31.12.18
Não tenho nada contra os
chineses. Considero-os até nossos amigos… Aos poucos têm conseguido povoar o
território português e vão-nos libertando do fardo da propriedade.
A propósito de influência
chinesa, parece que a China tem um papel cada vez mais preponderante nas
antigas 'províncias' ultramarinas, de tal modo que me interrogo se o
´'excêntrico continente' não estará cada vez mais próximo de se tornar uma
província chinesa.
De qualquer modo, antes
que oficialmente tal seja reconhecido, o governo português já deu início ao
processo de integração ao adaptar o princípio «uma nação dois sistemas». É só
olhar para a sua aplicação no caso dos professores do continente e ilhas…
Os chineses são
criativos, sem dúvida, e nós gostamos de caminhar na dianteira, por isso
imitamo-los.
30.12.18
Na casa de campo (ou
no condomínio fechado), um destes candeeiros é capaz de deslumbrar a
vizinhança. No entanto, o empréstimo já não cobre a iluminação exterior… Sem cheta,
como satisfazer a tentação?
- E se o arrancasse pela
base? Agora, só falta um eletricista…Talvez a Oficina do Reformado possa ajudar
a resolver o problema…
É, assim, o meu país, no
final de 2018. E não prevejo que 2019 possa ser melhor.
«É o eu, encruzilhada
por excelência onde tudo se cruza, converge e diverge.» Maria Lúcia
Lepecky, DN 26.06.1988
As estátuas estão de
costas, inconscientes da existência do pedinte, tal como este parece alheio à
sua presença…
Se (re) pararmos nas
estátuas, uma delas, de óculos, ignora deliberadamente a jovem e sorridente
'família', parecendo fixar-se num ponto longínquo - talvez uma palmeira
colonial…
Nesta rua de Algés, a
composição parece revelar um EU excessivamente mercantil - postiço… Todavia, só
o pedinte sabe como esconder o olhar…
28.12.18
Luís Bento (1951-2015)
«Autor de livros sobre
Formação, Gestão de Recursos Humanos e Ética nos Negócios, era comentador de
assuntos económicos, sociais e políticos em vários canais de televisão e
estações de rádio.»
Não fosse um amigo ter-me
doado um pacote de livros, provavelmente continuaria a ignorar um autor que
procurou dar conta do modo de estar da geração nascida nos anos 50 do século
passado, a minha. De rajada, li os dois livros publicados pela editora onyva: Este
Nosso Jeito de Ser; A Alquimia dos Sentidos - Romance de uma
geração.
Apesar da notoriedade de
Luís Bento, confesso que vivia na ignorância da sua existência - eu que até
tenho um primo com o mesmo nome, nascido no mesmo ano e dia que eu - e de
desconhecimento em descobrimento, acabei por encontrar no romance um padre Francisco
que me tem dado que pensar…
«... o padre, um
franciscano do Seminário de Carnide, que mais tarde viria a ser bispo de
Santarém…» op. cit., pág 167
O padre Francisco
revela-se, em 1969, no âmbito da campanha eleitoral (da CDE), uma figura
fundamental para libertar os jovens contestatários da Pontinha que se
encontravam presos no Governo Civil há três dias…
Desta vez, o romance,
para além de, alternadamente, me dar conta do percurso do herói na periferia da
capital e na guerra colonial em Angola, abriu-me uma outra porta. Afinal, quem,
era na verdade, aquele franciscano que se tornou no primeiro bispo da diocese
de Santarém, tendo ido habitar o mesmo espaço donde eu saíra ainda havia
relativamente pouco tempo?
O franciscano chamava-se
António Francisco Marques, tendo sido bispo da diocese de Santarém, por
nomeação do Papa Paulo VI, de 16 de Julho de 1975 a 28 de Agosto de
1977...
Foi bispo da minha
diocese, tendo mantido com os meus pais uma relação de que só agora me
apercebo… Um bispo discreto, com uma biografia mínima, vá lá saber-se porquê!
Quanto ao romance, é de
leitura fácil e bastante fiel à vida daquela época…
Quanto a Este
Nosso Jeito de Ser, algumas das crónicas traçam um retrato fiel da
mentalidade portuguesa.
27.12.18
O presidente Nogueira diz
que o veto do Professor Marcelo foi 'uma boa notícia'. Resta saber para quem!
Em ano de eleições,
espera-se um fartar-vilanagem desenfreado. Seja qual for o resultado, para 2020
as nuvens anunciam-se carregadas… O melhor seria apagar, desde já, o ano de
2019.
26.12.18
A esta hora, o Presidente
deve andar às voltas com a contagem do tempo de serviço dos professores. O
assunto é sério, não fosse ele o Senhor Professor…
No labirinto do
Presidente, os conselheiros já estão cansados de fazer projeções… É que não são
apenas os professores! Não há bicho careto que não faça contas à vida…
A esta hora, o Senhor
Presidente já telefonou ao 'amigo' Costa, confessando que, desta vez, não está
a ver como é que vão vender gato por lebre… e mesmo assim 'era uma vez' um
orçamento…
25.12.18
The deadly tsunami
in Indonesia was triggered by a chunk of the Anak Krakatau volcano
slipping into the ocean, officials have confirmed, amid calls for a new early
warning system that can detect volcanic eruptions. Vulcão desperto
E nós tão
distraídos! Por aqui, o almoço de Natal tão rico de reencontros que
faltam os lugares de estacionamento…
Por lá, lugares vazios,
vultos que se esfumam nas derradeiras lágrimas dos sobreviventes…
24.12.18
Desde cedo habituei-me a
viver com a distância. Escrevo 'habituei...', mas, olhando para trás, prefiro
'aprendi...' com a distância…
A proximidade tornara-se
mais dolorosa do que a distância. Partir tornou-se natural por necessidade.
Ficar era adiar qualquer forma de ser.
Se na partida havia dor,
não sei especificá-la, pois não correspondia a qualquer tipo de saudade… o que
havia era uma necessidade de me adaptar à viagem, ao espaço em que acabaria por
me encontrar.
Adaptar-me, não para
ficar, mas para ser, o que poderia significar partir de novo…
Ao contrário dos que
voltam, felizes, o regresso foi sempre uma forma de capitulação…
Talvez seja por tudo isto
que em qualquer partida antevejo um sorriso, mesmo que esta possa ser a
derradeira…
Ficar é adiar, regressar
é capitular…
23.12.18
Nunca
escrevi uma estória de Natal
Faltam-me as personagens
capazes de gerar uma nova intriga milenar.
Não é que o tempo seja
diferente daquele que o menino encontrou nas praças, nos mercados e nos
templos. O próprio espaço, de mais opaco, poderia favorecer o anonimato do novo
herói…
Vejo-me, no entanto,
condenado ao fracasso - o menino ao abandonar a cruz, tornou-se
caixeiro-viajante…
Por estes dias, relembro
a estória antiga.
Jesus entrou no Templo,
expulsou dali todos os que nele vendiam e compravam, derrubou as mesas dos
cambistas e as bancas dos vendedores de pombas, dizendo-lhes: «Está escrito. A
minha casa há de chamar-se casa de oração, mas vós fazeis dela um covil de ladrões.»
22.12.18
«- Estamos aqui sentados debaixo da árvore sagrada
do seu quintal. Pode dizer-me qual o nome dessa árvore?
- Porquê?
- Porque gosto de conhecer os nomes da árvores.
- O senhor devia saber é o nome que a árvore lhe dá a si.»
Mia Couto, Conversas em camponês
Eu nasci e cresci no
campo, mas não sei falar camponês. Nem sabia que se podia falar essa língua,
até porque a escola cedo me ensinou que eu não sabia falar nem escrever…
Agora, compreendo que me
mandaram à escola para aprender uma outra língua muito distante da do meu país
- uma língua artificial e artificiosa, em que a minha voz se sumia
paulatinamente para ecoar outras vozes… (por lá tenho andado este tempo
todo, e já cansado vou rasgando velhos e inúteis papéis de quem também nunca
soube falar camponês, embora insistam no contrário...)
Nessa escola primeira,
criaram um 'doutor' que, em língua de camponês, soava a insulto revelador de
traição. Com o tempo, esqueci os camponeses e comecei a recordar as árvores e
as aves, sentindo que as não conhecia suficientemente; não lhes aprendera os
nomes e as vozes, pois não faço ideia do que é que elas sabem de mim…
21.12.18
«As coisas mais importantes são outras… essas
errâncias.» Mia Couto entrevistado por Teresa Roza d'Oliveira, in
Letras & Letras, 3 março 1993
ouvir só ouvir
falar por falar
ler sem querer
escrever para além do ver
caminhar sem correr
ser sem ter
20.12.18
Só
que os satanhocos têm um desígnio
O que parece é que anda
por aí muita gente sem rumo, cujo movimento se esgota no momento…
Nos últimos dias, a classe política gulosa tem passado a mão pelo lombo do
satanhoco… O que ela não entende é que o satanhoco sempre foi avesso à
democracia, tendo como principal intuito escorraçá-la.
Pois, talvez pudesse
parecer que… só que os satanhocos têm um desígnio…
19.12.18
"Vamos Parar
Portugal como forma de Protesto"
Como é que se pode parar
o que já está parado? Há incongruências miméticas difíceis de aceitar…
Se vamos, se nos movemos,
é porque queremos percorrer um caminho, traçado o rumo…
O que parece é que anda
por aí muita gente sem rumo, cujo movimento se esgota no momento…
18.12.18
- O que é que estes
livros fazem atrás das grades?
(Há ali toda uma
biblioteca sem leitores! Já nem sequer a Dona Olinda lhes limpa a poeira… Que
desperdício!)
Teixeira de Pascoaes
faleceu a 14 de dezembro de 1952, dado que não me ocorrera… até que, nos
últimos dias, desatei a ler velhos artigos de jornais dos anos 80 do século
passado, vá lá saber-se porquê. Serei o único?
16.12.18
É preciso renascer. Mas
como fazê-lo se o tempo é de colapso?
Quando as faculdades
começam a falhar, fica a ilusão do tigre, não do que desce mas do que trepa..
Agora que o tempo é de
lavagem ao cérebro, e já não espero qualquer transformação, vou meditar na
excentricidade dos reis magos, e dos tigres que invadem as nossas paredes…
De qualquer modo, Boas
Festas e Boas Entradas!… que já falta pouco para o Entrudo...
15.12.18
Os franceses queixam-se
de que no fim do mês não sobra nada, embora, pelo noticiado português, me fique
a dúvida se os coletes amarelos não serão quase todos portugueses com uma
particularidade - não falam nem português nem francês…
Parece que os franceses
estavam habituados a que sobrasse alguma coisa no fim do mês… Por aqui, para
grande parte dos portugueses, esse problema há séculos que deixou de fazer
sentido…
Oiço agora que, por cá,
há quem esteja a organizar "saídas" de coletes amarelos. Considerando
a diferença de expetativas, espero pelo teor das reivindicações, apesar de me
parecer que cada português terá a sua.
Colete amarelo já tenho!
Basta ir buscá-lo ao carro, só não sei se ainda me sobra dinheiro para a
gasolina…
Calendários -
ponto da situação
Durante muitos anos,
regi-me pelo calendário escolar. Afinal, a minha vida decorreu quase toda nos
estabelecimentos de ensino… Feitas as contas há 58 anos que cumpre o calendário
escolar.
Só que ultimamente passei
a dar mais importância ao calendário civil, sobretudo desde que o ministro
Vieira da Silva desatou a fazer promessas que ninguém sabe se são para cumprir,
e em que termos…
A verdade é que no dia 2
de janeiro de 2019, logo no início do ano civil, ao voltar à escola, entrarei
no 45º ano de serviço público, a que há que acrescentar mais cinco meses de
descontos para a Segurança Social, referentes a trabalho docente desenvolvido
em 1974. (E quem me conhece deve estar a interrogar-se sobre dezassete anos
de descontos no ensino superior privado, em regime de acumulação - esse dou-o
de barato ao Estado…)
Já não sei por que
calendário me devo orientar!
12.12.18
Acordam tarde, sem tempo
para tomar o pequeno-almoço... Arrastados para escola, chegam atrasados, «por
culpa dos pais, do trânsito, dos transportes…»
Entram na sala,
indiferentes ao que acontece, desculpas esfarrapadas, sentam-se e
desatam a conversar ou, então, adormecem... Os manuais dormem nas sacolas. O
professor invisível procura um fio condutor que regista inutilmente no quadro,
pois o Google que tudo explica está ali mesmo à mão. Tudo corre bem até que o
final do período se aproxima... E aí a angústia desperta, a preocupação com a
autoavaliação torna-se evidente... como se esta fosse um direito penosamente
conquistado...
11.12.18
O
terceiro estado de vítimas em potência,
O terceiro estado é
constituído pelos doentes, pelos idosos, pelas crianças, pelos alunos, pelos
passageiros trabalhadores, pelos presos, pelos migrantes, pelos refugiados,
pelos proscritos… e por tantos outros aqui não mencionados…
Admitindo a existência
deste terceiro estado de vítimas em potência, eu simplesmente não compreendo
qual é o papel do Estado nos atuais conflitos laborais, até porque sempre
pensei que ao Estado competia proteger o terceiro estado…
E também creio que é
competência do Estado averiguar quem é que está a financiar o movimento
grevista, caso contrário ainda nos acontecerá o mesmo que ao Chile de Allende,
em 1972...
10.12.18
Andava o aluno à procura
de um complemento oblíquo e escorregou-lhe a pena para o oblívio. Castigador,
chamei-lhe a atenção para o desmando lexical…
Entretanto, acabo de
saber que a obra Oblívio, de Daniel Jonas, acaba de ser
recompensada com o Prémio António Gedeão de Literatura, instituído pela
Federação Nacional dos Professores (FENPROF)…
Para que não caia no
olvido (ou no oblívio), lanço desde já um desafio à FENPROF: - Não esqueça que
há outros poetas merecedores do galardão: Por exemplo, o professor
(aposentado) Silva Carvalho e o professor (em exercício) António Souto.
9.12.18
Eu que penso que sei
gramática, não tenho riscas, mas vivo apresado com um dicionário sempre ao
lado… Já não viajo… e sinto-me a todo o momento acossado pela «vossa palidez
romântica e lunar», na intuição de Cesário… que, nele, era mais uma forma de
dedução…
Os peixinhos não precisam
de ler o caminho ou leem, apesar de desconhecerem o que é a leitura, e seguem
adiante na cabeça de um fantasma apressado…
E depois há uma outra
presença no mural que o peixinho parece não querer ver. Talvez que eu esteja
atrasado… mais valia viajar, sem rodilha, na cabeça do fantasma apressado.
8.12.18
O título de hoje
parece-me ousado, mas estou com a sensação de me ter transformado num funil
que, meio sedimentado, soluça a insensatez juvenil dos meus interlocutores que
acreditam que o futuro passa bem sem a leitura…
Ler é, para eles, uma
atividade antiquada de quem não tinha mais nada para fazer - era
definitivamente uma forma de passar o tempo. Ora hoje há outras formas mais
'pró-ativas' de o fazer, mais dinâmicas, mais interativas ou, até, mais
autofágicas.
Numa certa perspetiva, da
leitura só se aproveita o VER... a imagem, pois a ideia aprisiona… Contudo,
ainda há exceções, com a particularidade de escreverem razoavelmente, de terem
uma ou outra ideia…
7.12.18
Para quê dar o nome de um
escritor a um aeroporto? No caso, o do poeta Pablo Neruda, prémio nobel em
1971.
Por seu turno, as
feministas chilenas pretendem que o aeroporto de Santiago seja batizado com o
nome da escritora Gabriela Mistral, prémio nobel em 1945...
Argumento: Ricardo
Eliécer Neftalí Reyes Basoalto (Pablo Neruda), o homem, terá
desrespeitado a dignidade das mulheres…
Compreendo o argumento e
condeno a prática, mas creio que, para o bem da poesia, o melhor seria deixar
os poetas de fora desta mania de batizar aeroportos, aviões, barcos, praças,
ruas e vielas…
Afinal, o que é que se
espera de um poeta? Versos…
6.12.18
-Marido cuco me
levades
e mais duas lousas.
(Inês Pereira)
- Pois assi se
fazem as cousas. (Pêro Marques)
Traído, insultado e
abusado, Pêro não compreende o alcance das palavras da fogosa esposa…
De que serve o estudo?
perguntaria Cesário…
De nada, pois, mesmo se
incipiente, a memória o apaga… delita…
5.12.18
A ser verdade, o melhor é
não trabalhar… Afinal, uma boa parte dos impostos é aplicada em quem não
trabalha.
A discrepância francesa
não é diferente da portuguesa. Os efeitos começam a sentir-se na radicalização
social… Em 2019 se verá!
4.12.18
«A literatura não
existe para educar o Homem a ser cidadão, a menos que o eduque para cidadão do
mundo - a única cidadania decente que hoje existe.» Jorge de Sena, O
Romantismo, 1966
Perante o fastio do aluno
e, sobretudo, a desvalorização da obra literária, pouco tenho a acrescentar…
Temo, todavia, que a atual educação literária esteja a apostar, mais uma vez,
no nacionalismo e nos restos do imperialismo cultural, isto para aqueles que
continuam a ver na literatura um manual identitário…
No caso português, se
excetuarmos alguma ousadia do 'projeto de leitura', o corpus literário não
escapa ao narcisismo nacionalista.
De qualquer modo querer
educar as novas gerações sem 'formar' os professores é infrutífero, pois estes
defendem-se aplicando os modelos do passado.
Infelizmente, apesar de
terem passado muitos anos, Jorge de Sena continua a ter razão… e os apóstolos
da cidadania local proliferam...
3.12.18
No
aproveitar é que está o ganho!
Considere-se a instrução,
correspondente ao I Grupo, Parte III, de uma prova de avaliação de Português,
12º ano:
Tenha um smartphone ou um
iPhone à mão, pesquise, copie, cole, modificando um ou outro conector… E já
está!
Lá dizia Camilo Pessanha:
Eu vi a luz em um país
perdido.
A minha alma é lânguida e
inerme.
O! Quem pudesse deslizar
sem ruído!
No chão sumir-se, como
faz um verme…
(INSCRIÇÃO)
2.12.18
Ontem, foi feriado, e
para além da atenção prestada à república de Macron e de me ter interrogado
sobre o resultado de tantas idas a Berlim - bem sei que não é o resultado que
interessa! -, li 22 textos sobre a aplicação do ditado «no aproveitar é que está
o ganho».
Hoje que Macron avalia os
estragos, e sem saber se o regresso de Berlim foi conseguido, continuo a ler
sobre a visão de Caeiro…
E o que leio não me traz
proveito - nem nunca esperei que trouxesse! - embora me preste a este jogo
diário que não me traz qualquer ganho.
Para completar o
desânimo, só me faltava que, de hora a hora, insistam em convencer-me que a
palavra-chave do ano é 'professor'...
1.12.18
No coração de Paris, o
movimento inorgânico dos coletes amarelos caiu nas mãos dos
"casseurs" radicais.
Perante os sucessivos
episódios de violência, as forças da ordem revelam falta de mobilidade - uma
atitude estática, só justificada pelo pesado e inadequado equipamento para este
tipo de confrontos…
Independentemente das
razões dos «coletes amarelos», urge enquadrá-los de modo que, de futuro, não
possam movimentar-se livremente… E, sobretudo, é necessário reavaliar as causas
da revolta, de modo a evitar políticas cegas, como a que parece estar a
acontecer na república de Macron…
Na república de Macron,
enquanto o coração de Paris é vandalizado, o Presidente mantém-se em Buenos
Aires, entre os Grandes do G20...
Até Marine Le Pen revela
mais bom senso do que Macron, pois esta tarde solicitou aos «gilets jaunes» que
dispersassem para que as forças da ordem pudessem dominar os «casseurs» ...
29.11.18
Hoje percebi, ao tentar
chegar a horas a uma consulta, em dia de chuvada, que a cidade de Lisboa se
transforma num charco donde é quase impossível escapar… Uma cidade sitiada!
Enquanto desenhava pontos de fuga, surpreendi-me a
pensar que, estando a geringonça em fim de vida, vem aí a caranguejola…
Não, não estou para mais — não quero mesmo brinquedos.
Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar…
Que querem fazer de mim com este enleios e medos?
Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar…
Mário de Sá-Carneiro
28.11.18
Em vez do desenvolvimento
económico, com mais emprego qualificado e remunerações justas, o país continua
a preferir uma política de baixos salários, de subsídios, de manipulação das
taxas do IVA…
Diz o ministro do
Ambiente que a redução do custo dos passes sociais é para aplicar em todo o
território…
Mas como, se a ferrovia
está descarrilada, a rede viária, em grande parte, abandonada, os meios de
transporte são escassos e em mau estado de conservação?
A quem é que vai servir
este novo esforço do contribuinte se, afinal, a geringonça não passa de um
monte de sucata?
Viva a Propaganda!
27.11.18
Na
Biblioteca do Liceu Camões...
O poeta, tolhido, dói-se
em versos e / carpidos (A. S.)
Hoje, o António Souto
oferece-nos as suas "Palavras Inadiáveis" - não sei se já
com piano - virtuosas, porém, e exatas.
Os restantes encómios
deixo para os cientistas do verso e para os amigos da Hora…
Com o António ando sempre
ao contrário… Eu que fui feito para ceder a direita, não por uma questão
de respeito mas de jeito - o pescoço tem um qualquer defeito que o impede
de volver à esquerda…
26.11.18
Eu não tenho casa em
Lisboa. Fico-me pela Portela…, longe do metropolitano e dependente dos
caprichos da carris…ou, em alternativa, refém dos fluxos de trânsito…
Tenho, todavia, uma porta
de saída aérea, mas que de pouco me serve pelo motivo de não ter casa em
Lisboa…
25.11.18
Não é que eu seja
um blogger, pelo menos no sentido que lhe é dado atualmente. "Talvez
me considere um bloguista, apesar de não gostar de muitas das
palavras que resultam do acréscimo do sufixo nominal / adjetival - ista..."
(“CARUMA: 2018”)
A verdade é que espero
que o Benfica não esteja a preparar-se para me acusar do que quer que seja, até
porque eu não guardo informação de ninguém que seja do Benfica… nem para o bem
nem para o mal.
No entanto, o simples
pensamento de que o 'inimigo das águias' seja um, ou mais bloggers,
levou-me a apurar o significado do termo.
A origem estará no
conceito (?) weblog - web /rede + log / registo de atividade -
configurando, assim, um novo empréstimo linguístico para a
expressão "diário online", ou melhor, diário em linha, um empréstimo
resultante de uma amálgama…
(Para
os mais avançados: blogger: someone who writes a blog (=
a regular record of someone's ideas, opinions,
or experiences that is put on the internet for other people to read).)
(“What is the meaning of blogger | Learn English - Preply”)
Em conclusão, mais uma
ideia sem qualquer interesse, a não ser que haja alguém à procura de evidências
de aculturação.
24.11.18
Aquém da ironia, a
incontornável realidade distingue a coragem de enfrentar os obstáculos, mesmo
que o desfecho possa ser trágico, de quem, apesar de reconhecer a necessidade
da luta, prefere o comodismo do sorriso, da sobranceria intelectual…
Vem isto a propósito do
quê?
Da facilidade com que nos
refugiamos na ironia, ostentando-a como atestado de superioridade em lugares
inundados pela estupidez…
E em rodapé, não posso
esquecer que acabámos por preferir Eça de Queirós a Antero de Quental -
cultivamos a ironia porque ela nos permite esquecer / esconder a realidade...
23.11.18
Para além da
ironia de Álvaro de Campos
«Maravilhosa gente humana que vive como cães,
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!»
Álvaro de Campos, excerto de Ode Triunfal
O Poeta canta o triunfo
da vida moderna, fruto da ciência aplicada, do êxodo dos campos, da
multiplicação das cidades, da morte da pessoa e, sobretudo, da ilusão
tecnológica
O Poeta celebra o mundo
novo, todo ele artifício, apoteose da humanidade, mas do qual uma grande parte
da espécie humana é escorraçada… uns dias, essa parte é infrahumana, outros,
precária, tornando-se larva…
Por isso, é indesculpável
que se veja apenas ironia na apologia da vida moderna.
«Ah, e a gente ordinária e suja que parece sempre a
mesma,
Que emprega palavrões como palavras
usuais,
Cujos filhos roubam às portas das
mercearias,
E cujas filhas aos oito anos - e eu acho
isto é belo e amo-o! -
Masturbam homens de aspeto decente nos
vãos de casa.»
Álvaro de Campos, excerto de Ode Triunfal
Cem anos depois, o que é
que mudou? Talvez, a apropriação momentânea pela religião, pela arte e pela
política…
22.11.18
Se houver quem se
interesse por ela, certamente que a encontrará sem
qualquer estímulo externo… Caruma nunca quis lançar as bases
de qualquer religião, porque, por princípio, não aspira ao divino. Caruma mais
não é do que uma tentativa de aproveitamento do que sobra da fragmentação do
espelho primordial… surgiu como expressão de quem entende que os estilhaços
também podem ganhar vida própria e não como rememoração de qualquer nostalgia
matricial…
… quem diz os estilhaços
também poderia dizer os cacos…
21.11.18
As velhas existem. Não
são ficção nem meninas…
As velhas acreditam,
detestam manipansos e nunca lhes explicaram que todos os ícones são manipansos
e mesmo que lhes tenham explicado que só a solidão justifica a fé numa qualquer
religião - única para elas -, elas preferem colocar-se nas mãos do IGNOTO … e
imaginar-lhe um rosto, porque a abstração não se dá bem com os medos que lhes
perturbam as horas…
Estas velhas vivem da fé,
mas podem desprezar a caridade… ou praticá-la em benefício próprio se o
ato se nutrir da esperança de que o Manipanso as acolhe no seu regaço…
Se me perguntarem se
estas velhas são eternas, eu responderei que sim porque as réplicas, mesmo se
meninas, não me deixam mentir…
Se me perguntarem se
estas velhas são velhos, eu responderei que isso é ficção.
20.11.18
Quando chove, a culpa é
da chuva, quando não chove, a culpa é da seca... Quando a terra abate, ninguém
assume a culpa - ainda no dia anterior tudo estava seguro até porque ninguém
avisara…
Ninguém avisara nem o
autarca perguntara ou decidira ler os relatórios produzidos nas últimas décadas
e que já tinham servido ao Governo Central para se descartar de
responsabilidades em nome de políticas de descentralização, de modernização e
de pretensa democratização…
É assim em todos os
pilares do território - da rede viária e ferroviária à educação; da saúde à
energia e à agua…
A chamada delegação de
competências é uma farsa demagógica, pois não assegura os necessários recursos
financeiros e, em particular, não gera competências locais… somente faz crescer
o compadrio e o caciquismo...
19.11.18
Para fugir da
obnubilação, acena apenas!
Qualquer outra saída pode
tornar-se incontrolável nas palavras e nos gestos. Ainda se fosse seguidor de
Marinetti, poderia recorrer à bofetada e ao soco e ter futuro, mesmo quando só
o Momento importa(va)…
De facto, há momentos em
que a obnubilação parece querer tomar conta da situação - a consciência e o
pensamento começam a perder nitidez… No entanto, ainda há uma 'voz' que impõe
rédea curta, mas até quando?
Um destes dias, restará
apenas um patético aceno para não borrar definitivamente a pintura…
18.11.18
Se lemos e o dizemos
pouco importa. O que pensamos nada acrescenta, mesmo o que sentimos é falso e
justo, pois como saber se (não) fingimos…
Talvez por isso o ideal
seria ir viver para a encosta e de lá contemplar o vale e acenar a quem passa… E
nada dizer, mesmo que sintamos vontade de explicar, de começar do princípio, da
matriz (do latim matrix, - cis) - anula esse ímpeto e acena apenas!
- Foge do Grego e do
Latim! Abomina os clássicos! Passeia-te com os românticos e voa, voa com os
nefelibatas e não sonhes com os surrealistas! Despreza os modernistas de todos
os ismos! Acena apenas, mas bem longe dos pós-modernistas…
- Acena apenas lá da
encosta para o vale, acena sem lágrimas nem sorrisos e, sobretudo, sem rimas...
17.11.18
Alexandre
Vargas, nota imperfeita
Vargas,
Alexandre (1952-2018). Filho mais novo do poeta José Gomes Ferreira, foi
encontrado morto em casa no dia 15 de novembro. Poeta e tradutor.
De poesia publicou «Morta
a sua Fala», «Cyborg», «Vento de Pedra», «Lua Cisterna»,
«Organum», além de ter participado em antologias, cadernos, etc.
Traduziu os músicos-poetas Peter Hammil e Patti Smith.
Sintra ocupa
um lugar especial no seu imaginário.
Marcado pelo universo
pós-simbolista e modernista, e sobretudo pelos fantasmas de Antero,
Pascoaes, Sá-Carneiro, Álvaro de Campos e José Gomes Ferreira,
é essencialmente um poeta visionário que exprime a conflitualidade interna de
uma mitologia pessoal dividida entre um passado naturalista e um futuro
cibernético. [...] Poeta que traduz o visionarismo da sua epopeia lírica numa
discursividade a um tempo meditativa e narrativa, tecnicamente neobarroca,
sustentando a retórica da imagem e os seus efeitos oniristas em mecanismos
surrealizantes, mas por vezes cedendo perante a construção alegórica, exibe nas
suas criações mais recentes uma forte atracão pela temática luciferina e por um
experimentalismo formal vazado em enumerações caóticas, neologismos telescópicos,
sinestesias e misturas polifónicas que provocam em certos ângulos uma impressão
estética muito próxima de um Ângelo de Lima na sua faceta
pré-joyciana. (Palavras de Luis Adriano Carlos, o antologiador de "Poesia
Digital - 7 Poetas dos Anos Oitenta".)
16.11.18
As folhas outoniças dos
plátanos encobrem os azulejos da fachada em frente. O som de uma vassoura move
as beatas interditas e os veículos circulantes escapam-se a meio da tarde desta
ensoleirada sexta-feira. Em fundo, uma sirene dá conta de uma enfermidade de
última hora…
Por baixo, adivinhado, o
patrono prepara-se para acolher mais uma ilicitude em nome de uma campanha
contra os fumos, que não da Índia…
É melhor ficar por aqui,
não vá eu, um destes dias, referir-me aos "Fumos da Índia" e
solicitar uma nota breve sobre o modo como o Poeta os denunciava n'Os
Lusíadas… (A verdade é que não me atrevo a questionar os "jovens
sábios" do momento… até porque a Índia está agora tão cerca.)
15.11.18
Há que dar a palavra aos
jovens sábios! Especialistas em metodologia, defendem os enlatados sem lhes
discutir a origem e o conteúdo… e se alguém o fizer, acusam-no de dispersão e
de anacronia, não nestes termos porque, orgulhosamente, os ignoram…
O que importa é a receita
do momento, não é que a queiram memorizar e experimentar, pois só lhes
interessa estar, nem sequer lutar...
É preciso grande
resistência para lidar com tal sabedoria, de qualquer modo finjamos que a
montante nada aconteceu e que a liberdade herdada é perene…
A jusante, logo se verá
ou, talvez, não seja necessário…, mas essa é uma linha impossível de abordar -
está toda no Manifesto de Marinetti, publicado a 9 de fevereiro de 1909... Ai o
passado!
1. Nós queremos cantar o
amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia,
a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
3. A literatura exaltou
até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o
movimento agressivo, a insónia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o
bofetão e o soco.
4. Nós afirmamos que a
magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da
velocidade. Um automóvel de corrida com o seu cofre enfeitado com tubos
grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um automóvel rugidor, que
parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.
5. Nós queremos
glorificar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra,
lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.
6. É preciso que o poeta
prodigalize com ardor, esforço e liberdade, para aumentar o entusiástico fervor
dos elementos primordiais.
7. Não há mais beleza, a
não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma
obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as
forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem.
8. Nós estamos no
promontório extremo dos séculos!… Por que haveríamos de olhar para trás, se
queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço
morreram ontem. Já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna
velocidade omnipotente.
9. Queremos
glorificar a guerra – única higiene do mundo –, o militarismo, o patriotismo, o
gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o
desprezo pela mulher.
10. Queremos
destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda a natureza, e combater
o moralismo, o feminismo e toda a vileza oportunista e utilitária.
11. Cantaremos as grandes
multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos as
marés multicores e polifónicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos
o vibrante fervor nocturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por
violentas lutas elétricas; as estações esganadas, devoradoras de serpentes que
fumam; as fábricas penduradas nas nuvens pelos fios contorcidos de suas
fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios,
faiscantes ao sol com um luzir de facas; os piróscafos aventurosos que farejam
o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os trilhos, como
enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja
hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão
entusiasta.
14.11.18
Se a Polícia Judiciária
não consegue identificar os meliantes que roubaram as armas de Tancos, se o
Governo nada sabe sobre a matéria, se o presidente da República confessa o seu
desespero por nada saber sobre quem furtou, quem devolveu e quem foi conivente,
se até há gente detida por excesso de zelo patriótico, não percebo para que é
que foi criada um comissão parlamentar de inquérito…
Estou, no entanto,
curioso sobre os resultados de tal inquérito… até porque das comissões de
inquérito anteriores só saiu fumaça... Há, todavia, um estudo que os cientistas
políticos poderiam fazer: descobrir por onde é que circulam tão ilustres
"comissionistas"... para além dos "passos perdidos"...
13.11.18
Por aqui, as velhas saem
à rua, enraposadas e gaiteiras. Mal se aguentam nas canelas, mas nada as impede
de ir beber o chá e destratar o criado, sim, porque elas ainda nasceram no
tempo da criadagem…
Estas velhas não se
furtam a mostrar (o smartphone tornou-se-lhes imprescindível!) as crias, a
enaltecer-lhes as virtudes e a prole, mesmo se desgarrada…
Por aqui, as velhas não
necessitam de ser velhas para se comportarem como tal: - ai, ai, já estou a
sentir uma dorzinha, ai! oh! amiga, não tem por aí um analgésico?
( Analgésico? Devo estar a cair nalguma impropriedade linguística,
lexical, em rigor, semântica…)
11.11.18
Chove, há castanha,
jeropiga, um casaco puído que podemos oferecer aos vencidos… Que mais queremos?
Chove, hoje não é Dia de
Finados, mas é como se fosse, os governantes brindam aos vencidos e aos
vencedores, e compreende-se: uns morreram mais cedo, outros mais tarde; todos
morremos…
Enquanto não chega a
hora, brindemos a São Martinho, se não houver água-pé, há certamente jeropiga
ou um malvasia, e castanha rica que outrora era dos vencidos…
Chove, vou ver se há
castanha...
10.11.18
O desenvolvimento de
produtos e serviços que sejam fáceis de usar, respondam às necessidades dos
utilizadores e tornem mais simples o acesso à tecnologia são os objetivos
principais de quem se dedica à usabilidade, mas também a inclusão de pessoas
com limitações físicas e seniores
Usabilidade.
Mais um termo arrevesado, mas a globalização impõe o neologismo... O problema é
que a Escola não acompanha; apesar da doutrina da flexibilização e da inclusão,
não é capaz de acompanhar a mudança... Talvez seja por isso que a boçalidade
alastra, pois a descrença no passado não encontra no processo de aprendizagem
as verdadeiras ferramentas que poderiam alterar os comportamentos... Porquê?
Por falta de planeamento,
de investimento, de renovação e efetiva formação do quadro docente...
9.11.18
Eles comentam sem ter
lido. Em geral, com posicionamentos radicais. Também não se esforçam para
interpretar textos. Sua leitura superficial não é somente de um escrito, mas do
mundo. Apaixonados por uma causa, ideologia ou credo, dividem o mundo entre contras
e favoráveis à sua posição. São maniqueístas. Mas quem são eles? Gilmar
Pereira, O primor da boçalidade
Não ouvem, não leem ou
leem literalmente, não têm passado nem memória, calcam os valores e só lhes
interessa o poder, mesmo que não passem de súbditos que anunciam
lugares-comuns como verdades…Claro que o alastrar da boçalidade é da maior
utilidade para quem manuseia estes novos bonifrates que, por enquanto, ainda
perguntam "Isto é fado?"
Tempo virá, no entanto,
em que nem perguntas nem comentários e o coro das lamentações crescerá. Tarde,
muito tarde…
Como tive acesso à
password de caruma, inadvertidamente acabo de me fazer passar por ela, mas tal
não tem qualquer significado nem desrespeita qualquer valor, até porque muitos
outros, antes de mim, se habituaram inadvertidamente fazer o mesmo…
7.11.18
Mesmo
se em efígie, Manuel Alegre
De modo que é chegada a
hora de enfrentar cultural e civicamente o fanatismo do politicamente correcto.
É uma questão de liberdade. Liberdade para não gostar de touradas. Mas
liberdade para gostar. Liberdade para não gostar da caça. Mas liberdade para gostar.
Algo que não se pode decidir por decreto nem por decisões impostas por maiorias
táticas e conjunturais, Não é democrático. Para mim, que sou um velho
resistente, cheira a totalitarismo. E não aceito. Manuel
Alegre_ Carta Aberta
Embora ribatejano, nunca
apreciei touradas, e quanto às artes da pesca e da caça sou uma nulidade. Li,
no entanto, a maior parte da obra de Manuel Alegre, como li a de Miguel Torga e
a de Aquilino Ribeiro... Nelas sempre encontrei a exaltação da caça, da pesca e
o respeito pelos bichos, entre eles os touros...
Compreendo a exaltação
dos moralistas do momento - o politicamente correto é intemporal, apesar de
oportunista. Por isso não vejo qualquer necessidade de queimar Manuel Alegre na
praça pública, mesmo se em efígie...
Ninguém lhe pode pedir
que abjure da obra realizada nem do combate travado contra o totalitarismo do
momento...
6.11.18
«Foi então que um
crítico, batendo com a mão na testa, (…) descobriu que a literatura devia ser
lida, tinha de ser lida. Era preciso ler. Mas ler como a virgem lê o Primo
Basílio, ler sem História, ler sem Ciência, ler sem Cultura, ler sem nada, ler
apenas. Isto constituía afinal para toda a gente um grande alívio. Os povos
carregados de História libertavam-se de um peso opressivo…» Jorge de
Sena, A Crítica Moderna e os Prazeres da Leitura, 1963, in O
Reino da Estupidez- I
Por razões profissionais,
todos os dias me debato com a pergunta colocada na fachada do Liceu Camões
sobre a cor da liberdade para Jorge de Sena... Já aqui escrevi
que Sena tinha esperança de que um dia haveria de viver em liberdade no
país em que nascera, e que a cor, acrescento eu, seria o que menos importava…
No entanto, ainda não
encontrei resposta para a questão, talvez porque não haja… O que me vem à
cabeça é inconfessável, pois o sangue derramado em nome da liberdade é outro
oceano por achar… A cor do sangue talvez pudesse satisfazer mentes menos
exigentes do que a de Sena. No meu caso, a simples ideia de que a liberdade se
deixa tingir de qualquer cor aterroriza-me - azul, vermelho, verde, preto,
amarelo… da cor do arco-íris…
Na verdade, esta recaída
só serve para interrogar o que se passa atualmente com a leitura -
muitos anos após a chegada da liberdade… Voltámos a ler como em
1963! Ler sem História, ler sem Ciência, ler sem Cultura, ler sem nada,
ler apenas…
A situação é tal que dá
vontade de perguntar qual é a cor da leitura…
Reparar é tudo!
Por vezes dar um passo,
escutar a voz distante, reparar na silhueta desgrenhada que se afunda num
caixote de lixo, é o suficiente para ultrapassar o limiar da incompreensão…
Reparar é tudo, pois
significa parar e voltar sobre si ou sobre o que se abre aos sentidos sem os
quais a razão se atola no caos dos dias…
Reparar é tudo!
4.11.18
Ontem passei por aqui,
mas não escrevi que estava no purgatório na porta de saída… sem saber se em
frente há um muro infinito que não deixa enxergar nem a Luz nem o Fogo.
Dizer mais é um
acrescento pleonástico para almas pastosas…
Ontem, a minha alma não
era de todo para ser dita.
2.11.18
Parece que ninguém sabe
nada do que se passa no país, se é que se passa alguma coisa…
O que parece é que quem
sabe prefere negociar a informação…
O que parece é que quem
governa se acobarda… e em matéria de governação, a cobardia é o berço da
descrença e da consequente radicalização.
Se quem devia saber nada
faz, a não ser elevar a voz ou assobiar para o lado, então, pouco falta para
que a estupidez se arme da velha autoridade e faça gato-sapato da democracia.
1.11.18
… e o presentismo
— quando a pessoa está presente, mas não está activa; está zombie. O
presentismo é um problema que está a assumir uma dimensão importante. Teresa
Paiva, especialista em sono
Há muitos anos,
apercebi-me que, em certas reuniões, havia especialistas em estar…
Entravam e saiam calados. Explicaram-me, à época, que se tratava de um
comportamento sábio, de quem queria evitar conflitos antigos….
Com o tempo, também eu me
habituei ao silêncio, não porque queira evitar qualquer mal-estar, mas porque
deixei de compreender o frenesim reformista de quem anda convencido de que para
trás fica o deserto e a estupidez…
Depois há aqueles jovens
a quem "basta estar"; nas palavras de Teresa Paiva, que se encontram
em modo zombie…, sem esquecer os que chegam naturalmente atrasados
porque não dormiram o necessário… ou porque as linhas andam
desorientadas…
Finalmente, lido
diariamente com quem, porque «nunca dorme», procura a todo o custo passar os
dias a dormir.
Tudo somado, parece-me
que o problema é outro: resulta da dificuldade de adaptação a uma realidade
voraz…
30.10.18
Em Lógica, diz-se da
dicotomia que é «a divisão de um conceito em dois outros que abrangem toda a
sua extensão.»
Esta nota surge de uma
dúvida: - A partir de que idade é que podemos exigir a alguém que conheça o
significado do termo "dicotomia"?
E a esta dúvida
acrescento uma outra: - Em contexto escolar, quando e em que áreas
disciplinares é que o conceito é explicitado e exemplificado?
Finalmente, num tempo de
acentuada polarização política, o que fazer com aquela parte da humanidade que
anda a dormir na forma?
29.10.18
Jair
Messias Bolsonaro, a solução messiânica
Bolsonaro, que nome
estranho!
Jair Messias Bolsonaro,
descendente de famílias italianas, vai tomar posse como presidente do Brasil no
dia 1 de janeiro de 2019.
Provavelmente, os
brasileiros votaram não no Bolsonaro, mas no Messias. E se foi o
caso, até compreendo: a culpa é dos sebastianistas que colonizaram o Brasil e,
sobretudo, do Encoberto, que, pelo que se pode agora entender, se terá
refugiado em terras de Itália…
Italianos e portugueses
sempre revelaram inclinação para as soluções messiânicas! Aos brasileiros,
pouco mais restava… a não ser o Lula messiânico…
28.10.18
Interrogo o infinito e às
vezes choro…
Mas, estendendo as mãos
no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à
liberdade.
Antero de Quental
No Soneto EVOLUÇÃO, o
Poeta, apesar da descrença, confessa que só a LIBERDADE é o seu caminho.
Falta pouco para saber
se, na cadeia da evolução, o homem brasileiro prefere regressar à
caverna…
27.10.18
Aquilo que incomoda é o
vento frio que se levantou manhã cedo…
O resto é de somenos
importância como se a Luz se tivesse obnubilado. Tempos houve em que o Poeta
compunha hinos à Razão, em nome da Liberdade…
Hoje, a Razão descrê da
Liberdade… prefere as grilhetas da Caverna!
Hoje, se não entenderem a
mensagem não faz mal. A culpa é do vento frio que alvorou… Amanhã, para me
desafiar, talvez o povo (brasileiro) consiga provar-me que é mais do que uma
massa inorgânica, para quem a Luz continua a brilhar…
26.10.18
A
violência e a corrupção no Brasil
Não é possível ignorar o
que está a acontecer no Brasil, embora não se saiba ao certo qual é a causa
primeira.
Dizem-me que é a
violência que elimina diariamente, pelo menos, 165 pessoas. É provável que esse
factor seja decisivo, no entanto, não se deve descurar a violência provocada
pela acentuada desigualdade social resultante da corrupção que infesta partidos
políticos, seitas religiosas e todo o tipo de organizações nacionais e
transnacionais…
Ao contrário do que
defende a classe política portuguesa, a corrupção não é um mal menor; esta não
é separável da violência, até porque os mentores e os agentes sãos os mesmos…
O que se passa no Brasil,
tal como o que acontece nos Estados Unidos da América, deve ser interpretado
como um aviso para quem, convenientemente, insiste em separar a corrupção da
violência.
25.10.18
Perguntam as velhas:
- Se o CDS e o PSD regressarem ao Governo, será que contarão todo o tempo de
serviço aos professores e aos restantes funcionários públicos abrangidos pelo
malfadado corte?
Perguntam as velhas:
- Quando é que ficamos a saber quem é que roubou o material militar em Tancos?
Perguntam as velhas:
À data da aprovação do OGE 2019, qual será o montante da dívida do Estado?
Estas velhas, apesar de
decrépitas, temem que andem a ser enganadas pelos partidos (e pelos militares),
e que tal faça parte de uma estratégia para as fazer regressar à infância, o
que, em teoria, não seria mau, não fosse a miséria material e espiritual em que
cresceram…
24.10.18
Dizem-me as velhas que é
preciso poupar nos passos. E eu concordo, até porque há sempre um coelho à
espreita…
Dizem-me as velhas que o
melhor será vê-los pelas costas. E eu desconfio, é que estas velhas ainda
nasceram no tempo dos fascistas…
Dizem-me as velhas que há
que escolher entre os democratas e os fascistas. E eu não teria qualquer dúvida
não fosse os democratas terem criado as condições para o ressurgimento do
fascismo…
23.10.18
Elas nem eram assim tão
velhas, no entanto, pareciam pardas, um pouco encardidas… a água não corria da
torneira, era preciso ir buscá-la à nascente, e só com a chegada do Outono
(maiúsculo) o céu escurecia em promessa de trovoada…
São essas velhas, do
antigamente, que, agora, me lembram que o Outono tem Voz - como bem lembrou
Antero de Quental - uma voz arrependida de ter vivido na Ilusão, rendida a uma
Beleza etérea… quando a Natureza lhe apontava o caminho das pedras, o caminho das
cabras, talvez até o caminho do moinho, onde a mó cumpre naturalmente a sua
função, longe de atalhos e de véus translúcidos…
Talvez por ser Outono,
estas velhas são únicas, nunca conheceram o Inverno, o mesmo será dizer que,
pardas e um pouco encardidas, continuam longe do Inferno…
22.10.18
Como é que se pode
proibir o que já era proibido? Como é que se pode
ter opinião sobre o que não se compreende? Como é que se pode viver sem
aprender a ler?
De facto, chegámos a um
ponto em que, abolida a sanção, tudo é permitido.
Desde que a opinião
começou a abrir caminho, o fundamental nunca foi a compreensão, mas, sim, a
substituição de dogmas anacrónicos por interesses inconfessáveis, individuais
ou coletivos…
Lá no fundo, é possível
viver, basta não pensar.
21.10.18
A
cadeia de comando na Barataria
As velhas só se sentam no
mesmo banco uma ou duas vezes por mês. Têm mais que fazer: substituir os filhos
e tratar dos netos, ir à igreja e aos correios, sem esquecer a mercearia de
bairro onde as novidades são mais que muitas…
Por exemplo, nos últimos
dias, gastaram mais tempo na mercearia, porque alguém se interrogava sobre
"a cadeia de comando".
Alguém defendia que não
era possível que o Presidente ignorasse quem é que tinha assaltado o Quartel em
Tancos, o que é que tinha sido roubado e como… Afinal, o Presidente era o Chefe
Supremo, dispunha de vários Serviços de Informações. O próprio Governo não
poderia deixar de o informar e até a Procuradoria encontraria forma de o
esclarecer.
A não ser que a
"cadeia de comando" também tivesse sido minada e aí o Presidente
deixaria de ser Chefe Supremo… ou melhor, continuaria a sê-lo, mas da
Barataria…
20.10.18
O céu é das velhas porque
lhes basta um banco. Se fosse dos velhos, seria necessário acrescentar uma
mesa, de preferência, de pedra…
No céu das velhas, as
sensações escasseiam e os pensamentos andam arredios, como convém a quem
prefere evitar os cascos dos deuses…
Basta-lhes a palavra
lenta e hesitante sobre o ladrão que devolve as armas, tão velhas como elas, e
nada acrescenta sobre aquelas que, no fio dos dias, partiram para novas
guerras…
As velhas já não ligam a
inventários, mas custa-lhes acreditar que aquelas armas chamuscadas sejam as
que foram desaparecendo dos paióis do reino…
As velhas pensam cada vez
menos, mas estão, por ora, entretidas com um velho vieira da silva que anda a
brincar com as velhas e os velhos deste país… No entanto, estes velhos
narcisistas têm o que merecem, pois se imaginam eternamente jovens...
19.10.18
Não sei se o diga, se o
sugira, se o omita… Pouco importa, outros já o disseram, o sugeriram, o
omitiram…
De qualquer modo, penso-o
e calo-o… Temo, todavia, que já esteja disponível um registo do meus silêncios…
Um destes dias, ainda vou
ter de pagar, o que não é grave, pois já pago todos os dias…
(Ontem, ainda havia
ruído. Hoje é só silêncio!)
18.10.18
A Sorte (boa ou má)
instalou-se de tal modo na nossa mente que facilmente aceitamos que ela decida
por nós.
Quase toda a Literatura a
privilegia, embora sob roupagens várias - do Fado à Fortuna, sem descurar a
Sina, a Moira e o Destino… - e nós embarcamos na fantasia de ocultar os
verdadeiros fautores, em nome de códigos manhosos.
Vem o desabafo a
propósito de quê?
Por exemplo, a propósito
daquela inglesa que foi violada no Algarve e cujo violador acaba de saber que
por 2.000 euros até terá valido a pena…
Por exemplo, a propósito
da encenação levada a cabo pelo Governo e seus apoiantes em torno da
aposentação dos (chamados) grandes contribuintes ou em torno dos aumentos da
função pública… ou em torno do descongelamento das carreiras… ou do aumento dos
pensionistas…
A Sorte é uma raposada!
16.10.18
(Sem ponto de
interrogação. Não se trata de saber se a liberdade tem cor. Mas de viver em
liberdade…)
Não hei de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Jorge de Sena (1919-1978)
Testemunho:
Lembrava-me de um poema
já antigo dele, anterior ao seu exílio. O poema tinha a data de 9 de
Dezembro de 1956, quando o poeta acabava de fazer 37 anos, vivia ainda em
Lisboa como engenheiro e se preparava, a convite do British Council, a se
deslocar temporaneamente à Inglaterra, para um estágio sobre betão armado.
Luciana Stegagno Picchio
15.10.18
A verdade é que eles não
querem saber, e não se importam de desperdiçar um tempo precioso… Até porque
pensam que a glória não lhes escapará… Basta estar!
À dificuldade dizem não;
preferem abrir um link e regurgitá-lo na hora aprazada. O
trabalho intelectual não lhes causa dor; é apenas uma maçada…
Os textos perderam a
autoria (cansa inquirir a referência); verdades ininteligíveis e enfadonhas
sobre almas perdidas…
Deixemo-los estar!
14.10.18
Não
basta ter sido uma criança mais ou menos afortunada...
Há dois ou três dias,
perguntaram-me o que era uma varinha de condão e eu, que nunca fui muito dado
ao mundo da fantasia, não consegui esconder a minha surpresa… Respondi que o
melhor era o "menino" ir investigar…
Entretanto, lembrei-me
que, na minha infância, me familiarizara com a varinha de vedor - o meu avô
materno era um dos mágicos do lugar que conseguia com uma vara bifurcada de
oliveira detetar a presença de água…
De qualquer modo, o tempo
da varinha de vedor, creio, que já venceu, pois há, hoje, ferramentas de
deteção mais fiáveis. O mesmo não terá acontecido com a varinha de condão ou
com a varinha mágica. Basta entrar na secção de brinquedos de uma grande superfície
comercial para a ver um pouco por todo o lado…
Pensava eu que bastava
ter sido uma criança mais ou menos afortunada para compreender enunciados do
tipo:
«A inteligência lembra
uma varinha de condão…»
«A mesma varinha,
porém, por um uso intenso e persistente, acaba por esvaziar de realidade as
coisas…» Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e Unidade em
Fernando Pessoa…
Em suma, antes de
compreender o paradoxo pessoano, lá terei que regressar a uma infância que não
foi minha, e gastar algum tempo a explicar o contributo de Jacinto Prado Coelho
para a interpretação da obra de Fernando Pessoa…
Mas como o tempo de
atenção é extremamente curto, provavelmente não sairei da loja de brinquedos…
13.10.18
As televisões, a esta
hora, digladiam-se pateticamente à procura de imagens de infortúnio. Será em
nome do serviço público ou de audiências?
A RTP1 mobiliza todos os
recursos tecnológicos e humanos. E os repórteres não poupam nas palavras:
prometem agravamento para as próximas horas…
Esperemos que o (a)
Leslie não lhes falhe! E que nos deixe dormir tranquilamente!
Por enquanto, o coro das
incriminações ainda não se consegue ouvir. No entanto, se a ventania se
levantar...
12.10.18
Não sei se Sua Excelência
ficou contente ao tomar conhecimento da demissão de um dos pingarelhos mais
sisudos do Governo…
Eu não posso ficar
indiferente, pois a notícia esclarece que o "pingarelho se demitiu".
A decisão só podia ser sua, afinal, pois esse é um traço específico da espécie
a que pertence…
No caso deste pingarelho,
por ora demitido, confesso que não sabia que a sua "arrogância" tinha
fundamento. A polícia judiciária militar (PJM) não respondia às chefias
militares, mas ao pingarelho da Defesa.
A subtileza da questão
está em que Sua Excelência, Chefe Supremo das Forças Armadas, deveria, lá no
âmago, sentir-se diminuída sempre que se lembrava que no Governo da Nação havia
um pingarelho que se ufanava de andar mais bem informado, ao ponto de saber que
houvera um roubo que nunca o fora…
11.10.18
Há
quem não goste do termo 'pingarelho'
Bem sei que há quem não
goste do termo 'pingarelho' e que acredite que esta personagem está em
extinção, não sendo digna de figurar em qualquer dicionário da especialidade…
No entanto, esta espécie
é muito mais visível do que a cigarra… Em trinta segundos, eu consigo
visualizar 'pingarelhos' nos Ministérios, no Parlamento, nas Autarquias, nos
Partidos, na Magistratura, no Ministério Público, nas Forças Armadas, nas
Universidades, nas Igrejas, nos Sindicatos, nos Clubes de Futebol, nos
Hospitais, na Comunicação, dita, Social…
Esgotei os trinta
segundos…
10.10.18
Quero primeiramente
esclarecer que a noção de competência corresponde a uma
combinação de conhecimentos, aptidões e atitudes adequadas ao contexto. (Isabel
Simões Dias, Competências em Educação…)
O pingarelho é competente
discursiva e comunicacionalmente, embora, por falta de conhecimento, não tenha
nada a informar.
A relação de interlocução
do pingarelho é fácil, pois as armas a que recorre são as da estupidez…
O pingarelho revela um
raciocínio lógico, pois, axiologicamente, o mundo divide-se em Bem e Mal, em
Verdade e Mentira. Para o pingarelho, os demónios do Mal e da Mentira devem ser
combatidos com recurso às armas mais mortíferas.
O pingarelho mostra-se
confiante nas outras pessoas, desde que estas o sigam submissamente.
O pingarelho é um
gramático extremamente competente, porque manipula as regras como ninguém. A
sua felicidade maior é ordenar os homens e a natureza, vendo-os como nós de uma
engrenagem em que as exceções são inadmissíveis.
No mundo do pingarelho, a
competência estética é extremamente perigosa a antissocial.
O pingarelho odeia a
cultura e a ciência, a não ser a da submissão e a do extermínio.
O pingarelho não é
recuperável, porque a competência é de ordem interna, e a
educação, para o pingarelho, só é aplicável ao rebanho.
(Os pingarelhos crescem
mais facilmente em ambientes abúlicos e niilistas.)
9.10.18
Leio certas notícias,
volto-as do avesso, não para distinguir as verdadeiras das falsas, mas para
lhes apreciar a cor - sobre o amarelo cresce o branco a transformar-se
numa crosta esverdeada, azulada - a diluir-se numa aguadilha
nauseabunda…
Neste lugar húmido e
escuro, a notícia é, agora, fungo à solta, que, expressão de uma moral
castradora e autoritária, se prepara para estrategicamente aniquilar o que
resta da democracia…
Chega de pingarelhos!
8.10.18
A História não se faz
projetando no passado os juízos morais do presente. Jorge
de Sena
Desnorteada, a moral
abriu caça às bruxas, o que conduz a um ajuste de contas permanente.
O problema é que a moral atual já não corresponde ao sentimento de uma
comunidade... e, como tal, a própria comunidade corre o risco de se tornar na
maior vítima de interesses inconfessáveis.
Por aqui (espaço urbano),
não há eucalipto que escape!
7.10.18
A
lógica de Recep Tayyip Erdoğan
O Presidente da Turquia,
Recep Tayyip Erdoğan, declarou esta semana que “não pode haver democracia com
meios de comunicação social” porque estes não refletem o que pensa o povo. “Se
há um povo, há democracia. Se não há um povo, não há democracia. Com os meios
de comunicação e essas coisas, não pode haver democracia”, afirmou Erdoğan na
quarta-feira, ao discursar em cerimónia de inauguração do novo ano escolar na
Turquia. Os meios de comunicação social e outras coisas…
Argumentário do ditador
educador
- O povo pensa, como entidade coletiva,
imaculada e iluminada.
- A democracia é a expressão política
do pensamento do povo.
- Os povos são todos democráticos.
- Os meios de comunicação social e as
redes sociais corrompem o povo.
- Os políticos, para executarem a
vontade popular, não podem ter medo da comunicação social…
- A nova democracia turca baseia-se na
relação direta entre o líder (Recep Tayyip Erdoğan, o
intérprete) e o povo.
Consequência:
"Os meios de comunicação social e essas coisas" devem ser todos
extintos.
6.10.18
Pois é, o dinheiro!
Parece que já não compra tudo… Basta um cruzado para dar cabo do negócio!
Por este andar nem o Papa
se salva.
Numa curta ou uma longa
vida, há sempre uma piscadela de olho, uma escapadela, um gesto
insensato…
Tempos houve em que os
cruzados se contentavam com indulgências mais ou menos principescas. Só que
hoje, a fome de vingança é absoluta - não descansa enquanto não devora o
carrasco e a vítima, sob o olhar cúmplice da populaça.
5.10.18
O Presidente da República
saudou esta quinta-feira os pioneiros que proclamaram a República em Loures a 4
de outubro de 1910 e pediu que se mantenha viva a democracia "mais com
obras do que com palavras", constantemente.
A Serpente, de tão
inteligente, antecipou a proclamação da República portuguesa. Este simples
facto obriga-me a pensar que não terá sido Deus a criá-la. Então, quem foi?
Talvez o Presidente
Marcelo Rebelo de Sousa saiba…
E como, em matéria de
criação, a inteligência é um requisito essencial, estou sem saber por que
diacho se insiste em fazer as comemorações no dia 5. Será por vaidade ou por
burrice?
Até porque aparecem
sempre os mesmos...
4.10.18
O tempo está de tal
feição que o próprio Diabo deixou de abanar o rabo e decidiu confessar que,
também, ele sofreu, desde que a serpente seduziu a Eva, todo o tipo de calúnias
e de sevícias…
De acordo com certos
comentadores, o próprio Deus, cujo papel nesta história é cada vez mais
suspeito, pois nunca desmentiu que tenha criado a serpente, corre o risco de
vir a ser julgado e, definitivamente, eliminado…
… a não ser que decida
acabar com o estado depressivo em que deixou cair o mundo, pois, já que o
criou, deve saber como desfazer-se dele.
Ao 7º dia, poderá
descansar, livre de serpentes, diabos, maçãs, parras, véus, saias, batinas,
chicotes e outros cilícios que não vale a pena enumerar… De qualquer modo, se
tiver perdido a ousadia, basta eliminar o dinheiro...
3.10.18
É isso! Falta imaginação,
criativa… apesar da outra, fantástica, grotesca…
De raciocínio murcho,
preferimos a imitação.
Do quê, pouco interessa
desde que queimemos o tempo…
Em todo lado, mesmo na
variação, se repete o amuo, o arrufo, o boato, o êxito…
Golpeados pela imagem,
sobre a falésia, esperamos que a onda suba…
2.10.18
Informa a estatística
que, desde abril de 2006, já aqui postei 3316 "posts", que são o
corpo da CARUMA… Depois desta Caruma, muitas outras surgiram mais briosas e com
maior proveito…
De certo modo, esta
CARUMA feneceu quando a mobilidade cedeu o passo ao sedentarismo. Por preguiça
ou por saudosismo o blogue continua, permitindo apontamentos despretensiosos,
pessoais ou alheios…
Hoje, aproveito para
homenagear as Antigas e Novas Andanças do Demónio, de Jorge de
Sena:
«à beira de água, as
praias, de estreitas são apenas uma ligeira caruma do oceano -
que as transporta misteriosamente escondidas na limpidez das ondas.»
Na mesma 'andança',
assinala uma ideia de que me permito trazer aqui, assegurada a devida
distância:
«Talvez porque não
eram meus, raras vezes, em pequeno, me demorei perante os grandes mapas murais
da escola ou do liceu. Poucos desses mapas não falavam. Havia na minha escola,
uma caixa vertical, de onde eles emergiam, ficando suspensos depois como de uma
forca, e onde podiam mergulhar de novo, para que outros subissem, era um eterno
retorno arbitrado pelo desenvolver-se do programa escolar.»
Na minha escola de
outrora, não me lembro de nenhuma caixa vertical, mas a ideia da forca e do
cadafalso não me é estranha, só que o enforcado era eu se me esquecesse dos
afluentes dos rios e das serras, sem esquecer as linhas férreas com estações e
apeadeiros…
No caso do Jorge de Sena,
talvez ainda esteja a tempo de verificar se no Liceu Camões há vestígios das
caixas verticais… antes que as obras comecem.
Que Belzebu não
atrapalhe!
1.10.18
Eis aqui a Igreja
neopentecostal "Bola de Neve Church" fundada em S. Paulo, em 1999,
pelo apóstolo Rina, pastor, surfista, formado em marketing…
Objetivo pastoral:
plantar o maior número de igrejas no menor tempo possível.
Para que conste, descobri um desses templos no bairro do Cristo-Rei, bem
pertinho do Seminário dos Olivais e da Igreja católica do Cristo-Rei...
A verdade é que me sinto
espiritualmente confortado, até porque já falta pouco tempo para a inauguração
da "Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias" (Igreja
Mórmon), no Parque das Nações, em frente do Mercado de Moscavide...
30.9.18
Amanhã, vou trabalhar,
como sempre fiz, porque no lugar onde nasci a maioria era analfabeta… Embora,
oficialmente, o analfabetismo seja residual, ponderadas as atuais
circunstâncias, não vejo qualquer motivo para alterar o meu comportamento.
Não sou traidor, porque
nunca aspirei a fazer parte de uma classe… Até porque, no caso presente, não se
trata de luta de classes, mas, sim, de radicalização de posições prejudicial a
muitos que a abraçam…
No meu caso, o silêncio
seria mais cómodo. Prefiro, no entanto, explicar que o meu compromisso sempre
foi com os alunos e sempre será.
29.9.18
Quando se enfurecia, a
voz tonitruava, ouvia-se bem longe. Todos o conheciam pela voz assustadora,
cheia de promessas de vergastadas…
Era baixote, atarracado,
trabalhava de sol a sol, mas a terra árida não lhe multiplicava o grão nem lhe
devolvia as palavras - seguia um plano de que ele não era parte.
Só a vergasta o acalmava.
Quando ela desabava sobre a vítima, ninguém mais o ouvia. Só um silvo
repercutia…
Porquê? Não sei. Temo, no
entanto, que da voz já só me sobre o silvo, mesmo quando ela se enfurecia
porque a terra árida seguia um plano de que ela, por culpa própria ou alheia,
não fazia parte.
Há dias em que a terra é
toda árida!
28.9.18
Quando me falou de olhar
o ensino a partir das crianças fiquei com a ideia de que ia falar-me de
competências e de vocações...
Sim, há para mim um
aspecto fundamental que é este: vivemos perturbados e preocupados com a
necessidade de gerar competências, competências, competências. E não nos damos
conta de que encharcamos as crianças de tal maneira com competências que nunca
chegamos a saber quais são as suas capacidades. Ora a escola tem um
período inicial, que pode ser de anos, deve ser de anos, em que
fundamentalmente o importante deve ser soltar as capacidades máximas de cada
criança. E agora que eu conheço a capacidade máxima de cada criança, então sim,
introduzo as competências. Como é que vou saber as suas capacidades?
Distinguindo competência do conhecimento. Conhecimento, até há pouco tempo,
estava ligado a uma certa universalidade do saber. Hoje, o conhecimento está
muito ligado à sociedade de inovação, à criação de valor, portanto, muito
comprometido com uma sociedade tecnológica. Mas o conhecimento mais global,
mais universal, é fundamental para desenvolver as capacidades, e quando
confundimos conhecimento com competência ou o entalamos dentro desta ideia de
sociedade de inovação, entulhamos as crianças com coisas que não lhes dizem
nada e deixamos de ser capazes de compreender as suas capacidades. Desenvolver
as capacidades de uma criança é um dever que qualquer pessoa ligada à escola e
à educação. A seguir vamos trabalhar o conhecimento, que já permite desenvolver
pensamento crítico, escolher.
Se Laborinho Lúcio tem
razão, isso significa que, ao entrar no ensino secundário, cada aluno já deverá
ter consciência das suas capacidades… isto é, cada aluno levará consigo um
registo das suas capacidades, competindo ao professor colocá-lo em situação de…
Fazer o quê?
25.9.18
Hoje, iniciei o dia com
uma ideia que fez o favor de se evaporar.
Atravessei a cidade
segundo um plano subterrâneo inexplicável para quem a percorre quotidianamente
à superfície, mas perfeitamente aceitável para quem se habituou a viajar de
metro…
Hesitei em saudar Mário
de Carvalho por ter chegado aos 74 anos. Afinal, há certos gestos que o
Facebook insiste que realizemos, independentemente da distância a que vivemos.
Descobri que Fernando
Pessoa escolheu o dia de 1 de abril para anunciar que «o poeta é um fingidor.»
Admirável sentido de humor!
Conclui que 'ao espalhar
por toda a parte' a memória 'daqueles que por obras valerosas / Se vão da lei
da Morte libertando', Camões assumiu definitivamente o papel de mediador,
sem o qual o mérito teria o mesmo destino que a ideia matinal
E depois, há aquelas
Autoridades que ninguém reconhece como tal - Harold Bloom, Eduardo
Lourenço…
23.9.18
Não vou abdicar, nem
reformar-me, nem a enterrar (espero), vou apenas poupar as palavras de tão
vulgares que elas circulam. Por isso não estranhem a minha ausência.
Regressarei se houver
algo de nobre a acrescentar.
De momento, sinto-me
cansado de tergiversações - da moleza mental que medra nas redes sociais.
22.9.18
Apesar de tão viajado, de
tão condecorado, quem é que se lembra dele? Caído no esquecimento, a contas com
uma cunha pacóvia, regressou agora, zangadíssimo com a plebe do Rio, declarando
claramente que se recusa a mergulhar com eles, porque são «pacóvios
suburbanos».
O uso do valor restritivo
do adjetivo 'suburbano' leva-me a pensar (?) que o diplomata não quis
deliberadamente referir-se àquela gente de origem obscura que, de tempos a
tempos, assalta a grande metrópole, em nome de sombrios valores
ancestrais.
21.9.18
Martins
da Cruz abandona os pacóvios do PSD
António Martins da Cruz
disse: “Não me revejo em pacóvios suburbanos”.
Diga-se de passagem que a
vida do PSD nunca me entusiasmou, embora não me seja indiferente, até porque o
país muito sofreu sob a batuta de Cavacos, Durões, Santanas e Coelhos…, alguns
deles zelosos pacóvios…
O que me espanta é que o
ilustre alfacinha Martins da Cruz só agora se tenha apercebido da existência de
pacóvios no PSD até porque serviu o "filho de Boliqueime" mais do que
uma década…
A verdade é que é difícil
encontrar um pacóvio que tenha sido tão condecorado como ele. Pelo menos, 25
condecorações!
Porque será que levou
tanto tempo?
20.9.18
«- Quem tem poder, se tem
poder, quer que o vejam.
- Porque a política é um
espelho - disse o outro. (…)
- Mas
o espelho está sempre presente - disse o outro. (…)
- A verdade é que um
espelho é a televisão - disse o caixa.
- Exato - disse o outro.
Um espelho que guarda as caras.
- Tem-nas todas lá dentro
e quando nos olhamos vemos a cara de outro.»
Ricardo Piglia, A Cidade Ausente
Quando os estímulos
exteriores são muitos, recolho-me na leitura. Só que ela devolve-me o circo…
Por mais que faça, não escapo à greve dos enfermeiros, à paralisação dos
taxistas, à lição do Professor Marcelo Rebelo de Sousa.
Todos eles se movem na
«caixa», alardeando poder. Todos eles «estão ali» à espera da minha sujeição,
do meu reconhecimento…
Neste setembro, os
plátanos continuam com as mesmas virtudes e os mesmos defeitos, embora sob
dupla ameaça - ou os arrancam e a obra avança, ou a obra é adiada, apesar do
verdadeiro motivo ser outro.
Tudo se mantém, à exceção
de quem deles se ocupava abnegadamente - está de partida…
19.9.18
Não sei se todos procuram
a notoriedade, mas desconfio que sim. O caminho é que parece não oferecer
dúvida desde que seja mediático.
Não duvido das suas
capacidades - nem as quero avaliar -, mas desconfio que estão convencidos de
que pouco serve esforçarem-se, de que o mérito já teve melhores dias, apesar de
não quererem saber quais…
Embora alguns saibam que,
n'Os Lusíadas, o Poeta vivia amargurado porque os homens do seu tempo
nenhum valor atribuíam ao empenho (e desempenho) dos seus antepassados, a
verdade é que a glória abonada pela ociosidade, pelo saque e pelos privilégios
lhes parece natural…
A imagem tem hoje um tal
estatuto que os anjos sem rosto já nem necessitam de penumbra.
No olimpo das nossas
retinas e dos nossos tímpanos, há cada vez mais famosos da Hora - sorriem, dão
gritinhos agudos, silabam contentamentos fúteis e mesquinhos...
18.9.18
Não sei se o problema é
das calças, se é do sapateiro, se de ambos. No entanto, compreendo que o melhor
é esquecer o protocolo, enviá-lo para o museu. A bem da nação, a Sul, o
protocolo é colonialista…
O que interessa são os
negócios do futuro, de preferência, que os do passado ainda eram resquícios da
exploração colonialista.
Vamos lá alinhavar uma
parceria fraterna, em que a razão seja determinada pela emoção, esquecendo o
ensinamento do Poeta que, apesar da sua experiência austral, nos quis convencer
que o coração só servia para entreter a razão…
Por aqui, o problema é o
de sempre! Continuamos a viver no Paço...
17.9.18
Nem a cretinice mata a
esperança, nem a desilusão me faz perder a razão. Claro, há enganos, alguns
piedosos. Compreende-se que os olhos só vejam o que a vontade lhes ordena - o
empirismo pode ser demolidor…
Claro que esta manhã não
seria igual a si própria sem um pouco de empáfia - reiterada. E sem os
ruminantes costumeiros, sem esquecer os inomináveis…
De tudo o que fica, só a
saúde vale a pena. O resto é empréstimo a fundo perdido, embora não saiba se
alguém avisou o Costa - talvez, a mãe. Mas quem ouve as mães?
16.9.18
A
mentira do SOL e a verdade de João Costa
«O TALIS é um
inquérito respondido diretamente por professores e diretores sobre condições
para o exercício da profissão docente: desenvolvimento profissional, ambiente,
condições de trabalho, liderança, gestão, carreiras, etc.» (João Costa)
A mentira assenta na arte
de empastelar; a verdade, na arte de responsabilizar os inquiridos. Afinal,
eles é que fornecem os dados errados...
E os professores
continuam a marcar passo, tal como o país…
Hoje, informa-se primeiro
e investiga-se depois, caso a mentira seja descarada… Por seu turno, os
governantes persistem no erro de pensar que nos deixamos iludir com qualquer
estatística levada a cabo por aprendizes de sociólogo e de linguista...
15.9.18
«É difícil saber-se se
uma pessoa é inteligente ou se é um imbecil a fingir que é
inteligente.» Ricardo Piglia, in A Cidade Ausente
A fingir sem nada criar. Quem
cria é inteligente! Como diria Pessoa, é um fingidor. Mas este é exceção.
Temos assim dois tipos de
fingidores: um inovador; o outro impostor… O último, por vezes, age
involuntariamente, segue a mediocridade do meio, acreditando que o modelo é
suficiente - bastará copiá-lo para poder singrar…
Estou de regresso à
tarefa de fingir que sou capaz de distinguir, para além da carapaça, os
criativos dos imbecis. Para o efeito, mais do que ver, vou necessitar de ouvir
atentamente, sem me deixar iludir por essa cascata de ouropel que nos cerca...
14.9.18
Ricardo Ferreira, que foi
assessor do antigo ministro da Economia Carlos Tavares, considerou hoje
"natural" e não ter "nada de mal" ter saído do Governo para
a EDP em 2005.
Com tal conceito de
"mal", o que não é "natural" é ter integrado um Governo de
Portugal…
O problema começa no modo
como se "entra" para a política sem ter aprendido a distinguir o
"bem" do "mal", a "verdade" da
"mentira"... Em termos de 'educação para a cidadania', estes
conceitos deveriam merecer particular atenção…
Nem sei por que motivo
dou atenção a este tipo de declarações, mas irrita-me que as consideremos
"naturais" e que não tenham "nada de mal"...
13.9.18
O pedido de liberdade
condicional da investigadora Maria de Lurdes Lopes Rodrigues, presa por crimes
de difamação e injúrias a magistrados, foi rejeitado pelo Tribunal da Relação
de Lisboa.
Não conheço a senhora nem
sei se ela terá agredido fisicamente algum magistrado, estranho, contudo, que o
Tribunal da Relação não aceite o pedido - gostava de conhecer a argumentação.
Num país onde tantos
casos lesivos do interesse público continuam há anos por decidir, onde tantas
penas continuam por aplicar, não compreendo a mão pesada do Tribunal da
Relação, independentemente de os magistrados injuriados terem direito ao bom
nome...
12.9.18
«Uma consciência
histórica do mundo não faz parte do Mito Americano - que, por orgulho de Povo
Eleito, não pode deixar de desconfiar de que a História como tal é por certo
uma invenção suspeita, uma malignidade peculiar ao Velho Mundo para envenenar a
América, impondo-se como passado a ela.» Jorge de Sena, in Os
Americanos e a História, e Portugal,1969.
Ler este ensaio esclarece
quanto à natureza do pensamento do atual Presidente dos Estados Unidos. Para
Trump, o passado identifica-se com o Mal. Como um entrave à execução do seu
sonho… Ele fez-se eleger para cumprir o seu próprio destino…
Estas considerações podem
parecer absurdas, mas o mesmo se passa atualmente em Portugal, um país sem
História, que é necessário tratar como uma criança. É necessário mimá-lo,
ensinar-lhe os mínimos (aprendizagens essenciais), sem ir além do «racional específico»,
isto é, ignorar a História e maltratar todos aqueles cuja função é assegurar a
ligação ao passado e abrir as portas do futuro.
No entanto, em Portugal,
ao contrário do que acontece nos Estados Unidos da América, esse trabalho é
delegado nos pasquins de serviço…
Se não perceberem o
título, recomendo a leitura do Despacho n.º 8476-A/2018, de 31 de
agosto.
Cheira a Estado Novo, mas
por salutar ignorância…
11.9.18
De acordo com um novo
relatório da organização não governamental Human Rights Watch, a China
está a instalar códigos QR nas habitações de muçulmanos Uigures. O objetivo é
ter acesso imediato a dados pessoais dos seus moradores e controlar as suas atividades.
O que é um Código QR?
Os QRs (quick response
codes ou códigos de resposta rápida) são gráficos 2D que permitem aceder ao
conteúdo de páginas WEB, através da captação de imagem. O link para as páginas
WEB é acionado automaticamente quando a imagem é captada por um smartphone,
tablet ou computadores com webcam, desde que equipados com aplicações de
leitura e acesso à Internet.
Peço desculpa pelo abuso
de citação, mas a verdade é que me sinto cada vez menos livre. Não é que eu
tenha alguma coisa a esconder, mas pela notícia parece que todos escondemos
algo que pode ser aproveitado para nos condicionar, seja pelas empresas, seja
pelos estados, seja por todo o tipo de organizações…
Sinto-me cada vez mais
infoexcluído e, ao mesmo tempo, compreendo que essa exclusão será fatal a todos
aqueles que abdicarem do conhecimento ou que se deixem manipular pelos
pregadores das velhas utopias.
Já não se trata de
recusar certas ferramentas, mas, sim, de aprender a utilizá-las para podermos
responder… Depois da nota social, Caruma 26.3.2018, a China volta a
atacar...
9.9.18
Matagosa
Há dias em que basta
levantar cedo, sair de casa e caminhar sem objetivo expresso, a não ser
observar o que a Natureza nos prepara…
Este é um desses dias em
que a Natureza ensimesmada se debruça sobre si própria e nos deixa extasiados…
A nós a possibilidade de
registar o momento de uma escrita única que nem o pintor será capaz de
reproduzir.
8.9.18
Pouco há a dizer. Terra
ardida, terra esquecida ou rapidamente coberta por novos eucaliptos…
Em termos de negócio,
compreendo a opção. Só não entendo é porque não são criadas zonas interditas,
por exemplo, de um dos lados das vias rodoviárias - bastariam 500 metros limpos
de qualquer vegetação para criar zonas de interrupção do fogo e de proteção de
pessoas, casas, estradas…
A sensação com que fico é
que os nossos governantes deveriam ser obrigados a viajar, por exemplo, na N2,
uma ou duas vezes por ano, como propunha Almeida Garrett ao defender a lei da
responsabilidade política.
E já agora os senhores da
ALTICE deveriam acompanhá-los para perceberem que a oferta da empresa é
extremamente deficiente em tempo normal. O que dizer em tempo de fogos?
7.9.18
Se eu me chamasse Julio
Cortázar, sonharia que era albufeira… e até árabe. Até, talvez, fosse a
lagartixa que se esconde no mato ou o gafanhoto que esvoaça sobre o arbusto -
nenhum deles parece interessado em entabular conversa…
Este tipo de metamorfose
só é verosímil no pretenso sonho de um argentino a viver numa metrópole
europeia, Paris, de preferência…
Na albufeira há, no
entanto, vida para além do sonho - uma vida audível, embora não visível mesmo
tendo descido até à margem.
Se esta noite eu descer
às escuras, talvez o sonho se desfaça...
6.9.18
Albufeira, em Matagosa
Para aqui chegar foi
preciso atravessar um extenso território repleto de jovens eucaliptos.
Daqui a três anos, não
haverá casas queimadas, apenas os incautos que circulem na N2.
Alerto desde já que a
Altice não cobre devidamente esta zona do concelho de Vila de Rei.
5.9.18
Da ferrovia, passando
pela floresta, pela banca e pelo futebol, à saúde e à educação, não
vale tudo.
Assistimos
permanentemente à destruição de instituições e de serviços, e já nos habituámos
a aceitar o seu desmoronamento, sem punir de forma célere e exemplar aqueles
que se alcandoram a lugares para que não têm a mínima preparação.
Um exemplo: o aluguer de
comboios a Espanha custará no próximo ano 10 milhões de euros - o custo de uma
unidade…
Em Portugal, aluga-se
quase tudo e produz-se muito pouco…. O lucro não é para quem trabalha nem para
quem investe. É para quem intermedeia. Porque será?
Não vale tudo, até porque já vendemos a alma...
4.9.18
Em nome da solidariedade,
transformar o orçamento de estado num poço sem fundo é um logro. A ideia de que
água é inesgotável não tem fundamento, nem roubando-a ao vizinho…
Parece que está a chegar
o passe social nacional!
Num país em que não há
dinheiro para comprar um comboio, para aliviar o imposto sobre os combustíveis,
para baixar o custo das portagens, para reparar as estradas, ainda há quem nos
queira convencer que, baixando artificialmente o custo do
transporte coletivo, seremos todos mais felizes e que até o ambiente sairá
beneficiado… (Isto revela um pensamento político miserabilista e, sobretudo,
estéril.)
Não há pachorra! Basta
viajar nos transportes coletivos para perceber que não passam de geringonça
terceiro-mundista. Neste clima de café em chávena fria sem princípio nem fim -
o poço sem fundo - preparemo-nos para assistir ao crescimento da
extrema-direita…
A extrema-direita ganha
força por toda a Europa e Portugal é comummente referido como exceção. No
entanto, a verdade é que esta está a reorganizar-se em Portugal, reciclando o
seu discurso e formando novas organizações. As atividades têm-se multiplicado
nos últimos tempos, seja nas redes sociais ou nas ruas do país, ainda que
pontuais e marginais. Em termos eleitorais, este espetro político continua
residual - e o primeiro teste poderão ser as legislativas de 2019.
O fim do regime está à
porta!
2.9.18
O meu país é um poço. Tem
alguma água e já teve mais… Atualmente vive da ribeira, o que significa que
está à mercê do clima e, como se sabe, o clima está à mercê da ganância humana…
Já lá vai o tempo em que
este poço alimentava a horta de quem não sabia o que era um supermercado…
Depois o meu país trocou
a horta pelo supermercado e a ribeira pelo financiamento externo… Desde essa
data, o poço ficou à mercê das silvas e como é visível, os silvas são
implacáveis, mas não gostam que lhes lembrem que vivem de subsídios… até que um
dia acabarão por morrer de sede…
1.9.18
Uma
Esquerda subsídio-dependente
Durante muito tempo
sonhei com uma sociedade mais justa e pensei que a Esquerda poderia ter um
papel importante na realização desse objetivo… uma sociedade mais culta regida
por valores humanistas…
Por razões que a História
explica, Portugal teve, a partir de 1974, a oportunidade de criar as bases
dessa nova sociedade. Mas desaproveitou-a.
A Esquerda nunca soube
promover o desenvolvimento da produção interna - preferiu importar ideias e
bens e... assegurar a sua base eleitoral, recorrendo a uma absurda política de
subsídios…
A Esquerda quer subsidiar
tudo, aproveitando os fundos europeus, os empréstimos internacionais e tomando
de assalto os contribuintes…
Esta Esquerda começa a
não ser muito diferente daquela que governa a Venezuela… Agora a Esquerda quer
um passe único para a zona metropolitana de Lisboa. E quem vai pagar?
(Da Direita nunca esperei
nada, confesso.)
No país dos subsídios,
ganha-se cada vez menos.
Talvez um destes dias,
alguém venha a concluir que melhor seria remunerar devidamente o trabalho e,
assim, acabar com a subsidiodependência.
O problema é que não vejo
ninguém nem à Direita nem à Esquerda.
Infelizmente, a Esquerda,
passados tantos depois da revolução de 1974, continua a produzir pobreza...
30.8.18
Miradouro Panorâmico de
Monsanto
Nem sei o que
pensar!
E ainda dizem que, em
2017, procederam a limpeza e instalaram segurança…
Se é para deixar o
edificado no estado em que se encontra, o melhor é deitá-lo abaixo.
Senhor Presidente da
Câmara, Fernando Medina, vá até lá e diga-nos se tal edifício vai continuar no
estado em que encontra…
29.8.18
Mesmo com a porta
fechada, há forma de se saber se estamos dentro se fora… O que parece é que
escancaramos cada vez mais as portas na esperança de que nos reconheçam algum
mérito, não interessa qual.
Desde que superemos o
outro, o método pouco interessa. Do outro, esperamos que simplesmente nos dê
alguma atenção, que nos inveje…
Talvez seja por isso que
começámos a fechar as portas - o outro também quer ser invejado… e chama-lhe
direito.
28.8.18
Longe de mim dizer mal,
mas há evidências que não enganam na Portela de Sacavém.
Evidências de quê?
- Falta de limpeza
- Falta de organização
- Falta de
responsabilidade
Disseram-me, entretanto,
que há na freguesia (Moscavide e Portela) um "novo dono disto tudo",
que não faz nada a não ser propaganda... Será verdade?
O lixo fica nos passeios
esburacados, as plantas medram, as obras de urgência deixam vestígios… até o
que devia estar devidamente protegido se oferece despudoradamente aos incautos:
crianças, adolescentes desocupados… Isto não significa que não haja espaços
urbanos bem cuidados, o que não se entende é o critério…
Por exemplo, nuns sítios, os candeeiros públicos estão apagados, noutros até há
lâmpadas "tutti frutti"..., para não ficar atrás da Amadora…
Nem toda a
responsabilidade será da Junta - dir-me-ão que é da CM de Loures! Pode ser. Mas
para que é que serve a Junta?
27.8.18
Se a perda de memória
impressiona, a fixação em certas memórias ainda impressiona mais, sobretudo,
quando o desfecho era inevitável…
O olhar preso destrói a
vida, torna-a absurda, como se o único objetivo fosse recuar até um ponto
descontínuo e desconfigurado… Se me perguntam por que motivo rasgo tantos
papéis, é porque sei, agora, que eles se tornaram um peso inútil; sei agora que
o importante é a sombra das árvores… tanto sol!
26.8.18
«O que impressiona é a
perda da memória, o sair das relações reais… A própria perda da memória
insensibiliza. Você não tem ternura nem ódio às pessoas, porque não se lembra
delas, não as conhece...» José Cardoso Pires,
entrevista ao JL, 21.05.1997
a rasgar papéis,
continuo...
como aquelas oliveiras
que não chegaram a ser minhas…
as figueiras, asfixiadas
perdem sentido
porque um dia por pensar
parti
papéis em vez de árvores
Já nem a sombra!
25.8.18
Estou aqui a rasgar
papéis,
a rasgar o tempo
e só me lembra a sombra
de árvores,
desejada…
Enchi papéis,
preenchi o tempo e só
choro a sombra das árvores,
perdidas…
Tenho pena de rasgar
estes papéis,
de rasgar aquele
tempo,
que hei de fazer...
Talvez ainda sobre uma
árvore…
A rasgar papéis inúteis,
rasgo outro tempo,
quem quer saber daquelas
árvores…
Por mim, deixava aqui
todos estes papéis,
todas estas árvores,
não, o melhor é esquecer
aqueles incêndios...
24.8.18
Passava o comboio, nele
viajava sua excelência o presidente do conselho. Discreto. Parecia um relógio
suíço... Passava, lento, o comboio, nele o adubo mergulhava na noite que o dia
era de sementeira... Passava o comboio, nele a tropa adormecida seguia viagem
sem bilhete de volta. Partia em defesa da pátria do outro lado do mar...
Passa o comboio, vai para Caminha ao encontro do Primeiro. Leva o rebanho,
seguro de que a Hora não pode ser desperdiçada... No cais, estamos nós a ver
passar o comboio...
23.8.18
Praia da Cabana do
Pescador
- Eu não tenho paciência
para esta Madalena! (Avó)
- Para a bebé ao colo: A
Madalena já vem! (Mãe)
Estou à espera que a
Madalena surja das águas do mar...
Por enquanto só as bolas
de berlim e o ondulado da banda sonora...
À volta, um país rico de
sol, de pó, de lixo, de cabeças vazias... Uma toalha que se estende fácil, dois
velhos que comem umas pevides... Uma fila desalinhada avança na linha de água e
as bolinhas de berlim apregoadas no areal.
22.8.18
O que é novo seduz, mesmo
que haja mil entraves financeiros, ecológicos e humanos...
Talvez seja por isso que
ninguém defende o alargamento do aeroporto Humberto Delgado…
Hoje, por exemplo, fui ao
Parque Quinta das Conchas… Ao caminhar, comecei a ouvir os motores dos aviões…
Segui o ruído, e ao longe avistei as aeronaves…
Será que não seria mais
inteligente libertar os terrenos necessários para o alargamento e criação de
novas pistas?
Confesso, no entanto, que
não percebo nada do assunto, mas, como credor, interessa-me saber onde é que o
meu contributo vai ser aplicado, já que quero crer que o Estado Português está
disposto a amortizar a dívida resultante de todas as decisões precipitadas e
megalómanas dos seus governantes nas últimas décadas...
Agora que se discute o
Orçamento para 2019, gostaria que os Partidos impusessem um número objetivo
para o progressivo ressarcimento de todos os credores, mas sem privilégios nem
cedência a interesses corporativos.
21.8.18
Um Adeus Português
Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia já purificada
Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta cama comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual
Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta dor portuguesa
tão mansa quase vegetal
Não tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser
Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal
*
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.
Alexandre O'Neill, in 'Poesia Completas'
Em 1950, Alexandre
O'Neill (19.12.1924
- 21.08.1986) viu-se impedido pela PIDE, na
sequência de uma cunha de um familiar seu, de ir ao encontro de Nora Mitrani.
Esta surrealista francesa viera a Lisboa proferir uma conferência, La
Raison Ardente... O 'Neill apaixona-se e neste belo poema de amor vinga-se
"da roda de náusea em que giramos"...
20.8.18
Agradecimento
a João David Pinto Correia (1939-2018)
Conheci o professor João
David Pinto Correia no ano letivo de 1977/78.
Na Faculdade de Letras de
Lisboa, orientava o Seminário de Literatura Oral e Tradicional com que conclui
a Licenciatura em Literatura.
Dele ficou-me sempre a
ideia do investigador rigoroso, do didata abnegado e indulgente e, sobretudo,
de um homem que apostava numa educação assente num modelo autóctone
esclarecido…
E era raro, à época,
encontrar professores com este perfil. Mas não tão raro como hoje.
18.8.18
Há umas horas li uma
entrevista "Pessoa visto de Perto"...
A ideia aprofundada,
durante 10 anos por Zetho Cunha Gonçalves, pareceu-me interessante. Afinal,
ainda há outra Pessoa…
Mas esse havia que
procurá-lo "Fora da Arca" e o investigador fez-se ao caminho e
descobriu um Pessoa divertido, encantador… em particular na prosa, na polémica
consigo próprio - um Pessoa histriónico!
Aquilo dentro da Arca
afigurava-se incompreensível, demasiado frequentado, bolorento. O melhor era
ouvir e ler os amigos e conhecidos, mesmo se falecidos… O melhor era folhear e
ler os jornais, esses educadores da plebe…O melhor era suspeitar que na correspondência
perdida ou sonegada só havia jovialidade
O Pessoa do futuro está
agora ao alcance de todos aqueles que sempre revelaram relutância em entrar na
Arca...
17.8.18
Pessoas
obsoletas - o que fazer?
Leonardo da Vinci (1452-1519) distingue
a capacidade de ver da possibilidade de representação do real (fazendo-a
depender do lugar ocupado pelo observador). Ana Vaz Milheiro (Público,
14 de março de 1998, a propósito da obra "Perspectiva, Perspectiva
Acelerada e Contraperspectiva", de João Pedro Xavier)
Agora que o programa de
Português (ensino secundário) insiste tanto na representação do real levada
a cabo pelos autores, como, por exemplo, José Saramago ou Cesário Verde,
valeria a pena repensar a distinção de Leonardo da Vinci. Caso contrário, o
aluno, incapaz de imaginar o lugar ocupado pelo observador, acabará por se
limitar a reproduzir meia dúzia de ideias feitas sem conseguir questioná-las…
É neste ponto que o
diálogo interdisciplinar poderia ter significado, pois habitualmente o
professor de Português não percebe nada de "perspectiva"... Por
exemplo, será que somos capazes de determinar o lugar do observador n'Os
Lusíadas, quando o Poeta faz a sua apreciação crítica?
Esta vacuidade em que
habitamos leva-me a compreender o receio de Meg Temark (Live 3.0) quando afirma
que «há pressão económica para tornar as pessoas obsoletas» Pessoas
obsoletas
Não há apenas pressão
económica, há, principalmente, um sistema educativo que nos torna obsoletos…
Assim se compreende que o mundo esteja cada vez mais à mercê daqueles que
medram na sombra dos Trumps...
16.8.18
Valentín y Molina, los protagonistas de la novela, transcurren prisioneros
y comienzan, al mejor estilo de un diálogo socrático, a interpelarse desde sus
subjetividades. Puig elige crear una situación ideal en la que un militante
revolucionario y un homosexual puedan iniciar un intercambio personal, como si
lo hicieran bajo la consigna de las feministas de los 70: “lo personal es
político”. En este sentido Molina se narra a partir de diferentes películas de
clase B, posicionándose desde un lugar más personal, más experimental y
subjetivo. Su contrapartida es Valentín, quien desautomatiza el procedimiento
subjetivo del lenguaje de Molina intentando darle una explicación racional
destructora de mitos sociales. Un homosexual que representa la sentimentalidad,
la delicadeza, el deseo y el cuidado materno y, por otro lado, un militante
marxista que representa la objetividad, la racionalidad y la disciplina. Si
bien uno podría pensar que la figura del homosexual representaría la feminidad
y la de Valentín la masculinidad, en el devenir de la novela las
representaciones van mutando y se complementan entre sí. Manuel Puig
Acabo de ler El beso de la mujer araña, do argentino Manuel
Puig, 1976, novela censurada pela ditadura militar. Uma
obra perturbadora, pois coloca em causa muitas das certezas do leitor e,
sobretudo, esta leitura deixa-me com a sensação de que cheguei demasiado tarde…
deveria ter lido esta obra nos anos 70, quando a ideologia e a psicanálise se
me apresentavam como as portas do futuro…
Infelizmente, a minha
chegada tardia não é única neste mundo cada vez mais retrógrado, em que as
portas do passado se vão escancarando...
14.8.18
Esta seriedade é
enigmática, mas tem uma explicação: procurava situar-me no percurso.
Já não me lembro de nada
do que fui ouvindo em francês ou em castelhano (por ali, o português é língua
desconhecida!) … Apenas, recordo o que vi…
A verdade é que, para
mim, o conhecimento pressupõe a caminhada pausada, muitas vezes, sobre si
própria…
O que também foi
enigmático foi o modo como fui controlado no aeroporto de Barcelona - ainda
cheguei a pensar que seria um perigoso cadastrado…
No entanto, acabaram por
concluir que era "português"... Fiquei sem saber o que é que lhes
terá passado pela cabeça para me pincelarem as palmas e as costas das mãos...
Alguém me disse que a
minha seriedade fez de mim suspeito.
12.8.18
V.S. Naipaul morreu.
Dele só li Uma Casa para Mr. Biswas.
Li-o lentamente, abrindo
o romance ao acaso e retomando a leitura, já esquecido do que lera
anteriormente.
A edição portuguesa era
das Publicações Dom Quixote e, até hoje, mantenho a sensação de que a tradução
portuguesa é péssima…
Perante a notícia da
morte de V.S. Naipaul (1932-2018), verifico que os encómios se mantêm, o que
significa que a minha dificuldade em lidar com a escrita deste Nobel da
Literatura não terá uma causa exógena…
(Um destes dias, vou
voltar a ler Uma Casa para Mr. Biswas. Se tiver tempo - é que
o escritor tinha dias em que não escrevia mais do que um parágrafo. Tal como eu
- também tenho dias em que não consigo chegar ao final do parágrafo… Ler exige
tempo e, por vezes, enorme paciência, o que nem sempre é negativo…)
Entretanto, transcrevo um
parágrafo revelador:
- O teu problema é que
realmente não acreditas. Havia um homem como tu, em tempos que já lá vão. Ele
queria gozar com um homem como eu. Então, um dia, quando o homem que era como
eu estava a dormir, o outro homem pôs-lhe uma laranja sobre a barriga, pensando,
«aposto que este parvo, quando acordar, vai dizer que foi Deus que lhe pôs a
laranja aqui». O primeiro homem acordou, viu a laranja e comeu-a. O outro
apareceu e disse-lhe: «Então, foi Deus que te deu essa laranja?» «Sim»,
respondeu o primeiro. «Então deixa-me que te diga. Não foi Deus que te deu a
laranja. Fui eu». «Talvez», disse o outro, «mas eu pedi a Deus uma laranja
enquanto dormia.»
11.8.18
Talvez
por isso não compreenda...
«Yo no puedo vivir el momento, porque vivo en función de una lucha…»
Deliberadamente não cito
na totalidade o pensamento da personagem de Manuel Puig, Il beso de la
mujer araña.
Porquê? Porque
objetivamente nunca me envolvi de forma direta na luta política, nunca planeei
a ação, definindo uma agenda...
De facto, sempre imaginei
a minha ação de uma forma mais individual: primeiramente aprender; depois
ajudar os outros a aprender a viver…
A luta política nunca a
imaginei como resultado de um impulso, de um sentimento; vi-a sempre como ação
responsável, assente no conhecimento do que interessaria a uma humanidade,
liberta de fronteiras territoriais, religiosas, políticas e morais…
Talvez por isso não
compreenda a necessidade de insistir em ideários que apostam no carpe
diem horaciano, pois me parecem demasiado egoístas e acríticos...
Talvez por isso não
compreenda certos ímpetos revolucionários que continuam a criar fronteiras…
10.8.18
Tudo muito higienizado,
tudo muito refrigerado… muito calor por todo lado… tudo muito mediterrânico…
Mas nada elimina a
sensação de impotência de quem entra num avião e fica ali inativo ou a fingir
que lê, joga, conversa…
Odeio essa sensação
contínua que, ainda por cima, me estoira com os ouvidos e me deixa a pairar num
espaço de coisa nenhuma - nem a voz se aproveita…
É assim: não fui feito
para deixar o controlo à mão de uma qualquer outra entidade, mais ou menos
competente, mais ou menos divina...
(La Pineda)
8.8.18
Páginas
amaldiçoadas de Manuel Puig
Levantei-me às seis horas
da manhã. A temperatura de 28 graus convidava a um passeio matinal e para o lugar-comum
- fotografar o nascer do sol, mas ele mostrou-se cerimonioso. Acabei por
percorrer todo o passeio marítimo numa extensão de mais de três quilómetros, a
pensar na novela de Manuel Puig Maldicion Eterna a quien lea estas
páginas…
Por lá ninguém se
levantava cedo, ninguém se queria (ou podia) lembrar do passado, fosse
argentino ou norte-americano. Por lá, pouco mais havia do que diálogo sobre o
passado, como forma de recuperar o tempo esquecido, por força de tortura ou de
trauma infantil, respetivamente… as histórias iam-se se reconstituindo, apesar
dos amuos e da má vontade dos protagonistas - um velho alienado e um homem de meia-idade,
seu cuidador à hora e duas ou três vezes por semana…
A construção do livro
intriga-me, sobretudo porque o narrador pouco diz e as personagens caem
facilmente no mutismo. O final do livro, apesar do ex-professor de História
querer voltar a exercer, é desesperante… A ação decorre, em grande parte, num
Lar e num Hospital de Nova Iorque…
Para quem esteja
interessado em mergulhar nas páginas amaldiçoadas de Puig, recomendo o que
transcrevo:
La historia (casi toda) transcurre en Estados Unidos, y los personajes
principales son Larry, un profesor de historia fracasado, que no confía en sí
mismo lo suficiente como para dedicarse a la docencia, marxista, desempleado y
divorciado, que tiene que tomar un trabajo de acompañante de gente de edad
avanzada en el que conoce al señor Ramírez, el otro personaje, un anciano
argentino, caprichoso, paranoico, que sufre de amnesia. Juntos irán
conversando, intentando reconstruir la historia del otro, conocerla y
entenderla. A Ramírez le interesa la historia de Larry porque todo le resulta
novedoso y le pregunta hasta las cosas más triviales intentando, sin mucha
voluntad, recordar algo de su propia vida; también a Larry le interesa la
historia de Ramírez porque de a poco va descubriendo que el anciano (aunque lo
niegue fervorosamente y se muestre indignado ante las insinuaciones o las
afirmaciones del joven) fue en su país un militante, un importante dirigente
sindical que fue apresado y torturado durante la dictadura militar y que fue
por esas torturas que perdió la memoria. Es interesante ver cómo, a lo largo de
la novela, y por la amnesia y los caprichos del señor Ramírez, las
conversaciones pasan de ser diálogos reales, sobre la vida real de Larry (quien
no parece muy contento recordando ciertas cosas, ciertos traumas) a ser
historias mixtas, en las que el señor Ramírez interviene, diciendo cómo en
realidad fue un episodio traumático de la vida de Larry, cómo las cosas no son
en realidad como se las cuenta él sino totalmente distintas y termina contando
lo que suponemos, en realidad, son anécdotas de su propia vida que
conscientemente no recuerda. Estos diálogos, forzados por las interrupciones
caprichosas del anciano, van volviéndose cada vez más irreales, volviéndose
ficciones literarias, a medida que el anciano pregunta cosas que Larry no
quiere responder y a medida que el mismo anciano evita otros temas que le traen
sensaciones extrañas, indescriptibles, claramente ligadas a su pasado que no
puede recordar. Esto, acaso, se vea exacerbado en uno de los últimos capítulos
en los que el diálogo es también entre un anciano malhumorado y un joven
idealista, pero en la Rusia zarista, en el contexto inmediatamente anterior a
la Revolución rusa. Estos personajes son tan similares a los de Larry y Ramírez
que también es hacia el final del capítulo que el joven se da cuenta de que el
viejo, a pesar de su mal carácter, también es antizarista y apoya a los
revolucionarios. O Fascínio das palavras
Más allá de esto, la pregunta de Larry es interesante: ¿Maldición eterna a
quién? ¿A quién lea qué? A lo largo de toda la novela, la acción de leer toma
un protagonismo especial. Desde el principio, Ramírez dice que todo lo que
recuerda es lo que leyó en la enciclopedia en sus días en el hogar de ancianos
de Nueva York; de hecho, dice que recuerda todo lo que lee. Dice que tiene que
buscar el sentido de las palabras. Sólo conoce a través de las lecturas, y lo
que piensa tiene que anotarlo en un papel, para que no se le olvide, y poder
leérselo a Larry (pero siempre se olvida de agarrar el papel donde anotó sus
pensamientos). También Larry lo acusa de no "saber leer las expresiones
humanas". Todo el tiempo está obsesionado con las palabras, y su significado,
pero también dice "Por favor, emplee palabras que signifiquen más. Conozco
las palabras, pero no lo que estaba pasando dentro suyo" o, cuando Larry
le cuenta sobre su infancia y su madre "Larry, por favor dígame otras
palabras que usaba su madre." a lo que Larry responde "Mi madre no
tenía palabras propias. Ni sabía pensar por su cuenta".
7.8.18
Perspectivas distintas. Delas nada direi, pois o leitor
detesta maçadas de veraneante...
Prometo voltar um destes dias,
se a ameaça não se abater sobre mim, pois estou a acabar de ler uma novela de
Manuel Puig, intitulada Maldicion eterna a quien lea estas páginas.
Entretanto, será que
a sandia deve ser considerada a esposa do sandeu?
Por aqui, ela serve-se bem fresquinha; quanto ao sandeu, de momento, só me
lembro do epíteto vicentino.
5.8.18
Com o aumento da
temperatura, a inteligência diminui - a tese não é minha, é de um monge
medieval que, no essencial, defendia que o Equador não podia ser habitado pelo
homem, ser inteligente...
Por aqui, não é fácil
encontrar um jornal ou uma revista e a televisão é insuportável, tal é a
algaraviada…
No entanto, hoje consegui
comprar o Diari de Tarragona, uma espécie de JN de outros
tempos com revista e tudo… e ainda, conforme o local referenciado, escrito em
castelhano ou em catalão… o que dá que pensar sobre a geografia regional e
humana…
Lido o jornal, ataquei
a Revista XL Semanal, nº 1606, e depois de ter dado uma vista de
olhos aos disparates verbais de Arturo Pérez-Reverte (meu conhecido de outras
viagens), parei no artigo Agenda cultural, de Juan Manuel de Prada,
e estacionei no seguinte parágrafo:
La cultura, en el sentido originario da palabra, es el
alimento que el alma necesita, para no consumirse ni rendirse a la barbarie;
pero lo que nuestra época llama 'cultura' no es otra cosa sino 'vivir com los
tiempos' o 'estar a la moda', que como Tacito nos enseñaba no consiste en otra
cosa sino em «corromper y ser corrompido».
O motivo desta reflexão terá sido o impulso «del doctor Pedro Sanchez,
que para poder assistir a un corcertito de rock en Benicassim tomó el avión oficial»
… Parece
que esta doença é, afinal, ibérica, embora o grau de servilismo possa ser
distinto...
4.8.18
Apesar dos 35 graus, lá
apanhámos o autocarro para B.. Cambrils, dando voltas a Salou… O passeio
permite perceber como é que a sociedade espanhola se distribui dos mais ricos
aos menos pobres… Sim, porque os pobres trabalham em condições deploráveis…
Salou é o coração da
riqueza e assim o que vi nesta ida e volta basta-me…
De regresso a La Pineda,
senti que os espanhóis quando vislumbram um português é como se estivessem a
reencontrar um parente pobre...
3.8.18
Não sei se a ideia é
homenagear se substituir as árvores - uma ideia com futuro…
A própria água talvez
venha a ser de metal... Entretanto, já há quem mergulhe apenas os pés no
oceano…
Compreende-se: a senhora
se mergulhasse já não conseguiria levantar-se, o que levou as amigas a dar-lhe
banho, despejando-lhe baldes por entre os seios, de forma pouco discreta…
Ainda olhei em torno à
procura do Almodôvar, mas só avistei um enorme paquete atracado no cais não
muito distante…
O resto, pelo que
observo, resume-se a mais espaço, a mais gente burguesa, vinda de todos os
lugares de Espanha, com alguns franceses à mistura...
2.8.18
A primeira dificuldade
encontrei-a na letra S. Em nada facilita o despacho das bagagens - de tanta
digitalização, bovinos desorientados, andamos às voltas à espera de um
esclarecimento...
A segunda dificuldade
resultou dos meus ouvidos não terem sido preparados para voar - qualquer dia
hão de parecer chagas de cristo…
À chegada, o mundo
parecia outro, as portas acolhiam sossegadamente os passageiros e até as malas
surgiram no lugar certo…
Depois, o transbordo
decorreu sem incidentes e dentro do tempo previsto…
Mas ainda havia uma
derradeira dificuldade - a porta do alojamento. Recebido o código que permitia
abrir a porta, alguém tinha dado cabo do sistema… Tudo sem falar na canícula,
na desertificação, nas praias repletas de gente...
1.8.18
Eu até posso fingir que
vou (estou) de férias, mas, para mim, se as temperaturas sobem acima de 25
graus, elas tornam-se um martírio.
Estranho, não é? Mas sou
assim: canso-me, irrito-me, perco a vontade de fazer o que quer que seja…
Com tanta gente a desejar
não fazer nada, logo eu procuro estar sempre ativo, mesmo se oficialmente de
férias.
Em conclusão, vou passar
as férias a fugir do calor, só que não me deixam. Ninguém compreende esta minha
particularidade, cuja origem remonta à praia da figueira, bem longe
da foz ou, se a canícula aumenta, talvez mais perto...
31.7.18
Trabalhar cansa
Não é preciso estar só
para sair de casa e encontrar-se nas ruas desertas ou
movimentadas, basta folhear uma página amarelecida pelo tempo e perguntar-lhe
quem são estas criaturas tão silenciosas, ali esquecidas.
Desta vez, por um
instante dessa solidão sobressai Cesare Pavese (1908-1950), cuja voz só o
silêncio poderá consagrar, mas para isso é necessária a disponibilidade por ora
perdida… esperemos que não para sempre!
30.7.18
Só amanhã é que a tarefa
fica concluída, embora o resultado já tenha sido enviado por e-mail (novidade
desta fase), que é necessário quebrar a rotina… tudo para agilizar o
procedimento ou haverá um objetivo oculto?
Desta vez não vou
comentar os resultados, pois eles nada acrescentam à ambição humana - há tantos
caminhos mais lucrativos e menos cansativos!
Os bons exemplos não
faltam! E quanto ao argumento, o mais indicado é negar o que é, e
explicar o que não é...
Depois de amanhã, acaba o
mês de julho, embora eu não entenda porquê - capricho de imperador romano já
esquecido. Por mim, aproveito a tendência e vou assobiar para outro lado, tal
como o Ricardo Reis, que, dizem-me, 'não gostava de futebol', por causa da sua
natureza "eufemera"...
29.7.18
A Iphiclides
feisthamelii gosta do Parque das Nações. Foi lá que a encontrei esta
manhã. Eu não desgosto do lugar, embora viva mais a norte…
Frequentemente procuro o
Tejo, hoje mais distante pois a água retira-se por umas horas, deixando à vista
uma fina camada de lodo sem grandes sinais de poluição… só as gaivotas pulavam
na linha de água…
Entretanto, não muito
longe, sentei-me numa esplanada a ler o Diário de Notícias, agora semanário,
cujo formato me incomoda tal como a arrumação dos artigos, no geral medíocres…
Há por ali articulistas pretensiosas e de duvidosa cultura. Alguns claramente
zebrados... o que me traz à memória os barões do século dezanove. Pobre
Garrett!
28.7.18
Logo pela manhã procurei
um peixe para grelhar e encontrei. Disseram-me que vinha do mar, o pargozinho…
Colocado na balança, pesava pouco mais de um kilo. Preço com um descontozinho,
já que as férias se avizinham: 33 euros.
Acabei por comprar uns
carapauzinhos da Caparica, porque, na verdade, há funcionários públicos que
nunca aprenderam a nadar… nem a pescar!
27.7.18
Perdidit antiqum litera
prima sonum…
(Ele arruinou a pronúncia
antiga… das primeiras palavras, isto é, perdeu a inocência.)
Todos os dias, recebo a
notícia de alguém que se deixou seduzir pelo dinheiro. Parece uma
inevitabilidade. As vítimas são, quase sempre, deslocados, idosos, analfabetos
e até alguns apressados nada inocentes…
A verdade é que se
enriquece em muito pouco tempo, mas não com o salário, por exemplo, de
funcionário público...
26.7.18
As larvas alimentam-se de
matéria vegetal, o que, em muitos casos, dá cabo das flores, das folhas… Por
estes dias, preferia que elas trocassem as sardinheiras pelos dirigentes deste
país, políticos ou não, sem esquecer os carpinteiros, os vidraceiros… Seguramente,
as larvas estão no seu direito e prestam preciosos serviços… e bem podiam
alargar o seu raio de ação… Eu ficaria feliz!
Desejando que as larvas
tenham ouvido a minha sugestão, reporto aqui uma conversa magistral das minhas
vizinhas de bairro:
- Os resultados dos
exames são uma miséria!
- Não admira! Entregam as
provas para classificar aos «contratados», e bem sabemos que eles se estão na
tintas…
- Eles querem lá saber!
- Não têm qualquer
formação… a culpa é da "geringonça"...
- Que saudades do Nuno
Crato!
25.7.18
As aulas tradicionais já
não me interessam. São secantes para mim também. Adaptar-me-ei
aos novos contextos, comprarei rodinhas para as secretárias, ouvir-se-á música
nas aulas, leremos Camões e Pessoa em voz alta sem noções de versificação à
mistura, cantaremos Os Lusíadas em rap e
a Mensagem em fado, faremos apresentações com guitarra,
máscaras de teatro e fantoches, percorreremos Lisboa aos fins de semana sem a
burocracia assustadora das visitas de estudo e descobriremos Saramago
devagarinho, muito devagarinho, ao som do Tejo, estendido lá em baixo,
ao Sol, na linha do horizonte. Treinadores de Portugal
Sou professor há 44 anos.
Tenho aqui ao lado 25 provas de exame para classificar, mas perante o
pronunciamento da «formadora profissional na área comportamental», Carmo
Machado, vão ter de esperar… Diz ela que o mundo mudou, que os professores
estão cansados e desmotivados, que as aulas tradicionais são secantes, que
não aprendeu nada na escola de que se lembre agora (Handy+, 1992),
pois eu lembro-me do poeta que "prefere rosas à pátria" porque os
outros homens, por muito que se esforcem por satisfazer a vaidade pessoal e
coletiva, nada acrescentam à Natureza, ao Universo… mas os alunos não
compreendem por que motivo o Poeta é secante, os professores
anacrónicos, a leitura não é negociada, os seus interesses não são ativados…
Assim sendo, não me vou
esquecer de comprar rodinhas para a minha cadeira e promover uma corrida do
Camões (Praça José Fontana) até ao Pessoa (Martinho da Arcada). Pelo caminho
ainda posso passar pela Loja do Senhor Verde e visitar a Oliveira do Senhor Saramago…
É sempre a descer!
24.7.18
Perante os desastres que
vão ocorrendo, as palavras pouco podem acrescentar. Apenas o lamento
inconsequente, pois há muito deixámos de respeitar os elementos…
Até na terra que os concetualizou, o fogo, que não o de Prometeu,
segue o seu caminho, indiferente à ganância humana e ao feitiço do "carpe
diem" …
Prometeu, desprezado
pelos deuses, é hoje vilipendiado pelos homens.
De qualquer modo, a
Natureza segue o seu curso, a lembrarmo-nos que sem Ela nada seremos...
23.7.18
Um dia Edgar Poe escreveu
que nove em cada dez casos, no jogo de xadrez, quem ganha é o jogador mais
atento e não o mais hábil…
Admitindo que o escritor
tem razão, parece-me que as escolas, em vez de discutirem a desatenção e a
dispersão provocadas pelos smartphones, tablets e computadores, melhor seria
que promovessem atividades capazes de fixar a atenção duradoiramente.
Se tal tivesse
acontecido, não teríamos hoje um acréscimo de iliteracia funcional… nem tantos
habilidosos intrujões e burlões...
22.7.18
Lá chegará a hora em que
a pá (literal ou simbólica) porá termo a todas as recriminações, a todas as
suspeitas, a todas as insubmissões.
Por enquanto, talvez seja
sensato dar mais atenção à origem e utilização dos elementos, ao papel que eles
tiveram na construção e preservação da sociedade…
A cal é uma dessas
substâncias aglomerantes que sempre me impressionou pela sua multiplicidade de
aplicações… pela relação salutar que mantém com a temperatura…
Se eu fosse cal, creio
que suportaria muito melhor o desassossego em que me mantenho...
21.7.18
O Presidente da Câmara de
Pedrógão Grande ainda experimentou o argumento da inveja… O vizinho denuncia
porque é invejoso, pelo menos, desde o século XVI - ver Garcia de Resende…
Camões acabou por escrever a Epopeia, sem no entanto, escapar à inveja coeva
que lhe limpou a biografia. O próprio revela sintomas da doença coletiva, pois
o Gama não se lhe compara em engenho e arte…
Não são só as multas que
prescreveram. PS, PSD e CDS foram condenados pelo Tribunal Constitucional, em
2013, a devolver um milhão de euros, mas o Parlamento confirma ao SOL que
chegou a ‘acordo’ com os partidos e nem todos os montantes que lhe eram devidos
foram pagos.
Durante muito tempo,
utilizei o argumento da inveja, apesar de não ignorar o conteúdo da ARTE DE
FURTAR, agora, creio que vou recuar e passar a defender a ideia de que a matriz
da portugalidade está desde o início contaminada pela burla e pela aldrabice… e
a literatura não passa de um aformoseamento da realidade, como diria o Fernão
Lopes, entretanto, mandado recolher à Torre do Tombo.
20.7.18
Mais
uma mocada no contribuinte
De momento estou bastante
aborrecido - refém dum incumpridor construtor civil - vou lendo artigos de
velhos jornais à procura de alguma pepita, e espreitando as notícias do dia…
Ora, a espreitadela cai sobre as inevitáveis "almofadas financeiras"...
Perante a banalização do
termo, não resisto à pesquisa da origem da palavrinha Almofada:
Origem da palavra Almofada
Do árabe al-mokhadda,
que significa “o lugar da face”, “travesseiro” ou “coxim”. A palavra
“almofada”, segundo alguns etimologistas, teria origem no árabe, al-mokhadda,
sendo o prefixo al utilizado como um artigo definido, como “o”
ou “a”. Aliás, grande parte das palavras começadas com o prefixo "al"
na língua portuguesa são de origem árabe. A expressão al-mo seria
relativa a “o lugar”, pois o termo ma / mâ pode
ser traduzido por “lugar” ou “posição”. Por fim, khadda é uma
derivação da palavra khaddon, que quer dizer “face” ou “rosto”.
Ou seja, por estes dias,
“almofada" passou a significar mais uma mocada no contribuinte!
Já agora, se fossemos
brasileiros, em vez de 'almofada' diríamos 'travesseiro'. E compreende-se! E eu
que sou do tempo em que na esteira ainda havia um travesseiro! Quanto ao número
de almofadas, esse dependia da situação financeira de cada família...
19.7.18
A
Poesia passa bem sem a História
É lugar-comum defender
que a Poesia passa bem sem a História, o que nos livra de incómoda erudição e,
sobretudo, nos limpa a alma.
Vem isto a propósito da
prova de exame de Português (12º ano, 2ª fase) que, mais um vez se serve de
Ricardo Reis, o heterónimo de Pessoa (que o de Saramago ficou na gaveta),
"autor" da ode "Prefiro rosas, meu amor, à pátria" (1.6.1916)
…, o que me obriga a recordar o desconforto pessoano perante o
desfecho trágico (mais de 8000 mortos) da batalha naval da
Jutlândia (31.5.1916) / post de 15.6-2015:
A ataraxia na poesia de
Ricardo Reis é uma questão mal fundamentada
Definição:
«Constituindo (a
ataraxia) um estado anímico, exprime um ideal de sabedoria, um fim
ou telos a atingir pelo filósofo (...) É concebida como uma
ultrapassagem racional da demasiada humana vulnerabilidade e sujeição à fortuna
e aos acidentes, sejam estes de origem interna, as paixões,
sejam provenientes do exterior, como as doenças, a pobreza, as
desgraças, o mal físico, ou o desaparecimento de entes queridos.» Rui
Bertrand Romão, in Dicionário de Filosofia Moral e Política.
O conceito de ataraxia é
fundamental para a compreensão da filosofia de vida de Fernando Pessoa /
Ricardo Reis:
Prefiro rosas, meu amor,
à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.
Logo que a vida me não
canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o
mesmo.
Que importa àquele a quem
já nada importa
Que um perca e outro
vença,
Se a aurora raia sempre,
Se cada ano com a
Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?
E o resto, as outras
coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?
Nada, salvo o desejo de
indif'rença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.
Ricardo Reis, 1/6/1916
(...)
Apesar do que é habitual
afirmar-se sobre a indiferença de Ricardo Reis em relação aos
acontecimentos exteriores, creio que este heterónimo é mais a expressão do
desconforto de Pessoa perante o sacrifício da vida humana (8642 homens) em
guerras que nada acrescentam à vida do que uma posição de alheamento da
realidade envolvente.
Este poema foi escrito
precisamente quando terminou a Batalha da Jutlândia:
Segundo os historiadores,
trata-se da mais importante batalha naval da I Guerra Mundial. Ocorreu no dia
31 de maio de 1916, nas águas da península da Jutlândia (Dinamarca), e opôs a
frota britânica comandada por Sir John Jellicoe e a frota de Alto Mar alemã do
almirante Reinhard Scheer. Tal como outros combates desta guerra, a batalha
teve pelo menos duas fases e viria a terminar com a fuga da frota germânica. A
dureza do combate fez-se sentir nas baixas de cada lado. Nesse combate os
ingleses perderam 3 cruzadores, 8 contratorpedeiros e 6097 homens contra 1
couraçado, 1 cruzador pesado, 4 cruzadores, 5 contratorpedeiros e 2545 homens
por parte dos alemães. Contudo, apesar de, aparentemente, as perdas britânicas
terem sido superiores às germânicas, depois deste confronto os ingleses
tornaram-se senhores dos mares controlando toda a navegação. A tal ponto que,
até ao final da guerra, a frota alemã de superfície teve de permanecer
imobilizada nas suas bases. (Infopédia)
18.7.18
Aprendizagens
essenciais. Em que século estamos nós?
As Aprendizagens
Essenciais (AE) são documentos de orientação curricular base na planificação,
realização e avaliação do ensino e da aprendizagem, e visam promover o
desenvolvimento das áreas de competências inscritas no Perfil dos
Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. A educação literária do
ministério da educação
Sempre me ensinaram que,
em matéria de ensino, é fundamental dar um passo de cada vez - do conhecido
para o desconhecido, do simples para o complexo, do observável para o
reflexivo, do perto para o distante, do literal para o simbólico…
Sempre me ensinaram que,
em matéria de educação, o perfil do indivíduo deve ser desenhado em função do
modelo de sociedade em construção…
A verdade é que devo ter
aprendido tudo ao contrário. Por exemplo, pensava que Garrett e Herculano eram
personalidades distintas ou que A Relíquia e Os Maias,
embora do mesmo autor, teriam um papel bem diferente na formação do cidadão…
De qualquer modo,
resta-me a esperança de que, eliminados Os Maias e quase todos
os romances escritos no século XX, o ministério da educação elimine também a
poesia - matérias que exigem tempo de leitura, de interiorização, de reflexão,
pois o que nos falta é tempo… e juízo…
Em síntese, os
professores de Português já não são necessários, a não ser para recitar meia
dúzia de disparates propostos por volumosos manuais produzidos pelas editoras
do regime…
LISTA DE OBRAS E
TEXTOS PARA EDUCAÇÃO LITERÁRIA – 10.º ANO
POESIA TROVADORESCA
Cantigas de amigo
Cantigas de amor Cantigas de escárnio e maldizer - (quatro) (duas) (duas)
AUTORES E OBRAS
Gil Vicente Farsa
de Inês Pereira (integral) OU Auto da Feira (integral)
Luís de Camões
Rimas: redondilhas
(escolher 4) e sonetos (escolher 8)
Os Lusíadas §
Canto I, ests. 1 a 18; canto IX, ests. 52, 53, 66 a 70, 89 a 95; canto X, ests.
75 a 91 (a constituição da matéria épica) § Canto I, ests.
105 e 106; canto V, ests. 92 a 100; canto VII, ests. 78 a 87; canto VIII, ests.
96 a 99; canto IX, ests. 88 a 95; canto X, ests. 145 a 156 (reflexões do Poeta)
LISTA DE OBRAS E TEXTOS
PARA EDUCAÇÃO LITERÁRIA – 11.º ANO
AUTORES E OBRAS
Padre António Vieira “Sermão
de Santo António. Pregado na cidade de S. Luís do Maranhão, ano de 1654”
Almeida Garrett,
Frei Luís de Sousa
Almeida Garrett ou
Alexandre Herculano ou Camilo Castelo Branco,
uma obra narrativa
Eça de Queirós,
um romance
Antero de Quental,
três poemas
Cesário Verde,
três poemas
LISTA DE OBRAS E TEXTOS
PARA EDUCAÇÃO LITERÁRIA – 12.º ANO
OBRAS DE FERNANDO
PESSOA
Poesia lírica Fernando
Pessoa ortónimo
Alberto Caeiro, Ricardo
Reis e Álvaro de Campos
Prosa - Livro do
desassossego, de Bernardo Soares (fragmentos)
Poesia épica Mensagem
(seis poemas)
POEMAS DE POETAS
PORTUGUESES CONTEMPORÂNEOS
(três poetas de entre os
que se indicam)
Miguel Torga, Jorge de
Sena, Eugénio de Andrade, Alexandre O’Neill, António Ramos Rosa, Herberto
Helder, Ruy Belo, Manuel Alegre, Luiza Neto Jorge, Vasco Graça Moura, Nuno
Júdice, Ana Luísa Amaral
ROMANCE DE JOSÉ
SARAMAGO, Memorial do Convento ou O Ano da morte de Ricardo Reis
Em que século estamos nós
aqui nesta nossa terra? (eco camiliano…, o tal que é equivalente a Garrett ou a
Herculano.)
17.7.18
« Je sais (…) que je ne cherche pas ce qui est
universel, mais ce qui est vrai. » Albert Camus, L'espoir
et l'absurde dans l'oeuvre de Franz Kafka
Como não consigo lidar
com o universal, pois isso pressupõe uma conceção religiosa, para mim,
inatingível, limito-me a procurar a verdade, o que se me afigura cada vez mais
difícil, porque, à força de tratar da mentira, caio no ininteligível, não tanto
porque sejamos todos mentirosos, mas porque, a cada momento, fechamos os olhos,
deixando-nos levar ora por ondas de antipatia ora de simpatia…
Perante a morte, essas
ondas súbitas de simpatia levantam-se para posteriormente rebentarem na areia
que tudo apaga, a não ser que uma qualquer religião decida prolongar o
angelismo que as típica…
Hoje, faleceu o dr. João
Semedo (1951-2018), virtuoso como é de tradição. Depois de amanhã, a onda
desfalecerá…
17.7.18
De acordo com a
legislação, cada partido arriscava-se a pagar entre 4.289 e 171.560 euros,
enquanto no caso dos dirigentes podia ir de 2.144 a 85.780 euros. O Tribunal
Constitucional (TC) deixou passar o prazo para aplicar multas aos partidos e
políticos pelas irregularidades detetadas nas contas de 2009, de acordo com
a TSF. Praticamente todos os partidos ficam, assim, livres das coimas,
além dos 24 responsáveis financeiros. O Tribunal Constitucional
Deve ser mentira! Neste
país, o Tribunal Constitucional ia lá esquecer-se. Impossível!
15.7.18
A extensão tem sido
descurada, mas só ela nos permite iludir o tempo.
Sem ela, não passamos de
almas penadas a lastimar o tempo decorrido…
O melhor é sairmos de nós
próprios e deixarmos que os pés nos levem e os olhos se deixem cativar…
14.7.18
Jacinto Lucas Pires, a
propósito da publicação da peça de teatro "Universos e Frigoríficos",
em entrevista a Maria Teresa Horta (DN,27.12.1997),
caracteriza a (sua) geração dos anos 90 do
seguinte modo: “Somos uma geração que cresceu a ver televisão, que leu
menos livros e outros livros do que os nossos pais, leu mais banda desenhada,
viu outros filmes. Tudo isto tem de trazer formas novas para as formas já
existentes.”
É possível que Jacinto
Lucas Pires tenha razão quanto ao retrato que faz da sua geração. A memória
diz-me que sim: os jovens viam muita televisão, liam menos, revelavam fastio ao
ler os clássicos, preferindo leituras menos incomodativas, iam ao cinema, assunto
totalmente ignorado nas salas de aula.
Quanto à recriação das
formas já existentes, não parece que tenha havido uma verdadeira revolução,
sobretudo se considerarmos o "cânone" estabelecido pelo Ministério da
Educação.
Ao olhar para esta última
geração, parece que, em muitos casos, estamos a assistir à travessia do deserto
- nem televisão, nem cinema, nem banda desenhada… leitura só a dos títulos
oferecidos pela Internet… e muitas imagens de SI, muitos gracejos apatetados,
muita torpeza…
Mais uma razão para
«persistir como Sísifo».
13.7.18
Il n'est pas de punition plus terrible que le travail
inutile et sans espoir. Albert
Camus
(Não há castigo mais
horroroso do que o trabalho inútil e sem esperança.)
Não tenho mais nada a
acrescentar, a não ser persistir como Sísifo.
12.7.18
Estou mesmo cansado
porque o esforço de mais um ano foi defraudado. Já o sabia, e o resultado dos
exames comprova-o… E como diria o Cesário Verde, estou com "as tonturas de
uma apoplexia", pois há quem queira ganhar na secretaria depois de ter abandonado
o terreno… com a minha ajuda…
11.7.18
Governo e professores vão
analisar custos da recuperação do tempo de serviço congelado…
Fantástico! O que é que
andaram a fazer até hoje?
Bem me parecia que, para
já, iam todos de férias… Em setembro, os contabilistas começam a trabalhar para
o OGE de 2020... Ou será que já ninguém sabe fazer contas?
(Aldrabice!)
11.7.18
Professores e governo têm
hoje o ‘Dia D’
Uma mentira mais
"D"?
Em português (em
francês), o que me vem de imediato à mente, é 'derrota', 'desastre'... Ainda se
fosse Dia "V"...
O meu ceticismo não é
saudável, mas não acredito nestes jogos de verão - construções na areia para
ocupar o tempo…
De qualquer modo, estou
com os ingénuos que acreditam na mudança. Só não entendo, como é que é possível
chegar-se lá, se os protagonistas continuam a ser os mesmos de sempre...
10.7.18
E
este Tempo já não é o meu...
Doze menores, um adulto e
quatro mergulhadores. A operação na gruta Tham Luang, em Chiang Rai, na
Tailândia, acabou com toda a gente a salvo. Num dia que é de vitória,
lamenta-se porém a morte de Saman Guman, ex-membro da marinha tailandesa, que
faleceu no passado dia 6 de julho, depois de levar uma reserva de ar às
crianças.
Bem sei que o que vou
escrevendo não passa de um acerto de contas com o Tempo e, como tal,
intransmissível e, por vezes, incompreensível, mas não posso deixar de
expressar a minha satisfação pela mobilização internacional na evacuação do
grupo de jovens tailandeses, tal como saúdo a coragem de Cristiano Ronaldo ao
transferir-se para o futebol italiano, ou o apuramento da França para a final
do Mundial de futebol…
Quando quer, o homem
mobiliza-se, aplaude, reconhece a competência do Outro… só que o mesmo homem esquece
as dezenas de milhar de crianças migrantes que se afogam ou vivem em miseráveis
campos de acolhimento ou, simplesmente, são objeto do apetite sexual de
inúmeros predadores…
E este Tempo já não é o
meu - da emoção ou da resignação - mas o daqueles aquém o Tempo falha em
definitivo...
9.7.18
« De toutes les écoles de la patience et de la lucidité, la création est
la plus efficace. Elle est aussi le bouleversant témoignage de la seule dignité
de l’homme : la révolte contre sa condition, la persévérance dans un effort
tenu pour stérile. » Albert Camus, La création
absurde
O pensamento absurdo
caracteriza-se, a meu ver, pela capacidade de formular perguntas que jamais
obterão resposta, o que poderia conduzir ao desespero total e suicida, tendo em
conta os limites da condição humana.
No entanto, aquilo que
Camus propõe, ao defender o pensamento absurdo, é que o homem se revolte contra
essa condição através da ação criativa - a única
verdadeiramente libertadora - que, no entanto, exige paciência, perseverança e lucidez…
E são estas qualidades que a todo o instante vislumbro nos criadores com que me
vou cruzando ao longo dos dias, apesar da dificuldade em acompanhá-los…
8.7.18
Maria
José Ferreira no MU.SA, Sintra
Para evitar apreciar o
que certamente está para além do que vi hoje, em Sintra, no MU.SA - "35
ANOS DE PINTURA" de Maria José Ferreira -, proponho ao visitante deste
blogue que ignore os meus "ditos" e visite o seguinte site: http://mariajoseferreira.pt/
O que eu vi na sala
Claraboia, foi um mundo construído sobre uma nostalgia matriarcal africana,
envolvido numa geometria falsamente surreal, pois há sempre uma linha invisível
que assegura o volume dos corpos, e em que a cor deslumbra porque cria a sensação
de que a solidez se pode desmaterializar a qualquer momento…
Há por ali um ponto de
equilíbrio desconcertante, genesíaco… algo, apesar de tudo, maternal.
(Peço desculpa se o
que acabo de escrever não passe de desconchavo, mas é sentido.)
7.7.18
Neste interminável
ficheiro de autores e respetivas obras, surge-me o amigo e poeta Silva
Carvalho.
Desta vez, folheio o
livro "Ao Acaso" (1986), suspendo o registo, e vou lendo algumas
das 300 oitavas, pensando que o Poeta merecia melhor sorte, isto é, merece ser
lido e discutido… e de súbito fixo-me em três versos:
Trata-se de
sobreviver, não de sentir ida
a memória por
algum desejo ou desperdício.
Sentir, sabe-o
bem, é o maior e árduo vício.
Afinal, é isso: trata-se
de sobreviver, liberto da (in)voluntária memória - duplo fardo, na ausência e
na presença - e, sobretudo, de evitar o sentir, porque este prende, aliena,
queima a energia que ainda resta...
6.7.18
exaustão emocional: Mais
de 60% dos professores portugueses sofrem de exaustão emocional, provocada por
causas como a excessiva burocracia e a indisciplina dos alunos, revela um
estudo nacional com base em mais de 15 mil respostas de docentes.
Estou há tanto tempo no
sistema que a conclusão não me surpreende em nada. Basta entrar numa sala de
professores e ouvi-los…
Na verdade, as causas do
cansaço são antigas. A diferença entre o passado e o presente reside no modo
como na última década a classe política desclassificou os
professores… e mais não é preciso dizer: todos sabem porquê e como…
Uma classe política
medíocre e, em muitos casos, analfabeta - culpa dos professores que os deixaram
transitar...
5.7.18
« Penser, c'est avant tout vouloir créer un monde (ou limiter le sien,
ce qui revient au même). » Albert Camus, La Création
Absurde
Criar um mundo aqui, para
quê?
O que sei é que o simples
registo daqueles que encontrei é inviável, primeiramente porque a memória
pessoal se foi debilitando, talvez porque no momento certo faltou o tempo;
depois porque o outro pode não sentir qualquer necessidade de
integrar o mundo a preservar…
Ainda se escrevesse um
romance, poderia limitar esse mundo às relações de antipatia e de simpatia, mas
se no momento certo faltou o tempo, a única saída seria dificílima porque as
personagens nunca chegariam a ter relevo, consistência, uma ideia - não passariam
de traços inconsistentes, absurdos…
Pensar aqui, para quê? Apenas,
para dizer ao Tempo que estamos aqui e que, apesar de sós, não estamos sozinhos
na sua companhia...
4.7.18
A folha de Excel contraída numa página impressa.
(A vista cansada.)
- Vamos lá conferir as
classificações das provas com os dados impressos!
- Mas como se os não
consigo ler?
Entretanto, uma alma
caridosa decidiu que o melhor era fazer de mim. Deu tudo certo, felizmente!
Na 2ª fase, estarei de
regresso, certamente, um pouco mais míope. Que importa desde que conte com a
benevolência de nova alma!
Andei tão ocupado que não
registei nada, não porque não houvesse nada para contar, mas por falta de
tempo. Porém, a verdade é que estive mais de quatro horas à espera… em silêncio
paciente, a beber água, só água com uma mistura intragável, para depois ser
sondado do pescoço aos pés por umas criaturas brancas que se faziam de
cordeirinhos mas não tinham nada de angélico…
Claro, histórias não
faltariam se ainda valesse a pena contá-las, como a da velhinha incontinente,
duplamente, que insistia na sua narrativa, independentemente do interlocutor a
compreender ou não… ou até na ausência dele.
2.7.18
Que importa o lugar, só o
tempo me foge! Só hoje já estive numa dezena de lugares, sempre com uma
preocupação: chegar a tempo, cumprir um prazo...
Mesmo quando registo este
pensamento, lastimo que a pressa me tenha feito esquecer do livro que
tencionava continuar a ler, aproveitando a pausa forçada...
Só o tempo me foge!
1.7.18
Por paradoxal que possa
parecer, cada vez fujo mais da opinião, até porque ter uma opinião implica
partilhá-la. Pressupõe pôr-se de acordo, tomar como sua uma ideia alheia…
que, no íntimo, não se quer coletiva, porque o que queremos é impor a verdade,
que enunciamos majestaticamente como nossa…
Por absurdo que possa
parecer, estou há dias a ler textos de opinião em que o
examinado é convidado a defender "numa perspetiva pessoal (…) o
poder das palavras nas relações humanas."
Estou para aqui a fingir
que a "opinião" e a "perspectiva pessoal" se equivalem, mas
não consigo aceitar tal equivalência...
30.6.18
Ontem, na sede do MAS, em
Lisboa, Anja Flach procurou convencer o auditório (pequeno) de que a
resistência curda é, no essencial, um movimento de libertação comunitário, em
que os membros, em grande parte mulheres oprimidas, tentam construir uma
alternativa à sociedade patriarcal, capitalista - predadora...
As ferramentas de que
dispõem são escassas, mas, se preservado o território comunitário*, parece
possível combater, através do trabalho manual e da educação, a resignação
milenar, devolvendo alguma da felicidade há muito perdida…
A utopia curda enraíza-se
num tempo anterior ao império otomano e a todos os colonialismos de que foram e
são vítimas, por isso tem poucos aliados, porque na verdade não existe um
território curdo, mas, sim, ilhéus em que os valores se vão diferenciando de
acordo com os contactos a que se veem obrigados…
A utopia curda continua,
no entanto, cercada por poderosos interesses que visam a apropriação e a
partilha do Médio Oriente e que não olharão a meios para a esmagar, até para
que não sirva de exemplo a outras comunidades esquecidas…
Em Portugal, o que se
sabe sobre os povos curdos é infelizmente residual, até porque a diretriz curda
não passa obrigatoriamente pela construção de um Estado, como, por exemplo, o
turco…
Nós, por aqui, amamos o
Estado e estamos convencidos de que ele só pensa em nós…
* o que explica a luta
armada em que as mulheres têm um papel importante, tal como aconteceu durante
dois anos com Anja Flach...
29.6.18
Nos últimos dias, o rolo
compressor das perguntas e das respostas tudo tem feito para justificar o
injustificável, para esmagar a nulidade do processo de aprendizagem.
Estou no ponto em que as
evidências deixam de ser evidentes. Há, porém, umas tantas que eu não vou
conseguir esconder debaixo do alcatrão...
28.6.18
O presidente Marcelo não
resistiu! E lá deu uma lição ao presidente dos Estados Unidos - imaginou-se
Vasco da Gama perante o rei de Melinde! - dando-lhe conta da grandeza da obra
portuguesa no seu máximo esplendor atual expresso no número de emigrantes e na
grandeza do Cristiano Ronaldo…
Fê-lo com ironia para que
os portugueses entendam a nossa superioridade intelectual, fazendo crer que o
presidente Trump não entenderia a saloiice da conversa … e nós
aplaudimos com a bênção de Putim…
27.6.18
São tantas as palavras!
Correm sonsas e desarticuladas…
As palavras, bem queria que fossem ingénuas,
inocentes, primitivas…
Nada disso: nem sequer matreiras, mentirosas,
brejeiras...
As palavras surgem ocas, disparatadas…
- expressão de uma idiotia coletiva nutrida de
presunção e água-benta.
(Já me esquecia: a Prova de Literatura Portuguesa era de fácil resolução
desde que o examinando compreendesse a língua de Garrett e de Agustina
Bessa-Luís!)
26.6.18
No
caso da greve dos professores, só falta o vídeo-árbitro!
“Tal como solicitado pelo
Ministério da Educação, o Colégio Arbitral deliberou, por unanimidade, que os
conselhos de turma relativos aos 9.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade devem
realizar-se até à data-limite de 05 de julho, a fim de emitirem a avaliação
interna final. “Serviços mínimos
Comentários para quê? A
verdade é que, neste século, os professores têm sido os bombos da festa.
Diga-se o que se disser: ser professor tornou-se uma profissão desgastante,
desrespeitada, desautorizada e mal remunerada, sobretudo para todos aqueles
que, nos últimos, foram impedidos de progredir na carreira… ao contrário do que
é apregoado por comentadores encartados na defesa de interesses privados.
Nota: Em vez de
vídeo-árbitro, o cardeal ameaça com a solicitação de aclaração da
decisão.
25.6.18
O
programa chama-lhe 'educação literária'
«A capacidade de o
cidadão se situar no mundo depende, em parte, da sua relação com a obra
literária. O programa chama-lhe "educação literária"...»
Ao contrário do que
escrevi no dia 19 de junho, o exame de Português do Ensino Secundário testa
minimamente a relação do aluno do 12 º Ano com a obra literária. A minha baixa
espectativa gorou-se…
Há, todavia, um problema:
a educação literária parece não estar a ter sucesso, pois, pela evidência
recolhida, poucos são aqueles que leem as obras e que, se o fazem, lhes
entendem a mensagem…
É um pouco como se os
deserdados se obstinassem em desistir!
24.6.18
Cretino é
o adjetivo que serve para designar um indivíduo que tem uma incapacidade
mental; serve para designar quem não tem muita inteligência - o idiota; serve
para designar uma pessoa manipuladora, capaz de prejudicar os outros, mesmo que
sejam seus amigos, que infringe todos os padrões de dignidade…
Para memória futura
BdC:
"Um conjunto de cretinos viciou resultados. Não quero fazer parte de
uma elite malcheirosa. Deixei de ser sócio e adepto do Sporting."
Apesar de tudo, BdC soube
escolher o adjetivo. O problema está no objeto…
Em setembro, não me vou
esquecer desta 'pérola' para treinar a técnica do retrato.
23.6.18
«O desmaio de Marcelo
Rebelo de Sousa ocorreu às 12:48 durante uma visita ao Santuário.»
O Presidente da República
desmaia e deixa de ser notícia. Afinal, o futuro do Bruno de Carvalho é bem
mais importante…
Diz o Professor que se
tratou de uma gastroenterite aguda. Será? E o médico do Presidente, o que é que
não diz?
22.6.18
Por momentos, saí da sala
do risco, e fui à procura do sujeito e do complemento direto.
Só encontrei flores!
(Já estou de regresso…)
21.6.18
Até 4 de julho,
encontram-me na sala do risco… que só pode ser vermelho. Ainda não
especificaram o matiz… Lá chegaremos à graduação da cor.
Por favor, não me
perguntem porquê.
19.6.18
Sobre
o exame de Português de 2018
Devo relembrar, nesta
data, (e não é a atormentada 6ª feira de Madalena, no "Frei Luís de
Sousa"!) o que escrevi neste blogue, sob o título O ÚLTIMO
PROFETA, em 19.01.2018, 6 meses antes do exame:
«Se a imaginação e
o mistério não estão connosco, não vale a pena escrever.» Maria
Ondina Braga entrevistada por Mário Santos, Público, 9.12.1995
Foi certamente essa
certeza que alimentou Fernando Pessoa ao escrever MENSAGEM!
Perante o desconchavo a
que Portugal chegara, na ausência de feitos que pudesse imortalizar, Pessoa
optou por imaginar um futuro que, de algum modo, fosse capaz de despertar os
portugueses coevos da modorra em que jaziam.
Esqueceu a História e
atirou-se ao Mito e, pelo caminho, assumiu o papel de último profeta do Quinto
Império, procurando devolver a esperança e a vontade necessárias ao Sonho, sem
o qual o Senhor acabaria por esquecer o povo eleito que unira o Mar, mas que
não soubera preservar o Império...
O último profeta (Screvo
meu livro à beira-mágoa), mais do que a voz do Senhor, surge como seu
interpelante, procurando, assim, que o último fôlego da Humanidade seja obra de
Portugal - o verdadeiro herói de MENSAGEM.
(Este pequena reflexão
foi feita a pensar nos meus alunos que, inteligentemente, a não leram…)
Sobre a prova de exame de
Português 2018, prefiro, desta vez, não tecer comentários, a não ser levantar
uma pequeníssima questão:
Até parece que a relação
de interlocução tem início no sétimo verso do poema… /Mas quando quererás voltar?
/ Não teria sido mais inteligente ter solicitado quais são os termos dessa
relação no poema e na Terceira Parte de MENSAGEM?
(…) /Tenho meus olhos
quentes de água. / Só tu, Senhor, me dás viver. // Só te sentir
e te sentir pensar / Meus dias vácuos enche
doura. /
Daqui a pouco, começa o
exame nacional de Português - 12º Ano. A minha expectativa é baixa: elaborar
uma prova, que não revele publicamente a mediocridade a que chegámos, é tarefa
difícil.
Há, no entanto, um aspeto
que espero ver consagrado nesta prova de exame: o contributo da disciplina para
o fomento da consciência literária, importante vector da
cidadania.
A capacidade de o cidadão
se situar no mundo depende, em parte, da sua relação com a obra literária. O
programa chama-lhe "educação literária"...
Temo que a "educação
literária", pelas perguntas que me foram colocadas nos últimos dias, acabe
por não ser aferida.
Por exemplo, foi me
perguntado "se valia mesmo a pena ler as obras de leitura obrigatória dos
últimos três anos" ou se "Carlos da Maia teria sido
influenciado pelo Ano da Morte de Ricardo Reis"...
18.6.18
Os
professores e as circunstâncias extraordinárias
“No caso dos
professores, os factos são claros. Primeiro facto: o Governo prometeu e agora
vem dizer que não pode cumprir. Segundo facto: o prometido é devido, ou como
diz o primeiro-ministro António Costa, palavra dada, palavra honrada”, afirmou.
Para o líder parlamentar do PSD “só circunstâncias extraordinárias podem
justificar que assim não seja”. (Fernando Negrão) Cinismo político
Cavaco de cínico: Para
quê pedir mais sacrifícios aos professores?
Afinal, para o ano há
eleições. Com o PSD vencedor e partido do Governo, o degelo será total:
atualização salarial, progressão na carreira, redução do horário de trabalho,
reforma antecipada sem penalização, diminuição do número de alunos por turma,
formação de professores, modernização de equipamentos, nada irá faltar!
É só um pouco mais de
paciência… a não ser que da toca voltem a saltar «as circunstâncias extraordinárias»
…
(atualização)
O presidente do Partido Social Democrata (PSD), Rui Rio, acredita que o país
não está em condições para pagar aos professores todo o tempo de serviço
congelado.
Afinal, os professores não podem esperar pelo PSD!
17.6.18
O
pensamento crítico ainda não acabou
O antropólogo britânico
Jack Goody explica na sua obra “Domesticação do Pensamento Selvagem”
que o pensamento crítico só é possível quando conseguimos ler um texto
duas vezes e repensar o que lemos para podermos distinguir entre o bem e o mal,
entre verdade e mentira. Quando o processo de comunicação se torna
vertiginoso, assente em multicamadas e extremamente agressivo, deixamos de ter
tempo material para pensarmos de uma forma emocional e racional. Ou seja, o
pensamento crítico morreu! (Franco Berardi) O pensamento crítico
Toda a entrevista do
filósofo italiano dá que pensar, mas o que em mim tem mais impacto é «a ideia
de que o pensamento crítico morreu», não pelo facto em si, mas por uma razão
elementar - deixámos de ler devagar. Isto é, deixámos de ler várias vezes, de procurar
interpretar, distinguir o trigo do joio…
Esta razão primeira é
aquela que eu sempre considerei como estratégica para quem tem a missão de
ensinar a ler / ensinar a aprender a ler, correndo o risco de
ser enfadonho e retrógrado…A vertigem comunicacional é, por seu turno, a maior
das formas de alienação capitalista atual…
E ler, saber ler, é o
trampolim para o combate, mesmo daqueles que preferem o imobilismo.
É certamente por isso que
no tempo de que disponho, vou continuar a insistir na leitura literária e
filosófica, apesar da escolástica jesuítica...
16.6.18
« L’absurde ne délivre pas, il lie. Il n'autorise pas tous les actes.
Tout est permis ne signifie pas que rien n'est défendu. » Albert
Camus, L´homme absurde.
Nascido e criado num
mundo essencialista, levei algum tempo a rejeitá-lo. A dado momento, atraído
pela visão existencialista sartriana, vulgarizada, em termos literários e
ensaísticos, por Vergílio Ferreira, caí num niilismo que me provocava
calafrios, pois, apesar de tudo, para mim, a liberdade não poderia ser absoluta
pelo mal que traria ao Outro, ao Cosmos, ao futuro de ambos…
A necessidade de negar o
determinismo conduziu-me a um princípio enunciado por Goethe: «o meu campo é
o tempo.» Dito de outro modo, fiz minha a ideia de que sou o meu tempo, nem
o anterior nem o ulterior, o que não significa amputar e rejeitar as raízes nem
alhear-me das consequências dos meus atos.
Esta consciência da
situação em que me encontro ajuda-me a separar o trigo do joio numa época em
que a morte do Outro se tornou num vulgar gesto instantâneo...
15.6.18
Não costumo falar de
futebol, sinto-me enjoado sempre que ligo a televisão e verifico que o Estado
nada faz para acabar com as máfias que vivem do futebol, cansa-me que se
desperdicem dias inteiros em torno de jogos que duram pouco mais de 90 minutos,
mas vejo-me obrigado a reconhecer que dum jogo pode depender a felicidade dos
povos - triste vida!
Talvez seja por isso que,
hoje, horas antes de Cristiano Ronaldo entrar em campo, no Portugal-Espanha, a
notícia seja:
Cristiano Ronaldo está
disposto a pagar 18,8 milhões de euros ao fisco e aceita dois anos de pensa
suspensa, após reconhecer quatro delitos fiscais de que foi acusado, avança o
jornal espanhol El Mundo.
Entretanto, como pode
acontecer que algum aluno do 12º ano ainda esteja a empanturrar-se do
costumeiro paleio vendido pela máfia das editoras, relembro que, na disciplina
de Português, o fundamental é compreender, interpretar e redigir respostas
adequadas às perguntas, se possível num registo de língua cuidado.
Como proposta de
atividade de rememoração, capaz de satisfazer todos os requisitos mencionados,
deixo, aqui, um poema de Manuel Alegre:
Fernando Pessoa
Vem ver agora o meu país
que já
não tem Camões nem Índias
para achar
só tem Pessoa e o império
que não há
sentado à mesa como em
alto mar.
A viagem que faz é só por
dentro
e escreviver-se a única
aventura.
No pensamento é que lhe
dá o vento
ele é sozinho uma
literatura.
Eis a vida vidinha cega e
surda
ditadura do não do só do
pouco.
Ser homem (diz Pessoa) é
ser-se louco.
Heterónimo de si na hora
absurda
Viajando no sentir
escreve sentado.
E é Pessoa: “futuro do
passado”.
Manuel Alegre, Sonetos
do Obscuro quê (1993)
14.6.18
A
flor de tília da árvore do centenário
A árvore do centenário
vingou. Oferece-nos a flor para que possamos preparar uma infusão que acalme os
alunos, agora que os exames vão começar, e que alivie os professores da tosse
seca típica de um ano de promessas ministeriais por cumprir...
13.6.18
Estas foram fotografadas
em Cabeço de Vide, junto às Termas Sulfúreas…
O pronome parece não ter
antecedente, o que é grave, pois, por definição ele substitui um nome.
A verdade é que estas
borboletas existem, mas para mim tornaram-se mais invisíveis do que eu próprio.
O mesmo acontece com a
água da piscina (tanque?) fluvial. Passa ali um fio água, que se perde pelas fendas
e se evapora quando o calor se intensifica…
E quanto ao cheiro a
enxofre, o meu olfato nada me disse…
12.6.18
Só a vitrine separa o
olhar da realidade numérica. Tudo parece claro, legível… e nem uma palavra!
Talvez a luz tenha anoitecido e o sol se tenha eclipsado.
A própria Fortuna terá
desertado, ciente de que nada pode fazer. Deixá-los sonhar!
11.6.18
Ipsos Germanos indigenas
crididerim minimeque aliarum gentium adventibus et hospitiis mixtos… Cornelii
Taciti, De origine et situ Germanorum
(Acredito que os
germanos são naturais da própria terra e nunca se misturaram com povos de
outras regiões…)
A razão de tal isolamento atribui-a Tácito à dureza da terra e à severidade do
clima e não a qualquer preconceito de sangue…
Pode ter sido assim em
tempos remotos, mas, nos últimos séculos, tudo mudou, infelizmente.
Liceu Camões vai receber
obras de milhões. A notícia há muito esperada, mas o título surge envenenado:
O concurso internacional
para as obras no Liceu Camões, em Lisboa, que espera há anos por uma
intervenção, vai avançar até ao final do mês e envolve um investimento de 12,46
milhões de euros, segundo o Ministério da Educação.
Apesar de tudo, esperemos
que a obra não encalhe nas manobras da geringonça...
10.6.18
« Je veux savoir si je puis vivre avec ce que je sais et avec cela
seulement. (…) Je veux seulement me tenir dans ce chemin moyen où
l'intelligence peut rester claire. » Albert Camus, Le suicide
philosophique.
A formulação tranquiliza,
mas a verdade é bem mais cruel: vou ter de viver com o que nunca chegarei a
saber, desejando que a inteligência me ajude a encontrar os recantos mais
aprazíveis, onde possa afastar-me da prepotência da tirania das horas e dos
ditadores do momento...
9.6.18
Portugal
fora da rota angolana
Se alguma coisa ficou
demonstrada pela viagem de Estado do Presidente angolano à Europa, que passou
também por Espanha, embora aqui a título não oficial, é que na nova era da
política externa angolana Portugal não estará no epicentro. Portugal
não é importante para Angola
Angola precisa de
capital, de investimento. Portugal precisa de exportar
"trabalhadores", uns mais classificados do que outros, é verdade. Mas
será que chega?
Não. Sem capital, não há
investimento, não há trabalho. O que falta a Portugal é capital. Porquê?
Porque uma boa parte dos
recursos financeiros tem sido desviada para alimentar o hedonismo das novas
elites portugueses e angolanas…
Porque, apesar do que se
propagandeia, a cultura lusófona mais não é do que propriedade de uns tantos
literatos bem instalados…
Porque é difícil
libertarmo-nos da ideia imperial de uma variante europeia normativa da língua
portuguesa.
Porque na era da
globalização, não é assim tão difícil mudar a língua oficial - o inglês é a
língua do capital. Ou será que há outra?
Porque, no passado, não
soubemos tratar os povos angolanos como "iguais" e, no presente, não
nos conseguimos libertar de múltiplos preconceitos que não é necessário
enunciar.
8.6.18
Jorge Jesus revelou esta
sexta-feira numa palestra promovida pelo International Club of Portugal a
existência de uma cláusula de confidencialidade que o impede de falar sobre o Sporting.
Jorge Jesus está impedido
de falar do Sporting, isto é, do que se passou nos últimos meses,
designadamente em Alcochete. Por quem?
Será que se a Justiça o
convocar, Jesus se recusará a falar em obediência a tal cláusula?
Por este andar, o
Redentor ainda acaba no Inferno, a não ser que se converta ao Islamismo, onde,
como se sabe, esse tipo de cláusula pode ser objeto de 'fatwa' que o liberte do
anátema cristão…
7.6.18
Sobre Tácito, sabemos
muito pouco. Até o apelido familiar pelo qual hoje é conhecido
(Tácito/Tacitus) é um adjetivo que exprime algo como não
manifesto, não expresso, reservado. O que podemos afirmar sobre a sua
biografia e personalidade são em parte conjeturas que resultam do cruzamento de
dados soltos entre a história do seu tempo e a sua própria obra histórica.
Provavelmente nasceu em meados dos anos 50 d. C.; foi senador e chegou a cônsul
(em 97) e procônsul da Ásia (110-113); fez parte da elite social e económica da
Roma do Principado e alcançou o topo político que a sua época lhe oferecia.
Abandonou a administração imperial para se consagrar inteiramente à
História.
(De Cornelii Taciti, conservo a obra De origine et situ Germanorum,
cuja leitura há muito abandonei, mas que volto a folhear…e verifico que tempos
houve em que dei muita atenção aos lugares e aos costumes dos povos
germanos…tudo em Latim)
Por estes dias, prefiro a
reserva a pronunciar-me sobre as manobras em curso… Prefiro até revisitar
Tácito, mesmo que a tarefa me imponha o recurso continuado ao dicionário…
6.6.18
Neste dia 6, terminei
mais um ano letivo. A opinião pública dirá que entrei de férias, indiferente ao
período de avaliações que amanhã se inicia e ao período de exames que se
avizinha e cujo termo está marcado para 31 de julho…
De qualquer modo, as boas
almas não se cansam de me desejar "boas férias" e perguntar se volto
para o ano, quer dizer, se, depois das férias, não me aposento…
O ano letivo que agora
termina foi cansativo - um novo programa e novos alunos em fase de conclusão de
ciclo.
A verdade é que me é
difícil persuadir os alunos (nem todos, felizmente!) que ainda há
qualquer coisa que, todos, podemos aprender. A dificuldade é fruto do
convencimento de que temos ideias sobre tudo e que as nossas ideias são tão
válidas como as alheias, mesmo que todas juntas não tenham qualquer préstimo…
Conceber uma ideia,
experimentá-la, avaliar a sua pertinência não faz qualquer sentido para quem se
habituou a "achar" que as ideias são inatas, e como tal de nada serve
procurar-lhes a raiz, seguir-lhes o desenvolvimento, situá-las e
confrontá-las...
No dia em que vou de
férias, lembro-me sempre do Bexiguinha (Aparição, V.F), pronto a testar a sua
natureza divina, pois há sempre quem tenha a ideia de que, injustiçado, o
melhor a fazer é proclamar a sua superioridade intelectual, o seu insuperável
desdém...
5.6.18
« En psychologie comme en logique, il y a des vérités mais point de
vérité. » Albert Camus, Le raisonnement absurde.
Indignar-me, só no momento. Não tenho tempo para
mais. É por mais evidente que a soma da verdade
de cada um não perfaz a Verdade. Nem ela é possível ou, em último caso, não
está ao meu alcance…
Mais sossegado, avanço na
teia, calibro todos os nós que a constituem, na esperança de que ela não
desfaça a minha verdade do dia - cada indivíduo merece uma oportunidade, mesmo
se cretino…
E para que o meu sossego
não se desmanche, por favor, não me falem em nome da Verdade e muito menos em
nome da Justiça!
4.6.18
O
ministro da educação, vítima de notícia falsa (!?)
O ministro da Educação,
Tiago Brandão Rodrigues, confirmou hoje que os professores não vão ter
contabilizado qualquer tempo de serviço congelado por terem falhado as
negociações com os sindicatos. Um ministro à deriva
Esta notícia deve ser
falsa. Porquê?
Porque o ministro
fizera uma promessa a todos os professores que uma
parte do tempo de serviço congelado iria ser contabilizado. Parece agora que
essa promessa fora feita a 22 sindicatos de professores (não sei se é possível
confirmar o número!) e não a todos os professores… E como os,
entretanto, 23 sindicatos querem um descongelamento total, o senhor ministro,
ignorando que as promessas são para cumprir, decide castigar todos os
professores - diga-se que uns tantos já não lhes adianta o descongelamento, pois
estão cada vez mais próximos da incineração ou da corrupção dos corpos…
E, como não poderia
deixar de ser, o senhor Miguel Sousa Tavares lá veio dar mais uma bicada nos
professores, profundo ignorante em matéria de remunerações e progressões, como
comprovou, de imediato, ao defender a remuneração acrescida dos médicos, na qualidade
de funcionários públicos… nestas coisas, há uns que são filhos e outros que são
enteados! Ou será que o SNS lhe faz falta e a Educação, não?
3.6.18
Antes, era assim - 29 de
abril de 2018...
31 de maio de 2018, ficou
assim. Por quanto tempo?
Pode ser que a época dos
incêndios não chegue, a Natureza, porém, não deixará de seguir o seu caminho…
Pelo caminho, uns tantos
enriquecem à conta da falta de meios dos proprietários. Por sua vez, o Estado,
providente e previdente, já abriu a caça à multa...
2.6.18
« Toutes les grandes actions et toutes les grandes pensées ont un
commencement dérisoire. » Albert Camus, Les
Murs Absurdes...
... 'dérisoire' é
um dos poucos termos que sempre me deu que pensar, que nunca soube traduzir,
apesar do suposto 'ridículo' em que vivemos, da 'insignificância' das nossas
vidas.
Camus conforta-me ao
relativizar os meus atos, pois as grandes ideias, quanto ao seu parto, não se
distinguem em nada das minhas, ridículas, fúteis e inúteis... Talvez por
isso tenha cedido a ir visitar a Quinta Conde de Arcos, aos Olivais. Dos viveiros
às hortas comunitárias, das borboletas brancas ao majestoso dragoeiro, só as
couves 'baceleiras' despertaram verdadeiramente a minha atenção. E
porquê?
Porque me fazem recordar
um prato designado "papas de sarrabulho" que era confecionado com a
referida couve baceleira migada e misturada com farinha de milho e um eventual
ovo...
Porque atualmente, a
informação disponível ignora esta variedade de couve que lembra o arbusto
resultante de um bacelo selvagem e porque, em tempos de riqueza gastronómica,
não há sarrabulho sem carne de porco, galinha e não sei que mais...
1.6.18
O Presidente bem clama a
favor da integração dos sem-abrigo e confirma, agora, que o plano está a avançar.
Pode ser que sim, embora
me pareça que esta realidade social é demasiado dinâmica para que possamos
confiar num plano tão bem calendarizado - os sem-abrigo morrem e outros
ocupam-lhes o lugar, indiferentes ao voluntarismo presidencial... O país
empobrece e o número dos sem-abrigo cresce.
Entretanto, vale a pena
registar que os sem-abrigo já descobriram abrigo junto do edifício da Altice
nas Picoas, até porque esta parece nem sequer cuidar do mato que medra à sua
volta...
31.5.18
Limpeza
no Santuário em dia de Corpo de Deus
A Solenidade Litúrgica do
Corpo e Sangue de Cristo, conhecida popularmente como "Corpo de
Deus", começou a ser celebrada há mais de sete séculos e meio, em 1246, na
cidade de Liège, na atual Bélgica, tendo sido alargada à Igreja latina pelo Papa
Urbano IV através da bula "Transiturus", em 1264, dotando-a de missa
e ofício próprios.
Não participei na
Solenidade Litúrgica, o que, espero, não agrave a minha situação aos olhos do
Divino, pois guardei o dia para limpar, em fim de prazo, terrenos, certamente,
abençoados, pois num deles encontrei uma placa, em que se destaca o termo SANTUÁRIO...
Ninguém me pediu
autorização para a lá colocar, mas, segundo me dizem os entendidos, doravante não
posso caçar naquele bendito terreno...
30.5.18
Preocupa-me que os
Estados andem preocupados com o nascimento e a morte dos cidadãos. E depois há
todos aqueles - grupos, associações, amigos - que, sempre que o Estado se
agita, decidem tomar partido, esgrimindo dogmas a favor ou contra, embora se
confessem defensores das liberdades individuais (no plural), sem esquecer todos
os titulares de cátedra religiosa e laica...
Tanta agitação para quê?
E ainda dizem que uns ganham e outros perdem e deitam foguetes e ameaçam voltar
à carga - versão bélica do humano.
Desconfio que me estou a
tornar antissocial. Ou será sintoma de anarquismo?
29.5.18
« Il n'y a qu'un problème philosophique vraiment sérieux : c'est le
suicide. Juger que la vie vaut ou ne vaut pas la peine d'être vécue, c'est
répondre à la question fondamentale de la philosophie. » Albert
Camus, L'absurde et le suicide.
Se eu bem entendo a
essência da questão, o que está em causa é o SENTIDO DA VIDA... e só o próprio
vivente é que deveria decidir o que fazer da sua vida. Não os parlamentos, onde
os filósofos são raros... e provavelmente sábios para se absterem...
Por mim, a dor individual
não é matéria que possa ser legislada, tal como o prazer...
Aluno: - Quando é que faz
a autoavaliação?
Surpreendido, o professor
replica: - Quando é que apresenta oralmente a obra selecionada no âmbito do
projeto de leitura? - E trabalho escrito, apresentou algum durante o ano?
Resposta do aluno:
- O que é que isso tem a ver com a autoavaliação?
Este professor ainda é
daqueles que pensa que lhe compete criar as condições para que cada aluno possa
expor o modo como terá cumprido os critérios de avaliação, mas isso, afinal,
não tem qualquer significado...
Sob uma amoreira, acabo
de ver um papá babado com o filhote ao colo, incitando-o: - «Meu lindo menino,
já deve chegar, mas é como tu quiseres, faz o que te apetecer!»
Ele nem precisa de
regatear!
28.5.18
Podem
os sindicatos de professores ser felizes?
A notícia da greve às
avaliações no final do ano parecia refletir ameaças recentes, aceitáveis por
muitas razões... só que o detalhe envenena: estas só terão início a 18 de
junho, deixando de fora as avaliações do 9º, 11º e 12º anos. Consequentemente,
os exames não serão postos em causa...
A meu ver, estas manobras
sindicais só prejudicam os professores, contribuindo para o descrédito social
da classe.
27.5.18
A 'árvore' tem três
sílabas tal como a 'palavra' - o 'homem' só tem duas, o mesmo acontecendo à
'mulher', a não ser que se chame Maria...
A 'árvore' não engana.
Tem raízes, tronco e ramagem. Já quanto à 'palavra', nem sempre exprime lisura,
embora, por vezes, seja expressão de secura...
Até o 'espírito' é
constituído por três sílabas, apesar de andar longe da santidade. Basta
recordar que, certo dia, "visitou" (forma eufemística para os dias
de hoje) Maria, deixando-a grávida sem ela ter conhecido homem...
Serve a presente nota
para mostrar a minha preferência pelas 'árvores'. De todas as criaturas, só
elas me inspiram, porque, para além das estações, elevam-se aos céus sem terem
necessidade de ludibriar - sem necessidade de que o espírito desça sobre elas...
26.5.18
Cai pela ribanceira
abaixo. Joelho esfolado, mãos arranhadas. Tem vontade de chorar. Mas para quê?
Sacode a poeira, disfarça
o rasgão e volta a subir a encosta, como se nunca tivesse saído do trilho...
Sabe de antemão que terá
de prestar contas, experimentar, na melhor das decisões, o chinelo... De sola,
o chinelo, que melhor seria que fosse de pano ou até de cortiça - modernices!
Fiquemo-nos pelo chinelo,
bendito! As alternativas já experimentadas eram muito mais dolorosas, hoje,
dir-se-ia, gravosas, pois habituámo-nos a formular juízos de valor
condenatórios porque queremos estar de bem com a opinião, pondo de lado a
consciência...
Depois de tanta queda e
da eliminação do chinelo, mesmo se de pano, vejo-me sem saber se ainda há
consciência, se ela era uma imposição cultural ou uma exigência pessoal...
O que eu sei é que só
posso usar o chinelo no pé, em casa, na praia... até posso de ir de chinelo
para a escola que já ninguém reclama...
25.5.18
«Uma flexibilidade de
25% na forma como as escolas trabalham os currículos, fusão e permuta entre
várias disciplinas, são algumas das ferramentas que as escolas vão poder
beneficiar por via de um decreto de lei.» Tiago Brandão Rodrigues na
ilha da Madeira
Com uma autonomia
reduzida a 25% - para onde é que vão os restantes 75%? -, os professores, em
nome do supremo interesse dos discentes, vão sentar-se a discutir graciosamente
os pontos em que os curricula se interpenetram ou, até, os
pontos em que a inteligibilidade de uns depende da aquisição dos outros... Será
que estão preparados para tal tarefa?
Em reuniões breves e
clarividentes, serão construídos 'transprojetos' - que a pluri - e a
interdisciplinaridade já tiveram melhores dias! - a executar no próximo ano
letivo... se a opção não for a da corrosão disciplinar (fusão)... tudo
apadrinhado pelas novas tecnologias de bolso que, entre outras soluções
fabulosas, vão finalmente libertar os docentes da agrura de corrigir e
classificar testes e exames... Se se optar pela corrosão disciplinar
(fusão) é mesmo possível acabar com o conceito de "ano letivo"...
Pessoalmente, acho que o
ministério de educação só falha nos 75% que vai querer controlar, porque se
decretasse a autonomia a 100% até poderia encerrar as escolas, despedir os
professores...
Desta vez, não vou querer
cair para o lado da autonomia... não sei se estão a acompanhar...
24.5.18
Todos querem os meus
dados, todos querem que eu os confirme. Se o não fizer, amanhã deixarei de
contar... deixarei de ser ...
Vamos ver se, finalmente,
me deixam em paz!
Viva o Regulamento Geral
de Proteção de Dados!
23.5.18
Em 4 de maio de 2014...
«Por trás dos olhos cegos», creio que o verso é de Fernando Pessoa, revela-se
no nº 7 da Rua do Vale um atelier museu pensado e desenhado pelo Arquiteto
Álvaro Siza Vieira…» (Caruma)
(A verdade é que o verso
é de Fernando Pessoa, por ele atribuído a Ricardo Reis.)
E hoje lá fui até ao Alto
dos Moinhos e pude ver os desenhos do mestre... Por um dia, apesar de falhado o
objetivo da deslocação, valeu a pena ter apanhado o metro.
Júlio Pomar na minha memória caótica surge-me nas palavras de Rui Mário
Gonçalves, nas mãos de Mário Soares, nas confidências de José Cardoso Pires e
antecipadamente nos versos de Pessoa...
VIAJAR!
PERDER PAÍSES! (...) DE VIVER DE VER SOMENTE!
Por lapso, ontem, não
referi o Eduardo Lourenço, sempre às voltas com o passado e o futuro da
nação. E já, agora, o José Augusto-França, homem que deu assinalável
contributo à divulgação das artes plásticas...
22.5.18
Por aqui, o que há mais
são afloramentos do que já foi, do que ainda não é nem se sabe se virá a ser,
não esquecendo que o que é está pronto a deixar de o ser... dizer que se trata
do tempo é vago, genérico, banal... é pensar que se está instalado, bem ou mal,
sem saber que o fio pode estar a ser cortado...
Por isso, hoje, vou amputar O Velho de
Rui Knopfli:
Não envelheço. Torno-me antigo.
O velho sempre viveu em mim,
sempre o pressenti no olhar
magoado demorando-se nas coisas,
em certa lentidão não premeditada
dos gestos e nas lembranças confusas
de uma outra recuada idade.
O acaso (outra figura do tempo por explicar) quis que, antes de aqui
chegar, tivesse dois breves encontros com presenças de outros tempos (uma
mais e outra menos idosa do que eu); em comum, a exclamação: - ainda a
trabalhar!
O Rui Knopfli que me perdoe, ele, que nunca me encontrou, sabe dar razão à
minha temporalidade...
21.5.18
«... relances há/
em que creio, ou se me afigura, / ter tido, alguma vez, passado // com
biografia...» Rui Knopfli, Memória consentida, in nada
tem já encanto, Tinta da China, 2017
não sei se são relances,
se fulgurações...
de súbito surgem breves
histórias inteiras...
mas tão distantes que por
mais convincentes se perdem em vagares indiferentes
- não cresce ali nenhuma
imagem e muito menos uma qualquer hipotipose...
- dizem-me que o
imaginário caiu em crise
- não sei se acredite...
não temos nada em comum a não ser o animal acossado
bem replica o Poeta: «cada
homem é uma ilha / cega na mais densa cerração.»
... apesar do Poeta Mia
Couto: «cada homem é uma raça» ...
20.5.18
(Poucos revelam
reconhecer o mérito do adversário...
Poucos sabem respeitar o
vencido...)
Vencer é hoje um objetivo
maquiavélico.
Até o Poeta, quando
ameaça retirar-se do mundo imundo, é acusado de sobranceria, como se a nova
ordem o obrigasse a viver na lixeira mental e material que vai crescendo nas
mais diversas instituições... Como se a Arte devesse subordinar-se a populismos
insanos.
19.5.18
Em círculos, por vezes, tangentes, reúnem-se os
professores.
É já maio, o primeiro-ministro investe tudo na prevenção dos incêndios...
Entre professores, o tratamento desigual agudiza-se.
É já maio, a classe docente continua desclassificada... é um peso insuportável
para o OGE!
É já maio, em Alvalade, o "enfant terrible"
revela que a educação é intransmissível...
18.5.18
« Il n'y a que dans les romans qu'on change d'état ou qu'on devient
meilleur. » Albert Camus
A crença no bom senso e
na regeneração do indivíduo não passa disso mesmo. Esperar que ele dê atenção
às vozes desafiantes é uma ilusão que só serve para nos desresponsabilizar...
Hoje, voltei a adotar um
tom solene e ameaçador para condenar aqueles que, entre outros males, dão
diariamente prova de desonestidade intelectual e de falta de respeito pelos
seus pares, advertindo-os para um futuro / presente de permanente oportunismo e
de desrespeito...
Ao cair em mim, recordei
o poeta Herberto Helder:
- e eu pedi ao balcão:
dê-me um poema,
e o empregado olhou para
mim estupefacto:
- isto aqui é o mundo,
monsieur, aqui não se servem bebidas alcoólicas...
17.5.18
O termo 'vandalismo' como
sinónimo de ação destruidora foi cunhado no século XVIII, em janeiro de 1794
por Henri Grégoire, bispo constitucional de Blois.
(...) O vandalismo é a
ação de destruir ou danificar propriedade alheia de forma intencional com o
propósito de causar ruína. Muitas vezes é um ato gratuito, ainda que possa ser
encomendado sem que muitos dos intervenientes estejam conscientes desse facto.
No caso que tem abalado a
nação, os rapazes têm sido acusados de atos de terrorismo. As instituições,
como tal, confessam-se chocadas, defraudadas e até 'vexadas',. Creio, no
entanto, que seria mais apropriado designá-los de vândalos, porque, de facto,
eles não revelam querer construir o que quer que seja... eles não percebem até
que ponto estão a ser manipulados...
Esta destrinça parece-me
útil, pois é bem mais fácil pôr termo ao vandalismo do que ao terrorismo, como
a História bem ensina, desde que as instituições deixem de andar de mão dada
com tais energúmenos, a começar pelos maiorais.
16.5.18
Ainda sem perceber os
vândalos que, ontem, resolveram atacar em Alcochete, apesar desta incompreensão
não ser absoluta, pois, todos dias, me dou conta de que as sementes de
violência estão a germinar nos nossos jardins, termino a leitura de A
Conquista da Felicidade (1930), de Bertrand Russell.
Por acaso, tal aconteceu
na pastelaria Charrette, na Avenida Almirante Reis, Lisboa,
onde, chatice, não presenciei qualquer crime, a não ser
uma velha senhora muito educada, que, um pouco alterada, dava conta às amigas
de que se sentia feliz ali, pois lá em casa o marido gritava com ela e os
vizinhos insultavam-se aos outros. A senhora era mesmo muito educada, ao
perceber que eu movia a cadeira para me levantar, pediu-me de imediato desculpa
caso ela estivesse 'a falar muito alto'... Tranquilizei-a, porque não quis
destruir-lhe a alegria da narrativa...
Na obra referida,
Bertrand Russell analisa as condições internas que favorecem a conquista da
felicidade, propondo estratégias pessoais que poderão libertar o indivíduo da
alienação ideológica e religiosa, sem esquecer o narcisismo...
O caminho é
necessariamente individual, tendo, no entanto, como interlocutores: o tempo
cósmico, a natureza e todo o homem cujo sonho e ação se rejam por valores
universais construtivos.
O conhecimento do
passado, apesar de imprescindível, só será útil se orientado para a humanidade
futura.
Em síntese, o que esta
leitura me proporciona, para além de ter ficado deslumbrado com a competência
argumentativa do filósofo, é a vontade de voltar ao início de modo a questionar
as minhas indisposições, irritações, caprichos, fobias, e principalmente, a
origem das minhas certezas...
«Soterrado / Por mil
certezas de aluvião.» Miguel Torga
15.5.18
Meia centena de adeptos de cara tapada
invadem Academia do Sporting em Alcochete
Inacreditável! Estes adeptos agem a mando de quem?
Do que é que as autoridades policiais estão à espera?
E o ministério da administração interna, o que é que tem feito?
14.5.18
«Esta mulher não
sossega. Desde que me cheguei ao pé dela que está com esta conversa dos
bocanços. Só quer é bocanços. Não quer outra coisa. É bocanços, bocanços e mais
bocanços.» Estragão (Trinta Cabelos) in À manhã, Cal,
de José Luís Peixoto
Todas as personagens têm
mais de 70 anos, nem parece. Ao vê-las e ouvi-las, é como se o Maio de 68
estivesse a florir no Alentejo...
É certo que Maria Clara
teve o cuidado de substituir os 'bocanços" por 'beijocas', mas nem assim a
brejeirice do texto foi prejudicada. Afinal, mesmo numa escola como a
Secundária de Camões, é necessário ter em atenção o público para quem o
espetáculo foi amadurecido...
Um espetáculo notável,
com atores muito bem encenados e um excelente domínio do texto e do palco, em
que, mais uma vez, Graça Gomes se excedeu... de tal modo que Maio de 68
floresce em todas as estações das nossas vidas.
13.5.18
Para o escol português
- não sei se o termo ainda se adequa - só há lugar para um Senhor...
A seu tempo, substitui-se
o eucalipto, e à sua volta tudo começa a definhar.
Nós somos assim - ou tudo
ou nada!
A escadaria só é
imaginável na descida. O topo resulta, em regra, de um milagre - de uma Vontade
externa que tudo determina...
Ontem, por exemplo, não
se esperava qualquer milagre no Pavilhão Altice - afinal, o Salvador ainda não
perdeu o fulgor messiânico; de Fátima, terra de milagres, não há notícia de
qualquer aparição; só no Porto, a vitória dos dragões era celebrada como se o
Azul tivesse baixado dos céus...
Esta mistura é, no
entanto, básica. Até o dr. António Costa, apesar dos seus 96% e da celebrada
esperteza, começa a definhar...
12.5.18
Dizem-me que
Portugal foi o primeiro país ocidental a entrar em contacto com a Tailândia, à
ordem de Dom Afonso de Albuquerque, em 1511, reinava Rama II em
Ayutthaya.
Não tenho razões para pôr
em causa a informação, apesar de desconfiar sempre que me asseguram que
Portugal foi ou é o primeiro em alguma coisa...
Curioso, lá estive ontem,
no Museu do Oriente, a assistir ao espetáculo Danças Tradicionais da
Tailândia pelo grupo Bunditpanasilpa Institute.
Apreciei a I e a II
partes, tendo ficado com uma ideia do modo como aqueles povos se divertiam -
não sei se ainda se divertem, e isso preocupa-me, porque pouco sei sobre a
Tailândia... Percebi, no entanto, que por lá as cadeiras são desnecessárias!
Quanto à III parte -
Celebração dos 500 anos do Tratado Luso-Siamês de Amizade, Comércio e Navegação
(Dança da Luz e Dança de Amizade) - fiquei sem palavra... a bandeira, o
folclore evocavam o tempo em que o fantasma 'limitava / todo o futuro a este
dia de hoje' (Miguel Torga, Dies Irae).
11.5.18
|
Maio 1968 - evocação no Camões |
«O mundo está cheio de
coisas trágicas, cómicas, heroicas, bizarras e surpreendentes e quem não for
capaz de se interessar pelo espetáculo que ele oferece renuncia a um dos
privilégios que a vida lhe pode dar.» Bertrand Russell, A
Conquista da Felicidade
A tentação é considerar
que os dias oferecem trabalhos e não privilégios. No entanto, remar contra o
marasmo pode ser um privilégio surpreendente.
Aqui e ali, sob um
aluvião de certezas, eleva-se uma dúvida, uma faísca de compreensão. Até a
repetição pode deixar no ar um "se"... Talvez, mais tarde, um filho
pule da moldura e a mãe lhe acompanhe o voo e ela deixe de se sentir
defraudada...
Submissos, pensando que
eram insubmissos, guardam silêncio sobre o sentido, já não sabem bem se do
mundo, se de si próprios... até porque o dia se vai fazendo noite - a única
noite que poderá ser verdadeiramente sua...
E é um privilégio
contemplar os rostos desconfiados perante a ideia de que há vida para além do
aconchego, do sossego, da rotina... quase despertos, libertos do dia...
maternal.
10.5.18
«... as práticas
ligadas à Quinta-feira da Ascensão, o dia da Espiga, em que estas se colhem
como ato propiciatório do bom desenvolvimento das searas e se realizam
percursos processionais, com intervenção do clero, na prática das rezadas,
rogações, bênção dos campos.» Joaquim Pais de Brito, in O Voo
do Arado, pág. 222.
«Em vários locais do
Ribatejo colhem-se habitualmente três espigas de trigo, três malmequeres
amarelos e três papoilas, mais um raminho de oliveira em flor, um esgalho de
videira com o cacho em formação e um pé de alecrim ou de rosmaninho florido. As
espigas querem dizer fartura de pão; os malmequeres, riqueza; as papoilas, amor
e vida; a oliveira, azeite e paz; a videira, vinho e alegria; o alecrim ou
rosmaninho, saúde e força.» No dia da espiga
Já espigado, confesso que
só colhi três espigas, porque as encontrei no caminho da farmácia... Fi-lo por
impulso, mas não fui mais além. Apenas fiquei a pensar na sabedoria (esperteza)
de uma Igreja que 40 dias antes impôs a Quaresma e 40
dias depois convida o rebanho a colher flores... (e não me venham com
o argumento estafado de que antes de Cristo viera Moisés, pois a implícita
conciliação nunca existiu...), quando o que o povo precisava era de pão.
O que me preocupa
verdadeiramente são as causas desta ocultação de culturas anteriores que,
supostamente, viveriam longe de Deus, isto é, insistiam em viver com os seus
deuses. O que me preocupa é o folclore nacionalista...
De qualquer modo, o povo
que nada entende de ortodoxia, sempre soube viver de bem com Deus e com o
Diabo...
9.5.18
Não
há conto sem acontecimento...
Repito: 'Não há conto sem
acontecimento'... Não me apetece voltar a explicar, embora haja quem não
perceba porquê e pense que escreve contos, estórias... Ou seja, a melhor
desculpa que me dão é que 'escrever já é em si acontecimento'... Indulgente,
tolero...
Portanto, sempre que me
contam um conto, só desperto quando o acontecimento irrompe... Hoje, o
acontecimento surgiu sob a forma de epifania. Surpreendido,
perguntei qual era o significado de tal termo. A resposta foi sincera 'não
sei'... Ora ali estava um acontecimento - aparição -, apesar da arredia
espiritualidade da hora...
... a não ser que a
atenção se voltasse para a cavidade de um plátano que vai acolhendo um ninho
sem que ninguém dê conta do acontecimento - e ainda bem! Ou para a luz matinal
que, sem glória, procurava atravessar as copas frondosas das tílias...
8.5.18
«- mas – ia eu para
dizer, mas calei-me de repente –» Herberto Helder, Letra Aberta
Há um ponto a partir do qual deixa de fazer sentido retorquir não tanto porque
a gente seja mínima, mas porque é apenas gente.
Ora, se é gente é porque
não ouve e o que vê é outra coisa, apenas gente.
7.5.18
Para além do que vemos,
que me abstenho de descrever para vos evitar a maçada, há sempre a
possibilidade de criar uma história. De imaginar alguém que queira ir mais
além, de situar, de preferência, essa enigmática personagem no tempo e no
espaço, atribuindo-lhe um sonho, uma ambição, um interesse, uma inutilidade...
Mas como fazê-lo sem
memória?
Por estes dias, venho
insistindo nesse imenso reservatório de acontecimentos, de sentimentos, de
sensações, de leituras não, apenas, como constituinte de identidade pessoal e
coletiva mas, sobretudo, como alavanca essencial à resolução de problemas...
Venho insistindo na
articulação dessas memórias como a lava vulcânica essencial à criação de novas
oportunidades, mesmo que, inicialmente, o vulcão se revele ameaçador...
A insistência é, no
entanto, inútil, porque preferimos a 'vidinha', preferimos ficar à porta a
fingir que a abelha é uma ameaça intransponível...
6.5.18
Ainda
pensei numa corrida de obstáculos
Procurava seguir o voo
das aves para os lados do Samouco, quando dei de caras com uma instalação
abandonada.
Ainda pensei numa corrida
de obstáculos, mas a ideia era absurda. Se se tratasse de um campo de treino
militar, a disposição das estruturas daria cabo dos recrutas.
Só quando avancei na
direção das salinas, compreendi que, afinal, a explicação seria simples -
tratar-se-ia de uma estrutura utilizada na secagem de bacalhau - abandonada...
Por associação de ideias,
veio-me à memória o esquecido Henrique Tenreiro, dirigente da Junta Central das
Casas de Pescadores... o que me empurrou para uma pequena pesquisa sobre a
importante personagem do Estado Novo.
5.5.18
Se estamos fartos deles,
para que é que continuamos a dar-lhes atenção?
Estando a contas com a
justiça, o melhor seria deixá-los em silêncio até que Ela se pronuncie...
Espreitamos cada detalhe,
minimizamos ou ampliamos cada movimento. O sentimento de indignação cresce,
absurdo.
Entretanto, quem é que
ganha com esta morbidez em que vivemos?
A resposta é simples: os
donos dos meios de comunicação.
Em nome da transparência,
o melhor seria começar por esclarecer quem são os donos...
4.5.18
A ilusão.
A megalomania.
A pegada socrática.
(Agora, a vergonha! A destempo...)
Tanto tempo para sacudir a poeira socrática!
Tanto tempo!
Até Pirro teria deixado as sandálias na areia...
3.5.18
« Un visage qui peine si près des pierres est déjà pierre lui-même !» Albert
Camus, Le mythe de Sisyphe
Pior do que ser pedra é
ter de voltar a subir a montanha, embora sem pressa, pois o castigo é eterno. A
Sísifo resta gerir a subida e a descida, indiferente ao olhar de Zeus...
A Sísifo resta gerir a
eternidade, pesaroso ou prazenteiro, conforme o sentido de humor de cada
momento... ciente de que foi a liberdade que o condenou...
Entretanto, um amigo
contempla o raro equilíbrio das pedras; outro amigo espera que a festa comece
para que o seu número se cumpra - ambos de passagem, felizmente... O último
talvez preferisse "dizer" a septilha de Miguel Torga:
Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem
pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não
alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras
só metade.
Que os Poetas me perdoem,
pois do fruto concedido, prefiro metade para a subida e outra metade para a
descida.
2.5.18
«O mundo é um lugar
confuso, contendo coisas agradáveis e desagradáveis, em desordenada sequência.
O desejo de criar um sistema claro ou regras que o governem é no fundo uma
consequência do medo, uma espécie de agorafobia, o temor de espaços vazios.» Bertrand
Russell, A Conquista da Felicidade.
Já nem as quatro paredes
garantem o sossego de quem aspira a que o respeitem ou que lhe reconheçam algum
saber.
Lá dentro, os estados de
alma são de constrangimento, de um sentimento tácito de clausura, em que
raramente alguém é capaz de verbalizar que só ali está porque o obrigam -
a interação forçada, a escuta gorada... O mestre já não compreende por que
motivo deixou de o ser...
Apetece disciplinar
aquelas almas, mas como se estas se ausentaram ou nunca chegaram a ocupar os
corpos que a tradição lhes reservara...
A alternativa, por um
instante atrativa, esfuma-se ao pensar que, tal como os cavalos se viram
substituídos pelas máquinas, também os corpos, por ora presos entre quatro
paredes, acabarão substituídos por robots mais colaborativos e disciplinados...
De nada serve ter medo!
1.5.18
Como se sabe, entre
'pinho' e 'caruma' há uma relação inquebrantável e, neste caso, há também uma
coincidência no nome próprio 'manuel', o que me provoca uma certa revolta,
quando vejo que as vozes se vão encarniçando contra um ministro tão dado ao
fandango... Em 2009, a minha zanga era mais com o patrão do que com o empregado.
Hoje, continuo cético,
pois não acredito que tenha havido um ministro avençado. O mais provável é que
o BES, por algum servicinho prestado, tenha decidido remunerar o manuel pinho a
prestações. Afinal, o BES não nadava em dinheiro...
Eu ainda hoje continuo a
pagar prestações ao Novo Banco pelo empréstimo que me concedeu para que pudesse
adquirir casa. E faço-o sempre na data estabelecida. Imagine-se o que teria
acontecido se eu tivesse chegado a ministro!?
30.4.18
Para quê insistir?
Talvez porque seja a
única forma de persistir...
A alternativa seria
desistir, mas para quê?
Do esforço apenas o
cansaço pleno... pode ser que, amanhã, tudo seja mais razoável, mais leve, mais
nítido.
Hoje, a dormência
entediada de quem não percebe tanto enjoo...
29.4.18
De regresso às raízes...
cada vez mais trabalhosas e com uma surpresa. Vamos ver quem é que a descobre.
No campo também há ervas
daninhas bem enraizadas... Por mais que nos esforcemos, elas conhecem mil e um
atalhos, secam-nos o caminho, isto é, trocam-nos os passos, arranham-nos as
mãos e deixam-nos de rastos.
28.4.18
Esqueçam
as portas e as bruxas
Li um destes dias que há
mais de 100 anos os jornais descobriram que podiam substituir os povos
medievais na caça às bruxas através da chamada 'perseguição social'. Escolhido
o alvo, de preferência, fragilizado por algum pecadilho real ou imaginado, os dias
na boca do mundo, definitivamente, acabavam-lhe com a reputação...
E fazem-no impunemente a
coberto da inefável liberdade de expressão, não apenas os jornais, mas todos os
restantes 'meios de comunicação social', a que nas últimas décadas foram
acrescentadas as implacáveis redes sociais...
Dizia-me, na última
semana, uma promissora comunicadora, a propósito de 'fontes' e de 'memórias'
materiais e imateriais, que eu não gosto da 'comunicação social' e sou levado a
crer que ela tem razão, pois detesto a justiça popular e, sobretudo, a 'perseguição
social'... embora, hoje, me sinta de bom humor, pois li algures que há em
Portugal um advogado que não é despedível... E porquê este
neologismo?
Provavelmente, porque o
amigo Silva, que tudo paga, não lhe honrou os honorários. Certamente, uma pipa
de massa!
Sinto-me indespedível.
Esqueçam as portas e as bruxas...
27.4.18
Dá
vontade de bater com a porta
«Uma personalidade
harmoniosa é centrífuga. (...) Nada é tão deprimente como estar fechado em si
mesmo, nada é tão consolador como ter a sua atenção e a sua energia dirigidas
para o mundo exterior.» Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade.
A psicologia racional tem
me ajudado a superar múltiplos obstáculos internos e externos. Surgem, no
entanto, momentos extremamente deprimentes ao voltarmos a nossa atenção e
energia para o mundo exterior.
Refiro-me, na
circunstância, à impossibilidade de estabelecer qualquer forma de diálogo com
seres que são narcisistas, presunçosos e autossuficientes.
Dá vontade de bater com a
porta... é que está-se mesmo ver que nem o tempo os vencerá...
26.4.18
Adieu
Philipinne, de Jacques Rozier
Derrotado pelo cansaço
físico e nervoso, desaconselhado pelo trânsito lisboeta, fui à Cinemateca ver o
filme Adieu Philipinne / 1963, de Jacques Rozier.
Este realizador, com este
filme, propôs a nova gramática do cinema europeu dos anos 60 - Jacques Demy,
Truffaut, Godard -, só que foi sendo marginalizado por desrespeitar os ditames
dos produtores.
Por cá, o filme passou a
11 de maio de 1979, na Fundação Calouste Gulbenkian, e compreende-se. Em 1963,
ano de estreia, o filme alude à guerra da Argélia (1954-1962).
A cena de despedida em
que Michel embarca sem certeza de regresso seria suficiente para que, durante a
guerra colonial (1961-1974), a obra de tal realizador não pudesse ser vista nas
salas de cinema portuguesas...
À distância, percebe-se
que a Europa do pós-guerra estava a mudar, todavia, em Portugal, só os exilados
e os estrangeirados estavam em condições de compreender tal mudança.
No que me concerne, os
anos 60 foram de clausura... Talvez por isso a banda sonora me tenha agravado o
cansaço...
25.4.18
«O hábito de pensar em
termos de comparação é um hábito fatal.» Bertrand Russell, A
Conquista da Felicidade.
Já não há nada que não
comparemos, em termos pessoais, profissionais e políticos. E porquê? Porque
vivemos minados pela inveja...
O recurso à comparação é
um traço comportamental tão arreigado que, mesmo se eliminássemos os espelhos,
continuaríamos a reger a nossa vida pelas silhuetas que nos assombram desde que
nascemos...
No caso do 25 de Abril,
continuamos a olhar para trás e, felizes, sentimo-nos superiores aos espetros
do Estado Novo...
No intervalo,
contentamo-nos com a devassa, sempre invejosos dos sucessos e das malfeitorias
dos nossos semelhantes...
24.4.18
Parece que foi ontem.
Primeiro, a surpresa. Depois, o receio... Tinham sido tantos anos de
resignação!
A opção foi sair à rua,
ver o que estava a acontecer, sempre à distância não fosse o diabo tecê-las...
até que o enxame humano assaltou o blindado à espera de que suas excelências se
rendessem e elas à espera que o povo se lhes mostrasse reconhecido...
Mas o povo só queria paz,
saúde, habitação e que a poesia escorresse pelas ruas e pelas gargantas... a
poesia estava na rua, não só da vieira da silva, mas em todas as ruas
desabrochavam cravos, querendo pôr fim ao tempo que fora de escravos...
Ainda se fossem rosas,
mas essas acabaram chegando, primeiro nas jarras, ainda com cravos na lapela, e
depois já só rosa com cada vez mais espinhos...
23.4.18
«Uma geração incapaz
de suportar o aborrecimento será uma geração de homens medíocres, de homens que
se divorciaram indevidamente do lento progresso da natureza, de homens nos
quais murcham lentamente todos os impulsos vitais, como se fossem flores cortadas
num vaso.» Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade.
Lá terei de ser
aborrecido, mas de que serve continuar a celebrar uma revolução que produziu
uma enxurrada de compadres promíscuos e corruptos? Até a liberdade de expressão
se tornou libertina...
Lá terei de ser
aborrecido, mas não me apetece desfraldar a bandeira daqueles que traíram as
aspirações dos que acreditaram que era possível criar uma sociedade mais justa
e sã...
Lá terei de ser
aborrecido, pois a mediocridade nauseia-me.
Aborrecido me confesso.
21.4.18
1494 da era cristã: «De
hoje em diante serás meu aprendiz. Eu te ajudarei a transformar espinhos em
rosas e juro proteger-te dos perigos que espreitam o caminho. As páginas, que
são outras tantas portas, hão de abrir-se ao nosso toque.»
Acabei de ler O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimbler,
Quetzal editores, 1997. O exemplar disponibilizado pelas Bibliotecas Municipais
de Lisboa (Galveias) apresenta falhas de impressão (pág. 57-558) ... (espero
que a minha incompreensão não seja justificada pela minha não iniciação...)
Um duplo crime: a matança
dos cristãos-novos e o assassinato do mestre da Cabala.
A Cabala: ciência oculta judaica que procura desvendar os mistérios da criação
do mundo através da interpretação da Torá, isto é, dos primeiros cinco livros
do Antigo Testamento, onde de forma codificada Deus terá revelado os segredos
do Universo...
Se a matança dos judeus - 4000 - é foi um crime levado a cabo por
fundamentalistas dominicanos que souberam mobilizar a irracionalidade de um
povo ignorante e faminto desprezado pelo seu próprio rei D. Manuel I, a morte
do cabalista já resulta da cobiça, da inveja e do farisaísmo judaico...
A resolução do crime
alonga-se desnecessariamente numa corrida desenfreada pelas ruas de Lisboa. A
morte do mestre tio Abraão, apesar de ter decorrido durante o massacre de
judeus na Páscoa de 1506, à conta da seca, fome e peste que assolaram o país,
serve ao sobrinho, Berequias Zarco - futuro mestre - para tudo questionar -
dominicanos; cristãos-velhos; cristãos novos; estrangeiros... e finalmente para
anunciar que salvação do povo judaico só seria possível se este abandonasse a
Europa... Afinal, a Inquisição estava a chegar a Portugal (1536)... Li o
romance, mas não consigo desvendar o motivo que levou o Ministério da Educação
a recomendar a leitura desta obra a alunos de 15 /16 anos... nem tal passaria
pela cabeça de Richard Zimbler, creio...
19.4.18
Ontem, não choveu e a
temperatura subiu... e como, noutras circunstâncias, fiquei mais cansado,
respiração pesada, movimentos lentos, raciocínio confuso... Quando tal
acontece, leio mais e escrevo menos...
Evito, assim, focar os
olhos que se vão dispersando pelas páginas desnorteadas do Último
Cabalista de Lisboa... prometeu, mas não vai dar conta daquela Lisboa
manuelina, apesar da desumanidade...
Entretanto, a Susana regressou
por uns dias, atordoada pela assédio da tripulação da Ryanair: - "Nem
rei nem lei..."
16.4.18
Bem sei que a fraude é
diariamente notícia porque o ser humano é insaciável... Poderia aqui enunciar
as múltiplas expressões, mas o melhor é o leitor consultar a Arte de
Furtar...
De momento, cinjo-me ao
Programa de Português, 10º ano de escolaridade, designadamente à lista de obras
propostas no âmbito do Projeto de Leitura.
Pensar que um jovem de
15/16 anos está preparado para ler obras como, por exemplo, Lazarilho
de Tormes, As Cidades Invisíveis, A Divina Comédia, O
Nome da Rosa, A Tábua de Flandres, A Eneida... é um
disparate completo... em nome de um comparativismo primário habituado a
procurar relações intertextuais ininteligíveis nestas idades...
Creio, no entanto, que
casos há em que não se trata apenas de disparate. Por exemplo, é, para mim,
incompreensível que O Último Cabalista de Lisboa, de Richard Zimbler,
surja como leitura para alunos de 15/16 anos.
Apesar do contributo
desta obra de ficção para a compreensão de um dos períodos mais negros da
História de Portugal, só alguém que nunca tenha lido este romance é que se
lembraria de fazer tal recomendação para leitores tão jovens... ou só alguém
que, não tendo lido, cumpre uma agenda miserável.
Bem sei que há sempre o
argumento de que ao professor compete contextualizar, ajustar... mas quem
desenhou o Programa deveria saber que também o professor precisa de ler, de ter
tempo para gerir... e esse tempo não está contemplado.
A consequência está à
vista: o aluno não lê a obra, mas apresenta-a com recurso às baboseiras que a
Internet lhe vai fornecendo... e, além disso, há sempre quem lhe bata palmas...
15.4.18
"Estas não são as
ações de um homem, são os crimes de um monstro" justificou
Trump, referindo-se ao "alegado ataque químico" levado a
cabo pelas forças de Bashar al-Assad em Douma...
É verdade, Bashar
al-Assad há muito que deveria ter sido afastado do poder, pois não há dúvida
que se trata de um criminoso, mas não de um monstro, pois os
monstros são representações psíquicas forjadas pela mente humana, em geral,
para dar conta do medo que a tolhe...
Não foi por falta de
ocasião, de meios ou por medo de que o derrube do ditador Bashar
al-Assad ainda não foi levado a cabo, mas sim por conveniência já antiga.
Ainda assim, se queremos
aceitar que Bashar al-Assad é um monstro, então temos de
reconhecer que não é único...
Creio, no entanto, que
este tipo de ações não pode ser assacado a um qualquer monstro, por maior que o
imaginemos, mas, sim ao homem, o único ser que é verdadeiramente
exterminador.
14.4.18
“Analistas do grupo
financeiro Goldman Sachs tentaram abordar um assunto sensível para as empresas
de biotecnologia, sobretudo as que estão envolvidas na terapia genética, um
tratamento pioneiro: as curas de doenças podem ser más para os negócios no
longo prazo”. Segundo a CNBC, os referidos analistas apresentaram um
relatório, no dia 10 de abril, intitulado “A Revolução do Genoma”. Nesse
relatório questionam: “Curar doentes é um modelo de negócio sustentável?
Com a Goldman Sachs, o
negócio está garantido. As empresas de biotecnologia que se cuidem, pois elas
são um perigo ao investirem na terapia genética...
Em Portugal, há muito que
o financiamento da saúde é visto como um risco para a saúde do capital. O
ministro das finanças português, mesmo que não venha a ser nomeado comissário
europeu tem, desde já, garantido um lugar no grupo financeiro Goldman Sachs...
13.4.18
George, apesar da
província lhe prometer um futuro seguro, parte para a cidade, lugar de cultura,
de libertação individual e de consequente afirmação profissional, adotando um
estilo de vida experimental e, de certo modo, inconstante... Não se pode, no entanto,
dizer que seja "incapaz de assistir num só terreno!"
A rutura com o lugar de
origem só não é total porque o regresso provocado pela vontade de se desfazer
da casa de família obriga George a problematizar a decisão de partir - a
memória devolve-lhe não a família ou o lugar mas uma parte de si própria,
Gi..., a primeira idade, impetuosa e definitiva...
A segunda idade, a da
escolha de uma estratégia de afirmação profissional no mundo artístico e de
precarização dos laços afetivos, significa para George que a liberdade e a
felicidade estão ao alcance desde que o dinheiro não falte...
Só que a viagem interior
despoletada pela memória acaba por confrontá-la com o futuro de uma passageira
inesperada - Georgina. A Senhora velha que, amarga, lhe profetiza um desfecho
solitário e angustiado...
Em resumo, Georgina de
seu nome, Gi para a família e amigos, rompe com o conservadorismo da província
portuguesa, estrangeirando-se (George) para poder inscrever o seu nome
artístico na galeria daqueles que se libertaram da terra que os viu nascer...
viajar sempre, mudar de cidade... até que...
(O enigma para mim é
que entre ficar e partir, entre a rua e o comboio, parece haver uma vereda que
uns tantos percorrem sem o saber. Ignorância não parece ser, vaidade também não
- um caminho sem motivação.)
12.4.18
Se a leitura dos contos
"A duquesa e o joalheiro" e "O Legado" não me
oferecem qualquer dificuldade interpretativa, o mesmo não posso dizer de outros
contos como, por exemplo, "A Casa Assombrada"... A ordem acaba
por ser substituída por uma nova ordem - o judeu deixa-se mover pelo apelo
libidinal; a leitura do diário (do legado) provoca a descoberta de que a vida
levada era de mentira... e o suicídio um ato de coragem, de amor...
Em "A Casa
Assombrada" um par de fantasmas, saído da tradição neorromântica, anda à
procura. Do quê? De um tesouro enterrado... da alegria... do coração da casa...
da luz no coração...
Através do "fluxo de consciência» dos fantasmas e da ironia autoral,
Virginia Woolf... destrói a ideia de que a casa assombrada possa ser um lugar
de terror... A casa fora um lugar de partilha, de amor que a morte
interrompeu...
Neste último conto,
Virginia Woolf questiona o imaginário do leitor, ridicularizando as suas
espectativas.
11.4.18
Por alguma razão que não
consigo descortinar, os passageiros preferiam ocupar o lado direito do topo da
nave, bem longe da cabine de voo. Os ventos enovelavam-se sem, no entanto, se
levantarem. Pareciam esperar uma clarificação da rota... até que, dos céus,
surgiu uma voz apaziguadora que pôs cobro ao delírio...
Compete, assim, ao
arquiteto redesenhar a nave e, enquanto tal não acontece, nós vamos, às
arrecuas, definir o fio condutor que tem cimentado a nossa ação...
Depois, o problema foi de
mangas e de efluentes... sem cravos mas com círios... e lesmas sabotadoras..
10.4.18
Eréndira,
a princesa sorridente...
Finalmente, terminei a
leitura d' "A Incrível e Triste História da Cândida Eréndira e da sua
Avó Desalmada", de Gabriel García Marquez.
Descobri Eréndira no
espetáculo da Barraca, “Eréndira! Sim, Avó", de Rita Lello, onde se
destacou a "desalmada avó", Maria do Céu Guerra.
A representação da Avó
por Maria do Céu Guerra é tão "barroca" que difícil seria não lhe
reconhecer o protagonismo nesta adaptação da novela ao teatro...
No entanto, o que me
obrigou a ler a obra de García Marquez foi o antropónimo Eréndira já que a
candura da jovem era por demais evidente e a sua resignação absurda - Sim, Avó!
A exploração sexual a que era submetida por ordem da Avó roça o indizível...
Da leitura fica-me a
ideia de que a América Latina vivia (vive) muito para além de qualquer
racionalidade, a não ser a do dinheiro...
E o mais irónico é
que Gabriel García Marquez atribuiu a esta infeliz escrava sexual o nome
mexicano de Cândida Eréndira - a princesa sorridente, a que
sorri, a que sonha...; manhã risonha.
9.4.18
Retrato
de um dador de esperma chinês
Une banque de sperme chinoise veut des donneurs de
« haute qualité idéologique. Doadores de alta qualidade ideológica
Retrato de um doador de
alta qualidade ideológica:
- defensor do papel dirigente do
partido;
- leal à causa do partido;
- cidadão honesto;
- respeitador da lei;
- imaculado politicamente.
Não sei se estou a
compreender. Depois da nota social, podemos, doravante, avaliar a
qualidade do esperma, em função do comprometimento ideológico....
8.4.18
«Eu não sou um ser
humano, eu sou uma ideia, todos vocês agora vão virar Lula...»
A mitificação, de acordo
com a tradição, era assunto tratado pelos poetas ou, até, pela voz do povo...
Não sendo Lula da Silva
poeta, ele, decidiu, no entanto, sentenciar o futuro do Brasil, reclamando para
si o lugar de (mito) fundador...
Resta saber do quê... e
isso nem o próprio Lula é capaz de adivinhar, embora ameace: «eles acham que
tudo o que acontece nesse país é responsabilidade de Lula, agora eu
responsabilizo vocês.»
7.4.18
Poco después, el viento de su desgracia se metió en el
dormitorio como una manada de perros y volcó el candelabro contra las cortinas. La Increible y Triste Historia de la Cándida
Eréndira y su Abuela Desalmada, Gabriel García Márquez
Pouco depois, o vento da sua desgraça meteu-se no quarto como uma
manada de cães e tombou o candelabro contra as cortinas. Pág.
78, ed. Diário de Notícias, tradução cedida por Publicações Europa-América, Lda
Com o Puidgemont à espera
de que os Alemães o salvem da justiça espanhola, o Lula da Silva à espera de um
milagre de dom Angélico Sândalo Bernardino, o Bruno de Carvalho à espera de que
o internem numa Casa de Saúde Mental, eu, que pensava que os homens se mediam
pela capacidade de aceitarem os ditames da justiça, sinto-me perplexo com a
tradução de «una manada de perros» ...
A não ser que se trate de
um exemplo de realismo mágico, creio que o termo espanhol 'manada'
- rebanho de gado grosso (em port.) ...- deve ser traduzido por 'matilha'
- grupo de cães de caça; chusma de vadios; corja, súcia, malta...
6.4.18
Dizem-me, do Brasil, que
Lula tirou 18 milhões de brasileiros da miséria... Dizem-me que Lula também
contribuiu para o bem-estar da classe média...
Por outro lado, dizem-me
que, em troca, favoreceu os ricos e, sobretudo, os que sempre almejaram ser
ricos...
Não sei se seria possível
fazer diferente, e custa-me acreditar que o Presidente estivesse à venda, por
isso não entendo o que se passa no Brasil...
Creio, no entanto, que
haverá forças, entre os velhos e os novos-ricos, que tudo farão para evitar o
regresso de Lula à Presidência, porque temem que ele acrescente mais uns
milhões à lista dos menos pobres...
5.4.18
Durante anos, habituei-me
a ver (ou a imaginar) o São Francisco de Assis a ufanar-se de ter vencido a
morte. Ou seria um São Francisco temeroso da morte?
Facto é que (e não
verdade ou mentira, porque estas não passam de superstição...) que logo pelas
7h30 da manhã o observava atentamente à espera que a caveira tivesse
desaparecido...
Há uns tempos, regressei
ao lugar do encontro diário e, talvez, por falta de concentração, o altar
pareceu-me diferente...
Hoje, finalmente,
consegui fotografá-lo numa atitude de vitória como se tivesse descoberto a
chave da imortalidade...
4.4.18
Esqueçamos e deixemos que
o Mondego siga até onde puder.
Na margem, pensemos que o
nosso caminho não é muito diverso, a não ser que nos ocupemos demasiado com o
desnorte humano.
De nada serve apagar o
que é risível e nulo, pois apagar não é esquecer.
4.4.18
Provavelmente, estou a
ficar senil!
De qualquer modo, para
quem nunca acreditou na evolução da espécie humana, aqui está mais uma prova de
que esta prefere a farsola a qualquer atitude mais positiva...
Na mata do choupal, a
natureza segue o seu curso, alheada dos disparates dos jovens que confundem a
vida com a jocosidade.
3.4.18
CLOTILDE FAVA é filha do
escultor Armando Mesquita e de Palmira da Costa Pinto Mesquita. Nasceu em
Lisboa em 1941. Com um Curso de Escultura pela Escola Superior de Belas Artes
de Lisboa, iniciou a sua carreira na Companhia IBM Portugal como Designer. Viveu
em Angola, de 1964 a 1975, onde, como artista plástica, executou várias obras
em cerâmica para diversas instituições. Clotilde Fava (ex-sogra de José
Sócrates)
Exposição "Para lá do Trópico de Câncer", no Museu Municipal
de Coimbra até 8 de Abril.)
2.4.18
A propósito de "O
Vendedor de Passados", de José Eduardo Agualusa, escrevi há dias «Isto não
é leitura», porque eu não sabia nada do topónimo São Pedro da Chíbia (Huíla, Angola)
...
Conhecer o passado
falsificado de José Buchamann obriga a descobrir a localidade... E hoje é fácil
e dá que pensar - São Pedro da Chíbia...
O Autor apresenta-a
do seguinte modo:
«A vila de São Pedro
da Chíbia, na Província da Huíla, no Sul do país, foi fundada em 1884 por
colonos madeirenses...». O lugar também foi colonizado pelos bóeres, o que
dá verosimilhança à nova identidade de:
«Gouveia. Pedro
Gouveia. Devia ter-te morto em setenta e sete.»
Afinal, a leitura do obra
não é suficiente para compreender o que se passou em 1977, em Angola. O que se
passou, por exemplo, entre Pedro Gouveia e Edmundo Barata dos Reis...
A desocultação da
História é uma ponte para o entendimento da história e da intencionalidade do
Autor...
1.4.18
É só passar, abrir os
olhos e verificar com as próprias mãos ou, se quiserem, seguir o exemplo de S.
Tomé...
Não sei se nos municípios
existe a figura do zelador, mas penso que muitos riscos seriam evitados se os
equipamentos fossem objeto de permanente vistoria... S. Tomé terá sido o
apóstolo que duvidou da ressurreição de Cristo, mesmo não sendo Dia das
Mentiras...
31.3.18
A procura de relações
intertextuais parece estar na moda. Aqui ficam duas alusões a Fernando Pessoa
n'O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa: a) «Abomino a
mentira porque é uma inexatidão.» - Ricardo Reis; b) Fernando
Pessoa transformou a biografia prosaica de um pequeno funcionário de escritório
num Livro do Desassossego que é, talvez, a obra mais interessante da Literatura
Portuguesa.»
A leitura de José
Eduardo da Literatura Portuguesa (complexo nominal de má memória
para o Autor) desloca-se progressivamente de Eça para Pessoa - Um Eça
reduzido aos adjetivos: «A luz cai, magnífica, tão forte, tão viva, que
parece pousar sobre as coisas como uma espécie de névoa luminosa. - Isso é o Eça»
Um Eça cujos adjetivos são comparados às camisas de Nelson Mandela...
O problema é que para
além das relações intertextuais, é necessário conhecer um pouco mais da
nomenclatura angolana e sobretudo da luta pelo poder em 1977.
Quando se quer o poder e
não se tem passado, há que inventá-lo. Esse é o trabalho, bem lucrativo, do
genealogista Ventura Félix... Perplexidades de um leitor desastrado, a quem
insistem em dizer que o livro é agradável... não fosse a osga (o narrador) ...
lagarto, lagarto!
30.3.18
Tempos houve em que
Páscoa significava rancho melhorado... Entretanto, o rancho melhorou...
E hoje, o que é que a
Páscoa significa?
Pausa, festim, correria,
endividamento, greves, alarmismo, violência, morte...
E o vento sopra gélido
escorraçando a chuva...
Apesar de tudo, tempos
houve em que na Páscoa se celebrava a ressurreição de Cristo, só que, em 2018,
este dia é de mentiras...
29.3.18
Vou indo, devagar... não
estou a replicar.
Nem já estou a ir. Fui,
devagar... a pensar que podemos fotografar o lugar, mas não o tempo... até que,
ao fixar-me na cor das flores e na luz da hora, me apercebo que é possível
fotografar o tempo, não em absoluto, mas o tempo da florescência e do graffiti
- diversos no acontecer...
Tão diversos que, no
regresso, me surpreendi com a rapariga que passeava o cigarro, deixando a
cadela correr sem trela e, sobretudo, com o idoso que respigava, apressado, os
caixotes de lixo sem proveito visível...
28.3.18
Colocar os pés no passado, não.
Ninguém quer ser conversado...
Tento, mas, felizmente, o olvido barra esse ímpeto.
Se me arrisco, não sou o que fui, um estranho irreal... com pressa de regressar
ao presente.
Lá no passado, só há lugares vazios
cómodos de se lidar
sob a luz que nunca foi minha.
Por ora, estou de regresso...
ao presente.
27.3.18
Agora, não tenho nada a
dizer. A simples hipótese de 'ter' já é temerosa, pois por mais que se tenha,
nunca se sabe por quanto tempo... Se a 'ter' se acrescentar 'dizer', então, a
audácia torna-se prosápia...
Raros são os que chegam
ao limiar do dizer.
O quê? O que ainda não
foi dito ou que, em última instância, já foi esquecido. Não fosse o
esquecimento e há muito que o mutismo imperaria...
Na maior parte das
situações, o 'dizer' nutre-se do esquecimento - sob a forma de amnésia ou de
qualquer outra obliteração...
Agora, de nada serve
elogiar o 'ser', pois ao não se saber por quanto tempo, ficamos reduzidos a uma
existência inquieta... enquanto não partimos, em silêncio, espero - sem nada
por dizer.
26.3.18
En Chine, les personnes avec une faible "note
sociale" ne pourront plus prendre l'avion ou le train.
Com tanta gente
excelente, não se compreende que nos possamos enganar nas contas. Este plural
não é majestático, é apenas uma forma de dizer que não temos nada a ver com
erros alheios, europeus seguramente...
A Caixa Geral de
Depósitos emprestou uns milhares de milhões de euros. Por razões que só eles
sabem, nunca mais lhes pôs a vista em cima, embora esses milhares de milhões
circulem por aí e por além... Como consequência, para que o Banco, dito
público, no sentido de prostituído, não fosse à falência, os contribuintes
veem-se obrigados a pagar o desfalque - o Estado injeta e nós amargamos...
Agora vem o Centeno dizer
que os quatro mil milhões não contam...
Começo a pensar que o
melhor é criar uma "nota social", tal como fazem os chineses. Se tal
acontecesse, já não seria necessário desperdiçar dinheiro na construção de um
novo aeroporto...
25.3.18
Hoje, terá sido domingo!
Ventoso... Não sei se com se sem ramos...
O dia não foi muito
diferente de outros - classificação de trabalhos de 'ultima hora'. Tomada de
consciência de que, para além do plágio - forma antiga de mobilidade social -
se tornou mais fácil produzir uma qualquer apreciação, exposição... Esquematicamente,
basta produzir ou copiar uma ideia cuja expressão não ultrapasse 30 palavras...
e depois uma longa citação plasmada no centro do documento... e assim sucessivamente.
Confesso que, neste
domingo, em certo momento, dei comigo a pensar que a noção de 'critério de
avaliação' mudou muito nestes últimos 50 anos... Ainda recordo que o 'critério'
era um segredo bem guardado pelo professor. Nesse tempo, a ansiedade só se desfazia
quando a pauta era afixada, e a decisão era acatada com um sorriso ou, muitas
vezes, com uma lágrima que era preciso esconder...
Hoje o critério é
público, mas prostituído. Lembra o típico regateio com os feirantes...
24.3.18
No São Jorge, tive
oportunidade de ver o documentário Dil Leyla, como expressão de
solidariedade com o quase ignorado, por estas bandas, povo curdo.
Dil Leyla, presidente da
Câmara da cidade de Cizre, na Turquia, em zona próxima da Síria e do Iraque,
retoma, em 2013, a luta do pai, assassinado nos anos 90..., acabando ela
própria por ser presa alguns meses após os curdos terem conseguido eleger 80
deputados para o parlamento turco... (2015)
O que é claro é que, mais
uma vez, a voz dos curdos foi silenciada... e continua a ser eliminada como
está a acontecer em Afrin, na Síria, pela mão do Turco Erdogan...
MÃO MORTA, MÃO MORTA
(usando a mão de outra pessoa)
Mão morta, mão morta
Filhinhos à porta
Não tem que lhe dar
Dá-lhe com a tranca da porta
Mão morta, mão morta
Vai bater aquela porta
(e bate na cara da pessoa com a sua própria mão)
Uma lengalenga
aproveitada por José Saramago para desenhar a personagem Marcenda: «e olha
fascinado a mão paralisada e cega que não sabe aonde ir se a não levarem (...) mãozinha
duas vezes esquerda, por estar desse lado e ser canhota, inábil, inerte, mão
morta mão morta que não irás bater àquela porta.» José Saramago, O
Ano da Morte de Ricardo Reis, ed. Porto editora, pág. 26.
Marcenda, apesar da mão
morta, não precisava de bater às portas..., já Lídia, apesar de ter chave,
acaba a bater à porta de Ricardo Reis...
23.3.18
Eu
compreendo a decisão do parlamento
O parlamento rejeitou
hoje projetos de resolução do PCP, CDS-PP e PEV para a criação de um regime de
aposentação específico para a carreira dos professores e educadores de
infância, sublinhando o desgaste físico e psicológico da profissão.
Eu compreendo a decisão
do parlamento. Se o desgaste físico e psíquico fosse real, há muito que os
partidos teriam deixado de contar com os votos dos professores...
Deixar que os professores
pudessem beneficiar de um regime de aposentação específico poderia abrir a
porta a jovens professores mais habilitados a lidar com os problemas provocados
pela acelerada mudança imposta pelas novas ferramentas colocadas ao serviço da
investigação e da produção de conhecimento, e, sobretudo, de partilha global da
informação...
22.3.18
Amanhã, termina o 2º
período escolar.
E mais uma vez, um vasto
grupo de alunos irá tentar apresentar, à última hora, trabalhos individuais e
de grupo, apenas com um objetivo - subir a nota.
Pouco lhes importa que a
apresentação seja feita perante os colegas ou não. O que interessa é que o
professor aprecie o esforço de última hora...
Também pouco importa o
conteúdo. Para o efeito, todas as fontes são boas!
Aliás, questionados sobre
as fontes, em regra manifestam estranheza, pois não se questionam sobre a sua
qualidade... E mais grave: a maioria não leu a obra em estudo...
As consequências, quem quiser que as tire... por mim tenho dito.
Retomando uma antiga e
infeliz narrativa, o velho senhor ameaça com a polícia caso não lhe seja, de
imediato, prestada uma informação sobre a rua e porta do Campus de Justiça,
diga-se, de uma repartição, in loco, a que não precisa de se deslocar e que, se
o fizer, só servirá para armar confusão...
Qual prestador de
serviços, pro bono, lá irei à dita repartição - Campus da Justiça,
Edifício L, Av. D. João II, Lote 1,08,01 J /1990-097 Lisboa - registando,
aqui, a morada para memória...
A lenda diz que o velho e
altivo senhor, em tempos, terá aprendido a ler. A lenda só não diz o que fazer
a um senhor, abolida a escravatura... É um pouco como explicar o que fazer a um
escudeiro, extinto o cavaleiro...
21.3.18
Num labirinto de papel,
oiço um ininteligível altifalante que por certo dá voz a algum poeta convidado.
Hoje é dia de festa - da
poesia. O mesmo será dizer que o dia é de espanto. Inicial... e não de
interesseira persuasão, com maior ou menor domesticação dos tropos...
Ainda não acordara, e já
me interrogava se a festa de hoje teria alguma coisa a ver com a fiesta ou,
até, com o minotauro.
E não sei se por
associação se por contiguidade, lembrei-me que tempos houve em que o Tejo
correra em sangue por causa de uma utopia que nenhum poeta conseguiu fixar,
mesmo a vida perdendo...
20.3.18
Dizem-me que vem aí a
Primavera. Talvez. Da minha janela, apenas uma linha carregada de nuvens
hesitantes sobre os esquecidos pastos do Tejo...
Dizem-me que vêm aí os
Poetas carregados de nuvens prontas a regar os rebanhos sequiosos de
inesperado...
Apesar do que os campos
me dizem, preferia ser eu a dizê-lo, mas falta o Poeta...
19.3.18
- Então, meu caro, não se deu ao trabalho de
reformular o seu teste?
- Não. Vou anular a disciplina...
- Nem pense. O melhor é anular-se a si próprio!
(Tempos houve, em que por esta altura, os alunos decidiam anular a matrícula
a certas disciplinas.)
A resposta do professor será censurável, mas o laxismo é tão grande...
18.3.18
Entendo.
Já não precisamos de pensar!
Entendo. O inferno é dos
outros. Aqui, no nosso céu, tudo corre bem. Chove, mas a chuva é precisa,
embora, por vezes, se alargue um bocado por culpa alheia, humana...
Agora, está na moda
aderir... O que é necessário é estar pronto. Para pensar? Não. Incomoda.
É mais fácil sair do
redil e gritar em uníssono. Afinadinhos, de preferência. Plutôt. (Podia
escrever isto em francês, mas para quem?)
Anda no ar, um certo
espírito corporativo. O coletivo move, impõe, não uma ideia mas uma
palavra-de-ordem. Anda no ar um certo espírito de cruzada - desperta por aí uma
alma coletiva, capaz de sacrificar a vida de cada um de nós.
Já não precisamos de
pensar!
17.3.18
Lá para trás, fica a
ideia bíblica do Inferno, sem esquecer o Hades, e também a de Dante, as
diversas masmorras inquisitoriais, os campos de extermínio nazis e da ordem
nova... da indochina e da sibéria...Outro tempo!
Mas neste tempo, em que
matámos a memória, o Inferno reacendeu-se na velha europa humanitária de
hipocrisia, de fingida humanidade...
(Judith Vanistendael
deslocou-se de forma ilegal, no final de 2017, ao campo de refugiados de Moria,
na ilha grega de Lesbos, tendo desenhado, de memória, uma narrativa de dez
páginas...)
16.3.18
Não há pior carrasco do
que aquele que se prepara para ser carrasco de si próprio - come a sopa porque
lha dão, não porque compreenda ou sinta que o seu corpo precisa dela... Ou não
come a sopa porque decidiu que ela o pode enfraquecer...
'De que me serve debater
uma obra com os meus pares, se eu, afinal, não a quero ler. Para quê lê-la se
há por aí tantas outras, todas cansativas.'
'De si, meu carrasco,
espero que leia por mim e que se limite a fornecer-me a chave necessária a
franquear aquela porta, que dizem ser, do futuro de mesa farta...'
Esta é provavelmente uma
forma menor de inteligência artificial... O problema é que uma forma superior
de inteligência artificial poderá não ter paciência para aturar caturrices...
'Paciência' é a nossa
forma dizer 'imaginação', isto é, a capacidade de ler fora da
"caixa"...
15.3.18
«É uma pessoa cobarde
porque está a lutar pelas suas ideias.» Anónimo
Reviro: Quem luta pelas
suas ideias é uma pessoa cobarde.
Extrapolo: Quem luta
pelas ideias dos outros é uma pessoa corajosa.
Reviro: É uma pessoa
corajosa porque está a lutar pelas ideias dos outros.
Imagino: Quem não luta
por ideias não é pessoa.
Afirmo: Não é pessoa quem
não luta pelas suas ou pelas ideias dos outros.
Anseio: Entre ser e não
ser pessoa deve haver um qualquer intervalo que permita compreender a asserção
do anónimo.
Findo: as pessoas
cobardes e as pessoas corajosas vão ser multadas porque não limparam os
terrenos até à data de hoje, mas se forem corajosas até 31 de maio, as coimas
esfumar-se-ão...
14.3.18
O
tempo de Stephen Hawking (1942-2018)
Embora se insista na
necessidade de rever a matriz curricular, na reformulação da metodologia de
aprendizagem, ainda não se descobriu uma verdadeira estratégia. Por exemplo,
não vejo, no âmbito da leitura, qualquer recomendação no sentido de que Uma
Breve História do Tempo possa ser um texto motivador e estruturante
para as novas gerações...
Por isso, aqui, registo
duas ideias para quem queira abordar a vida, livre de preconceitos:
a) «Uma teoria é
boa quando satisfaz dois requisitos: deve descrever com precisão um grande
número de observações que estão na base do modelo, que pode contar um pequeno
número de elementos arbitrários, e deve elaborar predições futuras definidas
sobre os resultados de observações futuras.»
b) «Qualquer teoria é
sempre provisória, no sentido de não passar de uma hipótese: nunca consegue
provar-se.»
Com ele aprendi que todas
as respostas são provisórias e passíveis de reformulação... mesmo as que se
referem a Deus.
12.3.18
Um
dia, ofereceram-lhe uma cadeira...
A polémica associada ao
convite do ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas a Pedro
Passos Coelho para que assuma funções como professor catedrático nesta
instituição assumiu hoje novos contornos com o lançamento de uma nova petição,
desta vez por parte de professores e investigadores universitários.
O Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas comemorou um século de existência em 2006. A sua
génese remonta ao terceiro quartel do século XIX quando, em 1878, na
recém-criada Sociedade de Geografia de Lisboa, foi aprovado um designado Projecto
de uma Escola de Disciplinas relativas à Terra e à Gente e às Línguas do
Ultramar Português – Curso Colonial Português. Através do ensino e da
investigação científica, o objectivo era o de responder à ameaça do avanço das
potências europeias em África, materializado na Conferência de Berlim de
1884-85, criando um corpo especializado de administração pública de nível
superior que ocupasse os territórios colonizados por Portugal.
Não compreendo a razão de
tal indignação. O homem esteve à frente do Governo de Portugal entre 2011 e
2015, eleito e reeleito... Algum mérito teria... alguma coisa deve ter
aprendido com os novos colonizadores... Alguns dos mecanismos de domesticação
ainda ativos são da sua autoria... alguns dos que agora o contestam votaram
nele, devem-lhe favores...em último caso, não foram obrigados a emigrar...
Certamente que não querem
que o homem emigre ou se autoexile, indo ensinar lá fora como fomos capazes de
transformar Portugal numa colónia chinesa...
Um dia, ofereceram-lhe
uma cadeira e agora querem que o homem se sente no chão ... querem que ande de
cavalo para burro... afinal, a 'cátedra' mais não é do que a forma erudita de
cadeira´...
11.3.18
Desse dia, 11 de março de
1975, ficou-me sempre a sensação de que algo regredia...
No Liceu Passos Manuel,
onde começara a lecionar em janeiro desse ano, a luta entre a UEC (União dos
Estudantes Comunistas) e o MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado)
ia acesa, impedindo o normal funcionamento das aulas - o conflito entre os
estudantes destas duas organizações era claro. A palavra dos professores só era
escutada se alinhada...
Uns eram perseguidos e
outros seguidos, não pelo que ensinavam mas pelo que era suposto representarem
ideologicamente... No entanto, ficou-me a ideia de que uns tantos professores
se movimentavam bem no torvelinho...
A ação reivindicativa
instalou-se nas salas de aula e nos conselhos de turma extraordinários,
introduzindo um conceito de igualdade em que o número era impositivo e a
cortesia aniquilada.
Convém, no entanto,
esclarecer que a ideia de regressão era minha e inconfessável pois, no Liceu /
Escola Secundária, reinava a mesma euforia que na Faculdade de Letras de
Lisboa, em que, à época, se deitavam paredes abaixo e se acabava com a
Filologia Românica, decompondo-a em Linguística e Literatura...
Apesar do ímpeto
revolucionário conquistado em março e interrompido em novembro, ainda hoje
tenho a sensação de que muito do "espírito camarada" persiste nas
organizações e determina o rumo, mesmo daqueles que nasceram depois do 11 de
março de 1975...
10.3.18
Uma
pessoa normal ou um narcisista angustiado?
Segundo
os investigadores, uma pessoa normal usa cerca de 16 mil
palavras por dia, sendo que aproximadamente 1,400 são pronomes na
primeira pessoa do singular, tais como "eu" ou "mim".
Alguém que fala de si próprio em demasia eleva este número para quase
2 mil pronomes por dia. Narcisismo ou angústia?
Uma 'pessoa normal'
utiliza 16 mil palavras por dia? Tantas?
Este critério parece-me
extremamente exigente... Resta saber se o estudo eliminou as palavras
repetidas. É que se tal acontecer, então o número de 'pessoas normais'
diminuirá drasticamente.... O que me deixa angustiado, pois, de verdade, não
sei se sou uma pessoa normal - ignoro quantas palavras utilizo por dia,
oralmente, por escrito e por emitir... Há coisas que nos recusamos a dizer ou a
escrever se formos 'normais', com evidente prejuízo....
Finalmente, neste post já
utilizei três pronomes pessoais e omiti seis - basta contar as formas verbais
de 1ª pessoa... o que faz de mim um narcisista angustiado... afinal,
passo os dias a falar de mim, preocupado em esconder a minha anormalidade...
9.3.18
O
Ano da Morte de Ricardo Reis
A peça agrada ao público
jovem, sobretudo àquele que está com dificuldade em ler o romance de José
Saramago. A adaptação é sóbria, à exceção da personagem de Fernando Pessoa e,
sobretudo, caracteriza bem a situação política em Portugal e na Europa, no ano
de 1936.
Em termos de espetáculo,
e quanto à personagem sorumbática e discreta de Fernando Pessoa, compreende-se
que esta tenha perdido esse pendor. O desenho deste Fernando Pessoa é, contudo,
autorizado pela fina e, por vezes, sarcástica ironia do narrador...
No entanto, um leitor do romance "O Ano da Morte de Ricardo Reis" que
esteja à procura de uma adaptação fiel a uma certa memória de Fernando Pessoa,
pode sair do Cinearte zangado... e isso, hoje, aconteceu... E não fui eu!
8.3.18
Há quem se espante, mas
não sei porquê...
Quando se trata um
assunto com ligeireza, uma vez, compreende-se, mas quando a superficialidade se
torna regra, há que cortar o mal pela raiz...
Infelizmente, somos cada
vez mais complacentes. Resignados, seguimos caminho... e ainda nos pedem um
sorriso... um sorriso condicionado... Talvez amanhã o sorriso seja natural, sem
ponto nem vírgula...
7.3.18
À medida que as horas se
esgotam, sinto que não faz sentido preocupar-me com o futuro, a não ser o dos
jovens... Mas como?
Ensiná-los a ser Pessoa
ou pessoas poderia ser o caminho. Se a alusão não vos escapa, pensareis,
talvez, que Pessoa era uma pessoa, mas a verdade é que não é certo, pois a sua
originalidade resulta dessa demarcação - da fuga à humanidade por causa da bestialidade
das pessoas...
Pessoa inventou-se a si
próprio, indiferente aos deuses, e só por acidente sebastianista - fraqueza de
quem, ao desbaratar a inteligência, passou a necessitar de um pastor.
Um tal guardador de
rebanhos!
E mesmo esse preferia os
pensamentos às ovelhas... Embora ele diga que as olhava com um estremecimento,
ele bem sentia que essa fraqueza dos sentidos era uma cedência imperdoável...
Ensiná-los a ser Pessoa,
mas como, se querer ser Pessoa é abdicar de ser pessoa? Aprender com Pessoa?
Sim, mas cientes de que aquele foi o caminho dele, só dele... e que é tempo de
o deixar fazer as pazes com a avó Dionísia...
6.3.18
Não
há Citius que lhes resista!
Um país reduzido a um
assessor jurídico - um jurista toupeira. Ao serviço de quem? Dizem-me que do
Benfica.
Em termos militares, as
toupeiras caracterizam-se pela sua capacidade de infiltração nas linhas
inimigas...
Desconfio que esta
toupeira começou por se infiltrar no Benfica para servir as linhas inimigas...
Só que parece que o alvo
estratégico de Paulo Gonçalves era o Portal Citius...
Uma vez lá dentro,
entra-se no melhor dos mundos...
Dizem-me que a toupeira é
um mamífero insectívoro comum no nosso país...
5.3.18
Na China, está aberto o
caminho da eternização do líder. Na Rússia, há muito que Putin descobrira como
romper com a efemeridade. Nos Estados Unidos, Trump não quer ficar atrás... Na
Alemanha, a senhora Merkel procura uma solução governativa definitiva. Em
Itália, os italianos votam no caos...
Por cá, o poder é um
trampolim para o enriquecimento a qualquer custo... Santana vai gerir uma
Fundação que ele próprio acolheu na Santa Casa...
Finalmente, Passos Coelho
vai ensinar, dando razão à tradição: - quem não sabe fazer, ensina! O
problema é que, neste caso, nós vamos pagar-lhe um ordenado equivalente ao de
um professor catedrático. Nem sequer se inscreveu na Sorbonne, como fez o
colega Sócrates... talvez porque não tivesse um amigo magnânimo...
Não me interessa se
necessitou de 10 anos para concluir uma licenciatura de 5 ou 3 anos, o que me
preocupa é o mau exemplo. O que me preocupa é que, com tais exemplos, já não
sei o que replicar àqueles alunos que se vangloriam de não lerem um único
livro...
4.3.18
As persianas cerradas e
já a gata perscruta o melro que chilreia alegremente no topo do poste de
iluminação. Não diz nada mas espera que a rotina lhe abra o horizonte para que
possa seguir o voo das aves ou com elas...
E se alguma se aproxima
do parapeito do 12º andar, agita-se e corre num encalce ilusório pois a vidraça
continua fechada...
E ainda bem porque esta
gata não aprende, apesar da experiência, a antecipar as consequências do voo
felino.
A gata. Os gatos.
Só eu procuro não me
agitar de cada vez que o sol irrompe, porém a antecipação de nada me serve.
3.3.18
A única coisa que
entristece é a chuva quando saímos à rua porque, afinal, temos casa...
No resto, obedientes e
contentes, de preferência com sol.
Nem os malfeitores nos
atrapalham desde que possamos vestir a máscara risonha de ícones insanos...
Ontem, a certeza de que o
futuro será sem defeito, pois coragem não falta para cortar ao acaso - a rã, ou
será sapo?, vai fumando o cigarro do desprezo...
Pobre Esopo! Por onde
anda a cor local?
Talvez, no canteiro da
vizinha...
2.3.18
«Mas é mesmo imperioso
que se caminhe sustentadamente para se conseguir renovar a educação escolar. É
o que está a acontecer por todo o mundo e é aquilo que os novos tempos e modos
exigem de nós.» Joaquim Azevedo
Caminhar sustentadamente,
só a quatro patas ou com o apoio de uma bengala... com direito a entrar nos
centros comerciais e nos restaurantes, mas sem qualquer consideração pelo
envelhecimento...
O que está a acontecer
por todo o mundo em matéria de educação é um desastre. Basta pensar em quem
governa a maioria dos países e das organizações - o melhor seria apontar as
exceções e a lista seria curta...
E o que está a acontecer
em matéria de ensino é o favorecimento da criação de elites, deixando à deriva
milhões de jovens - deixá-los entretidos com um falso saber, inócuo e
presunçoso; deixá-los à mercê de polvos editoriais que lhes servem panaceias
coloridas...
O que os novos tempos
exigem de nós é honestidade inteletual, embora pareça que anda o mundo trocado.
Ainda hoje comecei o dia
a pensar se a vaidade seria uma virtude...
Creio que já um dia aqui
referi que em tempos medievos houve quem considerasse a cobardia uma qualidade,
sem esquecer o silêncio virtuoso... Triste sina!
1.3.18
«Ricardo Reis
levantou-se, foi ao lavatório refrescar a cara, pentear-se, pareceram-lhe hoje
mais brancos os cabelos das fontes, deveria usar uma daquelas loções ou
tinturas que restituem progressivamente os cabelos à cor natural, por exemplo,
a Nhympha do Mondego...» José Saramago, O Ano da Morte
de Ricardo Reis
Apesar da obra estar
classificada como um romance, cada vez me convenço mais que, na verdade, José
Saramago escreveu uma crónica, segundo o preceito de Fernão Lopes, isto é, foi
pondo por ordem os dias e as horas com muito recurso à leitura dos jornais da
época... o que nos permite fazer o caminho inverso, descobrindo a cada cavadela
uma ou várias minhocas...
Neste caso, a Nympha do
Mondego ganhou um /h/... Será gralha?
Na realidade, o meu
problema é que já há cada menos interessados em cavar ... a não ser daqui para
fora...
28.2.18
Inquérito
nacional sobre condições de vida e trabalho na educação
O inquérito, da
responsabilidade de uma equipa de cinco investigadores, da Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL), do
Instituto Superior Técnico, e de duas universidades brasileiras... Inquérito
aos docentes
Não sei se esta
informação está correta, pois inicialmente pensei que a ideia seria da
FENPROF... De qualquer modo, o inquérito chegou às minhas mãos através desta
última estrutura...
Já respondi ao longo questionário, em formato impróprio para míopes e outras
degenerescências oculares próprias da profissão e da idade.
Devolvido o questionário
e tendo aceite as condições em que foi apresentado, não posso deixar de pensar
que a idade já me deveria ter precavido para certo tipo de inquéritos,
sobretudo quando nos solicitam a identidade e nº de BI ou de CC.
Em termos gerais, as
perguntas são repetitivas, convidando a respostas óbvias, servindo apenas para
legitimar hipóteses tomadas como certezas a priori.
(Todos sabemos como os
cientistas sociais utilizam o inquérito para legitimar certos preconceitos,
tornando-os em verdades inabaláveis ao serviço de interesses ocultos.)
Até aqui, apesar de tudo,
nada de novo... a não ser quando as perguntas foram dirigidas ao modo como o
CONSUMO DE ÁLCOOL, DE DROGAS E DE MEDICAMENTOS AFETA O TRABALHO E A VIDA
PESSOAL de cada inquirido...
Da próxima vez, antes de
começar a responder, prometo ler o inquérito e depois rasgá-lo.
27.2.18
A
situação dos jovens em Portugal
'O ministro do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, afirmou hoje que a situação
dos jovens em Portugal melhorou em termos de emprego, educação e inclusão
social.'
O ministro diz que a
situação dos jovens está a melhorar... e eu concordo se ele explicar a que
jovens é que se está a referir...
Infelizmente, o que eu
observo é bem diferente: a inclusão social dos jovens, a existir, resulta da
ação casuística de umas tantas associações e não de um plano nacional ou,
então, do amiguismo e do clientelismo; o estado da educação é deplorável, com
acentuado crescimento da iliteracia e da incivilidade; as taxas de
empregabilidade são manipuladas, os jovens condenados à emigração, à
delinquência e à depressão...
Há dias em que Vieira da
Silva faria melhor em remeter-se ao silêncio ou em deixar o lugar a um desses
jovens que, apesar de doutorados, não sabem como e onde aplicar os seus
conhecimentos...
26.2.18
Já não necessito de
imagens nem de representações.
A engenharia bélica
tornou-se tão irresponsável que já não há forma de lhe pôr termo. Sobretudo,
porque quem a manuseia, a vê como um ato lúdico.
25.2.18
Dúvida
sobre a limpeza dos terrenos
Até 15 de março, a
limpeza dos terrenos é obrigatória para todos os terrenos ou, apenas, para os
que estão próximos de localidades, vias públicas, cabos de alta tensão...?
Por mais que procure, não
encontro qualquer resposta objetiva.
Os governantes saem a
terreiro, mas não clarificam... ameaçam, provavelmente sem
perceberem que se limparmos os terrenos em março, em maio será necessário
repetir a operação.
Anunciam-se, assim, três
grandes negócios: o das coimas, o das limpezas e o da justiça. Para os
consolidar, nada melhor do que a ambiguidade...
24.2.18
Será que interessa saber
qual é a ponte?
A ponte de cada um tanto
pode ser física como imaginária. O que interessa é que qualquer uma delas nos
pode fazer sair de nós próprios nem que seja para observar as aves ou ver
florir os arbustos. O que interessa é que a água não falte...
Para quê uma ponte sem
rio?
É só atravessar a ponte,
no meu caso, e depois de sair da autoestrada, virar à esquerda e seguir por uns
tantos quilómetros - quantos não interessa! O que interessa é o que somos
capazes de ver, mesmo que o sol baixo nos torne a visão baça...
E quando olhamos só
ouvimos o carpir dos automóveis e o esvoaçar das aves, agastadas porque as
fomos incomodar...
A sorte das aves é que os
forasteiros são poucos!
A minha sorte é que as
aves, ainda, são muitas!
23.2.18
O aforismo é sinónimo de
refrão, provérbio, axioma, máxima, adágio... É um dito expresso em tom de
sentença...
Como tal, o aforismo deve
ser abordado como hipotexto no âmbito da intertextualidade.
Numa certa tradição, o
aforismo é, no entanto, elitista, com explicitação da autoria, demarcando-se da
cultura popular, considerada ingénua e falha de evidência científica...
Há todavia autores, como
José Saramago, mestres no recurso à intertextualidade (nos registos de
hipertexto e de hipotexto) que sabem valorizar a cultura popular. Leia-se O
Ano da Morte de Ricardo Reis, a título de exemplo:
- Costuma
dizer-se que o sol é de pouca dura...
- Quando
uma ideia puxou outra, dizemos que houve associação delas...
- Sobre
a nudez forte da verdade o manto diáfano da fantasia (...) sobre a nudez forte
da fantasia o manto diáfano da verdade ... se as sentenças viradas do avesso
passarem a ser leis, que mundo faremos com elas....
- Quem
viver verá...
- Estás
com pressa, viesses mais cedo...
- Dá-nos
o ofício o pão, é verdade, porém não virá daí a fama...
- Que
serás quando fores de noite e ao fim da estrada (?)
- Por
estas e por outras é que quem não tem Deus procura deuses, quem deuses
abandonou a Deus inventa...
-
Todos tivemos pai e mãe, mas somos filhos do acaso e da necessidade...
E por aqui me fico...
22.2.18
Imaginação verbal não nos
falta!
Social-democrata
escolhido por Rui Rio para liderar a bancada parlamentar ficou pelos 39% dos
votos dos colegas de bancada. Número de brancos e nulos revelam falta de união
em torno do novo presidente do partido.
Inteligentes, estes
deputados! O melhor é começarem à procura de emprego, pois na próxima
legislatura ninguém se lembrará deles...
E se tal acontecer, isso
será bom sinal, pois mostrará que do passado passista não reza a História.
21.2.18
Não sei porquê, mas há
pessoas que raramente são notícia... Outras há que se expõem diariamente sem
que nada o justifique...
Dir-se-á que a notícia é
caprichosa, mas a verdade é que ela obedece a interesses económicos e a valores
inconfessados...
Talvez seja por isso que
me sinto traído ao não ter notícia do que é feito de certas pessoas que aprendi
a respeitar.
Quero acreditar que elas
decidiram regressar ao anonimato para não serem enlameadas pela suprema vaidade
das horas...
Só que fica um vazio. Nem
uma pequena nota a contar se, afinal, tudo estava previsto...
Sem esquecer que pode
haver outra explicação. Por exemplo, é muito inconveniente que as minhas horas
sejam geridas pelo capricho de quem não percebe que as minhas horas não são
minhas, mas que também não são deles...
20.2.18
António
Guterres diz-nos o que queremos ouvir
“O que
fundamentalmente hoje interessa nas universidades e no sistema educativo não é
tanto o tipo de coisas que aí se aprende, mas a possibilidade de aí se aprender
a aprender”.
A ideia é antiga e
sedutora. De tão repetida, já perdeu a força ilocutória inicial.
No tempo em que foi
defendida, ainda não dispúnhamos da maioria das ferramentas ao nosso alcance,
só que o seu aproveitamento é mínimo a não ser por aqueles que procuram
apropriar-se da riqueza e do poder.
Por outro lado,
desvalorizar impensadamente certas aprendizagens que requerem a mobilização da
memória individual e coletiva é uma das causas do insucesso da estratégia
"aprender a aprender"...
Não basta ser catavento
para que o caminho se ilumine... O nosso sistema educativo nunca foi capaz
responder aos problemas que deveria ajudar a resolver... é uma instituição
obsoleta tal como outras que se dizem pilares da sociedade...
18.2.18
Elogio de Maria Teresa Belo
já passaram uns anos...
em certos dias, a memória
do trabalho
da tranquilidade
da disponibilidade
da bondade...
e agora, a notícia súbita
e contigo, a memória
Tenho de falar à Teresa... de Alexandra Lucas Coelho
Em tempo de
pronunciamentos políticos e desportivos, as proposições devem ser claras e as
preposições unívocas ou, no mínimo, não devem conflituar com os verbos de que
dependem... (alusão desnecessária, mas a que não resisto...)
Este fim de semana tem
sido de tal modo fértil em juras, proibições e anátemas que, de entre elas,
destaco, o ato censório do BC, de quem não me atrevo a pronunciar o nome, e
que, no meu mesquinho entendimento, deve sofrer de maligni Spiritus
manifestationes...
Face à situação, creio
que uma das profissões do futuro será a de exorcista...
O que não falta são BCs e
respetivos fâmulos!
17.2.18
Albuquerque: “Não tenho
problemas em divergir com Alberto João Jardim” Desvio
regional
Chama-se preposição à palavra invariável, pertencente a uma
classe fechada, que permite estabelecer relações de sentido entre duas partes
ou elementos de uma proposição.
Quando os lemos (ouvimos)
nem por um minuto desconfiamos que Miguel Albuquerque e Alberto João Jardim
possam divergir...
Unidos, divergem. Só não
se sabe de quem!
No espaço lusófono, há
muito que assistimos à redução do número de preposições e à consequente
utilização intensiva de umas tantas...
De qualquer modo, nem
tudo é negativo, pois as preposições já revelam o estado mental dos atores
políticos...
Para quem aprecie a
análise política, proponho que comece pelas preposições...
15.2.18
A 1 de janeiro, o ano
descolou com muitas promessas, a começar pelas do Governo.
Os dias passam... e nada.
Dizem-me que as promessas
seriam prontamente cumpridas, não fossem dois obstáculos: o recenseamento
profissional e o software.
Não encontro explicação,
pois não creio que os deuses do Olimpo tenham alguma coisa a ver com o
surgimento destes novos adamastores... mostrengos.
No entanto, desconfio de
que quem fez as promessas já tinha encomendado um novo software e
um novo recenseamento...
E o incumprimento não
deve ser por falta de dinheiro, tanta é a propaganda.
14.2.18
Há uma semana, um
automobilista imobilizou o veículo e pediu a um peão que contribuísse para a
reparação do seu automóvel...
Um pedinte matinal cumpre
o seu ofício, só que hoje pediu três euros, nem mais nem menos um cêntimo...
Faz hoje oito dias,
também me pediram que deixasse de atribuir classificações inferiores a 8
valores, mesmo se o pedinte se tivesse ausentado...
E já me esquecia do
ministro (das finanças) que pediu bilhetes para um jogo de futebol... e de toda
a gentinha que passa a vida na pedincha para os outros (e para si) ...
Há, também, quem o faça
em nome de deus, da mãezinha, dos filhos... Por vezes, também me apetece pedir
que não me aborreçam...
13.2.18
«É o carnaval
português. Passa um homem de sobretudo, transporta, sem dar por isso, um cartaz
fixado nas costas, um rabo-leva pendurado por um alfinete curvo, Vende-se este
animal, até agora ninguém quis saber o preço, mesmo havendo quem diga, ao
passar-lhe à frente, Tal é a besta que não sente a carga, o homem ri-se dos
divertimentos que vai encontrando, riem-se os outros dele, enfim desconfiou,
levou a mão atrás, arrancou o papel, rasgou-o furioso, todos os anos é assim,
fazem-nos estas partidas e de cada vez comportamo-nos como se fosse a primeira.
Ricardo Reis vai descansado, sabe que é difícil fixar um alfinete numa
gabardina, mas as ameaças surgem de todos os lados, agora desceu velozmente de
um primeiro andar um basculho preso por uma guita, atirou-lhe o chapéu ao chão,
lá em cima riem esganiçadas as duas meninas da casa. No carnaval nada parece
mal, clamam elas em coro, e a evidência do axioma é tão esmagadora e
convincente que Ricardo Reis se limita a apanhar do chão o chapéu sujo de lama,
segue calado o seu caminho, já reviu e reconheceu o carnaval de Lisboa, são
horas de voltar ao hotel. Felizmente há as crianças.»
José Saramago, O Ano da
Morte de Ricardo Reis, Porto editora, reimpressão de 2017
Desta vez, não volto a
explicar a origem do Carnaval - basta pesquisar que Caruma responde
enfadonhamente. Proponho apenas que leiam as páginas de Saramago - da 181 à
188.
12.2.18
Desde o Antigo Egito, o copista (o
amanuense) foi de grande utilidade ao Senhor, ao Império, à Igreja, ao Estado
e, em particular, à Justiça.
Grande parte da Memória
foi preservada pelos copistas...
Infelizmente, conheço uns
tantos copistas, a quem um amigo insiste em explicar o que é um plágio sem
que eles interiorizem o significado de tal termo que, quando lhes é solicitada
a resolução de um questionário da disciplina de Português, logo se propõem
entregar o resultado do cavo labor para que o professor o classifique.
Pacientemente, o mestre
inicia a leitura do referido trabalho, à espera de contribuir para a educação
do jovem, só que acaba por deparar-se com duas situações, qual delas a mais
abusiva: a) por exemplo, em 6 respostas, cinco foram copiadas umas pelas outras;
b) e, por outro lado, não passam de cópia ou de decalque das
"respostas" propostas no manual do docente...
... e esta
é uma situação cuja responsabilidade deve ser atribuída às editoras, ou será
que os atuais professores deixaram de ser capazes de elaborar perguntas e
avaliar as respetivas respostas?
De qualquer modo, o que
mais me choca é, afinal, a ideia corrente de que mesmo um mau copista não deve
ser submetido a qualquer exame, nem deve ser negativamente avaliado e,
sobretudo, não pode ser censurado.
10.2.18
Diz Camilo Castelo Branco
a Silva Pinto que «aqui terá passado dois anos de infância, os menos
desgraçados» e logo alguém conclui que foi lá que ele passou os melhores
anos da sua vida... (Casa da Samardã)
Curiosa interpretação!
Não sei porquê, e sem
querer igualar Camilo no infortúnio, estou sem saber onde é que vivi os
melhores anos, embora suspeite que terá sido no tempo da irresponsabilidade,
apesar de, desde cedo, me terem sido pedidas satisfações por dá cá aquela
palha...
E até hoje pouco mudou.
Parece que continuo a ter de prestar contas até ao dia do juízo final...
Também eu entrei em
múltiplas casas (sorte a minha!), mas estou incapaz de apontar uma que se
diferencie, apesar de por fora poderem indiciar maior ou menor felicidade.
9.2.18
A memória devia ser uma espécie de cabelo
Que a gente cortasse quando quisesse...
Carlos Queiroz
O problema é que à medida
que o cabelo vai caindo já não o queremos cortar, embora haja quem prefira
rapá-lo por inteiro - será para esquecer?
Mas o que irrita são
aqueles que, apesar do crescimento contínuo do cabelo, revelam não ter qualquer
memória nem que isso os incomode...
O que interessa é a meta,
o resto é conversa! E de nada serve desfiá-la...
7.2.18
Por este andar vai ser
necessário criar um termo para os
que são
bombardeados
que são torturados
que são escravizados
que são expulsos do lugar
onde nasceram
que nunca foram à escola,
que vivem no desemprego
que morrem à fome
que simplesmente são
escorraçados...
e vivem no silêncio até
que...
Todos os dias surgem
novas vítimas
cruzados de uma nova
guerra em que basta a magia da palavra
e logo desaparecem
os refugiados
os torturados
os escravizados
os alienados
os famintos
os silenciados
6.2.18
Uma
prova de insanidade mental
Quando soou a campainha
Que pôs termo ao recreio,
Só um dos cem meninos
Que brincavam no pátio,
Intuiu - através
De súbito lampejo -
Que a nossa vida é um equívoco
Insanável.
Poema 20, Carlos Queiroz
Ao ler sempre as mesmas
respostas a perguntas impossíveis, ao tentar ver um ponto final no lugar da
vírgula e até mesmo do ponto e vírgula, ao imaginar, à entrada, um parágrafo e
a cair do parapeito sem qualquer aviso, relembro o atraso por falta de campainha
e, sobretudo, interrogo-me por que motivo o José-Augusto França se me tornou
tema e logo com a revista "Bandarra" (1934-36) de António
Ferro, o da Filosofia do Espírito, roubada ao Valéry... ou seria ao Quinto
Império do profeta Pessoa?
(Não interessa! Afinal,
os blogues já são matéria defunta. Tornou-se impossível apresentá-los como
exemplo do registo diarístico. Ao que me disseram, o twitter ocupa esse
lugar.)
De qualquer modo, anoto
que, sob a resma de testes, tenho há dias, sem o vislumbrar (cuidado com a
catáfora!) um artigo E. M. de Melo e Castro, intitulado, "Carlos
Queiroz - releitura e homenagem, publicado no nº 26 do Letras & Letras,
de fevereiro de 1990... Fevereiro de 1990, anote-se...
Relembro que, por
tradicional bisbilhotice, me vira recentemente obrigado a falar dos desamores
de Ofélia Queiroz, sem fazer qualquer alusão a Carlos Queiroz, o poeta
existencialista, «tão distante da superficialidade da poesia da Presença"
(...) tão distante da poesia Neorrealista»,
o que, de todo, me aborrece... deixar de fora Raul Brandão, Aquilino
Ribeiro, José Rodrigues Miguéis, Ferreira de Castro, é, para mim, uma prova de
insanidade mental, já sem falar no Mário Sá-Carneiro, no Almada...
Aceito, entretanto, que
seja eu o insano...
5.2.18
Nunca aqui mencionei o
seu nome... e também não será hoje... No entanto, várias foram as vezes que
aqui escrevi sobre as dificuldades por que passava, em termos de exercício da
profissão...
A alusão, na hora em que
seguiu, como diria Bernardo Soares, mais não é do que o reconhecimento de que,
quando a idade avança e a saúde falha, se pode ser incompreendido...
Não raras as vezes me vi
obrigado a explicar a certos jovens voluntaristas que os comportamentos humanos
não são gratuitos - para eles há sempre uma explicação - e que a sua primeira
missão é procurar-lhes a causa em vez da varredela fácil...
Para além da sacrossanta
matéria existe o Outro... e que se não soubermos acompanhá-lo nas suas
dificuldades, nos seus excessos, então nunca perceberemos quem somos...
4.2.18
Dentro de dois meses, a
cidade do Cabo (4 milhões de habitantes) pode ficar sem água devido à seca ...
De acordo com os responsáveis, vai ser necessário colocar o exército na rua
para combater os motins...
Aqui, em Lisboa, o IPO vê
dificultada a contratação de pessoal de enfermagem e médico, mas gasta meio
milhão de euros num medicamento para um só doente durante um ano. O mesmo
ministério, que impede a contratação, manda pagar às farmacêuticas... aliás paga
50 milhões por 90 novos medicamentos, que, no dizer do diretor do IPO,
asseguram «dois meses de aumento de esperança de vida.» (Entrevista
de Francisco Ramos ao DN /TSF)
Em simultâneo, o Tejo
definha, a vida ribeirinha morre... as crianças já não procuram saber o
significado das palavras, e o ranking vai alimentando vaidades, mesmo que a
vergonha nos salte aos olhos.
3.2.18
Uma flor desabrocha no
canteiro. E isso basta! A luz baça não a ameaça. E eu também não... fico a
olhá-la, sem qualquer intenção...
De súbito, uma velhinha,
outrora ilustre, avança alquebrada, dois pesados sacos de compras dependurados
dos frágeis braços. Parece que vai soçobrar, mas não: avança, sem conseguir
levantar a cabeça, mas segura de que vai chegar a casa... e, talvez, ainda a
pensar nas próximas eleições autárquicas.
Quem sabe? O sonho de ser
Presidente da Câmara acompanha-a de há muito... E eu fico a olhá-la, sem
qualquer ação.
PS. Pelo que acabo de
apurar, a velha senhora já tem 82 anos. Maria Geni Veloso das Neves.
2.2.18
"Mas
a chama, que a vida em nós criou,
Se
ainda há vida ainda não é finda.
O
frio morto em cinzas ocultou:
A
mão do vento pode erguê-la ainda."
Fernando
Pessoa, O Desejado (excerto)
ainda a chama, mesmo que o frio a sufoque...
e o vento que tudo espalha, num gesto de fervor...
nos acorde do torpor... das notícias
sempre as mesmas
cinzas nossas
de todas as eras
onde até o desejo fenece...
1.2.18
Interrompo a tarefa como
medida profilática - preventiva. Hesito entre a variante europeia e a
brasileira. Sim, porque o OA de 1990 permite-me escrever
"profilático" com e sem /c/...; só que a opção exige que assuma uma
variante e que me liberte da norma-padrão, sebastianista...
A tarefa é de rotina, mas
exasperante, porque os jovens insistem em não responder às perguntas, um pouco
como os croissants da Padaria Portuguesa que se estão borrifando para as
expectativas dos clientes...
Só que a notícia sobre a
dívida pública de 2017 - 242,6 mil milhões - gera ainda maior
desânimo, pois abre a janela para uma outra: Em 2019, não haverá aumentos para
a Função Pública...
O que, afinal, se
compreende, pois, por mais que se insista, as famigeradas "reformas
estruturais" continuam por fazer... a começar por, cedo, aprendermos a não
responder às perguntas...
31.1.18
« Le double est devenu une image d'épouvante dela même façon que les
dieux deviennent des démons après que leur religion s'est écroulé. » (Heine, Les
dieux en exil)
Confesso que ler Freud me
diverte, sobretudo desde que me apercebi que o psicanalista era um grande
leitor e percebia imenso de literatura.
Ao ler o ensaio L'inquiétante
étrangeté, dei com algo em que nunca pensara: afinal, os demónios não
passam de deuses caídos em desgraça. Por outras palavras, abandonados
pelos seus crentes...
(Creio que já mo
tinham explicado, mas eu não percebera, nem sei se a interpretação seria a
mesma.)
A verdade é que, para
mim, o Bem era a outra face do Mal; ou seria ao contrário? Os deuses e os
demónios, indissociáveis, senhoreavam o universo numa competição sem limites,
em que nós nos arrogávamos o direito de os imitar, convictos de que um dia lhes
ocuparíamos o lugar...
No essencial, os deuses
de ontem, venerados e bajulados, transformaram-se por um toque de inveja humana
nos demónios que nos entram pelos olhos e pelos ouvidos e que nenhum exorcista
conseguirá extinguir...
30.1.18
O sistema está blindado.
De modo a estancar o
alarme, o peixe-miúdo fica detido; o graúdo, a estas horas, já deve ter
zarpado... E se não o fizer, é porque a malha não foi feita para ele.
Não sei se consigo
abarcar a extensão da corrupção; fica-me, no entanto, a ideia de que este polvo
é intratável. E depois o que impressiona é o aparato. Sem ele o que seria de
nós?
28.1.18
Apesar de ser domingo,
vejo-me confrontado com sucessivos disparates. Por exemplo, alguém me diz que
D. Sebastião é, para Fernando Pessoa, um mito reabilitado...
O que tenho procurado
explicar é simples, creio: Fernando Pessoa, dando sequência ao trabalho
doutrinário de uma série de ilustres sebastianistas, transforma, em MENSAGEM, a
figura histórica que mais contribuiu para a ruína da Pátria, num mito,
isto é, numa figura de esperança, tal como fez com muitas outras
personagens históricas, essas, sim, bem mais positivas...
No essencial, o que
interessa entender é que todo o mito é uma figura de esperança. Ou
será que, no género épico, os mitos são tratados de modo diferente?
Bem sei que há por aí
quem afirme que a dívida portuguesa é mítica. Só que não estamos a falar do
mesmo. Pelo menos, no que me diz respeito, não sou sebastianista, pois não
acredito que algum dos atuais heróis venha a ser mitificado...
26.1.18
a palavra solta
cai sem amparo...
a palavra presa
murmura no silêncio
sem amparo
a palavra ainda escorre
arrependida a palavra
definha no silêncio
vazia a palavra...
25.1.18
O restaurante-esplanada
foi substituído por uma barraca rolante, a céu aberto.
Para compensar, a Câmara Municipal de Lisboa homenageia os mártires da Pátria
de 18 de outubro de 1817.
Oportuno, o Ministério da
Educação retirou do Programa de Português a peça de Sttau Monteiro "Felizmente
Há Luar!" Restam os galos, um santo popular, meia dúzia de batoteiros
e uns tantos vagabundos... com ar de mártires de vícios endógenos e
gloriosos...
Creio, todavia, que hoje
é dia de celebrar maio de 68. Pelo que ouvi, na Gulbenkian, a elite encontra-se
numa festa de ideias, subordinada ao tema: A IMAGINAÇÃO AO PODER!
Por mim, não sei se os
galos têm imaginação, mas sei que cantam! E com entusiasmo...
Da minha distante
meditação, nada festivaleira, ressalta apenas que, por ação pouco espirituosa,
perguntei a um jovem interlocutor o que é que ele pensava da ideia de que a
vida de cada um se pode resumir na epígrafe: CONHECER O PASSADO, IMAGINAR O
FUTURO, VIVER O PRESENTE... Singelo, o jovem deu a entender que prefere viver o
presente, seja isso o que for...
23.1.18
Não é que a situação não
me incomode mas, ao tornar-se rotina, finjo-lhe a novidade, suspendendo a
palavra como se tal fosse suficiente para lhe pôr cobro...
O que, deveras, me
nauseia é a ideia de que estas pessoas, apesar de serem outras, são as mesmas
que há anos tolero, ciosas dos seus direitos, mas sem o menor sentido de
responsabilidade...
O que, deveras, me
nauseia é a ideia de que esse fingimento deixou de ser um ato de defesa para se
tornar numa falha de carácter...
22.1.18
O tic-tac continua
indiferente à presença ou à ausência... É sempre o mesmo balanço! Não lhe pesam
as pernas, nem o afligem as articulações. Passa adiante, sem querer saber se a
chama continua mortiça ou se algum fulgor se eleva na hora do fim do dia... Nem
quando a luz se apaga e a noite se inteiriça, o tic-tac deixa a cadência que,
afinal, me preenche a alma ou a vontade que tenho de ter alma...
A alma do mito! Muito
para além da história... só que fosse uma pétala que agitasse o jardim... ou
este tic-tac que me possui...
20.1.18
Não lhe toco. Passo dias
sem o olhar...
Só quando me alheio do
ruído, lhe oiço o balanço... e sei que ele não se preocupa que eu tenha deixado
de reparar nas horas, como se só estivesse interessado em fazer-me companhia...
Sem deixar de o ouvir,
verifico, de momento, que ele pouco se atrasa, mesmo sem ter que ir a qualquer
lugar...
Nisso da pontualidade
somos parecidos, só que, ao contrário de mim, ele parece não se incomodar.
Como eu gostava de ser
ele!
19.1.18
«Se a imaginação e o
mistério não estão connosco, não vale a pena escrever.» Maria Ondina
Braga entrevistada por Mário Santos, Público, 9.12.1995
Foi certamente essa
certeza que alimentou Fernando Pessoa ao escrever MENSAGEM!
Perante o desconchavo a
que Portugal chegara, na ausência de feitos que pudesse imortalizar, Pessoa
optou por imaginar um futuro que, de algum modo, fosse capaz de despertar os
portugueses coevos da modorra em que jaziam.
Esqueceu a História e
atirou-se ao Mito e, pelo caminho, assumiu o papel de último profeta do Quinto
Império, procurando devolver a esperança e a vontade necessárias ao Sonho, sem
o qual o Senhor acabaria por esquecer o povo eleito que unira o Mar, mas que
não soubera preservar o Império...
O último profeta (Screvo
meu livro à beira-mágoa), mais do que a voz do Senhor, surge como seu
interpelante, procurando, assim, que o último fôlego da Humanidade seja obra de
Portugal - o verdadeiro herói de MENSAGEM.
18.1.18
Saciada a fome, não resta
nada. Nem a mortalha escapa à voragem.
Por estes dias, o
mandarim repousa à espera de que a Natureza o reintegre no jardim dos
pássaros...
A tristeza que fica é a
certeza de que nem a mortalha escapa à voragem...
17.1.18
O Governo vai avançar
este ano com projetos-piloto de "cabras sapadoras" com rebanhos
dedicados à gestão de combustível florestal na rede primária, anunciou esta
quarta-feira o secretário de Estado das Florestas, destacando o reforço na
prevenção de incêndios.
sapador - soldado de
engenharia preparado para o assalto a fortificações.
sapa
- pá para levantar a terra cavada.
sapar
- executar trabalhos de sapa; minar.
Posso estar enganado, mas
o senhor Miguel Freitas não deve perceber nada de cabras. Consta que,
caprichosas, as cabras se estão nas tintas para tudo o que não seja ruminar de
estômago bem repleto... e eu só estou a falar das cabras, porque quanto aos
bodes, esses há que poupá-los para que a espécie não se extinga.
Por outro lado, na velha
tradição bucólica, o senhor secretário de estado bem poderia pensar em
projetos-piloto alternativos de toupeiras, patos, porcos, vacas e até girafas
se a União Europeia ainda autorizar a sua importação...
De qualquer modo, com
tanta gente desempregada, o melhor é ordenar às cabras que retoucem, de acordo
com o significado ainda em voga no interior do país, pois lá para o litoral
algarvio há muito que o verbo deixou de ser transitivo...
15.1.18
Uma
relação mal resolvida ou mal traduzida...
Com tanto estrangeiro
embasbacado a fotografar a fachada, não resisti... até porque, de livro na mão,
enregelava, à espera diante do nº 104...
Acabara de entrar no
ensaio "L’inquiétante étrangeté", de Freud e, tal como este,
procurava uma tradução adequada, mas nenhuma me agradava, apesar da estranheza
inquietante (angustiante) me parecer uma hipótese razoável...
Por seu turno, Freud ia
gastando páginas atrás de páginas com o resultado das suas pesquisas sobre o
significante nas diversas línguas europeias correspondente a unheimlich, e
parece que não encontrou, dando corpo à ideia de que as línguas guardam em si
identidades (e mistérios) intraduzíveis!!!
Esta viagem linguística,
a certa altura, revela-se deliciosa, quanto à tradução de unheimlich:
«o italiano e o português parecem contentar-se com palavras
classificáveis como perífrases. No árabe e no hebreu, unheimlich coincide
com o demoníaco, o que provoca arrepios...» A tradução é minha e não é
muito fiável, pois ainda faço fé no Luandino Vieira que não me contratou em
73/74 para as Edições 70, embora nunca me tenha explicado porquê...
Daqui, talvez, se possa
extrair que, para os portugueses, não há nada de verdadeiramente assustador e,
muito menos, demoníaco... nem sequer a degradação das fachadas...
Em termos freudianos,
resta saber quando é que esta familiaridade com a degradação terá tido início.
Espero que não tenha sido uma relação mal resolvida entre D. Afonso Henriques e
Dona Tareja, sua mãe, cujos vítimas terão sido os mouros despejados das amuradas...
14.1.18
Frequentemente, opto pelo
silêncio.
Hoje, no entanto, quero
expressar o alívio que senti ao ouvir a confirmação de que Santana Lopes
perdera as eleições...
O vedetismo do personagem
não prometia nada de bom para o País.
De Rui Rio, espero que
seja honesto e responsável - o que, afinal, espero de todos aqueles que abraçam
a ação política... mas que não abusem dos abraços e da lamechice.
12.1.18
A esta hora, ainda não
saí da escola. Ocupo o tempo a eliminar ficheiros, designadamente de fotos sem
valor... até que me surge a foto do lugar onde comecei a ler, a escrever e a
contar... Observo-a mais uma vez e verifico que não me lembro do poço (da cisterna).
Será que já lá se encontraria?
Lembro-me de quase nada
ou, melhor, recrio o jogo do pião e a vontade de ter um pião que me custou uns
tabefes valentes e a consequente devolução... a humilhação fatal que bem
poderia antecipar o oráculo que me terá condenado definitivamente a este magistério.
Lembro o austero
professor, sem qualquer memória do perfil, apenas o gesto de chamar o aluno e
de o castigar sem apelo nem agravo... e depois o regente porqueiro... e a jovem
Mécia, urbana, em terra labrega que, pacientemente, me soube encaminhar para esta
sala vazia, cercado de computadores passivos e inúteis...
E claro, por perto, as
azinheiras e as oliveiras de sempre... Sem esquecer as figueiras e as vinhas.
10.1.18
Na opinião de John D.
Sutter, especialista em aquecimento global, estamos a menos de duas décadas de
distância da próxima extinção em massa no planeta Terra e a primeira causada
pelos seres humanos. Sem futuro
Faltam 20 anos para o fim
da Terra! E eu que pensava morrer sozinho, vejo-me obrigado a morrer em
companhia...
Por este andar, nada do
que fazemos tem qualquer sentido.
Por uma questão de
comodismo, vou esperar que o senhor Sutter não passe de um novo Nostradamus,
porque se estivesse à espera de uma alteração do comportamento humano mais
valia antecipar a viagem...
9.1.18
"Ele, o homem.
Ele, o testemunho, continuam vivos." Marcelo Rebelo de Sousa, RTP
Notícias (Mário Soares)
Compreendo a intenção,
mas não gosto da afirmação.
Em primeiro lugar, porque
devemos respeitar os mortos.
Em segundo lugar, porque
a missão dos políticos é ocuparem-se dos vivos.
Finalmente, porque a
valorização do passado só serve para diminuir o presente. Até porque o
argumento do exemplo nem sempre é conveniente...
8.1.18
Hoje, a escrever, só se
fosse sobre o mundo interior. O exterior de tão aborrecido enjoa-me, deixa-me
incapaz de me aproximar da janela que permite avaliar se a ilha se vai
extinguindo ou não...
Não é que a ilha me
interesse excessivamente, porém sei que ela se projeta no meu horizonte, tal
como imagino que, sem mundo interior, não sou senão um boneco ao lado de uma
infinitude de outros bonecos, todos iguais...
Se imagino que tenho
mundo interior é porque ainda sou do tempo do exame de consciência,
posteriormente substituído pela autoanálise e ... pela autocrítica, embora
esta já exigisse um palco em que os bonecos eram manipulados pelo bonecreiro...
Como se vê, do mundo
interior nada digo, pois a esta hora, a paisagem escureceu, deixando-me a alma
virada do avesso...
Desconfio até que o meu
mundo interior nunca existiu ou, então, é indizível... E quanto à alma, o
melhor é começar a arrepiar caminho...
7.1.18
«O princípio base do
funcionamento do aparelho censório era de que todo o conteúdo dos jornais,
incluindo os anúncios, títulos, fotografias, composição, paginação e os
próprios boletins meteorológicos, estavam sujeitos à censura. (...) A suspensão
de uma notícia podia ocorrer sempre que os serviços de censura achassem
necessário consultar um superior hierárquico sobre essa matéria. As notícias
provenientes das agências noticiosas estrangeiras eram submetidas à censura
directamente nas agências recetoras.» Censura / Regulamento de 1936
«As Instruções Gerais
da Política de Informação do Regime Fascista (1932?) proibiam
todas e quaisquer referências que afetassem o prestígio dos governantes, das
autoridades e entidades oficiais, referências a assuntos ligados à ordem
pública, notícias de julgamentos ou deportações de presos políticos, notícias
de crimes, suicídios, infanticídios, alusões aos serviços de censura... Até
mesmo os anúncios de astrólogos, bruxas e videntes são proibidos. Todas as
marcas da intervenção da censura, como por exemplo os espaços em branco,
deveriam igualmente ser camufladas.»
Maria Inácia Rezola, DN,
24.11.1991
A leitura atenta destas
regras e das instruções só serve para mostrar (e já não é pouco!) que o
tempo decorria de forma muita mais lenta durante o Estado Novo e que,
para este, o controlo da comunicação social era fundamental.
Hoje, como deixou de ser
possível controlar todas as redes de comunicação, a alternativa é enxameá-las
de tudo o que no século passado era proibido, acrescentando novos ingredientes
como a devassa das chamadas de voz, das mensagens, dos e-mails e, sobretudo,
fabricando-os como mecanismo de intoxicação.
6.1.18
Salamim
- a palavra que eu ignorava
«Chega o Inverno; e
hoje, que é domingo, sabes em que eu me entretenho? Em partir pinhões com uma
pedra à porta de casa. Compram-se aos salamins no padeiro do
lugar, um brutamontes de mangas arregaçadas e braços peludos e cheios de pasta
de farinha, que nos diz: - Viva! com mau modo. No enfastiamento domingueiro, o
que se pode fazer senão isto?» Cesário, entediado, escrevia a
Bettencourt Rodrigues
Finalmente, a chuva de
inverno vai caindo e com ela chegam as horas de enfado que vou ocupando em
desarrumações e a ler excertos de jornais.
No dia 13 de Dezembro de
1987, surgiram, no Diário de Notícias, vários artigos dedicados a Cesário
Verde. Um deles intitulava-se mesmo Linda-a-Pastora: a quinta com
janela para o Chiado. O título dá como assente algo que não passava de um
desejo (in)confessado do escritor a contas com uma recorrente instabilidade
emocional...
A ideia de olhar a cidade
a partir do campo parece-me tão válida como a contrária, mas o que, neste
artigo, despertou a minha atenção não foram nem o Jacinto nem o José Fernandes
queirosianos, mas, sim, o termo salamins.
Aqui está uma palavra que
eu ignorava - salamim - que os dicionários definem como
"direito de corretagem que se pagava em Diu". Creio, no entanto, que
Cesário se está a referir ao comerciante vagamente indiano que, à época, lhe
vendia as pinhas...
Se Cesário tivesse tido
notícia do preço do pinhão neste Natal - 80 € / 100 gramas - talvez não se
tivesse sentido tão aborrecido...
Pensando bem, neste
Natal, havia salamins que vendiam o pinhão mais barato - 60 €
/ 100 gramas. Só que eu não os conhecia como tal, pois o preconceito
encarregou-se de os nomear de modo pouco educado.
5.1.18
"No acaso da rua
o acaso da rapariga loura." Álvaro de Campos
Sem predicado, sem um
ponto determinado numa rua por nomear, a rapariga loura não passa, afinal, de
uma recordação da rapariga loura original, desperta do passado irreal da única
rua cujo lugar de encontro se desfez...
Deste modo, ao sujeito,
desfeito o encontro inicial, transmutado num outro, só lhe resta escrever
versos que o tornem aos olhos dos tolos - maravilha das celebridades...
... maravilha
fatal da nossa idade, perdida (irremediavelmente) da
visão imediata...
4.1.18
A leitura literária
pressupõe a capacidade de relacionar, mas como se a memória falha?
No entanto, a consciência
dessa falha traz frequentemente relações imaginadas no momento de leitura,
provavelmente, inapropriadas, mas sem contraditório, pois do outro lado mora o
vazio...
De tal modo que já não
sei o que é pior: se a incapacidade de relacionar por falta de leitura,
se a frustração por saber que tempo houve em que a interpretação fulgurante se
terá perdido porque a mente se foi degradando...
Dizem-me, agora, que o
grande culpado é o açúcar. Não sei se será tarde, mas prometo que tudo farei
para o eliminar da minha dieta...
3.1.18
«Mais dia menos dia
matam-nos através de uma imagem. Abrimos um computador e morremos.» AL
BERTO
Mais dia menos dia o computador resolve-nos o
problema...
Só que o problema somos nós!
De nada serve voltar atrás
De nada serve esperar...
Mais dia menos dia nunca será futuro,
porque o futuro não se mede em dias...
o futuro, um outro lugar...
talvez uma caixa de segurança com muita pirotecnia...
2.1.18
Entre as nuvens, a lua.
Se fosse nas nuvens, a abordagem já era outra...
Embora me possa
considerar satélite, ainda prezo alguma independência de raciocínio, o que me
leva frequentemente a tolerar certos comportamentos irrefletidos, umas vezes
próprios da juventude, outras específicos do envelhecimento...
Não se trata nem de
submissão nem de condescendência mas, sim, de opção, que não reflete qualquer
vaidade ou soberba... com fases...
Vistos
de Cascais a "reinventar o futuro"...
Já é difícil construir o
presente!
Ora o senhor Presidente
quer que nós reinventemos o futuro. Nem sequer nos exorta a inventar / a
imaginar o futuro...
Estes portugueses sempre
lá longe e não no lugar onde deveriam agir!
Em 2018, vamos adiar o
presente e colocar os olhos no Longe... e, em coro, vamos repetir
"Reinventar o futuro!"
Outra ideia do senhor
Presidente é que somos tantos e tão dispersos que, vistos de Cascais, passámos
a ser muitos "Portugais"...