29.12.24
Felizmente, não estou a perder a
fala nem a ficar cego. E não sou surdo, antes pelo contrário... o ruído
afeta-me os neurónios, embora ninguém se aperceba disso... E sou só um, e não
diversos como parece que está a acontecer com muita gente, sobretudo jovem...
Por isso não há o perigo de me dividir em dois que se procuram na adversidade
da perda, seja ela comunicacional, linguística, geográfica ou temporal... Não
quero ser outro, nem mudar de sexo, nem a cor do cabelo - já me basta perdê-lo
- o que fará um cabeleira sem cabelo?
Basta-me caminhar até me cansar,
e ler mesmo que não entenda a fama de certos escritores, embora a escrita não
passe de um novelo sem fio que nos leve a qualquer porto...
Acabei de ler Lições de
Grego, de Han Kang, e estou sem compreender se a verosimilhança ainda é um
critério de avaliação da ficção: por vezes a realidade surge na sua crueza, mas
a prosa acaba por ceder o lugar à fragmentação do discurso, tornando-o
absurdo...
Por ora, estou sem pressa de atalhar no caminho e gosto que os fios não se esfumem ou se partam antes de chegar ao ancoradouro...
21.12.24
Com tanta luz, há quem viva nas trevas...
Com tanta fartura, há quem passe fome...
Ainda hoje um talhante me confessou que grande parte da
carne que irá vender até terça-feira acabará por não ser consumida, apesar do
império da gula...
Insiste-se em criar um clima de festa só para esconder a
miséria a que a humanidade chegou.
É uma espécie de carnaval antecipado ou, melhor,
permanente.
Nada disto corresponde à essência do mito natalício...
Dir-se-á que o mito é NADA e TUDO se resume ao que exibimos.
(FP: O mito é o nada que é tudo.)
15.12.24
Sem metáfora, não há escrita de
Mia Couto...
A figura cobre a guerra, a
religião, a cor, a seca, a chuva, o abuso sexual, o envelhecimento, a morte; a
língua em que cresce...
A metáfora é inevitável,
centrando-se no corpo, na pele, nas mãos, nos olhos...
A própria vida se revela metáfora
caindo na folha em branco como narcísica forma de eternidade...
Como alguém referiu, toda a
figura é metáfora, e por isso os nomes próprios também são metáforas... À força
de gerar figuras, Mia Couto acaba por branquear os responsáveis pelo adiamento
da esperança...
Quando o prazer da metáfora
desfigura a realidade nua e crua... o que parece perto, fica cada vez mais
longe. Imperdoável!
(Mia
Couto, Compêndio para desenterrar nuvens, 2023)
13.12.24
A invasão não é de agora. A
perceção é que é mais recente.
Quase todos os dias, passo por
este cacto e leio que ele foi transferido da Quinta da Vitória... por ironia,
certamente, demolida para dar lugar a três ou quatro torres de apartamentos
aburguesados, e uma zona comercial que, em grande parte, serve o bairro
contíguo da GEBALIS, que o município lisboeta deixa degradar incautamente.
Não basta entregar casas, é
preciso assegurar que elas são estimadas, diariamente...
(...)
Hoje, numa das saídas do Hospital
de São José, um jovem asiático, transido de frio e provavelmente de febre,
afastava-se cambaleando... e não pude deixar de pensar nos espinhos destas
vidas.
9.12.24
O que vento tem a mais, tenho eu a menos. E o insólito é que
ele sempre foi assim: ora não damos por ele, ora eleva tudo no ar. E eu
agarrado ao chão!
(Em dia de algum vento...)
8.12.24
Lá fui, ontem, rever os velhos atores (João Mota e Carlos
Paulo) e os novos, cujos nomes ainda não me tombaram na memória...
Espetáculo bem produzido, e interpretado de acordo com o
rigor sempre exigido pelo 'maestro' que, uma vez mais, revisitou a génese do
teatro português...
Do texto de António Torrado ressalta o pendor pedagógico
eivado de um sebastianismo que, infelizmente, continua presente no fascínio
pelo 'almirantado'...
5.12.24
Ainda não pude observar devidamente, mas estou na ideia de
que visualizei um telheiro agigantado, à medida de quem encomendou a obra. Deve
ter custado bom dinheiro e, talvez, possa abrigar quem por ali passe na calada
da noite, apesar das portas cerradas e da segurança apertada...
Nestas obras, há sempre quem ganhe e, também, há quem se
deslumbre... Como campónio fiquei pasmado pelas razões erradas, certamente.
1.12.24
Do quê?
Do súbito enamoramento.
De um casamento temporão, aos olhos de hoje...
Do tempo passado, as palavras não dizem nada, a não ser que
se tem tratado de uma prova de resistência...
de olhares distintos que mais cedo ou mais tarde se
extinguirão...
28.11.24
É só para lembrar que as rolas
não devem ser esquecidas no OGE. Praticam o equilibrismo como qualquer
trabalhador ativo ou inativo... E a bem dizer, a inatividade não lhes é nada
favorável.
Espero que o sr. montenegro,
adepto fervoroso da ação, as contemple com dois ou três milhões, sem por em
causa os interesses das grandes empresas, dos banqueiros e dos
afilhados...
(E quem fala de rolas também se
refere a pombas...)
25.11.24
O mérito dos acontecimentos
daquele ano é que estes permitiram corrigir o rumo. Certo é que o fulgor
democrático se foi desvanecendo ao longo dos anos até chegarmos a este pântano
em que nos vamos afogando.
No entanto, se o rumo tivesse
sido outro, teríamos regressado a uma forma de ditadura que acabaria por nos
albanizar.
Entretanto, vivemos numa
democracia suicida de que o dia de hoje é um triste sinal.
Valha-nos o SOL que desponta...
23.11.24
O mar de São Miguel.
Antes, no entanto, o que os meus
olhos abarcavam... tudo plantado numa linha de tempo que não é o meu, a não ser
pontualmente.
A foto assegura esse momento do
instantâneo em que os olhos se tornam cegos.
Agora, que me centro na imagem,
recordo a varanda donde repetidamente fixava o horizonte, quase indistinto.
E há todo um conteúdo que insiste
em escapar-me...
Uma varanda despojada...
20.11.24
Por este andar, nem a ponte nem o santo se aguentam. Só o
chão restará!
Os comentadores belicistas estão ansiosos pela guerra, e
ainda não percebi porquê. Será que pensam que esta guerra será igual às
anteriores ou são tão estúpidos que ainda não compreenderam que, também, eles
acabarão por ser dizimados... No melhor dos casos, nem chegaremos a acordar!
18.11.24
Desci a Avenida da Liberdade, à
espera de encontrar uma loja de filatelia e de numismática. De balde.
Só vi hotéis e lojas de luxo;
preciosas no passeio, à espera dos motoristas dos Porsches e dos Ferraris que
se impacientavam na longa fila de trânsito...
Ainda não se lembraram de
reservar as ruas laterais só para o serviço dos riquinhos que por ali se alojam
e fazem compras!
Acabei por observar a 'sagração'
da arte do fado, sem que lá faltasse o descanso de um pobre dependente do
smartphone... e regressei à Barata Salgueiro (Cinemateca) onde pude rever o
filme 'Dona Flor e os Seus Dois Maridos'... Outros tempos, em que ainda era
possível encontrar lojas de filatelia na Avenida...
15.11.24
No Parque de Monsanto, não oiço as aves típicas do outono
florestal, apenas tiros e não creio que se trate de tiros aos pratos... há por
ali uma carreira de tiro ou estarei enganado? Dos serviços prisionais ou da
Força aérea?
Ainda pensei que se tratasse de um duelo de pistolas, mas
não. Aos parlamentares de hoje falta-lhes honradez...
9.11.24
... procure o rio Almonda, siga-lhe o curso e logo
encontrará o que sobrou dos moinhos e lagares do Caldeirão, de que já havia
registo no século XV...
5.11.24
Para ti, que lutaste sempre,
Que nunca pensaste que o teu fim estava ali, naquele lençol
branco,
asséptico.
Que nem sequer esperaste pela meia-noite!
Foste embora um pouco mais cedo...
A morte é sorrateira, apressa-se invisível,
Esconde-se dos sentidos, destrói numa euforia devastadora.
Em certos casos, no entanto, a morte é mais leve do que a
vida.
Anoitece apenas.
A vida, essa, pesa desmesuradamente.
Absurdamente.
(12/12/2005)
Aproxima-se
Cercam-me os fios dos teus cabelos
noturnos silenciosos
Despontam em números proibitivos
os teus ávidos dedos
Parecem querer aproximar-se no mar largo
que fica para além do Sol
(22/1/2006)
Passei por lá e não te vi!
Refletia só a modesta jarra
Sombra ténue da tua presença.
Passei por lá e só ouvi
Sob a capa da terra
O eterno incómodo
dum involuntário queixume.
Passei por lá e não senti
a força da tua mão
E saí a procurar flores
esquecidas da tua presença.
Passei por lá e só vi
o olhar vazio
do corvo faminto.
(2/3/2006)
Se tu soubesses
O lugar donde partiste
tinhas ficado um pouco mais
Se tu soubesses
As máscaras que nos cercam
tinhas ficado um pouco mais
Se tu soubesses que as máscaras
ensaiam uma dança metálica
de espectros
Se tu soubesses
O lugar que me deixaste
tinhas ficado um pouco mais
Um lugar onde seduz um rosto sem luz
(1/7/2006)
Estranhamente
Irrompe das ruas desertas
a mudez das casas
Enleia as roseiras
a ervagem daninha
Agoniza ao sol de Inverno
secreta tubagem
Estranhamente procuro
o lugar
a voz
a rosa
a calma
Estranhamente ouço
o eco
da enxada,
da gadanha,
do arroio
Estranhamente
caio
e fico lá
num não-lugar
Enleado em mim mesmo
(3/3/2006)
4.11.24
Em certos grupos do Facebook
ninguém conversa com ninguém, nem sobre a ausência de uma vírgula nem sobre os
excessos de quem quer que seja...
Há, apenas, o registo pontual de
uma nuvem que encobre ou que se vangloria.
Deveria haver uma forma de
eliminar esses grupos inócuos, porque lixo já há que sobeje. Por vezes, chego a
pensar que esses grupos são de plástico...
O QUE É QUE EU ESTOU ALI A FAZER?
Pelo menos, aqui, no blog, é tudo residual... a conversa é acabada.
2.11.24
Hoje, dia de defuntos, não toquei
a lápide sepulcral nem lancei cinzas ao mar, fiquei-me pela conclusão da
leitura da 'conversa de João Gomes com Ricardo Araújo Pereira' - O QUE É QUE EU
ESTOU AQUI A FAZER?
Uma 'conversa' assente no
conhecimento aprofundado dos livros sagrados e da literatura sobre Deus, a Fé,
o HUMOR e a MORTE...
O ateísmo do humorista Ricardo
Araújo Pereira faz-me lembrar o de José Saramago, de quem, curiosamente, não se
fala nesta obra... talvez porque o entrevistador se situe noutra margem...
Esta 'conversa' é intensa e
obriga-nos a pensar em preconceitos, em rituais e, em comportamentos defensivos
perante o fim da matéria e, mesmo, sobre o esvaziamento da consciência...
Por estes dias, as criaturas não
têm motivos para rir, nem sequer para sorrir... Por mim, espero voltar a ler
esta CONVERSA...
30.10.24
Ler a 'Comédie Humaine' de
Balzac é a maior aventura que, como leitor, alguma vez, encetei.
Apetece-me dar da conta das
'manobras' napoleónicas e, sobretudo' dos mecanismos de conquista e manutenção
do poder, mas o que percebo é que o 'poder' não existe nem nas monarquias nem
nas repúblicas.
O que existe são teias de
interesses que manobram na sombra dos poderosos de cada momento, podendo este
ser fugaz ou geracional.
Os 'santos' do lugar não levam ao
céu, mas permitem satisfazer ambições que todos sentem como legítimas,
independentemente dos efeitos degradantes...
O problema é que se observarmos o
estado do mundo atual.… nada mudou. Balzac diz tudo o que há a dizer sobre o
comportamento humano. Só mudam os títeres e as figurinhas!
24.10.24
Nas calhas da roda não gira nem a razão nem o coração...
giram as desigualdades
a deseducação
o laxismo
e, sobretudo,
os incendiários da política e da comunicação...
... o que não significa que os delinquentes possam continuar
À SOLTA
17.10.24
Da forma das linhas pouco sei,
até porque, para mim, são quase sempre invisíveis... Sei que algumas me parecem
mais carregadas e até mais ameaçadoras. Esforço-me, no entanto, por andar na
linha, embora não saiba muito bem se isso me é favorável...
Ontem, abriu-se uma nova linha
cujo único fito é sair do mundo virtual, aproveitar ao máximo a margem em que
me encontro...
Se te encontrar por aí, daremos
dois dedos de conversa...
15.10.24
Por razões que a razão
desconhece, fui deixar um boné de largas temporadas no Santuário do Senhor do
Santo dos Milagres, próximo do qual Antero se suicidou no dia 11 de setembro de
1891... Espero que lhe possa ser útil, pois a sua obra sempre me inspirou em
termos profissionais e pessoais... Não era minha intenção, mas, por vezes, há
apelos inesperados...
Apesar de haver escolas em Ponta
Delgada de que Antero é patrono, fiquei com a sensação de que falta ali
qualquer coisa que assinale melhor a grandeza do homem e do artista... A não
ser que os miguelenses sejam partidários de um orientador pedagógico que, ao
assistir às minhas aulas de Português, um dia me disse que não deveria 'dar
pérolas a porcos' - referindo-se aos sonetos Tese e Antítese... e aos alunos!
O boné ter-me-á caído do bolso, às 7h30... sob o efeito da
talha dourada e, sobretudo, do inesperado toque do telemóvel...
12.10.24
A talha dourada e a sumptuosidade da Natureza
Padres e mais padres... até descobrir que o Hotel (São
Miguel Park Hotel) se encontra em terreno que outrora alojou o Seminário de São
Miguel.... e para remate o São Miguel Arcanjo é o padroeiro do lugar.
7.10.24
O vento começa a fazer-se sentir... a hora é de descanso,
pois a viagem foi cansativa - demasiado tempo à espera, com um sem número de
controlos de pessoas e pertences...
Não me consigo adaptar ao espírito da manada que se deixa
conduzir mecanicamente.
Pode ser que amanhã seja diferente, no entanto o furacão
aproxima-se... nem sei se ouvi bem ou se os neurónios se estão a desconectar...
4.10.24
Ernest Bloch, registo
incompleto de leitura
UTOPIA
Ernest Bloch, Le Principe de l’Espérance, II Lés épures d’un monde
meilleur (1959), éd. Gallimard, 1982
1. Rêver de ce que
l’on n’a pas n’allège pas la souffrance, mais l’accroît et empêche que l’on
s’habitue à la détresse. p.11
2. Les utopies
sociales ont toujours opposé le monde de la clarté à celui de la
nuit... p.40
3. En effet ce
lointain temporel prit bientôt l’aspect d’un éloignement dans l’espace et se
confondit avec un pays de merveilles. L’élargissement des horizons
géographiques dû aux campagnes d’Alexandre fut un facteur
déterminant. p.56
(...) Alexandre
apparaît ici comme le réalisateur de l’État stoïcien... p.60
4. L’utopie stoïcienne
(...) réside dans le programme d’une communauté cosmopolite composée de
citoyens du monde, c’est-à-dire ici: dans le programme de l’unité de la race
humaine. À la base c’est l’individu qui en reste le porteur, “l’État supérieur”
commence en tant qu’isolement des individus dans le but de leur formation
morale et de la constitution d’une communauté libérée de la violence. p.62
5. A utopia
animada de uma vontade de transformação p.78
(...) Ainsi la liberté et l’ordre,
rigoureusement opposés dans les utopies abstraites, se mêlent intimement dans
la dialectique matérialiste, s’assistent mutuellement. La liberté concrète est
l’ordre, qui relève du domaine propre de cette liberté ; l’ordre concret est la
liberté, qui est celle de l’unique contenu de cet ordre. p. 110
(...) Les utopies abstraites avaient
consacré neuf dixièmes de leur espace à la peinture de l’État de l’avenir et un
dixième seulement à l’observation critique, souvent purement négative, du
moment présent. Ce qui devait par le fait même conférer à l’objectif visé sa
richesse en couleur et en vie, alors que la voie y conduisant, située à
l’intérieur même des conditions données, restait cachée.
Marx a consacré plus
des neuf dixièmes de son oeuvre à l’analyse critique du moment présent, et a
assigné une place relativement réduite aux déterminations du futur. (...) Cet
avenir n’est donc mis en lumière que par le matérialisme historique, pour être
alors seulement modelable en connaissance de cause. p.212-213
(...) L’utopie sociale
se préoccupe principalement de bonheur humain et est une longue réflexion, sous
une forme plus ou moins romanesque, sur son aspect économico-social. p.121
(...) Doctrinaires,
les vieilles utopies l’étaient, parce qu’elles avaient lié leur nature, au
demeurant si imaginative et pleine de fantaisie, au style de pensée rationaliste
de la bourgeoisie. Jusqu’à la fin du dix-huitième siècle, la science
fondamentale de la bourgeoisie était la mathématique et non l’Histoire. p.
163
(...) Ce qui n’empêche
que tous ces rêveurs ont une classe que personne ne peut leur dénier.
Incontestable est déjà leur volonté de transformation, et malgré leur vision
abstraite, ils ne sont jamais uniquement contemplatifs. p.164
(...) Le rêve
consistant se rallie activement à ce qui est historiquement arrivé à échéance
et dont l’avènement est plus ou moins entravé. Il importe donc à l’utopie
concrète le rêve qu’elle a d’une chose, rêve qui fait lui-même partie du
mouvement historique. Comme elle est médiatisée par le processus, il lui
importe de donner le jour aux formes et aux contenus qui se sont développés au
sein de la société actuelle. Prise dans ce sens non plus abstrait, l’utopie
devient synonyme d’anticipation réaliste du Bien.
(...) L’utopie
concrète et attachée au processus se trouve dans les deux éléments fondamentaux
de la réalité reconnue par le marxisme : dans sa tendance, c’est-à-dire la
tension de ce qui est échu et entravé, dans sa latence, qui est le corrélat des
possibilités objectives-réelles non encore réalisées dans le monde. p.215
6. Aucune idéologie
n’est plus anglaise que celle d’une guerre coloniale moralement justifiée,
comme l’enseigne l’Utopie, aucune idéologie n’est plus éloignée de la
république monastique du mont Athos. p.92
7. A utopia de
Proudhon est donc uniquement fondée sur des “axiomes” et des “principes” certes
bourgeoisement révolutionnaires mais tout aussi statiques et idéalistes.
Le premier axiome pose
l’autonomie des personnes, avec laquelle toute inégalité provoquée par les
circonstances sociales est incompatible.
Le second axiome pose
l’idée de la justice en tant que force, inhérente à la personne, de respecter
et d’encourager la dignité humaine chez toute autre personne.
Princípios : abstracção
; força motriz ; dialéctica
L’utopie de Proudhon
veut donc abolir à la fois le capitalisme et le prolétariat... p.152-153
8. Michel Bakounine
defende que le plaisir de la destruction serait un plaisir
créateur... p.155
(...) A utopia anarquista
: pour elle, ce n’est pas le capital qui est le mal principal, mais l’État ;
c’est sur lui qui se fixe en premier lieu la haine de Bakounine, tout le reste
n’est qu’un mal secondaire, dérivé du premier. (...) Par conséquent, le
diagnostic de Bakounine place dans l’État - qui n’était pour Marx qu’une simple
fonction économique - le foyer et l’origine de toute condition d’exploitation,
et contrairement aux marxistes, il met l’abolition de cette fonction en plein
centre de son objectif. p.157
9. On fait
généralement mouche en disant que la haine a, au départ, des causes
économiques. Ce qui offre immédiatement, plus souvent encore ce qui est
étranger, ou mieux : ce qui est faible ne lui fournit que les occasions de
s’extérioriser. p.197-198
(Esta seleção data de Agosto de
1995... e tinha um objetivo que se esfumou como acontece com qualquer
utopia...)
1.10.24
Nenhuma pomba vive segura
Apesar da vista poder ser
apetecível, a pomba não está segura. Basta pensar nos mísseis iranianos que se dirigem
para a terra santa. De facto, o sagrado perdeu qualquer efeito dissuasor.
Pelo que se vem assistindo, no
espaço aéreo, deixou de haver fronteiras, de tal modo que, um destes dias,
vamos ver os deuses do olimpo cair sobre as nossas cabeças, pois nem eles são
capazes de respeitar as regras, outrora, impostas por Zeus...
Por mim que nada decido, creio,
no entanto, que é tempo de eliminar os malfeitores que se escondem sob vestes
sagradas manchadas desde a origem...
Quanto às nações unidas de nada
servem, pois, os arsenais crescem por toda a parte... e para mal dos nossos
erros, o secretário-geral só esbraceja...
Somos governados por um bando de
malfeitores, e nada fazemos... até que os mísseis nos caiam em cima.
24.9.24
O que fica registado tem cada vez
menos valor. O que pensamos ver não é o que surge aos nossos olhos...
Há toda uma distância que desfoca
e, sobretudo, há pronomes que despersonalizam...
Eles registam hábitos antigos de
quem passa a vida a copiar....
Quanto aos valores pouco há a
deplorar, pois eles sempre foram postiços.
(E parece que sem eles, os
pronomes, não conseguimos comunicar...)
20.9.24
Amílcar Cabral na Torre
do Tombo
Passei pela Torre do Tombo,
a propósito do Centenário de Amílcar Cabral... Em termos de documentação,
parece-me rigorosa, mas insuficiente. Em termos de legibilidade, a exposição
não é apelativa. Não creio que o objetivo vise dar a conhecer e reabilitar o
homem que perdeu a vida numa luta que não deveria ter acontecido... e não me
refiro apenas à ação do colonizador.
(E já agora o santo não está
identificado! Francisco, será! Franciscano ou Jesuíta?)
17.9.24
Para que conste, embora tal não
tenha qualquer interesse em tempo de fogo contínuo em floresta abandonada, acabei
de ler PETITS POÈMES EN PROSE, de Charles Baudelaire - autor que sempre me
interessou, embora nem sempre o tenha compreendido...
De todos os momentos (ou
movimentos) que chamaram a minha atenção, gostaria de destacar um sob o azul
cinza que me tolda a visão:
« Il me semble que je serais toujours bien là où je ne suis pas, et
cette question de déménagement en est une que je discute sans cesse avec mon
âme.
« Dis-moi, mon âme, pauvre âme refroidie, que
penserais-tu d'habiter Lisbonne ? Il doit y faire chaud, et tu te ragaillardirais
comme un lézard. Cette ville est au bord de l’eau ; on dit qu'elle est bâtie en
marbre, et que le peuple y a une telle haine du végétal qu'il arrache tous les
arbres. Voilà un paysage selon ton goût ; un paysage fait avec la lumière et le
minéral, et le liquide pour les réfléchir !»
Não creio que Baudelaire tenha
passado por Lisboa, mas parece que estava bem informado sobre os costumes, em
particular, sobre a relação que os portugueses mantêm com o mundo
vegetal.
Areia, poeira e cinzas.
13.9.24
Quem te avisa...
teu amigo é... E ainda há quem continue a beijar-lhe a mão...e não queira
perceber que há certas criaturas que nunca foram nem serão confiáveis...
Por isso relembro:
10.10.15
Melhor seria que Marcelo Rebelo
de Sousa tivesse explicado o que é que Portugal lhe deu e que, na verdade, não
deu a muitos outros portugueses...
Este Marcelo urbano, que insiste
nas raízes provincianas, apresenta-se como "vítima" da perda do
Império, que lhe levou a família ao Brasil, na condição de emigrante... Há
neste seu Portugal uma certa tendência para confundir o exílio político com a
emigração!
O Portugal de Marcelo começa a
ganhar uma substância que não é a minha. E essa substância acabará por deixar
de se expor nas entrelinhas para surgir num movimento político que irá
colocar-se à direita da atual Coligação PSD - CDS...
A campanha dos afetos já fora
ensaiada com Marcelo Caetano como antídoto para ocupar o lugar do pai tirano e
austero que governara o país durante quatro décadas.
Agora a sereia pensa que o caminho falhado por Caetano pode
ser reintroduzido para substituir o esfíngico Cavaco.
8.9.24
Acabei de ler O Mistério
da Estrada de Sintra, de Eça de Queirós e de Ramalho Ortigão, folhetim
terminado a 27 de Setembro de 1870.
Dizem-me que devo considerar
este mistério como o primeiro romance policial português. Quem
sou eu para dizer algo de diferente?
Durante a leitura, pressenti que
Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire não andariam longe... e sobretudo, pensei
que os autores desta obra seriam leitores compulsivos de tudo o que de
'romântico' e de' realista' ia sendo escrito por terras de França..., prontos a
farpear costumes de que eles próprios nunca se libertariam por inteiro...
... e lá no fundo, voltou-me à
memória a ideia de que toda a vida li o que me foi imposto sem qualquer
critério... a não ser o de 'obra-prima', o que acaba por ocultar a matriz da
maioria das obras. Flutuantes, estrelas de um universo à deriva...
Talvez seja por isso que cada vez
mais se aposta no gratuito e no absurdo.
(Ficou-me o Carlos Fradique
Mendes que eu imaginara surgido de outras águas, ou seria de um vulcão?
1.9.24
Mais uma empreitada! Barata, como se pode ver...
Não há dinheiro para o SNS, para desassorear os rios, mas
não falta para encher os bolsos dos do costume...
Pode ser que daqui a três anos ainda lá continuem os
candeeiros que já começam a bordejar...
De qualquer modo, não saímos do ilusionismo pequeno burguês
que vai engordando umas tantas tainhas ribeirinhas...
27.8.24
Este blogue teve, outrora, a pretensão de se inscrever no tempo, sem dele dar
conta, ocupando-se, pretensiosamente, da duração...
Por incompetência ou por
esquecimento, a descontinuidade instalou-se e o fio quebrou, ou os
acontecimentos fúteis foram ganhando relevo e, ao mesmo tempo, perderam
significado...
Sobrou, a necessidade de
preencher a frágil linha do tempo...
Esse preenchimento levou-me à leitura tardia de GUERRA e
PAZ... e agora que já vou no Apêndice, cito a propósito:
... ao passo que o
homem atua sempre no tempo e é arrastado pelo curso das coisas. Restabelecendo
esta primeira condição, tão desprezada - a condição do tempo - vemos que a
mínima ação não pode ser executada sem outra anterior, que a tornou possível.
25.8.24
Embora não pensar nisso possa
ser anestesiante, a verdade é que a leitura de A Guerra e Paz, de
Tolstoi, me obriga a pensar na cobardia dos napoleões deste tempo que invadem,
ocupam, arrasam terra alheia, como se estivessem a fazer um favor a alguém...
e, sobretudo, obriga-me a pensar na má-fé de historiadores, comentadores que se
deixam inebriar por palavras incapazes de explicar o que quer que seja, pois a
realidade não obedece a planeamentos por mais racionais que possam parecer... O
melhor é ler o romance, pois ele explica bem a voragem a que todo o ser humano
é submetido durante a sua curta ou longa vida.
E já agora, desconfio que o Putin
nunca leu Tolstoi... e sonha com Napoleão, o pequeno...
19.8.24
Mas eles estão por todo o lado... não fossem os rios e as
montanhas, a questão nem se punha.
No entanto, não é o relevo que impõe limites, muralhas de
todo o tipo. Na Natureza, não há canhões. Foi o homem que os inventou para
solidificar o seu poder.
Por agora, vou soltar o barco e deixar-me ir nas páginas de
Guerra e Paz, pois começo a acreditar que Tolstoi escreveu tudo o que havia a
dizer sobre os jogos de poder, bélicos e todos os outros...
17.8.24
Os rios correm para o mar cujas
águas nunca se queixam... Por vezes, regressam alteradas, mas somos nós que as
imaginamos assim.
Não fosse a sede de poder e tudo
seria mais sossegado. De qualquer modo, por mor que seja a matança, a vida
continua...
No intervalo, corre a depressão
coletiva...
Hoje é sábado, passa o comboio,
as gaivotos não deixam de planar... e é todos os dias assim.
15.8.24
A lição é de Bertrand Russell,
in A Conquista da Felicidade:
«Não se discute com um estado de
alma; este pode ser modificado por qualquer acontecimento feliz, ou alguma
mudança do nosso estado físico, mas nunca por um argumento.»
Pois, não duvido, mas ainda não
aprendi a lição. Manhã cedo, tudo é mais claro, mas quando o vento sopra ou o
calor aperta, lá vêm os inevitáveis argumentos...
Barcos em terra, à espera do quê?
10.8.24
Para quem procura a serenidade,
isto está difícil.
Ontem fui ouvir (e ver) Dieb
13 Beatnik Manifesto na Fundação Calouste Gulbenkian, e saí
atordoado... Já me esquecera que onde surge a palavra manifesto aparecem
certamente rejeição e proposição. E, assim,
penso que acontece nesta produção. Desde o ralo gigante que
tudo absorve à rede que tudo implode... Depois há que voltar
ao som cavernoso e animalesco das origens, para desembocar num US desorientado
e ambíguo...
No essencial, parece que o ralo e
a rede se conjugam para nos triturar, embora andemos bem-avisados...
6.8.24
Sempre que o verão avança,
torno-me hipocondríaco.
O calor esgota-me, o sol cega-me,
perco o equilíbrio, as mãos incham... não suporto pesos... e até escrever se
torna uma maçada....
Entretanto, leio 'os escritos
sobre arte de Baudelaire' e, sobretudo, avanço na leitura da Rússia francófona
de Tolstoi, fascinada pelos patéticos imperadores que dominavam a Europa... e
vou pensando que, afinal, hoje, apesar de Napoleão ter deixado de ser francês,
o mundo pouco mudou e que Tolstoi soube dar corpo ao fastio que minava o
mundo....
E já agora acrescento que não sou
insensível ao retrato que Baudelaire traça da medíocre arte francesa, embora os
'franceses' tendam a considerar-se superiores, tal como por estes dias de águas
inquinadas do Sena...
E de Telavive, o que dizer? E de
Trump, o que pensar?
- UMA VERGONHA!
30.7.24
Por cá, continua a política de
satisfazer corporações com o objetivo da caça ao voto. Muitos ficam de fora,
por vezes, mais habilitados e profissionais, porque não são significativos em
termos de apuramento de resultados eleitorais... e o senhor presidente da
República fecha os olhos.
Por cá, a insegurança aumenta
porque vinga o espírito de manada... até porque as autoridades fazem vista
grossa, em vez de agirem no terreno que bem sabem ser favorável à exploração e
à violência.
Por cá, não se promove o desporto
colectivo... basta olhar para os Jogos Olímpicos do megalómano Macron. Como bem
se sabe, uma andorinha não faz a Primavera!
Por cá, anda tudo a banhos
durante o ano inteiro.
Claro, há algumas exceções, mas
essas não contam no apuramento dos votos.
28.7.24
Orquestra
Juvenil Geração 2024
- 18:00 / Esgotado
Local
Grande Auditório Fundação
Calouste Gulbenkian
Orquestra Juvenil Geração
Juan Carlos Maggiorani Maestro
Santiago Ossa Alzate Maestro
Gioachino Rossini
Abertura da ópera Guilherme Tell
Anne Vitorino de Almeida em
colaboração com Edison Otero
Rapsódia dos Rios, op. 93c*
Joly Braga Santos
Concerto para Orquestra de
Cordas, op. 17
Arturo Marquez
Danzón n.º 2
Richard Wagner
Abertura da ópera Os Mestres
Cantores de Nuremberga*
Peças compostas no âmbito do
projeto B-Me: blending melodies, bridging cultural identities (Creative Europe,
EU). Duração 60 min. (sem intervalo)
As cadeiras (e não só) estavam
cuidadosamente dispostas para que o espetáculo pudesse acontecer. Só não sei
quem teve o trabalho.
O concerto foi soberbo, embora me
pareça que o conceito «juvenil» tende a estender-se a outras idades...
Registo o programa porque... Para
bom entendedor, meia palavra basta.
26.7.24
Estilhaços é a palavra que mais
vezes me vem à cabeça. As inúmeras vítimas dos estilhaços amontoam-se um pouco
por toda a parte.
E, nós, imperturbáveis, seguimos
por um caminho, por enquanto, liberto de enxurradas, de granadas, de labaredas,
de derrocadas...
Hoje, começam os Jogos Olímpicos,
mas sem tréguas... Ai de nós!
Entretanto, o FBI desconfia que a
orelha do Trump tenha sido atingida por estilhaços... Tanto tempo para chegar
ao óbvio!
A vida é para as cigarras antes
que a noite caia.
21.7.24
Bem sei que não se deve brincar
com assuntos sérios.
No entanto, preocupa-me que a
orelha de Trump ainda não tenha sarado...
Por isso, registo, aqui, um fungo
que avistei na terra portelense...
Tenho a sensação de que este
fungo, devidamente abençoado e certificado, daria um enxerto perfeito,
evitando, assim, o recurso à cortiça portuguesa...
17.7.24
Há orelhas famosas porque foram
amputadas pelo próprio ou por alguma besta sanguinária..., mas a orelha de
Trump é de outra grandeza: escapou milagrosamente à natureza do projétil.
Os danos foram ínfimos, elevando,
porém, a vítima ao Olimpo da política nacional e internacional...
Por mim, acredite quem quiser,
recuso-me recuar ao tempo das hagiografias, dos panegíricos, dos
encómios...
Vou manter-me cético até me
provarem o contrário.
Será que o CHEGA vai aderir à
moda do penso sobre a orelha?
Será que houve intervenção da
Senhora de Fátima no dia 13 de Julho?
E eu que não acredito em
milagres!
13.7.24
Do
que é que estamos à espera?
É difícil aceitar que as guerras
sejam inevitáveis, apesar de serem uma constante na história dos homens, um
pouco como se sem elas a humanidade pudesse degenerar, pondo em causa a própria
existência - e os sinais, infelizmente, não faltam...
Talvez seja por isso que poucos
são aqueles que se revoltam contra o que se passa na Faixa de Gaza e na
Ucrânia. Pelo contrário, assistimos ao reforço da corrida ao armamento em todas
as suas vertentes, porque acreditamos que o 'inimigo' está pronto a destruir-nos...
Ninguém contesta, mas,
paradoxalmente, não vejo qualquer apelo à instalação de 'escudos de defesa' em
torno das grandes cidades, das instalações aeroportuárias, das centrais de
produção de energia, das redes de água e de todas as outras redes das quais somos
cada vez mais dependentes...
Do que é que estamos à espera
nesta 'drôle de guerre'?
É preciso apostar na paz, mas sem
descurar a defesa. Ora, em Portugal, parece que esta questão não é assunto e,
assim, o investimento na nossa proteção não irá entrar no Orçamento, ficando à
espera de que os 'aliados' nos defendam.
E como deveríamos saber, sempre
que os 'aliados' vieram em nosso auxílio, chegaram tarde e acabaram por nos
ocupar e saquear.
8.7.24
Custa
ver e ouvir, aqui, na Portela...
O novo equipamento social entrou
nos arranjos finais... e não fosse alguém esquecer-se: todo o pavimento foi
refeito, enquanto se procedia ao ajardinamento...
Um mês depois é o que se vê: o
pavimento foi esventrado no âmbito de uma obra que certamente já estaria
prevista, até porque atravessa toda a localidade...
Feitas as contas: sou levado a
pensar que este modo de atuar, para além dos incómodos, acarreta custos
acrescidos (3 orçamentos?) com vantagem seguramente para alguém.
Também custa ouvir a senhora procuradora-geral
da república, Lucília Gago.
Lembra-me o comportamento do
INQUISIDOR-MOR no JUDEU de Bernardo Santareno... E também custa compreender a
atitude do CHEGA, sempre à defesa do ministério público... cumplicidades!
6.7.24
O
zambujeiro e o europeu de futebol
O zambujeiro é um arbusto
resistente e rústico que requer pouca manutenção.
Cresce em quase todas as zonas de
clima mediterrânico.
Adapta-se a praticamente todos os
solos, mesmo aos mais pobres. Prefere os terrenos calcários e ricos em
nutrientes.
Resiste à seca e ao calor.
Não tolera nem a humidade
excessiva nem as temperaturas baixas.
Pode crescer tanto ao nível do
mar como em altitudes de 1500 metros.
Em tempo de rescaldo do europeu
de 2024, prefiro fixar-me no zambujeiro que me apresentaram na Quinta das
Lavandas. De enorme porte, este zambujeiro fez-me recordar outros zambujos que
conheci em terrenos que palmilhei em criança e que, para sempre, ficaram
associados a propriedades que davam pelo nome de Zambujeira...e onde as
crianças trabalhavam duramente, como se não existisse outra forma de vida....
Quanto à eliminação do europeu,
fico-me pela ideia de que há zambujeiros que secam o terreno em que medram...
como se fossem insubstituíveis... Espero que o tempo que se avizinha possa ser
de mudança...
3.7.24
Quinta
das Lavandas, a 4 quilómetros de Castelo de Vide
Tudo parece ser executado segundo
um plano bem amadurecido, mesmo que São Pedro tenda a esquecer-se desta
região.
São, agora, 21:45, e o senhor
Estevão ainda não terminou a rega das árvores que foi plantando nos últimos
anos, e fá-lo com o máximo cuidado de modo a evitar qualquer desperdício... e,
se solicitado, conta a história de cada arbusto, sobretudo quando o enraizamento
é mais difícil do que seria de esperar...
(o tempo passa, e a rega
continua...)
Da senhora Teresa Maria, a esta
hora, já não oiço a voz, mas não tenho qualquer dúvida de que o empreendimento
muito lhe deverá: o seu espírito geométrico tudo ordena e supervisiona.
Por aqui até os rochedos abrigam
ciprestes, num particular apelo à vida... longe da política e do bulício
citadino.
Já passa das 22 horas e no
terraço já é possível ver as primeiras estrelas... para além do zumbido da
noite, atravessado por um distante e audível avião a caminho da Europa... como
se nós estivéssemos fora.
Por ora, a temperatura fixou-se
nos 26 graus... o que me obriga a esperar que as estrelas se mostrem no seu
esplendor...
2.7.24
Viagem breve, mas diversificada e
dependente dos limites humanos... Da Quinta das Lavandas a Castelo de Vide...
um registo sem o canto dos pássaros e o zumbido das abelhas, aos milhares...
28.6.24
Dos ciprestes, meus
vizinhos...
Na foto, o homem subiu à arvore
para a amputar. Não se trata de cortar ramos secos até porque tal não ocorre a
não ser que as raízes sequem... Na sequência do desbaste, o tronco acabará por
ser cortado em segmentos de igual porte... o mesmo acontecerá aos restantes
ciprestes...
Não conheço o motivo que levou o
pelouro dos jardins a tal procedimento. Só sei que não houve escândalo público,
a não ser o de uma portelense que resolveu fazer uma reportagem (em direto)
para contestar tal atentado, no seu entendimento... Desconheço o canal, só sei
que, mais tarde, a senhora revoltada me interpelou sobre se eu estava de
acordo...
E eu lá fui dizendo que, se
calhar, as raízes dos ciprestes se teriam infiltrado nas garagens do
edifício... e ainda fiquei a pensar na reação dos mortos à presença de tais
vizinhos.
27.6.24
Isto de ser 'segundas escolhas',
por mais que se proclame o contrário, desmotiva: perde-se o ritmo e falha-se
sem motivo ... a não ser que se queira dar uma alegria ao adversário...
Afinal, a vida dos georgianos não
é fácil, com o Putin à janela.
Só não entendo, por que motivo o
Cristiano Ronaldo entrou em campo.
Agora, vem aí a Eslovénia, com o senhor
JAN OBLAK à baliza!
23.6.24
No Parque Linear
Ribeirinho do Estuário do Tejo, tudo sossegado. Resquícios de limpeza dos
canais e dos sapais e, sobretudo, aproveitamento do pasto ali existente em
grande quantidade.
Hoje, a maré ia vazia, as aves
tinham migrado, provavelmente, para o Rock in Rio... só alguns patos reais se
mostravam, para além de uma garça...
Na cafetaria, os clientes de
passagem aproveitavam a sombra e a cerveja. De referir, ainda, dois pescadores
cada um com duas canas... e lá mais para o sul, fervilhavam os picnics...
Deixá-los em sossego!
19.6.24
Praia e futebol.
Pelo menos, em Cascais. Trânsito
caótico; restaurantes e esplanadas a abarrotar…e obras e mais obras... A
maioria dos transeuntes é estrangeira.
18.6.24
Começou o campeonato da Europa...
e Portugal entra a perder. Parece que ´'meter' os velhos é solução, mas estão
muito enganados... Se emendarem a mão, pode ser que eu volte a acreditar...
Há por ali demasiada ferrugem!
(Por fim, o JOVEM Francisco
Conceição resolveu.)
15.6.24
Terminei a leitura da Odisseia,
de Homero. Finalmente, Ulisses regressou a casa, mas sem ter fundado
Lisboa. A preocupação dele não era ficar, mas, sim, contornar os obstáculos
humanos e, sobretudo, divinos... Nós é que nos imaginamos fundadores por
decreto divino, porém a realidade é bem diferente...
Entretanto, durante a viagem de
regresso a Ítaca, fui lendo O Tartufo, de Molière, esse bem mais
próximo de nós: em nome de Deus, tudo fazia para enriquecer, apoderando-se dos
bens dos mentecaptos que lhes surgiam ao caminho, e há cada vez mais!
E sem que a odisseia tivesse
terminado, iniciei a leitura de Meu Pai, O General Sem Medo -
Memórias de Iva Delgado. Lê-se com interesse, mas a ação do General acaba por
ficar na sombra: bom pai e bom marido, até ter partido para o exílio no
Brasil... Há que proteger os seus! E ficar bem na memória...
Comecei, há dias, a ler A
Guerra e Paz, de Tolstoi... e ainda não sei bem o que pensar...
(Estou quase pronto a voltar à
Escola, mas ainda não recebi convite. Parece que o Sr. Ministro da Educação
quer que os professores aposentados retomem a carreira. Só não diz até que
idade! Se for até aos 70 anos, ele que se apresse!)
8.6.24
Falar
e errar, sem culpa, livremente... com olhos e boca
I
Almeno:
Da minha idade tenra, em tudo
estranha,
Vendo (como acontece) afeiçoadas
Muitas ninfas do rio e da
montanha,
Com palavras mimosas e forjadas,
Da solta liberdade e livre
peito,
As trazia contentes e enganadas.
Écloga II
II
Oh! Quanto já que o Céu me
desengana!
E eu sempre porfio
Cada vez mais na minha teima
insana!
Tendo livre alvedrio;
Não fujo o desvario;
E este que em mim vejo,
Engana co’a esperança meu desejo.
Ode à Lua
III
Amada Circe minha
(Posto que minha não, contudo
amada),
A quem um bem que tinha
Da doce liberdade desejada
Pouco a pouco entreguei,
E, se mais tenho, inda entregarei
Ode IV
IV
Quem pode ser no mundo tão
quieto,
Ou quem terá tão livre o
pensamento,
Quem tão experimentado e tão discreto,
Tão fora, enfim, de humano
entendimento
Que, ou com público efeito, ou
com secreto,
Lhe não revolva e espante o
sentimento,
Deixando-lhe o juízo quase
incerto,
Ver e notar do mundo o
desconcerto?
(…)
Que, por livre que seja,
não se espante?
(…)
Dir-me-eis que, se este estranho
desconcerto
Novamente no mundo se mostrasse,
Que, por livre que fosse
e mui esperto,
Não era de espantar se me
espantasse;
(…)
Ó inimigo irmão, com cor de
amigo!
Pera que me tiraste (suspirava)
Da mais quieta vida e livre em
tudo
Que nunca pôde ter nenhum sisudo?
Oitava I
V
Assim vós, Rei, que fostes
segurança
Da nossa liberdade, e que
nos dais
De grandes bens certíssima
esperança:
Nos costumes e aspeito que
mostrais
Concebemos segura confiança
Que Deus, a quem servis e
venerais,
Vos fará vingador dos seus
revéis.
E os prémios vos dará que
mereceis.
Oitava III, Sobre a seta que o
Santo Padre mandou a el-Rei D. Sebastião, no ano do Senhor de 1575
VI
E se quiser saber como se apura
Nũa alma saudosa, não se enfade
De ler tão longa e mísera
escritura.
Soltava Eolo a rédea e a
liberdade
Ao manso Favónio brandamente,
E eu já a tinha solta à saudade.
Elegia I
VII
Se quero em tanto mal
desesperar-me,
Não posso, porque Amor e Saudade
Nem licença me dão pera
matar-me.
Elegia II
VIII
Que pois já de acertar estou tão
fora,
Não me culpem também se nisto
errei.
Sequer este refúgio só terei:
Falar e errar, sem culpa,
livremente.
Triste quem de tão pouco está
contente!
Com ter livre-arbítrio, não mo
deram,
Que eu conheci mil vezes na
ventura
O melhor, e o pior segui,
forçado.
Canção X
CAMÕES, 500 anos
4.6.24
O seu a seu dono, costumava
dizer-se... Lição esquecida, apesar de tempos a tempos irromper um sinal de
esperança...
Por agora, vou vivendo o choque
da descontextualização: da apropriação de situações, intencionalmente
deformadas, e que dão corpo à fantasia, bem distante da verdade.
Para que a ambiguidade não ocupe
toda cena, o melhor é ler a Ilíada e a Odisseia do
enigmático Homero... De facto, as histórias que nos foram contando como
originais, são, afinal, imitações, e nem as descidas aos infernos se salvam -
ver Ulisses no Hades.
E claro, não fossem as criaturas
dos universos superiores e inferiores, não teríamos tantos heróis.... Essas
criaturas é que tudo decidiam!
2.6.24
(Pormenor do Jardim Bordalo
Pinheiro, no Palácio Pimenta, no Campo Grande...)
Para lá do jardim, uma transeunte
incauta... No interior, o espaço decorado pela Joana Vasconcelos, maneirista
para os olhos e artificial, como seria de esperar nestes tempos sem alma...
A condizer, os pavões,
vaidosos... em jogos de sedução intermináveis... E claro, discretas e
envergonhadas, as estátuas de Carmona e da Verdade...
E depois há as revoluções, com
sinal de stop vermelho... por pouco, não fiquei à espera de que ele passasse a
verde...
29.5.24
As amoras não chegam a
amadurecer: os pássaros comem-nas todas.
Neste caso, a culpa não é das
amoreiras: os pássaros não quiseram ou não puderam esperar.
Deve haver uma ordem superior que
permite este incumprimento, e que as amoreiras não podem contestar.
No debate político, há muitas
acusações de incumprimento, mas raros são aqueles que responsabilizam as aves
famintas ou, em último caso, o superior interesse de forças que vivem em negras
nuvens....
Por ora, as promessas abundam,
como se as amoreiras estivessem obrigadas a ceder os frutos... talvez seja por
isso que há tantas árvores que não chegam a frutificar.
27.5.24
«Aqui o que presta é o
povo, as elites não valem nada.»
Por Guilherme de Melo, Diário
de Notícias 9 de abril de 1993
Foi no decurso da década de 80
que Agostinho da Silva emergiu do relativo esquecimento em que (injustamente) o
haviam mergulhado e se tornou figura imprescindível em tudo quanto nesta cidade
significasse debate, seminário, encontro de cultura…
Encontro de G. M. com Agostinho
da Silva no 3ºandar da travessa do Abarracamento de Peniche, ao Príncipe Real,
onde há quase 25 anos habita. Ali reside desde 1970, após o seu regresso do
Brasil, onde viveu durante os largos anos do regime salazarista.
No Brasil trabalhou com muitas
personalidades, entre elas, o embaixador brasileiro em Lisboa, José Aparecido,
e Jânio Quadros (presidente do Brasil, em 1961 – renunciou ao cargo) … «o Jânio
apostou tudo na maneira o Brasil e África se poderiam interpenetrar».
A. S. defende que é «na força e
sentir do povo que está de facto o que um país é ou que não
pretende ser.» Defende que uma «reformulação de Portugal não vem como alguns
pensarão, nem de Belém nem de São Bento, vem das freguesias.»
Por aqueles dias, traduzia
Vergílio e Horácio.
A utopia de
Agostinho da Silva: a) o sonho de um triângulo atlântico que ligasse Lisboa
Luanda e Rio de Janeiro. B) a escola deveria ser um local aberto, onde todos
pudessem, simultaneamente, ensinar e aprender. c) o Brasil é a terra onde
Portugal podia ter sido verdadeiramente ele próprio, terra livre, de homens
livres.
Por Fernando Dacosta, 4 de abril de 1994
George Agostinho Baptista da
Silva faleceu no dia 3 de abril de 1994. Nascera a 13 de fevereiro de 1906, no
Porto.
As condolências foram sobretudo
prestadas ao Filho - Pedro da Silva, professor na Baía -, e a Maria Violante
Vieira, presidente da UNICEF em Portugal…
Agostinho da Silva, pai de 8
filhos, a viverem na Suíça, Brasil, Grã-Bretanha e Portugal.
Doutorou-se na Sorbonne com uma
tese sobre Montaigne. Em Paris, conheceu António Sérgio, Raul Proença, Jacinto
Simões (pai) e Jaime Cortesão, aí exilados.
Iniciou a docência na Faculdade
de Letras do Porto, entretanto extinta por Salazar. Na sequência foi para
Madrid e no regresso a Portugal foi colocado no Liceu de Aveiro. Demitido do
ensino oficial, fixa-se em Lisboa – recusara «jurar não ter pertencido ou
pertencer a qualquer associação secreta».
A PIDE prende-o.
A ditadura exila-o. Uruguai, Argentina, Estados Unidos, Brasil, África, Ásia.
Funda 4 universidades no Brasil e vários centros de estudos superiores.
Acompanha a construção de Brasília. Torna-se amigo dos presidentes Jânio
Quadros e Juscelino. Liga-se à oposição portuguesa, a Sarmento Pimentel, a Rui
Luís Gomes, a Rodrigues Lapa, a Casais Monteiro, a Jaime Cortesão. Casa com a
filha deste, Judite Cortesão, em segundas núpcias.
Ensina um pouco de tudo:
Filosofia, Geografia, Biologia, Sociologia, Antropologia, Botânica, Literatura,
História, Teatro – Glauber Rocha é um dos seus discípulos mais veementes.
Marcelo Caetano autoriza-lhe, em
1968, o regresso.
Formação de base: filologia
românica. Traduz (sabe 15 línguas) do latim as obras de Vergílio e de Horácio e
de Catulo…
«Temos de fazer da nossa vida
uma ficção para conseguirmos torná-la suportável.»
Para Agostinho da Silva, cultura:
«é comer direito, vestir decente e habitar seguro».
Agostinho da Silva, autor de
Considerações / Os meus problemas
A PHALA – entrevista
a) Uma economia comunitária, até
D. Afonso IV. A Europa entrou em Portugal com D. Afonso IV, matando Inês de
Castro em obediência à razão de Estado, começando assim a tristeza de Portugal…
b) Um governo coordenador
c) A educação pela experiência. O
mundo só sai da doença que é a Escola, a máquina para domesticar a criança que
quando nasce é genial, quando as crianças puderem continuar a fazer as
perguntas que têm lá dentro ansiosas por se soltarem em vez de aprenderem de
cor as respostas convenientes para passarem nos exames e triunfarem na vida tal
como ela está montada.
d) A metafísica – a figura da
Trindade – o Espírito Santo. A Europa embarcou nos nossos navios e trouxe
consigo a economia capitalista. Passámos a ter um governo autoritário, educação
pelo livro, religião do previsível. Roma torna a pôr a mão em Portugal. Acabou
esse fantasma da Pomba. Até os navios deixam de se chamar Espírito Santo.
O princípio de Heisenberg na Física Quântica: O mundo é imprevisível, incerto.
«Aqui o que presta é o povo, as elites não valem nada.» «Entendo por
modernidade o tempo em que vivo. (…) é aquilo que está na moda.»
23.5.24
Fui visitar o Parque da Tapada da
Ajuda.
Fiquei com a ideia de que os
futuros agrónomos aprendem o cultivo da vinha, a tratar dos olivais e de outras
espécies vegetais... só não aprendem é a eliminar a ferrugem do Pavilhão das
Exposições, inaugurado pelo rei D. Luís em 1884 - estrutura em ferro e vidro...
Grande foi o investimento, só que
a manutenção e o aproveitamento são descurados neste país de megalómanos,
narcisistas e desleixados...
19.5.24
Estou a ler um livro deveras interessante: Fantasmas digitais, de
Davide Sisto.
Como já cheguei a uma idade que
me permite pensar o que ocorrerá com o meu desfecho biológico, isto é, com o
meu regresso à matéria inicial, seja de forma lenta ou acelerada, sempre
breve... este livrinho levanta-me, agora, o problema se vale a pena eliminar,
ou, pelo menos, ocultar a minha mísera presença digital, sob a forma de
fantasma digital, que ficaria por cá a incomodar os vivos, criando-lhes a
ilusão de um diálogo, que, afinal, nunca seria autêntico, por mais dados que
tivessem sido convocados para a construção de um hipotético holograma... a não
ser que este fantasma digital mais não fosse que um Homero capaz de deixar
obras fantásticas como a Ilíada e a Odisseia.
Em síntese, o melhor é começar a
apagar a pegada digital, porque falta a obra que pudesse circular na dimensão
dataísta.
15.5.24
Triste sina: depois da cadeia, de
um olho manco, dos defuntos da índia, de um naufrágio no índico, da vala comum,
da falsificação biográfica... agora nome de anunciado aeroporto em Alcochete!
O que mais poderá acontecer ao
Poeta!
Talvez, Camões tenha nascido na
margem sul do Tejo!
Por estas horas, o José Sócrates,
não fosse o nevoeiro da Ericeira, já teria avistado o paquete engalanado da
TROIKA...
12.5.24
Heitor já morreu às mãos de
Aquiles, embora quem tenha decidido não tenha sido nem a vontade nem robustez
dos heróis... foram os pérfidos deuses do Olimpo, provavelmente inventados para
apaziguar a morte dos homens...
(Já cheguei ao Canto XXIII da
Ilíada. E ainda há quem se queixe dos 10 cantos d'Os Lusíadas!)
Fico-me, entretanto, pelo
mistério das amoreiras. Conheço, perto de mim, várias, mas nunca lhes vislumbro
frutos. Só que, inesperadamente, descobri uma, carregada de amoras, num
atalho...
Desconfio que Deméter se está a
aproveitar da minha ignorância...
Ignorância minha: cheguei ao fim
do Canto XXIV da Ilíada e o cavalo de Troia não apareceu.
Quem apareceu foi o melro que não
espera que os frutos amadureçam.
9.5.24
A
Casa dos Estudantes do Império (CEI) (1944-1965)
A Casa dos Estudantes do
Império foi criada por sugestão de um ministro das Colónias de
Salazar, Francisco Vieira Machado. Mas acabou por ser apelidada por um inspetor
da PIDE de «alfobre de elementos anti -situacionistas». O Estado Novo acabou
por extingui-la em 1965.
Em 1943, entre um grupo de
estudantes oriundos de Angola, surge a ideia de criar, em Lisboa, a Casa
dos Estudantes de Angola. Da comissão organizadora fazem parte Alberto
Marques Mano de Mesquita e Ângelo José Vidigal Dias, da Faculdade de Direito;
Carlos Torres de Sousa Júnior, Manuel Seabra de Azevedo e Emílio Freire Leite
Velho, da Escola Superior de Medicina Dentária; Alberto Pereira Diogo e Acúrsio
de Sampaio Nunes, do Instituto Superior Técnico. A iniciativa tem o apoio do
comissário nacional da Mocidade Portuguesa, o que vale a Marcelo Caetano o
título de presidente de honra da Casa.
Os estudantes de outros cantos do
Império seguem o exemplo dos angolanos, o que desagrada ao regime, defensor da
ideia de «unidade da nação portuguesa».
Assim, numa visita à Casa dos
Estudantes de Angola, realizada a 3 de junho de 1944, o ministro
das Colónias Francisco Vieira Machado, na presença de Marcelo Caetano e dos
representantes das outras associações (Aguinaldo Vieira, de Cabo Verde); Vasco
Benito Gomes da Índia; Gonçalo de Sousa e Macedo Mesquitela, de Macau; e
Francisco Maria Martins, de Moçambique), formaliza a proposta de fusão de todas
as Casas na Casa dos Estudantes do Império (CEI).
Em Outubro de 1944, a
CEI-sede começa a funcionar, sob a presidência de Alberto Marques Mano
de Mesquita, no n. º1 da Rua da Praia da Vitória, ao Arco do
Cego. Mas, no mês seguinte, muda-se para o n.º 23 da Avenida Duque de
Ávila, onde vai permanecer até à sua extinção. Por essa altura, abre também
uma delegação em Coimbra.
Logo em janeiro de 1945,
na abertura de um ciclo de palestras promovido pela CEI, sob o patrocínio da
MP, Marcelo Caetano revela aquilo que o regime espera da Casa: que
contribua para o «triunfo do espírito português», trabalhando em prol da
formação colonial da juventude.
No entanto, quase todos os
elementos dos corpos gerentes da Casa para o ano letivo 1945-46 assinam
as listas do Movimento de Unidade Democrática (MUD) e juntam-se a partir de
1946, ao MUD Juvenil.
Em 1948-49,
encontramos novamente os estudantes que dirigem a CEI ao lado da oposição, a
favor da candidatura de Norton de Matos.
Em meados de 1950, os
membros da secção da Índia da CEI recusam subscrever uma declaração de repúdio
pelas afirmações de Nehru hostis à política portuguesa na Índia.
Na viragem para os anos 50,
a CEI começa a estruturar-se como um espaço de socialização antissalazarista,
de re (descoberta) da cultura africana, de denúncia do colonialismo, onde se
formam politicamente alguns dos futuros dirigentes dos movimentos de
libertação: Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos, Agostinho Neto, Mário Pinto
de Andrade, Vasco Cabral.
A 30 de Maio de 1952, o Governo
nomeia uma comissão administrativa que irá dirigir a Casa até 1957:
«Nada contra a nação, tudo pela nação.»
Segundo o novo regulamento,
homologado pela Mocidade Portuguesa em 7 de fevereiro de 1957, a
Casa dos Estudantes do Império deixa de se organizar em secções (consideradas
pelo regime focos de nacionalismos) e não pode interferir em assuntos de
carácter político.
A secção editorial da CEI,
sob o impulso de Carlos Ervedosa, Fernando Costa Andrade, Fernando
Mourão e Alfredo Margarido, publica antologias de poetas e
contistas angolanos (1959 e 1962), de poetas de Moçambique (1962) e de São Tomé
e Príncipe (1963). Obras de Luandino Vieira, Mário António, Viriato da Cruz,
António Jacinto, Agostinho Neto e José Craveirinha figuram na Coleção Autores
Ultramarinos. Através do seu boletim “Mensagem”, dirigido entre outros por
Tomás Medeiros, revela muitos dos mais importantes escritores africanos e põe a
circular textos anticolonialistas.
Por volta de 1960, a CEI
tem cerca de 600 sócios, uma cantina que serve uma média de 200 refeições
diárias, um lar com 14 residentes, uma biblioteca, um salão de jogos e um posto
clínico. Além da sede em Lisboa e da delegação de Coimbra, funciona também uma
delegação no Porto (criada em março de 1959).
Em 1960, na CEI – Coimbra,
surge um manifesto intitulado “Mensagem ao Povo Português” que revelava as
acusações feitas na ONU contra a política colonial portuguesa e propunha o
imediato reconhecimento do direito dos povos das colónias à auto-determinação.
A delegação da CEI, no Porto, foi
encerrada em janeiro de 1961.
Apesar da vigilância da PIDE e da
ingerência da comissão imposta pelo Governo, a CEI é um dos lugares em que se
prepara a saída de Portugal de várias dezenas de estudantes africanos que irão
juntar-se aos movimentos de libertação.
Em Março de 1962, tendo as
comemorações do dia do estudante sido proibidas, a CEI associou-se ao luto
académico. Durante a crise, a CASA disponibilizou as suas instalações...,
levando a PIDE a invadir a sede... A CEI é extinta em setembro de 1965.
Entretanto, em 1963,
tinham sido criados os Estudos Gerais Universitários em Angola e Moçambique
Nota: Em 21 de Maio de 1965,
o Ministro da Educação Nacional determinou a extinção da Sociedade Portuguesa
de Escritores (SPE). Na semana anterior, o Grande Prémio de Novelística fora
atribuído a “Luuanda” do escritor José Luandino Vieira.3 O
premiado era membro do MPLA e estava preso no campo de concentração do
Tarrafal, acusado de atentar contra a “segurança do Estado”.4 (ver
envolvimento do Jornal do Fundão através de Alexandre Pinheiro Torres, um dos
membros do júri).
1 -
Em Janeiro de 1992, foi criada a Associação Casa dos Estudantes do Império.
Objectivo: preservar e difundir o legado cívico e cultural da CEI...
Personalidades envolvidas: Orlando de Albuquerque, Vítor Evaristo, Luís
Pollanah, Carlos Eduardo Ervedosa, Fernando Costa Andrade, Alfredo Margarido,
José Ilídio Cruz, José Manuel Vilar.
2 - Celestino Marques Pereira (O ensino
colonial da Juventude) deseja mesmo que a CEI seja uma filha da Mocidade
Portuguesa.
3 -
Foram também premiados Isabel da Nóbrega (romance) e Armando Castro (ensaio).
4 -
ver Entrevista a Luandino Vieira, no Público de 15/5/1995.
5 -
Xavier de Figueiredo – Jornalista, Público, 8 de Maio de 1994.
(No dia da espiga, com a
advertência de que há espigas falsas e outras artificiais...)
Os dias surgem como novos, mas, afinal, repetem histórias antigas, cheias de
manha, infantis.
Agora, há um montenegro que
proclama que está a gostar de governar, e ainda há dois ou três dias vislumbrei
um dois bispos ao lado de um pinto da costa e de um moreira... e aparentemente
a cerimónia não era fúnebre...
De qualquer modo, as notícias são
por ora de um castelobranco, personagem grotesca, impedido de se aproximar de
uma velhinha rica de 95 anos, por supostos ou reais maus-tratos, como se a
Ucrânia ou Faixa de Gaza fossem coisa menor ou se as alterações climáticas não estivessem
a ceifar definitivamente o pão a muitos milhões de criaturas, pouco importando
a racionalidade, o género, a cor, a religião...
5.5.24
Comme la marginalité, l’errance s’articule d’emblée sur la notion d’espace.
En effet, l’errance au sens propre du terme se définit par la création d’un
parcours sans objectif, non orienté dans l’espace. Elle renvoie à une double
étymologie : errer, c’est d’abord aller çà et là sans but mais aussi marcher
(illinere) ; puis à partir du XIIè siècle, errer a pour principale
signification l’idée de se tromper. Dès lors, l’errance semble reposer sur une
erreur fondamentale. Phénomène d’attraction et de fascination généré par
l’espace, elle fonctionne selon le schéma du chant trompeur des sirènes
(Homère, Odyssée), de l’appel de la forêt et autres séducteurs dont on ne
revient pas. Cependant, contrairement à la marginalité qui renvoie à un lieu
fixe, un centre opposé à la périphérie, l’errance renvoie à un espace ouvert où
s’effectue la déambulation, sans but précis de l’errant. L’errance se distingue
donc nettement du voyage ou de la promenade.
Pois é: parece que ninguém
reconhece que se pode enganar... É só certezas. E se nos enganássemos no
caminho?
3.5.24
Ao fim de muitos anos, a CARRIS
descobriu que servia mal a PORTELA (LRS)...
Agora, os portelenses já podem
recorrer aos autocarros 722, 728 e 731 para se deslocarem de e para Lisboa, com
melhor ligação ao METRO.
E também já podem sair de casa ao
fim de semana e nos feriados.
Levou tempo, mas o serviço está a
melhorar...
Só falta aprender a gerir o 728,
de modo que o autocarro não 'desapareça' ou não surjam três de cada vez... em
particular no fim de semanal ou nos feriados. Por outro lado, também, seria
útil que a APP CARRIS não fornecesse informação errada...
8.4.24
Diria que o dia surgiu mais azul,
mais leve... mesmo que os pingos de chuva nos molhem os cabelos... O bispo de
Setúbal ficou livre de vassalagem, e o Porto, progressivamente, vai recuperando
a liberdade de que tanto se orgulha.
(...)
À noite, o azul começou a
empalidecer, não fosse o vermelho ganhar ânimo. O verde beneficia em toda a
linha.
25.4.24
O MRS de Eça seria divino, mas
não escaparia a umas valentes bordoadas. E se fosse o MRS de Bordalo, como é
que seria?
Em visita às Caldas, o bonecreiro
ocuparia a fábrica do Zé Povinho, e depois de múltiplas selfies, sairia de lá
com um mealheiro gigantesco para que o rústico Montenegro possa começar a pagar
a dívida colonial.
Filisteu diletante, às voltas com
uma consciência serôdia, tudo faz para descartar a responsabilidade dos seus
actos. O problema é que o seu Deus é impiedoso!
23.4.24
Adormeci no charco, não
consigo sair da Guerra de Troia... Os deuses insistem em impor a sua vontade
aos homens... e estes insistem em obedecer-lhes...
A insistência tornou-se
comportamento dominante - previsível ou não. Por exemplo, o Ventura insiste em
governar com o Montenegro, e este insiste em roubar-lhe o eleitorado, com o
lançamento do 'disruptivo' Sebastião Bugalho, naquele fatinho encomendado pelo
Moedas...
Por seu turno, o Pedro Nuno
Santos insiste na Marta Temido, provavelmente convencido de que os
sobreviventes da Covid lhe estarão eternamente gratos...
Na Guerra de Troia, os deuses de
Homero têm os meios para impor a sua vontade aos homens... Por aqui, nem a
previsibilidade nem a imprevisibilidade conseguirão fazer-nos sair do charco.
Quais náufragos de águas
estagnadas, por estes dias, lançamos cravos à liberdade, como se fosse possível
voltar atrás.
19.4.24
Só olho de soslaio, porque, de
facto, estou a ler a crónica de Rúben Braga, Homem olhando a janela
alta... (Para os interessados, Rubem Braga, Desculpem Tocar no
Assunto, edições Tinta da China.)
Lá no alto, o homem avista a
senhora "que não se pode alcançar" - nem voando para o equívoco
peitoril da janela... "Atrás de uma árvore sem graça um homem sem graça
olha uma janela alta."
Perguntaram-me um destes dias por
uma ambulância e pelos polícias que a acompanhavam... Eu não soube responder,
porque da minha janela alta não vislumbro o que acontece na entrada do
edifício.
A minha atenção já só segue o
rasto dos aviões, na expectativa de antecipar a chegada dos drones e dos
mísseis...
18.4.24
Quem observa o Montenegro,
desconfia daquele sorriso inocente, de espanto, de novidade.
É estranho: o sorriso não
corresponde àquele apelido. Só que bastam poucos segundos, para que o tom
desfaça o efeito do sorriso... palavras estudadas propalam o suave veneno que
corrói a alma do Montenegro.
A encenação sobrepõe-se
irremediavelmente à candura anunciada.
16.4.24
Vivem numa redoma blindada. E
agem como se fossem intocáveis... Visitam-se uns aos outros, como se fossem
amigos de longa data... e traçam, em segredo, planos para destruírem todos os
que os contrariem...
Agem em nome de religiões
obsoletas ou de ideologias totalitárias. O objetivo é sempre o mesmo:
conquistar cada vez mais poder... até que, um dia, os amigos devorar-se-ão
entre si...
Até lá, o que é triste é ver que
as vítimas internas e externas lhes prestam vassalagem..., chegando ao ponto de
os idolatrarem, mesmo quando, supostamente, vivem em democracia...
14.4.24
De Teerão a Telavive, o que eles
querem é manter o poder... pouco lhes importa quem é sacrificado. O problema é
que os candidatos à hecatombe continuam a aceitar o ludíbrio dos deuses,
quaisquer que eles sejam.
(Para apaziguar os deuses,
nas hecatombes, sacrificavam-se muitos bois e uns tantos
cordeiros...)
Para me purificar, vou continuar
a ler a Ilíada... havia barcas de todos os tipos e velas de todas as cores; a
força era desproporcional, sobretudo, quando os deuses se envolviam nas
batalhas; os heróis, semideuses, eram caprichosos, pois, em regra, já sabiam o
que os esperava; a cada batalha, as piras cresciam incendiando as noites de
outrora...
Por aqueles dias, do verde os
arautos pouco informavam...
11.4.24
Está cada vez mais difícil
entender o que se passa na vida pessoal, familiar e coletiva. Parece que
estamos num plano inclinado, em que o dia seguinte é pior do que o anterior.
Ainda se tudo não passasse de um charco com abertura para o areal, mas nem isso.
É como se uma força ignota nos
tivesse condenado, sem que possamos inverter o caminho. E, claro, insistimos em
celebrar a Liberdade, os dias, cegos pela nossa impotência e, sobretudo, pela
nossa soberba.
(O pessimista está de regresso,
às voltas com papéis que não consegue arrumar, porque perdeu o fio condutor.
Provavelmente, nunca percebeu que o fio era muito frágil e curto. E a
ignorância não explica tudo!)
8.4.24
A 30 de Junho de 1960, o
Congo conquista a independência.
Patrice Lumumba diz
ao rei da Bélgica, Balduíno I, que a independência do seu país é um passo
decisivo para a libertação de todo o continente africano, e dita, com estas
palavras, o próprio destino. Nomeado primeiro-ministro em exercício, passa a
viver em regime de residência fixa depois de um golpe de estado liderado pelo
coronel Mobutu e apoiado pela CIA. A 28 de Novembro de 1960, Lumumba tenta
evadir-se, mas é preso logo em seguida, a 2 de Dezembro, em Port Francqui. Transportado
num DC3 para o aeroporto de Léopoldville, Lumumba é violentamente empurrado
para dentro de um camião. Um soldado puxa-lhe a cabeça com força para trás a
fim de proporcionar uma melhor perspectiva do seu rosto aos fotógrafos. Foi a
última foto de Lumumba vivo.
A 18 de Agosto de 1960, o
Conselho de Segurança, em Washington decidira eliminá-lo, enquanto os militares
belgas apoiavam Moisés Tshombé, que anunciara a secessão do Catanga...
Feito prisioneiro e
depois entregue aos seus inimigos do Catanga, o arauto do nacionalismo africano
é torturado até à morte, a 17 de Janeiro de 1961. O corpo nunca foi
encontrado.
5.4.24
Tomaram posse 41 ajudantes. Creio
que, na sua maioria, vão precisar de muita ajuda. Por mim, tudo farei para não
incomodar suas excelências...
E também não lhes vou pedir nada.
Estou bem assim.
O meu único desejo é que Zeus nos
liberte de Sua Excelência, o verdadeiro responsável pela instabilidade em que
vivemos.
E já agora espero que as
celebrações dos 50 anos do 25 de Abril sejam discretas e não ações de
propaganda como acontecia no Estado Novo.
3.4.24
Em nome do futuro, o antigo
logótipo do governo está de regresso ...
E creio que assim acontecerá com
as restantes medidas, todas inspiradas no passado. Virtuoso, por aquilo que se
anuncia...
Eu, porém, não consigo acompanhar
este ímpeto regenerador. Por mais que me esforce, o passado não me resolve
problema algum... Gostava, no entanto, que a propaganda diminuísse ... e que o
Pedro Nuno Santos não me entrasse pela casa dentro naquele tom acelerado e
gritado. Incomoda-me. Obriga-me a desligar a Televisão.
1.4.24
Hoje é dia de seca. Por uma
questão de princípio, ninguém me vai arrancar uma palavra. Amanhã, sim, volta a
chover.
E já passaram 4 anos que deixei a
vida activa! Parece mentira...
29.3.24
É visceral: odeio o calor e a seca. Como tal, neste mês de março, não me queixo
nem sequer dos políticos.
Não se entendem, compreendo.
Passam demasiado tempo ao sol!
Agora que estou a ler a Ilíada,
percebo que os políticos, tal como os guerreiros do tempo homérico, apesar de
valorizarem a força e a manha, não passam de bonecos manipulados por deuses
caprichosos, sedentos de sangue humano.
Um único conselho para os meses
que se avizinham: não se esqueçam de Zeus!
22.3.24
A maré vai começar a encher e os
detritos ficarão, por um tempo, submersos. Estejamos atentos ao que ela nos
traz!
Inevitavelmente, a maré voltará a
vazar e detritos voltarão à tona.
É impossível escapar!
(Ainda pensei que se tratasse de
um arado cansado de sulcar o mar da palha...)
18.3.24
Nuno
Júdice, são as flores que ficam...
(29-04-1949 - 17-03-2024)
Nunca fui próximo do Nuno Júdice,
embora me tenha cruzado com ele várias vezes num lugar que merecia a sua
atenção: a Escola Secundária de Camões. Talvez porque se mantivesse fiel às
suas antigas (os) alunas (os) ou aos companheiros (as) de viagem.
Pareceu-me um homem tímido...,
como se pedisse desculpa ao chão que pisava... na verdade, talvez fosse bem
diferente. No entanto, eu não me aproximei... deixava-o com os amigos.
Creio que, nesta hora, o melhor
que posso fazer é transcrever o soneto RAMO, da obra O Breve Sentimento
do Eterno:
Vejo a erosão das palavras na
Terra
da frase. Transformam-se em lama;
misturam-se com as folhas. Um
húmus
de sílabas alimenta o verso.
Com a primavera, o poema nascerá;
e as suas flores cobrirão o campo
com um brilho transparente,
deixando
ver o interior de cada imagem.
Corto-as do caule para fazer o
ramo
que ponho no vaso da estrofe,
para que não sequem nem murchem.
São as flores que ficam, as que
duram para o inverno, as que
resistem ao vento, à angústia, à
morte.
14.3.24
Os
sinais poderiam ser de Primavera
As flores estão aí! No entanto,
os cravos murcharam. E a culpa não é dos capitães... é de quem se deixa
convencer de que há soluções fáceis.
De pouco servirá celebrar os 50
anos de Abril, se a contrarrevolução está em marcha acelerada. E para a
maioria, este caminho é de futuro...
Triste futuro este que se
avizinha!
(Por mim, fica a esperança de que
esta ilusão se desvaneça rapidamente, até porque, ao contrário do que muitos
acreditam, desta vez não estaremos sós. Para o bem e para o mal!)
6.3.24
Voltei ao Oceanário.
Das espécies vistas, poucas
recordava. O problema deve ser meu. Sei que as lontras já não se chamam Amália
ou Eusébio... Não sei se há por lá algum CR7, talvez o tubarão...
Do Peixe-Lua, parece-me que lhe
falta uma parte, talvez as silvas que, noutros tempos, imaginei, seguindo a
lição rústica...
(...)
Em respeito pelo 25 de Abril de
1974, dia 10, tenciono votar, mas tenho um problema: ainda não entendi se há
alguma proposta que vise criar condições para um país mais educado, mais
produtivo, mais solidário. Só me apercebo de ajustes de contas e de regresso ao
passado ou, então, à conveniência de manter tudo na mesma.
Espero que o problema seja meu,
pois não consigo ultrapassar a condição de rústico, mesmo vivendo à beira da
cidade.
29.2.24
Acabo de ler Auto-de-Fé,
de Elias Canetti.
Compreendo, finalmente, o título:
Kien, o homem - livro, depois de ter caído numa misantropia absoluta, desceu ao
inferno dos desclassificados física e intelectualmente.
Kien, quando de lá saiu, com a
ajuda do irmão, amado diretor de um manicómio e ex-ginecologista idolatrado,
acabou por romper, em definitivo, com a comédia humana da loucura, incendiando
a sua amada biblioteca e ardendo nela.
Tal como a maré, a leitura foi
enchendo e esvaziando...
21.2.24
Um indivíduo foca o olhar, mas
não há certeza se descortina (se vê para lá da cortina...)
A cortina está cada vez mais
presente, mesmo que o oftalmologista assegure que está tudo bem... não sabe é
se os neurónios andam confusos.
Eu também evito pronunciar-me,
sobretudo desde que me dedico à leitura do Auto-de-Fé, de Elias
Canetti.
A minha expectativa era bem
diferente, todavia reconheço que o mundo representado, entre as duas Grandes
Guerras, não augurava nada de bom para a Humanidade... tal como os dias
que atravessamos...
Depois de Aristófanes, Canetti...
entrei no território do absurdo... e não quero sair de lá, apesar da cortina
interior...
13.2.24
A caruma deixou de fazer sentido.
Os pinhais foram ardendo e a paisagem está cada vez mais deserta. Nem a chuva
os consegue recuperar...
Por agora, as imagens ainda
continuam ativas, mas mesmo essas é necessário desbastá-las, de redundantes que
se tornaram.
Digamos que, para preservar
alguma caruma, é necessário reduzi-la significativamente... e para isso é
preciso tempo.
Hoje, parece que chove, mas não
chove, e ao Sol... Pois é, anoitece, venta, chove... e ao Sol falta o
predicado!
8.2.24
Lá fora, chove. O estranho é que
cá dentro também chove.
A chuva das ruas escorre para as
sarjetas.
A chuva desta sala cresce sem se
escoar... Avoluma-se à espera de que as comportas se abram, mas estas
recusam-se.
A chuva das ruas corre até se
perder...
A chuva desta casa avoluma-se até
nos perder.
4.2.24
Partindo do princípio de que
somos todos iguais, então merecemos todos ser premiados do mesmo modo...
Pois é, sempre pensei que não era
bem assim e, sobretudo, que reivindicar seria um ato de dignidade que não
deveria por em causa a segurança das pessoas e afundar a coletividade.
De momento, o que surge na rua é
um movimento que visa acabar com o regime democrático e, como tal, não acredito
que venham impedir o ato eleitoral de 10 de março, pois os antidemocratas desta
Hora procuram por todos os meios atingir nesse dia um resultado que os coloque
no poder.
1.2.24
Ninguém quer cair, mas a queda é inevitável. Dizê-lo é absurdo. Escrevê-lo,
desnecessário. Não fosse o ritmo e há muito teríamos deixado tal termo de
parte...
Neste hemisfério, em fevereiro, o
ritmo começa a empolgar, mas insistimos em tropeçar.
O melhor é desligar dos media:
caminhar ou voltar às NUVENS de Aristófanes... e esperar que o raciocínio
injusto dê cabo dos argumentos do raciocínio justo.
Sucedem-se os exemplos de queda,
no entanto nada nos diz que o castigo esteja próximo, tantos são os sofistas...
Começo a pensar que a queda é
culpa do pensamento socrático ou, talvez, do castigo cristão.
25.1.24
Esta folhagem não caiu, foi
arrancada das margens do rio e seus afluentes, e esta tarde procurava o mar...
Um destes dias, fui ver o filme
FOLHAS CAÍDAS, produção finlandesa... Do filme gostei, mas fiquei com uma
péssima impressão da 'ordem' daquele país... trabalho precário, droga, álcool -
relações humanas nulas.... (um destes dias, a Federação Russa atravessa a
fronteira!)
21.1.24
" No meio do quarto
a piscina móvel
tem o tamanho do corpo
sentado."
Carlos Drummond de
Andrade
Lá atrás, faltava a palavra
'piscina', sobrava o alguidar que tanto servia para depenar a galinha, como
para demolhar a roupa e o bacalhau, à vez... E por último, o banho do menino e
do avô.
Meninas, não havia ou
escondiam-nas, como acontecia na escola, inventada só para elas...
No alguidar, caía o porco e a
porca, o galo e a galinha, só menina não caía...
Se a água fervia, a pele, como a
da cobra, soltava-se.
Lá atrás, as palavras eram poucas
e mal enunciadas, no dizer do professor para quem a norma era divina. Não havia
casa de banho, não fazia mal, e se alguém decidia (podia) construir uma, então
era o cabo dos trabalhos - licenças, taxas, fiscais... tudo em nome da ordem.
Lá atrás, não havia promessas de
que me lembre, a não ser a da entrada direta no reino dos céus, desde que não
perdêssemos a pobreza de espírito com que viemos à luz... ou então sermos
lançados na casa das cobras que, para o efeito, ficava nos fundos da torre
sineira...
19.1.24
Há mais de 10 anos que conheço
este cacto e só agora lhe descobri a flor.… depois de ter sobrevivido à
recuperação do canteiro... E não pensem que andei distraído!
Coincidência, ou talvez não, só
agora me virei para Aristófanes. Tenho devorado as comédias: já vou
nas Rãs, concluída a leitura das Vespas e
das Aves.
Gastei parte da vida a
parafrasear Sófocles e, por vezes, Ésquilo... e
agora descubro um primoroso retratista do século V antes de Cristo.
De facto, a corrupção, a mentira,
a mediocridade já tinham assentado arraiais à sombra da democracia. Nem os
deuses do Olimpo escapam. Tudo a nu!
11.1.24
É tarde!
De qualquer modo, hoje fomos à
Cinemateca ver o filme de Paulo Rocha, MUDAR DE VIDA, 1966.
Em 1966, fazia 12 anos e
habituava-me à 'camioneta da carreira'. O filme abre com a chegada de uma
camioneta muito semelhante... Dela, apeia-se Adelino. O meu pai, destruídas as
vinhas pelo granizo do início do Verão, partira para França, acompanhado de um
jovem que fugia à guerra colonial. (Nunca mais soube nada dele!)
No filme, Adelino regressa de
Angola, para onde fora mobilizado em 1961. O filme não o diz, porque cumprido o
dever patriótico, por lá ficou, sem efetivo proveito nem dar notícias...
Regressa, preso de amor
impossível e sem coragem para ajustar contas com o irmão. Afinal, ele não dera
notícias, e Julia (Maria Barroso) acabara por casar... Júlia tem todos os
achaques típicos da heroína romântica. (Não foge à convenção. É salva pela representação
de Maria Barroso e pela fixação da câmara.)
No Furadouro, a miséria, imposta
pelos homens e pelo mar, é uma constante. O tempo parece outro, já descrito por
Raúl Brandão. A verdade é que, apesar da antífrase, não se compreende que
ninguém parta... Ou seria impossível? Só lhes restava a sepultura. Demasiado
triste!
Interessante: os efeitos da
alterações climáticas estão bem presentes na vida dos pescadores do Furadouro.
7.1.24
2024 ainda agora começou e já
estou cansado. Objetivamente, o desleixo dá cabo de mim: foi preciso pôr a
lavar e a secar uma montanha de roupa... e o nevoeiro não tem ajudado.
Torna-se impossível ir a um
encontro num lugar desconhecido, porque o GPS anda cada vez mais confuso e não
há lugar para estacionar.
Faltam projetos - todos se
consideram melhores, mas ninguém sabe porquê. Deste lugar, observo o Tejo
assoreado: a ilha cresce, arrisca virar continente. No entanto, ninguém promete
acabar com o assoreamento.
Assoreados, entupimos...
Eu vou continuar a leitura
de Almas Mortas, de Gogol, mesmo que não tenha qualquer motivo para
as comprar.
5.1.24
Entrámos. Eu venho sem pressa...
a Sammy não compreende por que motivo interrompo tudo o que inicio...Já lá vão
seis horas.... há anos que uns tacos esperavam que eu os recolocasse: foi
preciso comprar uma cola especial, eliminar os detritos, apará-los do
inchaço... e como uma coisa arrasta a outra: liguei o Kirby e aspirei tudo - o
cotão, o bolor, o pó.... Duas horas de limpeza!
A Susana regressou a Hamburgo.
Vive à sua maneira, e o melhor é não interferir, ajudar enquanto for possível.
Por vezes, a sua capacidade de compartimentar irrita, um instante, apenas.
Entretanto, o Ministério Público
não desiste de enterrar o Costa. Se eu estivesse no seu lugar, entregava as
chaves do Governo ao Marcelo... Há muito que penso que o MP é a continuação do
Tribunal do Santo Ofício.
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