal, não a quero ler. Para quê lê-la se há por aí tantas outras, todas cansativas.'

'De si, meu carrasco, espero que leia por mim e que se limite a fornecer-me a chave necessária a franquear aquela porta, que dizem ser, do futuro de mesa farta...'

Esta é provavelmente uma forma menor de inteligência artificial... O problema é que uma forma superior de inteligência artificial poderá não ter paciência para aturar caturrices...

'Paciência' é a nossa forma dizer 'imaginação', isto é, a capacidade de ler fora da "caixa"...

 

15.3.18

É uma pessoa cobarde...

«É uma pessoa cobarde porque está a lutar pelas suas ideias.» Anónimo

Reviro: Quem luta pelas suas ideias é uma pessoa cobarde.

Extrapolo: Quem luta pelas ideias dos outros é uma pessoa corajosa.

Reviro: É uma pessoa corajosa porque está a lutar pelas ideias dos outros.

Imagino: Quem não luta por ideias não é pessoa.

Afirmo: Não é pessoa quem não luta pelas suas ou pelas ideias dos outros.

Anseio: Entre ser e não ser pessoa deve haver um qualquer intervalo que permita compreender a asserção do anónimo.

 

Findo: as pessoas cobardes e as pessoas corajosas vão ser multadas porque não limparam os terrenos até à data de hoje, mas se forem corajosas até 31 de maio, as coimas esfumar-se-ão...

 

14.3.18

O tempo de Stephen Hawking (1942-2018)

Embora se insista na necessidade de rever a matriz curricular, na reformulação da metodologia de aprendizagem, ainda não se descobriu uma verdadeira estratégia. Por exemplo, não vejo, no âmbito da leitura, qualquer recomendação no sentido de que Uma Breve História do Tempo possa ser um texto motivador e estruturante para as novas gerações...

Por isso, aqui, registo duas ideias para quem queira abordar a vida, livre de preconceitos:

 a) «Uma teoria é boa quando satisfaz dois requisitos: deve descrever com precisão um grande número de observações que estão na base do modelo, que pode contar um pequeno número de elementos arbitrários, e deve elaborar predições futuras definidas sobre os resultados de observações futuras.»

b) «Qualquer teoria é sempre provisória, no sentido de não passar de uma hipótese: nunca consegue provar-se.»

Com ele aprendi que todas as respostas são provisórias e passíveis de reformulação... mesmo as que se referem a Deus.

 

12.3.18

Um dia, ofereceram-lhe uma cadeira...

A polémica associada ao convite do ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas a Pedro Passos Coelho para que assuma funções como professor catedrático nesta instituição assumiu hoje novos contornos com o lançamento de uma nova petição, desta vez por parte de professores e investigadores universitários. 

O Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas comemorou um século de existência em 2006. A sua génese remonta ao terceiro quartel do século XIX quando, em 1878, na recém-criada Sociedade de Geografia de Lisboa, foi aprovado um designado Projecto de uma Escola de Disciplinas relativas à Terra e à Gente e às Línguas do Ultramar Português – Curso Colonial Português. Através do ensino e da investigação científica, o objectivo era o de responder à ameaça do avanço das potências europeias em África, materializado na Conferência de Berlim de 1884-85, criando um corpo especializado de administração pública de nível superior que ocupasse os territórios colonizados por Portugal.

Não compreendo a razão de tal indignação. O homem esteve à frente do Governo de Portugal entre 2011 e 2015, eleito e reeleito... Algum mérito teria... alguma coisa deve ter aprendido com os novos colonizadores... Alguns dos mecanismos de domesticação ainda ativos são da sua autoria... alguns dos que agora o contestam votaram nele, devem-lhe favores...em último caso, não foram obrigados a emigrar...

Certamente que não querem que o homem emigre ou se autoexile, indo ensinar lá fora como fomos capazes de transformar Portugal numa colónia chinesa... 

Um dia, ofereceram-lhe uma cadeira e agora querem que o homem se sente no chão ... querem que ande de cavalo para burro... afinal, a 'cátedra' mais não é do que a forma erudita de cadeira´...

 

11.3.18

O 11 de março de 1975

Desse dia, 11 de março de 1975, ficou-me sempre a sensação de que algo regredia...

No Liceu Passos Manuel, onde começara a lecionar em janeiro desse ano, a luta entre a UEC (União dos Estudantes Comunistas) e o MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado) ia acesa, impedindo o normal funcionamento das aulas - o conflito entre os estudantes destas duas organizações era claro. A palavra dos professores só era escutada se alinhada...

Uns eram perseguidos e outros seguidos, não pelo que ensinavam mas pelo que era suposto representarem ideologicamente... No entanto, ficou-me a ideia de que uns tantos professores se movimentavam bem no torvelinho...

A ação reivindicativa instalou-se nas salas de aula e nos conselhos de turma extraordinários, introduzindo um conceito de igualdade em que o número era impositivo e a cortesia aniquilada.

Convém, no entanto, esclarecer que a ideia de regressão era minha e inconfessável pois, no Liceu / Escola Secundária, reinava a mesma euforia que na Faculdade de Letras de Lisboa, em que, à época, se deitavam paredes abaixo e se acabava com a Filologia Românica, decompondo-a em Linguística e Literatura...

Apesar do ímpeto revolucionário conquistado em março e interrompido em novembro, ainda hoje tenho a sensação de que muito do "espírito camarada" persiste nas organizações e determina o rumo, mesmo daqueles que nasceram depois do 11 de março de 1975...

 

10.3.18

Uma pessoa normal ou um narcisista angustiado?

Segundo os investigadores, uma pessoa normal usa cerca de 16 mil palavras por dia, sendo que aproximadamente 1,400 são pronomes na primeira pessoa do singular, tais como "eu" ou "mim". Alguém que fala de si próprio em demasia eleva este número para quase 2 mil pronomes por dia. Narcisismo ou angústia?

 

Uma 'pessoa normal' utiliza 16 mil palavras por dia? Tantas? 

Este critério parece-me extremamente exigente... Resta saber se o estudo eliminou as palavras repetidas. É que se tal acontecer, então o número de 'pessoas normais' diminuirá drasticamente.... O que me deixa angustiado, pois, de verdade, não sei se sou uma pessoa normal - ignoro quantas palavras utilizo por dia, oralmente, por escrito e por emitir... Há coisas que nos recusamos a dizer ou a escrever se formos 'normais', com evidente prejuízo....

Finalmente, neste post já utilizei três pronomes pessoais e omiti seis - basta contar as formas verbais de 1ª pessoa... o que faz de mim um narcisista angustiado... afinal, passo os dias a falar de mim, preocupado em esconder a minha anormalidade...

 

9.3.18

O Ano da Morte de Ricardo Reis

A peça agrada ao público jovem, sobretudo àquele que está com dificuldade em ler o romance de José Saramago. A adaptação é sóbria, à exceção da personagem de Fernando Pessoa e, sobretudo, caracteriza bem a situação política em Portugal e na Europa, no ano de 1936.

Em termos de espetáculo, e quanto à personagem sorumbática e discreta de Fernando Pessoa, compreende-se que esta tenha perdido esse pendor. O desenho deste Fernando Pessoa é, contudo, autorizado pela fina e, por vezes, sarcástica ironia do narrador...
No entanto, um leitor do romance "O Ano da Morte de Ricardo Reis" que esteja à procura de uma adaptação fiel a uma certa memória de Fernando Pessoa, pode sair do Cinearte zangado... e isso, hoje, aconteceu... E não fui eu!

 

8.3.18

Já só falta o garfo...

Há quem se espante, mas não sei porquê...

Quando se trata um assunto com ligeireza, uma vez, compreende-se, mas quando a superficialidade se torna regra, há que cortar o mal pela raiz...

Infelizmente, somos cada vez mais complacentes. Resignados, seguimos caminho... e ainda nos pedem um sorriso... um sorriso condicionado... Talvez amanhã o sorriso seja natural, sem ponto nem vírgula...

 

7.3.18

Um tal guardador de rebanhos!

À medida que as horas se esgotam, sinto que não faz sentido preocupar-me com o futuro, a não ser o dos jovens... Mas como?

Ensiná-los a ser Pessoa ou pessoas poderia ser o caminho. Se a alusão não vos escapa, pensareis, talvez, que Pessoa era uma pessoa, mas a verdade é que não é certo, pois a sua originalidade resulta dessa demarcação - da fuga à humanidade por causa da bestialidade das pessoas...

Pessoa inventou-se a si próprio, indiferente aos deuses, e só por acidente sebastianista - fraqueza de quem, ao desbaratar a inteligência, passou a necessitar de um pastor.

Um tal guardador de rebanhos!

E mesmo esse preferia os pensamentos às ovelhas... Embora ele diga que as olhava com um estremecimento, ele bem sentia que essa fraqueza dos sentidos era uma cedência imperdoável...

Ensiná-los a ser Pessoa, mas como, se querer ser Pessoa é abdicar de ser pessoa? Aprender com Pessoa? Sim, mas cientes de que aquele foi o caminho dele, só dele... e que é tempo de o deixar fazer as pazes com a avó Dionísia... 

 

6.3.18

Não há Citius que lhes resista!

Um país reduzido a um assessor jurídico - um jurista toupeira. Ao serviço de quem? Dizem-me que do Benfica. 

Em termos militares, as toupeiras caracterizam-se pela sua capacidade de infiltração nas linhas inimigas...

Desconfio que esta toupeira começou por se infiltrar no Benfica para servir as linhas inimigas...

Só que parece que o alvo estratégico de Paulo Gonçalves era o Portal Citius...

Uma vez lá dentro, entra-se no melhor dos mundos...

Dizem-me que a toupeira é um mamífero insectívoro comum no nosso país... 

 

5.3.18

Com tais exemplos...

Na China, está aberto o caminho da eternização do líder. Na Rússia, há muito que Putin descobrira como romper com a efemeridade. Nos Estados Unidos, Trump não quer ficar atrás... Na Alemanha, a senhora Merkel procura uma solução governativa definitiva. Em Itália, os italianos votam no caos...

Por cá, o poder é um trampolim para o enriquecimento a qualquer custo... Santana vai gerir uma Fundação que ele próprio acolheu na Santa Casa...

Finalmente, Passos Coelho vai ensinar, dando razão à tradição: - quem não sabe fazer, ensina! O problema é que, neste caso, nós vamos pagar-lhe um ordenado equivalente ao de um professor catedrático. Nem sequer se inscreveu na Sorbonne, como fez o colega Sócrates... talvez porque não tivesse um amigo magnânimo...

Não me interessa se necessitou de 10 anos para concluir uma licenciatura de 5 ou 3 anos, o que me preocupa é o mau exemplo. O que me preocupa é que, com tais exemplos, já não sei o que replicar àqueles alunos que se vangloriam de não lerem um único livro...

 

4.3.18

A gata

As persianas cerradas e já a gata perscruta o melro que chilreia alegremente no topo do poste de iluminação. Não diz nada mas espera que a rotina lhe abra o horizonte para que possa seguir o voo das aves ou com elas...

E se alguma se aproxima do parapeito do 12º andar, agita-se e corre num encalce ilusório pois a vidraça continua fechada...

E ainda bem porque esta gata não aprende, apesar da experiência, a antecipar as consequências do voo felino. 

A gata. Os gatos.

Só eu procuro não me agitar de cada vez que o sol irrompe, porém a antecipação de nada me serve.

 

3.3.18

Pobre Esopo!

A única coisa que entristece é a chuva quando saímos à rua porque, afinal, temos casa...

No resto, obedientes e contentes, de preferência com sol.

Nem os malfeitores nos atrapalham desde que possamos vestir a máscara risonha de ícones insanos...

Ontem, a certeza de que o futuro será sem defeito, pois coragem não falta para cortar ao acaso - a rã, ou será sapo?, vai fumando o cigarro do desprezo...

Pobre Esopo! Por onde anda a cor local?

Talvez, no canteiro da vizinha...

 

2.3.18

Triste sina!

«Mas é mesmo imperioso que se caminhe sustentadamente para se conseguir renovar a educação escolar. É o que está a acontecer por todo o mundo e é aquilo que os novos tempos e modos exigem de nós.» Joaquim Azevedo

Caminhar sustentadamente, só a quatro patas ou com o apoio de uma bengala... com direito a entrar nos centros comerciais e nos restaurantes, mas sem qualquer consideração pelo envelhecimento...

O que está a acontecer por todo o mundo em matéria de educação é um desastre. Basta pensar em quem governa a maioria dos países e das organizações - o melhor seria apontar as exceções e a lista seria curta...

E o que está a acontecer em matéria de ensino é o favorecimento da criação de elites, deixando à deriva milhões de jovens - deixá-los entretidos com um falso saber, inócuo e presunçoso; deixá-los à mercê de polvos editoriais que lhes servem panaceias coloridas...

O que os novos tempos exigem de nós é honestidade inteletual, embora pareça que anda o mundo trocado.

Ainda hoje comecei o dia a pensar se a vaidade seria uma virtude...

Creio que já um dia aqui referi que em tempos medievos houve quem considerasse a cobardia uma qualidade, sem esquecer o silêncio virtuoso... Triste sina! 

 

1.3.18

Nhympha ou Nympha do Mondego?

«Ricardo Reis levantou-se, foi ao lavatório refrescar a cara, pentear-se, pareceram-lhe hoje mais brancos os cabelos das fontes, deveria usar uma daquelas loções ou tinturas que restituem progressivamente os cabelos à cor natural, por exemplo, a Nhympha do Mondego...» José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis

Apesar da obra estar classificada como um romance, cada vez me convenço mais que, na verdade, José Saramago escreveu uma crónica, segundo o preceito de Fernão Lopes, isto é, foi pondo por ordem os dias e as horas com muito recurso à leitura dos jornais da época... o que nos permite fazer o caminho inverso, descobrindo a cada cavadela uma ou várias minhocas...

Neste caso, a Nympha do Mondego ganhou um /h/... Será gralha?

Na realidade, o meu problema é que já há cada menos interessados em cavar ... a não ser daqui para fora...

 

28.2.18

Inquérito nacional sobre condições de vida e trabalho na educação

O inquérito, da responsabilidade de uma equipa de cinco investigadores, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL), do Instituto Superior Técnico, e de duas universidades brasileiras... Inquérito aos docentes

Não sei se esta informação está correta, pois inicialmente pensei que a ideia seria da FENPROF... De qualquer modo, o inquérito chegou às minhas mãos através desta última estrutura...
Já respondi ao longo questionário, em formato impróprio para míopes e outras degenerescências oculares próprias da profissão e da idade.

Devolvido o questionário e tendo aceite as condições em que foi apresentado, não posso deixar de pensar que a idade já me deveria ter precavido para certo tipo de inquéritos, sobretudo quando nos solicitam a identidade e nº de BI ou de CC.

Em termos gerais, as perguntas são repetitivas, convidando a respostas óbvias, servindo apenas para legitimar hipóteses tomadas como certezas a priori.

(Todos sabemos como os cientistas sociais utilizam o inquérito para legitimar certos preconceitos, tornando-os em verdades inabaláveis ao serviço de interesses ocultos.)

Até aqui, apesar de tudo, nada de novo... a não ser quando as perguntas foram dirigidas ao modo como o CONSUMO DE ÁLCOOL, DE DROGAS E DE MEDICAMENTOS AFETA O TRABALHO E A VIDA PESSOAL de cada inquirido...

Da próxima vez, antes de começar a responder, prometo ler o inquérito e depois rasgá-lo.

 

27.2.18

A situação dos jovens em Portugal

'O ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, afirmou hoje que a situação dos jovens em Portugal melhorou em termos de emprego, educação e inclusão social.'

O ministro diz que a situação dos jovens está a melhorar... e eu concordo se ele explicar a que jovens é que se está a referir...

Infelizmente, o que eu observo é bem diferente: a inclusão social dos jovens, a existir, resulta da ação casuística de umas tantas associações e não de um plano nacional ou, então, do amiguismo e do clientelismo; o estado da educação é deplorável, com acentuado crescimento da iliteracia e da incivilidade; as taxas de empregabilidade são manipuladas, os jovens condenados à emigração, à delinquência e à depressão...

Há dias em que Vieira da Silva faria melhor em remeter-se ao silêncio ou em deixar o lugar a um desses jovens que, apesar de doutorados, não sabem como e onde aplicar os seus conhecimentos...

 

26.2.18

A engenharia bélica

Já não necessito de imagens nem de representações.

A engenharia bélica tornou-se tão irresponsável que já não há forma de lhe pôr termo. Sobretudo, porque quem a manuseia, a vê como um ato lúdico.

 

25.2.18

Dúvida sobre a limpeza dos terrenos

Até 15 de março, a limpeza dos terrenos é obrigatória para todos os terrenos ou, apenas, para os que estão próximos de localidades, vias públicas, cabos de alta tensão...?

Por mais que procure, não encontro qualquer resposta objetiva. 

Os governantes saem a terreiro, mas não clarificam... ameaçam, provavelmente sem perceberem que se limparmos os terrenos em março, em maio será necessário repetir a operação.

Anunciam-se, assim, três grandes negócios: o das coimas, o das limpezas e o da justiça. Para os consolidar, nada melhor do que a ambiguidade...

 

24.2.18

Que ponte?

Será que interessa saber qual é a ponte?

A ponte de cada um tanto pode ser física como imaginária. O que interessa é que qualquer uma delas nos pode fazer sair de nós próprios nem que seja para observar as aves ou ver florir os arbustos. O que interessa é que a água não falte...

Para quê uma ponte sem rio?

É só atravessar a ponte...

É só atravessar a ponte, no meu caso, e depois de sair da autoestrada, virar à esquerda e seguir por uns tantos quilómetros - quantos não interessa! O que interessa é o que somos capazes de ver, mesmo que o sol baixo nos torne a visão baça...

E quando olhamos só ouvimos o carpir dos automóveis e o esvoaçar das aves, agastadas porque as fomos incomodar...

A sorte das aves é que os forasteiros são poucos!

A minha sorte é que as aves, ainda, são muitas! 

 

23.2.18

O aforismo

O aforismo é sinónimo de refrão, provérbio, axioma, máxima, adágio... É um dito expresso em tom de sentença...

Como tal, o aforismo deve ser abordado como hipotexto no âmbito da intertextualidade.

Numa certa tradição, o aforismo é, no entanto, elitista, com explicitação da autoria, demarcando-se da cultura popular, considerada ingénua e falha de evidência científica...

Há todavia autores, como José Saramago, mestres no recurso à intertextualidade (nos registos de hipertexto e de hipotexto) que sabem valorizar a cultura popular. Leia-se O Ano da Morte de Ricardo Reis, a título de exemplo: 

Costuma dizer-se que o sol é de pouca dura...

Quando uma ideia puxou outra, dizemos que houve associação delas...

Sobre a nudez forte da verdade o manto diáfano da fantasia (...) sobre a nudez forte da fantasia o manto diáfano da verdade ... se as sentenças viradas do avesso passarem a ser leis, que mundo faremos com elas....

Quem viver verá...

- Estás com pressa, viesses mais cedo...

Dá-nos o ofício o pão, é verdade, porém não virá daí a fama...

Que serás quando fores de noite e ao fim da estrada (?)

Por estas e por outras é que quem não tem Deus procura deuses, quem deuses abandonou a Deus inventa...

- Todos tivemos pai e mãe, mas somos filhos do acaso e da necessidade...

E por aqui me fico...

 

22.2.18

Veto silencioso?

Imaginação verbal não nos falta!

Social-democrata escolhido por Rui Rio para liderar a bancada parlamentar ficou pelos 39% dos votos dos colegas de bancada. Número de brancos e nulos revelam falta de união em torno do novo presidente do partido.

Inteligentes, estes deputados! O melhor é começarem à procura de emprego, pois na próxima legislatura ninguém se lembrará deles...

E se tal acontecer, isso será bom sinal, pois mostrará que do passado passista não reza a História.

 

21.2.18

Nem uma pequena nota

Não sei porquê, mas há pessoas que raramente são notícia... Outras há que se expõem diariamente sem que nada o justifique...

Dir-se-á que a notícia é caprichosa, mas a verdade é que ela obedece a interesses económicos e a valores inconfessados...

Talvez seja por isso que me sinto traído ao não ter notícia do que é feito de certas pessoas que aprendi a respeitar.

Quero acreditar que elas decidiram regressar ao anonimato para não serem enlameadas pela suprema vaidade das horas...

Só que fica um vazio. Nem uma pequena nota a contar se, afinal, tudo estava previsto...

Sem esquecer que pode haver outra explicação. Por exemplo, é muito inconveniente que as minhas horas sejam geridas pelo capricho de quem não percebe que as minhas horas não são minhas, mas que também não são deles...

 

20.2.18

António Guterres diz-nos o que queremos ouvir

O que fundamentalmente hoje interessa nas universidades e no sistema educativo não é tanto o tipo de coisas que aí se aprende, mas a possibilidade de aí se aprender a aprender”. 

A ideia é antiga e sedutora. De tão repetida, já perdeu a força ilocutória inicial.

No tempo em que foi defendida, ainda não dispúnhamos da maioria das ferramentas ao nosso alcance, só que o seu aproveitamento é mínimo a não ser por aqueles que procuram apropriar-se da riqueza e do poder.

Por outro lado, desvalorizar impensadamente certas aprendizagens que requerem a mobilização da memória individual e coletiva é uma das causas do insucesso da estratégia "aprender a aprender"... 

Não basta ser catavento para que o caminho se ilumine... O nosso sistema educativo nunca foi capaz responder aos problemas que deveria ajudar a resolver... é uma instituição obsoleta tal como outras que se dizem pilares da sociedade...

 

18.2.18

A notícia súbita

Elogio de Maria Teresa Belo

já passaram uns anos...
em certos dias, a memória
do trabalho
da tranquilidade
da disponibilidade
da bondade...
e agora, a notícia súbita
e contigo, a memória

Tenho de falar à Teresa... de Alexandra Lucas Coelho 

O ato censório do BC

Em tempo de pronunciamentos políticos e desportivos, as proposições devem ser claras e as preposições unívocas ou, no mínimo, não devem conflituar com os verbos de que dependem... (alusão desnecessária, mas a que não resisto...)

Este fim de semana tem sido de tal modo fértil em juras, proibições e anátemas que, de entre elas, destaco, o ato censório do BC, de quem não me atrevo a pronunciar o nome, e que, no meu mesquinho entendimento, deve sofrer de maligni Spiritus manifestationes...

Face à situação, creio que uma das profissões do futuro será a de exorcista...

O que não falta são BCs e respetivos fâmulos!

 

17.2.18

Preposições ambíguas

Albuquerque: “Não tenho problemas em divergir com Alberto João Jardim” Desvio regional

Chama-se preposição à palavra invariável, pertencente a uma classe fechada, que permite estabelecer relações de sentido entre duas partes ou elementos de uma proposição. 

Quando os lemos (ouvimos) nem por um minuto desconfiamos que Miguel Albuquerque e Alberto João Jardim possam divergir...

Unidos, divergem. Só não se sabe de quem! 

No espaço lusófono, há muito que assistimos à redução do número de preposições e à consequente utilização intensiva de umas tantas...

De qualquer modo, nem tudo é negativo, pois as preposições já revelam o estado mental dos atores políticos...

Para quem aprecie a análise política, proponho que comece pelas preposições...

 

15.2.18

Paroles... paroles...

A 1 de janeiro, o ano descolou com muitas promessas, a começar pelas do Governo.

Os dias passam... e nada.

Dizem-me que as promessas seriam prontamente cumpridas, não fossem dois obstáculos: o recenseamento profissional e o software.

Não encontro explicação, pois não creio que os deuses do Olimpo tenham alguma coisa a ver com o surgimento destes novos adamastores... mostrengos. 

No entanto, desconfio de que quem fez as promessas já tinha encomendado um novo software e um novo recenseamento...

E o incumprimento não deve ser por falta de dinheiro, tanta é a propaganda.

 

14.2.18

Pedir por objetivos

Há uma semana, um automobilista imobilizou o veículo e pediu a um peão que contribuísse para a reparação do seu automóvel...

Um pedinte matinal cumpre o seu ofício, só que hoje pediu três euros, nem mais nem menos um cêntimo...

Faz hoje oito dias, também me pediram que deixasse de atribuir classificações inferiores a 8 valores, mesmo se o pedinte se tivesse ausentado...

E já me esquecia do ministro (das finanças) que pediu bilhetes para um jogo de futebol... e de toda a gentinha que passa a vida na pedincha para os outros (e para si) ...

Há, também, quem o faça em nome de deus, da mãezinha, dos filhos... Por vezes, também me apetece pedir que não me aborreçam...

 

13.2.18

O Carnaval português em 1936

«É o carnaval português. Passa um homem de sobretudo, transporta, sem dar por isso, um cartaz fixado nas costas, um rabo-leva pendurado por um alfinete curvo, Vende-se este animal, até agora ninguém quis saber o preço, mesmo havendo quem diga, ao passar-lhe à frente, Tal é a besta que não sente a carga, o homem ri-se dos divertimentos que vai encontrando, riem-se os outros dele, enfim desconfiou, levou a mão atrás, arrancou o papel, rasgou-o furioso, todos os anos é assim, fazem-nos estas partidas e de cada vez comportamo-nos como se fosse a primeira. Ricardo Reis vai descansado, sabe que é difícil fixar um alfinete numa gabardina, mas as ameaças surgem de todos os lados, agora desceu velozmente de um primeiro andar um basculho preso por uma guita, atirou-lhe o chapéu ao chão, lá em cima riem esganiçadas as duas meninas da casa. No carnaval nada parece mal, clamam elas em coro, e a evidência do axioma é tão esmagadora e convincente que Ricardo Reis se limita a apanhar do chão o chapéu sujo de lama, segue calado o seu caminho, já reviu e reconheceu o carnaval de Lisboa, são horas de voltar ao hotel. Felizmente há as crianças.»

José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Porto editora, reimpressão de 2017

 

Desta vez, não volto a explicar a origem do Carnaval - basta pesquisar que Caruma responde enfadonhamente. Proponho apenas que leiam as páginas de Saramago - da 181 à 188.

 

12.2.18

Copistas

Desde o Antigo Egito, o copista (o amanuense) foi de grande utilidade ao Senhor, ao Império, à Igreja, ao Estado e, em particular, à Justiça.

Grande parte da Memória foi preservada pelos copistas...

Infelizmente, conheço uns tantos copistas, a quem um amigo insiste em explicar o que é um plágio sem que eles interiorizem o significado de tal termo que, quando lhes é solicitada a resolução de um questionário da disciplina de Português, logo se propõem entregar o resultado do cavo labor para que o professor o classifique.

Pacientemente, o mestre inicia a leitura do referido trabalho, à espera de contribuir para a educação do jovem, só que acaba por deparar-se com duas situações, qual delas a mais abusiva: a) por exemplo, em 6 respostas, cinco foram copiadas umas pelas outras; b) e, por outro lado, não passam de cópia ou de decalque das "respostas" propostas no manual do docente...

    ... e esta é uma situação cuja responsabilidade deve ser atribuída às editoras, ou será que os atuais professores deixaram de ser capazes de elaborar perguntas e avaliar as respetivas respostas?

De qualquer modo, o que mais me choca é, afinal, a ideia corrente de que mesmo um mau copista não deve ser submetido a qualquer exame, nem deve ser negativamente avaliado e, sobretudo, não pode ser censurado.

 

10.2.18

Por dá cá aquela palha...

Diz Camilo Castelo Branco a Silva Pinto que «aqui terá passado dois anos de infância, os menos desgraçados» e logo alguém conclui que foi lá que ele passou os melhores anos da sua vida... (Casa da Samardã)

Curiosa interpretação!

Não sei porquê, e sem querer igualar Camilo no infortúnio, estou sem saber onde é que vivi os melhores anos, embora suspeite que terá sido no tempo da irresponsabilidade, apesar de, desde cedo, me terem sido pedidas satisfações por dá cá aquela palha...

E até hoje pouco mudou. Parece que continuo a ter de prestar contas até ao dia do juízo final...

Também eu entrei em múltiplas casas (sorte a minha!), mas estou incapaz de apontar uma que se diferencie, apesar de por fora poderem indiciar maior ou menor felicidade.

 

 

9.2.18

A memória

A memória devia ser uma espécie de cabelo
Que a gente cortasse quando quisesse...
  Carlos Queiroz

O problema é que à medida que o cabelo vai caindo já não o queremos cortar, embora haja quem prefira rapá-lo por inteiro - será para esquecer?

Mas o que irrita são aqueles que, apesar do crescimento contínuo do cabelo, revelam não ter qualquer memória nem que isso os incomode...

O que interessa é a meta, o resto é conversa! E de nada serve desfiá-la...

 

7.2.18

Novas vítimas

Por este andar vai ser necessário criar um termo para os

que são bombardeados 

que são torturados

que são escravizados

que são expulsos do lugar onde nasceram

que nunca foram à escola,

que vivem no desemprego

que morrem à fome

que simplesmente são escorraçados...

e vivem no silêncio até que...

Todos os dias surgem novas vítimas

cruzados de uma nova guerra em que basta a magia da palavra

e logo desaparecem

os refugiados

os torturados

os escravizados

os alienados

os famintos

os silenciados

6.2.18

Uma prova de insanidade mental

Quando soou a campainha
Que pôs termo ao recreio,
Só um dos cem meninos
Que brincavam no pátio,
Intuiu - através 
De súbito lampejo -
Que a nossa vida é um equívoco
Insanável.
Poema 20, Carlos Queiroz

Ao ler sempre as mesmas respostas a perguntas impossíveis, ao tentar ver um ponto final no lugar da vírgula e até mesmo do ponto e vírgula, ao imaginar, à entrada, um parágrafo e a cair do parapeito sem qualquer aviso, relembro o atraso por falta de campainha e, sobretudo, interrogo-me por que motivo o José-Augusto França se me tornou tema e logo com a revista "Bandarra" (1934-36) de António Ferro, o da Filosofia do Espírito, roubada ao Valéry... ou seria ao Quinto Império do profeta Pessoa?

(Não interessa! Afinal, os blogues já são matéria defunta. Tornou-se impossível apresentá-los como exemplo do registo diarístico. Ao que me disseram, o twitter ocupa esse lugar.) 

De qualquer modo, anoto que, sob a resma de testes, tenho há dias, sem o vislumbrar (cuidado com a catáfora!) um artigo E. M. de Melo e Castro, intitulado, "Carlos Queiroz - releitura e homenagem, publicado no nº 26 do Letras & Letras, de fevereiro de 1990... Fevereiro de 1990, anote-se...

Relembro que, por tradicional bisbilhotice, me vira recentemente obrigado a falar dos desamores de Ofélia Queiroz, sem fazer qualquer alusão a Carlos Queiroz, o poeta existencialista, «tão distante da superficialidade da poesia da Presença" (...) tão distante da poesia Neorrealista»,

        o que, de todo, me aborrece... deixar de fora Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, José Rodrigues Miguéis, Ferreira de Castro, é, para mim, uma prova de insanidade mental, já sem falar no Mário Sá-Carneiro, no Almada...

Aceito, entretanto, que seja eu o insano...

 

5.2.18

Na hora em que seguiu

Nunca aqui mencionei o seu nome... e também não será hoje... No entanto, várias foram as vezes que aqui escrevi sobre as dificuldades por que passava, em termos de exercício da profissão...

A alusão, na hora em que seguiu, como diria Bernardo Soares, mais não é do que o reconhecimento de que, quando a idade avança e a saúde falha, se pode ser incompreendido...

Não raras as vezes me vi obrigado a explicar a certos jovens voluntaristas que os comportamentos humanos não são gratuitos - para eles há sempre uma explicação - e que a sua primeira missão é procurar-lhes a causa em vez da varredela fácil...

Para além da sacrossanta matéria existe o Outro... e que se não soubermos acompanhá-lo nas suas dificuldades, nos seus excessos, então nunca perceberemos quem somos...

 

4.2.18

O que me preocupa

Dentro de dois meses, a cidade do Cabo (4 milhões de habitantes) pode ficar sem água devido à seca ... De acordo com os responsáveis, vai ser necessário colocar o exército na rua para combater os motins...

Aqui, em Lisboa, o IPO vê dificultada a contratação de pessoal de enfermagem e médico, mas gasta meio milhão de euros num medicamento para um só doente durante um ano. O mesmo ministério, que impede a contratação, manda pagar às farmacêuticas... aliás paga 50 milhões por 90 novos medicamentos, que, no dizer do diretor do IPO, asseguram «dois meses de aumento de esperança de vida.» (Entrevista de Francisco Ramos ao DN /TSF)

Em simultâneo, o Tejo definha, a vida ribeirinha morre... as crianças já não procuram saber o significado das palavras, e o ranking vai alimentando vaidades, mesmo que a vergonha nos salte aos olhos.

3.2.18

Fico a olhá-la...

Uma flor desabrocha no canteiro. E isso basta! A luz baça não a ameaça. E eu também não... fico a olhá-la, sem qualquer intenção...

De súbito, uma velhinha, outrora ilustre, avança alquebrada, dois pesados sacos de compras dependurados dos frágeis braços. Parece que vai soçobrar, mas não: avança, sem conseguir levantar a cabeça, mas segura de que vai chegar a casa... e, talvez, ainda a pensar nas próximas eleições autárquicas.

Quem sabe? O sonho de ser Presidente da Câmara acompanha-a de há muito... E eu fico a olhá-la, sem qualquer ação.

PS. Pelo que acabo de apurar, a velha senhora já tem 82 anos. Maria Geni Veloso das Neves.

 

2.2.18

Ainda a chama

"Mas a chama, que a vida em nós criou,

Se ainda há vida ainda não é finda.

O frio morto em cinzas ocultou:

A mão do vento pode erguê-la ainda."

 Fernando Pessoa, O Desejado (excerto)

ainda a chama, mesmo que o frio a sufoque...
e o vento que tudo espalha, num gesto de fervor...
nos acorde do torpor... das notícias

sempre as mesmas
cinzas nossas
de todas as eras
onde até o desejo fenece...

 

1.2.18

Encrencado

Interrompo a tarefa como medida profilática - preventiva. Hesito entre a variante europeia e a brasileira. Sim, porque o OA de 1990 permite-me escrever "profilático" com e sem /c/...; só que a opção exige que assuma uma variante e que me liberte da norma-padrão, sebastianista...

A tarefa é de rotina, mas exasperante, porque os jovens insistem em não responder às perguntas, um pouco como os croissants da Padaria Portuguesa que se estão borrifando para as expectativas dos clientes...

Só que a notícia sobre a dívida pública de 2017 - 242,6 mil milhões - gera ainda maior desânimo, pois abre a janela para uma outra: Em 2019, não haverá aumentos para a Função Pública...

O que, afinal, se compreende, pois, por mais que se insista, as famigeradas "reformas estruturais" continuam por fazer... a começar por, cedo, aprendermos a não responder às perguntas...

 

31.1.18

Por um toque de inveja

« Le double est devenu une image d'épouvante dela même façon que les dieux deviennent des démons après que leur religion s'est écroulé. » (Heine, Les dieux en exil)

Confesso que ler Freud me diverte, sobretudo desde que me apercebi que o psicanalista era um grande leitor e percebia imenso de literatura.

Ao ler o ensaio L'inquiétante étrangeté, dei com algo em que nunca pensara: afinal, os demónios não passam de deuses caídos em desgraça. Por outras palavras, abandonados pelos seus crentes...

(Creio que já mo tinham explicado, mas eu não percebera, nem sei se a interpretação seria a mesma.)

A verdade é que, para mim, o Bem era a outra face do Mal; ou seria ao contrário? Os deuses e os demónios, indissociáveis, senhoreavam o universo numa competição sem limites, em que nós nos arrogávamos o direito de os imitar, convictos de que um dia lhes ocuparíamos o lugar...

No essencial, os deuses de ontem, venerados e bajulados, transformaram-se por um toque de inveja humana nos demónios que nos entram pelos olhos e pelos ouvidos e que nenhum exorcista conseguirá extinguir... 

 

30.1.18

Sine lege

O sistema está blindado.

De modo a estancar o alarme, o peixe-miúdo fica detido; o graúdo, a estas horas, já deve ter zarpado... E se não o fizer, é porque a malha não foi feita para ele.

Não sei se consigo abarcar a extensão da corrupção; fica-me, no entanto, a ideia de que este polvo é intratável. E depois o que impressiona é o aparato. Sem ele o que seria de nós?

 

28.1.18

O mito, figura de esperança

Apesar de ser domingo, vejo-me confrontado com sucessivos disparates. Por exemplo, alguém me diz que D. Sebastião é, para Fernando Pessoa, um mito reabilitado...

O que tenho procurado explicar é simples, creio: Fernando Pessoa, dando sequência ao trabalho doutrinário de uma série de ilustres sebastianistas, transforma, em MENSAGEM, a figura histórica que mais contribuiu para a ruína da Pátria, num mito, isto é, numa figura de esperança, tal como fez com muitas outras personagens históricas, essas, sim, bem mais positivas...

No essencial, o que interessa entender é que todo o mito é uma figura de esperança. Ou será que, no género épico, os mitos são tratados de modo diferente?

Bem sei que há por aí quem afirme que a dívida portuguesa é mítica. Só que não estamos a falar do mesmo. Pelo menos, no que me diz respeito, não sou sebastianista, pois não acredito que algum dos atuais heróis venha a ser mitificado... 

 

26.1.18

a palavra vazia

a palavra solta
cai sem amparo...

a palavra presa
murmura no silêncio

sem amparo
a palavra ainda escorre

arrependida a palavra
definha no silêncio

vazia a palavra...

 

25.1.18

No campo dos mártires

O restaurante-esplanada foi substituído por uma barraca rolante, a céu aberto.
Para compensar, a Câmara Municipal de Lisboa homenageia os mártires da Pátria de 18 de outubro de 1817.

Oportuno, o Ministério da Educação retirou do Programa de Português a peça de Sttau Monteiro "Felizmente Há Luar!" Restam os galos, um santo popular, meia dúzia de batoteiros e uns tantos vagabundos... com ar de mártires de vícios endógenos e gloriosos...

Creio, todavia, que hoje é dia de celebrar maio de 68. Pelo que ouvi, na Gulbenkian, a elite encontra-se numa festa de ideias, subordinada ao tema: A IMAGINAÇÃO AO PODER!

Por mim, não sei se os galos têm imaginação, mas sei que cantam! E com entusiasmo...

Da minha distante meditação, nada festivaleira, ressalta apenas que, por ação pouco espirituosa, perguntei a um jovem interlocutor o que é que ele pensava da ideia de que a vida de cada um se pode resumir na epígrafe: CONHECER O PASSADO, IMAGINAR O FUTURO, VIVER O PRESENTE... Singelo, o jovem deu a entender que prefere viver o presente, seja isso o que for...

 

23.1.18

O que me nauseia

Não é que a situação não me incomode mas, ao tornar-se rotina, finjo-lhe a novidade, suspendendo a palavra como se tal fosse suficiente para lhe pôr cobro...

O que, deveras, me nauseia é a ideia de que estas pessoas, apesar de serem outras, são as mesmas que há anos tolero, ciosas dos seus direitos, mas sem o menor sentido de responsabilidade...

O que, deveras, me nauseia é a ideia de que esse fingimento deixou de ser um ato de defesa para se tornar numa falha de carácter...

 

22.1.18

O tic-tac

O tic-tac continua indiferente à presença ou à ausência... É sempre o mesmo balanço! Não lhe pesam as pernas, nem o afligem as articulações. Passa adiante, sem querer saber se a chama continua mortiça ou se algum fulgor se eleva na hora do fim do dia... Nem quando a luz se apaga e a noite se inteiriça, o tic-tac deixa a cadência que, afinal, me preenche a alma ou a vontade que tenho de ter alma...

A alma do mito! Muito para além da história... só que fosse uma pétala que agitasse o jardim... ou este tic-tac que me possui...

 

20.1.18

O relógio

Não lhe toco. Passo dias sem o olhar...

Só quando me alheio do ruído, lhe oiço o balanço... e sei que ele não se preocupa que eu tenha deixado de reparar nas horas, como se só estivesse interessado em fazer-me companhia...

Sem deixar de o ouvir, verifico, de momento, que ele pouco se atrasa, mesmo sem ter que ir a qualquer lugar...

Nisso da pontualidade somos parecidos, só que, ao contrário de mim, ele parece não se incomodar.

Como eu gostava de ser ele!

 

19.1.18

O Último Profeta

«Se a imaginação e o mistério não estão connosco, não vale a pena escrever.» Maria Ondina Braga entrevistada por Mário Santos, Público, 9.12.1995

Foi certamente essa certeza que alimentou Fernando Pessoa ao escrever MENSAGEM!

Perante o desconchavo a que Portugal chegara, na ausência de feitos que pudesse imortalizar, Pessoa optou por imaginar um futuro que, de algum modo, fosse capaz de despertar os portugueses coevos da modorra em que jaziam.

Esqueceu a História e atirou-se ao Mito e, pelo caminho, assumiu o papel de último profeta do Quinto Império, procurando devolver a esperança e a vontade necessárias ao Sonho, sem o qual o Senhor acabaria por esquecer o povo eleito que unira o Mar, mas que não soubera preservar o Império... 

O último profeta (Screvo meu livro à beira-mágoa), mais do que a voz do Senhor, surge como seu interpelante, procurando, assim, que o último fôlego da Humanidade seja obra de Portugal - o verdadeiro herói de MENSAGEM.

 

18.1.18

Por estes dias

Saciada a fome, não resta nada. Nem a mortalha escapa à voragem.

Por estes dias, o mandarim repousa à espera de que a Natureza o reintegre no jardim dos pássaros...

A tristeza que fica é a certeza de que nem a mortalha escapa à voragem...

 

17.1.18

Cabras sapadoras!?

O Governo vai avançar este ano com projetos-piloto de "cabras sapadoras" com rebanhos dedicados à gestão de combustível florestal na rede primária, anunciou esta quarta-feira o secretário de Estado das Florestas, destacando o reforço na prevenção de incêndios.
sapador - soldado de engenharia preparado para o assalto a fortificações.

sapa - pá para levantar a terra cavada.

sapar - executar trabalhos de sapa; minar.

Posso estar enganado, mas o senhor Miguel Freitas não deve perceber nada de cabras. Consta que, caprichosas, as cabras se estão nas tintas para tudo o que não seja ruminar de estômago bem repleto... e eu só estou a falar das cabras, porque quanto aos bodes, esses há que poupá-los para que a espécie não se extinga.

Por outro lado, na velha tradição bucólica, o senhor secretário de estado bem poderia pensar em projetos-piloto alternativos de toupeiras, patos, porcos, vacas e até girafas se a União Europeia ainda autorizar a sua importação...

De qualquer modo, com tanta gente desempregada, o melhor é ordenar às cabras que retoucem, de acordo com o significado ainda em voga no interior do país, pois lá para o litoral algarvio há muito que o verbo deixou de ser transitivo...

 

15.1.18

Uma relação mal resolvida ou mal traduzida...

Com tanto estrangeiro embasbacado a fotografar a fachada, não resisti... até porque, de livro na mão, enregelava, à espera diante do nº 104...

Acabara de entrar no ensaio "L’inquiétante étrangeté", de Freud e, tal como este, procurava uma tradução adequada, mas nenhuma me agradava, apesar da estranheza inquietante (angustiante) me parecer uma hipótese razoável...

Por seu turno, Freud ia gastando páginas atrás de páginas com o resultado das suas pesquisas sobre o significante nas diversas línguas europeias correspondente a unheimlich, e parece que não encontrou, dando corpo à ideia de que as línguas guardam em si identidades (e mistérios) intraduzíveis!!!

Esta viagem linguística, a certa altura, revela-se deliciosa, quanto à tradução de unheimlich: «o italiano e o português parecem contentar-se com palavras classificáveis como perífrases. No árabe e no hebreuunheimlich coincide com o demoníaco, o que provoca arrepios...» A tradução é minha e não é muito fiável, pois ainda faço fé no Luandino Vieira que não me contratou em 73/74 para as Edições 70, embora nunca me tenha explicado porquê...  

Daqui, talvez, se possa extrair que, para os portugueses, não há nada de verdadeiramente assustador e, muito menos, demoníaco... nem sequer a degradação das fachadas...

Em termos freudianos, resta saber quando é que esta familiaridade com a degradação terá tido início. Espero que não tenha sido uma relação mal resolvida entre D. Afonso Henriques e Dona Tareja, sua mãe, cujos vítimas terão sido os mouros despejados das amuradas...

 

14.1.18

Aliviado

Frequentemente, opto pelo silêncio. 

Hoje, no entanto, quero expressar o alívio que senti ao ouvir a confirmação de que Santana Lopes perdera as eleições...

O vedetismo do personagem não prometia nada de bom para o País.

De Rui Rio, espero que seja honesto e responsável - o que, afinal, espero de todos aqueles que abraçam a ação política... mas que não abusem dos abraços e da lamechice. 

 

12.1.18

Lembro-me de quase nada

A esta hora, ainda não saí da escola. Ocupo o tempo a eliminar ficheiros, designadamente de fotos sem valor... até que me surge a foto do lugar onde comecei a ler, a escrever e a contar... Observo-a mais uma vez e verifico que não me lembro do poço (da cisterna). Será que já lá se encontraria?

Lembro-me de quase nada ou, melhor, recrio o jogo do pião e a vontade de ter um pião que me custou uns tabefes valentes e a consequente devolução... a humilhação fatal que bem poderia antecipar o oráculo que me terá condenado definitivamente a este magistério. 

Lembro o austero professor, sem qualquer memória do perfil, apenas o gesto de chamar o aluno e de o castigar sem apelo nem agravo... e depois o regente porqueiro... e a jovem Mécia, urbana, em terra labrega que, pacientemente, me soube encaminhar para esta sala vazia, cercado de computadores   passivos e inúteis...

E claro, por perto, as azinheiras e as oliveiras de sempre... Sem esquecer as figueiras e as vinhas.

 

10.1.18

Por uma questão de comodismo

Na opinião de John D. Sutter, especialista em aquecimento global, estamos a menos de duas décadas de distância da próxima extinção em massa no planeta Terra e a primeira causada pelos seres humanos. Sem futuro

Faltam 20 anos para o fim da Terra! E eu que pensava morrer sozinho, vejo-me obrigado a morrer em companhia...

Por este andar, nada do que fazemos tem qualquer sentido. 

Por uma questão de comodismo, vou esperar que o senhor Sutter não passe de um novo Nostradamus, porque se estivesse à espera de uma alteração do comportamento humano mais valia antecipar a viagem...

 

9.1.18

Não gosto

"Ele, o homem. Ele, o testemunho, continuam vivos." Marcelo Rebelo de Sousa, RTP Notícias (Mário Soares)

Compreendo a intenção, mas não gosto da afirmação. 

Em primeiro lugar, porque devemos respeitar os mortos.

Em segundo lugar, porque a missão dos políticos é ocuparem-se dos vivos.

Finalmente, porque a valorização do passado só serve para diminuir o presente.  Até porque o argumento do exemplo nem sempre é conveniente...

 

 

 

 

8.1.18

O mundo interior

Hoje, a escrever, só se fosse sobre o mundo interior. O exterior de tão aborrecido enjoa-me, deixa-me incapaz de me aproximar da janela que permite avaliar se a ilha se vai extinguindo ou não...

Não é que a ilha me interesse excessivamente, porém sei que ela se projeta no meu horizonte, tal como imagino que, sem mundo interior, não sou senão um boneco ao lado de uma infinitude de outros bonecos, todos iguais...

Se imagino que tenho mundo interior é porque ainda sou do tempo do exame de consciência, posteriormente substituído pela autoanálise e ... pela autocrítica, embora esta já exigisse um palco em que os bonecos eram manipulados pelo bonecreiro...

Como se vê, do mundo interior nada digo, pois a esta hora, a paisagem escureceu, deixando-me a alma virada do avesso...

Desconfio até que o meu mundo interior nunca existiu ou, então, é indizível... E quanto à alma, o melhor é começar a arrepiar caminho...

 

7.1.18

A nova censura vive do lixo

«O princípio base do funcionamento do aparelho censório era de que todo o conteúdo dos jornais, incluindo os anúncios, títulos, fotografias, composição, paginação e os próprios boletins meteorológicos, estavam sujeitos à censura. (...) A suspensão de uma notícia podia ocorrer sempre que os serviços de censura achassem necessário consultar um superior hierárquico sobre essa matéria. As notícias provenientes das agências noticiosas estrangeiras eram submetidas à censura directamente nas agências recetoras.» Censura / Regulamento de 1936

«As Instruções Gerais da Política de Informação do Regime Fascista (1932?) proibiam todas e quaisquer referências que afetassem o prestígio dos governantes, das autoridades e entidades oficiais, referências a assuntos ligados à ordem pública, notícias de julgamentos ou deportações de presos políticos, notícias de crimes, suicídios, infanticídios, alusões aos serviços de censura... Até mesmo os anúncios de astrólogos, bruxas e videntes são proibidos. Todas as marcas da intervenção da censura, como por exemplo os espaços em branco, deveriam igualmente ser camufladas.»

Maria Inácia Rezola, DN, 24.11.1991

A leitura atenta destas regras e das instruções só serve para mostrar (e já não é pouco!) que o tempo decorria de forma muita mais lenta durante o Estado Novo e que, para este, o controlo da comunicação social era fundamental.

Hoje, como deixou de ser possível controlar todas as redes de comunicação, a alternativa é enxameá-las de tudo o que no século passado era proibido, acrescentando novos ingredientes como a devassa das chamadas de voz, das mensagens, dos e-mails e, sobretudo, fabricando-os como mecanismo de intoxicação.

 

6.1.18

Salamim - a palavra que eu ignorava

«Chega o Inverno; e hoje, que é domingo, sabes em que eu me entretenho? Em partir pinhões com uma pedra à porta de casa. Compram-se aos salamins no padeiro do lugar, um brutamontes de mangas arregaçadas e braços peludos e cheios de pasta de farinha, que nos diz: - Viva! com mau modo. No enfastiamento domingueiro, o que se pode fazer senão isto?» Cesário, entediado, escrevia a Bettencourt Rodrigues

Finalmente, a chuva de inverno vai caindo e com ela chegam as horas de enfado que vou ocupando em desarrumações e a ler excertos de jornais. 

No dia 13 de Dezembro de 1987, surgiram, no Diário de Notícias, vários artigos dedicados a Cesário Verde. Um deles intitulava-se mesmo Linda-a-Pastora: a quinta com janela para o Chiado. O título dá como assente algo que não passava de um desejo (in)confessado do escritor a contas com uma recorrente instabilidade emocional... 

A ideia de olhar a cidade a partir do campo parece-me tão válida como a contrária, mas o que, neste artigo, despertou a minha atenção não foram nem o Jacinto nem o José Fernandes queirosianos, mas, sim, o termo salamins.

Aqui está uma palavra que eu ignorava - salamim - que os dicionários definem como "direito de corretagem que se pagava em Diu". Creio, no entanto, que Cesário se está a referir ao comerciante vagamente indiano que, à época, lhe vendia as pinhas...

Se Cesário tivesse tido notícia do preço do pinhão neste Natal - 80 € / 100 gramas - talvez não se tivesse sentido tão aborrecido...

Pensando bem, neste Natal, havia salamins que vendiam o pinhão mais barato - 60 € / 100 gramas. Só que eu não os conhecia como tal, pois o preconceito encarregou-se de os nomear de modo pouco educado.

 

5.1.18

Orfeu e Eurídice

"No acaso da rua o acaso da rapariga loura." Álvaro de Campos

Sem predicado, sem um ponto determinado numa rua por nomear, a rapariga loura não passa, afinal, de uma recordação da rapariga loura original, desperta do passado irreal da única rua cujo lugar de encontro se desfez...

Deste modo, ao sujeito, desfeito o encontro inicial, transmutado num outro, só lhe resta escrever versos que o tornem aos olhos dos tolos - maravilha das celebridades...

 

... maravilha fatal da nossa idadeperdida (irremediavelmente) da visão imediata...

 

4.1.18

A culpa é do açúcar

A leitura literária pressupõe a capacidade de relacionar, mas como se a memória falha?

No entanto, a consciência dessa falha traz frequentemente relações imaginadas no momento de leitura, provavelmente, inapropriadas, mas sem contraditório, pois do outro lado mora o vazio...

De tal modo que já não sei o que é pior:  se a incapacidade de relacionar por falta de leitura, se a frustração por saber que tempo houve em que a interpretação fulgurante se terá perdido porque a mente se foi degradando...

Dizem-me, agora, que o grande culpado é o açúcar. Não sei se será tarde, mas prometo que tudo farei para o eliminar da minha dieta...

 

3.1.18

Mais dia menos dia

«Mais dia menos dia matam-nos através de uma imagem. Abrimos um computador e morremos.» AL BERTO

Mais dia menos dia o computador resolve-nos o problema...

Só que o problema somos nós!

De nada serve voltar atrás

De nada serve esperar...

Mais dia menos dia nunca será futuro, 

porque o futuro não se mede em dias...

o futuro, um outro lugar...
talvez uma caixa de segurança com muita pirotecnia...

 

2.1.18

Se fosse nas nuvens...

Entre as nuvens, a lua. Se fosse nas nuvens, a abordagem já era outra...

Embora me possa considerar satélite, ainda prezo alguma independência de raciocínio, o que me leva frequentemente a tolerar certos comportamentos irrefletidos, umas vezes próprios da juventude, outras específicos do envelhecimento...

Não se trata nem de submissão nem de condescendência mas, sim, de opção, que não reflete qualquer vaidade ou soberba... com fases... 

 

Vistos de Cascais a "reinventar o futuro"...

Já é difícil construir o presente!

Ora o senhor Presidente quer que nós reinventemos o futuro. Nem sequer nos exorta a inventar / a imaginar o futuro...

Estes portugueses sempre lá longe e não no lugar onde deveriam agir!

Em 2018, vamos adiar o presente e colocar os olhos no Longe... e, em coro, vamos repetir "Reinventar o futuro!"

Outra ideia do senhor Presidente é que somos tantos e tão dispersos que, vistos de Cascais, passámos a ser muitos "Portugais"...