31.12.11
Em dezembro 2011, começo finalmente a leitura de um
conjunto de ensaios de Unamuno, publicados pela Abismo,
com o sugestivo título Portugal, Povo de Suicidas.
Mal entro no livro, esbarro no elogio da poética de
Eugénio de Castro, e, em particular, do poema trágico, em VII cantos, Constança (1900).
Eugénio de Castro, ao adotar o ponto de vista de Constança, constrói uma
heroína angelical cujo percurso, apesar do ciúme dilacerante e a certa altura
vingativo, se faz através da superação da dor e do despojamento total: Oh!
que morte ditosa lhe deu Pedro! / Mas eis que vê Inês…/ Oh! não, não deve /
Para a cova levar aquele beijo! // – «Anda cá, minha Inês…» diz co’um sorriso/
de infinita doçura; nos seus braços / acolhe a linda Inês, abraça-muito, /
Dá-lhe o beijo de Pedro, e logo exala, /Serenamente, o último suspiro… //
Para quem se habituou a seguir “os amores de Pedro
e de Inês” através das versões literárias de Fernão Lopes, António Ferreira
e de Camões, a visão romântica e, por vezes, profundamente erotizada traçada
por Eugénio de Castro, convida-nos a abordar o mito de uma forma mais
heterodoxa, e por isso, talvez, mais realista. A riqueza do mito literário
resulta mais da inventiva do autor do que da história ou da lenda. E sobretudo
da descristalização da tradição literária!
Subitamente, a viagem literária, em dezembro,
trouxe-me, através de Unamuno, Eugénio de Castro que, neste declinar de 2011,
volto a citar, pois a epígrafe com que abre A Sombra do Quadrante (1906)
me parece inspiradora:
Murmúrio de água na clepsidra gotejante, /
Lentas gotas de som no relógio da torre / Fio de areia na ampulheta vigilante,
/ Leve sombra azulando a pedra do quadrante / Assim se escoa a hora, assim se
vive e morre… // Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida, / Tão doidas
ambições, tanto ódio e tanta ameaça? / Procuremos somente a Beleza, que a vida
/ É um punhado infantil de areia ressequida, / Um som de água ou de bronze e
uma sombra que passa… //
PS: Bem sei que os Dicionários não registam o termo
“descristalização”, mas se lhe inspecionarem os bolsos, verão a riqueza
escondida.
30.12.11
A Sul. O
Sombreiro, de Pepetela
Dos ossos perdidos de Diogo Cão à morte do temível
Governador e fundador do efémero e mortífero reino de Benguela, Manuel Cerveira
Pereira, tudo decorre entre morros e rios.
Pepetela, em A. Sul. O Sombreiro (set.
2011), reinventa os excessos dos governadores ao serviço da dinastia filipina,
a luta entre franciscanos e jesuítas, em nome do Papa romano, a emancipação dos
mestiços, a desjagarização, sobretudo das mulheres jagas…
Neste romance, o autor viaja com grande liberdade pela
história do século XVII e, ao mesmo tempo, vai revelando um vasto território,
inicialmente, ameaçado pelos europeus e pelos jagas, e que o tempo acabará por
eliminar…
Do ponto de vista da construção da narrativa, Pepetela
dá a voz à maioria dos protagonistas masculinos, desde os governadores Cerveira
e Mendes Vasconcelos a Carlos Rocha, o mulato que foge do próprio pai, passando
pelo franciscano Simão Oliveira, sem descurar os provinciais da Companhia de
Jesus… Só as «peças» não têm voz – caçadas à ordem de governadores e de
jesuítas – são vendidas e enviadas para as fazendas e engenhos brasileiros,
como qualquer outra matéria-prima. Aliás, são mais valiosas do que a prata, o
cobre e o sal!
Como acontece noutros romances do mesmo autor, a
sátira domina em A Sul. O Sombreiro, título razoavelmente
enigmático: a realeza espanhola, as ordens religiosas, os governadores, os
chefes militares, os ouvidores, todos agem com um único objetivo: enriquecer. E
por isso a justiça ajusta-se à voz do dono… Dos nativos, apenas os jagas,
espartanos, são retratados como desumanos, pois cultivam a eliminação dos
afetos.
Em síntese, mais um romance didático cujo principal
objetivo é legitimar a existência da nação angolana, forjando a angolanidade
através do recuo na história, de tal modo que a presença portuguesa acabará por
não passar de um triste episódio…
Quanto ao “sombreiro”, nunca alcançado, penso que
Pepetela não deixará de o retomar num dos próximos romances – esse cabo que,
afinal, esconde os ossos de Diogo Cão – o mito fundador provisório na mitologia
de Artur Pestana.
27.12.11
O filme Os Dias de José Saramago e Pilar del
Rio, de Miguel Gonçalves Mendes, que acabo de visionar, apesar do
voluntarismo e da devoção dos protagonistas, não esconde a violência que o
negócio da literatura impôs ao escritor, ao obrigá-lo a viajar permanentemente
para promover as suas obras.
Ironicamente, o Saramago, que ainda sonhava ir à
Índia, acaba por desejar ser árvore bem enraizada numa impossível reencarnação,
para, à semelhança do Velho Restelo, combater a vã cobiça, provavelmente de
cepa bem castelhana…
O escritor, amorosamente subjugado pela feminista
Pilar, prefere convencer-nos que renasceu aos 60 anos para a literatura e,
sobretudo, para o mercado do livro e das plateias mais ou menos histéricas que
raramente mostram ter lido a obra do ídolo.
Dos dias, ficam-me alguns
motejos: a) Como é que se pode escrever um prefácio sobre uma
instalação se não se vê a instalação? b) Sem homem, não há
Deus! c) Eu não nasci para ser escritor! d) Ver,
ouvir e não calar! e) Os entrevistadores não acrescentam nada
ao conhecimento! f) Os néscios são os outros…
Em síntese, apesar da vida encenada, o filme não
consegue esconder a dor que minava o rebelde que, no íntimo, muito gostaria de
ser tomado como santo!
25.12.11
As primeiras horas do dia 25 de Dezembro são únicas: o
povo dorme; os semáforos nas ruas desertas sinalizam o habitual desperdício, e
a vida flui indiferente à pressa e aos ventres inchados de pobres e ricos.
De austeridade, ninguém fala, a não ser o i que
insiste em fazer o balanço das misérias nacionais de 2011.
Aparentemente só, até ao momento sinto-me de
companhia…
22.12.11
A fome é tanta que o vil metal superou as amizades germânicas!
Da ideologia só sobrou o método estalinista!
Trabalhadores da EDP, preparai-vos para a grande marcha… do desemprego!
À medida que mais trabalhadores são lançados para o
desemprego, que mais jovens são convidados a emigrar, que as remunerações dos
aposentados, reformados e trabalhadores diminuem, o Governo descobriu que para
aumentar a produtividade nada melhor que o corte nos dias santos, feriados,
férias e até naqueles três dias que eram concedidos para premiar a assiduidade.
Em síntese, estamos perante o novo paradoxo
Passos Coelho! Apesar de tudo, não quero acreditar que a Troika seja tão
burra que não tenha já percebido que está a ser enganada, pois o Governo não
toma medidas de natureza económica porque só sabe proteger velhas e novas
clientelas…
Entretanto, a matriz ideológica e a subserviência do
Governo serão hoje clarificadas, quando for anunciada a venda da EDP à
Alemanha.
(O silêncio dos alemães também se paga!)
21.12.11
E se neste Natal, em vez de celebrarmos o menino,
imitássemos o Jacaré Bangão, deslocando-nos ao Ministério das Finanças com os
nossos derradeiros cabazes de Natal?
Oferendas aceites, mergulharíamos, para sempre, nos
braços de Kianda – espírito do Tejo luso.
(Nota natalícia dedicada aos cavos pensadores
antiescravagistas que, por ora, nos querem empobrecer para nos libertar de mãos
jesuíticas.)
18.12.11
Assim mesmo, sem família nem reis nem pastores, o
menino, de plástico, aproveitou a almofada lançada por cima da cerca de arame
farpado, e pousou o corpinho num cantinho que o tempo é de crise. E vai
recriando as luzes e as cores que, outrora, lhe povoavam os sonhos…
Quanto a mim, o mais preocupante é não saber se a
sombra se alarga ou encolhe.
17.12.11
No Parque de campismo de Almornos, o espírito
natalício ainda perdura, de tal modo que o rei mago Vítor Gaspar ainda não foi
expulso do presépio.
Pelo reduzido número de campistas, mais parece que estes é que foram
eliminados!
15.12.11
Ainda atordoado pela «rica imagética» da insuspeita
metáfora do grito de guerra socialista: «Não pagamos! Não pagamos!», desço o
atalho à procura das “Quedas de Água” do Alviela, e, subitamente encontro o
“Diabo”, conhecedor dos versos de Camões e provável zelador do escaqueirado
moinho manuelino.
E, por instantes, pensei que deveríamos ser obrigados
a pagar a dívida. De qualquer modo, já vamos no III ato socialista: a) a dívida
de um país pobre é eterna; b) Sócrates é dispensado pelo ministério publico de
testemunhar a favor do reitor da Independente, pois o Arouca receou que a
Autoridade socrática o prejudicasse; c) um deputado juvenil ameaça os
banqueiros alemães de lhes partir as pernas, metaforicamente – o zorrinho, por
seu lado, descobriu no seu associado um novo Dr. Libório…
Não tenho a certeza, mas penso que terá sido Pierre
Fontanier que, um dia, farto da ignorância dos seus detratores terá afirmado
que «tudo é metáfora!».
13.12.11
La petite sirène
Ballet de John
Neumeier, d’après le conte de
Hans Christian Andersen. Musique : Lera Auerbach
Réalisation : Thomas
Grimm
Un spectacle de la troupe du San Francisco Ballet, enregistré les 3 et 5 mai
2011 au War Memorial Opera House de San Francisco.
(Quando os olhos se levantam da escrita alheia,
despertos por uma música ferida de amor, é sinal de que ainda é possível
suspender a rotina.)
12.12.11
Segundo o presidente da Câmara de Montalegre, Fernando
Rodrigues, o município vai virar o ano sem dívidas e com dinheiro «em caixa»
para 2012.
Feito extraordinário na atual conjuntura. Só é pena
que alguém possa pensar que este município seja um dos mais pobres do país!
A não ser que a riqueza de uma autarquia (ou de um
país) se meça pela capacidade de se endividar, nesse caso a satisfação de
Fernando Rodrigues não passaria de um sintoma de infantilidade.
Por mim, penso que, no próximo 10 de Junho, o
presidente Cavaco Silva deveria condecorar todos os presidentes de câmara cujos
municípios virassem o ano sem dívidas.
10.12.11
Em Marvila, na
Igreja de Santo Agostinho
Às 16 horas, na Igreja de Santo Agostinho, em Marvila,
Ana Paula Russo (canto) e Carlos Gutkin (guitarra) interpretaram, com rigor e
virtuosismo, canções populares e tradicionais de natal e espirituais
negros.
A talha dourava o templo; os (in)fiéis respeitosamente
batiam palmas... Só os quadros, desbotados, escondiam as cenas que, outrora,
empolgavam os devotos.
O sol, a espaços, espreitava pelas janelas, mas,
envergonhado, cedeu o lugar às lâmpadas estrategicamente colocadas...
Enquanto tudo decorria, eu ia meditando na inutilidade
dos armazéns que se foram acumulando e empurrando a igreja de Santo Agostinho
para a linha de caminho de ferro...
Provavelmente, nada do que acabo de escrever se
verifica nesta malfadada Lisboa! Traído pelas sensações, invento quadros
grotescos em vez de exaltar a lucidez que nos governa, apesar de Lúcifer.
8.12.11
Estará a realidade distorcida ou sou eu que a vejo
distorcida? Doravante, a dúvida fará parte da minha abordagem do quotidiano. Do
quotidiano mesmo e já não da vida! O todo esgarça-se nos detalhes e o esforço
para os reunir cansa até a perceção se diluir em sons sobrepostos que
enlouquecem.
Terá a catedral ganho uma nova fachada ou apenas terá
sido escondida por um arquiteto agnóstico?
Se os sinos tocassem, as vidraças deveriam
estilhaçar-se!
7.12.11
“A dívida dos
pequenos países é eterna.”
Afinal, Sócrates sabia o que fazia! Aprendera que
os países não devem pagar as dívidas. Quem lho terá ensinado? – Os professores,
certamente!
Assim se vê que um sistema educativo permissivo dá
muito maus frutos. E há por aí tantos alunos mal aconselhados!
5.12.11
Este ano, espero que o senhor presidente Cavaco
promova a apanha dos cogumelos que certamente crescem nos jardins de Belém para
que nenhum filho dos funcionários do Palácio fique sem uma prenda de Natal.
Ouvi-lo queixar-se da austeridade palaciana
incomoda-me porque, de imediato, me faz pensar na tristeza da dona Maria que,
apesar dos seus presépios, não difere muito da minha avó Vitória que, para
oferecer um rebuçado aos netos, tinha de consultar o marido e senhor.
Com um pouco de sorte, este ano, se seguir o meu
conselho, o senhor presidente ainda poderá mandar servir uma sopinha de
cogumelos. Porque para o ano…
3.12.11
Se me sentasse naquele banco, ficaria de costas para o
lugar onde, dizem, vi a luz do dia. Considerando o tempo já passado, a
disposição é a mais adequada, pois esse tempo está cada vez mais distante. O
lugar ali está, embora desativado… Já ninguém ali nasce! Nem sei mesmo onde é
que hoje é suposto nascer! E sobretudo que eu saiba ninguém ali segue
a regra do Carmo…
Sintomaticamente, se me sentasse naquele banco,
continuaria a ver, como no primeiro dia, o quartel cuja origem remonta a 1806,
o Regimento de Cavalaria nº 3, também ele desativado…
Embora, por segundos, tivesse pensado em subir a rampa
e sentar-me ali de costas para o tempo já passado, não o fiz, não fosse a
cavalaria carregar sobre mim.
Mas, deveras, o banco, em frente da igreja do Carmo,
lembra-me um certo tempo de austeridade, de trabalho e de silêncio, e tão
intensa é essa presença que já não estou certo de que aquele banco esteja de
costas para o tempo já passado…
1.12.11
Um estado laico e soberano jamais abdicaria de um
feriado cujo simbolismo é identitário. Farisaicamente, o mesmo estado cede à
Igreja Católica o 8 de Dezembro, como se todos os portugueses prestassem culto
à padroeira bragantina…
O estado laico não deveria imiscuir-se nas questões de
fé, favorecendo uma igreja e tolerando ou ignorando as restantes.
Ao Estado, apenas, compete definir os feriados que
celebrem os momentos (re)fundadores da nação. E eles não são assim tantos!
30.11.11
Ao longo de 37 anos, o polvo democrático, acolitado
autarquicamente pelo partido comunista, partilhou a clientela partidária,
inventando um país de abril à medida da sua avidez e da sua ignorância – um
país postiço que, agora, é posto a ferros… 37 anos depois de abril, o polvo democrático, mestre
do disfarce, mas incapaz de se libertar dos tentáculos, prefere saltar sobre
a presa, sugando-lhe a medula e deitando fora o esqueleto. |
29.11.11
A propósito das “Crónicas de Tempos Vagos” de António
Souto, dou comigo a passear pelo blog “Floresta do Sul” de António Manuel Venda
que ali sacrifica aos deuses que conseguem preencher o tempo sem levantar
muros, visíveis ou invisíveis.
Ao mesmo tempo, ainda oiço a magnífica lição de José
Jorge Letria, para quem os muros são mais uma construção do leitor do que do
autor. E entre ambos, surge a brecha que nos permite passar através do muro,
isto é, nos permite comunicar. E recordo “O Silêncio” de Sophia (ou seria de
Mónica?) que lhe permite despertar para uma realidade ensurdecedora.
Hoje, no Auditório “Camões”, apesar da sapiência dos
autores, o muro esteve vezes demais do lado dos destinatários. Esperemos, no
entanto, que a iniciativa sirva para abrir mais uma fenda…
28.11.11
Se para Pessoa, o mito fecunda a realidade, sendo indispensável
para a construção da identidade coletiva (Mensagem); para Pepetela o «mito
serve para compensar frustração, serve de ensurdecedor social» (A Sul. O
Sombreiro).
Realmente, os estudantes do ensino secundário
continuam a assimilar (in)voluntariamente ideias messiânicas e sebastianistas
que lhes esmagam a vontade, deixando-lhes apenas o sonho nebuloso da redenção
definitiva…
Começa a ser tempo de desmontar os mitos e acabar com
as mistificações criadoras de manipansos estéreis.
27.11.11
Sem querer substituir a batata pela bolota, refira-se,
no entanto, que esta (tal como a castanha), antes dos descobrimentos, era a
base de muitas sopas, havendo, também, quem confecionasse uns saborosos
queijinhos de bolota.
Na época de crise que atravessamos, em que os hotéis
crescem que nem cogumelos, talvez venha a ser chic degustar
uma tradicional sopa de bolota… Por aqui, no Parque das Nações, só faltam os
porcos! Ou Não?
26.11.11
Na rua Marquês de Tomar (Lx), a altercação alonga-se:
senhorio e inquilina desentendem-se quanto ao valor da renda. O atraso da
inquilina é atribuído a incumprimento do senhorio que, entretanto, lhe responde
na mesma moeda. Os argumentos tornam-se gritos e a rua começa a encher-se de
curiosos...
(…) Sem pagar, a inquilina arranca a toda a velocidade
e o senhorio manda-a queixar-se ao advogado… que ela não pode pagar.
25.11.11
As agências de rating só veem lixo, não porque vivamos
numa lixeira, mas porque o objetivo é forçar-nos a endividarmo-nos
irremediavelmente.
A usura é o modo de vida dos credores que, enquanto
conseguem um rendimento fabuloso, procuram gerar a indignação e a revolta
necessárias à eliminação dos valores gerados pela revolução francesa.
Hoje já não há direita capitalista nem esquerda
socialista! Há apenas redes de especuladores que se divertem a destruir para
poder acumular.
Regressámos ao antigo regime! Até quando?
24.11.11
Durante duas horas caminhei e nada vi de
surpreendente, a não ser que havia muito mais polícia em Moscavide do que na
Portela ou em Sacavém. Havia pessoas nas paragens de autocarro à espera das
carreiras da rodoviária, já que a Carris aproveita o dia para agravar a dívida
pública. Nas ruas, a circulação de veículos e de peões era insignificante,
deixando entender que o momento é de labor ou de descanso. E de facto nalguns
estaleiros, oficinas, lojas e esplanadas, vi trabalho e ociosidade. Não soube,
no entanto, avaliar quem levava a melhor…
Entretanto, por coincidência, as agências de rating só
veem lixo. E que mais poderiam elas ver em dia de greve geral?
22.11.11
Apesar de haver quem pense que a Grécia moderna nada
tem a ver com a Grécia antiga, eu espero que não seja assim, e isto porque há
vários dias que uma antiga sentença grega não me sai da cabeça: «os homens são
atormentados pela opinião que eles têm das coisas, e não pelas próprias
coisas.» Epicteto, Enchyridion
Infelizmente, as notícias públicas e privadas estão
cada vez mais contaminadas por apreciações subjetivas que ocultam ou deturpam
os factos.
A crise europeia, para ser superada, exige a criação
de um estado europeu – o que impõe, em nome do bem comum, perda de soberania.
Mas o que se verifica é que a multiplicidade das opiniões insiste em ignorar o
caminho: um governo central, um banco central, forças armadas comuns…
A tormenta que atravessamos impõe clarificação da
decisão política: ou construímos o estado europeu ou mais vale sair da “união”
…
18.11.11
A mediatização da investigação e da decisão judicial
cria no leitor / espectador a ideia de que a justiça é açambarcada por meia
dúzia de figurões que investigam, defendem, acusam e decidem de acordo com o estatuto
dos arguidos.
Não se entende porque é que defesa, acusação e decisão
são sempre entregues aos mesmos, ou será que o poder mediático é tão poderoso
que cria e encena os casos, escolhendo os atores e impondo a decisão?
De qualquer modo, parece-me que a mediatização
distorce o exercício da justiça e, sobretudo, aprisiona os decisores,
impedindo-os de decidir em liberdade.
E esta última ideia – a de uma justiça amordaçada pelo
poder político e, simultaneamente, ignara e presumida - está muito bem
retratada no romance Quando os Lobos Uivam (1958), de Aquilino
Ribeiro.
Considerando a quantidade de temas investigados
anualmente, em dissertações de mestrado e de doutoramento, interrogo-me se
alguém já decidiu investigar quantos dos intervenientes no inquérito e na
decisão judicial já leram Quando os Lobos Uivam.
A separação de poderes e o seu exercício em liberdade
pressupõem uma formação humanística que, infelizmente, tem sido descurada.
17.11.11
Andar para trás pode não ser mau!
Se uma empresa, por falta de financiamento, fica
impedida de importar as peças de que necessita, por exemplo, para reparar uma
viatura, isso não deve ser razão para desistir do negócio. Se olharmos para
trás, veremos que, no passado, muitas dessas peças eram fabricadas ao torno por
serralheiros que, entretanto, foram perdendo importância.
Nesse tempo, havia mais ofícios, e importava-se menos.
E hoje, o que deveras nos interessa é reduzir as importações e regressar ao
trabalho – lançar as mãos à obra.
Só a valorização do trabalho manual, apoiado nas novas
tecnologias, poderá devolver aos portugueses os recursos para se libertarem da
asfixia dos credores e dos especuladores, pretensamente, intelectuais.
Em termos de projeto educativo, as escolas deveriam
criar “oficinas”, onde os jovens pudessem (re)aprender velhos e novos ofícios…
15.11.11
«As nações todas são mistérios / Cada uma é todo o
mundo a sós.» Fernando Pessoa, D. Tareja, in Mensagem
Com nome próprio só duas mulheres
figuraram em Mensagem – duas estrangeiras, as mães
fundadoras, D. Tareja e D. Filipa de Lencastre. Por outro lado, anónimas e
sofredoras, as mães e as noivas sacrificam-se para que a vontade divina
seja satisfeita pelo homem, o infante, a quem compete sonhar, isto
é, colocar-se em linha com Deus.
Mas, sem Deus nada acontece!
Portugal entristece porque há muito deixou de
ser o povo eleito ou, se reformularmos o problema, porque, afinal,
não passa de uma criação estrangeira, a que falta a alma…
Apesar da matriz europeia, Pessoa valoriza acima de
tudo o sonho e a dor. Sem eles, o mistério
português extinguir-se-á definitivamente.
13.11.11
Pichação é o ato de
escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos,
usando tinta em spray aerossol…
Na Rua das Escolas, Portela, jovens de palmo e meio,
dão asas à criatividade: picham os muros mais ou menos recônditos e quebram (e
não só) os vidros das viaturas que encontram no caminho da ESCOLA… Quanto à
autoridade policial, não vale a pena «apresentar queixa contra incertos»,
porque a ordem é para arquivar… Será que nas esquadras portuguesas, alguém
investiga essa «nobre arte da pichação», alguém segue a «assinatura» destes
heróis da periferia?
11.11.11
Adolescentes de palmo e meio divertem-se impunemente a
vandalizar a propriedade alheia. Na Rua das Escolas, Portela, os episódios de
destruição sucedem-se às mãos de jovens que, desintegrados, decidiram criar a
sua própria lei.
Será que estes jovens se comportam diferentemente em
casa e na escola? Provavelmente, não. Devem ser os mesmos que não param em casa
ou que faltam à escola e cujo comportamento continua a ser desculpabilizado,
senão premiado!
Assim, vamos construindo o futuro! E tal como vai o
mundo, não me espantará nada que que alguém me venha dizer que já são “heróis”
no Facebook!
9.11.11
«Miserum est enim nihil
proficientem angi.» Cicero, De Natura Deorum
A cada dia que passa, sinto que há cada vez mais gente
atormentada, sem proveito. Ainda se as tormentas significassem desafios, essa
inquietação poderia fazer sentido, porque vencê-los significaria superação!
Mas não! O que se passa é bem mais grave: cai-se na
escuridão porque os espelhos se quebram, tornando claras as pústulas da ilusão.
E a Ilusão não vale o sacrifício de uma vida!
6.11.11
Ainda é possível sorrir neste outono. A luz e a cor
não defraudam se estivermos despertos! Despertos para cumprir a nossa parte
/ Que, da obra ousada, é minha a parte feita: / O por-fazer é só com
Deus. / F. Pessoa, Padrão, Mensagem.
Por enquanto, a LUZ ainda acende a esperança! E não
precisa de ser divina…
5.11.11
«Senão o lobo, a raposa, o pilho de dois pés zarpavam
com a mamata.» Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam.
Já não sei se matamos a língua (e a literatura) para
ocultar a mamata ou se é ao contrário: a fraude impõe a morte da língua.
Termos como comezaina, comilagem, conezia,
cunha, expediente, furto, ladroagem, mama, marosca, negociata, nicho, pitança,
prebenda, propina, roubo, sinecura, tacho, teta, tráfico, tribuneca, veniaga são
o grito abafado de um povo esbulhado da sua própria voz.
E esse povo, ao perder a língua, morre de vez
asfixiado pelos pilhos de dois pés!
2.11.11
Variam semper dant otia mentem –
A ociosidade causa sempre desorientação. (tradução livre)
Se para Platão, a ociosidade era necessária à
indagação reflexiva e pressupunha riqueza daqueles que dispunham do tempo
necessário à investigação e à especulação, para Sá de Miranda e para Camões a
ociosidade, alimentada pelos pardaus da Índia, efeminava os espíritos,
tornando-os fonte de inevitável decadência.
Por seu turno, Eça de Queirós associa ociosidade a
diletantismo e a indigência, condenando impiedosamente os polidores de esquinas
que infestavam a capital do reino.
Hoje, a ociosidade deixou de ser um privilégio
(conquistado ou herdado) para se tornar condenação de milhões de seres humanos,
e que, desorientados, estão prontos a marchar sobre os templos que abrigam os
modernos bonecreiros.
31.10.11
Nunca soube se foi o Terror que criou o terrorismo se
é este que visa instalar o Terror. De qualquer modo, durante muito tempo, o
terrorismo era a estratégia das minorias, a estratégia dos descamisados contra
os totalitarismos, revelando, quase sempre, uma máscara libertária…
Hoje, porém, o Terror passou a ser o objetivo dos
governantes. Todos os dias, anunciam cortes a torto e a direito. De forma errática,
tomam decisões que visam desertificar o país, chegando à insensatez de
aconselhar os jovens a emigrarem. Pensam, talvez, que um novo fluxo migratório
lhes traria uma renda capaz de travestir a realidade, como aconteceu nos finais
do Estado Novo.
Os guerrilheiros da educação dedicam-se à sabotagem,
dando entrevistas cirúrgicas cujo único objetivo é aterrorizar os docentes,
ameaçando-os com o desemprego ou, simplesmente, com alteração das condições de
trabalho. Sobre a revisão e o incremento de uma matriz curricular ajustada à
realidade atual, nada se faz de forma fundamentada; apenas avançam medidas
avulsas que atingem quem não tem voz porque a precariedade é a sua forma de
vida.
Entre a ministra Maria de Lurdes Rodrigues e o
Ministro Nuno Crato a diferença é só de escala: Se a primeira generalizou a
instabilidade entre os docentes, o último está encarregue de demolir o sistema
educativo, minando-o diariamente…
E a máscara do Terror continua a ser libertária! Até
quando?
29.10.11
Alexandre
Herculano - o anonimato
Cada vez que passo, lembro a visita que, um dia, fiz
ao quarto de Alexandre Herculano. Uma cama insuficiente para acolher o homem!
À beira-estrada, era possível ver que ali, na Azóia de
Baixo, na Quinta de Vale de Lobos, residira um homem ilustre, que terminou os
seus dias, longe da Corte, a produzir azeite – herculano. Um belo exemplo de
civismo!
Hoje, para quem passa, não há uma placa que assinale o
lugar onde o historiador se refugiou, apesar de por lá terem sido plantadas, a
partir de 1999, 150.000 oliveiras num sistema de rega importado do Canadá.
Sugestão: Se ainda é o senhor Joaquim Santos Lima que
dirige a exploração, peço-lhe que aproveite umas gotas dos subsídios que recebe
da União Europeia para assinalar aos transeuntes que ali se produz um azeite
com tradição, mas, também, que por ali paira o espírito de Alexandre Herculano.
E já agora acrescento que também não gosto de ver uma
ponte romana escondida por um canavial por entre o qual corre uma água suja que
aparenta não ter apenas origem nas recentes enxurradas…
27.10.11
Interioridade e exterioridade são apenas andaimes -
metáfora labiríntica da impotência.
Construímos portas e pontes, apenas para experimentar
entrar e sair. Tantas vezes, repetimos o gesto que morremos! Traídos, quando o
andaime falta…
26.10.11
1 - O cientista político arregala os olhos e grita: -
Deixem-se de considerandos sobre as causas da ruína da pátria porque,
agora, é tempo de empobrecer! O nosso programa só tem um
sentido – empobrecer!
No fundo a nova ciência política está a ressuscitar o
mito salazarista de «quanto mais pobres mais ricos».
2 – Há decisões difíceis, mas que, por vezes, nos
iluminam o dia. E isto só acontece quando cada decisor faz o seu trabalho de
forma rigorosa e isenta; só acontece quando cada um consegue suspender os
afetos (positivos ou negativos) e aplica rigorosamente os critérios previamente
estabelecidos pelo grupo de trabalho.
3 – Razão ou preconceito, sombras há, no entanto, que
se nos atravessam no caminho e nos deixam a pensar sobre a ambiguidade do
gesto, da palavra, do movimento. Sobre a influência que podem ter na formação
dos jovens…
25.10.11
Acordar às 5 h e 15 minutos para preencher uma ficha
de observação de uma turma é certamente prova de insensatez, sobretudo quando o
patrão corta vencimento, subsídios de férias, de natal e congela progressões na
carreira.
E a insensatez é tanto maior quanto esta obrigação
resulta da necessidade de compensar o tempo gasto a apreciar as mil
“evidências” que mostram que somos um país de vassalos excelentes, no caso, de
professores… Ou talvez não?
Com tanta excelência, ainda não aprendi a distinguir
os «objetos verdadeiros» dos «objetos falsos»! E, acima de tudo, neste tempo de
respigar, ainda não aprendi que o que resta não chega a ser literatura!
Agora, sim, é hora de acordar!
20.10.11
«…enfim, ainda ao pobre defunto o não
comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.» Padre António
Vieira
Apesar de ter comentado que a Literatura se coloca
frequentemente à margem das Finanças, é bom não esquecer que, por razão que nos
continua a escapar, embora compreensível, um anónimo do séc. XVII nos deixou
uma lista exaustiva dos modos de furtar.
Para quem pense que já não há nada a aprender, registo
aqui os títulos de vários capítulos (no total, são 70) que compõem A ARTE DE
FURTAR.
- Dos que furtam com unhas reais.
- Dos ladrões que furtam com unhas pacíficas.
- Dos ladrões que furtam com unhas militares.
- Dos que furtam com unhas tímidas.
- Dos que furtam com unhas sábias.
- Dos que furtam com unhas de fome.
- Dos que furtam com unhas amorosas.
- Dos que furtam com unhas de não sei como lhe chamam.
Amicorum omnia sunt communia.
18.10.11
A literatura pouco fala de finanças! Os trovadores
defendiam que os jograis e os segréis passassem fome, sobretudo se estes lhes
fizessem sombra. Fernão Lopes lá refere os cronistas de barriga cheia e de
barriga vazia: a fidelidade ao suserano era bem diversa. Gil Vicente refere-se
quase sempre aos roubos de fartar vilanagem que não poupavam ninguém. Todos
roubavam e todos eram roubados. Os judeus seriam os únicos a rir, mas nem no
inferno os queriam. Camões servia trovas aos amigos enquanto a tença valsava
nos salões do paço…. e por aí fora. Eça sentia-se roubado pela choldra. Pessoa
encharcava-se em aguardente à espera de melhores dias, confiado em Jesus Cristo
que nada sabia de finanças! Jorge de Sena, eterno incompreendido, não ganhava o
suficiente para alimentar os filhos. Saramago insistia em abrir a burra ao
proletariado na ânsia de um milagre igualitário…Dos escritores indignados, nada
sei, embora suspeite que deliram por um qualquer subsídio que lhes permita ir
escriturando…
No meu caso, que nada percebo de literatura e ainda
menos de finanças, creio que o melhor para que o país não se dilua
irremediavelmente será diminuir drasticamente a carga fiscal sobre toda a
produção nacional, e aumentá-la em 100% para todos os produtos importados. Mas
todos!
Sejamos mestres na arte de cotejar. Os nossos credores
ficariam satisfeitíssimos connosco!
16.10.11
Regresso e não me lembro do marco. Sei que, em tempos,
a colocação de um marco era uma questão séria – uma questão de morte. A vida
que restava era de eterna fuga. Hoje, a clareza do caminho não me devolve a
incerteza do atalho de outrora. No entanto, ainda há quem estabeleça a
fronteira; ainda há quem, se eu deslocasse o marco, me ceifasse a vida e a
abandonasse no mato até que este me absorvesse definitivamente.
Na verdade, regressar é impossível; renascer é
fogo-fátuo. Só me resta adaptar-me ao marco que ali enxergo, embora ainda tenha
algum tempo para procurar os vértices e cavar um derradeiro fosso. Não sei se
dentro se fora do quadrado…
Bem sei que poderia contar várias “estórias”: da
estaca ao escalo, sem ignorar o moderno pilarete. Mas para quê? Em qualquer
caso, teria de falar de interesses, negócios, lucros, monopólios, acionistas… e
isso deixou de me interessar.
Vou seguir a curva e procurar novo vértice. E ainda me
resta saber, se vou pela direita se pela esquerda. E talvez possa seguir em
frente. Parece-me que se o fizer, acabarei por descobrir outro vértice.
Inesperado? Sim, acabo de destruir a teoria do quadrado!
14.10.11
Se a arte acrescenta; a política subtrai!
Depois de 13 de outubro de 2011, de nada serve
argumentar! Abril morreu…
13.10.11
Há quem defenda que a arte não se explica! Mas se
assim fosse como é que saberíamos que se trata de arte? Como é que saberíamos
que estamos perante um artista?
Na minha modesta opinião, a explicação da arte passa
pela capacidade de ajudar a obra a atingir um público que a legitime não pelo
seu custo, mas, sim, pelo que lhe acrescenta – pelo que acrescenta ao cosmos.
É esse acréscimo que me interessa e que eu talvez
possa explicar se me souber colocar diante do livro, do quadro, da escultura,
da canção, do filme…
E por isso mais do que incluir em qualquer programa o
conhecimento da arte, o essencial é aprender a colocar-se perante o outro,
sobretudo, perante aquele que persiste em não deixar o mundo sem lhe ter
acrescentado beleza, bondade, verdade… novidade.
11.10.11
O desassossego cresce sempre que a tomada de decisão
se avizinha.
Na maioria das situações, o resultado é calculado. E
nem a infinidade de itens esconde a manipulação.
É como se o valor das parcelas fosse fingido para que
a soma final mais não seja que a confirmação do preconceito.
Resultados há, no entanto, que nem o preconceito
consegue justificar tal é a desfaçatez!
8.10.11
Depois da minha presença se ter transformado em
poleiro nos jardins do palácio Galveias, percebi que o fim de tarde ia ser
diferente. Uma hora mais tarde, a Orquestra Gulbenkian, dirigida
pelo maestro Pedro Neves - após ter magnificamente acolhido Instante,
de Carlos Caires, e Tamila Kharambura, vencedora da 1ª edição do Festival
Jovens Músicos - executou, de forma exímia, Vathek, de
Luís Freitas Branco (1890-1955).
Contida a emoção, acentua-se a consciência de que,
afinal, nada sabia sobre a origem deste poema sinfónico, Vathek (1913),
inspirado na obra homónima (escrita em1782) de William Beckford. Um romance
gótico de um viajante profundamente ligado a Sintra.
Falta tempo para tanto caminho! Talvez, os pombos…
5.10.11
A República não só não soube tirar-nos da decadência
como nos atirou para os braços de um ditador autista que, por seu turno, gerou
um regime, pretensamente libertador, mas que nos ostraciza definitivamente.
Na situação atual, um feriado a meio da semana só pode
significar que continuamos a não perceber que necessitamos de mudar de vida. E
vêm aí mais feriados e dias santos – 1 de Novembro; 1 de Dezembro; 8 de
Dezembro; 25 de Dezembro… E não sei quantos feriados municipais!
O Senhor Presidente da República, se não quer ser
lembrado como coveiro da Pátria, bem poderia começar por exigir ao
Parlamento que elimine a maioria dos feriados e dias santos.
4.10.11
A escola é tanto mais pujante quanto maior é a
participação da comunidade educativa na construção e no
incremento do respetivo projecto educativo.
Face à decisão da tutela de proibir a entrega do
prémio de mérito ao melhor aluno de cada escola, é chegada a hora de cada
comunidade educativa assumir a responsabilidade de não defraudar todos aqueles
alunos que se aplicaram ao longo do ano letivo, sabendo, de antemão, que só um
ou dois seriam premiados.
30.9.11
Se os discursos são tão planos que de nada serve
tentar podá-los, pelo contrário, no tecido (in) produtivo português há um
ilimitado campo de ação.
Em Portugal, há milhões de portugueses que beneficiam
de regalias escondidas, e que se avolumaram nos últimos 30 anos na sequência de
desastrosas cumplicidades entre partidos, gestores e sindicatos. Empresas com
dívidas insuportáveis continuam a alimentar as suas clientelas como se nada
estivesse a acontecer e, despudoradamente, os seus representantes falam
diariamente da necessidade de todos partilharmos esse
despesismo.
Esta ideia de partilha mais
não é que uma forma de punir quem trabalha honestamente e quem cumpre todas as
obrigações que o Estado lhe impõe.
O direito à indignação precisa
de ser revisto. Os indignados deveriam iniciar uma luta sem quartel contra
prémios, horas extraordinárias, cartões de crédito pagos pelas entidades
patronais, veículos oficiais ou de empresa, viagens gratuitas na TAP, CP,
carris, metro, cantinas corporativas, casões, sacos azuis, amarelos ou
vermelhos, orçamentos privativos em escolas, universidades, hospitais,
fundações sem capitais próprios, privilégios das múltiplas igrejas,
misericórdias, sem esquecer os corvos que nos deixam as tripas ao sol.
28.9.11
Um poeta tradutor, se por um lado corre o risco de
matar a criação, por outro arrisca tudo ao ocupar o lugar do feiticeiro que
antecipa as chuvas que fazem a glória do rei.
Este tradutor é modesto, pois não se pensa singular,
e, ao mesmo tempo, não abdica de dar voz (asas) a uma realidade de pés
descalços, seca, sem hino e sem bandeira, mas que, no antigamente, transformava
cada semente em flor. Tudo como se o presente tivesse perdido o rumo ao
deixar-se formatar por estranhos lugares-comuns.
E quem poderá traduzir essa vontade de regresso ao
tempo solidário?
Na verdade, só a semente / oferece flores,
mas, para que isso aconteça, o chão (o poeta) terá de ser permeável às chuvas.
Ser ponte, voltar atrás, parece ser o caminho
escolhido pelo “palavrador” Mia Couto, em Tradutor de Chuvas,
pois a verdade reside num tempo definitivamente perdido, a não ser que as
chuvas façam germinar as sementes…
O papel / antes do poema, / é um chão
depois da chuva. // O idioma do grão / lavra a caligrafia do pão.
//
Em conclusão, apesar de nem todos os poemas serem
flores, fica-nos a lição da semente…, embora haja quem nela
tenha visto uma prova de machismo, que, creio, precipitado!
25.9.11
Barro, plástico, cobre, latão, vime, flores, farturas,
bifanas…tudo a pataco (euro) e à sombra da Ordem franciscana! (As gentes
chegam mais tarde para o encerramento espiritual da Feira da Luz.) Por mim,
faltam as peras cozidas. A dizer a verdade, já devo estar a pensar na Feira das
Mercês…
E ainda há quem pense que Portugal não tem futuro!
24.9.11
I - Para quem estuda na Escola Secundária de
Camões, a leitura de Domingo de Lázaro deveria ser
obrigatória. Aquilino Ribeiro retrata, de forma sarcástica, a vacuidade das
opções ideológicas dos docentes do Liceu durante o 1º conflito mundial. Por
outro lado, mostra com crueza o comportamento indisciplinado de alunos que
desprezam o trabalho…Finalmente, descreve o irrealismo e a fatuidade docentes,
para além de deixar um olhar impiedoso sobre a família portuguesa, sobretudo,
rural.
II – Acabo de reler, em Estrada de Santiago,
a novela A Grande Dona que introduz uma reflexão sobre a
incapacidade de o homem aceitar a sua condição, seja ela de pobreza
ou de efemeridade. O filho do moleiro do Gorgulhão, afilhado da Morte, vai ao
ponto de litigar com Ela para adiar o seu destino… À terceira refrega, o
afilhado afunda-se irremediavelmente no pélago sem fundo… (o outro lado do
céu).
A demanda do padrinho rico é uma narrativa cheia de
surpresas no que revela da capacidade argumentativa e indagadora de Aquilino.
Nem Deus nem o Diabo servem como padrinhos! Os argumentos seriam mais
tarde (?) partilhados por Miguel Torga. Só a Grande Dona! «Alta,
delgada como círio, de órbitas cavas e dentes alvíssimos, a cabeça toda uma
mancha de calcário, a intrusa vestia um capindó da corte triste do luar.»
Os textos de Aquilino são verdadeiras lições de
história, geografia, política, antropologia, religião, mitologia e costumes…,
mas o que me seduz é o vastíssimo conhecimento da língua, testemunho de um
tempo que se perde a cada dia que passa.
Com a morte da língua portuguesa, morremos todos!
23.9.11
“O que eu vi, / à nascença, foi o céu.” Mia
Couto, Tradutor de chuvas, 2011
Só um poeta poderia afirmar tal coisa. Eu, que nunca
fui poeta, não me lembro de quando é que vi o céu pela primeira vez, embora
desconfie que, quando atentei na palavra “céu”, deva ter pensado que ela seria
demasiado pequena para o que escondia. No meu frágil entendimento, “firmamento”
representava melhor a abóboda que me cobria…
Por outro lado, à nascença, mais do que sujeito
terei sido objecto. Fui visto, e não sei com que olhos! Pressinto que o que de
mim era esperado não seria muito diferente do destino dos homens daquele dia…
E ainda agora me parece que o céu é
demasiado estreito e, no entanto, sinto que o firmamento substituiu
melhor o ventre que durante algum tempo me acolheu.
Por isso, sempre que posso, olho
o firmamento na esperança de adiar as contas com
o céu.
21.9.11
Irrita-me o comportamento de quem, na atual situação
de descalabro, faz de conta que o problema é dos outros…
A saída da crise obriga a que cada um assuma as suas
responsabilidades sem tergiversações.
As decisões unilaterais podem ser simpáticas a curto
prazo, mas a médio prazo revelam-se ruinosas.
Os adiamentos têm custos irrecuperáveis!
(Os exemplos são cada vez mais inúteis!)
18.9.11
Quem é que beneficia com o acordo?
Num país deprimido, ganho o humor. Basta pensar na
hipótese de o acordo ter sido feito com os pés – acordo ortopédico!!! Os
humoristas portugueses têm matéria até à próxima revisão se, entretanto, a
nação não tiver sido extinta.
Num país ecológico, ganha a floresta. Sempre que o
felino informático (Lince) converter um documento menos árvores serão abatidas.
Num país poupadinho, ganham a cultura e a língua. As
universidades estrangeiras que queiram ensinar a língua portuguesa, deixarão de
ter duplicação de professores, dicionários, manuais, gramáticas…Portugal pode
deixar a tarefa aos brasileiros, angolanos. Por sua vez, os milhares de
professores desempregados podem aventurar-se nas margens do atlântico sul e até
do índico…
No país de abril, de cepa anglo-saxónica, que, a cada
passo, diaboliza os gregos, os linguistas, obrigados a explicar o ‘factor
etimológico” irão, finalmente, redescobrir o latim, o grego e até o árabe, se
não tiverem morrido afogados no caldeirão da ambiguidade ou sugados pelos
humoristas.
17.9.11
O pessimismo de nada serve! O melhor é deixar que a
onda se desfaça e desbastar a realidade, se tomada no sentido etimológico, e,
logo, tudo será mais límpido, apesar dos carrapatos…
Hoje, descobri um ninho vazio, situado a menos de um
metro de altura, e que terá cumprido a sua função, porque, se o homem se
afasta, a avezinha do céu deixa de ter inimigos em terra…E foi o bastante para
desbastar três ou quatro pereiras já que não me é permitido desbastar os
jardins que nos sufocam.
16.9.11
Quem acorda cão dormido vende paz e compra arruído.
Que o homem é resmungão, já sabemos, e por isso quem
pode deve agir rápido. Deve demiti-lo ou levá-lo à demissão, caso contrário a
ilha da Madeira arrastará, de vez, o ‘continente’ para o abismo… (sem esquecer
os Berardos que, servindo interesses escondidos, deixaram a banca nacional a
descoberto!)
Infelizmente, a propaganda continua a cegar os
portugueses, habituados a correr atrás de ‘manhãs radiosas’, sem fazer contas à
vida!
Ultimamente, até nos querem convencer que o Plano
Nacional de Leitura tem contribuído para a redução da iliteracia. Mesmo
quem nada lê de substancial defende o artifício! Mas, de facto, o objectivo é
evitar que interesses instalados sejam postos a nu e eliminados.
Se a iliteracia tivesse diminuído, a situação do país
seria bem diferente e as matilhas não se teriam constituído.
15.9.11
A Nuno Crato, não lhe faltam nem concisão nem clareza!
Vamos ver se com sofríveis recursos financeiros, consegue aumentar a qualidade
de decisão.
Também é bom indicador a disponibilidade do presidente
da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República, José
Ribeiro e Castro, manifestada, hoje, na Escola Secundária de Camões, para
problematizar, de forma clara e concisa, os problemas vividos no terreno…
Impedir que a escola se transforme num factor de
desigualdade, mais que uma opção ideológica, é uma via que exige conhecimento
do terreno, ponderação e decisão casuística e rigorosa.
É preciso sair dos gabinetes! Por exemplo, por onde é
que anda a Inspeção-Geral de Educação?
14.9.11
Quando alguém faz 89 anos, ao revisitar um lugar onde
outrora passou férias, ainda que as ruas sejam as mesmas, os edifícios
surgem-lhe diferentes – mais altos, deslocados e, sobretudo, despersonalizados.
No passado havia um senhor, proprietário das almas e
dos corpos. Agora, o largo enviuvado abre em esplanadas e passeios ronceiros,
servindo transeuntes de ocasião e aposentados que matam o tempo, convencidos
que são o mundo…
Nem o casino cumpre a sua razão de ser! Evidência de
fausto artificioso, o edifício serve a presunção dos senhores ignaros que
lançaram as mãos aos milhões dos fundos europeus…
13.9.11
O calor das 15 horas desespera-me. Viajo no autocarro
83 e, entrementes, descubro no i uma entrevista a Helena
Roseta que leio atentamente. As respostas parecem-me sinceras, revelando uma
pessoa verdadeiramente preocupada com a polis. Há na Helena Roseta
esperança e, ao mesmo tempo, tristeza, pois percebe-se que muita da actual
pobreza resulta de sermos governados por pessoas que não conhecem o
outro e, sobretudo, vivem para satisfazer os seus interesses e
caprichos…
E de repente, oiço em mim: “Nós não somos o mundo!”
e termino a viagem a interrogar o título de uma obra de Mia Couto “Cada
homem é uma Raça”.
11.9.11
Dez anos depois, as torres continuam a simbolizar o
poder. Em seu nome, ignoramos as vítimas anónimas de cada dia, e fingimos que
tudo acontece por força de um mal invejoso do nosso engenho…
Se em vez de procurarmos o céu, enxergássemos as vidas
que calcamos!
9.9.11
Na Ericeira, nada é imutável! Olho a terra, o mar e o céu,
e descubro sempre novidade. E por aqui há um Ministro que governa há longos
anos sem dar nas vistas, se excetuarmos a embirração com o José Saramago que,
entretanto, lhe deve ter servido de emenda…
Quando atravesso o concelho de Mafra, fico sempre com
a sensação de que entro noutro país. Um país de pombas, gaivotas e cogumelos,
cercado de praia e campo, e que, ao fim da tarde, se liberta da cerração
imposta pelo denso nevoeiro. Um país de construtores, descoberto pelos
desportos radicais, que passa ao lado da dívida…
Ou será um jardim, como a Madeira de Alberto João?
8.9.11
A desigualdade instalou-se na escola pública. Novas e
velhas escolas vivem o mesmo desafio: promover o sucesso escolar e na vida,
independentemente do estado dos edifícios, dos equipamentos instalados, da
formação dos docentes e dos restantes funcionários
Mas como?
Para além das escolas em que as velhas canalizações
foram colonizadas por raízes que obstruem a circulação da água ou de outros
efluentes, ovulando paredes líquidas e bolorentas, sem que o Estado ponha
travão à ruina e ao desperdício, e contrastando com o novo-riquismo introduzido
pela Parque Escolar, assistimos agora a uma ação de propaganda que visa
convencer a opinião pública de que vivemos num país em que cada sala de
aula dispõe de um quadro interativo, um datashow, um
computador na secretária do professor, terminais para os alunos e wireless…e
de professores devidamente preparados para ensinar com os novos recursos.
Sem motivação e sem interesse, tal como sem saídas
profissionais, não é de esperar que o espaço escolar degradado seduza os jovens
estudantes, por isso era melhor que o ministério da educação e os sindicatos se
empenhassem, com os parcos recursos existentes, em reduzir as desigualdades em
vez de manterem o braço de ferro em torno da avaliação do desempenho docente.
Lutar por um modelo de avaliação, que quer uniformizar
critérios e aplicá-los do mesmo modo a escolas desiguais, não passa
de capricho de burocratas para quem a resolução dos verdadeiros problemas da
escola pública pouco interessa.
7.9.11
O novo ano escolar começa com os mesmos problemas de
sempre: número excessivo de alunos por turma; turmas-fantasma; desvalorização
da autoridade do professor e dos restantes funcionários; esvaziamento da
autonomia de decisão; avaliação regulada por critérios de raiz ideológica e
nepotista; esbanjamento de recursos; inumeráveis capelinhas…
Entretanto, o ministério da educação e os sindicatos
mantêm o braço de ferro quanto ao modelo de avaliação do desempenho docente,
sem que se perceba quais são os verdadeiros objectivos de cada um… Sei, no
entanto, que os resultados negativos alcançados pelos alunos nos exames
nacionais são já uma consequência da desistência de muitos professores…
No que me diz respeito, continuo a pensar que a
avaliação dos funcionários deve ser uma competência do diretor de cada escola…e
que nos últimos anos tenho canalizado para problemas laterais milhares de horas
que deveria ter colocado ao serviço dos alunos…
Estou farto!
6.9.11
Este ano, o relego foi tempo de
agitação causada pela mediocridade de quem nos desgoverna. Pagamos, a cada
minuto, o desregramento dos salteadores que se apropriaram dos capitais
depositados nos bancos e os hipotecaram definitivamente.
Para que os salteadores continuem a
beneficiar do relego, isto é, do privilégio de vender as ações
compradas antes que a falência seja decretada, o zé povinho é esbulhado que nem
no tempo das invasões francesas.
Para aliviar a vilania, confesso que este ano o meu
tempo de relego foi, em grande parte, consumido a ler Aquilino Ribeiro:
«Era a hora em que, de sol a dobar para o ocaso,
aparece nos horizontes um fuminho ligeiro, baço, movediço e surdo, que é o
avental da noite. Por detrás vem ela, para camponeses e bichos realidade mais
táctil que a asa de um morcego. Em horas de crise a sua aproximação torna-se
tão crucial que não há esperanças, nem consolações trocadas que lhe balsamizem
o negror. Pesadume às toneladas.» Aquilino
Ribeiro, Valeroso Milagre, in Estrada de Santiago.
4.9.11
Escrevo:
“A partir de hoje vou adotar O novo acordo ortográfico da língua
portuguesa” e logo surge a dúvida da correta ou incorreta redação. Acabo de
registar um bibliónimo ou não?
Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa o que é que designa? - Um topónimo?
Um antropónimo? Uma instituição? Um ponto cardeal? Um título? Um axiónimo? Um
hagiónimo?
Já agora como é que se explica a
presença do /h/ nas palavras “hoje” e “hagiónimo”? E porque é que o
“cardeal” não troca o /e/pelo /i/?
Será
por respeito à etimologia? Hodie”>
“hoje”; “cardinales”> “cardeais” …No último caso, a etimologia
deveria, pelo menos, ceder o lugar à tradição cardinalícia!
O que é extraordinário é que os
defensores da manutenção, de forma aleatória, do critério etimológico são
os mesmos que eliminaram o grego e o latim dos programas nacionais…, sem falar
do árabe.
3.9.11
Olho e interrogo-me: - O que é que nos falta?
Inteligência? Aplicação?
A distância deixou de ser obstáculo! No entanto,
estamos cada vez mais longe!
De facto, o único instrumento que sabemos usar é a
tesoura! Já nem os guindastes nos salvam!
2.9.11
Olho e não entendo. O Outono ainda parece longe, mas
as chuvas de Setembro chegaram para amadurar o figo e a uva, reduzindo a
colheita, apesar de haver quem defenda que a água-ardente e o vinho serão mais
encorpados. De qualquer modo, que interessa a qualidade!
E é esta falta de entendimento que incomoda: não
querer saber que o Outono quando chega traz prejuízo, mas, também, pode ser um
tempo de qualidade.
Sem pressa e sem egoísmo, é possível reavaliar as
situações e encontrar novas soluções…
Entretanto, não compreendo para que serve um Governo
que ceifa e não semeia!
Quando o terreno é pedregoso e seco, há que aproveitar
as chuvas de Setembro e lançar as primeiras sementes à terra para que, pelo
menos, algumas possam germinar.
Ontem e hoje, choveu…, mas só vi e ouvi reis magos…
30.8.11
Quando no “post” de 28 de Agosto me referi à violação
de imagem e, consequentemente, à partilha pública do “carácter” de alguém, é
preciso clarificar que o alvo não é nem distante nem indefinido.
A imagem aproxima e define.
No exemplo aludido (fonte: Facebook), quem filma e
quem partilha convive / conviveu diariamente com a vítima,
mostrando-se, muitas vezes, “amigo/amiga”.
Um smartphone, numa sala de aula, grava
som e imagem, permitindo a fácil manipulação dos dados recolhidos.
Para aqueles que não sabem o que lecionar na formação
cívica, eis uma matéria que deveria ser obrigatória: aprender a
respeitar o outro, sobretudo quando ele nos presta um serviço.
PS: Como não sou um sicofanta, mais não digo porque
para bom entendedor…
28.8.11
Quando nos aventuramos nas redes sociais, encontramos
cada vez mais imagens furtivas. Furtivas porque os alvos não sabem que estão a
ser filmados e que vão ser objecto de difamação.
Os autores desta desacreditação, ao colocarem na rede
imagens obtidas furtivamente, ativam antigas e inesperadas cumplicidades
pensando obter, deste modo, impunidade. Até quando?
Ao contrário do que se poderia supor, a máscara surge
cada vez mais cedo, tendo deixado de significar representação /galanteio para
se tornar num indicador de ludíbrio.
26.8.11
A composição não deixa ouvir a música dos dias. Os
músicos abandonaram os instrumentos. O maestro preferiu fugir da orquestra. No
entanto, das nuvens escorre a luz que ilumina os dias de quem abre os olhos e
não entende porque se elevam edifícios tão desiguais.
25.8.11
O vazio perturba o caminhante. Prédios que
escondem quem não quer ser visto ou, talvez, os residentes sejam descartáveis!
Ancorado no porto de Lisboa, o Funchal
espera. - O quê? – Que o libertem do jugo continental?
Polícia montada na Avenida Infante D. Henrique em tempo de crise? Pelo aspecto,
ainda estamos longe das pilecas dos escudeiros vicentinos. Mas lá chegaremos!
23.8.11
À beira do abismo, o Parlamento está de férias. O
Governo suspende qualquer projecto que possa criar emprego e subsidia empresas
públicas e privadas falidas´.
A falência, por exemplo, dos bancos não é admitida… e
os contribuintes pagam a crise! Sempre pensei que a falência pudesse ser uma
forma de nos libertar de produtos tóxicos e, simultaneamente, de gerar novos
empreendedores.
De facto, continuamos a ser governados pelos
interesses instalados, de tal modo que o melhor é pedir emprestado, hipotecando
a soberania, para anestesiados, irmos de férias…
22.8.11
Os professores e a
batata sauté!
- 10
batatas médias
- 1
xícara de chá de cebolinha e salsa picadinhas
- 2
colheres de manteiga de leite (cheias)
- Sal
e pimenta do reino (1/2 colher de café)
- 2
cebolas
- 6
dentes de alho
O prato parece saboroso e, de facto, os ingredientes
são fáceis de encontrar. Tudo genuinamente nacional e vegetal!
A avaliação é caseira e depende do paladar de cada um.
E quanto aos efeitos, logo se verá.
No final da história, os professores estarão mais
elegantes e os neurónios mais ágeis. Tudo graças à pimenta do reino!
21.8.11
«Na carruagem que vinha do Porto, havia muitas
caras lusitanas. Tiram-se à vista, não porque tenham carácter como os ingleses
ou alemães, mas precisamente porque não têm carácter nenhum. São todas
diferentes. Após tantos anos de tombos, de guerras, de sangrias, a raça ainda
não escumou numa fisionomia própria.» Aquilino Ribeiro, Um
Escritor Confessa-se, Lances da Minha Vida, pág.363.
A falta de carácter explica muita da subserviência que
grassa entre governantes e comentadores da res publica. Por seu
lado, o povo parece um rebanho alheado do caminho e do pastor! A Alemanha põe e
dispõe da terra lusitana, e Portugal aplaude, convencido de que merece expiar
por não ter resistido à globalização. Só falta a flagelação na praça pública!
Mas nada disto é possível sem o colaboracionismo, para
quem a terra nada vale. Aos colaboracionistas só interessa o capital, e este
não tem nacionalidade nem religião. As grandes empresas portuguesas que, em
grande parte, tosquiam o contribuinte e o consumidor, têm as suas sedes em
países com menor carga fiscal ou em paraísos fiscais. Porquê?
A Alemanha e a França não estão sozinhas! BCP, BPI,
BES, BANIF, BIC, Banco Internacional do Funchal, PT, GALP, SONAE…, EDP, CIMPOR,
Jerónimo Martins, BRISA, Mota-ENGIL, PORTUCEL, SEMAPA, ZON (e quantas mais?)
põem o rebanho a render e ameaçam abatê-lo!
Considerando a lição de Aquilino Ribeiro e daqueles
que consumaram o derrube da monarquia, e cujo carácter se media pela capacidade
de enfrentar a rugosidade do terreno, o principal inimigo deve ser
procurado dentro e não fora de Portugal. E o primeiro passo é não colaborar com
empresas que não assumem os seus deveres fiscais, em nome de uma falsa
internacionalização – os únicos beneficiados são sempre os acionistas…
Em Um escritor Confessa-se, para além da
terra, há o terreno… e a luta constante contra a subserviência, fundada na
tradição, na religião ou no despotismo político castrador…seja monárquico ou
republicano.
Há autores que merecem ser lidos não só pela qualidade
linguística e literária das suas obras, mas, sobretudo, pela sua exemplaridade,
o que talvez explique a nossa falta de carácter e a facilidade com que somos
desrespeitados.
19.8.11
«Uma alçada bateu para a Foz do Arelho, cercou a casa
do Francisco Grandela e meteu o nariz em todos os cantos, até nas capoeiras.» Aquilino
Ribeiro, Um Escritor Confessa-se
Os esbirros de João Franco, em nome do monarca,
perseguem o insurreto Aquilino, seguindo o trilho republicano…
Grandela – empreendedor e filantropo.
Aquilino Ribeiro – activista e escritor.
Ambos escolheram a acção, ao serviço
do Outro…
15.8.11
Intocáveis ou bode
expiatório?
Eduardo Pitta, Marcelo Rebelo de Sousa et alii
estão preocupados com as cedências de Nuno Crato…
Mas quem são esses “intocáveis”? Aqueles que já
deveriam ter cedido o lugar aos mais novos?
E quantos são, de verdade, esses “intocáveis”? O
que é que fazem no sistema educativo? Nada?
E se for verdade que uma parte dos “intocáveis” não
faz nada, porque será? E quantos são os que não fazem nada?
A quem é que interessa o empastelamento da informação?
Aos que asseguram o funcionamento das escolas e contribuem para que o
rendimento dos alunos não seja ainda mais baixo? Ou aos que não fazem nada?
As respostas não devem ser dadas pelos protagonistas
costumeiros. O Senhor Ministro necessita de descer às escolas e observar o que
se passa no terreno, porque é lá que a desigualdade é mais gritante: tanto come
o que trabalha como o que nada faz.
E convém também corrigir a ideia de que “os
intocáveis” são privilegiados, porque os professores são, há mais de 10 anos, o
bode expiatório de todas as crises.
Já abriu a caça aos gambozinos!
14.8.11
SECRETARIA DE ESTADO DO ENSINO E ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR
Projecto de Avaliação do Desempenho
Docente
Artigo 20º – Isenção de Avaliação
b) Posicionados no 9.º e 10.º escalões da carreira
docente.
- Que docentes é que actualmente recebem pelo 10º
escalão?
Artigo 28.º
Disposições Finais e Transitórias
1- Após o final do primeiro ciclo de avaliação do desempenho docente com base
no articulado do presente normativo, e fazendo cumprir o princípio de que
nenhum docente será prejudicado em resultado das avaliações obtidas nos modelos
de avaliação do desempenho precedentes, cada docente optará para efeitos de
progressão na carreira pela classificação mais favorável nos três ciclos
entretanto realizados.
Conclusão: Só em 2016 /2017, haverá progressão na
carreira docente!
Avaliação para quê? Quem é que acredita que poderá
haver melhoria da qualidade de ensino num cenário de permanente penalização dos
professores?
(Afinal, não é apenas a CP que coloca as estações
em não-lugares!)
11.8.11
Reta-pronúncia… de
Vítor Gaspar
Ao ouvir Vítor Gaspar, o ministro das Finanças, dá
vontade de citar Aquilino Ribeiro, ao caracterizar o juiz Alves Ferreira: «um
magistrado miudinho, quase reta-pronúncia e obtusângulo.» in Um
Escritor Confessa-se
Amanhã, cumprindo as exigências da Troika,
Vítor Gaspar anunciará ao país mais medidas para esfolar o contribuinte,
deixando a monte os gulosos.
10.8.11
Em Cacela Nova, bem procurei o último
livro de José Carlos Barros, mas só encontrei alfarrobeiras!
(Nem Rumor!… nem Inês!) No entanto, ao
interrogar um “vizinho” sobre o pomar, acabei por perceber que está na hora da
colheita da alfarroba que, infelizmente, irá para a Espanha.
Pobre indústria transformadora!
Em Cacela Velha, o Forte é património das
forças da ordem…
Mas, a poesia ocupou o lugar (e a toponímia). A força dos poetas está bem
visível, desde o tempo árabe à actualidade.
Alheio à força humana, o oceano, quase
azul, abraça a terra e perde-se no verde estival.
( Nós, a pé, lá fomos e regressámos, sob a canícula, à vetusta estação de
Cacela.)
9.8.11
No Algarve, em pleno século XXI, o comboio
é servido por uma única linha, por eletrificar… Não se entende como é que a
região que acolhe anualmente mais portugueses e estrangeiros não exige ao poder
central uma ferrovia moderna e “amiga do ambiente”.
Para acompanhar o atraso que testemunho a
cada passo, mesmo quando os governantes sonham com o TGV, continuo a ler
Aquilino Ribeiro – homem que, no seu tempo, sempre lutou contra a
subserviência…
No romance O Arcanjo Negro, terminado em
1939-1940, a acção decorre em Lisboa e arredores, sempre com o Tejo dianteiro,
entre 1925 e 1929. De acordo com o autor, o objectivo era concluir o estudo do
casal lisboeta, encetado com Mónica.
Mónica, que tem metade da idade de Ricardo, sofre os
ímpetos do ciúme do marido que, progressivamente, lhe aprisiona os movimentos e
as ideias, transformando-a numa “monja” incapaz de se libertar do labirinto
psicológico em que vai mergulhando. Em nome da ordem burguesa, sufoca a libido,
desenhando espaços fechados, em que os protagonistas se anulam.
Para além de apresentar três novelas sentimentais,
Aquilino retrata o clima insurrecional que crescia no final da 1ª República,
descrevendo, pelo menos, duas revoltas fracassadas que, no essencial, visavam
restaurar a utopia republicana, mas que falham, pois, a maior dificuldade era
encontrar o «homem clarividente» que desse sentido às aspirações dos
“revolucionários”.
Essa falta de clarividência parece ser explicada pela
natureza do homem português: indigente, doentiamente romântico, hipócrita,
megalómano e, finalmente, mafioso ou simplesmente ladrão de ocasião.
É deste modo que as personagens se vão perdendo, quase
sempre vítimas de cegueira mental, sem espaço de fuga (a não ser a misteriosa
“água-pé da terra natal de Afonso Ruas – Carvalhal do Pombo. Nem o amor
as salva!
Para Aquilino Ribeiro, a redenção estaria no
aniquilamento da raça para, depois, começar tudo de novo…Nem Freud escaparia…
8.8.11
Apesar de continuar a pensar que Álvaro de Campos só
“nasceu” em Tavira porque o local, a Sul, abria para o ‘splendor do
Longe pessoano, acabo de encontrar a “casa” que simpaticamente lhe foi
atribuída pelo município.
De facto, é bem mais fácil alojar uma criatura
“fingida” do que um pobre diabo de pouca carne e já escaveirado! O próprio
Pessoa o sentiu na pele…
E, aqui, Álvaro de Campos que, a certas horas,
aborrecia a leitura, também, tem a sua Biblioteca!
(Aos poucos, as criaturas vão ofuscando o criador!)
6.8.11
O forte; a ria; o sapal. Do outro lado, o mar.
Um exemplo do que desperdiçamos. Pouco mais fazemos do
que ir a banhos. Torramos ao sol, indiferentes aos perigos e à miséria, como se
vivêssemos numa esfera bem distante.
(…) Ainda não encontrei o engenheiro naval, Álvaro de
Campos, e não vejo motivo para que ele aqui tivesse “nascido”! Ainda se ele
tivesse sido construtor civil!
5.8.11
Sem o tanger dos sinos, mas com lua cercada de fogo!
Cá por baixo, uma desordem errática!
(…) A esta hora um cantor de feira ecoa, sem saber que
atrapalha quem procura dormir. Levantou-se tarde, não almoçou e, talvez, venha
a cear uma asa de frango com dois dedos de carrascão…
4.8.11
Há quem grite por tudo e por nada!
Gritam com os mais velhos, gritam com os mais novos;
gritam com os vizinhos, gritam com os estranhos.
Ainda não percebi por que motivo “gritam com…”, uma
vez que “gritam contra…” De verdade, deveriam era “gritar contra si próprios”
porque não sabem o que é o respeito pelos outros.
Infelizmente, as vítimas pouco podem fazer contra os
déspotas que se escondem por detrás dos muros, sob o manto da cultura ou do
poder financeiro.
E de nada deveria servir argumentar que estes
“infelizes” foram, também, eles vítimas de ambientes familiares desfavoráveis.
O meio e os genes não explicam tudo!
Falta-lhes a vontade de mudar; sobra-lhes a maldade…
3.8.11
Quando olho fotos mais antigas, apercebo-me que
outrora subia aos castelos para me sentir senhor de uma paisagem que não era
minha.
Esta ideia de posse, hoje, não faz qualquer sentido.
Passámos a olhar reverencialmente os castelos sem lhes conhecer os senhores.
31.7.11
Não sei quem mora na
cave daquela oliveira de encosta. Um dia destes, acampo debaixo da figueira
mais próxima… e espero.
As pereiras, logo que se viram
livres do mato que as cercava, decidiram ser o maná das abelhas e das aves.
E eu, oportunista, antecipei-me…
Um ponto de fuga explodiu no
Museu Oriente para me mostrar que a arte é muito mais do que os meus sentidos
costumam alcançar…
O poço resiste ao abandono,
lembrando tempos de iniciativa…
28.7.11
Na cidade, a pobreza é mais grave. Invisibilidade.
Violência. Indigência.
A pobreza na cidade é mais grave do que nos campos,
porque é possível escondê-la, dela morrer anonimamente; porque a rejeição e a
marginalização despertam naturalmente uma resposta violenta; porque facilmente
se cai na indigência, perdendo qualquer sentimento de autoestima, qualquer
traço de humanidade.
Neste cenário, que medidas tomam os governos contra a
pobreza nas cidades? Apenas pensam na recapitalização da banca! Como se a banca
não fosse uma das causas da desgraça que cai sobre nós!
À pobreza, a banca nada diz. A banca só arrasta para a
pobreza…
Um governo que pensa mais na banca do que na
invisibilidade, na violência e na indigência dos governados, é porque apenas
serve o capital. É um pobre governo!
27.7.11
Valorizamos facilmente o exótico. As árvores de porte
altivo são quase sempre exóticas! Sem elas não teríamos jardins, naturais,
tropicais ou outros!
Sem a intervenção estrangeira, Portugal não teria sido
fundado nem, ao longo dos séculos, teria conseguido manter a soberania…
Hoje, acreditamos que a TROIKA não deve ser confundida
com qualquer cavalo de Troia…
Finalmente, estamos psicologicamente disponíveis para
aceitar avaliadores exóticos (externos).
Nuno Crato, 6ª feira, anunciar-nos-á que uma nova
TROIKA chegou ao Ministério da Educação. E nós bateremos palmas!
E depois andamos surpreendidos com o despertar
violento do nacionalismo, embora pensemos que se trata de uma manifestação de
exotismo – finlandês, austríaco… norueguês…
Haja paciência!
24.7.11
Pode parecer exagero, mas, com a morte de Maria Lúcia
Lepecki, Portugal fica mais pobre. Era uma das poucas pessoas que, neste país,
sabia ler e ensinar literatura – portuguesa ou francesa.
Tinha um método e aplicava-o à vista dos seus alunos.
Não se apresentava como hermeneuta ou exegeta – era uma leitora metódica e
perspicaz, incapaz de desprezar o recetor. Tratava-o com carinho, mesmo quando
este se revelava pouco familiarizado com o texto…
Não sei se praticava a áskesis (ascese), mas,
desde que a conheci, ainda nos anos 70, na Faculdade de Letras de Lisboa, até
ao “encontro” sobre José Cardoso Pires, no Auditório da Esc. Sec. de Camões,
sempre a vi como uma mulher virtuosa, no sentido que Diógenes de Sinope
atribuía ao termo virtude.
E para sempre assim ficará!
22.7.11
Carvalhal do Pombo
na Literatura…
«Na sua casa da Avenida da Duque de Loulé faleceu o
conceituado capitalista e filantropo Afonso Ruas, natural de Carvalhal do Pombo.» Aquilino
Ribeiro, O Arcanjo Negro, pág.97
Em que circunstâncias terá Aquilino Ribeiro conhecido
tão ignoto lugarejo?
A que Bajonca (barão da Bajonca papalino ou
manuelzinho) se estaria Aquilino a referir ao escrever: «aquele
Bajonca, que assim se chama a portela de Carvalhal do Pombo onde a avó, que
atiraram à margem, deitou ao mundo aquele que passa por seu pai.» ibidem,
pág. 102.
Apesar do desconchavo do mundo (atentados de Oslo),
a Literatura não para de me surpreender!
20.7.11
Se as tarefas se amontoam ou a vontade é frágil
acaba-se por não conhecer o que está na sombra ou para além da fachada.
Mesmo entrando, se à pressa, as peças da história
podem deslumbrar, mas apenas isso.
Do martírio desta Santa Eufémia (porque há outras!) até
este registo crescem as sombras…
e nós, contentes…
e eu, apressado, já nem sei porque comecei…
(É tão cedo e já tão tarde!)
16.7.11
O que vemos é diferente do que pensamos ver? Ou
será ao contrário?
O instantâneo aprisiona o que escapa ao raciocínio… Ao
ampliar, ou filosoficamente perscrutando, através da indagação mais ou menos
reflexiva, vemos o que lá estava, mas fora da nossa apreensão.
Incautos, amamos a certeza!
Mas quando a ampliamos, percebemos que deveríamos
cultivar a dúvida!
15.7.11
A árvore dá frutos sem que eu lhe(s) saiba o sabor e o
nome…
Colocadas lado a lado, as rochas não conhecem o desespero do fim…
Podiam ser as minhas janelas se eu tivesse alma!
A borboleta cumpre… e eu interrogo-me!
14.7.11
As pedras nuas surgem-nos insensíveis, estéreis;
excecionalmente preciosas. As fronteiras são claras! Só a picareta as pode
pulverizar…
No entanto, por aqui, às pedras, no leito do rio, não
se lhes vê as raízes, mas a cabeleira é abundante e verdejante, e florescem… só
não vou a tempo de lhes saber o fruto.
Se Mia Couto por aqui passasse, inventaria,
certamente, a estória do velho que, farto da cidade, se teria lançado ao rio na
esperança de lhe descobrir a foz. Este, porém, metamorfoseara-o em pedra
vegetal.
12.7.11
Vou dar a leitura de ALDEIA (1946) por terminada. Uma
obra difícil de classificar! O autor atribuiu-lhe o subtítulo “Terra, Gente e
Bichos”, o que me parece adequado, pois retrata a terra montanhosa e pobre,
frequentemente, na perspectiva do caçador, a gente lapuza e improgressiva,
ignorante, violenta e néscia, e, finalmente, os bichos solidários, se
domésticos, e ameaçadores – os lobos.
O conhecimento da terra, da gente e dos bichos é
genuíno. O autor inquiriu de tal modo cada um dos temas que a nomeação e a
qualificação se revelam terminologicamente precisos e sistémicos, obrigando o
leitor a um efectivo esforço metalinguístico.
O ponto de vista de quem – supostamente influente –
abandona o Chiado para mergulhar na serra da Nave, é implacável para com a
Gente da ALDEIA, boa fornecedora de estórias de pedintes, espoliadores,
parricidas, salteadores sanguinolentos, mas incapaz de contrariar o atávico
mimetismo que faz das serras testemunho de tempos imemoriais. (Os antropólogos
deviam ter a obra de Aquilino Ribeiro como leitura propedêutica!)
São 15 capítulos, ligados pela Terra, que apresentam a
origem, as tradições, a força dos elementos, o comunalismo primevo, estórias de
torna-viagem, a acção dos caciques e, sobretudo, a miséria de um país que
resiste à mudança…
São 15 capítulos cuja leitura é, muitas vezes, lenta
porque nos distanciámos das coisas e dos seres, e, sobretudo, porque, ao
perdemos a língua das Gentes, ficamos irremediavelmente desenraizados.
11.7.11
À consideração do ministro Nuno Crato que está a
repensar As Novas Oportunidades (e não só!):
Em 1946, in ALDEIA, Aquilino Ribeiro
pronunciava-se assim: «As chamadas Escolas Industriais e Comerciais fabricam
uma espécie de bacharéis às grosas. O que se recomenda é que façam artífices,
bons e completos operários. Para isso haveria que reformá-las e criar nas
cabeças de concelho escolas de arte e ofícios, individuadas conforme
a fisionomia económica da região.»
Se o senhor ministro lesse Aquilino, chamava os
presidentes das câmaras municipais e começava por solicitar que lhe
caracterizassem o tecido económico de cada região e só depois decidia o que
fazer às Novas Oportunidades, aos Cursos Profissionais e outros que tais…e
fugia a sete pés dos famigerados portfólios prenhes de retábulos das alminhas
do Purgatório e de mãos postas…
De nada serve querer reformar (poupar) se não se vê um
palmo à frente do nariz!
10.07.11
No Gerês
Bernardo Santareno n’ O Judeu, e José Saramago,
no Memorial do Convento, dão-nos uma imagem de um D. João V
grotesco. Ou será a imagem que é grotesca?
Quando a Literatura se apodera da História em tempo de
decadência, corre-se o risco de que a primeira, ao serviço de preconceitos
ideológicos, molde de tal forma o imaginário do leitor que este fique
incapacitado de interpretar a “realidade”, entendida como o conjunto das
coisas, boas ou más…
Vêm estas considerações a propósito de uma nota
solta: Uma capela em honra de Santa Eufémia, foi mandada edificar por D.
João V, em 1733, aliás, o monarca que mais se interessou pela termas,
construindo um hospital, residência para médico, boticário, capelas e poço para
banhos termais.
Por outro lado, pensando ainda no leitor que não
consegue distinguir as sensações dos sentimentos, creio que o melhor é viajar
até ao Gerês. Aqui, predominam a cor e o som – as sensações auditivas e as
sensações visuais. No lugar onde me encontro, diria que o som da cascata esmaga
os verdes da floresta. Quanto ao olfato, o eucalipto leva a palma ao restante
arvoredo, mesmo ao vidoeiro…
Do tato é melhor não falar, apesar de agora me lembrar
que Almeida Garrett não resistia às nervuras das pétalas das rosas, e que
Pessoa enamorado da música do romântico e do cérebro de Pascoaes, se atirou às
sensações como se a razão nada mais lhe oferecesse como comboio de corda…
Afinal, o problema de muitas pessoas é que continuam a criar os seus países,
como se lá fora nada existisse!
9.7.11
O sol escasseia. Das aves, não há notícia! A água
segue o seu caminho… enquanto a velha senhora espreita os novos vizinhos.
Poucos e silenciosos. Alguns regressam ao cair da noite – são belgas e
ingleses. Apenas a rádio ‘Fundação” transmite música inglesa, indiferente à
presença dos belgas…, embora de hora a hora repita: “à nossa frente só está
você!»
6.7.11
A um político só fixo o nome a partir do momento em
que me convenço que este serve a causa pública. E hoje faleceu uma das poucas
mulheres cuja acção política despertou há muito a minha atenção: Maria
José Nogueira Pinto. Na minha memória, está agora sentada ao lado de Maria
de Lourdes Pintasilgo.
Sempre lhes admirei a convicção e a coerência!
5.7.11
MOODY'S CORTA 'RATING' DE PORTUGAL PARA
'LIXO'.
Eis um título que, de forma exemplar, dá conta do
lugar de Portugal no mundo: o caixote do lixo. Metonimicamente, o “caixote”
desaparece para ficar apenas a metáfora em que Portugal soçobra
definitivamente. Já nem a língua portuguesa nos salva!
A tirania de agências, como a “moody’s’”, deveria
servir para nos questionarmos sobre as nossas opções: ou lutamos por uma
república federal europeia ou abandonamos a união europeia e, consequentemente,
o euro.
O que não se pode aceitar é que diariamente sejamos
humilhados e, sobretudo, devemos combater a política de terror que nos está a
ser imposta.
3.7.11
‘Nas eleições legislativas de 5 de Junho, 85% dos
votantes sufragaram a solução dos credores.’ É este o argumento que dá início à
ditadura democrática, porque a partir da agora só nos resta pagar e calar.
Qualquer desacordo vai ser visto como inoportuno e como causa próxima do
falhanço que nos ameaça.
Uns tantos passarão a manifestar-se nas ruas em defesa
das “conquistas de Abril”, indiferentes à nova ideologia. Para esta, no
entanto, a causa remota, está nessas mesmas conquistas.
Apesar de metade da população não ter votado nas
recentes eleições, está aberto o caminho para a gestão do terror porque,
aparentemente, 85% dos portugueses apoiam as medidas que os condenam à pobreza.
Em nome da transparência, criam-se e propagam-se
falsas evidências. O cilindro da propaganda já está no terreno: abençoam-se os
princípios e os objectivos, na expectativa de que as estratégias sejam
convincentes e os custos diminutos.
No caso de as estratégias falharem, resta o recurso à
força. ‘85% dos votantes sufragaram a solução dos credores.’
1.7.11
«-Não podemos falhar! Não podemos falhar!» Um
enunciado a considerar nas fórmulas mágicas da afirmação de impotência…
Em vez da aposta no trabalho e na contenção,
preferimos o esconjuro dos padres da igreja a que nos acolhemos. Quase que
apetece gritar que É a hora! mas ficamos por: É o momento!
Fica, todavia, uma dúvida razoável: Não podemos falhar
em quê? Para Eça, seria a vida! E para nós, há alguma coisa mais importante do
que a vida? Não seria melhor, de uma vez por todas, admitir que falhámos como
nação!
Nem a sorte nem a magia nos tirarão do açude em que
tombámos, mas talvez pudéssemos aproveitar para criar umas trutas!
30.6.11
“- Posso assegurar…” Assim começam ou
acabam muitas frases proferidas pelos novos governantes. Infelizmente, quem, no
contexto actual, arrisca tal certeza revela impreparação para o cargo que
desempenha.
Uma análise de conteúdo dos argumentos utilizados
mostra ainda que a repetição da “certeza” espelha a falta de estudo e,
sobretudo, adverte para a leviandade da decisão, como no caso da aplicação do
imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal… (Quem é que, de verdade,
acabará por ser taxado?)
Não se espera que o político seja de tal modo cético
que acabe por desvalorizar a acção, mas também de nada nos servem os iluminados
que, em nome da racionalidade e da transparência, tomam decisões cegas.
29.6.11
Alternativa ao
contrato de leitura
Mais do que formalizar contratos de leitura, as
escolas deveriam promover o conhecimento da literatura, criar espaços
de leitura literária, apetrechar as bibliotecas escolares com um número
significativo de exemplares das obras mais consagradas dos vários cânones
culturais e, sobretudo, promover a leitura em rede, socorrendo-se dos fundos
das bibliotecas públicas…
A existência de 4 ou 5 gabinetes de leitura em cada
escola permitiria recriar a leitura partilhada, fomentando a
socialização dos jovens em torno das grandes questões que preocupam as
sociedades actuais. Por outro lado, permitiria criar redes dinâmicas de
leitores em torno de temas por eles próprios escolhidos.
Esperar que a disciplina de Português possa, em 2
blocos de 90 minutos semanais, promover a leitura literária não passa de um
disparate! E a prova foi dada no III Grupo do exame nacional de Português (1ª
fase): raros foram os alunos que, efetivamente, se referiram à importância da
literatura ou que revelaram ter uma noção do que é a leitura literária.
26.6.11
A literatura
- uma
atividade relaxante… pode ser praticada na praia ou em casa; lugar de
esquecimento, de descontração.
- organizador
mental e intelectual; ajuda a simplificar o complicado; sinónimo de ser
culto; abre a mente; prepara para o verdadeiro mundo…
- fuga
à rotina; lugar de sonho, de vida (a criança sonha! o adulto vive!)
- excêntrica
e chocante (para pessoas calmas!); bem-comportada (para pessoas
stressadas!)
- lugar
de engrandecimento e de cumprimento (Falta cumprir-se a literatura!
- cara;
encontra-se em todo o lado, e acessível a todos; não devia ser só para
cromos e introvertidos...
- vítima
da televisão, do cinema e da internet; as novas gerações querem quebrar a
tradição da literatura; a leitura literária deve dar lugar à leitura
digital.
- cansativa;
antidepressiva; retrógrada.
- sem
a literatura, a formação é deficiente; é o fim das relações entre os seres
humanos…
Nota: No exame nacional de Português do 12º ano,
o CONTRATO DE LEITURA não fornece exemplos. Porque será?
25.6.11
A terra é de pedra!
Cai a gota, e medra a erva daninha. / A aboboreira,
coitada, foge dela…
A alface parece alheada / espera a monda e que a
livrem de cuidados…
Soberbo, o damasqueiro aproveita a circunstância /
ignora a pedra e sobe ao acaso… / sem se aperceber que a fartura o há de matar!
(E eu que faço aqui?)
24.6.11
Ser ministro pressupõe disponibilidade para mudar de
vida…
Nas análises que vêm sendo feitas, por exemplo, de
Nuno Crato, há um traço comum: o conservadorismo do cidadão. Rebuscam-se a obra
publicada, entrevistas dadas, artigos dispersos para o crucificar.
Ninguém quer saber das linhas programáticas do novo
ministro para o ensino e para a educação; ninguém espera para verificar se a
inteligência, que, apesar de tudo, lhe é reconhecida, trará um novo rumo, uma
nova equipa capaz de redefinir as prioridades com menos despesa, melhor
aproveitamento dos recursos humanos e, sobretudo, com efectiva melhoria das
aprendizagens.
À partida, nada nos garante que um progressista faça
melhor do que um conservador. O que está em causa é compreender se o ministro
tem um projecto adequado à realidade, e se é capaz de se rodear de uma equipa
homogénea que, longe dos holofotes, sirva a coletividade.
O problema é que há demasiadas luminárias!
21.6.11
A aposta em tornar igual o que poderia ser diferente
só traz prejuízo! A grelha de leitura é mais importante do que o texto: o
detalhe sobrepõe-se ao conjunto.
E, assim, a perceção da realidade (poética ou outra)
empobrece a cada abordagem, reduzindo o chão da imaginação criadora.
Continuamos no paradigma da domesticidade, só que a
uma escala cada vez mais ampla. Deixou de haver lugar para o desespero pessoano
da incomunicabilidade…Escamas surdas, translúcidas e fortuitas!
A mediocridade matou a tangibilidade. Do predador, só
a dor da criatura doméstica.
20.6.11
Se a Europa nos quer expulsar do euro, o melhor a
fazer é sair. E quanto mais cedo melhor! A Europa nunca nos viu com bons olhos:
primeiro, invejou-nos, depois saqueou-nos. Recentemente, enfeitiçou-nos. E para
quê?
- Para nos devorar.
18.6.11
Quando atravessamos certas cidades, como Tomar,
apetece ficar, não por causa dos nabantinos que parecem ter desertado da
cidade, mas por causa dos seus monumentos, das suas praças e vielas…
Por causa da sua história e da beleza paisagística,
sinto-me de regresso à cidade dos anos 70, agora mais moderna… e compreendo que
uma parte dos fundos europeus me cerca… e que a festa dos tabuleiros se
avizinha.
17.6.11
Até parece que o PSD não ganhou as eleições! Onde é
que estão as figuras proeminentes do partido? Nos Conselhos de Administração?
Sobre Sócrates, afirmava-se que era mestre de tática,
mas sem estratégia! E no PSD, quem é que define a estratégia? Quem é que pensa
o caminho para sair da crise sem sacrificar os interesses nacionais?
Olhando para os 11 ministros, não vejo nenhum capaz de
pensar por si, de definir uma estratégia que não esteja subordinada a
interesses privados.
Sobra-me, no entanto, uma dúvida: Será Nuno Crato
capaz de constituir uma equipa com espírito de missão que faça uma limpeza na
multiplicidade de estruturas que desgovernam a Educação?
16.6.11
Cada cavadela, sua minhoca!
No que me diz respeito, é mais cada enxadada, várias
minhocas e de várias cores. Sem querer corromper o saber popular, em tempos de
aposta no regresso ao campo, parece-me que melhor seria pensar um pouco mais
antes de agir.
Os sinais começam a ser claros: os ricos querem os
pobres à distância; os pobres (e, sobretudo, os parasitas que são como as
minhocas!) vão acabar por romper o dique e ser massacrados até que voltem a ser
necessários…
(Se as minhocas soubessem que estão a ser
utilizadas como iscas vivas!)
À desordem seguir-se-á uma nova ordem, uma nova
abundância… até que o alcatruz volte a esvaziar-se…
E se assim não fosse não haveria narrativa!
14.6.11
A quente, não é de esperar grande sensatez! E por isso
esqueço os rostos do dia, e regresso à memória de outras modernidades…
Ao tempo da camioneta da carreira que trouxe a
pontualidade e a democratização, que descobriu novas fronteiras, novas serras,
novos mares…
Ao tempo do petróleo (querosene ou petroline) que
apagou a noite e anoiteceu as velas de sebo, que impôs a higiene…
Ao tempo da eletricidade que humilhou Apolo e ofereceu
aos poetas as flores do mal e as horas mortas…
Ao tempo do automóvel aristocrata e burguês…
Ao tempo da escola oficial que nos queria libertar da
ignorância em troca de votos comprometidos…
Ao tempo dos bens comunais: a eira, as lameiras, a
água de rega, o forno, o moinho-à-beira rio, o açude, a serra…
Ao tempo dos almotacés!
(…) E este regresso mais não é do que o reconhecimento
de que quem olha e escuta é a consciência de um devir que ainda pode escolher
entre os impulsos desmedidos e os bens comunais…
10.6.11
«De verdade, mentir é um vício maldito. Somos
homens porque capazes de respeitar a palavra dada.» Montaigne,
Les Essais, Livre I, chapitre IX.
De facto, faltar à verdade é o pior dos crimes, até
porque o reverso da verdade se revela sob mil figuras. Tal como os pitagóricos
pensavam: o bem é certo e finito e o mal é incerto e infinito.
Na solenidade do dia, os discursos parece que se
desprenderam dos homens, revelando os homúnculos que, em nome da nação,
continuam a ajustar contas, deixando António Barreto a falar sozinho…
Na oratória de Barreto mora a cerração que, talvez,
venha a ser desfeita não pelos homens, mas pela contingência…
(A angústia.)
7.6.11
Manuel Baldemor, 1947, Paete Laguna, Filipinas,
cinzela o papel com o sentido de quem quer revelar lugares perdidos na voragem
de sociedades que preferem a especulação financeira e a ociosidade ao trabalho.
A solução passa cada vez mais pela redescoberta da
matéria, em todas as suas extensões, isto é, pela valorização do homo faber.
De nada serve o comentário daqueles cuja palavra
perdeu a referência.
A litotes, talvez!
6.6.11
Hoje estive, entre as 11h15 e as 12h45, no Hospital de
Santa Marta, em Lisboa, para ser submetido a um exame médico, cujo resultado
será enviado ao meu médico assistente num prazo de três semanas.
Entretanto, enquanto por lá permaneci, tive tempo de
perceber que tarefas que exigem extrema atenção são executadas no meio de
conversas gratuitas e pautadas por continuadas SMS, ou
interrompidas para atender conhecidos e amigos que beneficiam de celeridade
insuspeita e de tratamento privilegiado…
Nem vale a pena lastimar o tempo que passei já
preparado à espera que o radiologista aparecesse, quando, ainda na sala de
espera, vi doentes da medicina interna abandonados à porta dos gabinetes até que
surgia um auxiliar a perguntar-lhes se já tinham feito os exames… De comum,
nenhum daqueles doentes se encontrava em condições de dizer o nome ou de
confirmar se sim se não…
Concluído o exame, ninguém me disse onde deveria
dirigir-me para fazer o pagamento, como se essa diligência nem existisse… Lá
descobri a tesouraria, apesar de não haver nenhuma placa a assinalar o
local.
Fiquei, deste modo, esclarecido sobre as dívidas dos
utentes, sobre a baixa produtividade nas unidades de saúde, sobre o desleixo em
certos actos médicos, sobre o modo como os doentes mais indefesos são tratados,
e sobre o modo como o amiguismo e o corporativismo beneficiam de privilégios
que não deveriam existir num estado de direito…
5.6.11
A última intervenção televisiva de José Sócrates, pela
imodéstia testemunhada, parece querer confirmar que a decisão dos portugueses
foi acertada.
(Esperemos, no entanto, que não seja necessário pegar
em armas para colocar sensatez na cabeça dos governantes.)
Os próximos três meses serão fundamentais para atalhar
a caminhada para o abismo.
Vamos lá ver se, a partir de amanhã, a nova ordem sabe
cortar em tudo o que é desperdício e imoralidade, como, por exemplo, o actual
modelo de avaliação de professores ou a Parque Escolar.
3.6.11
Agora que a campanha eleitoral está a acabar, procuro
uma alternativa e só antevejo soluções defuntas! Não sei se os candidatos a
deputados deram a devida atenção às velhas tecnologias, mas o país rural e
urbano expõe-mas, de norte a sul.
De qualquer modo falar de candidatos a deputados é um
excesso de linguagem, pois, apesar das novas tecnologias, parece que eles
enfiaram o gorro do «físico prodigioso» e terão partido para uma qualquer
longínqua praia paradisíaca. Ninguém lhes conseguiu pôr a vista em cima!
Esperemos que o devasso satã não os tenha sodomizado!
Quanto à alternativa, bem sabemos que não podemos
voltar atrás, nem virar à esquerda ou à direita, ou mesmo sonhar o futuro, pois
se o fizermos perderemos o presente, tombando definitivamente no abismo…
Esta lição, no entanto, só serve a quem pense que o
Sol nasce todos os dias. Infelizmente, continua a haver quem ainda não tenha
entendido que o Sol é um fingidor!
2.6.11
Todos os dias o Sol finge que nasce e, ao despertar,
para nos enganar, fá-lo sempre de modo diferente. E nós, sempre do
mesmo modo, fingimos que a pequenez não nos afecta, que a prosápia não nos
coage, que a astúcia não nos inibe…
Resignados, ouvimos convicções inatacáveis, ideias
secretas…
e sorrimos
dos aplausos bajuladores, das histerias beatas…
e dos que têm ideias só para os outros concretizarem…
e dos que propõem interpretações fantasiosas…
e dos justiceiros prontos a empunhar a espada!
(Fingimos e a alma morre! A sorte é que o Sol não
finge o seu curso…)
31.5.11
Tal como Psamenita, rei do Egito, olho, não para
Cambise, rei da Pérsia, porque essa “estória” há muito saiu da memória, mas
para as lágrimas silenciadas das vítimas da maré de soberba e de pesporrência
que não cessa de crescer, e interrogo-me se os olhos secos não são, afinal, a
expressão de uma tristeza anoitecida…
Porque, na realidade, ainda há por aí muita tristeza
luminosa – olhos que sorriem de pudor; suspiros desesperadamente castos, vozes
cadentes e assassinas, mãos fugidias e rapaces, azuis e castanhos inefáveis…
E eu começo a acreditar que o humor negro só existe
nos olhos secos daqueles que, à contenda e à intriga, preferem o silêncio do
caminho e a solidariedade das vítimas…
A esta hora, os candeeiros tingem de amarelo os ramos
exóticos que sobre mim balançam, e os pássaros contam a estória dos reis da
Pérsia e do Egito. Por mim, tudo bem! Vou ficar a ouvi-los porque eles
merecem…
27.5.11
O Grupo de Teatro da Escola Secundária de Camões
continua a surpreender. A 3º produção da companhia oferece-nos uma
bela adaptação da obra dramática Além as estrelas são a nossa casa,
de Abel Neves, (ed. Edições Cotovia, Lisboa, 2000). Em palco, registei a
presença de 22 intervenientes na construção do espetáculo… Admiro-lhes a
memória, por vezes a dicção, e, sobretudo, a versatilidade de alguns destes
novíssimos actores, sejam eles alunos ou professores. Ali, no palco, a
diferença esbate-se por inteiro, a não ser quando programa de superação de estereótipos.
Por isso lhes ofereço uma borboleta de Pitões das Júnias, símbolo das
metamorfoses que têm gerado novas estrelas na nossa casa,
nestes dois últimos anos.
Nota: Abel Neves, Montalegre, 1956. O
adolescente Abel Neves que começou a escrever aos 14 anos foi estudar
para o Liceu Camões. Desde sempre apaixonado pelos livros, tinha
lido A Aparição, de Vergílio Ferreira e comprara nesse ano o
romance Nítido Nulo. O autor era então professor no liceu, mas Abel
não era seu aluno. Um dia, munido de toda a coragem que conseguiu reunir e com
o livro na mão, entrou na sala de aulas onde estava o escritor.
Queria pedir-lhe um autógrafo. "Nunca mais me esqueci do que me disse,
olhando alternadamente para mim e para o livro: Quem é que te mandou cá,
rapaz?". "Ninguém".
Gostava muito do autor e só queria uma dedicatória.
Fiquei algo desiludido quando este apenas assinou o seu nome.
26.5.11
Calamitosus est animus futuri ansius… Séneca
amaldiçoava os espíritos ansiosos que se preocupavam com o futuro, e nós parece
que queremos seguir-lhe a lição.
Ao futuro, dizemos não, obrigado. Preferimos, puxar
cada um para seu lado, ajustar contas, procurar garimpeiros, agricultores,
piratas e mercadores nos pais fundadores. E por isso subimos às árvores,
despimos os casacos e choramos de encomenda. A ânsia deixou de ser do futuro
para se tornar num espetáculo de harpias!
24.5.11
Em 1935, Fernando Pessoa publicou MENSAGEM, obra de
natureza elegíaca e profética, e distante dos sinais de que o lugar de Portugal
no mundo deixara de depender da moribunda alma lusa, tal como se provou no
decurso da Segunda Guerra Mundial.
Empurrado para um beco sem saída, o país do
«orgulhosamente sós» tornou-se ludíbrio das potências vencedoras, num contexto
de guerra fria, procurando na memória e na profecia a seiva que, durante
catorze anos, criou uma diáspora e lançou nos braços da morte populações
anestesiadas por tiranetes autistas e/ou servidores de outras ideologias
imperialistas…
A cegueira que nos impediu e impede de enxergar as
nossas limitações, que nos permitiu trocar as atividades produtivas por
dinheiro fácil, que continua a alimentar o imaginário dos nossos adolescentes –
pela enésima vez, estão a ser preparados para, num exame nacional de Português,
interpretar de forma acrítica um poema de MENSAGEM ou de OS LUSÍADAS, ou para,
em oitenta palavras (?) comentar, de forma jesuítica, uma qualquer exaltação da
“nova pátria” …Tudo muda, mas as nossas velhas âncoras continuam as mesmas. E
isso é suicídio!
22.5.11
A aplicação da regra mínima dos 10 mil habitantes por
município faria ‘desaparecer’ um em cada três concelhos em Portugal. No
Alentejo só manteriam a sua identidade quatro municípios.
Do que é que estamos à espera? Se o objectivo é
reduzir os custos do poder central e local, a reorganização autárquica é um bom
caminho para acabar com o caciquismo político que se instalou nas últimas
décadas. Sobre o assunto, os partidos não dizem nada e preferem distrair-nos
com a redução dos feriados e dias santos…
O que se compreende, pois se reduzíssemos
significativamente o número de autarcas e, consequentemente, a administração
local, tornar-se-ia obrigatório reduzir a administração central…
Apesar dos avisos da TROIKA, continuamos a fazer de
conta! O melhor é prepararmo-nos para o debate sobre a identidade dos
desertos interiores.
21.5.11
Número de pensões douradas do Estado aumenta 400% na
década.
(DN, 21 Maio 2011)
Será verdade que, em contrapartida, o número de reformados
que recebe a pensão mínima, entre 250 e 500 €, diminuiu 26%? Ou que o número de
reformados que recebe uma pensão entre 500 e 750€ só cresceu 8%?
Porque será, então, que muitos portugueses vivem da
caridade ou se veem obrigados a continuar a trabalhar?
Por outro lado, para explicar quem são os portugueses
que beneficiam dessas pensões douradas, Jorge Nobre dos Santos, líder da FESAP
(Há quantos anos?) declara: «são grupos profissionais que costumam ter
salários mais elevados e que mais descontaram.» Mas será mesmo verdade? Não
haverá muitos portugueses a receber reformas douradas sem terem feito descontos
significativos? Quantos?
O DN bem podia contribuir para esclarecer estes
equívocos em vez de dar voz a quem bem sabe que, se as pensões correspondessem
aos descontos efetivamente realizados, a Caixa Geral de Aposentações não teria
problemas de tesouraria.
O que hoje se está a passar na CGA é que os maiores
contribuintes passaram a ser os mais penalizados.
20.5.11
Espero que os alunos deste país não tenham assistido
ao debate Passos Coelho-José Sócrates, pois o resultado da argumentação foi
nulo. Estes dois candidatos desrespeitaram as regras e, sobretudo, anulando o
moderador, evitaram as perguntas que poderiam ajudar a traçar o perfil de cada
um.
Do debate, fiquei, todavia, com uma certeza: nenhum
destes candidatos está preparado para tirar o país do beco em que se encontra,
pois revelaram-se incapazes de dialogar.
No fundo, está aberto o caminho para soluções
musculadas, caso não queiramos soçobrar definitivamente… A ditadura é
historicamente uma consequência da falta de entendimento entre os homens.
19.5.11
Harold Camping insiste no fim do mundo a 21 de Maio de
2011, às 18 h, deixando perceber que só os cristãos (mesmo que pecadores)
gozarão das delícias do fim.
Nos corredores da Comissão Europeia, há, entretanto,
quem veja o senhor José Barroso à frente do Fundo Monetário Internacional.
Nas redações dos jornais, das televisões, das agências
de propaganda e de apostas antecipa-se o regresso de José Sócrates ao
poder.
Cético como sou, decidi tomar algumas precauções: a
primeira é que vou ignorar as profecias, sobretudo quando elas colocam no
“santo dos santos” – o povo eleito, o povo português.
Apesar da iconografia não ser expressiva, basta,
contudo, pensar no sucesso político, artístico e literário do Quinto
Império, citando o profeta mais convincente que alguma vez pisou solo luso
– o Padre António Vieira, História do Futuro:
Livro Quinto (Tempo, duração e ordem do dito
Império)
Questão 1ª – Se o estado consumado do Quinto Império
há de ser antes ou depois do Anticristo? Resp. que antes.
Questão 2ª – Qual dos dois povos se há de converter
primeiro universalmente, para a consumação do dito Império, se o gentílico, se
o judaico? Resp. que o gentílico.
Questão 3ª – Quanta seja a duração do dito Império,
depois de consumado? Resp. que até o fim do mundo.
(…) Livro VI (Terra em que se há de fundar o dito
Império em quanto temporal, e qual há de ser a cabeça dele)
Resp. que há de ser na Europa, em Espanha, em LISBOA.
Como o fim do mundo não chegou no séc. XVII,
designadamente em 1666, os portugueses devem estar atentos aos falsos profetas,
pois o referido V Império «espiritual e temporal juntamente» É NOSSO por
decisão divina… se a fé cristã não nos falecer!
E para quem ande desatento, o melhor é ler MENSAGEM,
onde Fernando Pessoa consagra António Vieira como o verdadeiro
profeta – o «imperador da língua portuguesa».
(Discurso bolorento para crentes de oportunidade,
preguiçosos incuráveis e palhaços de circunstância que não querem ser; apenas
querem ter.)
18.5.11
Bem-aventurados os
que acreditam!
Aos 89 anos, o norte-americano Harold Camping prediz
que o fim do mundo acontecerá no próximo dia 21. Quem não se converter ao
cristianismo até às 18 horas desse dia não terá salvação!
E nós aqui a enunciar 78 mil milhões de razões para
afastar José Sócrates!
17.5.11
A menos de um mês de eleições legislativas decisivas,
continua por esclarecer como é que o despesismo na educação poderá ser
significativamente reduzido. Nenhum partido propõe aos eleitores um plano
concreto de reforma do sistema educativo, adaptando-o às necessidades de um
mundo em que a imaginação criativa e produtiva é fundamental.
O centralismo, que determina a existência de milhares
de burocratas e autocratas, desvia os recursos financeiros das famílias e das
escolas e, por outro lado, empenha-se em programas de maquilhagem que em nada
contribuem para a melhoria do ensino em Portugal. Por exemplo, nenhum partido
explica como é que a Parque Escolar pode continuar responsável pela recuperação
dos edifícios escolares se o monstro, até ao momento, gerou «kits» vistosos e
caríssimos, a breve trecho inabitáveis… Nenhum partido explica por que motivo o
ensino em Portugal continua a ser gerido por diversos ministérios, criando
sobreposição de estruturas que acabam por servir para «capturar» fundos
europeus e, ao mesmo tempo, alimentar falsas competências, legitimando a
distribuição de empregos e de cargos no estado e nas parcerias público-privadas
pelos sequazes…
E muitas outras questões continuam por responder: Para
que servem os actuais centros de formação de professores? Para que serve o
actual modelo de avaliação? Como é possível criar departamentos curriculares e
manter em funcionamento grupos disciplinares? Para que serve o alargamento da
escolaridade obrigatória sem diversificar as fileiras profissionais? Actualmente,
centenas de milhar de jovens passam parte da adolescência em escolas, onde nada
aprendem a não ser: - desenvolver comportamentos antissociais…
15.5.11
Indiferente aos nossos pés, o campo oferece-nos
expressões de vitalidade que só podem confundir os nossos sentidos… No entanto,
esse deslumbramento só acontecerá se nos deixarmos de pressas e de
questiúnculas efémeras e inúteis.
14.5.11
Aqui, o país é outro! Aves e insetos entregam-se ao
amor, embora vigilantes, não vá o inimigo estragar-lhes a melopeia e a dança...
Mesmo os coelhos preferem a imobilidade à fuga precipitada! A figueira, deitada
na arriba, esconde a flor… E eu espero que Maio continue assim!
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13.5.11
Os estendais estão na moda! Soltam-se os jacarandás
pela Almirante Barroso; a poesia prospera enquanto a roupa rechaça o bolor,
lembrando-me o tempo em que o Augusto Abelaira escrevia BOLOR no Outrora -
Monte Carlo – Agora - Zara.
O discurso político continua bolorento, redondo… e tal
como Abelaira, creio que o melhor é pôr a roupa ao sol, com ou sem barrela!
11.5.11
Quando descemos o rio, corremos o risco de nos deixar
embalar. E em certas situações (no caso, insuficientemente pensadas), a
fuga ao bloqueio exige decisões instantâneas e capazes de mobilizar os recursos
mais próximos.
Hoje sinto-me grato aos meus colegas do júri da
modalidade de texto dramático – VI Concurso Literário da Escola Secundária de
Camões –, e, em particular, agradeço ao João Santos todo o apoio que me
dispensou.
10.5.11
O que não se vê:
um cemitério, um estabelecimento prisional, dois lares e um convento, um
hospital defunto, uma escola de polícia, o Almonda…
Entre margens de clausura, perde-se o rio a caminho do
Tejo, vem de perto… sem tempo para se alongar. O mesmo acontece com a cidade,
outrora vila! E comigo! Porque aqui nasci, e parti a caminho do Tejo; cada vez
mais perto da foz, sinto que mais longe estou, como se em fuga, mas sem linha
de água…
(Os dias, entretanto, são de incongruência,
capricho, arrufo, equívoco, irresponsabilidade, mentira e, sobretudo, de
petulância.)
8.5.11
http://vimeo.com/20887702
O membro do Banco Central da
Islândia Gylfi Zoega diz que Portugal deve investigar quem está na
origem do elevado endividamento do Estado e dos bancos.
«Temos de ir aos incentivos. Quem ganhou com isto?
No meu País eu sei quem puxou os cordelinhos, porque o fizeram e o que fizeram,
e Portugal precisa de fazer o mesmo. De analisar porque alguém teve esse
incentivo, no Governo e nos bancos, para pedirem tanto emprestado e como se
pode solucionar esse problema no futuro.»
Só posso estar de acordo com Gylfi Zoega. Será assim
tão difícil encontrar a resposta? O eleitor necessita de conhecer o nome de
quem, nas últimos anos, saqueou o estado português, para que possa votar em
consciência… Sem essa resposta, mais vale pôr-se ao sol!
7.5.11
A Fundação Maria da Conceição e Humberto
Horta é uma fundação de solidariedade social, sem fins lucrativos de carácter
religioso, criada por iniciativa de Maria da Conceição Mendes Horta e Humberto
Rodrigues Lopes Horta, com sede em Casal Garcio Môgo, freguesia de Salvador,
concelho de Torres Novas.
A Fundação Maria da Conceição e Humberto Horta, pessoa
colectiva de utilidade Pública, com nº 504167936 R.N.P.C., reconhecida por
despacho do Ex.mo Senhor Secretário de Estado da Inserção Social, datado de 02
de Junho de 1998, com registo lavrado em 09 de Junho de 1998, pela inscrição
nº20/98, a fls.154 e 154 v.º do livro nº5 das Fundações de Solidariedade
Social, publicada no Diário da República n. º160 de 14/07/98 III série, com o
fim de promover e melhorar a condição de vida dos idosos.
Só hoje acertei com o caminho de terra batida para
este “santuário”. Desde os anos 60 que oiço falar da “santa” e respectivos
“apóstolos”. Um destes teria destroçado o coração da tia Maria. Vá lá saber-se
porque é que o meu avô Carlos, um santo homem, terá embirrado com ele,
proibindo o namoro! Mas isso foi antes da “santa” se iniciar nas visões e nos
milagres, ali, pertinho da “capelinha das aparições” …
Ao longo dos anos, fui ouvindo, incrédulo, as notícias
sobre a charlatanice e os abusos, pensando que morta a “santa”, os “apóstolos”
partiriam por esse mundo a semear as graças… Afinal, ali, juntinho à A23,
conseguiram criar uma Fundação e uma catedral. Haja Deus!
Percorri a pé, qual peregrino, todo o espaço, e,
apenas, enxerguei três almas. Uma freira, no interior da catedral, que parecia
rezar pala alma dos patronos, para sempre reunidos naquele abençoado lugar. Ou
seria pela minha? Um idoso sentado num banco corrido (do lar?) e um maltrapilho
que vivia num casinhoto próximo…
5.5.11
Acrescenta-se a realidade sempre que a forma se torna
conteúdo. Hoje, no entanto, Portugal é um país muito mais pobre. Incapaz de
potenciar a sua verdadeira massa crítica, o país passa a ser monitorizado pela
TROIKA, deixando-nos a ilusão de que ainda somos soberanos, e por isso ainda
vamos a votos…
O problema é que os candidatos que se apresentam nada
acrescentam à nossa realidade. Falta-lhes autoridade, no sentido mais primitivo
do termo. Não passam de réplicas!
(E a autoridade exige pensamento próprio, sentido de
responsabilidade e, sobretudo, honestidade!)
3.5.11
A suspensão faz-nos esperar até ao fim de uma frase ou
de um período, em vez de apresentar de imediato um aspecto que poderá
causar-nos uma impressão muito forte – boa ou má…
Ao ouvir José Sócrates, dou comigo às voltas com a
retórica… a comunicação alonga-se em acinte, em desforra, como se o mais
importante fosse trocar as voltas ao inimigo, e, simultaneamente, tranquilizar
os correligionários e os simpatizantes. O discurso bifurca-se, adiando,
suspendendo o cerne do «acordo» …
A “suspensão” é um procedimento que, de facto, permite
dissimular a realidade ou, pelo menos, torná-la mais leve. José Sócrates
revela-se mestre nesta arte, enquanto a TROIKA nos vai aplicando a extrema
unção.
Entretanto, o mestre, feliz, já traçou o plano de
retirada!
2.5.11
11.09.2001 / 01.05.2011
“O mito é o nada que é tudo.” Fernando Pessoa
Muitos vieram do nada e poucos conseguiram abarcar a
totalidade. No início do século XXI, alguém, que tinha quase tudo, quis
conquistar a parte que pensava faltar-lhe e, para o efeito, planeou eliminar o
inimigo, e fê-lo de forma tão ostensiva que, de imediato, teve de passar à
clandestinidade… e lá viveu até ontem. Uma parte do mundo imaginava-o anjo das
trevas, a outra via-o anjo de luz.
Com a declaração da morte do homem, chega a
transfiguração. Resta saber se em pó se em mito!
(De qualquer modo, pela bibliografia disponível, as
portas ter-se-ão certamente aberto, e o futuro será cada vez mais incerto. Os
festejos não anunciam nada de bom!)
Jean-Charles Brisard, Ben Laden:
La Vérité Interdite
Richard Labévière, Les
Coulisses de la Terreur
Omar Bem Laden, Oussama Ben Laden,
Portrait de Famille
Nasser
al-Bahri, Dans l’Ombre de Ben Laden
Jean-Pierre
Filiu, La Véritable histoire d’Al Quaida (para adultos)
Mohamed Sifaouie
Philippe Bercovici, Ben Laden dévoilé
Elisabeth Combres (ilustração de Diego Aranega), Le
Terrorisme (para crianças com mais de 11 anos) *
*Retrata a “Morte anunciada de Oussama Ben Laden”
em imagens.
1.5.11
«Sempre foi uma função nacional pedir.
(…) Vinha de longe, talvez dos turdetanos, pelo menos dos tempos em que
em Portugal havia apenas fidalgos, frades e mendigos.» Aquilino
Ribeiro, Aldeia, 1946
Para Passos Coelho, num país de mendigos, vai ser
possível não reduzir nem salários nem funcionários! Extraordinário! Estarão os
fidalgos de acordo?
Melhor seria que os políticos explicassem ao país como
é que vão honrar os compromissos financeiros do Estado, torneando as medidas
que nos vão ser impostas.
Afinal, a campanha eleitoral vai ter como objectivo
apurar quem é o maior trafulha da Turdetânia!
Nota: Segundo Estrabão, os turdetanos,
principalmente os que viviam ao longo do rio Baetis, tinham adoptado o modo de
vida Romano, e não se lembravam mais da própria língua.
29.4.11
Se a ideia é reter os subsídios de férias e de natal,
transformando-os em certificados do tesouro, correndo o risco de se apagarem no
dia em que oficialmente for confirmada a bancarrota, porque não utilizar os
referidos subsídios para amortizar dívidas? (crédito à habitação, automóvel, consumo…)
Era uma forma de recapitalizar as exauridas
instituições financeiras e, simultaneamente, diminuir a dívida do cidadão que,
com o agravamento das taxas de juro, a diminuição dos rendimentos ou mesmo a
perda de emprego, corre o risco de deixar de ter condições para satisfazer os
encargos que, ingenuamente, foi acumulando nos últimos anos.
Com tantos economistas e especialistas em finanças já
algum se deve ter lembrado desta medida! No essencial, o Governo deveria, pelo
menos, dar a hipótese ao cidadão de decidir como ajudar o País a sair desta
embrulhada.
No meu caso, estou pronto a acelerar a amortização das
minhas dívidas… aplicando os referidos subsídios. E quem as não tiver? Esses
também deveriam pensar na melhor maneira de evitar a queda no abismo.
E se a TROIKA pedisse algumas ideias ao cidadão comum?
28.4.11
Escondes-te da luz
eu tropeço em círculos não de ti
mas de mim!
E sei bem que a imagem já foi tua!
27.4.11
Cainhez
Há alguma vantagem em criar um órgão a que
falta função? (Aquilino Ribeiro, Aldeia, 1946)
Há quem afirme que a resolução da crise passa pela
reposição do escudo, pelo consumo de produtos portugueses e pela diversificação
das exportações.
A ideia parece radical, mas, para muitos - os pobres. Esta
tese não traz qualquer perigo.
E, de facto, a quem interessa o euro? A todos os que
se habituaram a um estilo de vida “europeu”, sem, de verdade produzirem o
suficiente para o justificar.
E porquê? Porque desde que a CEE abriu a torneira,
desatámos a criar órgãos a que falta a função…
Estará a TROIKA consciente desta nossa peculiaridade?
Se não estiver, os pobres ficarão mais pobres; os remediados ficarão pobres; os
ricos ficarão mais ricos!
Uma criação colectiva que prescinde da figura do
encenador, mas que valoriza a encenação. Por outro lado, o que parece discurso
estereotipado transforma-se progressivamente numa forma de afirmação que
rejeita a lamúria e a explicação culpabilizante. Se mais não houvesse,
bastariam estes dois argumentos para que a sala do Teatro Turim esgotasse!
PS: Na sessão das 17 horas, de hoje, domingo de
Páscoa, três belas atrizes representaram para 8 espectadores. Um privilégio,
mas não abusemos!
22.4.11
Teixeira dos Santos,
desde 2005, ministro das finanças, voluntaria ou involuntariamente, delapidou-as
ou deixou delapidá-las. Num país com poucos recursos, este ministro não
pode receber ordens! Compete-lhe interpretar, a cada momento, a situação
financeira do país, impedindo que a megalomania dos seus pares, ou mesmo do primeiro-ministro,
arruíne o país.
Vista a questão deste modo, este ministro das finanças
revelou-se um homem sem o carácter exigido pelas circunstâncias!
De qualquer modo, não faz sentido o alarido criado em
torno da sua ausência da lista de candidatos a deputados do Partido Socialista.
Como escreveu Aquilino Ribeiro em Aldeia,
Terra, Gente e Bichos (1946): «O português resigna-se a tudo menos
a não ter opinião ou a não deitar a sua sentença. E como se julga o mais
competente, vá de impor-se e não permitir que os outros pensem
diferentemente. O nosso sectarismo e mesquinhez social estão
muito nisto.»
21.4.11
No tempo em que o vinho parecia ser para todos, não
havia quem quisesse saber de nós, a não ser para nos roubar as colónias.
Desfeito o império, regressámos às origens, acreditando que a Europa nos
acolheria e nos recompensaria da longa viagem e da longa diáspora...
Agora, sob o olhar arrogante dos poderosos,
digladiamo-nos como se não houvesse amanhã! No entanto, se quiséssemos,
poderíamos traçar novo rumo: aplicar as nossas energias na terra e no
mar. Nem sequer era preciso o Longe, porque o Eldorado esteve sempre
perto, senão em nós mesmos...
Se começássemos por valorizar o trabalho, por
descobrir novos trabalhos, em vez de aceitarmos os inúteis trabalhos de
Sísifo... talvez o vinho fosse merecido, fonte de vida, e para
todos!
20.4.11
O velho Portugal
O tempo não está
para jogos florais!
Ao contrário do velho bode que bem sabe que a sua missão é perpetuar a espécie,
o velho Portugal perde-se em Guerras de Alecrim e Manjerona!
Guerras estéreis e suicidas!
O velho e ignaro Portugal há muito que deixou de ler
António José da Silva. Depois de o ter queimado, esqueceu-o definitivamente…
Agora, cabeça baixa, verga a espinha, estende a mão e agradece
espalhafatosamente que ainda o deixem gerir as migalhas que venham a sobrar do
resgate…
Bem longe
do bulício da cidade...
do FMI..
do Sócrates e do Passos...
dos
comentadores do momento
da casca do presente
dos nobres desatentos
dos louçãs e dos jerónimos
Com ou sem portas...
caminho
sem destino
atravesso
lugares sem saída
E de súbito
compro queijo de cabra, a estranhos queijeiros...
holandeses, talvez!
18.4.11
Visto de fora, o país resume-se a um extenso areal
repleto de corpos ociosos. Visto de dentro, o país é um mosaico de interiores,
abandonado.
(Por estes dias, perco-me no pinhal interior, nos rios interiores!)
17.4.11
No Centro Comercial TURIM, Estrada de Benfica,
uma instalação que aproveita as radiografias para dar
expressão à construção de memórias. A QUENTE… e a FRIO! |
|
Ao lado, na Sala de Teatro, até 8 de Maio, THERE’S
AN ELEPHANT IN THE ROOM, por Filipa Leão, Sophie Pinto, Vanda Cerejo. (Iniciativas de quem luta contra a inércia e a
injustiça de um país que ignora o presente e o futuro.) |
Quando a casca esconde o miolo, só a mudança de
atitude poderá ajudar a sair do impasse. Fora das cidades, há um país por explorar; há campos
por cultivar. No entanto, felizes, procuramos os areais! (Já em tempos, D. Sebastião se enganara no caminho!) |
15.4.11
(Manhã) A vacuidade das respostas da
prova de exame de Literatura Portuguesa dá corpo à teoria de que os
classificadores são excessivamente benévolos e, sobretudo, que testar conteúdos
lecionados no 10º ano não faz qualquer sentido, isto se considerarmos a
fragilidade da memória dos examinandos. Para quê sobrecarregar-lhes os
neurónios?
Relidas as respostas às provas de exame das
disciplinas de Português (língua materna e não materna) e de Literatura
Portuguesa, percebemos a opção das duas últimas décadas: a aposta nas
competências. A substituição do ‘conteúdo’ pelo ‘continente’, do miolo pela
casca!
E este é o caminho que origina a ‘geração à rasca’!
Uma geração que começa a compreender que alguém lhe serviu a casca,
apropriando-se do miolo. O que, de modo nenhum, significa que estejamos perante
uma geração desmiolada!
(Tarde) A aplicação da catequização processa-se
de forma mais ou menos tranquila, pois o problema a resolver consiste em
responder de acordo com o ESPÍRITO do GAVE. Quem sabe se as ‘línguas de fogo’
nos iluminaram os neurónios?
Da minha passagem por este “secador”, fiquei sem
compreender a “teoria” que me reduziu a uma “estrutura” que, no meu caso, me
situa entre os 55 e os 65 anos…
(O Acto 3 segue dentro de dois
meses e prevê-se que o drama termine num Ato 4, em forma de
relatório de 3 páginas A4, no início do próximo ano letivo.)
14.4.11
Incapaz de agir a montante, o ME encarregou o GAVE de
resolver o problema a jusante. E para o efeito, pôs em marcha o
cilindro uniformizador. Este, no essencial, seleciona uma fonte de erro – o
professor classificador – e submete-o, em regime intensivo, a uma lavagem ao
cérebro que faz lembrar os velhos cursos de cristandade que, também, eles
almejavam a fiabilidade intersubjetiva, em nome do ESPÍRITO de (DEUS / GAVE).
Apesar dos assomos de revolta dos catecúmenos, este
adaptam-se rapidamente, pois veem na estratégia seguida o caminho redentor que
lhes permitirá replicar a boa nova, eliminando definitivamente os escolhos que
ensombram o percurso dos respectivos neófitos.
(O Secador, Final do 1º Acto)
12.4.11
A Gramática é uma
canção doce…
Uma leitura recomendada a todos os meninos e meninas
que ainda não concluíram o 6º ano de escolaridade. Recomendo-a também a todos os professores que um
dia, no âmbito da avaliação pedagógica regulamentar, ouviram: «– A senhora
não sabe ensinar. Não respeita nenhuma das instruções do ministério. Nenhum
rigor, nenhum espírito científico, nenhuma distinção entre o narrativo, o
descritivo, o argumentativo. (…) Minha cara amiga, precisa rapidamente de uma
boa atualização.» E, sobretudo, recomendo este romance a todos os
classificadores que têm sido enviados para o SECADOURO: «Eu
compreendera: uma turma inteira de professores. Submetiam-se a um desses
famosos tratamentos de cuidados pedagógicos. Pobres professores!» |
Je suis né à Paris,
le 22 mars 1947 (de mon vrai nom Erik Arnoult), d'une famille où l'on trouve
des banquiers saumurois, des paysans luxembourgeois et une papetière cubaine.
Après des études de philosophie et de sciences politiques, je choisis
l'économie. De retour d'Angleterre (London School of Economics), je publie
mon premier roman en même temps que je deviens docteur d'État. Je prends pour
pseudonyme Orsenna, le nom de la vieille ville du Rivage des Syrtes,
de Julien Gracq. 12.4.11 |
|
E se o FMI
começasse pelos franciscanos!
O padre Vítor Melícias, ex-alto comissário para
Timor-Leste e ex-presidente do Montepio Geral, declarou ao Tribunal
Constitucional, como membro do Conselho Económico e Social (CES), um rendimento
anual de pensões de 104 301 euros. Em 14 meses, o sacerdote, que prestou um
voto de obediência à Ordem dos Franciscanos, tem uma pensão mensal de 7450
euros. O valor desta aposentação resulta, segundo disse ao CM Vítor Melícias,
da "remuneração acima da média" auferida em vários cargos. (CM, 26.03.2009)
«Outrora o papel do Estado em relação à aldeia
confinava-se nisto: sugá-la. (…) Ano por ano não se esquecia de lhe cobrar as
duas espórtulas com que se alimentavam os poderes civil e eclesiástico, décima
e côngrua. (…) O Estado além disso custeava uma escola na aldeia, por via de
regra num paredeiro abominável, mas fazia-o de propósito – seja-lhe levada em
conta a boa intenção – de reduzir na estatística o contingente elevado de
analfabetismo que nos degradava no concerto das nações comme il faut.
Questão mais de decência que de necessidade.» Aquilino
Ribeiro, ALDEIA, 1946
Será o FMI suficientemente astuto para perceber quais
são os mecanismos internos de empobrecimento do país? Ou irá cair na estratégia
de cortar a torto e direito, sugando ainda mais aqueles que, sem defesa ou
manha, estão mais à mão do fisco?
Conselho modesto, mas sincero: o FMI deveria dar toda
a sua atenção aos franciscanos, às igrejas, às ongs, aos clubes de futebol, às
fundações, às parcerias público-privadas, às empresas municipais, aos
institutos, aos bancos, aos centros de emprego, à Parque escolar…, sem esquecer
todos os delegados ao congresso (e respetivas famílias) de qualquer partido com
assento na Assembleia da República…
De momento, esta investigação já é mais de necessidade
que de decência!
10.4.11
Depois do Fernando Nobre ter anunciado que vai
ser presidente da assembleia da república na próxima
legislatura, fiquei tão sem saber o que pensar que decidi reler O
Romance da Raposa, de Aquilino Ribeiro.
Já estou a imaginar as Comemorações do 25 de Abril ou
do Dia de Camões sob o patrocínio da dupla Cavaco Silva – Fernando Nobre.
8.4.11
Não vale a pena fugir, partir para outro lugar. A
solução está em nós: a nossa presença é suficiente para determinar o objectivo.
Se traçarmos o rumo podemos levar uma vida a percorrê-lo; ter, por vezes
dúvidas, mas o caminho não se desvia, continua à espera de que o percorramos.
Claro está que podemos querer seguir por atalhos,
encurtar o caminho, mas essa é uma decisão reativa em que o outro já está a
mais e nos surge como responsável pela nossa desorientação…
7.4.11
Todo este país é
muito triste…
SEGUNDA —
(…) De resto, fomos nós alguma cousa? (…) (…) SEGUNDA — Todo
este país é muito triste... Aquele onde eu vivi outrora era menos triste. Fernando
Pessoa, O Marinheiro |
São quatro donzelas, uma morta e três vivas, mas
podia ser ao contrário: três mortas e uma viva; ou apenas, UMA, debruçada
sobre si, num gesto plangente de rejeição do presente e de reinvenção de um passado
outrora feliz… Deste modo, sobra o gesto fingido da revelação de
novas existências capazes de estimular o imaginário colectivo se este não
estiver definitivamente enterrado no areal europeu… Interpretando o sonho pessoano de tornar o
outrora-agora, o grupo de teatro da Escamões mostrou-me, na última 2ª
feira, que só a criação de novas existências pode contrariar a ideia de
que Todo este país é muito triste… |
6.4.11
O FMI VEM AÍ!
No entanto, falta cultura aos partidos para perceberem
o que isso significa. E porquê? Porque descuram a experiência dos mais velhos,
porque recusam o ensinamento da História. As novas gerações ignoram por inteiro
os dramas vividos pelos portugueses desde, pelo menos, a independência do
Brasil.
O passado tornou-se fonte de escárnio, de riso, de
indiferença; acredita-se na magia dos novos gadgets e pensa-se que a
informatização dos procedimentos e a robotização das atitudes tudo redimirá…
A aceleração da modernização tem tido como
consequência não só um endividamento trágico, mas, sobretudo, a delapidação de
um património de valor incalculável – património físico, edificado e humano…
E o que é que nos espera? Se não houver renovação da
classe política, cairemos numa depressão irreversível!
(O deslumbramento foi-nos destruindo
paulatinamente; tudo em obediência à lei do menor esforço que alguns confundem
com o optimismo ou, em último caso, com a felicidade! O FMI VEM AÍ!)
2.4.11
Alexandre Herculano
Cansado de lidar com a imbecilidade política da época,
Alexandre Herculano refugiou-se em Vale de Lobos. Não sei se terá semeado
alfaces. Sei, todavia, que as ferramentas que utilizava não eram muito
diferentes das que possuo.
E uma coisa posso garantir: quem se entrega ao
trabalho da terra deixa de ter tempo para acompanhar a intrigalhada que destrói
a nação…
O «rating» português está à beira de ser
classificado como LIXO! E tudo porque não sabemos valorizar o capital
simbólico. Governados por especuladores sem alma, perdemos, a cada dia
que passa, os valores e o património edificados durante um milénio. Incapazes de banir os videirinhos que já
se aprestam a manter ou a reconquistar as cadeiras do poder, continuamos a
assistir ao descalabro económico e financeiro do país sem perceber que é
tempo de lançar mãos à obra. Em termos imediatos, precisamos de aprender a
identificar os videirinhos, afastando-os do poder nas eleições de 5 de Junho. E outra forma de inverter a presente situação passa
pela criação de um movimento geral de rejeição das importações. Há um número
ilimitado de produtos (e de ideias!) supérfluos de que podemos facilmente
abdicar! E para delinear essa estratégia, precisamos de novos
governantes para quem o capital simbólico represente um
trunfo e não um fardo! |
31.3.11
De regresso a Sintra
Depois de acompanhar cerca de 100 alunos pelas velhas
ruas de Sintra, seguindo a lição queirosiana, regressei à Lagoa Azul, onde
voltei a encontrar as velhas tartarugas. Há 20 anos, eram três ou quatro; hoje seriam,
mais de vinte.
No essencial, pouco tem mudado. As marcas de
revivalismo mantêm-se, apesar das ruinas de alguns edifícios, o que significará
que os novos-ricos ainda não estão suficientemente ricos… Lá chegaremos!
Na vila velha, o número de turistas jovens é cada vez
maior. Hoje, escolas portuguesas, espanholas e alemãs cruzaram-se a caminho de
Seteais. Em passo de corrida, olhando à direita e à esquerda. Mas vendo o quê?
(A circulação automóvel continua catastrófica;
infelizmente, a mobilidade dos autocarros é mínima… e os passeios são tão
apertados que os transeuntes arriscam ser atropelados!)
As margens dos rios
Olho as margens dos rios do meu pobre país e raramente
vejo sinal de presença humana, como se, por decreto divino, o homem tivesse
sido expulso da terra. E quanto mais penso no assunto, mais me convenço que
esta ausência nos foi exigida, não por Deus, mas por aqueles que, agora, nos
exigem o retorno…
Deslumbrados com o euro, hipotecámos o escudo,
abandonámos os rios e voltámos a importar tudo, como já acontecera nos séculos
XVIII e XIX. Se quisermos recuperar o rumo, comecemos por reduzir as
importações e, no caso de insistirmos no supérfluo, não hesitemos em
aumentar-lhe o IVA…
E quando o essencial começar a faltar, voltarei a
olhar as margens dos rios, novamente, habitadas e produtivas…
NADA mesmo
Para quem se sente à deriva, vítima de um estado
saqueado por políticos incompetentes e predadores, vale a pena imitar a lição
da flor submersa: enraizamento e manter-se à tona. Não perder a calma e o
sentido de humor e, sobretudo, não esperar nada da actual classe governante!
Movimento, cor, pólen
Afinal, o comboio do pinhal interior ou não é azul ou
a CP resolveu pregar-me uma partida. Carros antigos domingueiros desafiam a
ponte metálica… e rodam garridos numa terra deserta sob um céu plúmbeo.
Passemos ou não,
os êmbolos,
engrenagens
quase eternas;
ao lado,
casas
desabitadas,
antenas
desorientadas…
outrora,
agora,
com ou sem
roda, comboio, turbina,
o zângão fecunda,
morre.
(Infelizmente, também há o zângão estéril que
sobrevive!)
27.3.11
O outro visto por
Pepetela e por João Tordo
E se a ficção coincidir com a realidade? Só a lonjura
do exílio poderia criar o equívoco, mas, de facto, é sempre possível encontrar
um Jeremias Cangundo nem que seja nas LETRAS PERIGOSAS de Pepetela, que,
nesta “estória”, continua a ajustar contas com os escritores aburguesados que,
depois de longo exílio voluntário, regressam à procura de reconhecimento e
dinheiro…
Partir, por cobardia ou por força das circunstâncias,
pode trazer problemas inultrapassáveis. Nunca sabemos quem iremos encontrar. E,
sobretudo, se acreditarmos que o outro é, por natureza,
acolhedor.
A verdade é que, em terra estranha, a diferença de
pele, de religião, de língua pode trazer ódio, perseguição e morte. ELSA,
narrativa de João Tordo, retrata exemplarmente a vida de um
emigrante africano numa sociedade multicultural como a britânica,
tradicionalmente acolhedora e, simultaneamente, segregadora… o apartheid
continua vivo, apesar de politicamente inaceitável…
PS: A D. Quixote lançou, em 2009, a antologia
“Em Busca da Felicidade”, constituída por dez “flores”, apesar de algumas já
terem nascido murchas. No entanto, vale a pena colhê-las.
26.3.11
Apesar da
chuva e da sombra, Mação não esquece a música.
(Chove intensamente e o Tejo, aqui ao lado, parece
agradecer!)
Apesar da Isabel Alçada, dos sindicatos, do
Parlamento…, a escola primária reinventou o presente.
(Esperemos que a chuva dê vida às árvores de Mação,
antes que a canícula chegue!)
Na barragem, a água presa… por cima, a água solta!
A barragem, vista de longe, parece um comboio azul da
CP, em greve… (De perto, as comportas ignoram o desacerto do país…)
Entretanto, por perto, o país ocioso continua a encher
o bandulho…
24.3.11
Ainda não passaram 24 horas, mas já se enxerga um
alcatruz alaranjado cheio de professores! Quantos são? Quantos são?
Entrámos na Primavera laranja!
Resta saber se também fazem aprovar a demolição de
todos os gabinetes, entretanto, criados para gerir e supervisionar o processo
de avaliação!
23.3.11
Todos dizem que são precisas medidas imediatas para
resolver a crise financeira. Uns com o FMI, outros sem o FMI. Todos
confiam no povo português… e este confia em quem? em D. Sebastião? em Nossa
Senhora de Fátima? nos jovens à-rasca? no jogo do pau?
A verdade é que o povo não existe. Nunca existiu!
O povo mais não é do que um mito romântico que tem
justificado um conjunto de “causas” de grupos mais ou menos organizados para a
conquista do poder.
A nora já começou a rodar… e os alcatruzes já estão a
postos para secar a mina! Inexoravelmente, uns descem e outros sobem…
PS: Afinal, o Presidente da República sempre
tem «margem de manobra»: deu 48 horas a Sócrates para que seja ele a estender a
mão aos «amigos» europeus!
22.3.11
I - Presidente da República: “…tudo isso reduziu
substancialmente a margem de manobra de um presidente da república atuar
preventivamente”.
Nunca pensei que um Presidente da República, a 24
horas da catástrofe, pudesse fazer tal declaração! De verdade, não soubemos
interpretar aquele tom mastigado e arrastado como sintoma de inaptidão para o
desempenho da função presidencial. E agora vamos sofrer as consequências da
nossa cegueira.
O Presidente, incapaz de atuar preventivamente, e
fazendo de conta de que não dispôs de informação a tempo e horas, prepara-se
doentiamente para o rescaldo… Para que servem a Casa civil e a Casa militar da
Presidência? Não será precisamente para suprir as dificuldades de comunicação entre
os órgãos de soberania, que, para bem da nação, devem usufruir de canais de
informação próprios?
Em situações de perigo, de crise e de catástrofe, o
que define o homem é a capacidade de manobrar na linha que separa a vida da
morte.
II – Por outro lado, e na mesma linha de actuação, o
Partido Socialista continua, também ele, à espera do rescaldo, na expectativa
de que o engenheiro Sócrates seja definitivamente devorado pelo incêndio.
21.3.11
Palácio nacional
de Mafra - In memoriam…
Este jogo ocupava reis e vassalos nos intervalos das caçadas
na Tapada de Mafra. Os troféus, cruéis, enchem a sala Diana no palácio real,
hoje moribundo… Da república, pouco há a assinalar, a não ser a pernoita de D.
Manuel II, antes de partir definitivamente para o exílio… Apesar de tudo,
Saramago devolveu-lhe algum do brilho que à pátria falece.
Claro está que aos jovens que, hoje, entraram no
palácio nacional de Mafra, sob o olhar atento de S. Domingos e de S. Francisco,
falta-lhes a distância para perceber que a monumentalidade do edifício mais não
é que a expressão da fraqueza de um povo. Mas quem sabe, pode ser que Saramago
os ilumine!
20.3.11
Quando a sobrevivência está em causa, todas as formas
de enraizamento são aceitáveis. Pouco interessa o suporte, a forma, a cor ou a
posição. Em certas circunstâncias, mais vale deitar abaixo a árvore,
desbastar-lhe os braços …
Salvo raríssimas exceções, as árvores não se suicidam!
Na Líbia, na Síria ou em Portugal a seiva é a mesma!
17.3.11
Desde o dia 11 de Março que ando às voltas com uma
ideia do nobel Paul Krugman (Economia 2008): Toda a gente anda enganada ao
defender que «a educação é a chave do sucesso económico».
Provavelmente ao referir-se à educação, P. K. estará a
referir-se à instrução, pois sem a primeira os valores civilizacionais
soçobrariam.
No essencial, o que P. K. vem demonstrando é que a
maioria das formações de nível superior perde, em termos de desempenho, para os
computadores que, de forma mais célere e eficaz, efetuam a maioria das tarefas
sejam elas de rotina ou não…
Deste modo, o aumento do número de anos de
escolaridade ou a acumulação de cursos de nível médio ou superior é apenas uma
forma de empatar um número cada vez maior de indivíduos, impedindo-os de, pelas
suas próprias mãos, construírem uma nova sociedade que assegure os direitos
essenciais a todos os cidadãos…
Precisamos, assim, de redefinir os projectos de empregabilidade,
rever e diferenciar os conceitos de educação e de instrução, a respectiva
duração e, sobretudo, os lugares e os actores da formação…
O sistema de formação actual é um monstro devorador de
recursos que gera cada vez mais insatisfação e potencia episódios de revolta
cujo último recurso será o retorno à barbárie, independentemente dos níveis de
literacia…
PS: Da imbecilidade que nos cerca, não vale a
pena falar porque, afinal, há cada vez mais casos de pessoas instruídas a quem
falta o mínimo de educação e, por outro lado, também há muita gente educada a
quem falta a necessária instrução…
14.3.11
Não restam dúvidas de que, em muitos casos, o 2º termo
de qualquer comparação diz mais sobre quem o seleciona do que sobre a ideia /
objecto que se quer explicitar.
De acordo com o inefável Luís Filipe Menezes
(Entrevista ao i de 14 de Março de 2011), o Pacheco Pereira
não vale nada, ou melhor, não passa de um desmancha prazeres: P. P. «diz que
não precisa da política para viver; mas nunca o vi a ganhar dinheiro a não ser
à custa da política e da notoriedade que ela lhe deu. Se assim não
fosse, era professor de História numa recôndita aldeia de Trás-os-Montes.
Vale o que vale. Rigorosamente nada.»
Bem certo de que o Pacheco Pereira não necessita de
que eu o defenda. Não posso, no entanto, deixar de voltar à minha ideia
inicial. O Senhor Luís Filipe Menezes anda mal informado: A História já não se
estuda em quase lado nenhum! Em Trás-os-Montes, serão raríssimos os professores
dessa matéria e, se os houver, não necessitam de ser achincalhados. Afinal,
quanto vale um professor para o Luís Filipe Menezes?
RIGOROSAMENTE NADA!
12.3.11
Há novos eleitores! Desceram a Avenida e descobriram
que ou os deixam votar ou, da próxima vez, a bonomia cederá o lugar à
violência.
Por isso, o que o Governo e a Assembleia da República
devem fazer é devolver a decisão ao povo.
11.3.11
Pergunta e responde Gonçalo M. Tavares: «Quantas
vezes choras a ouvir música e quantas vezes a ler? A literatura não é eficaz
nessa coisa: se é para sofrer a literatura é inútil.»
Não há comparação sem segundo termo explícito. Para
que serve esse 2º termo? E donde provém?
Por outro lado, a analogia pode gerar cachos de
metáforas sem nunca explicitar o 2º termo – a poesia, em grande medida, vive
dessa explosão verbal. E a prosa, do que é que vive?
Ao ler Água, Cão, Cavalo, Cabeça, de
Gonçalo M. Tavares, encontro prosaicos e, por vezes, insólitos micro-cenários
narrativos em que “casos-do-dia” são associados, sem qualquer preocupação que
não seja a de textualizar /sexualizar o mundo encontrado nos bastidores dos
becos escusos da vida.
Perdido no labirinto das ruelas, surgem-me dúzias de
comparações, na sua grande maioria tão artificiosas como o texto gerado. Nesta
obra, a procura de originalidade passa, de facto, pela construção desse 2º
termo da comparação. Senão, vejamos:
«Claro, a raiva domestica-se como os cães.»
/ «As oportunidades de suicídio perdem-se como as moedas» / «A
natureza não tem mapas, nem cores como os mapas» / «os
aranhiços, já se sabe, são como os pais que protegem o filho» /«A
maldade não tem uma marca na testa como as vacas que
têm doenças e foram marcadas na testa pelo dono.» / «Algumas pessoas
riem como porcos» / «o cão pode ser visto como música
equilibrada (…) como uma mesa orgânica» / «os nomes e as respetivas
letras (das facas de cozinha) não se veem, são como os mortos de
família: sentem-se.»
Aceitando que a literatura não é para sofrer,
pergunto-me se, fora da quinta verbal de Gonçalo M. Tavares, alguém já viu um
porco a rir…
9.3.11
Não encontro uma resposta que possa servir o país!
Se o presidente é a pessoa mais bem informada sobre o
carácter do primeiro-ministro e sobre o modo como o partido socialista se
apropriou do Estado, porque é que não o diz de forma clara ao povo. Porque é
que, em vez de esperar pelo sobressalto dos «jovens do futuro», não dissolve a
Assembleia da República e entrega a decisão ao povo que tanto ama?
Este presidente prefere a guerrilha à assunção dos
seus poderes. Já foi assim no primeiro mandato e, hoje, apostou claramente na
estratégia rasteira de atacar, para, de imediato, retirar. Faz o diagnóstico,
mas não explicita as causas, e, sobretudo, não diz como é que tenciona AGIR de
modo a ajudar o país a sair da crise.
Este presidente dá a entender que sabe o caminho para
nos libertar do cativeiro, mas esconde-o, como quem quer ajustar contas
antigas!
No que me diz respeito, não sei para que serve um
presidente que faz bluff! O homem providencial nasceu, um dia, na Figueira da
Foz!
E, infelizmente, a matriz deste país reside na
providência desde Ourique!
7.3.11
Em Março, o trilho do Paul do Boquilobo continua
submerso.
(Apenas cegonhas e patos e garças e garridas e canoras
aves…)
Ao lado, passa o comboio na linha do norte…
(O canavial esconde o pântano e torna a confluência do
Almonda com o Tejo indistinta.)
O carvalho apodrece de vez… e nem sinal de bugalhos! -
o que nos livra das vespas…
(“Nos” é força de expressão – a terra é de ninguém,
mas podia ser minha!)
Por seu lado, os freixos, altivos e longilíneos,
continuam à espera da Primavera…
(Em Maio, espero regressar… e tudo será diferente! Ou
talvez não!)
6.3.11
Foi aqui que me
tornei funcionário público, a 2 de Janeiro de 1975. Durante os 3 anos que lá
passei nunca vi o Liceu nesta perspectiva – a de quem o observa do pátio da
vetusta Academia das Ciências. Nesse tempo ainda não sabia o que era o ponto de
vista! É estranho, mas é verdade…
Também, à época, me faltava a perspectiva de que a
azinheira forma o bugalho a partir do ovo da vespa colocado no interior dos
rebentos… e, fascinado, jogava com eles como se mais não fossem que berlindes!
A ignorância ofusca e esmaga!
5.3.11
Por alguma razão que desconheço, não tenho conseguido
“postar” comentários aos comentários que vão surgindo em CARUMA.
Por isso esclareço:
A) Os primeiros românticos lutaram no campo de batalha
em nome de uma alma colectiva - pugnavam pela liberdade dos povos (das nações).
Os filhos esqueceram rapidamente essa herança e sucumbiram às sensações,
valorizando o corpo e a preguiça; o luxo e a luxúria…
B) Cresci num país em que boa parte dos seus filhos,
nos anos 60 do século passado, se viram obrigados a emigrar para França ou por
lá se exilaram para escapar à guerra colonial; num país onde se aprendia a
língua, a literatura e a cultura francesa; onde França representava a pátria da
liberdade… e, entretanto, venho assistindo à morte desse contacto privilegiado,
pré-anunciado pela extinção do latim dos curricula em Maio de
1974… (as flores anglo-saxónicas substituíram os gerânios, os lírios e
as violetas, sob o olhar cúmplice dos cravos e das rosas…) E essas
flores credoras continuam a arrastar-nos para a descaracterização da língua
portuguesa…
C) E quanto aos “enganos” há que perdoar …, pois o
objectivo era ver a seriedade de Eça ao abordar o problema do adultério nas
classes ricas e improdutivas…
4.3.11
Há quem acredite que a Geração “À RASCA” vai forçar
uma mudança de política que reconheça às gerações mais novas o direito ao
trabalho e a uma remuneração digna. No entanto, hoje, um jovem confirmou-me que
a militância juvenil (e não só!) se manifesta de modo muito diverso: já
embarcou no Partido do Deixa Andar!
E de facto, ao contrário de gerações anteriores que
ousaram atravessar as fronteiras à procura do trabalho que a mãe pátria lhes
recusava, assistimos a um deixar andar que revela uma
acomodação fatal.
3.3.11
Ler “Portugal Ensaios de História e de Política”,
de Vasco Pulido Valente exige perseverança e uma grande dose de masoquismo.
Do Liberalismo Português a Cunhal Revisitado, o
autor traça um retrato implacável dos governantes que, salvo raríssimas exceções,
revelam uma visão retrógrada e / ou formatada por modelos estrangeiros. Eternos
Dâmasos Salcedes, os governantes imitam as ideias e as modas estranhas numa
busca incessante de um pedestal há muito perdido e, deste modo, infligem ao
povo uma vida de miséria e, frequentemente, de morte.
As revoluções mais não são do que frustres
insubordinações de quem já não suporta mais um poder caduco que, tendo
delapidado os recursos, continua refém de ideologias totalitárias, e que, por
sua vez, procedem à redistribuição sôfrega dos lugares e dos recursos,
aperreando a classe média e desprezando o povo.
V.P.V. mostra um país falido, ignaro, beato, submisso,
incapaz de separar o trigo do joio.
A publicação, em 2009, deste conjunto de ensaios acaba
por ser o modo encontrado por V.P.V. para nos demonstrar que, filhos do
marcelismo, do movimento do MFA ou de Cunhal, perdemos a noção da verdadeira
dimensão de Portugal, continuando a ser governados pelo irrealismo, pela
demagogia e, no limite, pela loucura de quem se imagina senhor do mundo, não
passando, afinal, de gente mesquinha.
1.3.11
E se nos devolvessem a alma? Dou comigo, às 6h00 da
manhã, a pensar que foi o «sentimento de si» que matou a alma. Foram os filhos
dos românticos que nos condenaram à egolatria e à futilidade…
Fernando Pessoa ainda tentou fingir ser
quem não era com resultados satisfatórios para si, mas a alma, essa, perdera-se
nas ruelas de um corpo que quis ocupar o palco inteiro – oh, o que sinto eu de
mim a esta hora!
25.2.11
Nesta semana que finda, temo que a Líbia se torne num
verdadeiro inferno para um povo que ousa sonhar com a libertação do déspota que
o oprime há 42 anos.
Portugal, em nome do apregoado realismo económico, não
resistiu a uma aliança espúria que, agora, irá agravar a nossa situação
financeira. Continuamos a não saber escolher os aliados!
Entretanto, aqui mais perto, o abuso de poder e a
falta de respeito ameaçam virar enxurrada… E nem vale a pena referir esses maus
exemplos tão eloquentes eles se afiguram.
De facto, os exemplos só deveriam ser apontados para
ajudar a desbravar caminhos!
23.2.11
Desatámos a olhar para o mapa… sem GPS, desatámos a
descobrir países: a Tunísia, o Egito, o Iémen, a Argélia e, agora, a Líbia.
Pouco nos interessa quem lá vive! Tudo gira em torno dos estrangeiros, do petróleo
e do gás! A ordem tácita é evacuar os estrangeiros e fechar as portas aos povos
em fuga!
Entretanto, os velhos tiranos recusam-se a abandonar o
poder, massacrando as populações, ou, em alternativa, cedem o poder aos seus
acólitos, em nome dos interesses locais e transnacionais… E tudo porque nas
últimas décadas, o Ocidente preferiu a cumplicidade à hombridade.
Mas, afinal, que podemos nós fazer? Governados por
figuras dúbias, olhamos o mapa e nada enxergamos!
22.2.11
O que é que fazemos quando tudo nos é servido numa
bandeja de prata?
O que é que fazemos quando a bandeja se encontra
vazia?
O que é que fazemos quando já não sobra qualquer
bandeja?
- Piores do que cães, mordemos. Há mesmo quem não
saiba fazer outra coisa!
Parece que é esse o grande desígnio da educação em
Portugal: MORDER.
18.2.11
Bem antes de Cristo, Antístenes, mestre dos Cínicos,
ensinou que a única comunidade aceitável é a dos cães, que sabem mendigar e
nunca se acanham.
Entretanto, Cristo trouxe a lição do pudor e do
arrependimento, e com isso uma multitude de sectários que caritativamente
exercem a censura e a mentira… condenam a ambição e, poços de cobiça,
amortalham a esperança…
16.2.11
Chove, venta, neva mesmo… as árvores burguesas tombam
sobre automóveis incautos e os guarda-chuvas chineses naufragam na via pública.
As imagens de telhados revoltos, de campanários esventrados, de populares
aterrados, apesar dos santinhos, entram-nos pela casa dentro… Tudo de foguete
como se o fim num ápice se aproximasse!
As greves em empresas ruinosas proliferam alheias ao
estado das centenas de milhares de desempregados… sem perceberem que de
empregados grevistas passarão rapidamente a descartáveis, bastando uma
abordagem sistémica do problema da dívida para que a maioria das empresas
públicas seja definitivamente encerradas.
Se à ventania nada podemos opor, o mesmo já não se
pode dizer no que respeita à insensatez da gestão dos recursos públicos: BASTA!
13.2.11
A Casa–Museu Dr.
Anastácio Gonçalves e o Grupo do Leão
No centro da Cidade de Lisboa, revisito uma casa-museu
fantástica, mandada construir pelo pintor José Malhoa, e que mais tarde foi
adquirida pelo oftalmologista Dr. Anastácio Gonçalves, colecionador de
mobiliário dos séculos XVII e XVIII e de pintura naturalista, designadamente de
SILVA PORTO… Todo esse acervo se encontra exposto, deixando-nos antever o gosto
e a riqueza do homem nascido em Alcanena, terra de curtumes que certamente não
serão alheios à constituição deste magnífico património…
Esta nova visita trouxe-me a necessidade de esclarecer
a génese do Grupo do Leão (1880-1888). Por volta de
1880, Silva Porto, regressado de Paris, onde fora discípulo de
Daubigny, tomou conta da cadeira de pintura da Escola de Belas-Artes de Lisboa
e criou à sua volta um ambiente de vivo entusiasmo. A cervejaria
"Leão" era o seu ponto de encontro com amigos, admiradores e
discípulos.
(João Vaz, António Ramalho, Cipriano Martins,
Columbano Bordalo Pinheiro, Rafael Bordalo Pinheiro, José Rodrigues Vieira,
Silva Porto José Malhoa, Moura Girão, Henrique Pinto, José Ribeiro Cristino
integraram o referido grupo.)
No Outono de 1881, começaram a juntar ideias para a
primeira exposição do grupo, que acabou por decorrer nas Salas da Sociedade
de Geografia. A "Exposição dos Quadros Modernos", como lhe
chamaram, abriu em 15 de Dezembro de 1881. O catálogo foi ilustrado com
desenhos dos expositores, gravados em zinco - novidade gráfica daquele tempo. O
público acorreu, interessou-se e comprou muitas obras.
12.2.11
Enquanto que, no Egipto, os generais contam as armas e
redistribuem as comendas, e o povo celebra nas ruas a ilusão, por aqui armamos
ao pingarelho: o Bloco de Esquerda sonha que tem do seu lado mais de 50% dos
portugueses; o PSD faz de conta que se preocupa com a sorte do povo e por isso
adia a decisão há muito tomada – deixar ao PS a aplicação da política
ruinosa dos credores; o PCP, pudico, dá ares de cortesã ultrajada e promete
avançar orgulhosamente com a sua moçãozinha; o CDS, enredado na farsa de plebiscitar
o pequeno «duce», mas pronto a avançar para qualquer poleiro… enquanto o PS
continua a encenar histrionicamente a morte da Pátria, lavando as mãos
olímpicas…
Bom seria que a revolta saísse à rua, livre de
grilhetas, e varresse a cambada que há longos anos saqueia a Pátria! Mas como
se o saque nos corrói desde a fundação?
11.2.11
Entregar o poder às Forças Armadas Egípcias é abrir o
caminho para o abismo. Nas ruas e na caserna erguer-se-á uma oligarquia
cimentada no ódio aos Estados Unidos e a Israel.
Esta satisfação ocidental em torno da partida de
Mubarak mais não é do que um golpe de mágica para confundir o povo egípcio e
mundo árabe.
De qualquer modo a ilusão é do Ocidente, pois o mundo
islâmico não corre atrás da democracia! A laicização do mundo árabe não passa
de uma fantasia ocidental!
8.2.11
Quando os recursos são escassos, há sempre quem veja
no seu trabalho grande mérito mesmo que nada traga de novo. Repetem-se as
conclusões, mas, de verdade, este novo riquismo não passa de um indicador de
luta pelo poder. Com mais ou menos SeguraNet, a pobreza moral, social e
económica continua a alastrar. Mudam as ferramentas, cresce a velocidade da
revolta, mas o mundo fica mais pobre, porque as novas linguagens continuam a
ser feudo de sumos pontífices mais ou menos ocultos.
6.2.11
Tem tudo: água, luz e cor! E, sobretudo, como diria
Alberto Caeiro, não há humanos; só uma criança, loura… e árvores que crescem
sem nos pedir autorização… e aves, diversas, que cantam sem rimas.
Nada, aqui, é pensado, tudo é natural, sem escola onde
ir, a não ser que subamos a encosta…
4.2.11
(No dia 31 de Janeiro de 2011, Teatro Nacional D.
Maria II)
Só um herdeiro português poderia pensar que Penélope
pudesse morrer de tédio! Tecer projectos megalómanos, comer e beber, cortejar
são as únicas acções que valem um esforço.
A espera de Penélope mais não é do que a rejeição do
tédio que resultaria da substituição do amado Ulisses por qualquer outro
pretendente ambicioso…
Em GLÓRIA de Cláudia Lucas Chéu, o caminho é o do
ensimesmamento de Telémaco (PATHOS), a braços com um sentimento espúrio que lhe
atira o discurso para a revolta contra um pai ausente que descura a mãe e a
pátria (…) Os jogos de linguagem, o mimetismo e o calão tornam-se nucleares no
texto dramático…, levando à assunção de um discurso frequentemente grotesco,
porém salvo pela recriação de ALBANO JERÓNIMO.
2.2.11
Sempre que o boato (ou o mujimbo) avança tímido, não
acredite nessa morosidade…
Sempre que o Governo pede um empréstimo, a dívida
aumenta exponencialmente… Sempre que um político faz uma promessa, o receio
começa por crescer lentamente, para depois se transformar numa enorme
desilusão.
Nas revoluções, assiste-se sempre a um crescimento
exponencial dos revoltados e dos manifestantes. De acordo com esta lei, uma
formiga pode tornar-se num formigueiro.
Os governantes têm dificuldade em compreender este
mecanismo. Mas, hoje, basta uma SMS para incendiar a rua e o palácio.
30.1.11
Li algures que, na época da Regeneração (1851-1865), o
poder foi de tal modo disputado e concertado que a riqueza nacional caiu nas
mãos da canalha que governava. De facto, nos dias que correm tudo parece correr
do mesmo modo: Passos não tem pressa; Cavaco detesta a bomba atómica; Sócrates
afasta, como pode, o FMI. Porque será?
Porque a entrada do FMI em Portugal acabaria por
destapar o saque a que a canalha submeteu o país e a Europa, em nome da
democracia.
29.1.11
Uma encenação à beira d’água. Com ou sem mágoa? No
horizonte da ponte, não há capitão nem caravela… Submersos os peixes,
invisíveis as gaivotas, o canavial descobre a árvore acabada de compor enquanto
o encenador se desloca como se a personagem tivesse abandonado o palco… Sobra o
artefacto que suporta a câmara possível e a cor térrea…
27.1.11
Quando os tambores rufavam e a ditadura democrática se
apoderava das sobras do Império, Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro conversavam sobre
a asfixia doméstica e nacional, procurando fora e dentro da
pátria uma alma nova, cientes de que só o imaginário os
poderia libertar da pequenez. E é nessa encenação criadora que
ambos se concentram, sacrificando a vida ao IDEAL estético.
A conversa transformou o
quotidiano e o medíocre em matéria de arte, invertendo o processo
épico que nos fizera subir ao Olimpo e acreditar pateticamente numa grandeza
ícara…
Não surpreende que a derrocada trazida por Abril tenha
criado as condições para que João Botelho ousasse, em finais da década de
70, encenar Orfeu. Coadjuvado por alguns dos filhos de Maio de 68,
João Botelho procedeu a um notável trabalho de reconstituição da rara
excelência criativa que poderia esconder a desgraça que desabara sobre a
orgulhosa pátria e sobre os frágeis ramos que dela se libertavam.
Na Escamões, os alunos puderam ver hoje, com
apresentação de João Botelho e de Fernando Cabral Martins, CONVERSA ACABADA
que, para além da tentação de emulação, os poderá levar a repensar o seu
próprio tempo…
De parabéns estão, assim, o núcleo de Cinema da
Escola, o ABC Cineclube e os professores Cristina Duarte, Jorge Saraiva e José Esteves.
25.1.11
O 12º M (Curso Tecnológico de Desporto) também
participou, no dia 24 de Janeiro, no MEDIA LAB do DN e fê-lo de forma
responsável. A maior dificuldade, como já sabia, esteve no desempenho
linguístico e comunicacional. Pena é que a simples opção por um curso
tecnológico desvalorize o papel da leitura e da escrita. No entanto, a proposta
do DN mostra que o caminho a seguir não está assim tão distante como por vezes
parece. Basta uma diferente formação dos professores e, sobretudo, uma efectiva
utilização das ferramentas disponibilizadas pelas Novas Tecnologias da
Informação.
Ora o Ministério da Educação devia criar um modelo de
formação de professores que combine, de raiz, as didáticas específicas com as
TIC e, sobretudo, devia equipar as escolas com os meios necessários ao
aperfeiçoamento das metodologias de ensino, em vez de gastar vastos recursos
financeiros em pacotes de 60 horas, distribuídas por quatro anos, como acontece
com a anunciada formação de professores classificadores ou na formação QUIM no
ensino da Língua Portuguesa.
24.1.11
Sem checklist, e à medida da experiência de cada um!
Na tragédia antiga, os indícios criavam cumplicidades
com o espectador, dirigiam-lhe a imaginação e impediam-no de naufragar no
pântano das emoções ou no calculismo dos argumentos. Sem eles, não havia
experiência!
Hoje, nada deve ser deixado a cargo da experiência! Se
não for possível guardá-la numa prateleira, o melhor é submetê-la ao filtro da
evidência (conjunto de itens que devem orientar o observador) com o fito
de desmoralizar o “esperto” … E o melhor caminho é o da quantificação, pois a
excelência impõe entre 2 e 4 evidências. E porque não entre 3 e 5 evidências?
De qualquer modo, prometo que, de futuro, só voltarei
a falar de evidências, se algum distinto observador tiver aplicado uma checklist
de 7 itens a cada uma delas…
De acordo com o meu amigo Jorge Castanho, este novo
linguajar não passa de uma forma de legitimar o poder daqueles que tudo fazem
para “matar o pai”. E eu concordo e estou farto de dar o peito às balas de
usurpadores incompetentes.
Em criminologia, creio que os investigadores ainda se
contentam em descobrir os indícios, pois a experiência lhes diz que as
evidências já condenaram muitos inocentes à forca ou à cadeira elétrica.
Claro que este discorrer parece incoerente, mas a
coerência não existe, conquista-se seguindo pistas (as antepassadas dos
indícios!) em trilhos invisíveis a qualquer EVIDÊNCIA.
23.1.11
Se a diminuição dos cartazes é um bom sinal, não deixa
de ficar por fazer o balanço daqueles que foram atirados para o desemprego!
Se a ausência de cartazes nos poupa os olhos, não
deixa de ficar por saber quantos oftalmologistas perderam clientes que já
tinham como certos!
Na minha zona de voto só há um cartaz esquecido que
não desperta a atenção de ninguém, a não ser a de um outro trocista que o
aproveita para despejar a sua ira.
No tempo dos cartazes, aumentava o consumo de latas de
tinta, de lápis, de marcadores e de navalhas. Havia felinos, sobrancelhas
gigantes, bochechas ou, apenas, bigodes. Havia, por vezes, aliterações fixes,
metáforas paradisíacas e, sobretudo, havia SOL, coisa que, hoje, talvez para
castigo nosso, deu lugar a uma luz esbranquiçada bem próxima da cor da agonia…
E foi neste tom que lá entreguei à urna um voto que
deixou de ser meu para seguir o seu caminho!
21.1.11
Um pouco de cor,
um fio de luz...
A sombra fria parece abater-se sobre a velha pátria
exaurida e nada do que possa acontecer no Domingo parece poder alterar o
rumo... Só a luz e a cor insistem em nos lembrar que, para além dos títeres, há
sempre um futuro em aberto... Por isso não o desperdicemos...
20.1.11
Se não tivéssemos comprado 2 submarinos, hoje,
seríamos um povo feliz. O défice seria de 7%! Ora, como bem
sabemos, o povo ama, como nenhum outro, a redondilha maior e o heptassílabo.
Desde que os trovadores se “aportuguesaram” que o octossílabo e o decassílabo entraram
em decadência na língua do povo… Camões ainda tentou mudar o estilo sorna e
labrego, substituindo-o por um estilo grandíloquo, cheio de oitavas e de
decassílabos heroicos, mas sem êxito. A decadência já assentara arraiais nas
mentes lusíadas!
Os nossos parceiros europeus já compreenderam que
obrigar-nos a baixar o défice dos 7% é o melhor caminho para
acabar, de vez, com a raça lusitana! O 7 é a nossa porta de
entrada e de saída (a nossa alma!) e sem ele, só nos resta morrer de
inação…
Entretanto, enquanto a hora derradeira não chega,
ainda podemos ir votar no pentassílabo, apesar do risco de voltarmos ao
decassílabo, e de cairmos definitivamente no abismo ao som do cavaquinho de pé
quebrado…
18.1.11
Enquanto o Governo procede à destruição paulatina da
escola pública, o Candidato incentiva alunos, professores e pais a
revoltarem-se contra a redução dos subsídios ao ensino privado.
De momento, o Governo está empenhado em transferir as
responsabilidades de financiamento para os fundos europeus e, sobretudo, em
alterar a matriz curricular, eliminando, por exemplo, a Área de
Projecto, e fazendo tábua da revisão curricular aprovada pela Assembleia da
República.
Em síntese, a Sagrada Família prossegue o objectivo de
entregar o Estado aos grupos de interesses que se foram constituindo desde
1974.
16.1.11
Não há dinheiro para que as crianças do 1º e 2º
anos possam praticar natação, mas o Candidato propõe que se crie um Ministério
do Mar. Provavelmente, está mais preocupado com a rendibilização dos mil
milhões de euros gastos na compra de 2 submarinos! E vale a pena não esquecer
que um já se encontra em reparação no Alfeite.
14.1.11
“O mujimbo é uma arte de governo.” (Pepetela, Lueji)
Entre a verdade e a mentira vive o mujimbo (o boato).
Em pleno relativismo cultural, só o mujimbo circula impune e impõe a sua
lei. (Um candidato sente-se abraçado pelo povo; um segundo fala em
nome do povo; um terceiro diz-se acima do povo.)
A ninguém interessa o número exato da dívida! A
ninguém interessa a delimitação do conceito! E como não interessa a ninguém, o
número torna-se intangível e o conceito desliza, sob a forma de noção, para uma
suave indiferença que mata definitivamente a verdade e a mentira.
A velha dicotomia extingue-se iluminada pelo
mujimbo.
13.1.11
Engenharia de
Software |
Teoria Matemática |
Avaliação de
Risco |
História –
investigação |
Prevenção e
reabilitação auditiva |
Manutenção da
higiene oral |
Análise estatística |
Analista de sistemas |
Meteorologia e
ambiente |
Biologia e
ciências afins |
Não pense na crise! Procure uma escola onde possa
aprender uma das profissões acima enunciadas. Esta lista vem publicada no i de
hoje, 13 de Janeiro.
Creio, no entanto, que este diário se esqueceu da ciência
política, porque o Diário de Notícias acaba de demonstrar que
a melhor forma de “ganhar” dinheiro exige filiação numa organização política e
posterior estágio num sindicato / ministério. Depois é só esperar pela nomeação
para a GALP, EDP, REFER, CGD, Banco de Portugal, Portugal Telecom…
11.1.11
Hoje, de manhã cedo, numa pastelaria da
Praça Dona Estefânia, em Lisboa, um cliente dirige-se ao balcão e declara
secamente à funcionária: Quero urinar!
Há dois dias, no Centro Comercial Vasco da
Gama, no Parque das Nações, um suposto cliente de meia-idade entra num provador
e urina ali mesmo.
Felizmente que destes acontecimentos não corre
notícia; no entanto, eles são bons indicadores da degradação dos nossos
comportamentos…
E a propósito de indicadores, vale a pena considerar o
modo como o Presidente da República comentou hoje os números apresentados pelo
Governo. Considerou-os, apenas, um indicador… Um notável indicador de baixa
política!
10.1.11
Como já me pronunciei no Facebook, aproveito para
confessar a minha opção de voto neste ano de 2011: Fernando Nobre.
Trata-se de uma confissão pública de algo que, habitualmente, é secreto.
Qualquer leitor atento de CARUMA saberá que ela, há muito, não se revê nos
caminhos trilhados depois de 1974, tal como não se revia na política do Estado
Novo.
Acredito que a vontade é a figura
essencial da mudança e, no actual quadro de candidatos, apenas Fernando Nobre
dá corpo à vontade de mudar. Apenas ele a grita, um pouco como
Cristo no deserto, acreditando que é possível pôr fim aos centuriões que
ocuparam o templo.
9.1.11
Em 1963, eu não sabia que Jean-Luc Godard realizava
um filme que só, ontem, tive oportunidade de ver – um filme sobre o cinema (os
que o fazem, os que o produzem e os que o veem). Nessa época, eu aprendia a
desviar o olhar – o pecado morava em frente! E ainda hoje não me libertei
completamente dessa educação que me ensinou a “baixar os olhos”, a dissimular
as emoções, a tolerar a hipocrisia.
Em 1963, os espectadores (que não eu nem os
portugueses até 30 de Junho de 1975 – data da estreia de LE MÉPRIS,
em Lisboa) podiam ver Brigitte Bardot inteiramente nua em cenários interiores e
exteriores. E é precisamente essa diferença que agora me surpreende: mais do
que a geografia é a cultura que nos atrasa; não a falta dela, mas uma
mentalidade retrógrada, pecaminosa que nos impregna os ossos…
No filme, a dissolução da relação (e do argumento)
resulta de um gesto in (voluntário) do argumentista que atira BB para
os braços do rico produtor americano, como se o corpo (a beleza) mais não fosse
do que uma mercadoria que, inevitavelmente seria sacrificada, pois os deuses
não toleram os humanos desafios…
Embora noutro contexto, esta diferença de perspectiva
na abordagem do corpo ou da língua já há dias me deixara
perplexo e indeciso. Como explicar a actual rejeição da cultura francesa? Em
muitos casos, essa rejeição é uma forma de desprezo de quem (in)voluntariamente
tudo sacrifica em troca de algum reconhecimento e, sobretudo, de uns milhares
de euros…
De qualquer modo, os deuses não dormem!
8.1.11
De vez em quando, acordo em Latim. Nunca fui romano,
mas hábitos antigos vêm à tona sem serem convocados… Algo me diz que deveria
dar mais atenção à antiga lição. No entanto, sufocado pelas novas redes,
procuro mergulhar nessa onda comunicacional a que, paradoxalmente, falta o
miolo.
De qualquer modo, as redes estão-se nas tintas para a
idade, misturam velhos e novos, criam a ilusão de que o tempo deixou de
existir, forjando em vida uma imortalidade definitivamente perdida… Tal o
pescador que lança a rede de malha fina num gesto derradeiro…
Assim, estou eu, castigado pela idade, a fazer de
conta de que já estou reformado, pois de nada serve o trabalho acumulado nem os
descontos efetuados. Para o caso, mais valia emendar a idade…
6.1.11
Hoje, a situação de incumprimento já leva ao
encerramento dos programas, como, por exemplo, o K’CIDADE.
O dinheiro existe,
mas desaparece antes de chegar aos trabalhadores. Quem é que fica com ele?
O jornalismo de investigação bem poderia seguir-lhe o rasto, porque, de
verdade, os parasitas estão de tal modo colados ao filão que, no fim, não sobra
um cêntimo…
4.1.11
Por razões particulares, hoje percorri parte da A1.
Trânsito fluido. Gasolina e portagens mais caras. Restauração das áreas de
serviço às moscas… A crise já começa a ganhar corpo. Menos procura, menos
consumo = mais desemprego!
Ao lado, os campos continuam desertos e as cidades
fervilham de subsídio-dependentes… Os municípios, endividados, não cumprem os
compromissos eleitorais, como está a acontecer com a socialista Câmara
Municipal de Lisboa que, impunemente, deixa morrer o Programa K’CIDADE,
não honrando os seus compromissos…
A crise ganha corpo porque os governantes, há muito,
venderam a alma. E quem perde a alma deixa de saber o que é a HONRA!
3.1.11
Um Programa que está a deixar de cumprir os seus
objectivos, porque alguns dos parceiros deixaram de disponibilizar as verbas
necessárias ao pagamento do mísero salário de todos aqueles que, todos os dias,
se sacrificam no terreno.
O Programa reúne um conjunto de organizações parceiras,
diversificadas e complementares, empenhadas na partilha de recursos e soluções
conjuntas para as questões da pobreza e da exclusão social.
Envolvidos no PROGRAMA: a Fundação Aga Khan,
enquanto entidade promotora, a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa,
a Central Business, a Associação Criança e a Associação
Comercial e Industrial do Concelho de Sintra.
A reforçar esta missão, uniram-se vontades de outros
parceiros e apoios estratégicos, cujas competências e responsabilidades são
essenciais ao desenvolvimento e sustentabilidade do Programa, como o Ministério
do Trabalho e da Solidariedade Social, a Fundação Calouste Gulbenkian,
o Patriarcado de Lisboa, a Iniciativa Comunitária EQUAL,
a Câmara Municipal de Lisboa e a Câmara Municipal de
Sintra e a Hewlett Packard.
Se considerarmos os parceiros envolvidos, a situação
de atraso no pagamento das remunerações é verdadeiramente escandalosa!
1.1.11
De que a nossa vocação é a água, continuamos a “meter
água” na Europa… Indiferentes à luz e à sombra, continuamos a beber-lhes o
champanhe… Tudo porque um grupo pequeníssimo de portugueses tem na Europa o seu
maná…
Desfocado, como convém ao tempo que se anuncia. De
repente, parece que regresso ao século XIX!
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