sexta-feira, 20 de junho de 2025

Diário_2024

 29.12.24

Não quero ser outro...

Felizmente, não estou a perder a fala nem a ficar cego. E não sou surdo, antes pelo contrário... o ruído afeta-me os neurónios, embora ninguém se aperceba disso... E sou só um, e não diversos como parece que está a acontecer com muita gente, sobretudo jovem... Por isso não há o perigo de me dividir em dois que se procuram na adversidade da perda, seja ela comunicacional, linguística, geográfica ou temporal... Não quero ser outro, nem mudar de sexo, nem a cor do cabelo - já me basta perdê-lo - o que fará um cabeleira sem cabelo?

Basta-me caminhar até me cansar, e ler mesmo que não entenda a fama de certos escritores, embora a escrita não passe de um novelo sem fio que nos leve a qualquer porto...

Acabei de ler Lições de Grego, de Han Kang, e estou sem compreender se a verosimilhança ainda é um critério de avaliação da ficção: por vezes a realidade surge na sua crueza, mas a prosa acaba por ceder o lugar à fragmentação do discurso, tornando-o absurdo... 

Por ora, estou sem pressa de atalhar no caminho e gosto que os fios não se esfumem ou se partam antes de chegar ao ancoradouro...


21.12.24

Com tanta luz...

Com tanta luz, há quem viva nas trevas...
Com tanta fartura, há quem passe fome... 

Ainda hoje um talhante me confessou que grande parte da carne que irá vender até terça-feira acabará por não ser consumida, apesar do império da gula...

Insiste-se em criar um clima de festa só para esconder a miséria a que a humanidade chegou.

É uma espécie de carnaval antecipado ou, melhor, permanente. 

Nada disto corresponde à essência do mito natalício... Dir-se-á que o mito é NADA e TUDO se resume ao que exibimos.

(FP: O mito é o nada que é tudo.)

 

15.12.24

Mia Couto a enterrar nuvens

Sem metáfora, não há escrita de Mia Couto... 

A figura cobre a guerra, a religião, a cor, a seca, a chuva, o abuso sexual, o envelhecimento, a morte; a língua em que cresce... 

A metáfora é inevitável, centrando-se no corpo, na pele, nas mãos, nos olhos... 

A própria vida se revela metáfora caindo na folha em branco como narcísica forma de eternidade...

Como alguém referiu, toda a figura é metáfora, e por isso os nomes próprios também são metáforas... À força de gerar figuras, Mia Couto acaba por branquear os responsáveis pelo adiamento da esperança...

Quando o prazer da metáfora desfigura a realidade nua e crua... o que parece perto, fica cada vez mais longe. Imperdoável!

                             (Mia Couto, Compêndio para desenterrar nuvens, 2023)

 

13.12.24

Um cacto

A invasão não é de agora. A perceção é que é mais recente.

Quase todos os dias, passo por este cacto e leio que ele foi transferido da Quinta da Vitória... por ironia, certamente, demolida para dar lugar a três ou quatro torres de apartamentos aburguesados, e uma zona comercial que, em grande parte, serve o bairro contíguo da GEBALIS, que o município lisboeta deixa degradar incautamente.

Não basta entregar casas, é preciso assegurar que elas são estimadas, diariamente...

(...) 

Hoje, numa das saídas do Hospital de São José, um jovem asiático, transido de frio e provavelmente de febre, afastava-se cambaleando... e não pude deixar de pensar nos espinhos destas vidas.

 

9.12.24

A força do vento

O que vento tem a mais, tenho eu a menos. E o insólito é que ele sempre foi assim: ora não damos por ele, ora eleva tudo no ar. E eu agarrado ao chão!

(Em dia de algum vento...)

 

8.12.24

O Contador da História

Lá fui, ontem, rever os velhos atores (João Mota e Carlos Paulo) e os novos, cujos nomes ainda não me tombaram na memória...

Espetáculo bem produzido, e interpretado de acordo com o rigor sempre exigido pelo 'maestro' que, uma vez mais, revisitou a génese do teatro português...

Do texto de António Torrado ressalta o pendor pedagógico eivado de um sebastianismo que, infelizmente, continua presente no fascínio pelo 'almirantado'...

 

5.12.24

Pasmado...

Ainda não pude observar devidamente, mas estou na ideia de que visualizei um telheiro agigantado, à medida de quem encomendou a obra. Deve ter custado bom dinheiro e, talvez, possa abrigar quem por ali passe na calada da noite, apesar das portas cerradas e da segurança apertada...

Nestas obras, há sempre quem ganhe e, também, há quem se deslumbre... Como campónio fiquei pasmado pelas razões erradas, certamente.

 

1.12.24

50 anos depois...

Do quê?

Do súbito enamoramento.

De um casamento temporão, aos olhos de hoje...

Do tempo passado, as palavras não dizem nada, a não ser que se tem tratado de uma prova de resistência...

de olhares distintos que mais cedo ou mais tarde se extinguirão...

 

28.11.24

As rolas

É só para lembrar que as rolas não devem ser esquecidas no OGE. Praticam o equilibrismo como qualquer trabalhador ativo ou inativo... E a bem dizer, a inatividade não lhes é nada favorável.

Espero que o sr. montenegro, adepto fervoroso da ação, as contemple com dois ou três milhões, sem por em causa os interesses das grandes empresas, dos banqueiros e dos afilhados... 

(E quem fala de rolas também se refere a pombas...)

 

25.11.24

O 25 de novembro de 1975

O mérito dos acontecimentos daquele ano é que estes permitiram corrigir o rumo. Certo é que o fulgor democrático se foi desvanecendo ao longo dos anos até chegarmos a este pântano em que nos vamos afogando.

No entanto, se o rumo tivesse sido outro, teríamos regressado a uma forma de ditadura que acabaria por nos albanizar.

Entretanto, vivemos numa democracia suicida de que o dia de hoje é um triste sinal.

Valha-nos o SOL que desponta...

 

23.11.24

A foto

O mar de São Miguel. 

Antes, no entanto, o que os meus olhos abarcavam... tudo plantado numa linha de tempo que não é o meu, a não ser pontualmente.

A foto assegura esse momento do instantâneo em que os olhos se tornam cegos.

Agora, que me centro na imagem, recordo a varanda donde repetidamente fixava o horizonte, quase indistinto.

E há todo um conteúdo que insiste em escapar-me...

Uma varanda despojada...

 

20.11.24

Por este andar...

Por este andar, nem a ponte nem o santo se aguentam. Só o chão restará!

Os comentadores belicistas estão ansiosos pela guerra, e ainda não percebi porquê. Será que pensam que esta guerra será igual às anteriores ou são tão estúpidos que ainda não compreenderam que, também, eles acabarão por ser dizimados... No melhor dos casos, nem chegaremos a acordar!

 

18.11.24

Na Avenida...

Desci a Avenida da Liberdade, à espera de encontrar uma loja de filatelia e de numismática. De balde. 

Só vi hotéis e lojas de luxo; preciosas no passeio, à espera dos motoristas dos Porsches e dos Ferraris que se impacientavam na longa fila de trânsito...

Ainda não se lembraram de reservar as ruas laterais só para o serviço dos riquinhos que por ali se alojam e fazem compras!

Acabei por observar a 'sagração' da arte do fado, sem que lá faltasse o descanso de um pobre dependente do smartphone... e regressei à Barata Salgueiro (Cinemateca) onde pude rever o filme 'Dona Flor e os Seus Dois Maridos'... Outros tempos, em que ainda era possível encontrar lojas de filatelia na Avenida...

 

15.11.24

Ainda pensei...

No Parque de Monsanto, não oiço as aves típicas do outono florestal, apenas tiros e não creio que se trate de tiros aos pratos... há por ali uma carreira de tiro ou estarei enganado? Dos serviços prisionais ou da Força aérea?

Ainda pensei que se tratasse de um duelo de pistolas, mas não. Aos parlamentares de hoje falta-lhes honradez...

 

9.11.24

Se passar por Torres Novas

 ... procure o rio Almonda, siga-lhe o curso e logo encontrará o que sobrou dos moinhos e lagares do Caldeirão, de que já havia registo no século XV...

 

5.11.24

Um pouco mais cedo

Para ti, que lutaste sempre,

Que nunca pensaste que o teu fim estava ali, naquele lençol branco, 

asséptico.

Que nem sequer esperaste pela meia-noite!

Foste embora um pouco mais cedo...

A morte é sorrateira, apressa-se invisível,

Esconde-se dos sentidos, destrói numa euforia devastadora.

Em certos casos, no entanto, a morte é mais leve do que a vida.

Anoitece apenas.

A vida, essa, pesa desmesuradamente.

Absurdamente.

(12/12/2005)

 

Aproxima-se

Cercam-me os fios dos teus cabelos

noturnos silenciosos

Despontam em números proibitivos

os teus ávidos dedos

Parecem querer aproximar-se no mar largo

que fica para além do Sol

 

(22/1/2006)


Passei por lá e não te vi!


Refletia só a modesta jarra

Sombra ténue da tua presença.

Passei por lá e só ouvi

Sob a capa da terra

O eterno incómodo

dum involuntário queixume.

 

Passei por lá e não senti

a força da tua mão

E saí a procurar flores

esquecidas da tua presença.

 

Passei por lá e só vi

o olhar vazio

do corvo faminto.

(2/3/2006)

 

Se tu soubesses

O lugar donde partiste

tinhas ficado um pouco mais

Se tu soubesses

As máscaras que nos cercam

tinhas ficado um pouco mais

 

Se tu soubesses que as máscaras

ensaiam uma dança metálica

de espectros

Se tu soubesses

O lugar que me deixaste

tinhas ficado um pouco mais

 

Um lugar onde seduz um rosto sem luz

 

(1/7/2006)

 

Estranhamente

 

Irrompe das ruas desertas

a mudez das casas

Enleia as roseiras

a ervagem daninha

Agoniza ao sol de Inverno

secreta tubagem

 

Estranhamente procuro

o lugar

a voz

a rosa

a calma

 

Estranhamente ouço

o eco

da enxada,

da gadanha,

do arroio

 

Estranhamente

caio

e fico lá

num não-lugar

 

Enleado em mim mesmo

 

(3/3/2006)

 

4.11.24

É estranho!

Em certos grupos do Facebook ninguém conversa com ninguém, nem sobre a ausência de uma vírgula nem sobre os excessos de quem quer que seja...

Há, apenas, o registo pontual de uma nuvem que encobre ou que se vangloria.

Deveria haver uma forma de eliminar esses grupos inócuos, porque lixo já há que sobeje. Por vezes, chego a pensar que esses grupos são de plástico... 

O QUE É QUE EU ESTOU ALI A FAZER? Pelo menos, aqui, no blog, é tudo residual... a conversa é acabada.

 

2.11.24

CONVERSA desempoeirada....

Hoje, dia de defuntos, não toquei a lápide sepulcral nem lancei cinzas ao mar, fiquei-me pela conclusão da leitura da 'conversa de João Gomes com Ricardo Araújo Pereira' - O QUE É QUE EU ESTOU AQUI A FAZER?

Uma 'conversa' assente no conhecimento aprofundado dos livros sagrados e da literatura sobre Deus, a Fé, o HUMOR e a MORTE...

O ateísmo do humorista Ricardo Araújo Pereira faz-me lembrar o de José Saramago, de quem, curiosamente, não se fala nesta obra... talvez porque o entrevistador se situe noutra margem...

Esta 'conversa' é intensa e obriga-nos a pensar em preconceitos, em rituais e, em comportamentos defensivos perante o fim da matéria e, mesmo, sobre o esvaziamento da consciência... 

Por estes dias, as criaturas não têm motivos para rir, nem sequer para sorrir... Por mim, espero voltar a ler esta CONVERSA... 

 

30.10.24

A comédia de Balzac

 Ler a 'Comédie Humaine' de Balzac é a maior aventura que, como leitor, alguma vez, encetei.

Apetece-me dar da conta das 'manobras' napoleónicas e, sobretudo' dos mecanismos de conquista e manutenção do poder, mas o que percebo é que o 'poder' não existe nem nas monarquias nem nas repúblicas.

O que existe são teias de interesses que manobram na sombra dos poderosos de cada momento, podendo este ser fugaz ou geracional.

Os 'santos' do lugar não levam ao céu, mas permitem satisfazer ambições que todos sentem como legítimas, independentemente dos efeitos degradantes...

O problema é que se observarmos o estado do mundo atual.… nada mudou. Balzac diz tudo o que há a dizer sobre o comportamento humano. Só mudam os títeres e as figurinhas!

 

24.10.24

Nas calhas...

Nas calhas da roda não gira nem a razão nem o coração...

giram as desigualdades

a deseducação

o laxismo

e, sobretudo,

os incendiários da política e da comunicação...

... o que não significa que os delinquentes possam continuar

À SOLTA

17.10.24

Uma nova linha...

Da forma das linhas pouco sei, até porque, para mim, são quase sempre invisíveis... Sei que algumas me parecem mais carregadas e até mais ameaçadoras. Esforço-me, no entanto, por andar na linha, embora não saiba muito bem se isso me é favorável...

Ontem, abriu-se uma nova linha cujo único fito é sair do mundo virtual, aproveitar ao máximo a margem em que me encontro...

Se te encontrar por aí, daremos dois dedos de conversa...

 

15.10.24

Um boné para Antero...

Por razões que a razão desconhece, fui deixar um boné de largas temporadas no Santuário do Senhor do Santo dos Milagres, próximo do qual Antero se suicidou no dia 11 de setembro de 1891... Espero que lhe possa ser útil, pois a sua obra sempre me inspirou em termos profissionais e pessoais... Não era minha intenção, mas, por vezes, há apelos inesperados...

Apesar de haver escolas em Ponta Delgada de que Antero é patrono, fiquei com a sensação de que falta ali qualquer coisa que assinale melhor a grandeza do homem e do artista... A não ser que os miguelenses sejam partidários de um orientador pedagógico que, ao assistir às minhas aulas de Português, um dia me disse que não deveria 'dar pérolas a porcos' - referindo-se aos sonetos Tese e Antítese... e aos alunos!

O boné ter-me-á caído do bolso, às 7h30... sob o efeito da talha dourada e, sobretudo, do inesperado toque do telemóvel...

 

12.10.24

De volta ao princípio

A talha dourada e a sumptuosidade da Natureza

Padres e mais padres... até descobrir que o Hotel (São Miguel Park Hotel) se encontra em terreno que outrora alojou o Seminário de São Miguel.... e para remate o São Miguel Arcanjo é o padroeiro do lugar.

 

7.10.24

Ponta Delgada, à noite

O vento começa a fazer-se sentir... a hora é de descanso, pois a viagem foi cansativa - demasiado tempo à espera, com um sem número de controlos de pessoas e pertences...

Não me consigo adaptar ao espírito da manada que se deixa conduzir mecanicamente.

Pode ser que amanhã seja diferente, no entanto o furacão aproxima-se... nem sei se ouvi bem ou se os neurónios se estão a desconectar...

 

4.10.24

Ernest Bloch, registo incompleto de leitura

UTOPIA

Ernest Bloch, Le Principe de l’Espérance, II Lés épures d’un monde meilleur (1959), éd. Gallimard, 1982 

                1. Rêver de ce que l’on n’a pas n’allège pas la souffrance, mais l’accroît et empêche que l’on s’habitue à la détresse. p.11

                2. Les utopies sociales ont toujours opposé le monde de la clarté à celui de la nuit... p.40

                3. En effet ce lointain temporel prit bientôt l’aspect d’un éloignement dans l’espace et se confondit avec un pays de merveilles. L’élargissement des horizons géographiques dû aux campagnes d’Alexandre fut un facteur déterminant. p.56

                (...) Alexandre apparaît ici   comme le réalisateur de l’État stoïcien... p.60

                4. L’utopie stoïcienne (...) réside dans le programme d’une communauté cosmopolite composée de citoyens du monde, c’est-à-dire ici: dans le programme de l’unité de la race humaine. À la base c’est l’individu qui en reste le porteur, “l’État supérieur” commence en tant qu’isolement des individus dans le but de leur formation morale et de la constitution d’une communauté libérée de la violence. p.62

                5. A utopia animada de uma vontade de transformação p.78

                (...) Ainsi la liberté et l’ordre, rigoureusement opposés dans les utopies abstraites, se mêlent intimement dans la dialectique matérialiste, s’assistent mutuellement. La liberté concrète est l’ordre, qui relève du domaine propre de cette liberté ; l’ordre concret est la liberté, qui est celle de l’unique contenu de cet ordre. p. 110

      (...) Les utopies abstraites avaient consacré neuf dixièmes de leur espace à la peinture de l’État de l’avenir et un dixième seulement à l’observation critique, souvent purement négative, du moment présent. Ce qui devait par le fait même conférer à l’objectif visé sa richesse en couleur et en vie, alors que la voie y conduisant, située à l’intérieur même des conditions données, restait cachée. 

                Marx a consacré plus des neuf dixièmes de son oeuvre à l’analyse critique du moment présent, et a assigné une place relativement réduite aux déterminations du futur. (...) Cet avenir n’est donc mis en lumière que par le matérialisme historique, pour être alors seulement modelable en connaissance de cause. p.212-213

                (...) L’utopie sociale se préoccupe principalement de bonheur humain et est une longue réflexion, sous une forme plus ou moins romanesque, sur son aspect économico-social. p.121

                (...) Doctrinaires, les vieilles utopies l’étaient, parce qu’elles avaient lié leur nature, au demeurant si imaginative et pleine de fantaisie, au style de pensée rationaliste de la bourgeoisie. Jusqu’à la fin du dix-huitième siècle, la science fondamentale de la bourgeoisie était la mathématique et non l’Histoire. p. 163

                (...) Ce qui n’empêche que tous ces rêveurs ont une classe que personne ne peut leur dénier. Incontestable est déjà leur volonté de transformation, et malgré leur vision abstraite, ils ne sont jamais uniquement contemplatifs. p.164

                (...) Le rêve consistant se rallie activement à ce qui est historiquement arrivé à échéance et dont l’avènement est plus ou moins entravé. Il importe donc à l’utopie concrète le rêve qu’elle a d’une chose, rêve qui fait lui-même partie du mouvement historique. Comme elle est médiatisée par le processus, il lui importe de donner le jour aux formes et aux contenus qui se sont développés au sein de la société actuelle. Prise dans ce sens non plus abstrait, l’utopie devient synonyme d’anticipation réaliste du Bien.

                (...) L’utopie concrète et attachée au processus se trouve dans les deux éléments fondamentaux de la réalité reconnue par le marxisme : dans sa tendance, c’est-à-dire la tension de ce qui est échu et entravé, dans sa latence, qui est le corrélat des possibilités objectives-réelles non encore réalisées dans le monde. p.215

                6. Aucune idéologie n’est plus anglaise que celle d’une guerre coloniale moralement justifiée, comme l’enseigne l’Utopie, aucune idéologie n’est plus éloignée de la république monastique du mont Athos. p.92

                7. A utopia de Proudhon est donc uniquement fondée sur des “axiomes” et des “principes” certes bourgeoisement révolutionnaires mais tout aussi statiques et idéalistes.

                Le premier axiome pose l’autonomie des personnes, avec laquelle toute inégalité provoquée par les circonstances sociales est incompatible.

                Le second axiome pose l’idée de la justice en tant que force, inhérente à la personne, de respecter et d’encourager la dignité humaine chez toute autre personne.

                Princípios : abstracção ; força motriz ; dialéctica 

                L’utopie de Proudhon veut donc abolir à la fois le capitalisme et le prolétariat... p.152-153

                8. Michel Bakounine defende que le plaisir de la destruction serait un plaisir créateur... p.155

                (...) A utopia anarquista : pour elle, ce n’est pas le capital qui est le mal principal, mais l’État ; c’est sur lui qui se fixe en premier lieu la haine de Bakounine, tout le reste n’est qu’un mal secondaire, dérivé du premier. (...) Par conséquent, le diagnostic de Bakounine place dans l’État - qui n’était pour Marx qu’une simple fonction économique - le foyer et l’origine de toute condition d’exploitation, et contrairement aux marxistes, il met l’abolition de cette fonction en plein centre de son objectif. p.157

                9. On fait généralement mouche en disant que la haine a, au départ, des causes économiques. Ce qui offre immédiatement, plus souvent encore ce qui est étranger, ou mieux : ce qui est faible ne lui fournit que les occasions de s’extérioriser. p.197-198 

(Esta seleção data de Agosto de 1995... e tinha um objetivo que se esfumou como acontece com qualquer utopia...)

 

1.10.24

Nenhuma pomba vive segura

Apesar da vista poder ser apetecível, a pomba não está segura. Basta pensar nos mísseis iranianos que se dirigem para a terra santa. De facto, o sagrado perdeu qualquer efeito dissuasor.

Pelo que se vem assistindo, no espaço aéreo, deixou de haver fronteiras, de tal modo que, um destes dias, vamos ver os deuses do olimpo cair sobre as nossas cabeças, pois nem eles são capazes de respeitar as regras, outrora, impostas por Zeus...

Por mim que nada decido, creio, no entanto, que é tempo de eliminar os malfeitores que se escondem sob vestes sagradas manchadas desde a origem...

Quanto às nações unidas de nada servem, pois, os arsenais crescem por toda a parte... e para mal dos nossos erros, o secretário-geral só esbraceja...

Somos governados por um bando de malfeitores, e nada fazemos... até que os mísseis nos caiam em cima. 

 

24.9.24

O que fica

O que fica registado tem cada vez menos valor. O que pensamos ver não é o que surge aos nossos olhos...

Há toda uma distância que desfoca e, sobretudo, há pronomes que despersonalizam...

Eles registam hábitos antigos de quem passa a vida a copiar....

Quanto aos valores pouco há a deplorar, pois eles sempre foram postiços.

(E parece que sem eles, os pronomes, não conseguimos comunicar...)

 

20.9.24

Amílcar Cabral na Torre do Tombo

 Passei pela Torre do Tombo, a propósito do Centenário de Amílcar Cabral... Em termos de documentação, parece-me rigorosa, mas insuficiente. Em termos de legibilidade, a exposição não é apelativa. Não creio que o objetivo vise dar a conhecer e reabilitar o homem que perdeu a vida numa luta que não deveria ter acontecido... e não me refiro apenas à ação do colonizador.

(E já agora o santo não está identificado! Francisco, será! Franciscano ou Jesuíta?)

 

17.9.24

ANY WHERE OUT OF THE WORLD

Para que conste, embora tal não tenha qualquer interesse em tempo de fogo contínuo em floresta abandonada, acabei de ler PETITS POÈMES EN PROSE, de Charles Baudelaire - autor que sempre me interessou, embora nem sempre o tenha compreendido...

De todos os momentos (ou movimentos) que chamaram a minha atenção, gostaria de destacar um sob o azul cinza que me tolda a visão:

« Il me semble que je serais toujours bien là où je ne suis pas, et cette question de déménagement en est une que je discute sans cesse avec mon âme.

« Dis-moi, mon âme, pauvre âme refroidie, que penserais-tu d'habiter Lisbonne ? Il doit y faire chaud, et tu te ragaillardirais comme un lézard. Cette ville est au bord de l’eau ; on dit qu'elle est bâtie en marbre, et que le peuple y a une telle haine du végétal qu'il arrache tous les arbres. Voilà un paysage selon ton goût ; un paysage fait avec la lumière et le minéral, et le liquide pour les réfléchir !»

Não creio que Baudelaire tenha passado por Lisboa, mas parece que estava bem informado sobre os costumes, em particular, sobre a relação que os portugueses mantêm com o mundo vegetal. 

Areia, poeira e cinzas.

 

13.9.24

Quem te avisa...
teu amigo é... E ainda há quem continue a beijar-lhe a mão...e não queira perceber que há certas criaturas que nunca foram nem serão confiáveis...

Por isso relembro:

10.10.15

Ainda Marcelo, a sereia

Melhor seria que Marcelo Rebelo de Sousa tivesse explicado o que é que Portugal lhe deu e que, na verdade, não deu a muitos outros portugueses...

Este Marcelo urbano, que insiste nas raízes provincianas, apresenta-se como "vítima" da perda do Império, que lhe levou a família ao Brasil, na condição de emigrante... Há neste seu Portugal uma certa tendência para confundir o exílio político com a emigração!

O Portugal de Marcelo começa a ganhar uma substância que não é a minha. E essa substância acabará por deixar de se expor nas entrelinhas para surgir num movimento político que irá colocar-se à direita da atual Coligação PSD - CDS...

A campanha dos afetos já fora ensaiada com Marcelo Caetano como antídoto para ocupar o lugar do pai tirano e austero que governara o país durante quatro décadas. 

Agora a sereia pensa que o caminho falhado por Caetano pode ser reintroduzido para substituir o esfíngico Cavaco.

8.9.24

Essa estrada, ao volante...

Acabei de ler O Mistério da Estrada de Sintra, de Eça de Queirós e de Ramalho Ortigão, folhetim terminado a 27 de Setembro de 1870.

Dizem-me que devo considerar este mistério como o primeiro romance policial português. Quem sou eu para dizer algo de diferente? 

Durante a leitura, pressenti que Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire não andariam longe... e sobretudo, pensei que os autores desta obra seriam leitores compulsivos de tudo o que de 'romântico' e de' realista' ia sendo escrito por terras de França..., prontos a farpear costumes de que eles próprios nunca se libertariam por inteiro...

... e lá no fundo, voltou-me à memória a ideia de que toda a vida li o que me foi imposto sem qualquer critério... a não ser o de 'obra-prima', o que acaba por ocultar a matriz da maioria das obras. Flutuantes, estrelas de um universo à deriva...

Talvez seja por isso que cada vez mais se aposta no gratuito e no absurdo.

(Ficou-me o Carlos Fradique Mendes que eu imaginara surgido de outras águas, ou seria de um vulcão?

 

1.9.24

O despesismo autárquico

Mais uma empreitada! Barata, como se pode ver...

Não há dinheiro para o SNS, para desassorear os rios, mas não falta para encher os bolsos dos do costume...

Pode ser que daqui a três anos ainda lá continuem os candeeiros que já começam a bordejar... 

De qualquer modo, não saímos do ilusionismo pequeno burguês que vai engordando umas tantas tainhas ribeirinhas...

 

27.8.24

A condição do tempo


Este blogue teve, outrora, a pretensão de se inscrever no tempo, sem dele dar conta, ocupando-se, pretensiosamente, da duração...

Por incompetência ou por esquecimento, a descontinuidade instalou-se e o fio quebrou, ou os acontecimentos fúteis foram ganhando relevo e, ao mesmo tempo, perderam significado...

Sobrou, a necessidade de preencher a frágil linha do tempo... 

Esse preenchimento levou-me à leitura tardia de GUERRA e PAZ... e agora que já vou no Apêndice, cito a propósito:

... ao passo que o homem atua sempre no tempo e é arrastado pelo curso das coisas. Restabelecendo esta primeira condição, tão desprezada - a condição do tempo - vemos que a mínima ação não pode ser executada sem outra anterior, que a tornou possível.

 

25.8.24

Longe do mar...

Embora não pensar nisso possa ser anestesiante, a verdade é que a leitura de A Guerra e Paz, de Tolstoi, me obriga a pensar na cobardia dos napoleões deste tempo que invadem, ocupam, arrasam terra alheia, como se estivessem a fazer um favor a alguém... e, sobretudo, obriga-me a pensar na má-fé de historiadores, comentadores que se deixam inebriar por palavras incapazes de explicar o que quer que seja, pois a realidade não obedece a planeamentos por mais racionais que possam parecer... O melhor é ler o romance, pois ele explica bem a voragem a que todo o ser humano é submetido durante a sua curta ou longa vida.

E já agora, desconfio que o Putin nunca leu Tolstoi... e sonha com Napoleão, o pequeno...

 

19.8.24

O melhor é não pensar nisso

 

Mas eles estão por todo o lado... não fossem os rios e as montanhas, a questão nem se punha.

No entanto, não é o relevo que impõe limites, muralhas de todo o tipo. Na Natureza, não há canhões. Foi o homem que os inventou para solidificar o seu poder.

Por agora, vou soltar o barco e deixar-me ir nas páginas de Guerra e Paz, pois começo a acreditar que Tolstoi escreveu tudo o que havia a dizer sobre os jogos de poder, bélicos e todos os outros...

 

17.8.24

O Âncora corre para o mar...

Os rios correm para o mar cujas águas nunca se queixam... Por vezes, regressam alteradas, mas somos nós que as imaginamos assim.

Não fosse a sede de poder e tudo seria mais sossegado. De qualquer modo, por mor que seja a matança, a vida continua...

No intervalo, corre a depressão coletiva...

Hoje é sábado, passa o comboio, as gaivotos não deixam de planar... e é todos os dias assim.

 

15.8.24

Não se discute...

A lição é de Bertrand Russell, in A Conquista da Felicidade:

«Não se discute com um estado de alma; este pode ser modificado por qualquer acontecimento feliz, ou alguma mudança do nosso estado físico, mas nunca por um argumento.»

Pois, não duvido, mas ainda não aprendi a lição. Manhã cedo, tudo é mais claro, mas quando o vento sopra ou o calor aperta, lá vêm os inevitáveis argumentos...

Barcos em terra, à espera do quê?

 

10.8.24

Da serenidade...

Para quem procura a serenidade, isto está difícil.

Ontem fui ouvir (e ver) Dieb 13 Beatnik Manifesto na Fundação Calouste Gulbenkian, e saí atordoado... Já me esquecera que onde surge a palavra manifesto aparecem certamente rejeição e proposição.  E, assim, penso que acontece nesta produção. Desde o ralo gigante que tudo absorve à rede que tudo implode... Depois há que voltar ao som cavernoso e animalesco das origens, para desembocar num US desorientado e ambíguo...

No essencial, parece que o ralo e a rede se conjugam para nos triturar, embora andemos bem-avisados...

 

6.8.24

Hipocondríaco

Sempre que o verão avança, torno-me hipocondríaco. 

O calor esgota-me, o sol cega-me, perco o equilíbrio, as mãos incham... não suporto pesos... e até escrever se torna uma maçada....

Entretanto, leio 'os escritos sobre arte de Baudelaire' e, sobretudo, avanço na leitura da Rússia francófona de Tolstoi, fascinada pelos patéticos imperadores que dominavam a Europa... e vou pensando que, afinal, hoje, apesar de Napoleão ter deixado de ser francês, o mundo pouco mudou e que Tolstoi soube dar corpo ao fastio que minava o mundo....

E já agora acrescento que não sou insensível ao retrato que Baudelaire traça da medíocre arte francesa, embora os 'franceses' tendam a considerar-se superiores, tal como por estes dias de águas inquinadas do Sena...

 

E de Telavive, o que dizer? E de Trump, o que pensar?

- UMA VERGONHA!

 

30.7.24

Por cá...

Por cá, continua a política de satisfazer corporações com o objetivo da caça ao voto. Muitos ficam de fora, por vezes, mais habilitados e profissionais, porque não são significativos em termos de apuramento de resultados eleitorais... e o senhor presidente da República fecha os olhos.

Por cá, a insegurança aumenta porque vinga o espírito de manada... até porque as autoridades fazem vista grossa, em vez de agirem no terreno que bem sabem ser favorável à exploração e à violência.

Por cá, não se promove o desporto colectivo... basta olhar para os Jogos Olímpicos do megalómano Macron. Como bem se sabe, uma andorinha não faz a Primavera!

Por cá, anda tudo a banhos durante o ano inteiro.

Claro, há algumas exceções, mas essas não contam no apuramento dos votos.

 

28.7.24

Orquestra Juvenil Geração 2024

  • 18:00 / Esgotado

Local

Grande Auditório Fundação Calouste Gulbenkian

Orquestra Juvenil Geração

Juan Carlos Maggiorani Maestro

Santiago Ossa Alzate Maestro

Gioachino Rossini

Abertura da ópera Guilherme Tell

Anne Vitorino de Almeida em colaboração com Edison Otero

Rapsódia dos Rios, op. 93c*

Joly Braga Santos

Concerto para Orquestra de Cordas, op. 17

 

Arturo Marquez

Danzón n.º 2

Richard Wagner

Abertura da ópera Os Mestres Cantores de Nuremberga*

Peças compostas no âmbito do projeto B-Me: blending melodies, bridging cultural identities (Creative Europe, EU). Duração 60 min. (sem intervalo)

As cadeiras (e não só) estavam cuidadosamente dispostas para que o espetáculo pudesse acontecer. Só não sei quem teve o trabalho.

O concerto foi soberbo, embora me pareça que o conceito «juvenil» tende a estender-se a outras idades...

Registo o programa porque... Para bom entendedor, meia palavra basta.

 

26.7.24

Sem tréguas

Estilhaços é a palavra que mais vezes me vem à cabeça. As inúmeras vítimas dos estilhaços amontoam-se um pouco por toda a parte. 

E, nós, imperturbáveis, seguimos por um caminho, por enquanto, liberto de enxurradas, de granadas, de labaredas, de derrocadas...

Hoje, começam os Jogos Olímpicos, mas sem tréguas... Ai de nós!

Entretanto, o FBI desconfia que a orelha do Trump tenha sido atingida por estilhaços... Tanto tempo para chegar ao óbvio!

A vida é para as cigarras antes que a noite caia.

 

21.7.24

A considerar

Bem sei que não se deve brincar com assuntos sérios.

No entanto, preocupa-me que a orelha de Trump ainda não tenha sarado...

Por isso, registo, aqui, um fungo que avistei na terra portelense...

Tenho a sensação de que este fungo, devidamente abençoado e certificado, daria um enxerto perfeito, evitando, assim, o recurso à cortiça portuguesa...

 

 

 

 

17.7.24

A orelha de Donald Trump

Há orelhas famosas porque foram amputadas pelo próprio ou por alguma besta sanguinária..., mas a orelha de Trump é de outra grandeza: escapou milagrosamente à natureza do projétil. 

Os danos foram ínfimos, elevando, porém, a vítima ao Olimpo da política nacional e internacional...

Por mim, acredite quem quiser, recuso-me recuar ao tempo das hagiografias, dos panegíricos, dos encómios... 

Vou manter-me cético até me provarem o contrário.

Será que o CHEGA vai aderir à moda do penso sobre a orelha?

Será que houve intervenção da Senhora de Fátima no dia 13 de Julho? 

E eu que não acredito em milagres!

 

13.7.24

Do que é que estamos à espera?

É difícil aceitar que as guerras sejam inevitáveis, apesar de serem uma constante na história dos homens, um pouco como se sem elas a humanidade pudesse degenerar, pondo em causa a própria existência - e os sinais, infelizmente, não faltam...

Talvez seja por isso que poucos são aqueles que se revoltam contra o que se passa na Faixa de Gaza e na Ucrânia. Pelo contrário, assistimos ao reforço da corrida ao armamento em todas as suas vertentes, porque acreditamos que o 'inimigo' está pronto a destruir-nos...

Ninguém contesta, mas, paradoxalmente, não vejo qualquer apelo à instalação de 'escudos de defesa' em torno das grandes cidades, das instalações aeroportuárias, das centrais de produção de energia, das redes de água e de todas as outras redes das quais somos cada vez mais dependentes...

Do que é que estamos à espera nesta 'drôle de guerre'? 

É preciso apostar na paz, mas sem descurar a defesa. Ora, em Portugal, parece que esta questão não é assunto e, assim, o investimento na nossa proteção não irá entrar no Orçamento, ficando à espera de que os 'aliados' nos defendam.

E como deveríamos saber, sempre que os 'aliados' vieram em nosso auxílio, chegaram tarde e acabaram por nos ocupar e saquear.

 

 

 

 

8.7.24

Custa ver e ouvir, aqui, na Portela...

O novo equipamento social entrou nos arranjos finais... e não fosse alguém esquecer-se: todo o pavimento foi refeito, enquanto se procedia ao ajardinamento...

Um mês depois é o que se vê: o pavimento foi esventrado no âmbito de uma obra que certamente já estaria prevista, até porque atravessa toda a localidade...

Feitas as contas: sou levado a pensar que este modo de atuar, para além dos incómodos, acarreta custos acrescidos (3 orçamentos?) com vantagem seguramente para alguém.

Também custa ouvir a senhora procuradora-geral da república, Lucília Gago. 

Lembra-me o comportamento do INQUISIDOR-MOR no JUDEU de Bernardo Santareno... E também custa compreender a atitude do CHEGA, sempre à defesa do ministério público... cumplicidades!

 

6.7.24

O zambujeiro e o europeu de futebol

O zambujeiro é um arbusto resistente e rústico que requer pouca manutenção. 

Cresce em quase todas as zonas de clima mediterrânico.

Adapta-se a praticamente todos os solos, mesmo aos mais pobres. Prefere os terrenos calcários e ricos em nutrientes.

Resiste à seca e ao calor.

Não tolera nem a humidade excessiva nem as temperaturas baixas.

Pode crescer tanto ao nível do mar como em altitudes de 1500 metros.

Em tempo de rescaldo do europeu de 2024, prefiro fixar-me no zambujeiro que me apresentaram na Quinta das Lavandas. De enorme porte, este zambujeiro fez-me recordar outros zambujos que conheci em terrenos que palmilhei em criança e que, para sempre, ficaram associados a propriedades que davam pelo nome de Zambujeira...e onde as crianças trabalhavam duramente, como se não existisse outra forma de vida....

Quanto à eliminação do europeu, fico-me pela ideia de que há zambujeiros que secam o terreno em que medram... como se fossem insubstituíveis... Espero que o tempo que se avizinha possa ser de mudança...

 

3.7.24

Quinta das Lavandas, a 4 quilómetros de Castelo de Vide

Tudo parece ser executado segundo um plano bem amadurecido, mesmo que São Pedro tenda a esquecer-se desta região. 

São, agora, 21:45, e o senhor Estevão ainda não terminou a rega das árvores que foi plantando nos últimos anos, e fá-lo com o máximo cuidado de modo a evitar qualquer desperdício... e, se solicitado, conta a história de cada arbusto, sobretudo quando o enraizamento é mais difícil do que seria de esperar... 

(o tempo passa, e a rega continua...)

Da senhora Teresa Maria, a esta hora, já não oiço a voz, mas não tenho qualquer dúvida de que o empreendimento muito lhe deverá: o seu espírito geométrico tudo ordena e supervisiona.

Por aqui até os rochedos abrigam ciprestes, num particular apelo à vida... longe da política e do bulício citadino.

Já passa das 22 horas e no terraço já é possível ver as primeiras estrelas... para além do zumbido da noite, atravessado por um distante e audível avião a caminho da Europa... como se nós estivéssemos fora.

Por ora, a temperatura fixou-se nos 26 graus... o que me obriga a esperar que as estrelas se mostrem no seu esplendor...

 

2.7.24

Viagem breve...

Viagem breve, mas diversificada e dependente dos limites humanos... Da Quinta das Lavandas a Castelo de Vide... um registo sem o canto dos pássaros e o zumbido das abelhas, aos milhares...

 

28.6.24

Dos ciprestes, meus vizinhos...

Na foto, o homem subiu à arvore para a amputar. Não se trata de cortar ramos secos até porque tal não ocorre a não ser que as raízes sequem... Na sequência do desbaste, o tronco acabará por ser cortado em segmentos de igual porte... o mesmo acontecerá aos restantes ciprestes...

Não conheço o motivo que levou o pelouro dos jardins a tal procedimento. Só sei que não houve escândalo público, a não ser o de uma portelense que resolveu fazer uma reportagem (em direto) para contestar tal atentado, no seu entendimento... Desconheço o canal, só sei que, mais tarde, a senhora revoltada me interpelou sobre se eu estava de acordo...

E eu lá fui dizendo que, se calhar, as raízes dos ciprestes se teriam infiltrado nas garagens do edifício... e ainda fiquei a pensar na reação dos mortos à presença de tais vizinhos. 

 

 

 

27.6.24

Com o Putin à Janela

Isto de ser 'segundas escolhas', por mais que se proclame o contrário, desmotiva: perde-se o ritmo e falha-se sem motivo ... a não ser que se queira dar uma alegria ao adversário... 

Afinal, a vida dos georgianos não é fácil, com o Putin à janela.

Só não entendo, por que motivo o Cristiano Ronaldo entrou em campo.

Agora, vem aí a Eslovénia, com o senhor JAN OBLAK à baliza!

 

23.6.24

Por aqui tudo sossegado

No Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo, tudo sossegado. Resquícios de limpeza dos canais e dos sapais e, sobretudo, aproveitamento do pasto ali existente em grande quantidade.

Hoje, a maré ia vazia, as aves tinham migrado, provavelmente, para o Rock in Rio... só alguns patos reais se mostravam, para além de uma garça...

Na cafetaria, os clientes de passagem aproveitavam a sombra e a cerveja. De referir, ainda, dois pescadores cada um com duas canas... e lá mais para o sul, fervilhavam os picnics... Deixá-los em sossego! 

 

19.6.24

Junho é assim...

 Praia e futebol.

Pelo menos, em Cascais. Trânsito caótico; restaurantes e esplanadas a abarrotar…e obras e mais obras... A maioria dos transeuntes é estrangeira.

 

18.6.24

Não quero acreditar

Começou o campeonato da Europa... e Portugal entra a perder. Parece que ´'meter' os velhos é solução, mas estão muito enganados... Se emendarem a mão, pode ser que eu volte a acreditar...

Há por ali demasiada ferrugem!

(Por fim, o JOVEM Francisco Conceição resolveu.) 

 

 

15.6.24

O pouco o que tenho a dizer

Terminei a leitura da Odisseia, de Homero. Finalmente, Ulisses regressou a casa, mas sem ter fundado Lisboa. A preocupação dele não era ficar, mas, sim, contornar os obstáculos humanos e, sobretudo, divinos... Nós é que nos imaginamos fundadores por decreto divino, porém a realidade é bem diferente...

Entretanto, durante a viagem de regresso a Ítaca, fui lendo O Tartufo, de Molière, esse bem mais próximo de nós: em nome de Deus, tudo fazia para enriquecer, apoderando-se dos bens dos mentecaptos que lhes surgiam ao caminho, e há cada vez mais! 

E sem que a odisseia tivesse terminado, iniciei a leitura de Meu Pai, O General Sem Medo - Memórias de Iva Delgado. Lê-se com interesse, mas a ação do General acaba por ficar na sombra: bom pai e bom marido, até ter partido para o exílio no Brasil... Há que proteger os seus! E ficar bem na memória...

Comecei, há dias, a ler A Guerra e Paz, de Tolstoi... e ainda não sei bem o que pensar...

(Estou quase pronto a voltar à Escola, mas ainda não recebi convite. Parece que o Sr. Ministro da Educação quer que os professores aposentados retomem a carreira. Só não diz até que idade! Se for até aos 70 anos, ele que se apresse!)

 

8.6.24

Falar e errar, sem culpa, livremente... com olhos e boca

I

Almeno:

Da minha idade tenra, em tudo estranha,

Vendo (como acontece) afeiçoadas

Muitas ninfas do rio e da montanha,

Com palavras mimosas e forjadas,

Da solta liberdade e livre peito,

As trazia contentes e enganadas.

Écloga II

II

Oh! Quanto já que o Céu me desengana!

E eu sempre porfio

Cada vez mais na minha teima insana!

Tendo livre alvedrio;

Não fujo o desvario;

E este que em mim vejo,

Engana co’a esperança meu desejo.

Ode à Lua

III

Amada Circe minha

(Posto que minha não, contudo amada),

A quem um bem que tinha

Da doce liberdade desejada

Pouco a pouco entreguei,

E, se mais tenho, inda entregarei

Ode IV

 IV

Quem pode ser no mundo tão quieto,

Ou quem terá tão livre o pensamento,

Quem tão experimentado e tão discreto,

Tão fora, enfim, de humano entendimento

Que, ou com público efeito, ou com secreto,

Lhe não revolva e espante o sentimento,

Deixando-lhe o juízo quase incerto,

Ver e notar do mundo o desconcerto?

(…)

Que, por livre que seja, não se espante?

(…)

Dir-me-eis que, se este estranho desconcerto

Novamente no mundo se mostrasse,

Que, por livre que fosse e mui esperto,

Não era de espantar se me espantasse;

(…)

Ó inimigo irmão, com cor de amigo!

Pera que me tiraste (suspirava)

Da mais quieta vida e livre em tudo

Que nunca pôde ter nenhum sisudo?

Oitava I

 V

Assim vós, Rei, que fostes segurança

Da nossa liberdade, e que nos dais

De grandes bens certíssima esperança:

Nos costumes e aspeito que mostrais

Concebemos segura confiança

Que Deus, a quem servis e venerais,

Vos fará vingador dos seus revéis.

E os prémios vos dará que mereceis.

Oitava III, Sobre a seta que o Santo Padre mandou a el-Rei D. Sebastião, no ano do Senhor de 1575

 VI

E se quiser saber como se apura

Nũa alma saudosa, não se enfade

De ler tão longa e mísera escritura.

Soltava Eolo a rédea e a liberdade

Ao manso Favónio brandamente,

E eu já a tinha solta à saudade.

Elegia I

VII

Se quero em tanto mal desesperar-me,

Não posso, porque Amor e Saudade

Nem licença me dão pera matar-me.

Elegia II

 

VIII

Que pois já de acertar estou tão fora,

Não me culpem também se nisto errei.

Sequer este refúgio só terei:

Falar e errar, sem culpa, livremente.

Triste quem de tão pouco está contente!

Com ter livre-arbítrio, não mo deram,

Que eu conheci mil vezes na ventura

O melhor, e o pior segui, forçado.

Canção X

CAMÕES, 500 anos

 

4.6.24

Um sinal...

O seu a seu dono, costumava dizer-se... Lição esquecida, apesar de tempos a tempos irromper um sinal de esperança...

Por agora, vou vivendo o choque da descontextualização: da apropriação de situações, intencionalmente deformadas, e que dão corpo à fantasia, bem distante da verdade.

Para que a ambiguidade não ocupe toda cena, o melhor é ler a Ilíada e a Odisseia do enigmático Homero... De facto, as histórias que nos foram contando como originais, são, afinal, imitações, e nem as descidas aos infernos se salvam - ver Ulisses no Hades.

E claro, não fossem as criaturas dos universos superiores e inferiores, não teríamos tantos heróis.... Essas criaturas é que tudo decidiam!

 

2.6.24

Por pouco...

(Pormenor do Jardim Bordalo Pinheiro, no Palácio Pimenta, no Campo Grande...)

Para lá do jardim, uma transeunte incauta... No interior, o espaço decorado pela Joana Vasconcelos, maneirista para os olhos e artificial, como seria de esperar nestes tempos sem alma...

A condizer, os pavões, vaidosos... em jogos de sedução intermináveis... E claro, discretas e envergonhadas, as estátuas de Carmona e da Verdade...

E depois há as revoluções, com sinal de stop vermelho... por pouco, não fiquei à espera de que ele passasse a verde...

 

29.5.24

Por cumprir...

As amoras não chegam a amadurecer: os pássaros comem-nas todas.

Neste caso, a culpa não é das amoreiras: os pássaros não quiseram ou não puderam esperar.

Deve haver uma ordem superior que permite este incumprimento, e que as amoreiras não podem contestar.

No debate político, há muitas acusações de incumprimento, mas raros são aqueles que responsabilizam as aves famintas ou, em último caso, o superior interesse de forças que vivem em negras nuvens....

Por ora, as promessas abundam, como se as amoreiras estivessem obrigadas a ceder os frutos... talvez seja por isso que há tantas árvores que não chegam a frutificar.

 

27.5.24

Agostinho da Silva

 «Aqui o que presta é o povo, as elites não valem nada.»

Por Guilherme de Melo, Diário de Notícias 9 de abril de 1993

Foi no decurso da década de 80 que Agostinho da Silva emergiu do relativo esquecimento em que (injustamente) o haviam mergulhado e se tornou figura imprescindível em tudo quanto nesta cidade significasse debate, seminário, encontro de cultura…

Encontro de G. M. com Agostinho da Silva no 3ºandar da travessa do Abarracamento de Peniche, ao Príncipe Real, onde há quase 25 anos habita. Ali reside desde 1970, após o seu regresso do Brasil, onde viveu durante os largos anos do regime salazarista.

No Brasil trabalhou com muitas personalidades, entre elas, o embaixador brasileiro em Lisboa, José Aparecido, e Jânio Quadros (presidente do Brasil, em 1961 – renunciou ao cargo) … «o Jânio apostou tudo na maneira o Brasil e África se poderiam interpenetrar».

A. S. defende que é «na força e sentir do povo que está de facto o que um país é ou que não pretende ser.» Defende que uma «reformulação de Portugal não vem como alguns pensarão, nem de Belém nem de São Bento, vem das freguesias.»

Por aqueles dias, traduzia Vergílio e Horácio.

A utopia de Agostinho da Silva: a) o sonho de um triângulo atlântico que ligasse Lisboa Luanda e Rio de Janeiro. B) a escola deveria ser um local aberto, onde todos pudessem, simultaneamente, ensinar e aprender. c) o Brasil é a terra onde Portugal podia ter sido verdadeiramente ele próprio, terra livre, de homens livres.


Por Fernando Dacosta, 4 de abril de 1994

George Agostinho Baptista da Silva faleceu no dia 3 de abril de 1994. Nascera a 13 de fevereiro de 1906, no Porto.

As condolências foram sobretudo prestadas ao Filho - Pedro da Silva, professor na Baía -, e a Maria Violante Vieira, presidente da UNICEF em Portugal…

Agostinho da Silva, pai de 8 filhos, a viverem na Suíça, Brasil, Grã-Bretanha e Portugal.

Doutorou-se na Sorbonne com uma tese sobre Montaigne. Em Paris, conheceu António Sérgio, Raul Proença, Jacinto Simões (pai) e Jaime Cortesão, aí exilados.

Iniciou a docência na Faculdade de Letras do Porto, entretanto extinta por Salazar. Na sequência foi para Madrid e no regresso a Portugal foi colocado no Liceu de Aveiro. Demitido do ensino oficial, fixa-se em Lisboa – recusara «jurar não ter pertencido ou pertencer a qualquer associação secreta».

A PIDE prende-o. A ditadura exila-o. Uruguai, Argentina, Estados Unidos, Brasil, África, Ásia. Funda 4 universidades no Brasil e vários centros de estudos superiores. Acompanha a construção de Brasília. Torna-se amigo dos presidentes Jânio Quadros e Juscelino. Liga-se à oposição portuguesa, a Sarmento Pimentel, a Rui Luís Gomes, a Rodrigues Lapa, a Casais Monteiro, a Jaime Cortesão. Casa com a filha deste, Judite Cortesão, em segundas núpcias.

Ensina um pouco de tudo: Filosofia, Geografia, Biologia, Sociologia, Antropologia, Botânica, Literatura, História, Teatro – Glauber Rocha é um dos seus discípulos mais veementes.

Marcelo Caetano autoriza-lhe, em 1968, o regresso.

Formação de base: filologia românica. Traduz (sabe 15 línguas) do latim as obras de Vergílio e de Horácio e de Catulo…

«Temos de fazer da nossa vida uma ficção para conseguirmos torná-la suportável.»

Para Agostinho da Silva, cultura: «é comer direito, vestir decente e habitar seguro».

Agostinho da Silva, autor de Considerações / Os meus problemas


A PHALA – entrevista

a) Uma economia comunitária, até D. Afonso IV. A Europa entrou em Portugal com D. Afonso IV, matando Inês de Castro em obediência à razão de Estado, começando assim a tristeza de Portugal…

b) Um governo coordenador

c) A educação pela experiência. O mundo só sai da doença que é a Escola, a máquina para domesticar a criança que quando nasce é genial, quando as crianças puderem continuar a fazer as perguntas que têm lá dentro ansiosas por se soltarem em vez de aprenderem de cor as respostas convenientes para passarem nos exames e triunfarem na vida tal como ela está montada.

d) A metafísica – a figura da Trindade – o Espírito Santo. A Europa embarcou nos nossos navios e trouxe consigo a economia capitalista. Passámos a ter um governo autoritário, educação pelo livro, religião do previsível. Roma torna a pôr a mão em Portugal. Acabou esse fantasma da Pomba. Até os navios deixam de se chamar Espírito Santo.


O princípio de Heisenberg na Física Quântica: O mundo é imprevisível, incerto.
«Aqui o que presta é o povo, as elites não valem nada.» «Entendo por modernidade o tempo em que vivo. (…) é aquilo que está na moda.»

23.5.24

Ferrugem

Fui visitar o Parque da Tapada da Ajuda. 

Fiquei com a ideia de que os futuros agrónomos aprendem o cultivo da vinha, a tratar dos olivais e de outras espécies vegetais... só não aprendem é a eliminar a ferrugem do Pavilhão das Exposições, inaugurado pelo rei D. Luís em 1884 - estrutura em ferro e vidro...

Grande foi o investimento, só que a manutenção e o aproveitamento são descurados neste país de megalómanos, narcisistas e desleixados...

 

19.5.24

Fantasma digital


Estou a ler um livro deveras interessante: Fantasmas digitais, de Davide Sisto.

Como já cheguei a uma idade que me permite pensar o que ocorrerá com o meu desfecho biológico, isto é, com o meu regresso à matéria inicial, seja de forma lenta ou acelerada, sempre breve... este livrinho levanta-me, agora, o problema se vale a pena eliminar, ou, pelo menos, ocultar a minha mísera presença digital, sob a forma de fantasma digital, que ficaria por cá a incomodar os vivos, criando-lhes a ilusão de um diálogo, que, afinal, nunca seria autêntico, por mais dados que tivessem sido convocados para a construção de um hipotético holograma... a não ser que este fantasma digital mais não fosse que um Homero capaz de deixar obras fantásticas como a Ilíada e a Odisseia.

Em síntese, o melhor é começar a apagar a pegada digital, porque falta a obra que pudesse circular na dimensão dataísta.

 

15.5.24

Triste fortuna!

Triste sina: depois da cadeia, de um olho manco, dos defuntos da índia, de um naufrágio no índico, da vala comum, da falsificação biográfica... agora nome de anunciado aeroporto em Alcochete!

O que mais poderá acontecer ao Poeta!

Talvez, Camões tenha nascido na margem sul do Tejo!

Por estas horas, o José Sócrates, não fosse o nevoeiro da Ericeira, já teria avistado o paquete engalanado da TROIKA...

 

 

 

12.5.24

Serão amoras?

Heitor já morreu às mãos de Aquiles, embora quem tenha decidido não tenha sido nem a vontade nem robustez dos heróis... foram os pérfidos deuses do Olimpo, provavelmente inventados para apaziguar a morte dos homens... 

(Já cheguei ao Canto XXIII da Ilíada. E ainda há quem se queixe dos 10 cantos d'Os Lusíadas!) 

Fico-me, entretanto, pelo mistério das amoreiras. Conheço, perto de mim, várias, mas nunca lhes vislumbro frutos. Só que, inesperadamente, descobri uma, carregada de amoras, num atalho...

Desconfio que Deméter se está a aproveitar da minha ignorância... 

Ignorância minha: cheguei ao fim do Canto XXIV da Ilíada e o cavalo de Troia não apareceu. 

Quem apareceu foi o melro que não espera que os frutos amadureçam.

 

9.5.24

A Casa dos Estudantes do Império (CEI) (1944-1965)

A Casa dos Estudantes do Império foi criada por sugestão de um ministro das Colónias de Salazar, Francisco Vieira Machado. Mas acabou por ser apelidada por um inspetor da PIDE de «alfobre de elementos anti -situacionistas». O Estado Novo acabou por extingui-la em 1965.

Em 1943, entre um grupo de estudantes oriundos de Angola, surge a ideia de criar, em Lisboa, a Casa dos Estudantes de Angola. Da comissão organizadora fazem parte Alberto Marques Mano de Mesquita e Ângelo José Vidigal Dias, da Faculdade de Direito; Carlos Torres de Sousa Júnior, Manuel Seabra de Azevedo e Emílio Freire Leite Velho, da Escola Superior de Medicina Dentária; Alberto Pereira Diogo e Acúrsio de Sampaio Nunes, do Instituto Superior Técnico. A iniciativa tem o apoio do comissário nacional da Mocidade Portuguesa, o que vale a Marcelo Caetano o título de presidente de honra da Casa.

Os estudantes de outros cantos do Império seguem o exemplo dos angolanos, o que desagrada ao regime, defensor da ideia de «unidade da nação portuguesa».

Assim, numa visita à Casa dos Estudantes de Angola, realizada a 3 de junho de 1944, o ministro das Colónias Francisco Vieira Machado, na presença de Marcelo Caetano e dos representantes das outras associações (Aguinaldo Vieira, de Cabo Verde); Vasco Benito Gomes da Índia; Gonçalo de Sousa e Macedo Mesquitela, de Macau; e Francisco Maria Martins, de Moçambique), formaliza a proposta de fusão de todas as Casas na Casa dos Estudantes do Império (CEI).

Em Outubro de 1944, a CEI-sede começa a funcionar, sob a presidência de Alberto Marques Mano de Mesquita, no n. º1 da Rua da Praia da Vitória, ao Arco do Cego. Mas, no mês seguinte, muda-se para o n.º 23 da Avenida Duque de Ávila, onde vai permanecer até à sua extinção. Por essa altura, abre também uma delegação em Coimbra.

Logo em janeiro de 1945, na abertura de um ciclo de palestras promovido pela CEI, sob o patrocínio da MP, Marcelo Caetano revela aquilo que o regime espera da Casa: que contribua para o «triunfo do espírito português», trabalhando em prol da formação colonial da juventude.

No entanto, quase todos os elementos dos corpos gerentes da Casa para o ano letivo 1945-46 assinam as listas do Movimento de Unidade Democrática (MUD) e juntam-se a partir de 1946, ao MUD Juvenil.

Em 1948-49, encontramos novamente os estudantes que dirigem a CEI ao lado da oposição, a favor da candidatura de Norton de Matos.

Em meados de 1950, os membros da secção da Índia da CEI recusam subscrever uma declaração de repúdio pelas afirmações de Nehru hostis à política portuguesa na Índia.

Na viragem para os anos 50, a CEI começa a estruturar-se como um espaço de socialização antissalazarista, de re (descoberta) da cultura africana, de denúncia do colonialismo, onde se formam politicamente alguns dos futuros dirigentes dos movimentos de libertação: Amílcar Cabral, Marcelino dos Santos, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade, Vasco Cabral.

A 30 de Maio de 1952, o Governo nomeia uma comissão administrativa que irá dirigir a Casa até 1957: «Nada contra a nação, tudo pela nação.»

Segundo o novo regulamento, homologado pela Mocidade Portuguesa em 7 de fevereiro de 1957, a Casa dos Estudantes do Império deixa de se organizar em secções (consideradas pelo regime focos de nacionalismos) e não pode interferir em assuntos de carácter político.

A secção editorial da CEI, sob o impulso de Carlos ErvedosaFernando Costa AndradeFernando Mourão e Alfredo Margarido, publica antologias de poetas e contistas angolanos (1959 e 1962), de poetas de Moçambique (1962) e de São Tomé e Príncipe (1963). Obras de Luandino Vieira, Mário António, Viriato da Cruz, António Jacinto, Agostinho Neto e José Craveirinha figuram na Coleção Autores Ultramarinos. Através do seu boletim “Mensagem”, dirigido entre outros por Tomás Medeiros, revela muitos dos mais importantes escritores africanos e põe a circular textos anticolonialistas.

Por volta de 1960, a CEI tem cerca de 600 sócios, uma cantina que serve uma média de 200 refeições diárias, um lar com 14 residentes, uma biblioteca, um salão de jogos e um posto clínico. Além da sede em Lisboa e da delegação de Coimbra, funciona também uma delegação no Porto (criada em março de 1959).

Em 1960, na CEI – Coimbra, surge um manifesto intitulado “Mensagem ao Povo Português” que revelava as acusações feitas na ONU contra a política colonial portuguesa e propunha o imediato reconhecimento do direito dos povos das colónias à auto-determinação.

A delegação da CEI, no Porto, foi encerrada em janeiro de 1961.

Apesar da vigilância da PIDE e da ingerência da comissão imposta pelo Governo, a CEI é um dos lugares em que se prepara a saída de Portugal de várias dezenas de estudantes africanos que irão juntar-se aos movimentos de libertação.

Em Março de 1962, tendo as comemorações do dia do estudante sido proibidas, a CEI associou-se ao luto académico. Durante a crise, a CASA disponibilizou as suas instalações..., levando a PIDE a invadir a sede... A CEI é extinta em setembro de 1965.

Entretanto, em 1963, tinham sido criados os Estudos Gerais Universitários em Angola e Moçambique

Nota: Em 21 de Maio de 1965, o Ministro da Educação Nacional determinou a extinção da Sociedade Portuguesa de Escritores (SPE). Na semana anterior, o Grande Prémio de Novelística fora atribuído a “Luuanda” do escritor José Luandino Vieira.3 O premiado era membro do MPLA e estava preso no campo de concentração do Tarrafal, acusado de atentar contra a “segurança do Estado”.4 (ver envolvimento do Jornal do Fundão através de Alexandre Pinheiro Torres, um dos membros do júri).

1 - Em Janeiro de 1992, foi criada a Associação Casa dos Estudantes do Império. Objectivo: preservar e difundir o legado cívico e cultural da CEI... Personalidades envolvidas: Orlando de Albuquerque, Vítor Evaristo, Luís Pollanah, Carlos Eduardo Ervedosa, Fernando Costa Andrade, Alfredo Margarido, José Ilídio Cruz, José Manuel Vilar.

2 - Celestino Marques Pereira (O ensino colonial da Juventude) deseja mesmo que a CEI seja uma filha da Mocidade Portuguesa.

3 - Foram também premiados Isabel da Nóbrega (romance) e Armando Castro (ensaio).

4 - ver Entrevista a Luandino Vieira, no Público de 15/5/1995.

5 - Xavier de Figueiredo – Jornalista, Público, 8 de Maio de 1994.

 

Dias sem espiga

(No dia da espiga, com a advertência de que há espigas falsas e outras artificiais...)
Os dias surgem como novos, mas, afinal, repetem histórias antigas, cheias de manha, infantis.

Agora, há um montenegro que proclama que está a gostar de governar, e ainda há dois ou três dias vislumbrei um dois bispos ao lado de um pinto da costa e de um moreira... e aparentemente a cerimónia não era fúnebre...

De qualquer modo, as notícias são por ora de um castelobranco, personagem grotesca, impedido de se aproximar de uma velhinha rica de 95 anos, por supostos ou reais maus-tratos, como se a Ucrânia ou Faixa de Gaza fossem coisa menor ou se as alterações climáticas não estivessem a ceifar definitivamente o pão a muitos milhões de criaturas, pouco importando a racionalidade, o género, a cor, a religião...

 

5.5.24

Errância

Comme la marginalité, l’errance s’articule d’emblée sur la notion d’espace. En effet, l’errance au sens propre du terme se définit par la création d’un parcours sans objectif, non orienté dans l’espace. Elle renvoie à une double étymologie : errer, c’est d’abord aller çà et là sans but mais aussi marcher (illinere) ; puis à partir du XIIè siècle, errer a pour principale signification l’idée de se tromper. Dès lors, l’errance semble reposer sur une erreur fondamentale. Phénomène d’attraction et de fascination généré par l’espace, elle fonctionne selon le schéma du chant trompeur des sirènes (Homère, Odyssée), de l’appel de la forêt et autres séducteurs dont on ne revient pas. Cependant, contrairement à la marginalité qui renvoie à un lieu fixe, un centre opposé à la périphérie, l’errance renvoie à un espace ouvert où s’effectue la déambulation, sans but précis de l’errant. L’errance se distingue donc nettement du voyage ou de la promenade.

Pois é: parece que ninguém reconhece que se pode enganar... É só certezas. E se nos enganássemos no caminho?

 

3.5.24

Uma boa ação da CARRIS

Ao fim de muitos anos, a CARRIS descobriu que servia mal a PORTELA (LRS)...

Agora, os portelenses já podem recorrer aos autocarros 722, 728 e 731 para se deslocarem de e para Lisboa, com melhor ligação ao METRO.

E também já podem sair de casa ao fim de semana e nos feriados. 

Levou tempo, mas o serviço está a melhorar...

Só falta aprender a gerir o 728, de modo que o autocarro não 'desapareça' ou não surjam três de cada vez... em particular no fim de semanal ou nos feriados. Por outro lado, também, seria útil que a APP CARRIS não fornecesse informação errada...

 

8.4.24

Mais azul

Diria que o dia surgiu mais azul, mais leve... mesmo que os pingos de chuva nos molhem os cabelos... O bispo de Setúbal ficou livre de vassalagem, e o Porto, progressivamente, vai recuperando a liberdade de que tanto se orgulha.

(...)

À noite, o azul começou a empalidecer, não fosse o vermelho ganhar ânimo. O verde beneficia em toda a linha.

 

25.4.24

O divino MRS

O MRS de Eça seria divino, mas não escaparia a umas valentes bordoadas. E se fosse o MRS de Bordalo, como é que seria?

Em visita às Caldas, o bonecreiro ocuparia a fábrica do Zé Povinho, e depois de múltiplas selfies, sairia de lá com um mealheiro gigantesco para que o rústico Montenegro possa começar a pagar a dívida colonial. 

Filisteu diletante, às voltas com uma consciência serôdia, tudo faz para descartar a responsabilidade dos seus actos. O problema é que o seu Deus é impiedoso!

 

23.4.24

Adormeci no charco...

 Adormeci no charco, não consigo sair da Guerra de Troia... Os deuses insistem em impor a sua vontade aos homens... e estes insistem em obedecer-lhes...

A insistência tornou-se comportamento dominante - previsível ou não. Por exemplo, o Ventura insiste em governar com o Montenegro, e este insiste em roubar-lhe o eleitorado, com o lançamento do 'disruptivo' Sebastião Bugalho, naquele fatinho encomendado pelo Moedas...

Por seu turno, o Pedro Nuno Santos insiste na Marta Temido, provavelmente convencido de que os sobreviventes da Covid lhe estarão eternamente gratos...

Na Guerra de Troia, os deuses de Homero têm os meios para impor a sua vontade aos homens... Por aqui, nem a previsibilidade nem a imprevisibilidade conseguirão fazer-nos sair do charco.

Quais náufragos de águas estagnadas, por estes dias, lançamos cravos à liberdade, como se fosse possível voltar atrás.

 

19.4.24

Olhando da janela alta

Só olho de soslaio, porque, de facto, estou a ler a crónica de Rúben Braga, Homem olhando a janela alta... (Para os interessados, Rubem Braga, Desculpem Tocar no Assunto, edições Tinta da China.)

Lá no alto, o homem avista a senhora "que não se pode alcançar" - nem voando para o equívoco peitoril da janela... "Atrás de uma árvore sem graça um homem sem graça olha uma janela alta."

Perguntaram-me um destes dias por uma ambulância e pelos polícias que a acompanhavam... Eu não soube responder, porque da minha janela alta não vislumbro o que acontece na entrada do edifício.

A minha atenção já só segue o rasto dos aviões, na expectativa de antecipar a chegada dos drones e dos mísseis... 

 

18.4.24

O sorriso

Quem observa o Montenegro, desconfia daquele sorriso inocente, de espanto, de novidade.

É estranho: o sorriso não corresponde àquele apelido. Só que bastam poucos segundos, para que o tom desfaça o efeito do sorriso... palavras estudadas propalam o suave veneno que corrói a alma do Montenegro. 

A encenação sobrepõe-se irremediavelmente à candura anunciada.

 

16.4.24

Os intocáveis

Vivem numa redoma blindada. E agem como se fossem intocáveis... Visitam-se uns aos outros, como se fossem amigos de longa data... e traçam, em segredo, planos para destruírem todos os que os contrariem...

Agem em nome de religiões obsoletas ou de ideologias totalitárias. O objetivo é sempre o mesmo: conquistar cada vez mais poder... até que, um dia, os amigos devorar-se-ão entre si...

Até lá, o que é triste é ver que as vítimas internas e externas lhes prestam vassalagem..., chegando ao ponto de os idolatrarem, mesmo quando, supostamente, vivem em democracia...

 

14.4.24

O que eles querem...

De Teerão a Telavive, o que eles querem é manter o poder... pouco lhes importa quem é sacrificado. O problema é que os candidatos à hecatombe continuam a aceitar o ludíbrio dos deuses, quaisquer que eles sejam.

(Para apaziguar os deuses, nas hecatombes, sacrificavam-se muitos bois e uns tantos cordeiros...)

Para me purificar, vou continuar a ler a Ilíada... havia barcas de todos os tipos e velas de todas as cores; a força era desproporcional, sobretudo, quando os deuses se envolviam nas batalhas; os heróis, semideuses, eram caprichosos, pois, em regra, já sabiam o que os esperava; a cada batalha, as piras cresciam incendiando as noites de outrora...

Por aqueles dias, do verde os arautos pouco informavam...

 

11.4.24

Plano inclinado

Está cada vez mais difícil entender o que se passa na vida pessoal, familiar e coletiva. Parece que estamos num plano inclinado, em que o dia seguinte é pior do que o anterior. Ainda se tudo não passasse de um charco com abertura para o areal, mas nem isso.

É como se uma força ignota nos tivesse condenado, sem que possamos inverter o caminho. E, claro, insistimos em celebrar a Liberdade, os dias, cegos pela nossa impotência e, sobretudo, pela nossa soberba.

(O pessimista está de regresso, às voltas com papéis que não consegue arrumar, porque perdeu o fio condutor. Provavelmente, nunca percebeu que o fio era muito frágil e curto. E a ignorância não explica tudo!)

 

8.4.24

A morte anunciada de Lumumba

A 30 de Junho de 1960, o Congo conquista a independência.

 Patrice Lumumba diz ao rei da Bélgica, Balduíno I, que a independência do seu país é um passo decisivo para a libertação de todo o continente africano, e dita, com estas palavras, o próprio destino. Nomeado primeiro-ministro em exercício, passa a viver em regime de residência fixa depois de um golpe de estado liderado pelo coronel Mobutu e apoiado pela CIA. A 28 de Novembro de 1960, Lumumba tenta evadir-se, mas é preso logo em seguida, a 2 de Dezembro, em Port Francqui. Transportado num DC3 para o aeroporto de Léopoldville, Lumumba é violentamente empurrado para dentro de um camião. Um soldado puxa-lhe a cabeça com força para trás a fim de proporcionar uma melhor perspectiva do seu rosto aos fotógrafos. Foi a última foto de Lumumba vivo.

A 18 de Agosto de 1960, o Conselho de Segurança, em Washington decidira eliminá-lo, enquanto os militares belgas apoiavam Moisés Tshombé, que anunciara a secessão do Catanga...

Feito prisioneiro e depois entregue aos seus inimigos do Catanga, o arauto do nacionalismo africano é torturado até à morte, a 17 de Janeiro de 1961. O corpo nunca foi encontrado.

 

5.4.24

Os mandantes e os ajudantes

Tomaram posse 41 ajudantes. Creio que, na sua maioria, vão precisar de muita ajuda. Por mim, tudo farei para não incomodar suas excelências...

E também não lhes vou pedir nada. Estou bem assim. 

O meu único desejo é que Zeus nos liberte de Sua Excelência, o verdadeiro responsável pela instabilidade em que vivemos. 

E já agora espero que as celebrações dos 50 anos do 25 de Abril sejam discretas e não ações de propaganda como acontecia no Estado Novo.

 

 

3.4.24

De regresso

 Em nome do futuro, o antigo logótipo do governo está de regresso ...

E creio que assim acontecerá com as restantes medidas, todas inspiradas no passado. Virtuoso, por aquilo que se anuncia...

Eu, porém, não consigo acompanhar este ímpeto regenerador. Por mais que me esforce, o passado não me resolve problema algum... Gostava, no entanto, que a propaganda diminuísse ... e que o Pedro Nuno Santos não me entrasse pela casa dentro naquele tom acelerado e gritado. Incomoda-me. Obriga-me a desligar a Televisão.

 

1.4.24

1 de abril de 2024

Hoje é dia de seca. Por uma questão de princípio, ninguém me vai arrancar uma palavra. Amanhã, sim, volta a chover.

E já passaram 4 anos que deixei a vida activa! Parece mentira...

 

29.3.24

em letra pequena...


É visceral: odeio o calor e a seca. Como tal, neste mês de março, não me queixo nem sequer dos políticos.

Não se entendem, compreendo. Passam demasiado tempo ao sol!

Agora que estou a ler a Ilíada, percebo que os políticos, tal como os guerreiros do tempo homérico, apesar de valorizarem a força e a manha, não passam de bonecos manipulados por deuses caprichosos, sedentos de sangue humano.

Um único conselho para os meses que se avizinham: não se esqueçam de Zeus!

 

22.3.24

A lei das marés

A maré vai começar a encher e os detritos ficarão, por um tempo, submersos. Estejamos atentos ao que ela nos traz!

Inevitavelmente, a maré voltará a vazar e detritos voltarão à tona.

É impossível escapar!

(Ainda pensei que se tratasse de um arado cansado de sulcar o mar da palha...)

 

18.3.24

Nuno Júdice, são as flores que ficam...

 (29-04-1949 - 17-03-2024)

Nunca fui próximo do Nuno Júdice, embora me tenha cruzado com ele várias vezes num lugar que merecia a sua atenção: a Escola Secundária de Camões. Talvez porque se mantivesse fiel às suas antigas (os) alunas (os) ou aos companheiros (as) de viagem. 

Pareceu-me um homem tímido..., como se pedisse desculpa ao chão que pisava... na verdade, talvez fosse bem diferente. No entanto, eu não me aproximei... deixava-o com os amigos.

Creio que, nesta hora, o melhor que posso fazer é transcrever o soneto RAMO, da obra O Breve Sentimento do Eterno:

Vejo a erosão das palavras na Terra

da frase. Transformam-se em lama;

misturam-se com as folhas. Um húmus

de sílabas alimenta o verso.

 

Com a primavera, o poema nascerá;

e as suas flores cobrirão o campo

com um brilho transparente, deixando

ver o interior de cada imagem.

 

Corto-as do caule para fazer o ramo

que ponho no vaso da estrofe,

para que não sequem nem murchem.

 

São as flores que ficam, as que

duram para o inverno, as que

resistem ao vento, à angústia, à morte. 

 

14.3.24

Os sinais poderiam ser de Primavera

As flores estão aí! No entanto, os cravos murcharam. E a culpa não é dos capitães... é de quem se deixa convencer de que há soluções fáceis.

De pouco servirá celebrar os 50 anos de Abril, se a contrarrevolução está em marcha acelerada. E para a maioria, este caminho é de futuro...

Triste futuro este que se avizinha!

(Por mim, fica a esperança de que esta ilusão se desvaneça rapidamente, até porque, ao contrário do que muitos acreditam, desta vez não estaremos sós. Para o bem e para o mal!)

 

6.3.24

Em Março

Voltei ao Oceanário.

Das espécies vistas, poucas recordava. O problema deve ser meu. Sei que as lontras já não se chamam Amália ou Eusébio... Não sei se há por lá algum CR7, talvez o tubarão...

Do Peixe-Lua, parece-me que lhe falta uma parte, talvez as silvas que, noutros tempos, imaginei, seguindo a lição rústica...

(...)

Em respeito pelo 25 de Abril de 1974, dia 10, tenciono votar, mas tenho um problema: ainda não entendi se há alguma proposta que vise criar condições para um país mais educado, mais produtivo, mais solidário. Só me apercebo de ajustes de contas e de regresso ao passado ou, então, à conveniência de manter tudo na mesma.

Espero que o problema seja meu, pois não consigo ultrapassar a condição de rústico, mesmo vivendo à beira da cidade.

 

29.2.24

A maré

Acabo de ler Auto-de-Fé, de Elias Canetti.

Compreendo, finalmente, o título: Kien, o homem - livro, depois de ter caído numa misantropia absoluta, desceu ao inferno dos desclassificados física e intelectualmente.

Kien, quando de lá saiu, com a ajuda do irmão, amado diretor de um manicómio e ex-ginecologista idolatrado, acabou por romper, em definitivo, com a comédia humana da loucura, incendiando a sua amada biblioteca e ardendo nela.

Tal como a maré, a leitura foi enchendo e esvaziando...

 

21.2.24

A cortina

Um indivíduo foca o olhar, mas não há certeza se descortina (se vê para lá da cortina...)

A cortina está cada vez mais presente, mesmo que o oftalmologista assegure que está tudo bem... não sabe é se os neurónios andam confusos.

Eu também evito pronunciar-me, sobretudo desde que me dedico à leitura do Auto-de-Fé, de Elias Canetti.

A minha expectativa era bem diferente, todavia reconheço que o mundo representado, entre as duas Grandes Guerras, não augurava nada de bom para a Humanidade...  tal como os dias que atravessamos...

Depois de Aristófanes, Canetti... entrei no território do absurdo... e não quero sair de lá, apesar da cortina interior...

 

13.2.24

Ao Sol falta o predicado...

A caruma deixou de fazer sentido. Os pinhais foram ardendo e a paisagem está cada vez mais deserta. Nem a chuva os consegue recuperar...

Por agora, as imagens ainda continuam ativas, mas mesmo essas é necessário desbastá-las, de redundantes que se tornaram.

Digamos que, para preservar alguma caruma, é necessário reduzi-la significativamente... e para isso é preciso tempo. 

Hoje, parece que chove, mas não chove, e ao Sol... Pois é, anoitece, venta, chove... e ao Sol falta o predicado!

 

8.2.24

Chove...

Lá fora, chove. O estranho é que cá dentro também chove.

A chuva das ruas escorre para as sarjetas.

A chuva desta sala cresce sem se escoar... Avoluma-se à espera de que as comportas se abram, mas estas recusam-se.

A chuva das ruas corre até se perder...

A chuva desta casa avoluma-se até nos perder.

 

4.2.24

A vertigem reivindicativa

Partindo do princípio de que somos todos iguais, então merecemos todos ser premiados do mesmo modo...

Pois é, sempre pensei que não era bem assim e, sobretudo, que reivindicar seria um ato de dignidade que não deveria por em causa a segurança das pessoas e afundar a coletividade.

De momento, o que surge na rua é um movimento que visa acabar com o regime democrático e, como tal, não acredito que venham impedir o ato eleitoral de 10 de março, pois os antidemocratas desta Hora procuram por todos os meios atingir nesse dia um resultado que os coloque no poder.

 

1.2.24

A queda


Ninguém quer cair, mas a queda é inevitável. Dizê-lo é absurdo. Escrevê-lo, desnecessário. Não fosse o ritmo e há muito teríamos deixado tal termo de parte...

Neste hemisfério, em fevereiro, o ritmo começa a empolgar, mas insistimos em tropeçar. 

O melhor é desligar dos media: caminhar ou voltar às NUVENS de Aristófanes... e esperar que o raciocínio injusto dê cabo dos argumentos do raciocínio justo.

Sucedem-se os exemplos de queda, no entanto nada nos diz que o castigo esteja próximo, tantos são os sofistas...

Começo a pensar que a queda é culpa do pensamento socrático ou, talvez, do castigo cristão. 

 

25.1.24

Folhas Caídas

Esta folhagem não caiu, foi arrancada das margens do rio e seus afluentes, e esta tarde procurava o mar...

Um destes dias, fui ver o filme FOLHAS CAÍDAS, produção finlandesa... Do filme gostei, mas fiquei com uma péssima impressão da 'ordem' daquele país... trabalho precário, droga, álcool - relações humanas nulas.... (um destes dias, a Federação Russa atravessa a fronteira!)

 

21.1.24

Lá atrás

No meio do quarto a piscina móvel

tem o tamanho do corpo sentado."

   Carlos Drummond de Andrade

 

Lá atrás, faltava a palavra 'piscina', sobrava o alguidar que tanto servia para depenar a galinha, como para demolhar a roupa e o bacalhau, à vez... E por último, o banho do menino e do avô.

Meninas, não havia ou escondiam-nas, como acontecia na escola, inventada só para elas...

No alguidar, caía o porco e a porca, o galo e a galinha, só menina não caía...

Se a água fervia, a pele, como a da cobra, soltava-se.

Lá atrás, as palavras eram poucas e mal enunciadas, no dizer do professor para quem a norma era divina. Não havia casa de banho, não fazia mal, e se alguém decidia (podia) construir uma, então era o cabo dos trabalhos - licenças, taxas, fiscais... tudo em nome da ordem.

Lá atrás, não havia promessas de que me lembre, a não ser a da entrada direta no reino dos céus, desde que não perdêssemos a pobreza de espírito com que viemos à luz... ou então sermos lançados na casa das cobras que, para o efeito, ficava nos fundos da torre sineira...

 

19.1.24

Só agora...

Há mais de 10 anos que conheço este cacto e só agora lhe descobri a flor.… depois de ter sobrevivido à recuperação do canteiro... E não pensem que andei distraído!

Coincidência, ou talvez não, só agora me virei para Aristófanes. Tenho devorado as comédias: já vou nas Rãs, concluída a leitura das Vespas e das Aves.

Gastei parte da vida a parafrasear Sófocles e, por vezes, Ésquilo... e agora descubro um primoroso retratista do século V antes de Cristo.

De facto, a corrupção, a mentira, a mediocridade já tinham assentado arraiais à sombra da democracia. Nem os deuses do Olimpo escapam. Tudo a nu!

 

11.1.24

Mudar de vida

É tarde!

De qualquer modo, hoje fomos à Cinemateca ver o filme de Paulo Rocha, MUDAR DE VIDA, 1966.

Em 1966, fazia 12 anos e habituava-me à 'camioneta da carreira'. O filme abre com a chegada de uma camioneta muito semelhante... Dela, apeia-se Adelino. O meu pai, destruídas as vinhas pelo granizo do início do Verão, partira para França, acompanhado de um jovem que fugia à guerra colonial. (Nunca mais soube nada dele!)

No filme, Adelino regressa de Angola, para onde fora mobilizado em 1961. O filme não o diz, porque cumprido o dever patriótico, por lá ficou, sem efetivo proveito nem dar notícias...

Regressa, preso de amor impossível e sem coragem para ajustar contas com o irmão. Afinal, ele não dera notícias, e Julia (Maria Barroso) acabara por casar... Júlia tem todos os achaques típicos da heroína romântica. (Não foge à convenção. É salva pela representação de Maria Barroso e pela fixação da câmara.)

No Furadouro, a miséria, imposta pelos homens e pelo mar, é uma constante. O tempo parece outro, já descrito por Raúl Brandão. A verdade é que, apesar da antífrase, não se compreende que ninguém parta... Ou seria impossível? Só lhes restava a sepultura. Demasiado triste!

Interessante: os efeitos da alterações climáticas estão bem presentes na vida dos pescadores do Furadouro.

 

7.1.24

Assoreados

2024 ainda agora começou e já estou cansado. Objetivamente, o desleixo dá cabo de mim: foi preciso pôr a lavar e a secar uma montanha de roupa... e o nevoeiro não tem ajudado. 

Torna-se impossível ir a um encontro num lugar desconhecido, porque o GPS anda cada vez mais confuso e não há lugar para estacionar.

Faltam projetos - todos se consideram melhores, mas ninguém sabe porquê. Deste lugar, observo o Tejo assoreado: a ilha cresce, arrisca virar continente. No entanto, ninguém promete acabar com o assoreamento.

Assoreados, entupimos... 

Eu vou continuar a leitura de Almas Mortas, de Gogol, mesmo que não tenha qualquer motivo para as comprar.

 

5.1.24

Em 2024

Entrámos. Eu venho sem pressa... a Sammy não compreende por que motivo interrompo tudo o que inicio...Já lá vão seis horas.... há anos que uns tacos esperavam que eu os recolocasse: foi preciso comprar uma cola especial, eliminar os detritos, apará-los do inchaço... e como uma coisa arrasta a outra: liguei o Kirby e aspirei tudo - o cotão, o bolor, o pó.... Duas horas de limpeza!

A Susana regressou a Hamburgo. Vive à sua maneira, e o melhor é não interferir, ajudar enquanto for possível. Por vezes, a sua capacidade de compartimentar irrita, um instante, apenas.

Entretanto, o Ministério Público não desiste de enterrar o Costa. Se eu estivesse no seu lugar, entregava as chaves do Governo ao Marcelo... Há muito que penso que o MP é a continuação do Tribunal do Santo Ofício.

 

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