Diários

De momento, estão visíveis os Diários de 2006 a 2012.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Diário_2011

 31.12.11

Tempo de descristalização

Em dezembro 2011, começo finalmente a leitura de um conjunto de ensaios de Unamuno, publicados pela Abismo, com o sugestivo título Portugal, Povo de Suicidas.

Mal entro no livro, esbarro no elogio da poética de Eugénio de Castro, e, em particular, do poema trágico, em VII cantos, Constança (1900). Eugénio de Castro, ao adotar o ponto de vista de Constança, constrói uma heroína angelical cujo percurso, apesar do ciúme dilacerante e a certa altura vingativo, se faz através da superação da dor e do despojamento total: Oh! que morte ditosa lhe deu Pedro! / Mas eis que vê Inês…/ Oh! não, não deve / Para a cova levar aquele beijo! // – «Anda cá, minha Inês…» diz co’um sorriso/ de infinita doçura; nos seus braços / acolhe a linda Inês, abraça-muito, / Dá-lhe o beijo de Pedro, e logo exala, /Serenamente, o último suspiro… //

Para quem se habituou a seguir “os amores de Pedro e de Inês” através das versões literárias de Fernão Lopes, António Ferreira e de Camões, a visão romântica e, por vezes, profundamente erotizada traçada por Eugénio de Castro, convida-nos a abordar o mito de uma forma mais heterodoxa, e por isso, talvez, mais realista. A riqueza do mito literário resulta mais da inventiva do autor do que da história ou da lenda. E sobretudo da descristalização da tradição literária!

Subitamente, a viagem literária, em dezembro, trouxe-me, através de Unamuno, Eugénio de Castro que, neste declinar de 2011, volto a citar, pois a epígrafe com que abre A Sombra do Quadrante (1906) me parece inspiradora:

Murmúrio de água na clepsidra gotejante, / Lentas gotas de som no relógio da torre / Fio de areia na ampulheta vigilante, / Leve sombra azulando a pedra do quadrante / Assim se escoa a hora, assim se vive e morre… // Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida, / Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça? / Procuremos somente a Beleza, que a vida / É um punhado infantil de areia ressequida, / Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa… //

PS: Bem sei que os Dicionários não registam o termo “descristalização”, mas se lhe inspecionarem os bolsos, verão a riqueza escondida.

 

30.12.11

A Sul. O Sombreiro, de Pepetela

Dos ossos perdidos de Diogo Cão à morte do temível Governador e fundador do efémero e mortífero reino de Benguela, Manuel Cerveira Pereira, tudo decorre entre morros e rios.

Pepetela, em A. Sul. O Sombreiro (set. 2011), reinventa os excessos dos governadores ao serviço da dinastia filipina, a luta entre franciscanos e jesuítas, em nome do Papa romano, a emancipação dos mestiços, a desjagarização, sobretudo das mulheres jagas…

Neste romance, o autor viaja com grande liberdade pela história do século XVII e, ao mesmo tempo, vai revelando um vasto território, inicialmente, ameaçado pelos europeus e pelos jagas, e que o tempo acabará por eliminar…

Do ponto de vista da construção da narrativa, Pepetela dá a voz à maioria dos protagonistas masculinos, desde os governadores Cerveira e Mendes Vasconcelos a Carlos Rocha, o mulato que foge do próprio pai, passando pelo franciscano Simão Oliveira, sem descurar os provinciais da Companhia de Jesus… Só as «peças» não têm voz – caçadas à ordem de governadores e de jesuítas – são vendidas e enviadas para as fazendas e engenhos brasileiros, como qualquer outra matéria-prima. Aliás, são mais valiosas do que a prata, o cobre e o sal!

Como acontece noutros romances do mesmo autor, a sátira domina em A Sul. O Sombreiro, título razoavelmente enigmático: a realeza espanhola, as ordens religiosas, os governadores, os chefes militares, os ouvidores, todos agem com um único objetivo: enriquecer. E por isso a justiça ajusta-se à voz do dono… Dos nativos, apenas os jagas, espartanos, são retratados como desumanos, pois cultivam a eliminação dos afetos.

Em síntese, mais um romance didático cujo principal objetivo é legitimar a existência da nação angolana, forjando a angolanidade através do recuo na história, de tal modo que a presença portuguesa acabará por não passar de um triste episódio…

Quanto ao “sombreiro”, nunca alcançado, penso que Pepetela não deixará de o retomar num dos próximos romances – esse cabo que, afinal, esconde os ossos de Diogo Cão – o mito fundador provisório na mitologia de Artur Pestana. 

 

27.12.11

Os dias e os motejos

O filme Os Dias de José Saramago e Pilar del Rio, de Miguel Gonçalves Mendes, que acabo de visionar, apesar do voluntarismo e da devoção dos protagonistas, não esconde a violência que o negócio da literatura impôs ao escritor, ao obrigá-lo a viajar permanentemente para promover as suas obras.

Ironicamente, o Saramago, que ainda sonhava ir à Índia, acaba por desejar ser árvore bem enraizada numa impossível reencarnação, para, à semelhança do Velho Restelo, combater a vã cobiça, provavelmente de cepa bem castelhana…

O escritor, amorosamente subjugado pela feminista Pilar, prefere convencer-nos que renasceu aos 60 anos para a literatura e, sobretudo, para o mercado do livro e das plateias mais ou menos histéricas que raramente mostram ter lido a obra do ídolo.

Dos dias, ficam-me alguns motejos: a) Como é que se pode escrever um prefácio sobre uma instalação se não se vê a instalação? b) Sem homem, não há Deus! c) Eu não nasci para ser escritor! d) Ver, ouvir e não calar! e) Os entrevistadores não acrescentam nada ao conhecimento! f) Os néscios são os outros…

Em síntese, apesar da vida encenada, o filme não consegue esconder a dor que minava o rebelde que, no íntimo, muito gostaria de ser tomado como santo!

 

25.12.11

O Natal poderia ser simples!

As primeiras horas do dia 25 de Dezembro são únicas: o povo dorme; os semáforos nas ruas desertas sinalizam o habitual desperdício, e a vida flui indiferente à pressa e aos ventres inchados de pobres e ricos.

De austeridade, ninguém fala, a não ser o i que insiste em fazer o balanço das misérias nacionais de 2011.

Aparentemente só, até ao momento sinto-me de companhia…

 

22.12.11

EDP

A fome é tanta que o vil metal superou as amizades germânicas!

Da ideologia só sobrou o método estalinista! Trabalhadores da EDP, preparai-vos para a grande marcha… do desemprego!

 

O paradoxo Passos Coelho 

À medida que mais trabalhadores são lançados para o desemprego, que mais jovens são convidados a emigrar, que as remunerações dos aposentados, reformados e trabalhadores diminuem, o Governo descobriu que para aumentar a produtividade nada melhor que o corte nos dias santos, feriados, férias e até naqueles três dias que eram concedidos para premiar a assiduidade.

Em síntese, estamos perante o novo paradoxo Passos Coelho! Apesar de tudo, não quero acreditar que a Troika seja tão burra que não tenha já percebido que está a ser enganada, pois o Governo não toma medidas de natureza económica porque só sabe proteger velhas e novas clientelas…

Entretanto, a matriz ideológica e a subserviência do Governo serão hoje clarificadas, quando for anunciada a venda da EDP à Alemanha.

(O silêncio dos alemães também se paga!)

 

21.12.11

E se imitássemos …

Uma imagem com ar livre, relva, planta, árvore

Descrição gerada automaticamente

E se neste Natal, em vez de celebrarmos o menino, imitássemos o Jacaré Bangão, deslocando-nos ao Ministério das Finanças com os nossos derradeiros cabazes de Natal?

Oferendas aceites, mergulharíamos, para sempre, nos braços de Kianda – espírito do Tejo luso. 

(Nota natalícia dedicada aos cavos pensadores antiescravagistas que, por ora, nos querem empobrecer para nos libertar de mãos jesuíticas.)

 

18.12.11

Aproveitamento de Natal

Assim mesmo, sem família nem reis nem pastores, o menino, de plástico, aproveitou a almofada lançada por cima da cerca de arame farpado, e pousou o corpinho num cantinho que o tempo é de crise. E vai recriando as luzes e as cores que, outrora, lhe povoavam os sonhos…

Quanto a mim, o mais preocupante é não saber se a sombra se alarga ou encolhe.

 

17.12.11

Presépios

No Parque de campismo de Almornos, o espírito natalício ainda perdura, de tal modo que o rei mago Vítor Gaspar ainda não foi expulso do presépio.
Pelo reduzido número de campistas, mais parece que estes é que foram eliminados!

 

15.12.11

Em tempo de metáfora…

Ainda atordoado pela «rica imagética» da insuspeita metáfora do grito de guerra socialista: «Não pagamos! Não pagamos!», desço o atalho à procura das “Quedas de Água” do Alviela, e, subitamente encontro o “Diabo”, conhecedor dos versos de Camões e provável zelador do escaqueirado moinho manuelino.

E, por instantes, pensei que deveríamos ser obrigados a pagar a dívida. De qualquer modo, já vamos no III ato socialista: a) a dívida de um país pobre é eterna; b) Sócrates é dispensado pelo ministério publico de testemunhar a favor do reitor da Independente, pois o Arouca receou que a Autoridade socrática o prejudicasse; c) um deputado juvenil ameaça os banqueiros alemães de lhes partir as pernas, metaforicamente – o zorrinho, por seu lado, descobriu no seu associado um novo Dr. Libório…

Não tenho a certeza, mas penso que terá sido Pierre Fontanier que, um dia, farto da ignorância dos seus detratores terá afirmado que «tudo é metáfora!».

 

13.12.11

Por entre palavras rasuradas…

La petite sirène

Ballet de John Neumeier, d’après le conte de Hans Christian Andersen. Musique : Lera Auerbach

Réalisation : Thomas Grimm
Un spectacle de la troupe du San Francisco Ballet, enregistré les 3 et 5 mai 2011 au War Memorial Opera House de San Francisco.

(Quando os olhos se levantam da escrita alheia, despertos por uma música ferida de amor, é sinal de que ainda é possível suspender a rotina.)

 

 

12.12.11

A dívida

Segundo o presidente da Câmara de Montalegre, Fernando Rodrigues, o município vai virar o ano sem dívidas e com dinheiro «em caixa» para 2012.

Feito extraordinário na atual conjuntura. Só é pena que alguém possa pensar que este município seja um dos mais pobres do país!

A não ser que a riqueza de uma autarquia (ou de um país) se meça pela capacidade de se endividar, nesse caso a satisfação de Fernando Rodrigues não passaria de um sintoma de infantilidade.

Por mim, penso que, no próximo 10 de Junho, o presidente Cavaco Silva deveria condecorar todos os presidentes de câmara cujos municípios virassem o ano sem dívidas.

 

10.12.11

Em Marvila, na Igreja de Santo Agostinho

Às 16 horas, na Igreja de Santo Agostinho, em Marvila, Ana Paula Russo (canto) e Carlos Gutkin (guitarra) interpretaram, com rigor e virtuosismo, canções populares e tradicionais de natal e espirituais negros. 

A talha dourava o templo; os (in)fiéis respeitosamente batiam palmas... Só os quadros, desbotados, escondiam as cenas que, outrora, empolgavam os devotos.

O sol, a espaços, espreitava pelas janelas, mas, envergonhado, cedeu o lugar às lâmpadas estrategicamente colocadas...

Enquanto tudo decorria, eu ia meditando na inutilidade dos armazéns que se foram acumulando e empurrando a igreja de Santo Agostinho para a linha de caminho de ferro...

Provavelmente, nada do que acabo de escrever se verifica nesta malfadada Lisboa! Traído pelas sensações, invento quadros grotescos em vez de exaltar a lucidez que nos governa, apesar de Lúcifer.

 

8.12.11

Olhar distorcido

Estará a realidade distorcida ou sou eu que a vejo distorcida? Doravante, a dúvida fará parte da minha abordagem do quotidiano. Do quotidiano mesmo e já não da vida! O todo esgarça-se nos detalhes e o esforço para os reunir cansa até a perceção se diluir em sons sobrepostos que enlouquecem.

Terá a catedral ganho uma nova fachada ou apenas terá sido escondida por um arquiteto agnóstico?

Se os sinos tocassem, as vidraças deveriam estilhaçar-se!

 

7.12.11

“A dívida dos pequenos países é eterna.”

Afinal, Sócrates sabia o que fazia! Aprendera que os países não devem pagar as dívidas. Quem lho terá ensinado? – Os professores, certamente!

Assim se vê que um sistema educativo permissivo dá muito maus frutos. E há por aí tantos alunos mal aconselhados!

 

5.12.11

Sugestão…

Este ano, espero que o senhor presidente Cavaco promova a apanha dos cogumelos que certamente crescem nos jardins de Belém para que nenhum filho dos funcionários do Palácio fique sem uma prenda de Natal.

Ouvi-lo queixar-se da austeridade palaciana incomoda-me porque, de imediato, me faz pensar na tristeza da dona Maria que, apesar dos seus presépios, não difere muito da minha avó Vitória que, para oferecer um rebuçado aos netos, tinha de consultar o marido e senhor.

Com um pouco de sorte, este ano, se seguir o meu conselho, o senhor presidente ainda poderá mandar servir uma sopinha de cogumelos. Porque para o ano…

 

3.12.11

Se me sentasse naquele banco…

Se me sentasse naquele banco, ficaria de costas para o lugar onde, dizem, vi a luz do dia. Considerando o tempo já passado, a disposição é a mais adequada, pois esse tempo está cada vez mais distante. O lugar ali está, embora desativado… Já ninguém ali nasce! Nem sei mesmo onde é que hoje é suposto nascer! E sobretudo que eu saiba ninguém ali segue a regra do Carmo…

Sintomaticamente, se me sentasse naquele banco, continuaria a ver, como no primeiro dia, o quartel cuja origem remonta a 1806, o Regimento de Cavalaria nº 3, também ele desativado…

Embora, por segundos, tivesse pensado em subir a rampa e sentar-me ali de costas para o tempo já passado, não o fiz, não fosse a cavalaria carregar sobre mim.

Mas, deveras, o banco, em frente da igreja do Carmo, lembra-me um certo tempo de austeridade, de trabalho e de silêncio, e tão intensa é essa presença que já não estou certo de que aquele banco esteja de costas para o tempo já passado…

 

1.12.11

O feriado do 1º de Dezembro

Um estado laico e soberano jamais abdicaria de um feriado cujo simbolismo é identitário. Farisaicamente, o mesmo estado cede à Igreja Católica o 8 de Dezembro, como se todos os portugueses prestassem culto à padroeira bragantina…

O estado laico não deveria imiscuir-se nas questões de fé, favorecendo uma igreja e tolerando ou ignorando as restantes.

Ao Estado, apenas, compete definir os feriados que celebrem os momentos (re)fundadores da nação. E eles não são assim tantos!

 

30.11.11

O polvo democrático…

 

Ao longo de 37 anos, o polvo democrático, acolitado autarquicamente pelo partido comunista, partilhou a clientela partidária, inventando um país de abril à medida da sua avidez e da sua ignorância – um país postiço que, agora, é posto a ferros…

37 anos depois de abril, o polvo democrático, mestre do disfarce, mas incapaz de se libertar dos tentáculos, prefere saltar sobre a presa, sugando-lhe a medula e deitando fora o esqueleto.

29.11.11

A metáfora do muro…

A propósito das “Crónicas de Tempos Vagos” de António Souto, dou comigo a passear pelo blog “Floresta do Sul” de António Manuel Venda que ali sacrifica aos deuses que conseguem preencher o tempo sem levantar muros, visíveis ou invisíveis. 

Ao mesmo tempo, ainda oiço a magnífica lição de José Jorge Letria, para quem os muros são mais uma construção do leitor do que do autor. E entre ambos, surge a brecha que nos permite passar através do muro, isto é, nos permite comunicar. E recordo “O Silêncio” de Sophia (ou seria de Mónica?) que lhe permite despertar para uma realidade ensurdecedora.

Hoje, no Auditório “Camões”, apesar da sapiência dos autores, o muro esteve vezes demais do lado dos destinatários. Esperemos, no entanto, que a iniciativa sirva para abrir mais uma fenda…

 

28.11.11

O ensurdecedor social… o mito

Se para Pessoa, o mito fecunda a realidade, sendo indispensável para a construção da identidade coletiva (Mensagem); para Pepetela o «mito serve para compensar frustração, serve de ensurdecedor social» (A Sul. O Sombreiro).

Realmente, os estudantes do ensino secundário continuam a assimilar (in)voluntariamente ideias messiânicas e sebastianistas que lhes esmagam a vontade, deixando-lhes apenas o sonho nebuloso da redenção definitiva…

Começa a ser tempo de desmontar os mitos e acabar com as mistificações criadoras de manipansos estéreis.

 

27.11.11

Bolota no Parque das Nações!

Sem querer substituir a batata pela bolota, refira-se, no entanto, que esta (tal como a castanha), antes dos descobrimentos, era a base de muitas sopas, havendo, também, quem confecionasse uns saborosos queijinhos de bolota.

Na época de crise que atravessamos, em que os hotéis crescem que nem cogumelos, talvez venha a ser chic degustar uma tradicional sopa de bolota… Por aqui, no Parque das Nações, só faltam os porcos! Ou Não?  

 

26.11.11

Na rua Marquês de Tomar

Na rua Marquês de Tomar (Lx), a altercação alonga-se: senhorio e inquilina desentendem-se quanto ao valor da renda. O atraso da inquilina é atribuído a incumprimento do senhorio que, entretanto, lhe responde na mesma moeda. Os argumentos tornam-se gritos e a rua começa a encher-se de curiosos...

(…) Sem pagar, a inquilina arranca a toda a velocidade e o senhorio manda-a queixar-se ao advogado… que ela não pode pagar.

25.11.11

O negócio do lixo…

As agências de rating só veem lixo, não porque vivamos numa lixeira, mas porque o objetivo é forçar-nos a endividarmo-nos irremediavelmente.

A usura é o modo de vida dos credores que, enquanto conseguem um rendimento fabuloso, procuram gerar a indignação e a revolta necessárias à eliminação dos valores gerados pela revolução francesa.

Hoje já não há direita capitalista nem esquerda socialista! Há apenas redes de especuladores que se divertem a destruir para poder acumular.

Regressámos ao antigo regime! Até quando?

 

24.11.11

Por coincidência!

Durante duas horas caminhei e nada vi de surpreendente, a não ser que havia muito mais polícia em Moscavide do que na Portela ou em Sacavém. Havia pessoas nas paragens de autocarro à espera das carreiras da rodoviária, já que a Carris aproveita o dia para agravar a dívida pública. Nas ruas, a circulação de veículos e de peões era insignificante, deixando entender que o momento é de labor ou de descanso. E de facto nalguns estaleiros, oficinas, lojas e esplanadas, vi trabalho e ociosidade. Não soube, no entanto, avaliar quem levava a melhor…

Entretanto, por coincidência, as agências de rating só veem lixo. E que mais poderiam elas ver em dia de greve geral?

 

22.11.11

A ditadura da opinião…

Apesar de haver quem pense que a Grécia moderna nada tem a ver com a Grécia antiga, eu espero que não seja assim, e isto porque há vários dias que uma antiga sentença grega não me sai da cabeça: «os homens são atormentados pela opinião que eles têm das coisas, e não pelas próprias coisas.» Epicteto, Enchyridion

Infelizmente, as notícias públicas e privadas estão cada vez mais contaminadas por apreciações subjetivas que ocultam ou deturpam os factos.

A crise europeia, para ser superada, exige a criação de um estado europeu – o que impõe, em nome do bem comum, perda de soberania. Mas o que se verifica é que a multiplicidade das opiniões insiste em ignorar o caminho: um governo central, um banco central, forças armadas comuns…

A tormenta que atravessamos impõe clarificação da decisão política: ou construímos o estado europeu ou mais vale sair da “união” …

 

18.11.11

No mesmo beliche?

A mediatização da investigação e da decisão judicial cria no leitor / espectador a ideia de que a justiça é açambarcada por meia dúzia de figurões que investigam, defendem, acusam e decidem de acordo com o estatuto dos arguidos.

Não se entende porque é que defesa, acusação e decisão são sempre entregues aos mesmos, ou será que o poder mediático é tão poderoso que cria e encena os casos, escolhendo os atores e impondo a decisão?

De qualquer modo, parece-me que a mediatização distorce o exercício da justiça e, sobretudo, aprisiona os decisores, impedindo-os de decidir em liberdade.

E esta última ideia – a de uma justiça amordaçada pelo poder político e, simultaneamente, ignara e presumida - está muito bem retratada no romance Quando os Lobos Uivam (1958), de Aquilino Ribeiro.

Considerando a quantidade de temas investigados anualmente, em dissertações de mestrado e de doutoramento, interrogo-me se alguém já decidiu investigar quantos dos intervenientes no inquérito e na decisão judicial já leram Quando os Lobos Uivam.

A separação de poderes e o seu exercício em liberdade pressupõem uma formação humanística que, infelizmente, tem sido descurada.

 

17.11.11

Andar para trás?

Andar para trás pode não ser mau!

Se uma empresa, por falta de financiamento, fica impedida de importar as peças de que necessita, por exemplo, para reparar uma viatura, isso não deve ser razão para desistir do negócio. Se olharmos para trás, veremos que, no passado, muitas dessas peças eram fabricadas ao torno por serralheiros que, entretanto, foram perdendo importância.

Nesse tempo, havia mais ofícios, e importava-se menos. E hoje, o que deveras nos interessa é reduzir as importações e regressar ao trabalho – lançar as mãos à obra.

Só a valorização do trabalho manual, apoiado nas novas tecnologias, poderá devolver aos portugueses os recursos para se libertarem da asfixia dos credores e dos especuladores, pretensamente, intelectuais.

Em termos de projeto educativo, as escolas deveriam criar “oficinas”, onde os jovens pudessem (re)aprender velhos e novos ofícios…

 

15.11.11

O sonho e a dor…

«As nações todas são mistérios / Cada uma é todo o mundo a sós.» Fernando Pessoa, D. Tareja, in Mensagem

Com nome próprio só duas mulheres figuraram em Mensagem – duas estrangeiras, as mães fundadoras, D. Tareja e D. Filipa de Lencastre. Por outro lado, anónimas e sofredoras, as mães e as noivas sacrificam-se para que a vontade divina seja satisfeita pelo homem, o infante, a quem compete sonhar, isto é, colocar-se em linha com Deus.

Mas, sem Deus nada acontece!

Portugal entristece porque há muito deixou de ser o povo eleito ou, se reformularmos o problema, porque, afinal, não passa de uma criação estrangeira, a que falta a alma…

Apesar da matriz europeia, Pessoa valoriza acima de tudo o sonho e a dor. Sem eles, o mistério português extinguir-se-á definitivamente.

 

13.11.11

A escola da pichação

Pichação é o ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos, usando tinta em spray aerossol…

Na Rua das Escolas, Portela, jovens de palmo e meio, dão asas à criatividade: picham os muros mais ou menos recônditos e quebram (e não só) os vidros das viaturas que encontram no caminho da ESCOLA… Quanto à autoridade policial, não vale a pena «apresentar queixa contra incertos», porque a ordem é para arquivar… Será que nas esquadras portuguesas, alguém investiga essa «nobre arte da pichação», alguém segue a «assinatura» destes heróis da periferia? 

 

 

 

11.11.11

Vândalos de palmo e meio…

Adolescentes de palmo e meio divertem-se impunemente a vandalizar a propriedade alheia. Na Rua das Escolas, Portela, os episódios de destruição sucedem-se às mãos de jovens que, desintegrados, decidiram criar a sua própria lei.

Será que estes jovens se comportam diferentemente em casa e na escola? Provavelmente, não. Devem ser os mesmos que não param em casa ou que faltam à escola e cujo comportamento continua a ser desculpabilizado, senão premiado!

Assim, vamos construindo o futuro! E tal como vai o mundo, não me espantará nada que que alguém me venha dizer que já são “heróis” no Facebook!

 

9.11.11

Ilusões!

«Miserum est enim nihil proficientem angi.» Cicero, De Natura Deorum

A cada dia que passa, sinto que há cada vez mais gente atormentada, sem proveito. Ainda se as tormentas significassem desafios, essa inquietação poderia fazer sentido, porque vencê-los significaria superação!

Mas não! O que se passa é bem mais grave: cai-se na escuridão porque os espelhos se quebram, tornando claras as pústulas da ilusão.

E a Ilusão não vale o sacrifício de uma vida!

 

6.11.11

Cores de outono

Ainda é possível sorrir neste outono. A luz e a cor não defraudam se estivermos despertos! Despertos para cumprir a nossa parte / Que, da obra ousada, é minha a parte feita: / O por-fazer é só com Deus. / F. Pessoa, PadrãoMensagem.

Por enquanto, a LUZ ainda acende a esperança! E não precisa de ser divina…

 

5.11.11

Ricos pilhos!

«Senão o lobo, a raposa, o pilho de dois pés zarpavam com a mamata.» Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam.

Já não sei se matamos a língua (e a literatura) para ocultar a mamata ou se é ao contrário: a fraude impõe a morte da língua.

Termos como comezaina, comilagem, conezia, cunha, expediente, furto, ladroagem, mama, marosca, negociata, nicho, pitança, prebenda, propina, roubo, sinecura, tacho, teta, tráfico, tribuneca, veniaga são o grito abafado de um povo esbulhado da sua própria voz.

E esse povo, ao perder a língua, morre de vez asfixiado pelos pilhos de dois pés! 

 

2.11.11

Ociosidade…

Variam semper dant otia mentem – A ociosidade causa sempre desorientação. (tradução livre)

Se para Platão, a ociosidade era necessária à indagação reflexiva e pressupunha riqueza daqueles que dispunham do tempo necessário à investigação e à especulação, para Sá de Miranda e para Camões a ociosidade, alimentada pelos pardaus da Índia, efeminava os espíritos, tornando-os fonte de inevitável decadência.

Por seu turno, Eça de Queirós associa ociosidade a diletantismo e a indigência, condenando impiedosamente os polidores de esquinas que infestavam a capital do reino.

Hoje, a ociosidade deixou de ser um privilégio (conquistado ou herdado) para se tornar condenação de milhões de seres humanos, e que, desorientados, estão prontos a marchar sobre os templos que abrigam os modernos bonecreiros.

 

31.10.11

O Terror

Nunca soube se foi o Terror que criou o terrorismo se é este que visa instalar o Terror. De qualquer modo, durante muito tempo, o terrorismo era a estratégia das minorias, a estratégia dos descamisados contra os totalitarismos, revelando, quase sempre, uma máscara libertária…

Hoje, porém, o Terror passou a ser o objetivo dos governantes. Todos os dias, anunciam cortes a torto e a direito. De forma errática, tomam decisões que visam desertificar o país, chegando à insensatez de aconselhar os jovens a emigrarem. Pensam, talvez, que um novo fluxo migratório lhes traria uma renda capaz de travestir a realidade, como aconteceu nos finais do Estado Novo.

Os guerrilheiros da educação dedicam-se à sabotagem, dando entrevistas cirúrgicas cujo único objetivo é aterrorizar os docentes, ameaçando-os com o desemprego ou, simplesmente, com alteração das condições de trabalho. Sobre a revisão e o incremento de uma matriz curricular ajustada à realidade atual, nada se faz de forma fundamentada; apenas avançam medidas avulsas que atingem quem não tem voz porque a precariedade é a sua forma de vida.

Entre a ministra Maria de Lurdes Rodrigues e o Ministro Nuno Crato a diferença é só de escala: Se a primeira generalizou a instabilidade entre os docentes, o último está encarregue de demolir o sistema educativo, minando-o diariamente…

E a máscara do Terror continua a ser libertária! Até quando?

 

29.10.11

Alexandre Herculano - o anonimato

Cada vez que passo, lembro a visita que, um dia, fiz ao quarto de Alexandre Herculano. Uma cama insuficiente para acolher o homem!

À beira-estrada, era possível ver que ali, na Azóia de Baixo, na Quinta de Vale de Lobos, residira um homem ilustre, que terminou os seus dias, longe da Corte, a produzir azeite – herculano. Um belo exemplo de civismo!

Hoje, para quem passa, não há uma placa que assinale o lugar onde o historiador se refugiou, apesar de por lá terem sido plantadas, a partir de 1999, 150.000 oliveiras num sistema de rega importado do Canadá.

Sugestão: Se ainda é o senhor Joaquim Santos Lima que dirige a exploração, peço-lhe que aproveite umas gotas dos subsídios que recebe da União Europeia para assinalar aos transeuntes que ali se produz um azeite com tradição, mas, também, que por ali paira o espírito de Alexandre Herculano.

E já agora acrescento que também não gosto de ver uma ponte romana escondida por um canavial por entre o qual corre uma água suja que aparenta não ter apenas origem nas recentes enxurradas…

 

27.10.11

Andaimes…

Interioridade e exterioridade são apenas andaimes - metáfora labiríntica da impotência.

Construímos portas e pontes, apenas para experimentar entrar e sair. Tantas vezes, repetimos o gesto que morremos! Traídos, quando o andaime falta…

26.10.11

Três minutos…

1 - O cientista político arregala os olhos e grita: - Deixem-se de considerandos sobre as causas da ruína da pátria porque, agora, é tempo de empobrecer! O nosso programa só tem um sentido – empobrecer!

No fundo a nova ciência política está a ressuscitar o mito salazarista de «quanto mais pobres mais ricos».

2 – Há decisões difíceis, mas que, por vezes, nos iluminam o dia. E isto só acontece quando cada decisor faz o seu trabalho de forma rigorosa e isenta; só acontece quando cada um consegue suspender os afetos (positivos ou negativos) e aplica rigorosamente os critérios previamente estabelecidos pelo grupo de trabalho.

3 – Razão ou preconceito, sombras há, no entanto, que se nos atravessam no caminho e nos deixam a pensar sobre a ambiguidade do gesto, da palavra, do movimento. Sobre a influência que podem ter na formação dos jovens…

 

25.10.11

Insensatez…

Acordar às 5 h e 15 minutos para preencher uma ficha de observação de uma turma é certamente prova de insensatez, sobretudo quando o patrão corta vencimento, subsídios de férias, de natal e congela progressões na carreira.

E a insensatez é tanto maior quanto esta obrigação resulta da necessidade de compensar o tempo gasto a apreciar as mil “evidências” que mostram que somos um país de vassalos excelentes, no caso, de professores… Ou talvez não?

Com tanta excelência, ainda não aprendi a distinguir os «objetos verdadeiros» dos «objetos falsos»! E, acima de tudo, neste tempo de respigar, ainda não aprendi que o que resta não chega a ser literatura!

Agora, sim, é hora de acordar!

 

20.10.11

Uma questão de unhas…

«…enfim, ainda ao pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.» Padre António Vieira

Apesar de ter comentado que a Literatura se coloca frequentemente à margem das Finanças, é bom não esquecer que, por razão que nos continua a escapar, embora compreensível, um anónimo do séc. XVII nos deixou uma lista exaustiva dos modos de furtar.

Para quem pense que já não há nada a aprender, registo aqui os títulos de vários capítulos (no total, são 70) que compõem A ARTE DE FURTAR.

- Dos que furtam com unhas reais.

- Dos ladrões que furtam com unhas pacíficas.

- Dos ladrões que furtam com unhas militares.

- Dos que furtam com unhas tímidas.

- Dos que furtam com unhas sábias.

- Dos que furtam com unhas de fome.

- Dos que furtam com unhas amorosas.

- Dos que furtam com unhas de não sei como lhe chamam.

Amicorum omnia sunt communia.

 

18.10.11

Literatura e finanças…

A literatura pouco fala de finanças! Os trovadores defendiam que os jograis e os segréis passassem fome, sobretudo se estes lhes fizessem sombra. Fernão Lopes lá refere os cronistas de barriga cheia e de barriga vazia: a fidelidade ao suserano era bem diversa. Gil Vicente refere-se quase sempre aos roubos de fartar vilanagem que não poupavam ninguém. Todos roubavam e todos eram roubados. Os judeus seriam os únicos a rir, mas nem no inferno os queriam. Camões servia trovas aos amigos enquanto a tença valsava nos salões do paço…. e por aí fora. Eça sentia-se roubado pela choldra. Pessoa encharcava-se em aguardente à espera de melhores dias, confiado em Jesus Cristo que nada sabia de finanças! Jorge de Sena, eterno incompreendido, não ganhava o suficiente para alimentar os filhos. Saramago insistia em abrir a burra ao proletariado na ânsia de um milagre igualitário…Dos escritores indignados, nada sei, embora suspeite que deliram por um qualquer subsídio que lhes permita ir escriturando…

No meu caso, que nada percebo de literatura e ainda menos de finanças, creio que o melhor para que o país não se dilua irremediavelmente será diminuir drasticamente a carga fiscal sobre toda a produção nacional, e aumentá-la em 100% para todos os produtos importados. Mas todos!

Sejamos mestres na arte de cotejar. Os nossos credores ficariam satisfeitíssimos connosco!

16.10.11

Vértices

Regresso e não me lembro do marco. Sei que, em tempos, a colocação de um marco era uma questão séria – uma questão de morte. A vida que restava era de eterna fuga. Hoje, a clareza do caminho não me devolve a incerteza do atalho de outrora. No entanto, ainda há quem estabeleça a fronteira; ainda há quem, se eu deslocasse o marco, me ceifasse a vida e a abandonasse no mato até que este me absorvesse definitivamente.

Na verdade, regressar é impossível; renascer é fogo-fátuo. Só me resta adaptar-me ao marco que ali enxergo, embora ainda tenha algum tempo para procurar os vértices e cavar um derradeiro fosso. Não sei se dentro se fora do quadrado…

Bem sei que poderia contar várias “estórias”: da estaca ao escalo, sem ignorar o moderno pilarete. Mas para quê? Em qualquer caso, teria de falar de interesses, negócios, lucros, monopólios, acionistas… e isso deixou de me interessar.

Vou seguir a curva e procurar novo vértice. E ainda me resta saber, se vou pela direita se pela esquerda. E talvez possa seguir em frente. Parece-me que se o fizer, acabarei por descobrir outro vértice. Inesperado? Sim, acabo de destruir a teoria do quadrado!

 

14.10.11

Subtrair…

Se a arte acrescenta; a política subtrai!

Depois de 13 de outubro de 2011, de nada serve argumentar! Abril morreu…

 

13.10.11

Acrescentar…

Há quem defenda que a arte não se explica! Mas se assim fosse como é que saberíamos que se trata de arte? Como é que saberíamos que estamos perante um artista?

Na minha modesta opinião, a explicação da arte passa pela capacidade de ajudar a obra a atingir um público que a legitime não pelo seu custo, mas, sim, pelo que lhe acrescenta – pelo que acrescenta ao cosmos.

É esse acréscimo que me interessa e que eu talvez possa explicar se me souber colocar diante do livro, do quadro, da escultura, da canção, do filme…

E por isso mais do que incluir em qualquer programa o conhecimento da arte, o essencial é aprender a colocar-se perante o outro, sobretudo, perante aquele que persiste em não deixar o mundo sem lhe ter acrescentado beleza, bondade, verdade… novidade.

 

11.10.11

Preconceito ou desfaçatez?

O desassossego cresce sempre que a tomada de decisão se avizinha.

Na maioria das situações, o resultado é calculado. E nem a infinidade de itens esconde a manipulação.

É como se o valor das parcelas fosse fingido para que a soma final mais não seja que a confirmação do preconceito.

Resultados há, no entanto, que nem o preconceito consegue justificar tal é a desfaçatez!

 

8.10.11

Uma tarde exótica…

Depois da minha presença se ter transformado em poleiro nos jardins do palácio Galveias, percebi que o fim de tarde ia ser diferente. Uma hora mais tarde, a Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Pedro Neves - após ter magnificamente acolhido Instante, de Carlos Caires, e Tamila Kharambura, vencedora da 1ª edição do Festival Jovens Músicos - executou, de forma exímia, Vathek, de Luís Freitas Branco (1890-1955).

Contida a emoção, acentua-se a consciência de que, afinal, nada sabia sobre a origem deste poema sinfónico, Vathek (1913), inspirado na obra homónima (escrita em1782) de William Beckford. Um romance gótico de um viajante profundamente ligado a Sintra.

Falta tempo para tanto caminho! Talvez, os pombos…

 

5.10.11

Feriados e mais feriados

A República não só não soube tirar-nos da decadência como nos atirou para os braços de um ditador autista que, por seu turno, gerou um regime, pretensamente libertador, mas que nos ostraciza definitivamente.

Na situação atual, um feriado a meio da semana só pode significar que continuamos a não perceber que necessitamos de mudar de vida. E vêm aí mais feriados e dias santos – 1 de Novembro; 1 de Dezembro; 8 de Dezembro; 25 de Dezembro… E não sei quantos feriados municipais!

O Senhor Presidente da República, se não quer ser lembrado como coveiro da Pátria, bem poderia começar por exigir ao Parlamento que elimine a maioria dos feriados e dias santos.

 

4.10.11

A prova dos nove…

A escola é tanto mais pujante quanto maior é a participação da comunidade educativa na construção e no incremento do respetivo projecto educativo.

Face à decisão da tutela de proibir a entrega do prémio de mérito ao melhor aluno de cada escola, é chegada a hora de cada comunidade educativa assumir a responsabilidade de não defraudar todos aqueles alunos que se aplicaram ao longo do ano letivo, sabendo, de antemão, que só um ou dois seriam premiados.

 

30.9.11

Inutilia truncat…

Se os discursos são tão planos que de nada serve tentar podá-los, pelo contrário, no tecido (in) produtivo português há um ilimitado campo de ação.

Em Portugal, há milhões de portugueses que beneficiam de regalias escondidas, e que se avolumaram nos últimos 30 anos na sequência de desastrosas cumplicidades entre partidos, gestores e sindicatos. Empresas com dívidas insuportáveis continuam a alimentar as suas clientelas como se nada estivesse a acontecer e, despudoradamente, os seus representantes falam diariamente da necessidade de todos partilharmos esse despesismo.

Esta ideia de partilha mais não é que uma forma de punir quem trabalha honestamente e quem cumpre todas as obrigações que o Estado lhe impõe.

O direito à indignação precisa de ser revisto. Os indignados deveriam iniciar uma luta sem quartel contra prémios, horas extraordinárias, cartões de crédito pagos pelas entidades patronais, veículos oficiais ou de empresa, viagens gratuitas na TAP, CP, carris, metro, cantinas corporativas, casões, sacos azuis, amarelos ou vermelhos, orçamentos privativos em escolas, universidades, hospitais, fundações sem capitais próprios, privilégios das múltiplas igrejas, misericórdias, sem esquecer os corvos que nos deixam as tripas ao sol.

28.9.11

As flores do Poeta…

Um poeta tradutor, se por um lado corre o risco de matar a criação, por outro arrisca tudo ao ocupar o lugar do feiticeiro que antecipa as chuvas que fazem a glória do rei.

Este tradutor é modesto, pois não se pensa singular, e, ao mesmo tempo, não abdica de dar voz (asas) a uma realidade de pés descalços, seca, sem hino e sem bandeira, mas que, no antigamente, transformava cada semente em flor. Tudo como se o presente tivesse perdido o rumo ao deixar-se formatar por estranhos lugares-comuns.

E quem poderá traduzir essa vontade de regresso ao tempo solidário?

Na verdade, só a semente / oferece flores, mas, para que isso aconteça, o chão (o poeta) terá de ser permeável às chuvas.

Ser ponte, voltar atrás, parece ser o caminho escolhido pelo “palavrador” Mia Couto, em Tradutor de Chuvas, pois a verdade reside num tempo definitivamente perdido, a não ser que as chuvas façam germinar as sementes…

O papel / antes do poema, / é um chão depois da chuva. // O idioma do grão / lavra a caligrafia do pão. //

Em conclusão, apesar de nem todos os poemas serem flores, fica-nos a lição da semente…, embora haja quem nela tenha visto uma prova de machismo, que, creio, precipitado!  

 

25.9.11

À sombra…

Barro, plástico, cobre, latão, vime, flores, farturas, bifanas…tudo a pataco (euro) e à sombra da Ordem franciscana! (As gentes chegam mais tarde para o encerramento espiritual da Feira da Luz.) Por mim, faltam as peras cozidas. A dizer a verdade, já devo estar a pensar na Feira das Mercês…

E ainda há quem pense que Portugal não tem futuro!

 

24.9.11

Tempo malbaratado…

I - Para quem estuda na Escola Secundária de Camões, a leitura de Domingo de Lázaro deveria ser obrigatória. Aquilino Ribeiro retrata, de forma sarcástica, a vacuidade das opções ideológicas dos docentes do Liceu durante o 1º conflito mundial. Por outro lado, mostra com crueza o comportamento indisciplinado de alunos que desprezam o trabalho…Finalmente, descreve o irrealismo e a fatuidade docentes, para além de deixar um olhar impiedoso sobre a família portuguesa, sobretudo, rural.

II – Acabo de reler, em Estrada de Santiago, a novela A Grande Dona que introduz uma reflexão sobre a incapacidade de o homem aceitar a sua condição, seja ela de pobreza ou de efemeridade. O filho do moleiro do Gorgulhão, afilhado da Morte, vai ao ponto de litigar com Ela para adiar o seu destino… À terceira refrega, o afilhado afunda-se irremediavelmente no pélago sem fundo… (o outro lado do céu).

A demanda do padrinho rico é uma narrativa cheia de surpresas no que revela da capacidade argumentativa e indagadora de Aquilino. Nem Deus nem o Diabo servem como padrinhos! Os argumentos seriam mais tarde (?) partilhados por Miguel Torga. Só a Grande Dona! «Alta, delgada como círio, de órbitas cavas e dentes alvíssimos, a cabeça toda uma mancha de calcário, a intrusa vestia um capindó da corte triste do luar.»

Os textos de Aquilino são verdadeiras lições de história, geografia, política, antropologia, religião, mitologia e costumes…, mas o que me seduz é o vastíssimo conhecimento da língua, testemunho de um tempo que se perde a cada dia que passa.

Com a morte da língua portuguesa, morremos todos!

 

23.9.11

No lugar do céu…

O que eu vi, / à nascença, foi o céu.” Mia Couto, Tradutor de chuvas, 2011

Só um poeta poderia afirmar tal coisa. Eu, que nunca fui poeta, não me lembro de quando é que vi o céu pela primeira vez, embora desconfie que, quando atentei na palavra “céu”, deva ter pensado que ela seria demasiado pequena para o que escondia. No meu frágil entendimento, “firmamento” representava melhor a abóboda que me cobria…

Por outro lado, à nascença, mais do que sujeito terei sido objecto. Fui visto, e não sei com que olhos! Pressinto que o que de mim era esperado não seria muito diferente do destino dos homens daquele dia…

E ainda agora me parece que o céu é demasiado estreito e, no entanto, sinto que o firmamento substituiu melhor o ventre que durante algum tempo me acolheu.

Por isso, sempre que posso, olho o firmamento na esperança de adiar as contas com o céu.  

21.9.11

A responsabilidade

Irrita-me o comportamento de quem, na atual situação de descalabro, faz de conta que o problema é dos outros…

A saída da crise obriga a que cada um assuma as suas responsabilidades sem tergiversações.

As decisões unilaterais podem ser simpáticas a curto prazo, mas a médio prazo revelam-se ruinosas.

Os adiamentos têm custos irrecuperáveis!

(Os exemplos são cada vez mais inúteis!)

 

18.9.11

O acordo ortográfico de 1990

Quem é que beneficia com o acordo?

Num país deprimido, ganho o humor. Basta pensar na hipótese de o acordo ter sido feito com os pés – acordo ortopédico!!! Os humoristas portugueses têm matéria até à próxima revisão se, entretanto, a nação não tiver sido extinta.

Num país ecológico, ganha a floresta. Sempre que o felino informático (Lince) converter um documento menos árvores serão abatidas.

Num país poupadinho, ganham a cultura e a língua. As universidades estrangeiras que queiram ensinar a língua portuguesa, deixarão de ter duplicação de professores, dicionários, manuais, gramáticas…Portugal pode deixar a tarefa aos brasileiros, angolanos. Por sua vez, os milhares de professores desempregados podem aventurar-se nas margens do atlântico sul e até do índico…

No país de abril, de cepa anglo-saxónica, que, a cada passo, diaboliza os gregos, os linguistas, obrigados a explicar o ‘factor etimológico” irão, finalmente, redescobrir o latim, o grego e até o árabe, se não tiverem morrido afogados no caldeirão da ambiguidade ou sugados pelos humoristas.

 

17.9.11

Eu desbasto…

O pessimismo de nada serve! O melhor é deixar que a onda se desfaça e desbastar a realidade, se tomada no sentido etimológico, e, logo, tudo será mais límpido, apesar dos carrapatos…

Hoje, descobri um ninho vazio, situado a menos de um metro de altura, e que terá cumprido a sua função, porque, se o homem se afasta, a avezinha do céu deixa de ter inimigos em terra…E foi o bastante para desbastar três ou quatro pereiras já que não me é permitido desbastar os jardins que nos sufocam.

 

16.9.11

Em terra de matilhas…

Quem acorda cão dormido vende paz e compra arruído.

Que o homem é resmungão, já sabemos, e por isso quem pode deve agir rápido. Deve demiti-lo ou levá-lo à demissão, caso contrário a ilha da Madeira arrastará, de vez, o ‘continente’ para o abismo… (sem esquecer os Berardos que, servindo interesses escondidos, deixaram a banca nacional a descoberto!)

Infelizmente, a propaganda continua a cegar os portugueses, habituados a correr atrás de ‘manhãs radiosas’, sem fazer contas à vida!

Ultimamente, até nos querem convencer que o Plano Nacional de Leitura tem contribuído para a redução da iliteracia. Mesmo quem nada lê de substancial defende o artifício! Mas, de facto, o objectivo é evitar que interesses instalados sejam postos a nu e eliminados.

Se a iliteracia tivesse diminuído, a situação do país seria bem diferente e as matilhas não se teriam constituído.

 

15.9.11

A qualidade de decisão…

A Nuno Crato, não lhe faltam nem concisão nem clareza! Vamos ver se com sofríveis recursos financeiros, consegue aumentar a qualidade de decisão.

Também é bom indicador a disponibilidade do presidente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República, José Ribeiro e Castro, manifestada, hoje, na Escola Secundária de Camões, para problematizar, de forma clara e concisa, os problemas vividos no terreno…

Impedir que a escola se transforme num factor de desigualdade, mais que uma opção ideológica, é uma via que exige conhecimento do terreno, ponderação e decisão casuística e rigorosa.

É preciso sair dos gabinetes! Por exemplo, por onde é que anda a Inspeção-Geral de Educação?

 

14.9.11

Memória desfocada…

Quando alguém faz 89 anos, ao revisitar um lugar onde outrora passou férias, ainda que as ruas sejam as mesmas, os edifícios surgem-lhe diferentes – mais altos, deslocados e, sobretudo, despersonalizados.

No passado havia um senhor, proprietário das almas e dos corpos. Agora, o largo enviuvado abre em esplanadas e passeios ronceiros, servindo transeuntes de ocasião e aposentados que matam o tempo, convencidos que são o mundo…

Nem o casino cumpre a sua razão de ser! Evidência de fausto artificioso, o edifício serve a presunção dos senhores ignaros que lançaram as mãos aos milhões dos fundos europeus…

 

13.9.11

Nós não somos o mundo!

O calor das 15 horas desespera-me. Viajo no autocarro 83 e, entrementes, descubro no i uma entrevista a Helena Roseta que leio atentamente. As respostas parecem-me sinceras, revelando uma pessoa verdadeiramente preocupada com a polis. Há na Helena Roseta esperança e, ao mesmo tempo, tristeza, pois percebe-se que muita da actual pobreza resulta de sermos governados por pessoas que não conhecem o outro e, sobretudo, vivem para satisfazer os seus interesses e caprichos…

E de repente, oiço em mim: “Nós não somos o mundo!” e termino a viagem a interrogar o título de uma obra de Mia Couto “Cada homem é uma Raça”.

 

11.9.11

Babelianos!

Dez anos depois, as torres continuam a simbolizar o poder. Em seu nome, ignoramos as vítimas anónimas de cada dia, e fingimos que tudo acontece por força de um mal invejoso do nosso engenho…

Se em vez de procurarmos o céu, enxergássemos as vidas que calcamos!

 

 

 

 

9.9.11

Ericeira com Ministro

Na Ericeira, nada é imutável! Olho a terra, o mar e o céu, e descubro sempre novidade. E por aqui há um Ministro que governa há longos anos sem dar nas vistas, se excetuarmos a embirração com o José Saramago que, entretanto, lhe deve ter servido de emenda…

Quando atravesso o concelho de Mafra, fico sempre com a sensação de que entro noutro país. Um país de pombas, gaivotas e cogumelos, cercado de praia e campo, e que, ao fim da tarde, se liberta da cerração imposta pelo denso nevoeiro. Um país de construtores, descoberto pelos desportos radicais, que passa ao lado da dívida…

Ou será um jardim, como a Madeira de Alberto João?

 

8.9.11

A desigualdade…

A desigualdade instalou-se na escola pública. Novas e velhas escolas vivem o mesmo desafio: promover o sucesso escolar e na vida, independentemente do estado dos edifícios, dos equipamentos instalados, da formação dos docentes e dos restantes funcionários

Mas como?

Para além das escolas em que as velhas canalizações foram colonizadas por raízes que obstruem a circulação da água ou de outros efluentes, ovulando paredes líquidas e bolorentas, sem que o Estado ponha travão à ruina e ao desperdício, e contrastando com o novo-riquismo introduzido pela Parque Escolar, assistimos agora a uma ação de propaganda que visa convencer a opinião pública de que vivemos num país em que cada sala de aula dispõe de um quadro interativo, um datashow, um computador na secretária do professor, terminais para os alunos e wireless…e de professores devidamente preparados para ensinar com os novos recursos.

Sem motivação e sem interesse, tal como sem saídas profissionais, não é de esperar que o espaço escolar degradado seduza os jovens estudantes, por isso era melhor que o ministério da educação e os sindicatos se empenhassem, com os parcos recursos existentes, em reduzir as desigualdades em vez de manterem o braço de ferro em torno da avaliação do desempenho docente.

Lutar por um modelo de avaliação, que quer uniformizar critérios e aplicá-los do mesmo modo a escolas desiguais, não passa de capricho de burocratas para quem a resolução dos verdadeiros problemas da escola pública pouco interessa.

7.9.11

Estou farto!

O novo ano escolar começa com os mesmos problemas de sempre: número excessivo de alunos por turma; turmas-fantasma; desvalorização da autoridade do professor e dos restantes funcionários; esvaziamento da autonomia de decisão; avaliação regulada por critérios de raiz ideológica e nepotista; esbanjamento de recursos; inumeráveis capelinhas…

Entretanto, o ministério da educação e os sindicatos mantêm o braço de ferro quanto ao modelo de avaliação do desempenho docente, sem que se perceba quais são os verdadeiros objectivos de cada um… Sei, no entanto, que os resultados negativos alcançados pelos alunos nos exames nacionais são já uma consequência da desistência de muitos professores…

No que me diz respeito, continuo a pensar que a avaliação dos funcionários deve ser uma competência do diretor de cada escola…e que nos últimos anos tenho canalizado para problemas laterais milhares de horas que deveria ter colocado ao serviço dos alunos…

Estou farto!

 

6.9.11

Tempo de relego…

Este ano, o relego foi tempo de agitação causada pela mediocridade de quem nos desgoverna. Pagamos, a cada minuto, o desregramento dos salteadores que se apropriaram dos capitais depositados nos bancos e os hipotecaram definitivamente.

Para que os salteadores continuem a beneficiar do relego, isto é, do privilégio de vender as ações compradas antes que a falência seja decretada, o zé povinho é esbulhado que nem no tempo das invasões francesas.

Para aliviar a vilania, confesso que este ano o meu tempo de relego foi, em grande parte, consumido a ler Aquilino Ribeiro:

«Era a hora em que, de sol a dobar para o ocaso, aparece nos horizontes um fuminho ligeiro, baço, movediço e surdo, que é o avental da noite. Por detrás vem ela, para camponeses e bichos realidade mais táctil que a asa de um morcego. Em horas de crise a sua aproximação torna-se tão crucial que não há esperanças, nem consolações trocadas que lhe balsamizem o negror. Pesadume às toneladas.»  Aquilino Ribeiro, Valeroso Milagre, in Estrada de Santiago.

 

 

4.9.11

Escrevo: “A partir de hoje vou adotar O novo acordo ortográfico da língua portuguesa” e logo surge a dúvida da correta ou incorreta redação. Acabo de registar um bibliónimo ou não?

Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa o que é que designa? - Um topónimo? Um antropónimo? Uma instituição? Um ponto cardeal? Um título? Um axiónimo? Um hagiónimo?

Já agora como é que se explica a presença do /h/ nas palavras “hoje” e “hagiónimo”? E porque é que o “cardeal” não troca o /e/pelo /i/?         

Será por respeito à etimologia?        Hodie”> “hoje”; “cardinales”> “cardeais” …No último caso, a etimologia deveria, pelo menos, ceder o lugar à tradição cardinalícia!

O que é extraordinário é que os defensores da manutenção, de forma aleatória, do critério etimológico são os mesmos que eliminaram o grego e o latim dos programas nacionais…, sem falar do árabe.

 

3.9.11

Na gáspea!

Olho e interrogo-me: - O que é que nos falta? Inteligência? Aplicação?

A distância deixou de ser obstáculo! No entanto, estamos cada vez mais longe!

De facto, o único instrumento que sabemos usar é a tesoura! Já nem os guindastes nos salvam!

 

2.9.11

Setembro

Olho e não entendo. O Outono ainda parece longe, mas as chuvas de Setembro chegaram para amadurar o figo e a uva, reduzindo a colheita, apesar de haver quem defenda que a água-ardente e o vinho serão mais encorpados. De qualquer modo, que interessa a qualidade!

E é esta falta de entendimento que incomoda: não querer saber que o Outono quando chega traz prejuízo, mas, também, pode ser um tempo de qualidade.

Sem pressa e sem egoísmo, é possível reavaliar as situações e encontrar novas soluções…

Entretanto, não compreendo para que serve um Governo que ceifa e não semeia!

Quando o terreno é pedregoso e seco, há que aproveitar as chuvas de Setembro e lançar as primeiras sementes à terra para que, pelo menos, algumas possam germinar.

Ontem e hoje, choveu…, mas só vi e ouvi reis magos…

 

30.8.11

Falsos amigos…

Quando no “post” de 28 de Agosto me referi à violação de imagem e, consequentemente, à partilha pública do “carácter” de alguém, é preciso clarificar que o alvo não é nem distante nem indefinido.

A imagem aproxima e define.

No exemplo aludido (fonte: Facebook), quem filma e quem partilha convive / conviveu   diariamente com a vítima, mostrando-se, muitas vezes, “amigo/amiga”.

Um smartphone, numa sala de aula, grava som e imagem, permitindo a fácil manipulação dos dados recolhidos.

Para aqueles que não sabem o que lecionar na formação cívica, eis uma matéria que deveria ser obrigatória: aprender a respeitar o outro, sobretudo quando ele nos presta um serviço.

PS: Como não sou um sicofanta, mais não digo porque para bom entendedor…

 

28.8.11

A máscara…

Quando nos aventuramos nas redes sociais, encontramos cada vez mais imagens furtivas. Furtivas porque os alvos não sabem que estão a ser filmados e que vão ser objecto de difamação.

Os autores desta desacreditação, ao colocarem na rede imagens obtidas furtivamente, ativam antigas e inesperadas cumplicidades pensando obter, deste modo, impunidade. Até quando?

Ao contrário do que se poderia supor, a máscara surge cada vez mais cedo, tendo deixado de significar representação /galanteio para se tornar num indicador de ludíbrio.

 

 

26.8.11

Sobreposições…

A composição não deixa ouvir a música dos dias. Os músicos abandonaram os instrumentos. O maestro preferiu fugir da orquestra. No entanto, das nuvens escorre a luz que ilumina os dias de quem abre os olhos e não entende porque se elevam edifícios tão desiguais.

 

25.8.11

Relampejos…

O vazio perturba o caminhante. Prédios que escondem quem não quer ser visto ou, talvez, os residentes sejam descartáveis!

Ancorado no porto de Lisboa, o Funchal espera. - O quê? – Que o libertem do jugo continental?
Polícia montada na Avenida Infante D. Henrique em tempo de crise? Pelo aspecto, ainda estamos longe das pilecas dos escudeiros vicentinos. Mas lá chegaremos!

 

23.8.11

De férias, à beira do abismo…

À beira do abismo, o Parlamento está de férias. O Governo suspende qualquer projecto que possa criar emprego e subsidia empresas públicas e privadas falidas´.

A falência, por exemplo, dos bancos não é admitida… e os contribuintes pagam a crise! Sempre pensei que a falência pudesse ser uma forma de nos libertar de produtos tóxicos e, simultaneamente, de gerar novos empreendedores.

De facto, continuamos a ser governados pelos interesses instalados, de tal modo que o melhor é pedir emprestado, hipotecando a soberania, para anestesiados, irmos de férias…

 

22.8.11

Os professores e a batata sauté!

 

  • 10 batatas médias
  • 1 xícara de chá de cebolinha e salsa picadinhas
  • 2 colheres de manteiga de leite (cheias)
  • Sal e pimenta do reino (1/2 colher de café)
  • 2 cebolas
  • 6 dentes de alho

O prato parece saboroso e, de facto, os ingredientes são fáceis de encontrar. Tudo genuinamente nacional e vegetal!

A avaliação é caseira e depende do paladar de cada um. E quanto aos efeitos, logo se verá.

No final da história, os professores estarão mais elegantes e os neurónios mais ágeis. Tudo graças à pimenta do reino!

 

21.8.11

Para lá da terra…

«Na carruagem que vinha do Porto, havia muitas caras lusitanas. Tiram-se à vista, não porque tenham carácter como os ingleses ou alemães, mas precisamente porque não têm carácter nenhum. São todas diferentes. Após tantos anos de tombos, de guerras, de sangrias, a raça ainda não escumou numa fisionomia própria.» Aquilino Ribeiro, Um Escritor Confessa-se, Lances da Minha Vida, pág.363.

A falta de carácter explica muita da subserviência que grassa entre governantes e comentadores da res publica. Por seu lado, o povo parece um rebanho alheado do caminho e do pastor! A Alemanha põe e dispõe da terra lusitana, e Portugal aplaude, convencido de que merece expiar por não ter resistido à globalização. Só falta a flagelação na praça pública!

Mas nada disto é possível sem o colaboracionismo, para quem a terra nada vale. Aos colaboracionistas só interessa o capital, e este não tem nacionalidade nem religião. As grandes empresas portuguesas que, em grande parte, tosquiam o contribuinte e o consumidor, têm as suas sedes em países com menor carga fiscal ou em paraísos fiscais. Porquê?

A Alemanha e a França não estão sozinhas! BCP, BPI, BES, BANIF, BIC, Banco Internacional do Funchal, PT, GALP, SONAE…, EDP, CIMPOR, Jerónimo Martins, BRISA, Mota-ENGIL, PORTUCEL, SEMAPA, ZON (e quantas mais?) põem o rebanho a render e ameaçam abatê-lo!

Considerando a lição de Aquilino Ribeiro e daqueles que consumaram o derrube da monarquia, e cujo carácter se media pela capacidade de enfrentar a rugosidade do terreno, o principal inimigo deve ser procurado dentro e não fora de Portugal. E o primeiro passo é não colaborar com empresas que não assumem os seus deveres fiscais, em nome de uma falsa internacionalização – os únicos beneficiados são sempre os acionistas…

Em Um escritor Confessa-se, para além da terra, há o terreno… e a luta constante contra a subserviência, fundada na tradição, na religião ou no despotismo político castrador…seja monárquico ou republicano.

Há autores que merecem ser lidos não só pela qualidade linguística e literária das suas obras, mas, sobretudo, pela sua exemplaridade, o que talvez explique a nossa falta de carácter e a facilidade com que somos desrespeitados.

 

19.8.11

Escolha…

«Uma alçada bateu para a Foz do Arelho, cercou a casa do Francisco Grandela e meteu o nariz em todos os cantos, até nas capoeiras.» Aquilino Ribeiro, Um Escritor Confessa-se

Os esbirros de João Franco, em nome do monarca, perseguem o insurreto Aquilino, seguindo o trilho republicano…

Grandela – empreendedor e filantropo.

Aquilino Ribeiro – activista e escritor.

 Ambos escolheram a acção, ao serviço do Outro…

 

15.8.11

Intocáveis ou bode expiatório?

Eduardo Pitta, Marcelo Rebelo de Sousa et alii estão preocupados com as cedências de Nuno Crato…

Mas quem são esses “intocáveis”? Aqueles que já deveriam ter cedido o lugar aos mais novos?

E quantos são, de verdade, esses “intocáveis”?  O que é que fazem no sistema educativo? Nada?

E se for verdade que uma parte dos “intocáveis” não faz nada, porque será? E quantos são os que não fazem nada?

A quem é que interessa o empastelamento da informação? Aos que asseguram o funcionamento das escolas e contribuem para que o rendimento dos alunos não seja ainda mais baixo? Ou aos que não fazem nada?

As respostas não devem ser dadas pelos protagonistas costumeiros. O Senhor Ministro necessita de descer às escolas e observar o que se passa no terreno, porque é lá que a desigualdade é mais gritante: tanto come o que trabalha como o que nada faz.

E convém também corrigir a ideia de que “os intocáveis” são privilegiados, porque os professores são, há mais de 10 anos, o bode expiatório de todas as crises.

Já abriu a caça aos gambozinos!

 

14.8.11

Outro não-lugar…

SECRETARIA DE ESTADO DO ENSINO E ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR

Projecto de Avaliação do Desempenho Docente

Artigo 20º – Isenção de Avaliação

b) Posicionados no 9.º e 10.º escalões da carreira docente.

- Que docentes é que actualmente recebem pelo 10º escalão?

Artigo 28.º
Disposições Finais e Transitórias
1- Após o final do primeiro ciclo de avaliação do desempenho docente com base no articulado do presente normativo, e fazendo cumprir o princípio de que nenhum docente será prejudicado em resultado das avaliações obtidas nos modelos de avaliação do desempenho precedentes, cada docente optará para efeitos de progressão na carreira pela classificação mais favorável nos três ciclos entretanto realizados.

Conclusão: Só em 2016 /2017, haverá progressão na carreira docente!

Avaliação para quê? Quem é que acredita que poderá haver melhoria da qualidade de ensino num cenário de permanente penalização dos professores?

(Afinal, não é apenas a CP que coloca as estações em não-lugares!)

 

11.8.11

Reta-pronúncia… de Vítor Gaspar

Ao ouvir Vítor Gaspar, o ministro das Finanças, dá vontade de citar Aquilino Ribeiro, ao caracterizar o juiz Alves Ferreira: «um magistrado miudinho, quase reta-pronúncia e obtusângulo.» in Um Escritor Confessa-se

Amanhã, cumprindo as exigências da Troika, Vítor Gaspar anunciará ao país mais medidas para esfolar o contribuinte, deixando a monte os gulosos.

 

10.8.11

Cacela e a poesia…

Em Cacela Nova, bem procurei o último livro de José Carlos Barros, mas só encontrei alfarrobeiras!

(Nem Rumor!… nem Inês!) No entanto, ao interrogar um “vizinho” sobre o pomar, acabei por perceber que está na hora da colheita da alfarroba que, infelizmente, irá para a Espanha.

Pobre indústria transformadora!

Em Cacela Velha, o Forte é património das forças da ordem…
Mas, a poesia ocupou o lugar (e a toponímia). A força dos poetas está bem visível, desde o tempo árabe à actualidade.

Alheio à força humana, o oceano, quase azul, abraça a terra e perde-se no verde estival.
( Nós, a pé, lá fomos e regressámos, sob a canícula, à vetusta estação de Cacela.)

 

9.8.11

O Arcanjo Negro

No Algarve, em pleno século XXI, o comboio é servido por uma única linha, por eletrificar… Não se entende como é que a região que acolhe anualmente mais portugueses e estrangeiros não exige ao poder central uma ferrovia moderna e “amiga do ambiente”.

Para acompanhar o atraso que testemunho a cada passo, mesmo quando os governantes sonham com o TGV, continuo a ler Aquilino Ribeiro – homem que, no seu tempo, sempre lutou contra a subserviência…

No romance O Arcanjo Negro, terminado em 1939-1940, a acção decorre em Lisboa e arredores, sempre com o Tejo dianteiro, entre 1925 e 1929. De acordo com o autor, o objectivo era concluir o estudo do casal lisboeta, encetado com Mónica.

Mónica, que tem metade da idade de Ricardo, sofre os ímpetos do ciúme do marido que, progressivamente, lhe aprisiona os movimentos e as ideias, transformando-a numa “monja” incapaz de se libertar do labirinto psicológico em que vai mergulhando. Em nome da ordem burguesa, sufoca a libido, desenhando espaços fechados, em que os protagonistas se anulam.

Para além de apresentar três novelas sentimentais, Aquilino retrata o clima insurrecional que crescia no final da 1ª República, descrevendo, pelo menos, duas revoltas fracassadas que, no essencial, visavam restaurar a utopia republicana, mas que falham, pois, a maior dificuldade era encontrar o «homem clarividente» que desse sentido às aspirações dos “revolucionários”.

Essa falta de clarividência parece ser explicada pela natureza do homem português: indigente, doentiamente romântico, hipócrita, megalómano e, finalmente, mafioso ou simplesmente ladrão de ocasião.

É deste modo que as personagens se vão perdendo, quase sempre vítimas de cegueira mental, sem espaço de fuga (a não ser a misteriosa “água-pé da terra natal de Afonso Ruas – Carvalhal do Pombo. Nem o amor as salva!

Para Aquilino Ribeiro, a redenção estaria no aniquilamento da raça para, depois, começar tudo de novo…Nem Freud escaparia…

 

8.8.11

A Sul…

Apesar de continuar a pensar que Álvaro de Campos só “nasceu” em Tavira porque o local, a Sul, abria para o ‘splendor do Longe pessoano, acabo de encontrar a “casa” que simpaticamente lhe foi atribuída pelo município.

De facto, é bem mais fácil alojar uma criatura “fingida” do que um pobre diabo de pouca carne e já escaveirado! O próprio Pessoa o sentiu na pele…

E, aqui, Álvaro de Campos que, a certas horas, aborrecia a leitura, também, tem a sua Biblioteca!

(Aos poucos, as criaturas vão ofuscando o criador!)

 

6.8.11

Numa esfera distante…

O forte; a ria; o sapal. Do outro lado, o mar.

Um exemplo do que desperdiçamos. Pouco mais fazemos do que ir a banhos. Torramos ao sol, indiferentes aos perigos e à miséria, como se vivêssemos numa esfera bem distante.

(…) Ainda não encontrei o engenheiro naval, Álvaro de Campos, e não vejo motivo para que ele aqui tivesse “nascido”! Ainda se ele tivesse sido construtor civil!

5.8.11

Ao entardecer…

Sem o tanger dos sinos, mas com lua cercada de fogo!

Cá por baixo, uma desordem errática!

(…) A esta hora um cantor de feira ecoa, sem saber que atrapalha quem procura dormir. Levantou-se tarde, não almoçou e, talvez, venha a cear uma asa de frango com dois dedos de carrascão…

 

4.8.11

“Com” ou “contra”?

Há quem grite por tudo e por nada!

Gritam com os mais velhos, gritam com os mais novos; gritam com os vizinhos, gritam com os estranhos.

Ainda não percebi por que motivo “gritam com…”, uma vez que “gritam contra…” De verdade, deveriam era “gritar contra si próprios” porque não sabem o que é o respeito pelos outros.

Infelizmente, as vítimas pouco podem fazer contra os déspotas que se escondem por detrás dos muros, sob o manto da cultura ou do poder financeiro.

E de nada deveria servir argumentar que estes “infelizes” foram, também, eles vítimas de ambientes familiares desfavoráveis. O meio e os genes não explicam tudo!

Falta-lhes a vontade de mudar; sobra-lhes a maldade…

 

3.8.11

Do alto…

 Quando olho fotos mais antigas, apercebo-me que outrora subia aos castelos para me sentir senhor de uma paisagem que não era minha.

Esta ideia de posse, hoje, não faz qualquer sentido. Passámos a olhar reverencialmente os castelos sem lhes conhecer os senhores.

 

 

 

31.7.11

Num sábado…

 Não sei quem mora na cave daquela oliveira de encosta. Um dia destes, acampo debaixo da figueira mais próxima… e espero.

As pereiras, logo que se viram livres do mato que as cercava, decidiram ser o maná das abelhas e das aves.

E eu, oportunista, antecipei-me…

Um ponto de fuga explodiu no Museu Oriente para me mostrar que a arte é muito mais do que os meus sentidos costumam alcançar…

O poço resiste ao abandono, lembrando tempos de iniciativa…

 

28.7.11

A pobreza…

Na cidade, a pobreza é mais grave. Invisibilidade. Violência. Indigência.

A pobreza na cidade é mais grave do que nos campos, porque é possível escondê-la, dela morrer anonimamente; porque a rejeição e a marginalização despertam naturalmente uma resposta violenta; porque facilmente se cai na indigência, perdendo qualquer sentimento de autoestima, qualquer traço de humanidade.

Neste cenário, que medidas tomam os governos contra a pobreza nas cidades? Apenas pensam na recapitalização da banca! Como se a banca não fosse uma das causas da desgraça que cai sobre nós!

À pobreza, a banca nada diz. A banca só arrasta para a pobreza…

Um governo que pensa mais na banca do que na invisibilidade, na violência e na indigência dos governados, é porque apenas serve o capital. É um pobre governo!

 

27.7.11

Exotismos!

Valorizamos facilmente o exótico. As árvores de porte altivo são quase sempre exóticas! Sem elas não teríamos jardins, naturais, tropicais ou outros!

Sem a intervenção estrangeira, Portugal não teria sido fundado nem, ao longo dos séculos, teria conseguido manter a soberania…

Hoje, acreditamos que a TROIKA não deve ser confundida com qualquer cavalo de Troia…

Finalmente, estamos psicologicamente disponíveis para aceitar avaliadores exóticos (externos).

Nuno Crato, 6ª feira, anunciar-nos-á que uma nova TROIKA chegou ao Ministério da Educação. E nós bateremos palmas!

E depois andamos surpreendidos com o despertar violento do nacionalismo, embora pensemos que se trata de uma manifestação de exotismo – finlandês, austríaco… norueguês…

Haja paciência!

 

24.7.11

Maria Lúcia Lepecki

Pode parecer exagero, mas, com a morte de Maria Lúcia Lepecki, Portugal fica mais pobre. Era uma das poucas pessoas que, neste país, sabia ler e ensinar literatura – portuguesa ou francesa.

Tinha um método e aplicava-o à vista dos seus alunos. Não se apresentava como hermeneuta ou exegeta – era uma leitora metódica e perspicaz, incapaz de desprezar o recetor. Tratava-o com carinho, mesmo quando este se revelava pouco familiarizado com o texto…

Não sei se praticava a áskesis (ascese), mas, desde que a conheci, ainda nos anos 70, na Faculdade de Letras de Lisboa, até ao “encontro” sobre José Cardoso Pires, no Auditório da Esc. Sec. de Camões, sempre a vi como uma mulher virtuosa, no sentido que Diógenes de Sinope atribuía ao termo virtude. 

E para sempre assim ficará!

 

22.7.11

Carvalhal do Pombo na Literatura…

«Na sua casa da Avenida da Duque de Loulé faleceu o conceituado capitalista e filantropo Afonso Ruas, natural de Carvalhal do Pombo.» Aquilino Ribeiro, O Arcanjo Negro, pág.97 

Em que circunstâncias terá Aquilino Ribeiro conhecido tão ignoto lugarejo?

A que Bajonca (barão da Bajonca papalino ou manuelzinho) se estaria Aquilino a referir ao escrever: «aquele Bajonca, que assim se chama a portela de Carvalhal do Pombo onde a avó, que atiraram à margem, deitou ao mundo aquele que passa por seu paiibidem, pág. 102.

Apesar do desconchavo do mundo (atentados de Oslo), a Literatura não para de me surpreender!

 

20.7.11

Luz e sombra…

 Se as tarefas se amontoam ou a vontade é frágil acaba-se por não conhecer o que está na sombra ou para além da fachada.

Mesmo entrando, se à pressa, as peças da história podem deslumbrar, mas apenas isso.

Do martírio desta Santa Eufémia (porque há outras!) até este registo crescem as sombras…

e nós, contentes…

e eu, apressado, já nem sei porque comecei…

(É tão cedo e já tão tarde!)

 

 

16.7.11

Ao ampliar…

 O que vemos é diferente do que pensamos ver? Ou será ao contrário?

O instantâneo aprisiona o que escapa ao raciocínio… Ao ampliar, ou filosoficamente perscrutando, através da indagação mais ou menos reflexiva, vemos o que lá estava, mas fora da nossa apreensão.

Incautos, amamos a certeza!

Mas quando a ampliamos, percebemos que deveríamos cultivar a dúvida!

 

15.7.11

Diferenças…

A árvore dá frutos sem que eu lhe(s) saiba o sabor e o nome…
Colocadas lado a lado, as rochas não conhecem o desespero do fim…

 
Podiam ser as minhas janelas se eu tivesse alma!

A borboleta cumpre… e eu interrogo-me!

 

 

14.7.11

A metamorfose

 As pedras nuas surgem-nos insensíveis, estéreis; excecionalmente preciosas. As fronteiras são claras! Só a picareta as pode pulverizar…

No entanto, por aqui, às pedras, no leito do rio, não se lhes vê as raízes, mas a cabeleira é abundante e verdejante, e florescem… só não vou a tempo de lhes saber o fruto.

Se Mia Couto por aqui passasse, inventaria, certamente, a estória do velho que, farto da cidade, se teria lançado ao rio na esperança de lhe descobrir a foz. Este, porém, metamorfoseara-o em pedra vegetal.

 

12.7.11

ALDEIA, Aquilino Ribeiro

Vou dar a leitura de ALDEIA (1946) por terminada. Uma obra difícil de classificar! O autor atribuiu-lhe o subtítulo “Terra, Gente e Bichos”, o que me parece adequado, pois retrata a terra montanhosa e pobre, frequentemente, na perspectiva do caçador, a gente lapuza e improgressiva, ignorante, violenta e néscia, e, finalmente, os bichos solidários, se domésticos, e ameaçadores – os lobos.

O conhecimento da terra, da gente e dos bichos é genuíno. O autor inquiriu de tal modo cada um dos temas que a nomeação e a qualificação se revelam terminologicamente precisos e sistémicos, obrigando o leitor a um efectivo esforço metalinguístico.

O ponto de vista de quem – supostamente influente – abandona o Chiado para mergulhar na serra da Nave, é implacável para com a Gente da ALDEIA, boa fornecedora de estórias de pedintes, espoliadores, parricidas, salteadores sanguinolentos, mas incapaz de contrariar o atávico mimetismo que faz das serras testemunho de tempos imemoriais. (Os antropólogos deviam ter a obra de Aquilino Ribeiro como leitura propedêutica!)

 

São 15 capítulos, ligados pela Terra, que apresentam a origem, as tradições, a força dos elementos, o comunalismo primevo, estórias de torna-viagem, a acção dos caciques e, sobretudo, a miséria de um país que resiste à mudança…

São 15 capítulos cuja leitura é, muitas vezes, lenta porque nos distanciámos das coisas e dos seres, e, sobretudo, porque, ao perdemos a língua das Gentes, ficamos irremediavelmente desenraizados.

 

11.7.11

Pelas alminhas do Purgatório!

À consideração do ministro Nuno Crato que está a repensar As Novas Oportunidades (e não só!):

Em 1946, in ALDEIA, Aquilino Ribeiro pronunciava-se assim: «As chamadas Escolas Industriais e Comerciais fabricam uma espécie de bacharéis às grosas. O que se recomenda é que façam artífices, bons e completos operários. Para isso haveria que reformá-las e criar nas cabeças de concelho escolas de arte e ofícios, individuadas conforme a fisionomia económica da região.»

Se o senhor ministro lesse Aquilino, chamava os presidentes das câmaras municipais e começava por solicitar que lhe caracterizassem o tecido económico de cada região e só depois decidia o que fazer às Novas Oportunidades, aos Cursos Profissionais e outros que tais…e fugia a sete pés dos famigerados portfólios prenhes de retábulos das alminhas do Purgatório e de mãos postas…

De nada serve querer reformar (poupar) se não se vê um palmo à frente do nariz!

 

10.07.11

No Gerês

Bernardo Santareno n’ O Judeu, e José Saramago, no Memorial do Convento, dão-nos uma imagem de um D. João V grotesco. Ou será a imagem que é grotesca?

Quando a Literatura se apodera da História em tempo de decadência, corre-se o risco de que a primeira, ao serviço de preconceitos ideológicos, molde de tal forma o imaginário do leitor que este fique incapacitado de interpretar a “realidade”, entendida como o conjunto das coisas, boas ou más…

Vêm estas considerações a propósito de uma nota solta: Uma capela em honra de Santa Eufémia, foi mandada edificar por D. João V, em 1733, aliás, o monarca que mais se interessou pela termas, construindo um hospital, residência para médico, boticário, capelas e poço para banhos termais.

Por outro lado, pensando ainda no leitor que não consegue distinguir as sensações dos sentimentos, creio que o melhor é viajar até ao Gerês. Aqui, predominam a cor e o som – as sensações auditivas e as sensações visuais. No lugar onde me encontro, diria que o som da cascata esmaga os verdes da floresta. Quanto ao olfato, o eucalipto leva a palma ao restante arvoredo, mesmo ao vidoeiro…

Do tato é melhor não falar, apesar de agora me lembrar que Almeida Garrett não resistia às nervuras das pétalas das rosas, e que Pessoa enamorado da música do romântico e do cérebro de Pascoaes, se atirou às sensações como se a razão nada mais lhe oferecesse como comboio de corda… Afinal, o problema de muitas pessoas é que continuam a criar os seus países, como se lá fora nada existisse!   

  

9.7.11

À nossa frente…

O sol escasseia. Das aves, não há notícia! A água segue o seu caminho… enquanto a velha senhora espreita os novos vizinhos. Poucos e silenciosos. Alguns regressam ao cair da noite – são belgas e ingleses. Apenas a rádio ‘Fundação” transmite música inglesa, indiferente à presença dos belgas…, embora de hora a hora repita: “à nossa frente só está você!»

 

6.7.11

A causa pública

A um político só fixo o nome a partir do momento em que me convenço que este serve a causa pública. E hoje faleceu uma das poucas mulheres cuja acção política despertou há muito a minha atenção: Maria José Nogueira Pinto. Na minha memória, está agora sentada ao lado de Maria de Lourdes Pintasilgo.

Sempre lhes admirei a convicção e a coerência!

 

5.7.11

Exemplo…

MOODY'S CORTA 'RATING' DE PORTUGAL PARA 'LIXO'.

Eis um título que, de forma exemplar, dá conta do lugar de Portugal no mundo: o caixote do lixo. Metonimicamente, o “caixote” desaparece para ficar apenas a metáfora em que Portugal soçobra definitivamente. Já nem a língua portuguesa nos salva!

A tirania de agências, como a “moody’s’”, deveria servir para nos questionarmos sobre as nossas opções: ou lutamos por uma república federal europeia ou abandonamos a união europeia e, consequentemente, o euro.

O que não se pode aceitar é que diariamente sejamos humilhados e, sobretudo, devemos combater a política de terror que nos está a ser imposta.

 

3.7.11

O argumento…

‘Nas eleições legislativas de 5 de Junho, 85% dos votantes sufragaram a solução dos credores.’ É este o argumento que dá início à ditadura democrática, porque a partir da agora só nos resta pagar e calar. Qualquer desacordo vai ser visto como inoportuno e como causa próxima do falhanço que nos ameaça.

Uns tantos passarão a manifestar-se nas ruas em defesa das “conquistas de Abril”, indiferentes à nova ideologia. Para esta, no entanto, a causa remota, está nessas mesmas conquistas.

Apesar de metade da população não ter votado nas recentes eleições, está aberto o caminho para a gestão do terror porque, aparentemente, 85% dos portugueses apoiam as medidas que os condenam à pobreza.

Em nome da transparência, criam-se e propagam-se falsas evidências. O cilindro da propaganda já está no terreno: abençoam-se os princípios e os objectivos, na expectativa de que as estratégias sejam convincentes e os custos diminutos.

No caso de as estratégias falharem, resta o recurso à força. ‘85% dos votantes sufragaram a solução dos credores.’   

 

1.7.11

Nem a sorte nem a magia…

«-Não podemos falhar! Não podemos falhar!» Um enunciado a considerar nas fórmulas mágicas da afirmação de impotência…

Em vez da aposta no trabalho e na contenção, preferimos o esconjuro dos padres da igreja a que nos acolhemos. Quase que apetece gritar que É a hora! mas ficamos por: É o momento!

Fica, todavia, uma dúvida razoável: Não podemos falhar em quê? Para Eça, seria a vida! E para nós, há alguma coisa mais importante do que a vida? Não seria melhor, de uma vez por todas, admitir que falhámos como nação!

Nem a sorte nem a magia nos tirarão do açude em que tombámos, mas talvez pudéssemos aproveitar para criar umas trutas!

 

30.6.11

A nova retórica…

- Posso assegurar…” Assim começam ou acabam muitas frases proferidas pelos novos governantes. Infelizmente, quem, no contexto actual, arrisca tal certeza revela impreparação para o cargo que desempenha.

Uma análise de conteúdo dos argumentos utilizados mostra ainda que a repetição da “certeza” espelha a falta de estudo e, sobretudo, adverte para a leviandade da decisão, como no caso da aplicação do imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal… (Quem é que, de verdade, acabará por ser taxado?)

Não se espera que o político seja de tal modo cético que acabe por desvalorizar a acção, mas também de nada nos servem os iluminados que, em nome da racionalidade e da transparência, tomam decisões cegas.

 

29.6.11

Alternativa ao contrato de leitura

Mais do que formalizar contratos de leitura, as escolas deveriam promover o conhecimento da literatura, criar espaços de leitura literária, apetrechar as bibliotecas escolares com um número significativo de exemplares das obras mais consagradas dos vários cânones culturais e, sobretudo, promover a leitura em rede, socorrendo-se dos fundos das bibliotecas públicas…

A existência de 4 ou 5 gabinetes de leitura em cada escola permitiria recriar a leitura partilhada, fomentando a socialização dos jovens em torno das grandes questões que preocupam as sociedades actuais. Por outro lado, permitiria criar redes dinâmicas de leitores em torno de temas por eles próprios escolhidos.

Esperar que a disciplina de Português possa, em 2 blocos de 90 minutos semanais, promover a leitura literária não passa de um disparate! E a prova foi dada no III Grupo do exame nacional de Português (1ª fase): raros foram os alunos que, efetivamente, se referiram à importância da literatura ou que revelaram ter uma noção do que é a leitura literária.

 

 

 

26.6.11

Imagens da literatura…

A literatura

  • uma atividade relaxante… pode ser praticada na praia ou em casa; lugar de esquecimento, de descontração.
  • organizador mental e intelectual; ajuda a simplificar o complicado; sinónimo de ser culto; abre a mente; prepara para o verdadeiro mundo…
  • fuga à rotina; lugar de sonho, de vida (a criança sonha! o adulto vive!)
  • excêntrica e chocante (para pessoas calmas!); bem-comportada (para pessoas stressadas!)
  • lugar de engrandecimento e de cumprimento (Falta cumprir-se a literatura!
  • cara; encontra-se em todo o lado, e acessível a todos; não devia ser só para cromos e introvertidos...
  • vítima da televisão, do cinema e da internet; as novas gerações querem quebrar a tradição da literatura; a leitura literária deve dar lugar à leitura digital.
  • cansativa; antidepressiva; retrógrada.
  • sem a literatura, a formação é deficiente; é o fim das relações entre os seres humanos…

Nota: No exame nacional de Português do 12º ano, o CONTRATO DE LEITURA não fornece exemplos. Porque será?

 

25.6.11

A terra é de pedra!

A terra é de pedra!

Cai a gota, e medra a erva daninha. / A aboboreira, coitada, foge dela…

A alface parece alheada / espera a monda e que a livrem de cuidados…

Soberbo, o damasqueiro aproveita a circunstância / ignora a pedra e sobe ao acaso… / sem se aperceber que a fartura o há de matar!

(E eu que faço aqui?)

 

 

24.6.11

Ser ministro…

Ser ministro pressupõe disponibilidade para mudar de vida…

Nas análises que vêm sendo feitas, por exemplo, de Nuno Crato, há um traço comum: o conservadorismo do cidadão. Rebuscam-se a obra publicada, entrevistas dadas, artigos dispersos para o crucificar.

Ninguém quer saber das linhas programáticas do novo ministro para o ensino e para a educação; ninguém espera para verificar se a inteligência, que, apesar de tudo, lhe é reconhecida, trará um novo rumo, uma nova equipa capaz de redefinir as prioridades com menos despesa, melhor aproveitamento dos recursos humanos e, sobretudo, com efectiva melhoria das aprendizagens.

À partida, nada nos garante que um progressista faça melhor do que um conservador. O que está em causa é compreender se o ministro tem um projecto adequado à realidade, e se é capaz de se rodear de uma equipa homogénea que, longe dos holofotes, sirva a coletividade.

O problema é que há demasiadas luminárias!

 

21.6.11

E assim…

A aposta em tornar igual o que poderia ser diferente só traz prejuízo! A grelha de leitura é mais importante do que o texto: o detalhe sobrepõe-se ao conjunto.

E, assim, a perceção da realidade (poética ou outra) empobrece a cada abordagem, reduzindo o chão da imaginação criadora.

Continuamos no paradigma da domesticidade, só que a uma escala cada vez mais ampla. Deixou de haver lugar para o desespero pessoano da incomunicabilidade…Escamas surdas, translúcidas e fortuitas!

A mediocridade matou a tangibilidade. Do predador, só a dor da criatura doméstica.

 

20.6.11

Na balança da Europa

Se a Europa nos quer expulsar do euro, o melhor a fazer é sair. E quanto mais cedo melhor! A Europa nunca nos viu com bons olhos: primeiro, invejou-nos, depois saqueou-nos. Recentemente, enfeitiçou-nos. E para quê?

- Para nos devorar.

 

18.6.11

Tomar

Quando atravessamos certas cidades, como Tomar, apetece ficar, não por causa dos nabantinos que parecem ter desertado da cidade, mas por causa dos seus monumentos, das suas praças e vielas… 

Por causa da sua história e da beleza paisagística, sinto-me de regresso à cidade dos anos 70, agora mais moderna… e compreendo que uma parte dos fundos europeus me cerca… e que a festa dos tabuleiros se avizinha.

 

17.6.11

A dúvida…

Até parece que o PSD não ganhou as eleições! Onde é que estão as figuras proeminentes do partido? Nos Conselhos de Administração?

Sobre Sócrates, afirmava-se que era mestre de tática, mas sem estratégia! E no PSD, quem é que define a estratégia? Quem é que pensa o caminho para sair da crise sem sacrificar os interesses nacionais?

Olhando para os 11 ministros, não vejo nenhum capaz de pensar por si, de definir uma estratégia que não esteja subordinada a interesses privados.

Sobra-me, no entanto, uma dúvida: Será Nuno Crato capaz de constituir uma equipa com espírito de missão que faça uma limpeza na multiplicidade de estruturas que desgovernam a Educação?

 

16.6.11

E se assim não fosse…

Cada cavadela, sua minhoca!

No que me diz respeito, é mais cada enxadada, várias minhocas e de várias cores. Sem querer corromper o saber popular, em tempos de aposta no regresso ao campo, parece-me que melhor seria pensar um pouco mais antes de agir.

Os sinais começam a ser claros: os ricos querem os pobres à distância; os pobres (e, sobretudo, os parasitas que são como as minhocas!) vão acabar por romper o dique e ser massacrados até que voltem a ser necessários…

(Se as minhocas soubessem que estão a ser utilizadas como iscas vivas!)

À desordem seguir-se-á uma nova ordem, uma nova abundância… até que o alcatruz volte a esvaziar-se…

E se assim não fosse não haveria narrativa!

 

14.6.11

O tempo dos almotacés…

A quente, não é de esperar grande sensatez! E por isso esqueço os rostos do dia, e regresso à memória de outras modernidades…

Ao tempo da camioneta da carreira que trouxe a pontualidade e a democratização, que descobriu novas fronteiras, novas serras, novos mares…

Ao tempo do petróleo (querosene ou petroline) que apagou a noite e anoiteceu as velas de sebo, que impôs a higiene…

Ao tempo da eletricidade que humilhou Apolo e ofereceu aos poetas as flores do mal e as horas mortas…

Ao tempo do automóvel aristocrata e burguês…

Ao tempo da escola oficial que nos queria libertar da ignorância em troca de votos comprometidos…

Ao tempo dos bens comunais: a eira, as lameiras, a água de rega, o forno, o moinho-à-beira rio, o açude, a serra…

Ao tempo dos almotacés!

(…) E este regresso mais não é do que o reconhecimento de que quem olha e escuta é a consciência de um devir que ainda pode escolher entre os impulsos desmedidos e os bens comunais…

 

10.6.11

10 de Junho de 2011

«De verdade, mentir é um vício maldito. Somos homens porque capazes de respeitar a palavra dada.» Montaigne, Les Essais, Livre I, chapitre IX.

De facto, faltar à verdade é o pior dos crimes, até porque o reverso da verdade se revela sob mil figuras. Tal como os pitagóricos pensavam: o bem é certo e finito e o mal é incerto e infinito.

Na solenidade do dia, os discursos parece que se desprenderam dos homens, revelando os homúnculos que, em nome da nação, continuam a ajustar contas, deixando António Barreto a falar sozinho…

Na oratória de Barreto mora a cerração que, talvez, venha a ser desfeita não pelos homens, mas pela contingência…

(A angústia.)

 

7.6.11

A materialidade…

 

Manuel Baldemor, 1947, Paete Laguna, Filipinas, cinzela o papel com o sentido de quem quer revelar lugares perdidos na voragem de sociedades que preferem a especulação financeira e a ociosidade ao trabalho.

A solução passa cada vez mais pela redescoberta da matéria, em todas as suas extensões, isto é, pela valorização do homo faber.

De nada serve o comentário daqueles cuja palavra perdeu a referência.

A litotes, talvez!

 

6.6.11

É difícil mudar!

Hoje estive, entre as 11h15 e as 12h45, no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, para ser submetido a um exame médico, cujo resultado será enviado ao meu médico assistente num prazo de três semanas.

Entretanto, enquanto por lá permaneci, tive tempo de perceber que tarefas que exigem extrema atenção são executadas no meio de conversas gratuitas e pautadas por continuadas SMS, ou interrompidas para atender conhecidos e amigos que beneficiam de celeridade insuspeita e de tratamento privilegiado…

Nem vale a pena lastimar o tempo que passei já preparado à espera que o radiologista aparecesse, quando, ainda na sala de espera, vi doentes da medicina interna abandonados à porta dos gabinetes até que surgia um auxiliar a perguntar-lhes se já tinham feito os exames… De comum, nenhum daqueles doentes se encontrava em condições de dizer o nome ou de confirmar se sim se não…

Concluído o exame, ninguém me disse onde deveria dirigir-me para fazer o pagamento, como se essa diligência nem existisse… Lá descobri a tesouraria, apesar de não haver nenhuma placa a assinalar o local. 

Fiquei, deste modo, esclarecido sobre as dívidas dos utentes, sobre a baixa produtividade nas unidades de saúde, sobre o desleixo em certos actos médicos, sobre o modo como os doentes mais indefesos são tratados, e sobre o modo como o amiguismo e o corporativismo beneficiam de privilégios que não deveriam existir num estado de direito…

 

5.6.11

A decisão…

A última intervenção televisiva de José Sócrates, pela imodéstia testemunhada, parece querer confirmar que a decisão dos portugueses foi acertada.

(Esperemos, no entanto, que não seja necessário pegar em armas para colocar sensatez na cabeça dos governantes.)

Os próximos três meses serão fundamentais para atalhar a caminhada para o abismo.

Vamos lá ver se, a partir de amanhã, a nova ordem sabe cortar em tudo o que é desperdício e imoralidade, como, por exemplo, o actual modelo de avaliação de professores ou a Parque Escolar.

 

3.6.11

A alternativa?

Agora que a campanha eleitoral está a acabar, procuro uma alternativa e só antevejo soluções defuntas! Não sei se os candidatos a deputados deram a devida atenção às velhas tecnologias, mas o país rural e urbano expõe-mas, de norte a sul.

De qualquer modo falar de candidatos a deputados é um excesso de linguagem, pois, apesar das novas tecnologias, parece que eles enfiaram o gorro do «físico prodigioso» e terão partido para uma qualquer longínqua praia paradisíaca. Ninguém lhes conseguiu pôr a vista em cima! Esperemos que o devasso satã não os tenha sodomizado!

Quanto à alternativa, bem sabemos que não podemos voltar atrás, nem virar à esquerda ou à direita, ou mesmo sonhar o futuro, pois se o fizermos perderemos o presente, tombando definitivamente no abismo…

Esta lição, no entanto, só serve a quem pense que o Sol nasce todos os dias. Infelizmente, continua a haver quem ainda não tenha entendido que o Sol é um fingidor!

 

 

 

2.6.11

Tristes e hilários!

Todos os dias o Sol finge que nasce e, ao despertar, para nos enganar, fá-lo sempre de modo diferente. E nós, sempre do mesmo modo, fingimos que a pequenez não nos afecta, que a prosápia não nos coage, que a astúcia não nos inibe…

Resignados, ouvimos convicções inatacáveis, ideias secretas…

e sorrimos

dos aplausos bajuladores, das histerias beatas…

e dos que têm ideias só para os outros concretizarem…

e dos que propõem interpretações fantasiosas…

e dos justiceiros prontos a empunhar a espada!

(Fingimos e a alma morre! A sorte é que o Sol não finge o seu curso…)

 

31.5.11

Da tristeza…

Tal como Psamenita, rei do Egito, olho, não para Cambise, rei da Pérsia, porque essa “estória” há muito saiu da memória, mas para as lágrimas silenciadas das vítimas da maré de soberba e de pesporrência que não cessa de crescer, e interrogo-me se os olhos secos não são, afinal, a expressão de uma tristeza anoitecida…

Porque, na realidade, ainda há por aí muita tristeza luminosa – olhos que sorriem de pudor; suspiros desesperadamente castos, vozes cadentes e assassinas, mãos fugidias e rapaces, azuis e castanhos inefáveis…

E eu começo a acreditar que o humor negro só existe nos olhos secos daqueles que, à contenda e à intriga, preferem o silêncio do caminho e a solidariedade das vítimas…

A esta hora, os candeeiros tingem de amarelo os ramos exóticos que sobre mim balançam, e os pássaros contam a estória dos reis da Pérsia e do Egito. Por mim, tudo bem! Vou ficar a ouvi-los porque eles merecem… 

 

27.5.11

A máquina do mundo!

O Grupo de Teatro da Escola Secundária de Camões continua a surpreender. A 3º produção da companhia oferece-nos uma bela adaptação da obra dramática Além as estrelas são a nossa casa, de Abel Neves, (ed. Edições Cotovia, Lisboa, 2000). Em palco, registei a presença de 22 intervenientes na construção do espetáculo… Admiro-lhes a memória, por vezes a dicção, e, sobretudo, a versatilidade de alguns destes novíssimos actores, sejam eles alunos ou professores. Ali, no palco, a diferença esbate-se por inteiro, a não ser quando programa de superação de estereótipos. Por isso lhes ofereço uma borboleta de Pitões das Júnias, símbolo das metamorfoses que têm gerado novas estrelas na nossa casa, nestes dois últimos anos.

Nota: Abel Neves, Montalegre, 1956. O adolescente Abel Neves que começou a escrever aos 14 anos foi estudar para o Liceu Camões. Desde sempre apaixonado pelos livros, tinha lido A Aparição, de Vergílio Ferreira e comprara nesse ano o romance Nítido Nulo. O autor era então professor no liceu, mas Abel não era seu aluno. Um dia, munido de toda a coragem que conseguiu reunir e com o livro na mão, entrou na sala de aulas onde estava o escritor.
Queria pedir-lhe um autógrafo. "Nunca mais me esqueci do que me disse, olhando alternadamente para mim e para o livro: Quem é que te mandou cá, rapaz?". "Ninguém".

Gostava muito do autor e só queria uma dedicatória. Fiquei algo desiludido quando este apenas assinou o seu nome. 

 

26.5.11

Calamitosus…

Calamitosus est animus futuri ansius… Séneca amaldiçoava os espíritos ansiosos que se preocupavam com o futuro, e nós parece que queremos seguir-lhe a lição.

Ao futuro, dizemos não, obrigado. Preferimos, puxar cada um para seu lado, ajustar contas, procurar garimpeiros, agricultores, piratas e mercadores nos pais fundadores. E por isso subimos às árvores, despimos os casacos e choramos de encomenda. A ânsia deixou de ser do futuro para se tornar num espetáculo de harpias!

 

24.5.11

MENSAGEM suicida

Em 1935, Fernando Pessoa publicou MENSAGEM, obra de natureza elegíaca e profética, e distante dos sinais de que o lugar de Portugal no mundo deixara de depender da moribunda alma lusa, tal como se provou no decurso da Segunda Guerra Mundial.

Empurrado para um beco sem saída, o país do «orgulhosamente sós» tornou-se ludíbrio das potências vencedoras, num contexto de guerra fria, procurando na memória e na profecia a seiva que, durante catorze anos, criou uma diáspora e lançou nos braços da morte populações anestesiadas por tiranetes autistas e/ou servidores de outras ideologias imperialistas…

A cegueira que nos impediu e impede de enxergar as nossas limitações, que nos permitiu trocar as atividades produtivas por dinheiro fácil, que continua a alimentar o imaginário dos nossos adolescentes – pela enésima vez, estão a ser preparados para, num exame nacional de Português, interpretar de forma acrítica um poema de MENSAGEM ou de OS LUSÍADAS, ou para, em oitenta palavras (?) comentar, de forma jesuítica, uma qualquer exaltação da “nova pátria” …Tudo muda, mas as nossas velhas âncoras continuam as mesmas. E isso é suicídio!

 

22.5.11

Desertos interiores…

A aplicação da regra mínima dos 10 mil habitantes por município faria ‘desaparecer’ um em cada três concelhos em Portugal. No Alentejo só manteriam a sua identidade quatro municípios.

Do que é que estamos à espera? Se o objectivo é reduzir os custos do poder central e local, a reorganização autárquica é um bom caminho para acabar com o caciquismo político que se instalou nas últimas décadas. Sobre o assunto, os partidos não dizem nada e preferem distrair-nos com a redução dos feriados e dias santos…

O que se compreende, pois se reduzíssemos significativamente o número de autarcas e, consequentemente, a administração local, tornar-se-ia obrigatório reduzir a administração central…

Apesar dos avisos da TROIKA, continuamos a fazer de conta! O melhor é prepararmo-nos para o debate sobre a identidade dos desertos interiores.

 

21.5.11

Um país injusto…

Número de pensões douradas do Estado aumenta 400% na década. (DN, 21 Maio 2011)

Será verdade que, em contrapartida, o número de reformados que recebe a pensão mínima, entre 250 e 500 €, diminuiu 26%? Ou que o número de reformados que recebe uma pensão entre 500 e 750€ só cresceu 8%?

Porque será, então, que muitos portugueses vivem da caridade ou se veem obrigados a continuar a trabalhar?

Por outro lado, para explicar quem são os portugueses que beneficiam dessas pensões douradas, Jorge Nobre dos Santos, líder da FESAP (Há quantos anos?) declara: «são grupos profissionais que costumam ter salários mais elevados e que mais descontaram.» Mas será mesmo verdade? Não haverá muitos portugueses a receber reformas douradas sem terem feito descontos significativos? Quantos?

O DN bem podia contribuir para esclarecer estes equívocos em vez de dar voz a quem bem sabe que, se as pensões correspondessem aos descontos efetivamente realizados, a Caixa Geral de Aposentações não teria problemas de tesouraria.

O que hoje se está a passar na CGA é que os maiores contribuintes passaram a ser os mais penalizados.

 

20.5.11

Nulidade…

Espero que os alunos deste país não tenham assistido ao debate Passos Coelho-José Sócrates, pois o resultado da argumentação foi nulo. Estes dois candidatos desrespeitaram as regras e, sobretudo, anulando o moderador, evitaram as perguntas que poderiam ajudar a traçar o perfil de cada um.

Do debate, fiquei, todavia, com uma certeza: nenhum destes candidatos está preparado para tirar o país do beco em que se encontra, pois revelaram-se incapazes de dialogar.

No fundo, está aberto o caminho para soluções musculadas, caso não queiramos soçobrar definitivamente… A ditadura é historicamente uma consequência da falta de entendimento entre os homens.

 

19.5.11

Falsos profetas!

Harold Camping insiste no fim do mundo a 21 de Maio de 2011, às 18 h, deixando perceber que só os cristãos (mesmo que pecadores) gozarão das delícias do fim.

Nos corredores da Comissão Europeia, há, entretanto, quem veja o senhor José Barroso à frente do Fundo Monetário Internacional.

Nas redações dos jornais, das televisões, das agências de propaganda e  de apostas antecipa-se o regresso de José Sócrates ao poder.

Cético como sou, decidi tomar algumas precauções: a primeira é que vou ignorar as profecias, sobretudo quando elas colocam no “santo dos santos” – o povo eleito, o povo português.

Apesar da iconografia não ser expressiva, basta, contudo, pensar no sucesso político, artístico e literário do Quinto Império, citando o profeta mais convincente que alguma vez pisou solo luso – o Padre António Vieira, História do Futuro:

Livro Quinto (Tempo, duração e ordem do dito Império)

Questão 1ª – Se o estado consumado do Quinto Império há de ser antes ou depois do Anticristo? Resp. que antes.

Questão 2ª – Qual dos dois povos se há de converter primeiro universalmente, para a consumação do dito Império, se o gentílico, se o judaico? Resp. que o gentílico.

Questão 3ª – Quanta seja a duração do dito Império, depois de consumado? Resp. que até o fim do mundo.

(…) Livro VI (Terra em que se há de fundar o dito Império em quanto temporal, e qual há de ser a cabeça dele)

Resp. que há de ser na Europa, em Espanha, em LISBOA.

Como o fim do mundo não chegou no séc. XVII, designadamente em 1666, os portugueses devem estar atentos aos falsos profetas, pois o referido V Império «espiritual e temporal juntamente» É NOSSO por decisão divina… se a fé cristã não nos falecer!

E para quem ande desatento, o melhor é ler MENSAGEM, onde Fernando Pessoa consagra António Vieira como o verdadeiro profeta – o «imperador da língua portuguesa».

(Discurso bolorento para crentes de oportunidade, preguiçosos incuráveis e palhaços de circunstância que não querem ser; apenas querem ter.)

 

18.5.11

Bem-aventurados os que acreditam!

Aos 89 anos, o norte-americano Harold Camping prediz que o fim do mundo acontecerá no próximo dia 21. Quem não se converter ao cristianismo até às 18 horas desse dia não terá salvação!

E nós aqui a enunciar 78 mil milhões de razões para afastar José Sócrates!

 

 

17.5.11

O aparato esmaga-nos…

A menos de um mês de eleições legislativas decisivas, continua por esclarecer como é que o despesismo na educação poderá ser significativamente reduzido. Nenhum partido propõe aos eleitores um plano concreto de reforma do sistema educativo, adaptando-o às necessidades de um mundo em que a imaginação criativa e produtiva é fundamental.

O centralismo, que determina a existência de milhares de burocratas e autocratas, desvia os recursos financeiros das famílias e das escolas e, por outro lado, empenha-se em programas de maquilhagem que em nada contribuem para a melhoria do ensino em Portugal. Por exemplo, nenhum partido explica como é que a Parque Escolar pode continuar responsável pela recuperação dos edifícios escolares se o monstro, até ao momento, gerou «kits» vistosos e caríssimos, a breve trecho inabitáveis… Nenhum partido explica por que motivo o ensino em Portugal continua a ser gerido por diversos ministérios, criando sobreposição de estruturas que acabam por servir para «capturar» fundos europeus e, ao mesmo tempo, alimentar falsas competências, legitimando a distribuição de empregos e de cargos no estado e nas parcerias público-privadas pelos sequazes…

E muitas outras questões continuam por responder: Para que servem os actuais centros de formação de professores? Para que serve o actual modelo de avaliação? Como é possível criar departamentos curriculares e manter em funcionamento grupos disciplinares? Para que serve o alargamento da escolaridade obrigatória sem diversificar as fileiras profissionais? Actualmente, centenas de milhar de jovens passam parte da adolescência em escolas, onde nada aprendem a não ser: - desenvolver comportamentos antissociais…

 

15.5.11

Vitalidade…

Indiferente aos nossos pés, o campo oferece-nos expressões de vitalidade que só podem confundir os nossos sentidos… No entanto, esse deslumbramento só acontecerá se nos deixarmos de pressas e de questiúnculas efémeras e inúteis.

 

14.5.11

As maias…

Aqui, o país é outro! Aves e insetos entregam-se ao amor, embora vigilantes, não vá o inimigo estragar-lhes a melopeia e a dança... Mesmo os coelhos preferem a imobilidade à fuga precipitada! A figueira, deitada na arriba, esconde a flor… E eu espero que Maio continue assim!

 

 

13.5.11

Estendais…

Os estendais estão na moda! Soltam-se os jacarandás pela Almirante Barroso; a poesia prospera enquanto a roupa rechaça o bolor, lembrando-me o tempo em que o Augusto Abelaira escrevia BOLOR no Outrora - Monte Carlo – Agora - Zara.

O discurso político continua bolorento, redondo… e tal como Abelaira, creio que o melhor é pôr a roupa ao sol, com ou sem barrela!

 

11.5.11

Em certas situações…

Quando descemos o rio, corremos o risco de nos deixar embalar.  E em certas situações (no caso, insuficientemente pensadas), a fuga ao bloqueio exige decisões instantâneas e capazes de mobilizar os recursos mais próximos.

Hoje sinto-me grato aos meus colegas do júri da modalidade de texto dramático – VI Concurso Literário da Escola Secundária de Camões –, e, em particular, agradeço ao João Santos todo o apoio que me dispensou.

 

10.5.11

Torres Novas - mais longe

O que não se vê: um cemitério, um estabelecimento prisional, dois lares e um convento, um hospital defunto, uma escola de polícia, o Almonda…

Entre margens de clausura, perde-se o rio a caminho do Tejo, vem de perto… sem tempo para se alongar. O mesmo acontece com a cidade, outrora vila! E comigo! Porque aqui nasci, e parti a caminho do Tejo; cada vez mais perto da foz, sinto que mais longe estou, como se em fuga, mas sem linha de água…

(Os dias, entretanto, são de incongruência, capricho, arrufo, equívoco, irresponsabilidade, mentira e, sobretudo, de petulância.)

 

 

 

8.5.11

Uma boa ideia!

http://vimeo.com/20887702

O membro do Banco Central da Islândia Gylfi Zoega diz que Portugal deve investigar quem está na origem do elevado endividamento do Estado e dos bancos.

«Temos de ir aos incentivos. Quem ganhou com isto? No meu País eu sei quem puxou os cordelinhos, porque o fizeram e o que fizeram, e Portugal precisa de fazer o mesmo. De analisar porque alguém teve esse incentivo, no Governo e nos bancos, para pedirem tanto emprestado e como se pode solucionar esse problema no futuro.»

Só posso estar de acordo com Gylfi Zoega. Será assim tão difícil encontrar a resposta? O eleitor necessita de conhecer o nome de quem, nas últimos anos, saqueou o estado português, para que possa votar em consciência… Sem essa resposta, mais vale pôr-se ao sol!

 

7.5.11

Uma extensão ortodoxa…

A Fundação Maria da Conceição e Humberto Horta é uma fundação de solidariedade social, sem fins lucrativos de carácter religioso, criada por iniciativa de Maria da Conceição Mendes Horta e Humberto Rodrigues Lopes Horta, com sede em Casal Garcio Môgo, freguesia de Salvador, concelho de Torres Novas.

A Fundação Maria da Conceição e Humberto Horta, pessoa colectiva de utilidade Pública, com nº 504167936 R.N.P.C., reconhecida por despacho do Ex.mo Senhor Secretário de Estado da Inserção Social, datado de 02 de Junho de 1998, com registo lavrado em 09 de Junho de 1998, pela inscrição nº20/98, a fls.154 e 154 v.º do livro nº5 das Fundações de Solidariedade Social, publicada no Diário da República n. º160 de 14/07/98 III série, com o fim de promover e melhorar a condição de vida dos idosos.

Só hoje acertei com o caminho de terra batida para este “santuário”. Desde os anos 60 que oiço falar da “santa” e respectivos “apóstolos”. Um destes teria destroçado o coração da tia Maria. Vá lá saber-se porque é que o meu avô Carlos, um santo homem, terá embirrado com ele, proibindo o namoro! Mas isso foi antes da “santa” se iniciar nas visões e nos milagres, ali, pertinho da “capelinha das aparições” …

Ao longo dos anos, fui ouvindo, incrédulo, as notícias sobre a charlatanice e os abusos, pensando que morta a “santa”, os “apóstolos” partiriam por esse mundo a semear as graças… Afinal, ali, juntinho à A23, conseguiram criar uma Fundação e uma catedral. Haja Deus!

Percorri a pé, qual peregrino, todo o espaço, e, apenas, enxerguei três almas. Uma freira, no interior da catedral, que parecia rezar pala alma dos patronos, para sempre reunidos naquele abençoado lugar. Ou seria pela minha? Um idoso sentado num banco corrido (do lar?) e um maltrapilho que vivia num casinhoto próximo…   

 

5.5.11

Auctoritas…

Acrescenta-se a realidade sempre que a forma se torna conteúdo. Hoje, no entanto, Portugal é um país muito mais pobre. Incapaz de potenciar a sua verdadeira massa crítica, o país passa a ser monitorizado pela TROIKA, deixando-nos a ilusão de que ainda somos soberanos, e por isso ainda vamos a votos…

O problema é que os candidatos que se apresentam nada acrescentam à nossa realidade. Falta-lhes autoridade, no sentido mais primitivo do termo. Não passam de réplicas!

(E a autoridade exige pensamento próprio, sentido de responsabilidade e, sobretudo, honestidade!)   

 

3.5.11

A suspensão…

A suspensão faz-nos esperar até ao fim de uma frase ou de um período, em vez de apresentar de imediato um aspecto que poderá causar-nos uma impressão muito forte – boa ou má…

Ao ouvir José Sócrates, dou comigo às voltas com a retórica… a comunicação alonga-se em acinte, em desforra, como se o mais importante fosse trocar as voltas ao inimigo, e, simultaneamente, tranquilizar os correligionários e os simpatizantes. O discurso bifurca-se, adiando, suspendendo o cerne do «acordo» …

A “suspensão” é um procedimento que, de facto, permite dissimular a realidade ou, pelo menos, torná-la mais leve. José Sócrates revela-se mestre nesta arte, enquanto a TROIKA nos vai aplicando a extrema unção.

Entretanto, o mestre, feliz, já traçou o plano de retirada!

 

 

2.5.11

Resta saber se…

11.09.2001 / 01.05.2011

“O mito é o nada que é tudo.” Fernando Pessoa

Muitos vieram do nada e poucos conseguiram abarcar a totalidade. No início do século XXI, alguém, que tinha quase tudo, quis conquistar a parte que pensava faltar-lhe e, para o efeito, planeou eliminar o inimigo, e fê-lo de forma tão ostensiva que, de imediato, teve de passar à clandestinidade… e lá viveu até ontem. Uma parte do mundo imaginava-o anjo das trevas, a outra via-o anjo de luz.

Com a declaração da morte do homem, chega a transfiguração. Resta saber se em pó se em mito!

(De qualquer modo, pela bibliografia disponível, as portas ter-se-ão certamente aberto, e o futuro será cada vez mais incerto. Os festejos não anunciam nada de bom!)

Jean-Charles Brisard, Ben Laden: La Vérité Interdite

Richard Labévière, Les Coulisses de la Terreur

Omar Bem Laden, Oussama Ben Laden, Portrait de Famille

Nasser al-Bahri, Dans l’Ombre de Ben Laden

Jean-Pierre Filiu, La Véritable histoire d’Al Quaida (para adultos)

Mohamed Sifaouie Philippe Bercovici, Ben Laden dévoilé

Elisabeth Combres (ilustração de Diego Aranega), Le Terrorisme (para crianças com mais de 11 anos) *

*Retrata a “Morte anunciada de Oussama Ben Laden” em imagens.

 

 

1.5.11

Na Turdetânia…

«Sempre foi uma função nacional pedir. (…) Vinha de longe, talvez dos turdetanos, pelo menos dos tempos em que em Portugal havia apenas fidalgos, frades e mendigos.» Aquilino Ribeiro, Aldeia, 1946

Para Passos Coelho, num país de mendigos, vai ser possível não reduzir nem salários nem funcionários! Extraordinário! Estarão os fidalgos de acordo?

Melhor seria que os políticos explicassem ao país como é que vão honrar os compromissos financeiros do Estado, torneando as medidas que nos vão ser impostas.

Afinal, a campanha eleitoral vai ter como objectivo apurar quem é o maior trafulha da Turdetânia!

Nota: Segundo Estrabão, os turdetanos, principalmente os que viviam ao longo do rio Baetis, tinham adoptado o modo de vida Romano, e não se lembravam mais da própria língua.

 

29.4.11

Ideias para sair da crise…

Se a ideia é reter os subsídios de férias e de natal, transformando-os em certificados do tesouro, correndo o risco de se apagarem no dia em que oficialmente for confirmada a bancarrota, porque não utilizar os referidos subsídios para amortizar dívidas? (crédito à habitação, automóvel, consumo…)

Era uma forma de recapitalizar as exauridas instituições financeiras e, simultaneamente, diminuir a dívida do cidadão que, com o agravamento das taxas de juro, a diminuição dos rendimentos ou mesmo a perda de emprego, corre o risco de deixar de ter condições para satisfazer os encargos que, ingenuamente, foi acumulando nos últimos anos.

Com tantos economistas e especialistas em finanças já algum se deve ter lembrado desta medida! No essencial, o Governo deveria, pelo menos, dar a hipótese ao cidadão de decidir como ajudar o País a sair desta embrulhada.

No meu caso, estou pronto a acelerar a amortização das minhas dívidas… aplicando os referidos subsídios. E quem as não tiver? Esses também deveriam pensar na melhor maneira de evitar a queda no abismo.

E se a TROIKA pedisse algumas ideias ao cidadão comum?

 

28.4.11

E sei bem…

Escondes-te da luz

eu tropeço em círculos não de ti

mas de mim!

E sei bem que a imagem já foi tua!

 

                                                    

27.4.11

Cainhez

Há alguma vantagem em criar um órgão a que falta função? (Aquilino Ribeiro, Aldeia, 1946)

 

Há quem afirme que a resolução da crise passa pela reposição do escudo, pelo consumo de produtos portugueses e pela diversificação das exportações.

A ideia parece radical, mas, para muitos - os pobres. Esta tese não traz qualquer perigo.

E, de facto, a quem interessa o euro? A todos os que se habituaram a um estilo de vida “europeu”, sem, de verdade produzirem o suficiente para o justificar.

E porquê? Porque desde que a CEE abriu a torneira, desatámos a criar órgãos a que falta a função…

Estará a TROIKA consciente desta nossa peculiaridade? Se não estiver, os pobres ficarão mais pobres; os remediados ficarão pobres; os ricos ficarão mais ricos!

 

24.4.11

Palco aos novos…

Uma criação colectiva que prescinde da figura do encenador, mas que valoriza a encenação. Por outro lado, o que parece discurso estereotipado transforma-se progressivamente numa forma de afirmação que rejeita a lamúria e a explicação culpabilizante. Se mais não houvesse, bastariam estes dois argumentos para que a sala do Teatro Turim esgotasse!

PS: Na sessão das 17 horas, de hoje, domingo de Páscoa, três belas atrizes representaram para 8 espectadores. Um privilégio, mas não abusemos!

 

22.4.11

Teixeira dos Santos

Teixeira dos Santos, desde 2005, ministro das finanças, voluntaria ou involuntariamente, delapidou-as ou deixou delapidá-las. Num país com poucos recursos, este ministro não pode receber ordens! Compete-lhe interpretar, a cada momento, a situação financeira do país, impedindo que a megalomania dos seus pares, ou mesmo do primeiro-ministro, arruíne o país.

Vista a questão deste modo, este ministro das finanças revelou-se um homem sem o carácter exigido pelas circunstâncias!

De qualquer modo, não faz sentido o alarido criado em torno da sua ausência da lista de candidatos a deputados do Partido Socialista.

Como escreveu Aquilino Ribeiro em Aldeia, Terra, Gente e Bichos (1946): «O português resigna-se a tudo menos a não ter opinião ou a não deitar a sua sentença. E como se julga o mais competente, vá de impor-se e não permitir que os outros pensem diferentemente. O nosso sectarismo e mesquinhez social estão muito nisto.»  

 

21.4.11

Ao contrário de Sísifo...

No tempo em que o vinho parecia ser para todos, não havia quem quisesse saber de nós, a não ser para nos roubar as colónias. Desfeito o império, regressámos às origens, acreditando que a Europa nos acolheria e nos recompensaria da longa viagem e da longa diáspora...

Agora, sob o olhar arrogante dos poderosos, digladiamo-nos como se não houvesse amanhã! No entanto, se quiséssemos, poderíamos traçar novo rumo: aplicar as nossas energias na terra e no mar. Nem sequer era preciso o Longe, porque o Eldorado esteve sempre perto, senão em nós mesmos...

Se começássemos por valorizar o trabalho, por descobrir novos trabalhos, em vez de aceitarmos os inúteis trabalhos de Sísifo...  talvez o vinho fosse merecido, fonte de vida, e para todos!

 

20.4.11

O velho Portugal

O tempo não está para jogos florais!
Ao contrário do velho bode que bem sabe que a sua missão é perpetuar a espécie, o velho Portugal perde-se em Guerras de Alecrim e Manjerona! Guerras estéreis e suicidas!

O velho e ignaro Portugal há muito que deixou de ler António José da Silva. Depois de o ter queimado, esqueceu-o definitivamente… Agora, cabeça baixa, verga a espinha, estende a mão e agradece espalhafatosamente que ainda o deixem gerir as migalhas que venham a sobrar do resgate…

19.4.11

Rios interiores

Bem longe
                do bulício da cidade...
                do FMI..
                do Sócrates e do Passos...
                dos comentadores do momento
                da casca do presente
                dos nobres desatentos
                dos louçãs e dos jerónimos
Com ou sem portas...
                 caminho sem destino
                 atravesso lugares sem saída
E de súbito
                   compro queijo de cabra, a estranhos queijeiros...
                                   holandeses, talvez!

 

18.4.11

Interiores…

Visto de fora, o país resume-se a um extenso areal repleto de corpos ociosos. Visto de dentro, o país é um mosaico de interiores, abandonado.
(Por estes dias, perco-me no pinhal interior, nos rios interiores!)

 

17.4.11

Instalação “Memórias”

 

No Centro Comercial TURIM, Estrada de Benfica, uma instalação que aproveita as radiografias para dar expressão à construção de memórias.

A QUENTE… e a FRIO!

Ao lado, na Sala de Teatro, até 8 de Maio, THERE’S AN ELEPHANT IN THE ROOM, por Filipa Leão, Sophie Pinto, Vanda Cerejo.

(Iniciativas de quem luta contra a inércia e a injustiça de um país que ignora o presente e o futuro.)

O impasse…

Quando a casca esconde o miolo, só a mudança de atitude poderá ajudar a sair do impasse.

Fora das cidades, há um país por explorar; há campos por cultivar.

No entanto, felizes, procuramos os areais!

(Já em tempos, D. Sebastião se enganara no caminho!)

15.4.11

Cilindro compressor, Acto 2

 (Manhã) A vacuidade das respostas da prova de exame de Literatura Portuguesa dá corpo à teoria de que os classificadores são excessivamente benévolos e, sobretudo, que testar conteúdos lecionados no 10º ano não faz qualquer sentido, isto se considerarmos a fragilidade da memória dos examinandos. Para quê sobrecarregar-lhes os neurónios?

Relidas as respostas às provas de exame das disciplinas de Português (língua materna e não materna) e de Literatura Portuguesa, percebemos a opção das duas últimas décadas: a aposta nas competências. A substituição do ‘conteúdo’ pelo ‘continente’, do miolo pela casca!

E este é o caminho que origina a ‘geração à rasca’! Uma geração que começa a compreender que alguém lhe serviu a casca, apropriando-se do miolo. O que, de modo nenhum, significa que estejamos perante uma geração desmiolada!

(Tarde) A aplicação da catequização processa-se de forma mais ou menos tranquila, pois o problema a resolver consiste em responder de acordo com o ESPÍRITO do GAVE. Quem sabe se as ‘línguas de fogo’ nos iluminaram os neurónios?

Da minha passagem por este “secador”, fiquei sem compreender a “teoria” que me reduziu a uma “estrutura” que, no meu caso, me situa entre os 55 e os 65 anos…

(Acto 3 segue dentro de dois meses e prevê-se que o drama termine num Ato 4, em forma de relatório de 3 páginas A4, no início do próximo ano letivo.)

 

14.4.11

O cilindro compressor…

Incapaz de agir a montante, o ME encarregou o GAVE de resolver o problema a jusante. E para o efeito, pôs em marcha o cilindro uniformizador. Este, no essencial, seleciona uma fonte de erro – o professor classificador – e submete-o, em regime intensivo, a uma lavagem ao cérebro que faz lembrar os velhos cursos de cristandade que, também, eles almejavam a fiabilidade intersubjetiva, em nome do ESPÍRITO de (DEUS / GAVE).

Apesar dos assomos de revolta dos catecúmenos, este adaptam-se rapidamente, pois veem na estratégia seguida o caminho redentor que lhes permitirá replicar a boa nova, eliminando definitivamente os escolhos que ensombram o percurso dos respectivos neófitos.

(O Secador, Final do 1º Acto)

 

12.4.11

A Gramática é uma canção doce…

Uma leitura recomendada a todos os meninos e meninas que ainda não concluíram o 6º ano de escolaridade. 

Recomendo-a também a todos os professores que um dia, no âmbito da avaliação pedagógica regulamentar, ouviram: «– A senhora não sabe ensinar. Não respeita nenhuma das instruções do ministério. Nenhum rigor, nenhum espírito científico, nenhuma distinção entre o narrativo, o descritivo, o argumentativo. (…) Minha cara amiga, precisa rapidamente de uma boa atualização

E, sobretudo, recomendo este romance a todos os classificadores que têm sido enviados para o SECADOURO: «Eu compreendera: uma turma inteira de professores. Submetiam-se a um desses famosos tratamentos de cuidados pedagógicos. Pobres professores!»

 

Je suis né à Paris, le 22 mars 1947 (de mon vrai nom Erik Arnoult), d'une famille où l'on trouve des banquiers saumurois, des paysans luxembourgeois et une papetière cubaine. Après des études de philosophie et de sciences politiques, je choisis l'économie. De retour d'Angleterre (London School of Economics), je publie mon premier roman en même temps que je deviens docteur d'État. Je prends pour pseudonyme Orsenna, le nom de la vieille ville du Rivage des Syrtes, de Julien Gracq.

 

12.4.11

Uma imagem com Cara humana, pessoa, Testa, homem

Os conteúdos gerados por IA poderão estar incorretos.

E se o FMI começasse pelos franciscanos!

O padre Vítor Melícias, ex-alto comissário para Timor-Leste e ex-presidente do Montepio Geral, declarou ao Tribunal Constitucional, como membro do Conselho Económico e Social (CES), um rendimento anual de pensões de 104 301 euros. Em 14 meses, o sacerdote, que prestou um voto de obediência à Ordem dos Franciscanos, tem uma pensão mensal de 7450 euros. O valor desta aposentação resulta, segundo disse ao CM Vítor Melícias, da "remuneração acima da média" auferida em vários cargos. (CM, 26.03.2009)

«Outrora o papel do Estado em relação à aldeia confinava-se nisto: sugá-la. (…) Ano por ano não se esquecia de lhe cobrar as duas espórtulas com que se alimentavam os poderes civil e eclesiástico, décima e côngrua. (…) O Estado além disso custeava uma escola na aldeia, por via de regra num paredeiro abominável, mas fazia-o de propósito – seja-lhe levada em conta a boa intenção – de reduzir na estatística o contingente elevado de analfabetismo que nos degradava no concerto das nações comme il faut. Questão mais de decência que de necessidade.» Aquilino Ribeiro, ALDEIA, 1946

Será o FMI suficientemente astuto para perceber quais são os mecanismos internos de empobrecimento do país? Ou irá cair na estratégia de cortar a torto e direito, sugando ainda mais aqueles que, sem defesa ou manha, estão mais à mão do fisco?

Conselho modesto, mas sincero: o FMI deveria dar toda a sua atenção aos franciscanos, às igrejas, às ongs, aos clubes de futebol, às fundações, às parcerias público-privadas, às empresas municipais, aos institutos, aos bancos, aos centros de emprego, à Parque escolar…, sem esquecer todos os delegados ao congresso (e respetivas famílias) de qualquer partido com assento na Assembleia da República…

De momento, esta investigação já é mais de necessidade que de decência!

 

10.4.11

O finório Fernando Nobre

Depois do Fernando Nobre ter anunciado que vai ser presidente da assembleia da república na próxima legislatura, fiquei tão sem saber o que pensar que decidi reler O Romance da Raposa, de Aquilino Ribeiro.

Já estou a imaginar as Comemorações do 25 de Abril ou do Dia de Camões sob o patrocínio da dupla Cavaco Silva – Fernando Nobre.

 

8.4.11

Nós…

Não vale a pena fugir, partir para outro lugar. A solução está em nós: a nossa presença é suficiente para determinar o objectivo. Se traçarmos o rumo podemos levar uma vida a percorrê-lo; ter, por vezes dúvidas, mas o caminho não se desvia, continua à espera de que o percorramos.

Claro está que podemos querer seguir por atalhos, encurtar o caminho, mas essa é uma decisão reativa em que o outro já está a mais e nos surge como responsável pela nossa desorientação…

 

7.4.11

Todo este país é muito triste…

SEGUNDA — (…) De resto, fomos nós alguma cousa?
PRIMEIRA — Talvez. Eu não sei. Mas, ainda assim, sempre é belo falar do passado... As horas têm caído e nós temos guardado silêncio. Por mim, tenho estado a olhar para a chama daquela vela. Às vezes treme, outras torna-se mais amarela, outras vezes empalidece. Eu não sei porque é que isso se dá. Mas sabemos nós, minhas irmãs, por que se dá qualquer cousa?... 

(…)
A MESMA — Falar do passado — isso deve ser belo, porque é inútil e faz tanta pena...
SEGUNDA — Falemos, se quiserdes, de um passado que não tivéssemos tido.

(…)

SEGUNDA — Todo este país é muito triste... Aquele onde eu vivi outrora era menos triste.

Fernando Pessoa, O Marinheiro

São quatro donzelas, uma morta e três vivas, mas podia ser ao contrário: três mortas e uma viva; ou apenas, UMA, debruçada sobre si, num gesto plangente de rejeição do presente e de reinvenção de um passado outrora feliz…
É esse o tom de toda a obra pessoana decalcado de um país moribundo que insiste numa identidade tão longínqua que cada vez mais se esfuma na bruma…

Deste modo, sobra o gesto fingido da revelação de novas existências capazes de estimular o imaginário colectivo se este não estiver definitivamente enterrado no areal europeu…

Interpretando o sonho pessoano de tornar o outrora-agora, o grupo de teatro da Escamões mostrou-me, na última 2ª feira, que só a criação de novas existências pode contrariar a ideia de que Todo este país é muito triste… 
Em termos de produção dramática e ensaística, bem poderíamos tentar responder à pergunta: – Depois de Pessoa, Fomos nós alguma cousa?

6.4.11

Irreversibilidade…

O FMI VEM AÍ!

No entanto, falta cultura aos partidos para perceberem o que isso significa. E porquê? Porque descuram a experiência dos mais velhos, porque recusam o ensinamento da História. As novas gerações ignoram por inteiro os dramas vividos pelos portugueses desde, pelo menos, a independência do Brasil.

O passado tornou-se fonte de escárnio, de riso, de indiferença; acredita-se na magia dos novos gadgets e pensa-se que a informatização dos procedimentos e a robotização das atitudes tudo redimirá…

A aceleração da modernização tem tido como consequência não só um endividamento trágico, mas, sobretudo, a delapidação de um património de valor incalculável – património físico, edificado e humano…

E o que é que nos espera? Se não houver renovação da classe política, cairemos numa depressão irreversível!

(O deslumbramento foi-nos destruindo paulatinamente; tudo em obediência à lei do menor esforço que alguns confundem com o optimismo ou, em último caso, com a felicidade! O FMI VEM AÍ!)

 

2.4.11

Alexandre Herculano

Cansado de lidar com a imbecilidade política da época, Alexandre Herculano refugiou-se em Vale de Lobos. Não sei se terá semeado alfaces. Sei, todavia, que as ferramentas que utilizava não eram muito diferentes das que possuo.

E uma coisa posso garantir: quem se entrega ao trabalho da terra deixa de ter tempo para acompanhar a intrigalhada que destrói a nação…

 

1.4.11

Videirinhos…

 

O «rating» português está à beira de ser classificado como LIXO! E tudo porque não sabemos valorizar o capital simbólico. Governados por especuladores sem alma, perdemos, a cada dia que passa, os valores e o património edificados durante um milénio.

Incapazes de banir os videirinhos que já se aprestam a manter ou a reconquistar as cadeiras do poder, continuamos a assistir ao descalabro económico e financeiro do país sem perceber que é tempo de lançar mãos à obra.

Em termos imediatos, precisamos de aprender a identificar os videirinhos, afastando-os do poder nas eleições de 5 de Junho.

E outra forma de inverter a presente situação passa pela criação de um movimento geral de rejeição das importações. Há um número ilimitado de produtos (e de ideias!) supérfluos de que podemos facilmente abdicar!

E para delinear essa estratégia, precisamos de novos governantes para quem o capital simbólico represente um trunfo e não um fardo!

 

31.3.11

De regresso a Sintra

Depois de acompanhar cerca de 100 alunos pelas velhas ruas de Sintra, seguindo a lição queirosiana, regressei à Lagoa Azul, onde voltei a encontrar as velhas tartarugas. Há 20 anos, eram três ou quatro; hoje seriam, mais de vinte.

No essencial, pouco tem mudado. As marcas de revivalismo mantêm-se, apesar das ruinas de alguns edifícios, o que significará que os novos-ricos ainda não estão suficientemente ricos… Lá chegaremos!

Na vila velha, o número de turistas jovens é cada vez maior. Hoje, escolas portuguesas, espanholas e alemãs cruzaram-se a caminho de Seteais. Em passo de corrida, olhando à direita e à esquerda. Mas vendo o quê?

(A circulação automóvel continua catastrófica; infelizmente, a mobilidade dos autocarros é mínima… e os passeios são tão apertados que os transeuntes arriscam ser atropelados!)

 

30.3.11

As margens dos rios

Olho as margens dos rios do meu pobre país e raramente vejo sinal de presença humana, como se, por decreto divino, o homem tivesse sido expulso da terra. E quanto mais penso no assunto, mais me convenço que esta ausência nos foi exigida, não por Deus, mas por aqueles que, agora, nos exigem o retorno…

Deslumbrados com o euro, hipotecámos o escudo, abandonámos os rios e voltámos a importar tudo, como já acontecera nos séculos XVIII e XIX. Se quisermos recuperar o rumo, comecemos por reduzir as importações e, no caso de insistirmos no supérfluo, não hesitemos em aumentar-lhe o IVA…

E quando o essencial começar a faltar, voltarei a olhar as margens dos rios, novamente, habitadas e produtivas…

 

 

 

 

28.3.11

NADA mesmo

Para quem se sente à deriva, vítima de um estado saqueado por políticos incompetentes e predadores, vale a pena imitar a lição da flor submersa: enraizamento e manter-se à tona. Não perder a calma e o sentido de humor e, sobretudo, não esperar nada da actual classe governante!

27.3.11

Movimento, cor, pólen

Afinal, o comboio do pinhal interior ou não é azul ou a CP resolveu pregar-me uma partida. Carros antigos domingueiros desafiam a ponte metálica… e rodam garridos numa terra deserta sob um céu plúmbeo.

Passemos ou não,

os êmbolos,

engrenagens

quase eternas;

ao lado,

casas

desabitadas,

antenas

desorientadas…

outrora,

agora,

com ou sem

roda, comboio, turbina,

o zângão fecunda,

morre.

(Infelizmente, também há o zângão estéril que sobrevive!)

 

 

 

 

27.3.11

O outro visto por Pepetela e por João Tordo

E se a ficção coincidir com a realidade? Só a lonjura do exílio poderia criar o equívoco, mas, de facto, é sempre possível encontrar um Jeremias Cangundo nem que seja nas LETRAS PERIGOSAS de Pepetela, que, nesta “estória”, continua a ajustar contas com os escritores aburguesados que, depois de longo exílio voluntário, regressam à procura de reconhecimento e dinheiro…

Partir, por cobardia ou por força das circunstâncias, pode trazer problemas inultrapassáveis. Nunca sabemos quem iremos encontrar. E, sobretudo, se acreditarmos que o outro é, por natureza, acolhedor.

A verdade é que, em terra estranha, a diferença de pele, de religião, de língua pode trazer ódio, perseguição e morte. ELSA, narrativa de João Tordo, retrata exemplarmente a vida de um emigrante africano numa sociedade multicultural como a britânica, tradicionalmente acolhedora e, simultaneamente, segregadora… o apartheid continua vivo, apesar de politicamente inaceitável…

PS: A D. Quixote lançou, em 2009, a antologia “Em Busca da Felicidade”, constituída por dez “flores”, apesar de algumas já terem nascido murchas. No entanto, vale a pena colhê-las.

 

26.3.11

Apesar da chuva e da sombra, Mação não esquece a música.

(Chove intensamente e o Tejo, aqui ao lado, parece agradecer!)

Apesar da Isabel Alçada, dos sindicatos, do Parlamento…, a escola primária reinventou o presente.

(Esperemos que a chuva dê vida às árvores de Mação, antes que a canícula chegue!)

Na barragem, a água presa… por cima, a água solta!

A barragem, vista de longe, parece um comboio azul da CP, em greve… (De perto, as comportas ignoram o desacerto do país…)

Entretanto, por perto, o país ocioso continua a encher o bandulho…

 

 

 

24.3.11

Al-quadus (balde de nora)

Ainda não passaram 24 horas, mas já se enxerga um alcatruz alaranjado cheio de professores! Quantos são? Quantos são?

Entrámos na Primavera laranja!

Resta saber se também fazem aprovar a demolição de todos os gabinetes, entretanto, criados para gerir e supervisionar o processo de avaliação!

 

23.3.11

Alcatruzes…

Todos dizem que são precisas medidas imediatas para resolver a crise financeira.  Uns com o FMI, outros sem o FMI. Todos confiam no povo português… e este confia em quem? em D. Sebastião? em Nossa Senhora de Fátima? nos jovens à-rasca? no jogo do pau?

A verdade é que o povo não existe. Nunca existiu!

O povo mais não é do que um mito romântico que tem justificado um conjunto de “causas” de grupos mais ou menos organizados para a conquista do poder.

A nora já começou a rodar… e os alcatruzes já estão a postos para secar a mina! Inexoravelmente, uns descem e outros sobem…

PS: Afinal, o Presidente da República sempre tem «margem de manobra»: deu 48 horas a Sócrates para que seja ele a estender a mão aos «amigos» europeus! 

 

22.3.11

Margem de manobra…

I - Presidente da República: “…tudo isso reduziu substancialmente a margem de manobra de um presidente da república atuar preventivamente”.

Nunca pensei que um Presidente da República, a 24 horas da catástrofe, pudesse fazer tal declaração! De verdade, não soubemos interpretar aquele tom mastigado e arrastado como sintoma de inaptidão para o desempenho da função presidencial. E agora vamos sofrer as consequências da nossa cegueira.

O Presidente, incapaz de atuar preventivamente, e fazendo de conta de que não dispôs de informação a tempo e horas, prepara-se doentiamente para o rescaldo… Para que servem a Casa civil e a Casa militar da Presidência? Não será precisamente para suprir as dificuldades de comunicação entre os órgãos de soberania, que, para bem da nação, devem usufruir de canais de informação próprios?

Em situações de perigo, de crise e de catástrofe, o que define o homem é a capacidade de manobrar na linha que separa a vida da morte.

II – Por outro lado, e na mesma linha de actuação, o Partido Socialista continua, também ele, à espera do rescaldo, na expectativa de que o engenheiro Sócrates seja definitivamente devorado pelo incêndio. 

 

21.3.11

Palácio nacional de Mafra - In memoriam…

Este jogo ocupava reis e vassalos nos intervalos das caçadas na Tapada de Mafra. Os troféus, cruéis, enchem a sala Diana no palácio real, hoje moribundo… Da república, pouco há a assinalar, a não ser a pernoita de D. Manuel II, antes de partir definitivamente para o exílio… Apesar de tudo, Saramago devolveu-lhe algum do brilho que à pátria falece.

Claro está que aos jovens que, hoje, entraram no palácio nacional de Mafra, sob o olhar atento de S. Domingos e de S. Francisco, falta-lhes a distância para perceber que a monumentalidade do edifício mais não é que a expressão da fraqueza de um povo. Mas quem sabe, pode ser que Saramago os ilumine!

 

20.3.11

Reféns…

Quando a sobrevivência está em causa, todas as formas de enraizamento são aceitáveis. Pouco interessa o suporte, a forma, a cor ou a posição. Em certas circunstâncias, mais vale deitar abaixo a árvore, desbastar-lhe os braços …

Salvo raríssimas exceções, as árvores não se suicidam! Na Líbia, na Síria ou em Portugal a seiva é a mesma!

 

17.3.11

Paul Krugman e a educação…

Desde o dia 11 de Março que ando às voltas com uma ideia do nobel Paul Krugman (Economia 2008): Toda a gente anda enganada ao defender que «a educação é a chave do sucesso económico».

Provavelmente ao referir-se à educação, P. K. estará a referir-se à instrução, pois sem a primeira os valores civilizacionais soçobrariam.

No essencial, o que P. K. vem demonstrando é que a maioria das formações de nível superior perde, em termos de desempenho, para os computadores que, de forma mais célere e eficaz, efetuam a maioria das tarefas sejam elas de rotina ou não…

Deste modo, o aumento do número de anos de escolaridade ou a acumulação de cursos de nível médio ou superior é apenas uma forma de empatar um número cada vez maior de indivíduos, impedindo-os de, pelas suas próprias mãos, construírem uma nova sociedade que assegure os direitos essenciais a todos os cidadãos…

Precisamos, assim, de redefinir os projectos de empregabilidade, rever e diferenciar os conceitos de educação e de instrução, a respectiva duração e, sobretudo, os lugares e os actores da formação…

O sistema de formação actual é um monstro devorador de recursos que gera cada vez mais insatisfação e potencia episódios de revolta cujo último recurso será o retorno à barbárie, independentemente dos níveis de literacia…

PS: Da imbecilidade que nos cerca, não vale a pena falar porque, afinal, há cada vez mais casos de pessoas instruídas a quem falta o mínimo de educação e, por outro lado, também há muita gente educada a quem falta a necessária instrução…

 

14.3.11

O 2º termo da comparação…

Não restam dúvidas de que, em muitos casos, o 2º termo de qualquer comparação diz mais sobre quem o seleciona do que sobre a ideia / objecto que se quer explicitar.

De acordo com o inefável Luís Filipe Menezes (Entrevista ao de 14 de Março de 2011), o Pacheco Pereira não vale nada, ou melhor, não passa de um desmancha prazeres: P. P. «diz que não precisa da política para viver; mas nunca o vi a ganhar dinheiro a não ser à custa da política e da notoriedade que ela lhe deu. Se assim não fosse, era professor de História numa recôndita aldeia de Trás-os-Montes. Vale o que vale. Rigorosamente nada

Bem certo de que o Pacheco Pereira não necessita de que eu o defenda. Não posso, no entanto, deixar de voltar à minha ideia inicial. O Senhor Luís Filipe Menezes anda mal informado: A História já não se estuda em quase lado nenhum! Em Trás-os-Montes, serão raríssimos os professores dessa matéria e, se os houver, não necessitam de ser achincalhados. Afinal, quanto vale um professor para o Luís Filipe Menezes?

RIGOROSAMENTE NADA!

 

12.3.11

Os novos…

Há novos eleitores! Desceram a Avenida e descobriram que ou os deixam votar ou, da próxima vez, a bonomia cederá o lugar à violência.

Por isso, o que o Governo e a Assembleia da República devem fazer é devolver a decisão ao povo.

 

11.3.11

O 2º termo…

Pergunta e responde Gonçalo M. Tavares: «Quantas vezes choras a ouvir música e quantas vezes a ler? A literatura não é eficaz nessa coisa: se é para sofrer a literatura é inútil.»

Não há comparação sem segundo termo explícito. Para que serve esse 2º termo? E donde provém?

Por outro lado, a analogia pode gerar cachos de metáforas sem nunca explicitar o 2º termo – a poesia, em grande medida, vive dessa explosão verbal. E a prosa, do que é que vive?

Ao ler Água, Cão, Cavalo, Cabeça, de Gonçalo M. Tavares, encontro prosaicos e, por vezes, insólitos micro-cenários narrativos em que “casos-do-dia” são associados, sem qualquer preocupação que não seja a de textualizar /sexualizar o mundo encontrado nos bastidores dos becos escusos da vida.

Perdido no labirinto das ruelas, surgem-me dúzias de comparações, na sua grande maioria tão artificiosas como o texto gerado. Nesta obra, a procura de originalidade passa, de facto, pela construção desse 2º termo da comparação. Senão, vejamos:

«Claro, a raiva domestica-se como os cães.» / «As oportunidades de suicídio perdem-se como as moedas» / «A natureza não tem mapas, nem cores como os mapas» / «os aranhiços, já se sabe, são como os pais que protegem o filho» /«A maldade não tem uma marca na testa como as vacas que têm doenças  e foram marcadas na testa pelo dono.» / «Algumas pessoas riem como porcos» / «o cão pode ser visto como música equilibrada (…) como uma mesa orgânica» / «os nomes e as respetivas letras (das facas de cozinha) não se veem, são como os mortos de família: sentem-se

Aceitando que a literatura não é para sofrer, pergunto-me se, fora da quinta verbal de Gonçalo M. Tavares, alguém já viu um porco a rir…

 

 

9.3.11

Para que serve um presidente?

Não encontro uma resposta que possa servir o país!

Se o presidente é a pessoa mais bem informada sobre o carácter do primeiro-ministro e sobre o modo como o partido socialista se apropriou do Estado, porque é que não o diz de forma clara ao povo. Porque é que, em vez de esperar pelo sobressalto dos «jovens do futuro», não dissolve a Assembleia da República e entrega a decisão ao povo que tanto ama?

Este presidente prefere a guerrilha à assunção dos seus poderes. Já foi assim no primeiro mandato e, hoje, apostou claramente na estratégia rasteira de atacar, para, de imediato, retirar. Faz o diagnóstico, mas não explicita as causas, e, sobretudo, não diz como é que tenciona AGIR de modo a ajudar o país a sair da crise.

Este presidente dá a entender que sabe o caminho para nos libertar do cativeiro, mas esconde-o, como quem quer ajustar contas antigas!

No que me diz respeito, não sei para que serve um presidente que faz bluff! O homem providencial nasceu, um dia, na Figueira da Foz!

E, infelizmente, a matriz deste país reside na providência desde Ourique!

 

7.3.11

O paul do Boquilobo

Em Março, o trilho do Paul do Boquilobo continua submerso.

(Apenas cegonhas e patos e garças e garridas e canoras aves…)

Ao lado, passa o comboio na linha do norte…

(O canavial esconde o pântano e torna a confluência do Almonda com o Tejo indistinta.)

O carvalho apodrece de vez… e nem sinal de bugalhos! - o que nos livra das vespas…

(“Nos” é força de expressão – a terra é de ninguém, mas podia ser minha!)

Por seu lado, os freixos, altivos e longilíneos, continuam à espera da Primavera…

(Em Maio, espero regressar… e tudo será diferente! Ou talvez não!)

 

 

 

6.3.11

Ponto de vista…

Foi aqui que me tornei funcionário público, a 2 de Janeiro de 1975. Durante os 3 anos que lá passei nunca vi o Liceu nesta perspectiva – a de quem o observa do pátio da vetusta Academia das Ciências. Nesse tempo ainda não sabia o que era o ponto de vista! É estranho, mas é verdade…
Uma imagem com fruta, árvore, ar livre, nespereira-da-europa

Os conteúdos gerados por IA poderão estar incorretos.

Também, à época, me faltava a perspectiva de que a azinheira forma o bugalho a partir do ovo da vespa colocado no interior dos rebentos… e, fascinado, jogava com eles como se mais não fossem que berlindes!

A ignorância ofusca e esmaga!

 

5.3.11

Ai flores!

Por alguma razão que desconheço, não tenho conseguido “postar” comentários aos comentários que vão surgindo em CARUMA.

Por isso esclareço:

A) Os primeiros românticos lutaram no campo de batalha em nome de uma alma colectiva - pugnavam pela liberdade dos povos (das nações). Os filhos esqueceram rapidamente essa herança e sucumbiram às sensações, valorizando o corpo e a preguiça; o luxo e a luxúria…

B) Cresci num país em que boa parte dos seus filhos, nos anos 60 do século passado, se viram obrigados a emigrar para França ou por lá se exilaram para escapar à guerra colonial; num país onde se aprendia a língua, a literatura e a cultura francesa; onde França representava a pátria da liberdade… e, entretanto, venho assistindo à morte desse contacto privilegiado, pré-anunciado pela extinção do latim dos curricula em Maio de 1974… (as flores anglo-saxónicas substituíram os gerânios, os lírios e as violetas, sob o olhar cúmplice dos cravos e das rosas…) E essas flores credoras continuam a arrastar-nos para a descaracterização da língua portuguesa…

C) E quanto aos “enganos” há que perdoar …, pois o objectivo era ver a seriedade de Eça ao abordar o problema do adultério nas classes ricas e improdutivas…      

 

4.3.11

Partido do Deixa Andar

Há quem acredite que a Geração “À RASCA” vai forçar uma mudança de política que reconheça às gerações mais novas o direito ao trabalho e a uma remuneração digna. No entanto, hoje, um jovem confirmou-me que a militância juvenil (e não só!) se manifesta de modo muito diverso: já embarcou no Partido do Deixa Andar!

E de facto, ao contrário de gerações anteriores que ousaram atravessar as fronteiras à procura do trabalho que a mãe pátria lhes recusava, assistimos a um deixar andar que revela uma acomodação fatal.

 

3.3.11

Gente desditosa…

Ler “Portugal Ensaios de História e de Política”, de Vasco Pulido Valente exige perseverança e uma grande dose de masoquismo. Do Liberalismo Português a Cunhal Revisitado, o autor traça um retrato implacável dos governantes que, salvo raríssimas exceções, revelam uma visão retrógrada e / ou formatada por modelos estrangeiros. Eternos Dâmasos Salcedes, os governantes imitam as ideias e as modas estranhas numa busca incessante de um pedestal há muito perdido e, deste modo, infligem ao povo uma vida de miséria e, frequentemente, de morte.

As revoluções mais não são do que frustres insubordinações de quem já não suporta mais um poder caduco que, tendo delapidado os recursos, continua refém de ideologias totalitárias, e que, por sua vez, procedem à redistribuição sôfrega dos lugares e dos recursos, aperreando a classe média e desprezando o povo.

V.P.V. mostra um país falido, ignaro, beato, submisso, incapaz de separar o trigo do joio.

A publicação, em 2009, deste conjunto de ensaios acaba por ser o modo encontrado por V.P.V. para nos demonstrar que, filhos do marcelismo, do movimento do MFA ou de Cunhal, perdemos a noção da verdadeira dimensão de Portugal, continuando a ser governados pelo irrealismo, pela demagogia e, no limite, pela loucura de quem se imagina senhor do mundo, não passando, afinal, de gente mesquinha.

 

1.3.11

A alma…

E se nos devolvessem a alma? Dou comigo, às 6h00 da manhã, a pensar que foi o «sentimento de si» que matou a alma. Foram os filhos dos românticos que nos condenaram à egolatria e à futilidade…

Fernando Pessoa ainda tentou fingir ser quem não era com resultados satisfatórios para si, mas a alma, essa, perdera-se nas ruelas de um corpo que quis ocupar o palco inteiro – oh, o que sinto eu de mim a esta hora!

25.2.11

A semana que finda…

Nesta semana que finda, temo que a Líbia se torne num verdadeiro inferno para um povo que ousa sonhar com a libertação do déspota que o oprime há 42 anos.

Portugal, em nome do apregoado realismo económico, não resistiu a uma aliança espúria que, agora, irá agravar a nossa situação financeira. Continuamos a não saber escolher os aliados!

Entretanto, aqui mais perto, o abuso de poder e a falta de respeito ameaçam virar enxurrada… E nem vale a pena referir esses maus exemplos tão eloquentes eles se afiguram.

De facto, os exemplos só deveriam ser apontados para ajudar a desbravar caminhos!

 

23.2.11

Subitamente…

Desatámos a olhar para o mapa… sem GPS, desatámos a descobrir países: a Tunísia, o Egito, o Iémen, a Argélia e, agora, a Líbia. Pouco nos interessa quem lá vive! Tudo gira em torno dos estrangeiros, do petróleo e do gás! A ordem tácita é evacuar os estrangeiros e fechar as portas aos povos em fuga!

Entretanto, os velhos tiranos recusam-se a abandonar o poder, massacrando as populações, ou, em alternativa, cedem o poder aos seus acólitos, em nome dos interesses locais e transnacionais… E tudo porque nas últimas décadas, o Ocidente preferiu a cumplicidade à hombridade.

Mas, afinal, que podemos nós fazer? Governados por figuras dúbias, olhamos o mapa e nada enxergamos!

 

22.2.11

A bandeja…

O que é que fazemos quando tudo nos é servido numa bandeja de prata?

O que é que fazemos quando a bandeja se encontra vazia?

O que é que fazemos quando já não sobra qualquer bandeja?

- Piores do que cães, mordemos. Há mesmo quem não saiba fazer outra coisa!

Parece que é esse o grande desígnio da educação em Portugal: MORDER.

 

18.2.11

Em nome de quê?

Bem antes de Cristo, Antístenes, mestre dos Cínicos, ensinou que a única comunidade aceitável é a dos cães, que sabem mendigar e nunca se acanham.

Entretanto, Cristo trouxe a lição do pudor e do arrependimento, e com isso uma multitude de sectários que caritativamente exercem a censura e a mentira… condenam a ambição e, poços de cobiça, amortalham a esperança…

 

16.2.11

Impulsos contrários… Basta!

Chove, venta, neva mesmo… as árvores burguesas tombam sobre automóveis incautos e os guarda-chuvas chineses naufragam na via pública. As imagens de telhados revoltos, de campanários esventrados, de populares aterrados, apesar dos santinhos, entram-nos pela casa dentro… Tudo de foguete como se o fim num ápice se aproximasse!

As greves em empresas ruinosas proliferam alheias ao estado das centenas de milhares de desempregados… sem perceberem que de empregados grevistas passarão rapidamente a descartáveis, bastando uma abordagem sistémica do problema da dívida para que a maioria das empresas públicas seja definitivamente encerradas.

Se à ventania nada podemos opor, o mesmo já não se pode dizer no que respeita à insensatez da gestão dos recursos públicos: BASTA!

13.2.11

A Casa–Museu Dr. Anastácio Gonçalves e o Grupo do Leão

No centro da Cidade de Lisboa, revisito uma casa-museu fantástica, mandada construir pelo pintor José Malhoa, e que mais tarde foi adquirida pelo oftalmologista Dr. Anastácio Gonçalves, colecionador de mobiliário dos séculos XVII e XVIII e de pintura naturalista, designadamente de SILVA PORTO… Todo esse acervo se encontra exposto, deixando-nos antever o gosto e a riqueza do homem nascido em Alcanena, terra de curtumes que certamente não serão alheios à constituição deste magnífico património…

Esta nova visita trouxe-me a necessidade de esclarecer a génese do Grupo do Leão (1880-1888). Por volta de 1880, Silva Porto, regressado de Paris, onde fora discípulo de Daubigny, tomou conta da cadeira de pintura da Escola de Belas-Artes de Lisboa e criou à sua volta um ambiente de vivo entusiasmo. A cervejaria "Leão" era o seu ponto de encontro com amigos, admiradores e discípulos.

(João Vaz, António Ramalho, Cipriano Martins, Columbano Bordalo Pinheiro, Rafael Bordalo Pinheiro, José Rodrigues Vieira, Silva Porto José Malhoa, Moura Girão, Henrique Pinto, José Ribeiro Cristino integraram o referido grupo.)

No Outono de 1881, começaram a juntar ideias para a primeira exposição do grupo, que acabou por decorrer nas Salas da Sociedade de Geografia. A "Exposição dos Quadros Modernos", como lhe chamaram, abriu em 15 de Dezembro de 1881. O catálogo foi ilustrado com desenhos dos expositores, gravados em zinco - novidade gráfica daquele tempo. O público acorreu, interessou-se e comprou muitas obras.

 

12.2.11

Pingarelhos…

Enquanto que, no Egipto, os generais contam as armas e redistribuem as comendas, e o povo celebra nas ruas a ilusão, por aqui armamos ao pingarelho: o Bloco de Esquerda sonha que tem do seu lado mais de 50% dos portugueses; o PSD faz de conta que se preocupa com a sorte do povo e por isso adia a decisão há muito tomada – deixar ao PS a aplicação da política ruinosa dos credores; o PCP, pudico, dá ares de cortesã ultrajada e promete avançar orgulhosamente com a sua moçãozinha; o CDS, enredado na farsa de plebiscitar o pequeno «duce», mas pronto a avançar para qualquer poleiro… enquanto o PS continua a encenar histrionicamente a morte da Pátria, lavando as mãos olímpicas…

Bom seria que a revolta saísse à rua, livre de grilhetas, e varresse a cambada que há longos anos saqueia a Pátria! Mas como se o saque nos corrói desde a fundação?

 

11.2.11

A caminho…

Entregar o poder às Forças Armadas Egípcias é abrir o caminho para o abismo. Nas ruas e na caserna erguer-se-á uma oligarquia cimentada no ódio aos Estados Unidos e a Israel.

Esta satisfação ocidental em torno da partida de Mubarak mais não é do que um golpe de mágica para confundir o povo egípcio e mundo árabe.

De qualquer modo a ilusão é do Ocidente, pois o mundo islâmico não corre atrás da democracia! A laicização do mundo árabe não passa de uma fantasia ocidental!

 

8.2.11

Falsos ídolos...

Quando os recursos são escassos, há sempre quem veja no seu trabalho grande mérito mesmo que nada traga de novo. Repetem-se as conclusões, mas, de verdade, este novo riquismo não passa de um indicador de luta pelo poder. Com mais ou menos SeguraNet, a pobreza moral, social e económica continua a alastrar. Mudam as ferramentas, cresce a velocidade da revolta, mas o mundo fica mais pobre, porque as novas linguagens continuam a ser feudo de sumos pontífices mais ou menos ocultos.

 

6.2.11

Aqui é que se está bem!

Tem tudo: água, luz e cor! E, sobretudo, como diria Alberto Caeiro, não há humanos; só uma criança, loura… e árvores que crescem sem nos pedir autorização… e aves, diversas, que cantam sem rimas.

Nada, aqui, é pensado, tudo é natural, sem escola onde ir, a não ser que subamos a encosta…

4.2.11

Penélope morreu de tédio?

(No dia 31 de Janeiro de 2011, Teatro Nacional D. Maria II)

Só um herdeiro português poderia pensar que Penélope pudesse morrer de tédio! Tecer projectos megalómanos, comer e beber, cortejar são as únicas acções que valem um esforço.

A espera de Penélope mais não é do que a rejeição do tédio que resultaria da substituição do amado Ulisses por qualquer outro pretendente ambicioso…

Em GLÓRIA de Cláudia Lucas Chéu, o caminho é o do ensimesmamento de Telémaco (PATHOS), a braços com um sentimento espúrio que lhe atira o discurso para a revolta contra um pai ausente que descura a mãe e a pátria (…) Os jogos de linguagem, o mimetismo e o calão tornam-se nucleares no texto dramático…, levando à assunção de um discurso frequentemente grotesco, porém salvo pela recriação de ALBANO JERÓNIMO.

 

2.2.11

O formigueiro…

Sempre que o boato (ou o mujimbo) avança tímido, não acredite nessa morosidade…

Sempre que o Governo pede um empréstimo, a dívida aumenta exponencialmente… Sempre que um político faz uma promessa, o receio começa por crescer lentamente, para depois se transformar numa enorme desilusão.

Nas revoluções, assiste-se sempre a um crescimento exponencial dos revoltados e dos manifestantes. De acordo com esta lei, uma formiga pode tornar-se num formigueiro.

Os governantes têm dificuldade em compreender este mecanismo. Mas, hoje, basta uma SMS para incendiar a rua e o palácio.

 

30.1.11

Canalhocracia em evidência...

Li algures que, na época da Regeneração (1851-1865), o poder foi de tal modo disputado e concertado que a riqueza nacional caiu nas mãos da canalha que governava. De facto, nos dias que correm tudo parece correr do mesmo modo: Passos não tem pressa; Cavaco detesta a bomba atómica; Sócrates afasta, como pode, o FMI. Porque será?

Porque a entrada do FMI em Portugal acabaria por destapar o saque a que a canalha submeteu o país e a Europa, em nome da democracia.

 

 

 

 

29.1.11

À beira d'água

Uma encenação à beira d’água. Com ou sem mágoa? No horizonte da ponte, não há capitão nem caravela… Submersos os peixes, invisíveis as gaivotas, o canavial descobre a árvore acabada de compor enquanto o encenador se desloca como se a personagem tivesse abandonado o palco… Sobra o artefacto que suporta a câmara possível e a cor térrea…

 

27.1.11

Conversa (in)acabada…

Quando os tambores rufavam e a ditadura democrática se apoderava das sobras do Império, Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro conversavam sobre a asfixia doméstica e nacional, procurando fora e dentro da pátria uma alma nova, cientes de que só o imaginário os poderia libertar da pequenez. E é nessa encenação criadora que ambos se concentram, sacrificando a vida ao IDEAL estético.

conversa transformou o quotidiano e o medíocre em matéria de arte, invertendo o processo épico que nos fizera subir ao Olimpo e acreditar pateticamente numa grandeza ícara…

Não surpreende que a derrocada trazida por Abril tenha criado as condições para que João Botelho ousasse, em finais da década de 70, encenar Orfeu. Coadjuvado por alguns dos filhos de Maio de 68, João Botelho procedeu a um notável trabalho de reconstituição da rara excelência criativa que poderia esconder a desgraça que desabara sobre a orgulhosa pátria e sobre os frágeis ramos que dela se libertavam.

Na Escamões, os alunos puderam ver hoje, com apresentação de João Botelho e de Fernando Cabral Martins, CONVERSA ACABADA que, para além da tentação de emulação, os poderá levar a repensar o seu próprio tempo…

De parabéns estão, assim, o núcleo de Cinema da Escola, o ABC Cineclube e os professores Cristina Duarte, Jorge Saraiva e José Esteves.

 

25.1.11

Meia evidência…

O 12º M (Curso Tecnológico de Desporto) também participou, no dia 24 de Janeiro, no MEDIA LAB do DN e fê-lo de forma responsável. A maior dificuldade, como já sabia, esteve no desempenho linguístico e comunicacional. Pena é que a simples opção por um curso tecnológico desvalorize o papel da leitura e da escrita. No entanto, a proposta do DN mostra que o caminho a seguir não está assim tão distante como por vezes parece. Basta uma diferente formação dos professores e, sobretudo, uma efectiva utilização das ferramentas disponibilizadas pelas Novas Tecnologias da Informação.

Ora o Ministério da Educação devia criar um modelo de formação de professores que combine, de raiz, as didáticas específicas com as TIC e, sobretudo, devia equipar as escolas com os meios necessários ao aperfeiçoamento das metodologias de ensino, em vez de gastar vastos recursos financeiros em pacotes de 60 horas, distribuídas por quatro anos, como acontece com a anunciada formação de professores classificadores ou na formação QUIM no ensino da Língua Portuguesa.

 

24.1.11

Indício ou evidência?

Sem checklist, e à medida da experiência de cada um!

Na tragédia antiga, os indícios criavam cumplicidades com o espectador, dirigiam-lhe a imaginação e impediam-no de naufragar no pântano das emoções ou no calculismo dos argumentos. Sem eles, não havia experiência!

Hoje, nada deve ser deixado a cargo da experiência! Se não for possível guardá-la numa prateleira, o melhor é submetê-la ao filtro da evidência (conjunto de itens que devem orientar o observador) com o fito de desmoralizar o “esperto” … E o melhor caminho é o da quantificação, pois a excelência impõe entre 2 e 4 evidências. E porque não entre 3 e 5 evidências?

De qualquer modo, prometo que, de futuro, só voltarei a falar de evidências, se algum distinto observador tiver aplicado uma checklist de 7 itens a cada uma delas…

De acordo com o meu amigo Jorge Castanho, este novo linguajar não passa de uma forma de legitimar o poder daqueles que tudo fazem para “matar o pai”. E eu concordo e estou farto de dar o peito às balas de usurpadores incompetentes.

Em criminologia, creio que os investigadores ainda se contentam em descobrir os indícios, pois a experiência lhes diz que as evidências já condenaram muitos inocentes à forca ou à cadeira elétrica.

Claro que este discorrer parece incoerente, mas a coerência não existe, conquista-se seguindo pistas (as antepassadas dos indícios!) em trilhos invisíveis a qualquer EVIDÊNCIA.

 

 

23.1.11

Cartazes…

Se a diminuição dos cartazes é um bom sinal, não deixa de ficar por fazer o balanço daqueles que foram atirados para o desemprego!

Se a ausência de cartazes nos poupa os olhos, não deixa de ficar por saber quantos oftalmologistas perderam clientes que já tinham como certos!

Na minha zona de voto só há um cartaz esquecido que não desperta a atenção de ninguém, a não ser a de um outro trocista que o aproveita para despejar a sua ira.

No tempo dos cartazes, aumentava o consumo de latas de tinta, de lápis, de marcadores e de navalhas. Havia felinos, sobrancelhas gigantes, bochechas ou, apenas, bigodes. Havia, por vezes, aliterações fixes, metáforas paradisíacas e, sobretudo, havia SOL, coisa que, hoje, talvez para castigo nosso, deu lugar a uma luz esbranquiçada bem próxima da cor da agonia…

E foi neste tom que lá entreguei à urna um voto que deixou de ser meu para seguir o seu caminho! 

 

21.1.11

Um pouco de cor, um fio de luz...

A sombra fria parece abater-se sobre a velha pátria exaurida e nada do que possa acontecer no Domingo parece poder alterar o rumo... Só a luz e a cor insistem em nos lembrar que, para além dos títeres, há sempre um futuro em aberto... Por isso não o desperdicemos...

 

20.1.11

O Sete

Se não tivéssemos comprado 2 submarinos, hoje, seríamos um povo feliz. O défice seria de 7%! Ora, como bem sabemos, o povo ama, como nenhum outro, a redondilha maior e o heptassílabo. Desde que os trovadores se “aportuguesaram” que o octossílabo e o decassílabo entraram em decadência na língua do povo… Camões ainda tentou mudar o estilo sorna e labrego, substituindo-o por um estilo grandíloquo, cheio de oitavas e de decassílabos heroicos, mas sem êxito. A decadência já assentara arraiais nas mentes lusíadas!

Os nossos parceiros europeus já compreenderam que obrigar-nos a baixar o défice dos 7% é o melhor caminho para acabar, de vez, com a raça lusitana! O é a nossa porta de entrada e de saída (a nossa alma!) e sem ele, só nos resta morrer de inação…

Entretanto, enquanto a hora derradeira não chega, ainda podemos ir votar no pentassílabo, apesar do risco de voltarmos ao decassílabo, e de cairmos definitivamente no abismo ao som do cavaquinho de pé quebrado…

 

18.1.11

A Sagrada Família…

Enquanto o Governo procede à destruição paulatina da escola pública, o Candidato incentiva alunos, professores e pais a revoltarem-se contra a redução dos subsídios ao ensino privado.

De momento, o Governo está empenhado em transferir as responsabilidades de financiamento para os fundos europeus e, sobretudo, em alterar a matriz curricular, eliminando, por exemplo, a Área de Projecto, e fazendo tábua da revisão curricular aprovada pela Assembleia da República.

Em síntese, a Sagrada Família prossegue o objectivo de entregar o Estado aos grupos de interesses que se foram constituindo desde 1974.

 

16.1.11

No mar que nos roubaste…

 Não há dinheiro para que as crianças do 1º e 2º anos possam praticar natação, mas o Candidato propõe que se crie um Ministério do Mar. Provavelmente, está mais preocupado com a rendibilização dos mil milhões de euros gastos na compra de 2 submarinos! E vale a pena não esquecer que um já se encontra em reparação no Alfeite.

 

14.1.11

O mujimbo…

O mujimbo é uma arte de governo.” (Pepetela, Lueji)

Entre a verdade e a mentira vive o mujimbo (o boato). Em pleno relativismo cultural, só o mujimbo circula impune e impõe a sua lei.  (Um candidato sente-se abraçado pelo povo; um segundo fala em nome do povo; um terceiro diz-se acima do povo.)

A ninguém interessa o número exato da dívida! A ninguém interessa a delimitação do conceito! E como não interessa a ninguém, o número torna-se intangível e o conceito desliza, sob a forma de noção, para uma suave indiferença que mata definitivamente a verdade e a mentira.

A velha dicotomia extingue-se iluminada pelo mujimbo. 

 

13.1.11

Se aposta em 2011…

Engenharia de Software

Teoria Matemática

Avaliação de Risco

História – investigação

Prevenção e reabilitação auditiva

Manutenção da higiene oral

Análise estatística

Analista de sistemas

Meteorologia e ambiente

Biologia e ciências afins

 

Não pense na crise! Procure uma escola onde possa aprender uma das profissões acima enunciadas. Esta lista vem publicada no i de hoje, 13 de Janeiro.

Creio, no entanto, que este diário se esqueceu da ciência política, porque o Diário de Notícias acaba de demonstrar que a melhor forma de “ganhar” dinheiro exige filiação numa organização política e posterior estágio num sindicato / ministério. Depois é só esperar pela nomeação para a GALP, EDP, REFER, CGD, Banco de Portugal, Portugal Telecom…

 

11.1.11

Indicadores…

Hoje, de manhã cedo, numa pastelaria da Praça Dona Estefânia, em Lisboa, um cliente dirige-se ao balcão e declara secamente à funcionária: Quero urinar!

Há dois dias, no Centro Comercial Vasco da Gama, no Parque das Nações, um suposto cliente de meia-idade entra num provador e urina ali mesmo.

Felizmente que destes acontecimentos não corre notícia; no entanto, eles são bons indicadores da degradação dos nossos comportamentos…

E a propósito de indicadores, vale a pena considerar o modo como o Presidente da República comentou hoje os números apresentados pelo Governo. Considerou-os, apenas, um indicador… Um notável indicador de baixa política!

10.1.11

Mudança…

Como já me pronunciei no Facebook, aproveito para confessar a minha opção de voto neste ano de 2011: Fernando Nobre. Trata-se de uma confissão pública de algo que, habitualmente, é secreto. Qualquer leitor atento de CARUMA saberá que ela, há muito, não se revê nos caminhos trilhados depois de 1974, tal como não se revia na política do Estado Novo.

Acredito que a vontade é a figura essencial da mudança e, no actual quadro de candidatos, apenas Fernando Nobre dá corpo à vontade de mudar. Apenas ele a grita, um pouco como Cristo no deserto, acreditando que é possível pôr fim aos centuriões que ocuparam o templo.

 

9.1.11

Mépris (1963) involuntário?

Em 1963, eu não sabia que Jean-Luc Godard realizava um filme que só, ontem, tive oportunidade de ver – um filme sobre o cinema (os que o fazem, os que o produzem e os que o veem). Nessa época, eu aprendia a desviar o olhar – o pecado morava em frente! E ainda hoje não me libertei completamente dessa educação que me ensinou a “baixar os olhos”, a dissimular as emoções, a tolerar a hipocrisia.

Em 1963, os espectadores (que não eu nem os portugueses até 30 de Junho de 1975 – data da estreia de LE MÉPRIS, em Lisboa) podiam ver Brigitte Bardot inteiramente nua em cenários interiores e exteriores. E é precisamente essa diferença que agora me surpreende: mais do que a geografia é a cultura que nos atrasa; não a falta dela, mas uma mentalidade retrógrada, pecaminosa que nos impregna os ossos…

No filme, a dissolução da relação (e do argumento) resulta de um gesto in (voluntário) do argumentista que atira BB para os braços do rico produtor americano, como se o corpo (a beleza) mais não fosse do que uma mercadoria que, inevitavelmente seria sacrificada, pois os deuses não toleram os humanos desafios…

Embora noutro contexto, esta diferença de perspectiva na abordagem do corpo ou da língua já há dias me deixara perplexo e indeciso. Como explicar a actual rejeição da cultura francesa? Em muitos casos, essa rejeição é uma forma de desprezo de quem (in)voluntariamente tudo sacrifica em troca de algum reconhecimento e, sobretudo, de uns milhares de euros…

De qualquer modo, os deuses não dormem!

 

8.1.11

Castigare aetatem…

De vez em quando, acordo em Latim. Nunca fui romano, mas hábitos antigos vêm à tona sem serem convocados… Algo me diz que deveria dar mais atenção à antiga lição. No entanto, sufocado pelas novas redes, procuro mergulhar nessa onda comunicacional a que, paradoxalmente, falta o miolo.

De qualquer modo, as redes estão-se nas tintas para a idade, misturam velhos e novos, criam a ilusão de que o tempo deixou de existir, forjando em vida uma imortalidade definitivamente perdida… Tal o pescador que lança a rede de malha fina num gesto derradeiro…

Assim, estou eu, castigado pela idade, a fazer de conta de que já estou reformado, pois de nada serve o trabalho acumulado nem os descontos efetuados. Para o caso, mais valia emendar a idade…

 

6.1.11

Quem são os responsáveis?

Hoje, a situação de incumprimento já leva ao encerramento dos programas, como, por exemplo, o K’CIDADE.

O dinheiro existe, mas desaparece antes de chegar aos trabalhadores. Quem é que fica com ele?
O jornalismo de investigação bem poderia seguir-lhe o rasto, porque, de verdade, os parasitas estão de tal modo colados ao filão que, no fim, não sobra um cêntimo…

4.1.11

O corpo da crise…

Por razões particulares, hoje percorri parte da A1. Trânsito fluido. Gasolina e portagens mais caras. Restauração das áreas de serviço às moscas… A crise já começa a ganhar corpo. Menos procura, menos consumo = mais desemprego!

Ao lado, os campos continuam desertos e as cidades fervilham de subsídio-dependentes… Os municípios, endividados, não cumprem os compromissos eleitorais, como está a acontecer com a socialista Câmara Municipal de Lisboa que, impunemente, deixa morrer o Programa K’CIDADE, não honrando os seus compromissos…

A crise ganha corpo porque os governantes, há muito, venderam a alma. E quem perde a alma deixa de saber o que é a HONRA!

3.1.11

K’CIDADE

 Um Programa que está a deixar de cumprir os seus objectivos, porque alguns dos parceiros deixaram de disponibilizar as verbas necessárias ao pagamento do mísero salário de todos aqueles que, todos os dias, se sacrificam no terreno.

O Programa reúne um conjunto de organizações parceiras, diversificadas e complementares, empenhadas na partilha de recursos e soluções conjuntas para as questões da pobreza e da exclusão social.

Envolvidos no PROGRAMA: a Fundação Aga Khan, enquanto entidade promotora, a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, a Central Business, a Associação Criança e a Associação Comercial e Industrial do Concelho de Sintra.

A reforçar esta missão, uniram-se vontades de outros parceiros e apoios estratégicos, cujas competências e responsabilidades são essenciais ao desenvolvimento e sustentabilidade do Programa, como o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, a Fundação Calouste Gulbenkian, o Patriarcado de Lisboa, a Iniciativa Comunitária EQUAL, a Câmara Municipal de Lisboa e a Câmara Municipal de Sintra e a Hewlett Packard.

Se considerarmos os parceiros envolvidos, a situação de atraso no pagamento das remunerações é verdadeiramente escandalosa!

 

1.1.11

Esquecidos…

De que a nossa vocação é a água, continuamos a “meter água” na Europa… Indiferentes à luz e à sombra, continuamos a beber-lhes o champanhe… Tudo porque um grupo pequeníssimo de portugueses tem na Europa o seu maná…

 

Assim mesmo, 2011

Desfocado, como convém ao tempo que se anuncia. De repente, parece que regresso ao século XIX!

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