31.12.16
Duas mulheres, já idosas,
caminham, não sei se em direção ao centro comercial, se à igreja. O
caniche precipita-se para o meio da estrada, mas ainda não será em 2016
que acabará atropelado.
Agora que 2016 está a
terminar neste fuso horário, reconheço que, pessoalmente, este foi um
ano muito duro. De qualquer modo, vivo rodeado de ilusionistas...
A criança aprumada, de
mochila azul, espera. Entretanto, parqueado o carro, o avô, de
cigarro empertigado no canto da boca, avança. Dão as mãos, e partem rumo a
2017.
30.12.16
Apesar do ceticismo
de que fui dando prova ao longo de 2016, pressinto que 2017 será um ano de
novos desafios que só poderão ser vencidos se não nos faltar a coragem de que
os pescadores são, ao longo da História, o melhor exemplo.
O resto é vaidade! O
resto é narcisismo! O resto é prepotência!
29.12.16
« Je n'ai jamais de chance avec les hommes." Quem o diz é
a protagonista de Eugénie Guinoisseau, de Grégoire Delacourt,
in Les Quatre Saisons de ´L'été, 2015.
Ao homem, nas diversas
idades, falta o jeito, a constância, falta o sentimento. O homem é um
bruto! Se exceção houver é porque esse homem é cândido, prefere outro homem e,
nesse caso, regressa a fidelidade, a paixão, a sensibilidade... e até a
bestialidade, mas não com a mulher, esse ser incompreendido, que, em cada
idade, exige uma dedicação exclusiva, como se o mundo apenas fizesse sentido
centrado no "corpo" e na reação que possa despertar nas feras
famintas... Saciadas, as feras abandonam a presa até que a fome regresse...
Agora que o novo ano se aproxima, o frenesim da passagem mais não é do que o
voto de que tudo possa recomeçar, mesmo se por um breve instante, pois o homem
é bruto...
Só não percebo, por que motivo não é permitido ao homem exclamar "Je
n'ai jamais de chance avec les femmes!" Provavelmente, teria de ser
poeta; só assim seria compreendido, pois a sensibilidade não lhe faltaria...
28.12.16
Pouco importa o que fica
para trás - nem nostalgia nem saudade! Apenas, a viscosidade desperta atenção -
talvez nela possa encontrar a redenção.
Ligeira hesitação entre
'redenção' e 'salvação'. Nenhum dos termos satisfaz, pois qualquer
um deles pressupõe crime (erro, falha, pecado). O que fica para trás,
por muito que pese, já nada pode fazer pelo presente...
Poder-se-ia pensar que a
solução se apresentaria cristalina, mas a verdade é que a transparência anda há
muito desaparecida. Longe vai o tempo da luz!
27.12.16
Outrora, talvez fosse a
demanda...
Nos últimos anos, tem
sido a espera. Nuns casos, a espera iguala-se à demanda, pois o objetivo
continua por atingir - o graal, godot, a carta ...o inominável; noutros, a
espera, apesar de repetida, é pontual, circunstanciada - o desespero, o
cansaço e até a satisfação de ver o sucesso de uma operação...
Quem espera, desespera!
Hoje, pelo que fui
ouvindo e observando enquanto esperava, sinto que há quem tenha muito mais
motivos para desesperar, porque só a crueldade da morte os poderá libertar...
26.12.16
El coronel no tiene quien le escriba... agasta-me e
empolga-me
El coronel no tiene quien le escriba, de Gabriel García Marquez
À medida que a leitura
avança, o comportamento do coronel deixa-me agastado, pois prefere alimentar o
galo a cuidar devidamente da esposa enferma. Na verdade, quem faz das tripas
coração para que não morram à fome é ela... É ela que o incentiva a vender o
relógio de parede, a vender o quadro, a vender o galo, embora nunca o incentive
a procurar um trabalho - derrotado politicamente, espera pacientemente que o
governo lhe atribua uma pensão pelos serviços prestados à pátria na Guerra dos
Mil Dias. Durante 15 anos, todas as sextas-feiras, ele espera que
o carteiro lhe entregue a carta que, finalmente, reconheça o seu direito...
A novela foi publicada em
1961, apesar de escrita em 1957-58, tempo em que o autor passava fome em Paris,
pois o governo colombiano ia encerrando os jornais de que era
correspondente. Ao lê-la, veio-me à memória a peça de teatro "En
attendant Godot", de Samuel Beckett, publicada em 1952. Pode ser
coincidência, mas o coronel surge-me como reencarnação de Estragon e Vladimir à
espera de Godot...
De qualquer modo, o
absurdo da situação do coronel é mais politizado, pois as referências à ação
política são bem mais evidentes. Desde um Governo (do general Rojas
Pinilla) que não respeita os seus inimigos políticos, a uma censura que,
no caso do cinema, era controlada pela Igreja que classificava todos os filmes
como atentatórios dos bons costumes - anunciando o seu veredito através de 12
badaladas diárias...
O galo acaba por se
tornar no símbolo principal desta novela, porque deixado pelo filho Agustín,
fuzilado, representa para o coronel e para o povo de Macondo a esperança de que
a ditadura terá um fim. Não se sabe é quando!
Quanto à escrita e à
composição de Gabriel García Marquez é tão enxuta e tão cheia de humor que só
me resta relê-lo...
25.12.16
Rafael
Escalona... e a fantasia em que vivemos
Aproveito o dia de Natal
para ler a novela "El coronel no tiene quien le escriba", de
Gabriel García Márquez e, no avanço da leitura, descubro o compositor e
trovador colombiano Rafael Escalona (1927-2009).
Aqui, registo uma das
suas trovas que ilustra bem a fantasia em que vivemos:
Voy hacerte una casa
en el aire
solamente pa´que vivas tú.
Despues le pongo un letrero bien grande
con nubes blancas que diga "andaluz"
Cuando Andaluz sea señorita
y alguno le quiera hablar de amor
el tipo tiene que ser aviador
para que pueda hacerle la visita
el tipo tiene que ser aviador
para que pueda hacerle la visita
Y si no vuela no sube
a ver a Andaluz en las nubes
y si no vuela no, no llega allá
a ver a Andaluz en la inmensidad
Voy hacer mi casa en el aire
pa´que no me la moleste nadie
Como esa casa no tiene cimientos
tiene el sistema que he inventado yo
Me la sostiene en el firmamento
los angelitos que le pido a Dios
Si te pregunta cómo se sube
deciles que muchos se han perdido
para ir al cielo creo que no hay camino
nosotros dos iremo´ en una nube
para ir al cielo creo que no hay camino
nosotros dos iremo´en una nube
Y si no vuela no sube
Voy hacer mi casa en el aire
pa´que no la moleste nadie
es que voy hacerla en el aire
pa´que no la moleste nadie
A noite de Natal, que se
vai extinguindo, foi um pouco melhor do que a do ano anterior, não por
efeito da coligação de esquerda, mas porque, estrategicamente, os participantes
não se envolveram nas habituais polémicas - a visão utópica foi condescendente
com a visão bem informada, realista e cética.
E convém
não esquecer os ausentes, uns irremediavelmente; outros, por puro
egoísmo...
Quanto à coligação de
esquerda, apesar de mais otimista, nada trouxe que ajudasse a resolver os
problemas dos participantes na ceia de Natal.
Como banda sonora,
regressou o Feiticeiro de Oz! (1939) Pelo que vejo a visão utópica continua a
apreciar o filme de Victor Fleming....
23.12.16
O filme "Raining
Stones", de Ken Loach foi realizado após o termo da governação de
Margareth Thatcher (1979-1990). De certo modo, pode ser lido como consequência
do thatcherismo, pois mostra o estado em que vivia a classe operária na
periferia de Manchester ou de Liverpool.
Os desempregados
recorriam a expedientes, por vezes, à margem da lei, para impedir que
a perda de "estatuto" económico e social se tornasse visível.
Curiosamente, neste novo
mundo, os sindicatos desapareceram e cederam o lugar à Igreja (católica).
Uma igreja que abraça a causa dos novos pobres e que não hesita em proteger o
pai desesperado que, ao tudo fazer para assegurar que a filha não tenha tratamento
desigual na cerimónia da primeira comunhão, acaba por contribuir para a morte
do agiota que, pela força, tirava proveito da miséria social.
No essencial, o cinema
social de Ken Loach ilustra bem as consequências da política levada a cabo
pela coligação PSD-CDS, entre 2011-2015.
21.12.16
Nunca percebi se o Natal
tem dono, todavia alguém inventou um Pai que faz muitas compras num
mercado gigantesco para alegria de muitas crianças, apesar do número daquelas
que são esquecidas de ser quase igual ao das prendadas...
Por conseguinte, há
crianças que riem e muitas, anónimas, apesar de terem pai e mãe, sofrem... E há
também quem enriqueça à conta do negócio, sem falar dos que se empanturram
como se não houvesse dia 26...
Sobre o Natal, há muitas
teorias, mas aquela do menino nas palhinhas, rodeado por
José, que, afinal, não era pai, e de Maria, que nunca conheceu
homem, sem falar dos tristes animais, a quem naquela noite roubaram uma parte
do estábulo, é a que mais me impressiona desde os tempos em que era
criança...
No entanto, nunca me
explicaram que, face a certas sociedades em que «o aborto e infanticídio
eram praticados de maneira quase normal, de tal modo que a perpetuação do grupo
se efetuava por adoção, muito mais frequentemente do que por geração, sendo um
dos objetivos principais das expedições guerreiras obterem crianças» *, os
sacerdotes sentiram necessidade de santificar o nascituro... Só que o
escolhido foi o Filho, feito por um tempo menino... Uma história que sempre me
pareceu mal contada, mas que continua a servir de alibi a muitos
comportamentos, uns dignos, outros indignos...
No Natal, sobe-me a tensão arterial! Boas Festas!
*Claude Lévi-Strauss, Tristes Trópicos, Cadiueus.
20.12.16
Não sei se as metáforas
ensandeceram, mas as que encontro andam tão estafadas que me apetece calcá-las
e deixá-las a fenecer. Parecem ter sido moídas por um energúmeno, que atolado
numa qualquer lixeira, decidisse lançá-las aos abutres de serviço na Academia
ou lá como se chama o clube de sapiências que tomou conta das universidades,
politécnicos, institutos e quejandos...
Ouvi dizer que as
metáforas só são pertinentes se perderem a referencialidade e ficarem a levitar
no espaço cerebral dos seus criadores, deixando os leitores a decifrar puzzles
irresolúveis. Basta sonegar duas ou três peças para que a metáfora se eleve acima
das cabeças, para depois sobre elas poisar como língua de fogo...
O problema é que as
línguas sagradas parecem ter vontade própria, pois são elas quem decide
quem integra o falanstério dos eleitos, são elas quem agracia e quem deixa
de fora... E os eleitos não se fazem rogados, desatam a voz, assaltam as
cadeiras e ocupam-nas vitaliciamente.
Há até uns tantos, que
depois de mortos, ainda continuam a assombrar-nos com a sua inexplicável
opacidade.
19.12.16
Poder-se-á pensar que a
tirania é um privilégio dos estados ou daqueles que aspiram à conquista do
poder, mas, pela amostragem dos últimos anos, a violência
individual serve-se (ou esconde-se por detrás) de causas mais ou
menos nobres para satisfazer instintos autodestrutivos.
Temos assim uma
conjugação explosiva que levará inevitavelmente a uma permanente retaliação e à
morte de qualquer tipo de humanismo que ainda possa persistir.
As mortes, por
exemplo, em Alepo, em Ancara e em Berlim são a prova do
transtorno coletivo em que vamos mergulhando.
18.12.16
O que sobra do
Império é bastante absurdo!
As portas de madeira
carcomida, o metal ferrugento, os púcaros amachucados, as aves empalhadas e
depois, uma natureza defenestrada e pessoas fascinadas por uma melopeia
guerreira, convencidas de que a mudança liberta, mesmo se a
nova exploração as torna infra-humanas.
O que mais irrita é a
quantidade de ferrugem, os arquivos mortos, a ideia de que nada vale a pena.
Está quase tudo na
exposição de Antonio Ole. A bromélia, não.
O mapa do tesouro
«O governo de Passos
Coelho prometeu o mapa dos diamantes a Angola, uma semana após ter tomado posse
e quatro dias antes de ser derrubado no Parlamento.»
Enquanto uns esfolaram e
mataram, durante 100 anos, para rastrear o território angolano, um governo
desmiolado entrega o mapa do tesouro. Gesto solidário, pensarão uns; gesto
perdulário, pensarão outros.
Por mim, é mais um ato
irresponsável, de desrespeito pelo passado, mesmo se de sangue. Quanto às
contrapartidas, o tempo dirá... ou talvez o Correio da Manhã.
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Espaço vetusto.
Equipamento obsoleto. Corpo docente envelhecido. Corpo discente heterogéneo e
mal preparado...
Ranking tradicional: 146 (10,85). Ranking alternativo:
225 (0,58)
Todos os dias são esforçados, mas os resultados
não premeiam o empenho da comunidade escolar.
E no próximo ano, tudo continuará...
Claro que há sempre quem olhe para o lado. Ainda por
cima... para o lado errado.
16.12.16
O
telefonema do Hospital Central de Lisboa
Se não formos direto ao
assunto, ninguém nos segue. Pois, faça-se a vontade de quem ainda a tem ou
pensa ter!
A cirurgia estava marcada
para as 11 horas. A receção no hospital Curry Cabral marcada para as 10h45.
Às 10h05, o telefonema:
- o Senhor ainda está em casa? Não vale a pena deslocar-se, o
anestesista acaba de avisar que não pode estar presente...
No metro, o utente do SNS
desespera. (Preparara-se para a intervenção, há meses considerada urgente,
desmarcando todos os compromissos previstos para a semana anterior ao Natal,
não ingerira qualquer alimento, sólido ou líquido, avisara os amigos... e a
agora o telefonema! Ainda pensara que estivessem preocupados, não fosse ele
atrasar-se. Nada disso! E de chofre, nova pergunta: - Será que é
possível realizar a cirurgia no Natal ou no Ano Novo?)
Sob chuva intensa, o
paciente desloca-se à Secretaria do Hospital. A explicação não muda uma
vírgula: - O anestesista não apareceu. (Já na consulta de preparação, também
marcada para uma sexta-feira, o anestesista não aparecera.) A
funcionária, solícita, procura encontrar nova data na agenda - um nome
de outro doente é riscado... e a cirurgia fica marcada para o dia 27,
uma terça-feira, dois dias depois do Natal...
(O testemunho é do
"adulto responsável", cujo dever é acompanhar o doente no
pós-operatório, prestando-lhe os cuidados que o SNS passou a delegar nas
famílias para evitar maiores custos.)
15.12.16
Acordo cedo. A gata
arranha a porta. E não sei se acordo cedo porque a gata arranha a porta ou se a
gata arranha a porta porque acordo cedo.
Ela sabe que não lhe
quero abrir a porta, mas que pode tirar vantagem, pois reforço-lhe a ração da
madrugada. Eu quero distraí-la do objetivo inicial, no entanto desconfio que o
objetivo dela seja diferente do imaginado.
Até porque a gata,
satisfeito o apetite, desloca-se para a sala, e imobiliza-se junto do
computador à espera de que eu o ligue... e verifique quem está online ou
se, no tempo de Morfeu, algo aconteceu de verdadeiramente
insólito. E esfíngica, observa todos os meus movimentos até que
eu conclua as rotinas da madrugada...
Só reage à abertura da
porta que dá para o patamar... aí, ela consegue esgueirar-se e não perde a
oportunidade de subir o lanço de escadas que dá acesso ao sótão. Abro
a porta do elevador à espera que ela queira entrar, porém ela prefere regressar
a casa ou, em alternativa, descer o lanço de escadas que dá acesso ao 11º
andar.
(a escrita, neste, momento torna-se mais difícil, pois ela insiste em dar-me
marradas e em digitar uns sinais ++++, o que é o menos, pois de seguida a
vítima é o S. José que corre o risco de ficar sem bordão.) A Sammy vive cá
em casa como viveria em qualquer outra casa, apesar de aqui ela poder
exercitar-se no varão, sem nunca esquecer o seu velho peluche - um pássaro
esverdeado, reduzido à expressão mínima. Por vezes, oferece-mo... e eu
agradeço.
Há uma hora,
perguntaram-me se iria "passar o Natal à terra". Pergunta
inofensiva, mas que me surpreendeu de tal modo que eu retorqui "Qual
terra?" E pensei "aquela terra nem cemitério tem!" Só agora
dou conta que não posso voltar à terra, pois a Sammy não gosta de descer de
elevador, embora possa voar atrás do velho peluche esverdeado...
Entretanto, já lhe prometi que, um destes dias, vamos ler O Gato Preto,
de Edgar Allan Poe:
«Não espero nem solicito o crédito do leitor para a tão extraordinária e no
entanto tão familiar história que vou contar. Louco seria esperá-lo, num caso
cuja evidência até os meus próprios sentidos se recusam a aceitar. No entanto
não estou louco, e com toda a certeza que não estou a sonhar. Mas porque posso
morrer amanhã, quero aliviar hoje o meu espírito. O meu fim imediato é mostrar
ao mundo, simples, sucintamente e sem comentários, uma série de meros
acontecimentos domésticos. Nas suas consequências, estes acontecimentos
aterrorizaram-me, torturaram-me, destruíram-me. No entanto, não procurarei
esclarecê-los.»
14.12.16
Eu não vou à piscina!
Eu não bebo coca-cola!
Eu nunca fui a Benguela!
No entanto, o tio
Vítor foi a Luanda dizer que era dono de uma piscina cheia de
coca-cola em Benguela!
Eu ainda tenho um tio que
conheceu Luanda, Sá da Bandeira e Benguela. (Um dia ofereceu-me um avião que
esteve imenso tempo imobilizado sobre um guarda-fato!) Este tio nunca me deu
conta da existência de qualquer piscina cheia de coca-cola - nem sequer na
Jamba! A verdade é que este tio, que deixou Angola minutos antes do camarada
Neto presidente da RPA ter tomado posse, se recusa a contar a sua
desventura africana...
Em Luanda, parecia só
haver gasosa, uns camaradas cubanos, sem esquecer os camarades sovietes a
construir um mausoléu com forma de foguetão...
Em Lisboa, já ninguém
sabe quem foi o camarada presidente Neto, para quem os camaradas sovietes iam
construindo um mausoléu leninista... e muito menos o que é um mausoléu...
Em Lisboa, as crianças
nasceram todas a beber coca-cola e a ver televisão a cores, e pensam que a
natureza é uma chatice... e que o passado nunca existiu.
Em Lisboa, nem na rua há putos. Estão todos online, não se sabe a
fazer o quê... talvez, a experimentar o cyberbullying ou a aprender uns truques
de magia para matar o tempo nas aulas de Português.
13.12.16
A administração do
Santander afirma ter tomado, por 46 vezes, a iniciativa de propor a
renegociação desses contratos, face aos potenciais prejuízos acumulados depois
de 2008. Mas, na ausência de um acordo, os 9 contratos de swap, celebrados
entre junho de 2005 e novembro de 2007 com a Metro do Porto, Metro de Lisboa,
STCP e Carris, estão a ser julgados desde o passado dia 12 num tribunal em
Londres, por iniciativa do banco espanhol.
Como prezo o
rigor, relembro que os piores contratos de swaps são posteriores a junho
de 2005, e que António Guterres, foi primeiro-ministro de
Portugal entre 28 de outubro de 1995 e 6 de abril de 2002.
Almeida Garrett defendia,
nos anos 40 do século XIX, a criação da lei da responsabilidade
ministerial que punisse todos aqueles que pusessem em causa a "res
publica". Não sei se na arca do legislador existe tal lei, verifico,
no entanto, que as responsabilidades continuam por apurar... o que permite
que "as guerras de alecrim e manjerona" se perpetuem...
De qualquer modo, quem é
que lê António José da Silva e Almeida Garrett?
Em 2013, quatro empresas
públicas de transportes de passageiros consideraram inválidos os contratos
'swap' celebrados, suspendendo os respetivos pagamentos. Em causa está
uma fatura superior a 1.300 milhões de euros.
O Tribunal Superior (High
Court) de Londres rejeitou esta terça-feira um recurso de quatro empresas
públicas de transporte portuguesas, mantendo a decisão da primeira instância
que determinou a validade dos contratos 'swap' com o Banco Santander Totta (BST).
12.12.16
António
Manuel de Oliveira Guterres
Não é possível ficar
indiferente!
António
Guterres, nascido a 30 de Abril de 1949, tomou
hoje (12.12.2016) posse como secretário-geral da ONU, o cargo mais
distinto a que alguém pode aspirar, não pelo força que possa deter, mas
porque poderá efetivamente contribuir para a construção de um mundo
diferente, para melhor: mais solidário, mais pacífico e
mais equitativo.
Na cena internacional,
esta é a posição mais elevada que um português jamais atingiu. Um português que
sempre procurou ser melhor nos estudos, na vida profissional, na vida política
e, sobretudo, na defesa dos mais pobres e das vítimas das guerras e das calamidades
que têm assolado os vários continentes.
Com este perfil, acredito
que António Guterres tudo fará para que, doravante, o mundo seja um pouco menos
triste, mesmo sabendo que a mesquinhez dos interesses lhe criará
obstáculos, todos os dias.
Mas há que subir a
montanha!
11.12.16
Um destes dias, alguém me
perguntou se o "epílogo" surge no princípio ou no fim da obra...
surpreso, respondi sem perceber a razão da questão. Era suposto o leitor
observar o manuscrito e verificar a posição da sequência...
Entretanto, não pensei
mais no epílogo até que, ao assistir ao bailado "La Bayadère", no
Teatro Camões, recordei o episódio no meio do terceiro ato " No Reino das
Sombras".
Não sei se por causa da duração, a verdade é que me interroguei sobre o motivo
porque demoramos tanto tempo nesse reino sombrio... Afinal, dele nada sabemos!
Para nosso bem, e sobretudo dos que nos acompanham, o epílogo deveria ser
breve... e quanto ao reino das sombras já era tempo de o democratizar, pois
creio que por lá o poder é poeira...
10.12.16
Esquecer os problemas!
Nem sempre o trabalho o consegue, pois muitos dos problemas advêm do próprio
trabalho... Por estes dias, estou a contas com 'trabalhos' que revelam falta de
rigor.
Falta de rigor não do
momento, mas do tempo anterior - um tempo lúdico que, por ser tal, se aceitou
que pudesse pactuar com o desleixe, com a desatenção e com a indisciplina...
Tudo, a meu ver exógeno, mas que os cientistas do comportamento insistem em considerar
endógeno; por pouco, dirão que as atitudes são inatas e, como tal, todas
desculpáveis...
De qualquer modo, o que
mais me preocupa é que, num tempo em que o trabalho é raro, este tempo
anterior gere tanta inadaptação, tanta desorientação, tanta
irresponsabilidade.
9.12.16
Não há como o trabalho
para nos fazer esquecer os problemas! Sobretudo, quando, por entre tanto
disparate, nos surge pela frente um jovem de 15 anos que não só leu
detalhadamente a Odisseia, de Homero, como é capaz de a
apresentar oralmente, captando a atenção dos colegas...
Oralmente, sim, porque a
maioria cultiva a leitura, convencida de que a eficácia comunicativa é atingida
com tal suporte...
Bom, não estraguemos o
dia com lamúrias e consultas estafadas que insistem em ignorar o mundo que nos
abraça.
Como se de finda se
tratasse, remato lastimando que o Criador ande tão esquecido de que, para
além de sofrer, todo o Homem deve trabalhar para ganhar o pão de cada dia...
8.12.16
Tolhido,
em dia santo e feriado
Ontem, nada registei
porque a tensão arterial me tolheu os movimentos, quase todos... As causas
ficam por explicar... apesar de uma quota da responsabilidade poder ser
atribuída ao Dédalo lisboeta que insiste em derrotar o automobilista que,
de súbito, se vê a braços com a necessidade de se deslocar a vários lugares da
cidade em plena hora de ponta...
Hoje, ainda tolhido,
vejo-me obrigado a reduzir as tarefas, rejeitando a hipótese de me deslocar a
um hospital, porque tenho a certeza de que a tensão iria aumentar de
tal modo que o organismo não resistiria ao choque hospitalar. Sim,
porque o SNS, em dia santo e feriado, derrota qualquer utente que decida
entrar-lhe portas dentro...
Resta-me, assim,
relembrar o dogma da Imaculada Conceição, padroeira de Portugal, desde o dia em
que D. João IV, no Paço de Vila Viçosa, lhe outorgou a coroa, talvez por
agradecimento, iniciado por D. Afonso Henriques e reforçado pelo santo Nuno Álvares
Pereira, por "nos ter livrado dos nossos inimigos", apesar
de Sua Alteza não ter assistido em vida à capitulação do inimigo
"castelhano"...
Como já estou a ficar
cansado, deixo para melhor oportunidade uma particular reflexão sobre a
necessidade que deu origem ao dogma, no singular e no plural, pedra angular da
Santa Madre Igreja e do Reino de Portugal e Algarve, sem esquecer os territórios
situados para lá (ou no meio) do mar...
6.12.16
Todos repetem que o homem
é sociólogo, que nasceu em 1977, que escreve... e que recebeu o 'Prémio Sagrada
Esperança', entre outros por mencionar... Fiéis ao Google, repetem que escreve
crónicas, pouco lhes importando que, de verdade, escreva "estórias"...
Por investigar, fica a
origem do 'Prémio Sagrada Esperança', e no Mausoléu do
esquecimento repousa o patrono... o Google poderia ter ajudado, mas não
foi o caso...
(Tal como poderia
ajudar a esclarecer o 'milagre" do dia 8 de dezembro, e da sua padroeira...)
Ninguém quer saber que
tipo de escrita é que um sociólogo pode desenvolver quando olha para o bairro
(ou para o musseque) onde cresceu - para a infância de um país que cresce junto
com o seu povo. E tudo num tempo em que todos são camaradas!
E como tal, ninguém
parece surpreender-se com a abundância de camaradas sovietes e cubanos - nem
lá, na terra de Ondjaki, nem cá, nesta terra tão multicultural e
tão alheada da sua História...
Se se lhes
explica que há diferença entre 'História', 'história', 'conto' e
'estória', e que essas palavras exprimem relações de domínio e de
autodeterminação, entreolham-se num desabafo mudo... Pouco lhes importa se o
sociólogo transformou a sua análise dos diversos grupos que se cruzam na
sua rua em "estórias" questionadoras da realidade quotidiana de um
tempo que persiste em reproduzir-se...
5.12.16
Há as religiões e há as
crenças, embora eu descortine poucas diferenças.
Na religião, os fiéis
procuram viver em rede, sob orientação divina. A rede, apesar de
se esperar que seja horizontal, dispõe-se verticalmente, de acordo com um
modelo hierárquico que acaba por gerar diferenças inaceitáveis.
Depois, ou antes, há a
crença, onde cada indivíduo despreza a rede, para ficar a sós com o seu
"demónio", mas que, farto de solidão, acaba por gerar cismas que
desembocam em redes, também elas verticais...
É um pouco
incompreensível que eu me entretenha a dissertar sobre tais assuntos, mas a
ideia tem uma causa: a construção (ou será edificação?) do Templo da
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias - A Igreja Mórmon... no
Parque das Nações.
4.12.16
Chamam-lhes voluntários,
mas pelo modo como fazem barreira nas entradas das pequenas e grandes
superfícies, eu vejo-os como prosélitos que abarcam causas de forma irracional.
Curiosamente, os estados
patrocinam esse zelo porque lhes retira a responsabilidade de promover o
trabalho devidamente remunerado, de combater a doença e de fomentar uma
educação assente em valores que evitem o fervilhar das seitas, da clubite, em suma,
de qualquer tipo de fanatismo.
A desigualdade e a
injustiça são as causas do alastrar do proselitismo e, consequentemente, de
todo o tipo de radicalismos.
3.12.16
A
vida dentro de um lenço de bolso
«Necessita-se de pouco
para existir: pouco espaço, pouca comida, poucos utensílios ou ferramentas,
pouca alegria; é a vida dentro de um lenço de bolso.» Claude
Lévi-Strauss, Tristes Trópicos, A Terra e os Homens.
O antropólogo não
resistiu à síntese sob a forma de metáfora - na Ásia, na Índia, na fronteira da
Birmânia, o homem, em contraste com as castas mais elevadas ou com
o europeu da classe média, mais não era do que um lenço de bolso.
Nesta quadra de consumo
excessivo, de esbanjamento e de desperdício, talvez conviesse recordar que cada
lenço que utilizamos é o preço de uma vida... uma vida que nunca teve
noção da sua humanidade.
E por este andar, uma
vida que, tendo noção da sua humanidade, se arrisca a perdê-la de modo
desesperante.
2.12.16
Não
é a leitura de Manuel Laranjeira que me deprime
Não sei se ainda há quem
leia "Diário Intimo" de Manuel Laranjeira, e temo mesmo que se
tal acontecer a sua leitura possa ter um efeito depressivo, embora eu creia que
a depressão, ao contrário do que muitos apregoam, seja uma particularidade mais
ou menos permanente do leitor, caso contrário não se atreveria a folhear de
forma aleatória tal livrinho...
(Eu conheço uns tantos
leitores a quem basta a capa e umas linhas da contracapa para formar um juízo
definitivo sobre a obra. Como ainda hoje me referiram "aquilo não vai
com o meu estilo de leitor".)
Estilo à parte, eu
folheio os dias e deixo que olhos se percam no abismo das palavras:
Quarta, 3 de Junho
Invade-me a infinita
tristeza da existência, o tédio infinito da vida, dos homens e das coisas.
Tudo é de uma
instabilidade asquerosa!
Se eu pudesse ao menos -
ser alegre e abafar o ruído deste aborrecimento sem fim!
Às vezes lamento-me de
não ter nascido estúpido, muito estúpido, como a estupidez.
O Diário Íntimo é
do Manuel Laranjeira (1877- 1912), que eu não tenho diário... até porque
dificilmente um estúpido seria capaz de dar conta da sua estupidez... De
qualquer modo, não é a leitura de Manuel Laranjeira que me deprime...
1.12.16
Não
fosse a ironia dele (A.S.)
«Refunde-se tudo,
porque é na refundação que está doravante a virtude.» António Souto,
2016, Dupla Expressão Crónicas, No refundar está a virtude (Outubro
de 2012), DebatEvolution - Associação.
Não fosse a ironia,
poder-se-ia imaginar um cronista doutrinário. Mas não, o sujeito da
escrita cultiva o olhar do pícaro que, em tempos, serviu com desvelo o poder do
momento, sem, no entanto, se deixar iludir... e que com essa servidão
aprendeu que, infelizmente, o futuro não é muito diferente do presente, ao
contrário do prometido nos idos de abril, do seu abril, feliz - eufórico.
Agora que a tarde avança,
não querendo refundar nem restaurar nada, pois essa missão é reserva do poder,
vou entrelaçando o contentamento do cronista António Souto com a sensação de
que tenho andado a adjetivar o tempo, de forma abusiva.
Escravo do adjetivo, crio
a ilusão de uma extensão, ora material ora imaterial, que me desvincula da
substância, a única que verdadeiramente pode ser incinerada...
Como tal, a leitura e a
escrita são formas de incisão e de cisão em aberto...
Tempo medíocre
O episódio, em Cabo
Ruivo, não terá qualquer significado, mas é revelador do modo como
os CTT gerem o atendimento. Às 22:48, havia 68 pessoas em espera. Postos
de atendimento:3. Funcionários, atenciosos, sem mãos a medir.
Utentes, pacientes, na
sua maioria. Havia, no entanto, a oportunista decadente, que levava a mãezinha
de 90 anos, para poder passar à frente. Havia, também, o psicótico incapaz de
compreender que se o sistema informático das Finanças falha, os CTT não
lhe podem validar a operação que ele poderia ter resolvido no escritório
ou em casa (...)
Despacho concluído às
0:08 horas do dia 1 de dezembro, data de restauração sem objeto...
Hoje, o país entrou
em modo de pausa... e assim vai continuar até à próxima 2ª feira. E depois, no
dia 8, o país voltará a descansar, que bem merece...
Lá fora, a chuva, a
espaços...
Em Chelas, noite,
apenas. Do metro saíam vultos, apressados, bamboleantes, de olhos mortiços...
E eu sem tempo para
saudar as novas crónicas de António Souto - Dupla Expressão -,
ed. debatevolution, apresentadas por António Manuel Venda, na
Biblioteca da Escola Secundária de Camões.
Crónicas de um tempo
medíocre em que o cronista vai entrelaçando episódios irrelevantes,
procurando-lhes a intemporalidade em que repousam. E esse pousio é
que é a causa do desencanto de que nos falaram os Antónios.
29.11.16
Pouco importa se eles
compreendem, pouco importa se o novo dia é frustrante, pouco importa se
nos desconsideram...
... eu trabalho para que
eles tenham esperança.
No entanto, asseguro,
desde já, que depois de morto, eles não poderão contar mais comigo.
De nada importará o que
tenha feito, dito ou escrito.
Felizmente! Não há nada
mais aborrecido do que uma assombração!
28.11.16
Só
querem que eu os não defraude
Eles querem bons
resultados e quando os não obtêm a culpa é minha. E eu até estou de acordo
com eles - até me encontrarem, o seu desempenho era classificado como
excelente...
Tento ouvi-los, mas não
consigo - não respondem ou cavaqueiam entre eles, como se eu não estivesse
presente.
Tento lê-los, mas fico
destroçado - não compreendem, não interpretam, não redigem com um mínimo de
correção.
Alertados para a
situação, não se preocupam. Deixam de ouvir. Preferem memorizar definições
estrangeiradas, descontextualizadas.
Porquê? Porque
compreender, interpretar, definir, textualizar... dão trabalho... e exigem
atenção, disciplina, rigor.
E afinal eles só querem
bons resultados! Só querem que eu os não defraude... que lhes devolva o
tempo em que eram felizes.
Que enfado! Para eles e
para mim!
27.11.16
Mesmo se desnutridos, deslavados
e engelhados, poucos são os que desprezam o luxo. Vejo-os nos passeios a olhar
as montras como se a sua posse os compensasse do fracasso a que se sabem
condenados...
A posse arruína e
conforta. Ser o outro idealizado é tão deslumbrante que a montra deixa de ser
obstáculo. Lá dentro a tentação fácil, a crédito, baila esfuziante, indiferente
à sorte dos que se arrastam nas ruas e nas vielas...
Agora que o Natal se
aproxima, os vendilhões (e os seus criados) não poupam na iluminação,
mesmo se os clientes desnutridos, deslavados e engelhados já não têm
dinheiro para pagar a fatura de eletricidade... e vão ter de passar frio e
acabar por dormir na rua...
Na quadra
natalícia, o mafarrico anda à solta.
26.11.16
O conceito de 'tempo
social' anda associado ao desenvolvimento industrial, à urbanização e ao
surgimento de novas tecnologias... com início no século XIX.
Para mim, o tempo social
é um pouco diferente. Vejo-o constituído por um conjunto de indicadores de uma
ação externa que determina a atitude do indivíduo em qualquer idade, estando
presente em todas as épocas e em todos os lugares, mesmo que o avanço
civilizacional seja reduzido.
Nesta perspetiva, a ação
de cada um de nós é condicionada por cronótopos distintos, em
função do lugar, da idade e das instituições que nos enquadram.
Deste modo, a liberdade
individual não passa de uma quimera, como bem sabem todos os rebeldes que um
dia sonharam e quiseram incrementar uma qualquer forma de
revolução. E por mais que nos custe, a indisciplina é, também ela, a
prova de resistência ao tempo social, que, por vezes, deve ser pensado na sua
pluralidade... Do sonhador Fidel de Castro nada tenho a dizer, embora
ainda não tenha parado de pensar no comentador de 'política cubana' que, na RTP
1, afirmou que o americano Trump irá ajudar a "amortizar a morte
de Fidel"...
AMORTIZAR A MORTE!
Enfim, em todos os
atos que, hoje, executei, vejo com dificuldade que tenha iniciado algum que não
fosse determinado pelo cronótopo em que me inscreveram - fazer
compras, classificar testes, ir à Cinemateca ver o filme de Raffaello
Matarazzo, CATENE, estacionar num parque que me cobrou 5,25€ por duas
horas... até as lágrimas despoletadas pelo melodrama, sem esquecer este
apontamento.
25.11.16
O que é o idadismo? A
palavra existe? - Sim, existe
como designação de uma atitude discriminatória em relação às pessoas
idosas.
No Auditório Camões, a
Associação "Cabelos Brancos", criada por duas "jovens" Ana
Caçapo e Luísa Pinheiro, promoveu uma "tertúlia" sobre o
tema "idadismo", tendo como convidados Bernardo Barata e Carlão, distintos
produtores, compositores e músicos.
Esta atividade, incluída
no PAA da Escola Secundária de Camões, visa provocar nos jovens estudantes do
ensino secundário uma nova abordagem do processo de envelhecimento.
Através de perguntas
dirigidas aos convidados - "Como é que cada um pensa a sua velhice?";
"Já se imaginou velho?"; "A idade limita o exercício da
profissão?"; "A vida na estrada contribui para um bom ou mau
envelhecimento?" -, a moderadora procurou que a plateia juvenil se
questionasse sobre a sua relação com os idosos... e também com a idade,
pois parece que, afinal, sempre existe um "antes" e um
"depois"... ou ainda será cedo para pensar nisso?
Não querendo deixar,
aqui, nenhuma apreciação crítica, registo a boa receção das turmas presentes e,
em particular, a colaboração de alguns alunos, recentemente chegados a
Portugal, e com entendimentos distintos do nosso modo de encarar o
envelhecimento.
24.11.16
Não sei se é do frio, mas
sempre que o Inverno se anuncia, os burocratas da avaliação regressam.
Querem dar dignidade ao sistema que não se sabe se começa nas escolas e termina
nos exames ou, pelo contrário, se os exames condicionam de tal modo o trabalho
do professor que este não passa de uma marionete governada por
"doutores", editoras, encarregados de educação, sem esquecer o
pessoal de cada partido que vai ocupando os salões das fundações, dos
institutos, dos ministérios, das secretarias regionais, camarárias e outras que
tais...
O professor, à mercê dos
interesses do momento, já não faz parte desta narrativa... a não ser que seja
tão bestial que, também ele, consiga engrossar a fila dos fregueses que se
preparam para dividir entre si o bolo orçamental.
Agora, são os alunos que
vão ver alterados os modos de avaliação; amanhã, serão os
próprios professores...
E o pior são os patinhos
que acreditam que as migalhas lhes vão chegar, quando a lei, há muito, os
condenou a não sair do charco...
23.11.16
Aluno: - Qual é que é o
étimo? Professor: - É sempre o defunto!
E ao defunto não se pede
que se mova... Dos filhos, legítimos ou bastardos, já não se pode dizer o
mesmo, a não ser que tenham, também eles, ficado pelo caminho.
Ora, digam lá, quem é que
quer ser étimo?
«E por en tenh' eu que
é mui melhor
de morrer homem mentr'
lhi bem for.»
Martim Moxa
22.11.16
Da
variante africana da língua portuguesa
Na questão das variantes
da língua portuguesa, começo a interrogar-me se fará sentido ensinar que há uma
variante africana, designação tão genérica que pouca informação nos consegue dar
sobre o verdadeiro resultado do contacto do português com as línguas
locais.
Em territórios extensos e
distantes, polvilhados de culturas diferentes, só um estado despótico
poderia realizar a homogeneização da expressão dos cidadãos... Como
bem sabemos, nem em todos os territórios, tradicionalmente,
considerados de expressão portuguesa, há estados, democráticos ou despóticos, capazes
de assegurar a escolarização das populações...
E mesmo que cada
estado conseguisse definir uma política da língua, nunca o faria em nome de uma
entidade abstrata, no caso a variante africana.
Entretanto, em
Portugal, os jovens de 15 / 16 anos, que supostamente dominam a
variante europeia, vão confessando, por exemplo, ao ler Ondjaki, que
compreendem e falam quotidianamente a língua d' "Os Da Minha Rua"...
O que me deixa
a pensar que a distante e polvilhada rua africana desagua cada vez
mais nas nossas escolas, europeias e portuguesas, sem ser necessário pisar solo
africano. Mas fá-lo num registo muito empobrecedor!
Quanto à variante brasileira, o melhor é
começar a gravar os «papos» nos centros comerciais, nos cabeleireiros, nos
bares e nas fachadas dos prédios...
21.11.16
Nem sei como explicá-lo,
mas é como se o tempo pudesse ser representado por uma casca espessa, cheia de
nós cada vez mais difíceis de interpretar e, em simultâneo, por uma película
tão fina que não suporta qualquer enraizamento...
Por mais que se
insista que a árvore tem raízes milenares, que é necessário observar o seu
crescimento e ramificação, a verdade, mesmo se provisória, é que a folha se
move ao sabor da chuva e do vento, à mercê do frio e do calor.
Por um instante, a
película parece ganhar consistência, mas rapidamente se perde na confusão
dos dias.
Li, há uns minutos, um
queixume sobre o ocaso dos amigos, e não pude deixar de pensar que
a história de cada vida se assemelha ao curso da folha que já nem o
rouxinol ousa cantar.
20.11.16
«As viagens são
consideradas geralmente como sendo uma deslocação no espaço. É pouco. Uma
viagem inscreve-se simultaneamente no espaço, no tempo e na hierarquia social.» Claude
Lévi Strauss, Tristes Trópicos
A sucessão de lugares, a
vertigem do percurso, o tempo insuficiente para encurtar a distância, como se
os intervalos nada pudessem contar, apenas dourados estéreis fastidiosos - a
viagem...
O espaço só ganhava
consistência se houvesse um pouco mais de tempo - raro. Impossível, hoje! E
quando espaço e tempo confluíam, isso significava, por um lado, mais folga
financeira e, por outro lado, descoberta de desnivelamento social - de
desigualdade.
Por aqui, é a bananeira
que expõe um cacho de bananas contra a chuva e contra o frio, insistindo numa
viagem condenada ao malogro...
Acolá, é a
Fundação Calouste Gulbenkian que mostra As Linhas do Tempo que
a regem, como se a viagem pudesse ser nossa (1986-1956-2016). A
entrada é livre e gratuita!
O difícil é ficar indiferente à riqueza que permite este festim do
gosto que inebria e que convida à viagem...
Por mim, hoje, o meu
pensamento está com a bananeira...
19.11.16
O projeto assenta em 38
turmas. Hoje, as turmas são 42. O espaço é o mesmo - consequência:
as salas vão aumentar de área, podendo, assim, aumentar o número de
alunos... ou, pelo contrário, as salas vão diminuir de área, de modo a
criar gabinetes de trabalho...
Diz-se que o investimento
é de 12 milhões de euros para escorar o edifício, modernizá-lo e, pelos
vistos, deitar umas salas abaixo. Ou não será nada disto?
Há uns anos, o
investimento era de 20 milhões para escorar o edifício, acrescentá-lo, em
pisos e salas. O acréscimo não causava problema, o que incomodou
muita gente foi a vintena de plátanos que insistem em florescer
nos pátios...
Desconfio que daqui a uns
anos, nada disto será problema. O tempo tudo cura!
18.11.16
O
Deus deste dia é brasileiro!
Ele quer ajudar você.
Comece agora seu relacionamento com Deus. Para que diacho fui eu colocar-me
"entre ruínas"?
Deus não perdoa! Na sua
sapiência infinita, entra por este blogue e provoca-me, acusando-me de não o
acolher devidamente - afinal, ele espera que eu lhe solicite ajuda...
Desconfio que o Deus
deste dia é brasileiro: os pronomes não enganam (você / seu) ... sem esquecer o
"relacionamento".
Pessoalmente, preferia
estar numa 'relação' com um Deus que me ajudasse desinteressadamente. Afinal,
não sou eu que o impeço de cumprir a sua missão.
17.11.16
«A verdade é sempre
provisória.» José Fernandes Fafe, A colonização portuguesa e a
emergência do Brasil, Círculo de Leitores, Temas e Debates, 2010.
Se a verdade é sempre
provisória, o que dizer da mentira? Provavelmente que, com o tempo, o que era
certo deixa de o ser.
Talvez tenha sido por
isso que inventaram as religiões - a melhor maneira de contrariar a ideia de
que a "morte é certa"...
Dizem-me que os Estados
Unidos da América prosperaram porque a religião calvinista admitia que o
capital seria a chave da redenção do indivíduo...
Dizem-me, também, que o
Brasil se atrasou na redenção capitalista, porque a religião católica sempre
foi um entrave ao sucesso da pessoa, porque esta vivia vigiada pelo dogma de
fonte divina... isto é, romana...
Por mim, que nada sei,
espanta-me que, em 2017, Estados Unidos e Brasil possam vir a viver em
convulsão permanente, como parecem anunciar os apelos à guarda pretoriana.
E nós, por aqui, na boca
do túnel, por entre ruínas...
16.11.16
Os
professores bestiais são raros!
«Basta que (...) para
que, nas carteiras, os olhos adquiram outro brilho e o silêncio se torne
explicitamente natural e fecundo.» Mário Dionísio
Já não basta que o
professor se afaste do conteúdo a memorizar ou da resposta a dar!
Logo que as raízes
procure explicitar, a interrupção é inevitável, " mas isso é
história", "mas isso é português antigo ou nem isso - latim,
talvez!".
Logo que procure explicar
que o nome próprio contém uma história por descobrir, uma responsabilidade
acrescida, um sentido de pertença a não alienar, o silêncio que nunca chegou a
ser desfaz-se em grunhidos e em sorrisos gulosos...
Logo que pressinta que
tem de voltar a explicar que a comparação são dois termos em que a substância
do segundo serve para dar conta da bestialidade do primeiro, alvoroçam-se
as mochilas e vão à sua vidinha.
Para tudo há uma
explicação: - os professores bestiais são raros!
15.11.16
Nos
100 anos de Mário Dionísio
Para que não se
construa o futuro sem memória! Nos 100 anos de Mário Dionísio,
exposição cedida pela Casa da Achada.
Esta exposição pode ser
visitada até ao dia 24 de Novembro nas Caves da Escola Secundária de Camões.
14.11.16
Abandonados há anos, os
campos de jogos tiveram um custo. Qual? Ninguém quer saber.
Desaproveitados há anos,
os jovens não podem exercitar-se ao ar livre, o que também tem um custo. Qual?
Pouco interessa se a Higiene e Saúde são descuradas!
Ao longo dos tempos foram
identificadas as razões para tal abandono. Não sei se hoje ainda são as mesmas,
a verdade é que os arbustos ocupam, imperturbados, os campos de jogos... e os
responsáveis dormem, também eles, o sono dos justos.
Com o decorrer dos dias,
o assunto vai caindo no esquecimento, e a natureza agradece!
13.11.16
Não gosto do título
"Carta aberta ao Marcelo" do Diretor do DN, Paulo
Baldaia! (DN, 13.11.2016)
Embora no artigo, Paulo
Baldaia se dirija sempre ao Exmo. Senhor Presidente, a familiaridade
do título banaliza a função do presidente da República portuguesa...
Talvez Paulo Baldaia se
tenha deixado arrastar pela imagem do presidente da República a estender roupa
para as televisões na Cova da Moura...
Neste caso, Paulo Baldaia
transforma o DN num jornaleco. Ao Diretor do DN exige-se mais decência.
12.11.16
Não sei se o senhor
ministro da educação faz ideia do nível de língua dominante nas escolas
portuguesas. Nem sei se tal preocupação existe... A verdade é
que surgem todos os dias testemunhos da pobreza linguística em que a
comunidade escolar mergulhou...
A informalidade popular
assentou arraiais escorada num único pilar - o calão - linguajar universal
tão banalizado que os locutores nem consciência têm do que vão papagueando. De
qualquer modo, a promoção do indivíduo (que não da pessoa!) estriba-se na força
ilocutória do palavrão...
Já lá vai o tempo em que
se defendia uma 'escola participativa'; agora, refere-se muito a 'escola de
qualidade'.
Creio, no entanto, que a
escola de hoje é o lugar da indecência, da bufonaria... uma escola que aliena,
porque favorece o 'indivíduo' em detrimento da 'pessoa'...
Como eu gostaria de estar
enganado!
11.11.16
«Envio-vos como
ovelhas para o meio dos lobos; sede, pois prudente como as serpentes e simples
como as pombas. Tende cuidado com os homens...» São Mateus, Livro II
Embora entenda a mensagem, tenho cada vez mais dificuldade em aplicá-la, pois
já não sei como distinguir as serpentes das pombas. Por outro lado, se
observarmos de perto, verificaremos que pombas e serpentes se movem pelo
interesse que, para simplificarmos, designamos por instinto...
Em conclusão, a prudência
também nos pode defraudar.
10.11.16
Dispersar: Fazer
ir para diferentes partes.
Dispersão
biológica: conjunto dos processos que possibilitam a fixação de
indivíduos de uma espécie num local diferente daquele onde viviam os
progenitores.
Hoje, fui acusado de
dispersão!
Lembrei-me, de imediato,
do professor e comunicador Vitorino Nemésio. Não podendo ombrear com tal
referência da cultura lusófona, pus-me a pensar se a acusação não teria origem
numa qualquer doença do espírito... Consultei três dicionários, um de Filosofia,
outro de Psicologia e, finalmente, um de Psicanálise. Nenhum deles aborda a
"dispersão" como doença mental...
Insatisfeito, ainda
pensei nas recentes neurociências, mas sem resultado... até que dei comigo a
magicar nos processos migratórios e, em particular, nos degredos a
que foram condenados milhões de homens, mulheres e crianças na Alemanha,
na URSS e na China, só para me situar no séc. XX.
Neste momento, dou conta
que já entrei em dispersão, embora sem vítimas, penso...
Não sei se desista, porém,
apercebo-me de que a acusação é a expressão do desprezo absoluto do que de
positivo e de negativo a História oferece - um desprezo gerado pelo sistema de
ensino que, alguns, ainda designam por 'sistema educativo'.
Sem saberem, os
acusadores acusaram-me de os 'querer fazer sair' do habitat em que se sentem
confortáveis - a caverna da alegoria.de Platão. A minha luz está a
apontar-me o dedo " não digas nada, esquece Platão, a caverna, e
nunca pronuncies a palavra 'alegoria'... limita-te ao Pavlov, mas nunca o
cites".
Peço desculpa!
Dispersei-me mais uma vez. Vou regressar à caverna... E acabar com as
hiperligações!
9.11.16
«Quem semeia ventos,
colhe tempestades.» provérbio
Acordei cedo e esbarrei
na incerteza. No entanto, o resultado já não oferecia dúvida.
E pensei: - O que é que
irei dizer aos meus jovens alunos sobre o futuro determinado por estas eleições
americanas?
De súbito, o provérbio
esclareceu-me a resposta. Donald Trump abateu-se sobre todos nós como uma
tempestade. Esta, porém, mais não é do que a consequência. De nada
serve querer, agora, exorcizá-la.
Porquê?
Porque não há
consequência sem causa, ou seja, o problema foi criado por todos aqueles
que, nas últimas décadas, soltaram os ventos da desigualdade e da
iliteracia... (as dinastias, as oligarquias, as plutocracias...)
Por enquanto, vou esperar
que depois da tempestade surja a bonança... e que não seja
necessário elevar uma forca em cada praça...
8.11.16
As
eleições nos Estados Unidos
A imprudência é um
comportamento que, creio, deve ser imputado à ignorância. Ora, nos países mais
ricos, dominados pelas elites mais esclarecidas, servidos por tecnologias de
ponta e por armamento cada vez mais sofisticado e destruidor, há cada vez mais pobres
cujo acesso à escola não vai além dos rudimentos necessários à sua
identificação.
Identificação que não
identidade! Estes ostracizados têm em comum o desprezo absoluto pelo
cosmopolitismo e pelo liberalismo, pois este encontrou meios de os
marginalizar, amputando a liberdade a todos prometida... Liberdade, em
termos de sucesso individual no seio da comunidade, apenas reservada aos
acumuladores de riqueza.
Aquilo a que estamos a
assistir nos Estados Unidos é à destruição da democracia através da
subversão total do conceito de liberdade.
Depois do acentuar das
desigualdades, do colapso das doutrinas da fraternidade, laicas ou religiosas,
entrámos num tempo em que, através do voto, a imprudência pode tornar-se
um instrumento de terror e de caos.
A questão já não está em
saber quem ganha as eleições, mas em perceber se a partir de amanhã restará de
pé algum pilar do sistema democrático. Ou seja, se não iremos assistir ao
enterro dos pais fundadores.
7.11.16
«Na sociedade
estado-unidense reina a liberdade de culto e não há religião de Estado. Porém,
com os que não professam nenhuma religião essa tolerância diminui. Porque a
sociedade é fundamentalmente e esmagadoramente religiosa (desta ou daquela
Igreja, desta ou daquela seita). Daí que, se um negro pode ser presidente
dos Estados Unidos, um ateu ou um agnóstico... pomos dúvidas.» José
Fernandes Fafe (2010), A Colonização Portuguesa e a Emergência do
Brasil, pág. 63, Temas e Debates / Círculo de Leitores.
Se, amanhã, Donald
Trump ganhar as eleições, as fronteiras elevar-se-ão no interior da União.
O grande império americano acabará, à semelhança do que aconteceu com a URSS.
E nós, ficaremos à mercê
dos ventos da discórdia...
Por hoje, resta-me a
esperança de que José Fernandes Fafe tenha razão, pois não conheço o Deus de
Trump, embora pressinta que os fundamentalismos o sirvam fielmente.
6.11.16
O
pai foi em viagem de negócios
Emir Kusturica nasceu a
24 de novembro de 1954, já no final do período informbiro (1948-1955),
tempo em que Tito rompeu com Estaline. A palavra informbiro designa
o modo pelo qual os Jugoslavos se referiam ao Cominform, uma
abreviação para "Secretariado de Informações".
É dessa época que
Kusturica extrai o argumento do filme "Otac na Sluzbenom
Putu" (O pai foi em viagem de negócios), realizado em
1985.
Quem nos conta a história
é o pequeno Malik que, de início, acredita que a ausência do pai se deve a
negócios, mas que, com o tempo, perceberá que a razão é outra. O pai,
apesar de deportado pela polícia política, foi vítima de cupidez.
Malik conta-nos,
assim, a odisseia da família num cenário político de traição e
convenção, em que o dinheiro acabará por ser o único valor.
5.11.16
Chamada de “Davos para
Geeks”, a Web Summit realiza-se entre 7 e 10 de novembro no MEO Arena e Feira
Internacional de Lisboa (FIL), e traz consigo vários eventos paralelos que
juntarão os mais institucionais e os mais informais, em momentos de discussão,
mas também de descontração, como a Night Summit e os Pub Crawls ou a Surf
Summit, que arranca hoje na Ericeira.
Os bilhetes para a Web
Summit custavam 900 euros cada um. Para jovens entre 16 e
23 anos, a organização vendeu ainda milhares de bilhetes promocionais
a nove euros.
Afinal, eu não sou
'geek'! Estou fora do padrão de peculiaridade ou de excentricidade que
carateriza estas 'pessoas'. Tenho bem mais de 23 anos e o que ganho não
me permite adquirir um bilhete por 900 euros para este evento...
Provavelmente, esta minha ausência acabará por significar que eu sou
qualquer coisa como 'uma não pessoa', fazendo, desde já, parte da
'peste grisalha', que não merece qualquer respeito... até porque na Web
Summit pouco restará da língua portuguesa.
Há, no entanto, algo que
eu posso assegurar é que, de 7 a 10 de novembro, ninguém me apanha no Parque
das Nações...
Geek (pronúncia
no IPA: [ˈgiːk]) é um anglicismo e uma gíria inglesa que se refere a pessoas
peculiares ou excêntricas, fãs de tecnologia, eletrônica, jogos.
4.11.16
Depois de tanto
tempo a desconstruir, decidi que, doravante, serei muito mais
diretivo...
O que é que isto
significa? É simples! A construção do 'novo' círculo esgotou-se - a
liberdade extravasou de tal modo que a comunicação definhou...
O anseio voltou a ser de
clausura - eliminação da razão e aposta em tarefas que matem qualquer tempo de
partilha construtiva...
É como se a consciência
se tivesse esfumado ou a ciência tivesse perdido o sentido da sua edificação.
Ser diretivo é levar a
cabo um processo de robotização.
3.11.16
Vivir a la ocasión. El governar, el discurrir, todo ha de
ser al caso. Querer quando se puede, que la sazón y el tiempo a nadie aguardan. Baltasar Gracian, Oráculo
manual y arte de prudencia.
Tudo leva a crer que
chegámos a um ponto em que a ocasião faz o ladrão. Não há dia em que não
decorra uma investigação a crimes de corrupção ativa e passiva. Desta vez, está
em curso 'a operação Zeus'. Pobre Zeus!
Lá vai o tempo em que a
honestidade (a honra) determinava os limites à ação humana, exigindo uma
resposta rápida e adequada a cada situação, e na medida do saber e do poder de
cada indivíduo.
Desprezados o saber e a
honestidade, cada um deita a mão ao que pode, uns de forma discreta, outros à
tripa forra.
2.11.16
Hay a veces entre un hombre y otro casi otra tanta
distancia como entre el hombre y la bestia, si no en la substancia, en la
circunstancia; si no en la vitalidad, en el ejercicio de ella. Gracián, Baltasar: El discreto
A diferença não se
encontra na substância, mas, sim, na circunstância. Um ditador na Venezuela, na
Guiné Equatorial, na Turquia, na Síria, na Coreia do Norte, na Rússia ou a
caminho da Casa Branca, não se distingue, em substância, dos condenados à
morte, ao desemprego, à pobreza - à miséria, tout court.
De facto, é a
circunstância que permite que uns tantos se apropriem do poder - não interessa,
aqui, a sua natureza - para esmagar as restantes criaturas... E a
circunstância, como se sabe, é feita de espaço e de tempo de que o ditador se
vai apropriando para melhor gerir a sua bestialidade, apesar de, neste caso, a
propriedade nada dever a quem carrega o peso da falta de alma...
31.10.16
Os
Frutos da Terra, de Knut Hamsun
Embora haja quem o
considere o autor europeu mais influente em 1920, ano em que lhe foi
atribuído o prémio Nobel de Literatura, a verdade é que, até esta data, eu
nunca lera nada do norueguês Knut Hamsun (1859-1952).
Acabo de ler Os
Frutos da Terra (1917), romance que me foi oferecido com uma menção
que me deixou perplexo - esta narrativa corresponderia ao meu rosto... Li-o,
assim, na perspetiva do margrave Isak, o colono que ousou
desbravar terras norueguesas inóspitas próximas da Suécia...
Esclareça-se desde já que
desconhecia por inteiro o termo "margrave" e, sobretudo, que
significa "título dado outrora aos príncipes soberanos de certos estados
fronteiriços da Alemanha." Quanto ao título, não vejo razão para que alguém
me considere "margrave", apesar de, por vezes, me sentir posto à
margem, e não senhor da "margem", relembrando, agora, que um dia
distante, Maria de Lurdes Pintasilgo me terá dito que toda a margem tem um
centro...
De qualquer modo, li as
382 páginas em muito pouco tempo, pois a narração é suficientemente
diversificada para, a partir de um núcleo - Sellanraa - se dispersar por vários
caminhos que põem diante do leitor: a apologia da sociedade agrícola,
a fraqueza do dinheiro, a precariedade da vida urbana e
principalmente dos valores em que esta assenta, sem esquecer a fogosidade
da mulher, capaz de incensar o companheiro, mas também de o desprezar e de
matar os próprios filhos...
O romance termina com a
vitória do modelo rural sobre a modernidade, abrindo caminho a um
certo de tipo de sociedade patriarcal que tantos estragos viria a provocar na
primeira metade do século XX... o que, talvez, explique a simpatia de Knut
Hamsun pelo regime nazi...
Enfim, apesar de
publicado em 1917, não encontrei qualquer referência à Primeira Grande Guerra.
Explosões só as resultantes da extração de azurite - pedra ideal para eliminar
os obstáculos que se nos atravessam na vida.
30.10.16
Uma alfarrobeira! Esta
situa-se na Portela.
Há anos que a observo, um
pouco surpreendido, pois não vislumbro outra por perto...
O nome árabe começou por
designar "vagem", depois o povo encarregou-se de misturar as línguas,
por um processo bem simples... Se a árvore se distinguia pela suas vagens,
nada impedia que com um prefixo árabe e um sufixo comum "eira", o
compósito designasse o todo. Nada que eu não descubra em mim próprio:
nascido com algum "cabelo", logo houve quem lhe acrescentasse o
sufixo "eira". Esqueceram-se, no entanto, do prefixo
"al", provavelmente porque a Inquisição andava mais ocupada em acabar
com os judeus...
Nada disto fará
sentido. Todavia, um destes dias, a alfarrobeira interpelou-me: o cheiro que
ela libertava era tão intenso que, de súbito, me ocorreu que na minha aldeia
(terra de figueiras) também terá existido uma alfarrobeira... e ao cheiro associei
um sabor adocicado. Só não sei onde é que crescia tal alfarrobeira! Talvez no
adro da capela de Nossa Senhora da Luz!
29.10.16
Da
Biblioteca Nacional ao Centro Comercial Vasco da Gama
Durante a manhã, entrei
na Biblioteca Nacional, em Lisboa. O objetivo era ver a exposição sobre
Vergílio Ferreira, nascido em 1916. Situada na "sala de referência",
a exposição ocupa uma parede, não toda, porque ainda há espaço para expor o
acervo traduzido de Bob Dylan, recente prémio nobel da
literatura, que Vergílio bem gostaria de ter recebido... De tudo o que
observei, fica-me na retina a letra miudinha do autor, homem certamente tímido
e introvertido. E também a máquina fotográfica, ferramenta imprescindível ao
"realismo" do escritor...
O espaço silencioso
daquela sala convida a que se revisite os catálogos e por entre eles acabei por
descobrir o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516), com inevitável
alusão ao Prólogo, mas o que, desta vez, despertou a minha atenção foi o
volumoso in-fólio inquisitorial, onde o Censor dá prova de atenta leitura, ao
apontar de forma minuciosa as passagens que teriam de ser cortadas.
Sem querer
referir todas as pequenas "celebrações", convém, no
entanto, não perder a exposição Da Feliz Lusitânia à Felix
Belém.
Em síntese, talvez por
ser sábado, fiquei com a sensação de que a BN já terá sido um lugar mais
procurado - havia 10 leitores na Sala de Leitura Principal.
Durante a tarde,
desloquei-me ao Centro Comercial Vasco da Gama. O bulício era tal que
cheguei a pensar que o Natal estaria à porta.
28.10.16
Na morte, aplaudimos.
Selecionamos os lugares,
as ações, os acontecimentos em que tudo foi harmonia, entrega, paixão e amor ao
próximo.
Na morte, somos filhos do
único deus que nos concebeu sem mácula, que proibiu as fraquezas...
Na morte, estamos todos
de acordo. Em vida, a inveja cega. O interesse esmaga. A vaidade despreza...
Na morte, batemos palmas.
Não se sabe é a quem...
27.10.16
Mas o que torna uma
liderança carismática? Sócrates responde. “As lideranças carismáticas são,
muitas vezes, um produto das crises. As pessoas revelam-se nessas alturas de
crise. O carisma é sempre algo de excecional, de fora do comum. O maior
inimigo do carisma é a rotina”. Em entrevista à TVI
Carisma.
S.m. 1. Força divina conferida a uma pessoa, mas em vista da necessidade ou
utilidade da comunidade religiosa. 2. Epilepsia (v. carismático*). 3.
Atribuição a outrem de qualidades especiais de liderança, derivadas de sanção
divina, mágica, diabólica, ou apenas de individualidade excecional. 4. O conjunto
dessas qualidades.
José Sócrates tudo faz
para vender o novo livro, escrito a quatro, seis mãos... Ataca agora António
Costa e Marcelo Rebelo de Sousa porque lhes falta CARISMA. Ainda bem!
Ele, sim, é um líder
carismático porque soube enfrentar a crise. Será que alguém duvida do seu
contributo para a solução dos problemas dos portugueses? Ele está convencido
de que é nos momentos de crise que se revelam os líderes
carismáticos. Eu também, acredito que a liderança pode afirmar-se nessa
situação.
Só que dispenso o
"carisma", pois se há alguém que se tornou «popular» e
"célebre" durante e após a crise foi ele, José Sócrates. E porquê?
Porque lhe faltou a necessária educação para destrinçar o que é do interesse
público do que é do interesse pessoal... e seus amigos.
O problema de
José Sócrates é um problema axiológico. E já é tarde para aprender que nem
todos os meios justificam os fins. Dir-se-á que Sócrates nunca leu Maquiavel
ou, pior, não sabe lê-lo!
26.10.16
«In rem omnem
diligentia.» Cíc. Fam.
Hiperatividade. Déficit
de atenção. Estes conceitos dominam o discurso de pedagogos, psicólogos,
pais e docentes. Tempos houve que bastava a noção de desatenção. Dispersão.
Avesso a modas, fui
observando os comportamentos e dei conta de que a indisciplina se
ia instalando - primeiro combateu-se a disciplina do Estado Novo, e, mais
tarde, a vontade democrática passou a ordenar...
Entretanto, com a
instalação do pântano democrático e o consequente desmoronamento dos
valores, a hiperatividade e o déficit de atenção instalaram-se...
Quanto mim, só
vejo deseducação. Os Antigos bem sabiam que o sucesso só estava ao
alcance de quem se concentrava totalmente no objetivo.
25.10.16
A
arte e a bestialidade humana
Conhecer o território?
Compreender as migrações, forçadas ou não, e o seu contributo para a
dignificação, por exemplo, da mulher nas cortes do nordeste peninsular?
Perceber que a cortesia (o amor cortês) foi essencial para a elevação
da condição feminina na Idade Média pouca interessa...
Afinal, em termos
civilizacionais, a arte parece ser pouco mais do que um ato gratuito,
fruto da ociosidade de alguns, privilegiados, ou um serviço prestado a um
mecenas, ávido de glória terrena e de reconhecimento eterno.
E mesmo que assim fosse,
a boçalidade reinante é tão impulsiva que falta o tempo para olhar o passado
como lugar e tempo de aprendizagem... Porém, sobra tempo para dar expressão a
tudo aquilo que a Arte, desde sempre, procurou combater: a bestialidade humana.
(Este apontamento
assinala os hiatos em que a voz se cala para ouvir as verdades babélicas que
crescem sem qualquer freio... Se as deixarmos à solta, a Torre acabará por
ruir.)
24.10.16
Umas são caras, outras
raras, sem esquecer as feias - as palavras.
Hoje, aprendi que
"discípulo" é uma palavra feia.
Ontem, descobri que há
palavras inefáveis, de tão raras. Por exemplo, "polissénantica"!
Há dois dias, soube que
'obsceno' é o termo adequado ao nível lexical da "oratória".
Há até palavras que mudam
de fatiota de acordo com a essência do locutor: "incenscial",
"icensial", "incensial"
- Que tal vai a mixórdia?
Numa versão de última hora: - Que tal vai a "michórdia"?
23.10.16
No
museu de Cerâmica de Sacavém
Por mais que o queiramos
ignorar, a verdade é que envelhecemos, o que não quer dizer que o tempo passe
e, sobretudo, que tudo possa desculpar, em particular, a mistificação.
No Museu de Cerâmica de
Sacavém, duas exposições a não perder: uma sobre os móveis OLAIO, empresa que
não conseguiu sobreviver aos ventos democráticos; outra sobre a Fábrica de
Loiça de Sacavém, definitivamente perdida, no dia em que as FP25 assassinaram
o administrador, Diamantino Bernardo Monteiro Pereira.
A visita a estas duas
exposições é um bom testemunho do que aconteceu em Portugal com o
desmantelamento de muitas empresas, apesar do slogan de Abril SACAVÉM EM
LIBERDADE É OUTRA LOIÇA!...
22.10.16
Novo filme, bem
realizado, simpático, com os temas de sempre, embora com um ajuste de contas
entre Hollywood e Nova Iorque. Os judeus noviorquinos, para o bem e para o mal,
superam a artificialidade hollywoodesca.
Claro que há outras
contas por ajustar entre o judaísmo e o cristianismo, entre a identidade e a
alteridade...
E, principalmente, na
música e nos amores, o que predomina é a autorreferencialidade, mesmo que o
realizador já tenha dobrado os 80 anos...
Quanto ao
público, na maioria, idoso, continua a rir, como sempre... Por vezes,
parece que ri de si próprio.
21.10.16
"Vem aí mau
tempo. Inundações e cheias nos próximos dias" - diz a notícia... que
prevê. Outrora, a notícia informava.
E nós, indiferentes ao
oráculo! E nós, desconfiados do oráculo, pois este só anuncia a catástrofe
quando pode tirar proveito ou, pelo menos, tomar partido...
No que me concerne,
detesto a astrologia, sobretudo, porque ela passou a ditar os acontecimentos
que bem podiam ser diferentes se não lhes dessemos tanta atenção.
As notícias são cada vez
mais promessas de sibilas ressabiadas. A comunicação social está pejada dessa
espécie satânica, e o mal que provoca é incalculável...
20.10.16
Mário Draghi: «...são
necessárias reformas ambiciosas e o governo português sabe disso.»
Há anos que, por esta
altura, surge este estribilho. É o momento em que se apresenta e debate o
OGE.
Mudam os Governos e o
estribilho regressa. O que me intriga é que ninguém explicita quais são as
reformas adequadas ao país... e na verdade, nos últimos anos, não foi feita
qualquer reforma, a não ser cortar nas reformas e.… adiar as reformas...
O resto é propaganda!
Finge-se que se repõem vencimentos e reformas, mas não é possível repor o
que se perdeu ou o que se não progrediu, até porque, em simultâneo, as
taxas e as multas multiplicam-se... O que diminuiu foi o consumo, embora
se persista em insistir no contrário. Entretanto, em finais de 2016, seremos
menos 0,4%!
PS. Reposto o vencimento de 2011, aplicadas as deduções
referentes à ADSE, CGA e IRS, acabo de verificar que em 2011passei a receber
menos. Viva a Propaganda!
19.10.16
Eles não sabem, nem sei
se algum dia chegarão a saber, mas deste modo não irão a lado nenhum... O
esforço é mínimo, a convicção máxima; já pouco lhes resta por aprender.
Provavelmente,
argumentarão que já não há onde ir, e que eu há muito o devia saber - o
país já foi; resta uma múmia para turista visitar.
Entretanto, riem em coro,
não sabendo porquê, talvez do que 'acham' ver: ninguém pensa, imagina, estima,
acredita, crê... apenas 'acha', e 'acham' a todas as horas, em todos os
lugares, independentemente da situação, porque estas são todas iguais, as situações...
Alinhados, lembram-me os
periquitos de colar, uma espécie exótica que esvoaça ruidosamente sempre
que um espectro se move na copa dos plátanos...
O que parece gratuito e
absurdo é, afinal, consistente e lógico!
18.10.16
Agora que a persiana
voltou a subir, a luz dilui-se na fachada, e, por cima do prédio, as
nuvens cinzentas imobilizam-se numa promessa ambígua, apesar do braço do Tejo,
sequioso, serpentear o verde aluvião resultante do desleixo humano...
A fachada divide-se,
agora, em duas, e no topo, a luz torna-se mais solar; por seu turno, o rio
escurece à espera de que a nuvem cumpra o seu destino.
Os olhos distraem-se da
atenção do dia - ruas cheias de manjedouras, intermináveis filas de
carros, leituras cruzadas na sala de aula -, perscrutando quatro
parabólicas de antanho, esquecidas ou que, talvez, esperem captar um qualquer
sinal extraterrestre...
Entretanto, a luz
continua a subir a fachada, deixando as persianas na sombra... as nuvens
estão, agora, numa fase de diluimento, alongando a toalha, ambígua, sobre o
Tejo, à esquerda...
E eu nada
posso!
17.10.16
É quase noite! Ou melhor,
a luz solar vai diminuindo... de súbito, quando decidira verificar se a luz
artificial se anunciava, a persiana baixou, indiferente ao desejo,
absurdo.
Segundos antes, pensara
que aos leitores só interessam as primeiras palavras, e não querendo ceder à
gulodice, caio na dúvida se o sentido ainda existe, absurdo.
Nesse intervalo, relembro
o gesto, absurdo, em plena rotunda do relógio - abro a porta, verifico se o
cinto ficara preso, ou talvez a aba do casaco, azul às riscas, vinte anos,
vestido pela primeira vez na defesa de uma leitura imagológica, absurda como
o tempo se encarregou de provar... afinal, a senhora, a mando do marido, queria
saber para que lado ficava o aeroporto.
Do outro lado da rotunda,
ainda avistei uma interminável fila de taxistas da semana anterior,
absurda - só eu é que a via; o casal não queria saber da luta, só
queria as chegadas ou, melhor ainda, as partidas...
Se a alvorada fosse
minha, teria partido em vez de ficar a pensar no gesto absurdo, pois o que a
senhora queria de mim era que eu baixasse o vidro naquele semáforo
que, entretanto, passara a verde, indiferente ao casaco absurdo que um dia
fora comprado para celebrar uma iniciação absurda...
Se o leitor chegasse ao
absurdo do dia que anoitece, cerraria as pálpebras e, no absurdo, ficaria até
que o semáforo se esfumasse.
16.10.16
Se cada ano fosse apenas
um dia, estaria, hoje, a iniciar o sexagésimo segundo dia - um trilho
cuja duração não parece ter sido definida à partida, isto contrariando o
Diderot, para quem tudo estado está escrito "lá-haut, dans le grand
rouleau"... Claro que este dia incluiria a noite, a grande
mistificadora...
Às voltas com um PC que,
a cada passo, interrompe a elaboração de um qualquer teste, porque
lhe apetece ou porque entende que eu, hoje, deveria entrar em modo de pausa...
concentro-me numa afirmação, para mim, inesperada de Claude Lévi-Strauss e
relembro o Sartre e, em particular, o Vergílio Ferreira:
«Quanto à corrente de
pensamento que iria expandir-se com o existencialismo, parecia-me
que representava o contrário de uma reflexão válida em virtude da complacência
que demonstrava relativamente às ilusões da subjetividade. Essa
promoção das preocupações pessoais à dignidade de problemas filosóficos
implica um risco de desembocar numa espécie de metafísica para
costureiras...»
Claude Lévi-Strauss, Os Tristes Trópicos.
A verdade é que, não
sendo capaz de formular um problema filosófico em que eu não participe, me
vejo, ao sexagésimo segundo dia, incapaz de vislumbrar o fim do trilho, caindo,
assim, numa abordagem própria de uma exemplar costureira que só dá a obra
por terminada quando o fio se quebra...
15.10.16
Depois da estranheza do
prémio nobel de literatura atribuído a Bob Dylan, da morte de José Lello,
da apresentação do orçamento recheado de "toma e tira" para que o
poder não lhes fuja... exposição de orquídeas na Estufa Fria (só até amanhã!),
e assim como quem não quer saber do que se está a passar em Alepo, uma
hora e quarenta e seis minutos na Sala Manoel de Oliveira - 17ª Festa do Cinema
Francês - também só até amanhã!
"Les Malheurs de
Sophie" (ou Les Désastres de Sophie?), uma comédia dramática, por vezes
hilariante, mas um pouco violenta para crianças de seis ou sete anos. Bien
sûr, a culpa é da madrasta! Eu acabei por sair cansado...
Até amanhã!
14.10.16
O
'menino de ouro' está mais pobre
José Lello, o socialista
amigo
«Em 1979 fui
candidato à Assembleia, mas não quis ser deputado...» Porquê? «Ganhava-se mal.
48 contos ou isso. Eu tinha comprado casa, estava a ganhar dinheiro no
privado.»
«Sempre estive nas
minorias, mas nem por isso deixei de ter cargos relevantes. Mas é nessa altura,
estava o Ferro na liderança, que começamos a fazer a campanha do Sócrates. E
ele não queria; era do secretariado do Ferro... Estamos na altura do Durão Barroso,
fazíamos uns jantares, começou-se a colocar coisas na imprensa... E ele ficava
furioso, achava que era uma coisa indelicada. Mas nós não tínhamos nada a ver
com isso, éramos claramente contra o Ferro.»
«Era um grupo forte e
onde estava o Serrasqueiro, o Renato Sampaio. O Costa também vinha aos nossos
jantares. O Pina Moura. Foi aí que surgiu o "menino de ouro"...
E, de repente, o Santana cai e o Ferro demite-se. (...) E pronto, ele apareceu,
nós já tínhamos feito o levantamento das federações todas - é assim que se
trata da mercearia partidária. E ele ganhou claramente as eleições.»
(Transcrições da entrevista dada por José Lello ao jornal i, 19 de setembro de
2015)
Em 19.09.2015, postei,
neste blogue, um pequeno comentário sobre "o socialista
amigo". Acabo de saber que faleceu, o que confirma que, em questões de
vida e de morte, a mercearia partidária nada pode. Paz à sua
alma!
Entretanto, logo, pela
manhã, ouvi na rádio que o 'menino de ouro' vai publicar novo livro, baseado na
'sua' dissertação de doutoramento sobre o CARISMA.
Na dúvida,
fui consultar o Médio Dicionário Aurélio que transcrevo:
Carisma.
S.m. 1. Força divina conferida a uma pessoa, mas em vista da necessidade ou
utilidade da comunidade religiosa. 2. Epilepsia (v. carismático*). 3.
Atribuição a outrem de qualidades especiais de liderança, derivadas de sanção
divina, mágica, diabólica, ou apenas de individualidade excecional. 4. O conjunto
dessas qualidades.
* Outrora, se um
condenado à morte sofria um ataque epilético, recebia o perdão, por
acreditar-se ter sido visitado pela graça divina.
Em síntese, o
"menino de ouro" está mais pobre, porque partiu um dos amigos que
mais contribuiu para que o engenheiro acreditasse que era fruto de
sanção divina, no caso, redentora... ou que tinha sido escolhido pelo Supremo
Arquiteto para tal missão...
13.10.16
O Bob Dylan ganha o
Prémio Nobel da Literatura! Pois é, não vou louvar nem deplorar. É um pouco
tarde para o fazer...Registo. Para mim, é quanto basta!
A Literatura é uma casa
muita antiga que, de verdade, abarca quase tudo. E no início, as palavras
preenchiam os ritmos e davam voz ao que os corpos não conseguiam expressar e,
sobretudo, eram as âncoras da memória...
Sem a palavra
da canção, os ritmos iniciais teriam desaparecido com os corpos. A
Literatura consagra essa relação.
Quanto ao Prémio Nobel da
Literatura, não sei.
12.10.16
Divulgação
em linha de dados pessoais pelas escolas
A Comissão Nacional de
Protecção de Dados (CNPD) condena numa deliberação recente o que considera ser
“uma prática generalizada” de divulgar dados pessoais dos alunos nos sites das
escolas, como as pautas com as classificações, imagens dos menores e os horários
letivos. E alerta para os riscos que esta publicação traz para essas crianças e
jovens, nomeadamente para a sua segurança.
Com base no princípio
da confiança, escarrapachamos cada vez mais informação nos sítios das
escolas e, particularmente, em bases de dados que, em teoria,
visam acelerar a comunicação, como, por exemplo, com 'programas' que
gerem a vida académica dos alunos...
Para além de colocarem em
linha a fotografia de cada aluno, a respetiva avaliação, a
constituição das turmas, as faltas, o calendário de testes e
as atividades extracurriculares, estas bases de dados identificam os
alunos com necessidades educativas especiais, abrangidos pela Ação Social
Escolar... e outros apoios educativos solicitados pelos professores...
Vivendo numa
sociedade que prefere a devassa à discrição, o melhor é aplicar as
recomendações da Comissão Nacional de Dados... antes que seja tarde!
11.10.16
Não há ninguém que
explique à senhora Cristas que aquela expressão que ela vai repetindo...
"temos uma austeridade à la esquerda" soa bastante mal e não
funciona como slogan político.
A senhora é mãe de filhos
e como tal não lhes devia servir maus exemplos linguísticos. No colégio, as
crianças marcharão "à la esquerda", o que é pouco habitual no ensino
privado em Portugal... Discriminados, os petizes acabarão por ter dificuldades
de adaptação e um fraco domínio da língua materna, hipotecando o seu
futuro e o da mátria, como diria a Natália Correia.
10.10.16
Acabei de passar na
segunda circular, mesmo ao lado da rotunda do relógio. Na primeira, o trânsito
fluía; na segunda, tudo atafulhado.
Cheios de
"razão", os taxistas bloqueiam os acessos ao aeroporto e asseguram
estar preparados para acampar por ali, comendo uma sopinha e um franguinho
assado... De álcool, ninguém fala!
Os turistas (e não
só!) lá vão arrastando as malas; uns procuram chegar ao avião; outros,
procuram a cidade, pensando que os hotéis ficam perto...
A causa parece estar na
concorrência, invisível e mais económica! Creio, contudo, que o imobilismo
é a principal causa...
Como sempre, sobreviverá
quem souber adaptar-se às circunstâncias...
Quanto ao Governo, ouvi
dizer que o ministro do ambiente estaria envolvido nas negociações. Não percebo
porquê, embora isto já cheire bastante mal...
(Amanhã, lá terei de
ligar o GPS mental para não me deixar bloquear.)
9.10.16
"Se fossemos
realistas, saberíamos que a alegria é um luxo e que a tristeza é o estado
natural do homem... "
Não sei se "o meu
coração é árabe", nem se tal faz algum sentido, o que sei é que o CANTO
ONDO soube escolher e musicar belos poemas para contrariar o meu estado de
resignação.
No Museu Calouste
Gulbenkian, com vista para o núcleo de arte islâmica, o CANTO ONDO trouxe de
volta alguma poesia do Al Andaluz português, de que destaco os seguintes
versos:
Acaso te deixarás
conduzir
pela tristeza até à morte
Enquanto o alaúde tocar
e o vinho fresco
Estão aí à tua espera?
Que as preocupações
não se tornem senhoras
de ti à viva força
Enquanto a taça for
uma espada cintilante
na tua mão.
AL MUTAMID, REI POETA AL ANDALUZ, BEJA, Séc. XI
7.10.16
O
leitor, a literatura e a política
Como leitor, deixei de
obedecer a um plano de leitura.
Agora, estou a ler "Tristes
Trópicos", de Claude Lévi-Strauss, uma obra quase da minha idade.
Estarei atrasado, mas de nada serve apressar-me, até porque noutros tempos li
imensos livros que já esqueci...
De junho para cá, li dois
romances de Stendhal, um autor fascinante - Le Rouge et Le Noir e Lucien
Leuwen.
Stendhal retrata de
forma impiedosa a França dos finais do séc. XVIII e as primeiras décadas
do século XIX, sobretudo, a vida na capital e na província - universos
distintos - mas conduzidos por um único valor: o dinheiro. Claro
que o amor, nas suas múltiplas máscaras, está sempre presente, sobretudo, em
Lucien Leuwen, que não escapa às manobras (nem sempre do
protagonista) que conduzem à busca de uma melhor posição social e ao
enriquecimento...
Todos querem enriquecer!
Banqueiros, Ministros, Deputados, Presidentes de Câmara, Prefeitos... e, como
tal, tudo fazem para eliminar quem quer que se lhes atravesse no
caminho...
Ler Stendhal é conhecer
um pouco melhor os bastidores da atual política portuguesa, inscrita no
paradigma resultante do 25 de Abril. Bem sei que a ideia não é simpática, mas
realistas e republicanos pós-revolução francesa comungavam do mesmo objetivo.
Numa perspetiva de
história literária, vale a pena cotejar Stendhal com Almeida Garrett. Nenhum
deles tinha ilusões quanto ao sentido da mudança..., pelo menos, para este
leitor.
6.10.16
Perdão fiscal?
Será efeito da escolha de
António Guterres para Secretário-geral das Nações Unidas? Ou antecipação da
inevitável amnistia para assinalar a vinda do Papa a Portugal, em
2017, para celebrar os 100 anos das Aparições de Fátima?
Não temos perdão! Como
nem Guterres nem o Papa Francisco conseguirão o milagre de nos libertar da
dívida, vamos continuar de mão estendida por tempo indeterminado...
5.10.16
O
António Guterres que se cuide!
A rapaziada republicana
está eufórica!
O pior é que
ela acredita que a escolha do António Guterres para Secretário-geral
das Nações Unidas foi obra sua...
Eu, por mim, estou
convencido que os dois votos de desencorajamento são daqueles países que
não compreendem por que motivo os partidos políticos portugueses devem
continuar isentos de pagar o IMI.
O António Guterres que se
cuide! O número de amigos está a aumentar a olhos vistos, começando pelos
bancos da escola...
Definição: estigmatizar
- marcar com ferrete, por pena infamante; acoimar, tachar. (Médio
Dicionário Aurélio)
A propósito da cobrança
de IMI, o republicano Montenegro disse ao DN: "Nós não compreendemos
que se queira agora estigmatizar os partidos."
E parece que o cavalheiro
anda em boa companhia. Os republicanos PSD, PS e PCP pensam do mesmo modo.
No dia em que se celebra
a implantação da República, a rapaziada republicana quer conservar os
velhos hábitos do Antigo Regime - de fora, ficam a Igreja, os Partidos, o
Estado, as Fundações...
Afinal, quem é que merece
ser acoimado? Decerto, o povo. Esse, sim, continuará a pagar o IMI e todas
as taxas que o Governo e o Parlamento bem quiserem, até porque há quem tenha
posto a circular que o ministro das Finanças nos vai cobrar mais de 17 mil
milhões até 31 de dezembro de 2016. Só para cumprir promessas!
4.10.16
Tal
como as línguas, o saber é dinâmico
A investigação nas áreas
do conhecimento cresceu de tal forma que o saber pressupõe cada vez menos
certezas e, principalmente, exige uma abordagem cada vez mais relativizada,
porque, apesar da overdose informativa, há sempre dados que
escapam ao sábio...
É até questionável se
ainda existem sábios, apesar dos governos, por vezes, apostarem em comités de
sábios para, supostamente, se aconselharem aos olhos da opinião pública.
Como tal, não faz sentido
a memorização de saberes, a não ser que se queira construir um modelo de
sociedade (e de conhecimento) assente em dogmas... Claro que é possível (e
vantajoso) adquirir certos automatismos, como, por exemplo, exercitar o cálculo
mental e interiorizar os jogos de linguagem.
O saber pressupõe o
manejo de ferramentas que vão mudando de época para época, mas não se esgota
nelas. Surge frequentemente o argumento "de que os portugueses sabem
de mais" e que o nosso futuro está na aposta no ensino profissional.
Recentemente, um ministro defendeu 50% de cursos profissionais nas escolas
portuguesas... Por detrás, habita a ideia de que nos basta memorizar uns tantos
saberes sobre nós e os outros, e que o fundamental é lançar mãos à obra.
Ora, no mundo em que
vivemos, as obras, velhas ou novas, exigem cada vez mais investigação
que alavanque os saberes. Tal como as línguas, o saber é
dinâmico.
3.10.16
Sortes
distintas para o prevaricador
Asfixiamos! A pressão, em
certas épocas do ano, aumenta exponencialmente. Agora é a discussão do
orçamento! Agora é o reinício do ano escolar!
Quer-se que o orçamento
satisfaça os interesses das clientelas partidárias e, em simultâneo, seja
capaz de agregar cada vez mais neófitos. Pouco interessa se há ou não
recursos próprios, porque a expectativa vive do financiamento externo e julga
razoável que o crédito possa ser ilimitado... e, sobretudo, que a amortização
seja adiada indeterminadamente...
Quer-se que a escola seja
um espaço acolhedor, com boa comida e festança, sobretudo, muita harmonia. Para
tal, gizam-se atividades sem fim, integradoras e transversais, mesmo se os
conteúdos essenciais ficam por assimilar por falta de tempo e de monitorização.
Com a pressão a aumentar,
as taxas de juro não param de cantar. Só na escola, se a pressão aumenta, a
solução é fácil, pois basta um ou dois processos disciplinares, e manda-se o
prevaricador bugiar...
1.10.16
A maioria dos
alunos frequenta o 10º ano pela primeira vez.
Solicitei-lhes, à laia de
diagnóstico, que escrevessem sobre o tema "As minhas Escolas".
E fizeram-no de forma
responsável. Nem todos se lembravam do nome das escolas; outros, preferiram
omiti-lo ou terão pensado que essa informação não era relevante...
Até ao momento, já
registei o nome de 45 escolas da Grande Lisboa. De algumas, é possível colher
dados rigorosos sobre o espaço físico, mas, na maioria, o que, sobretudo,
aflora é a avaliação centrada na relação entre alunos, na existência de espaços
favoráveis ao divertimento e, por vezes, no clima de bullying que se abatia
sobre rapazes e raparigas, sem omitirem que a violência do meio entrava
portas dentro e tornava o ambiente muito pesado.
No geral, estes alunos
iniciaram o percurso escolar em espaços acanhados, mas simpáticos, para depois
transitarem para espaços mais vastos, nem sempre acolhedores. Cada um fez o seu
caminho com maior ou menor dificuldade, gratos a funcionários e a professores,
mas nem a todos... indo ao ponto de dar conta de situações abusivas da parte
dos adultos... Nem todos revelam ter grande consideração pela
"escola", mas acabam por reconhecer que sem ela estiveram a hipotecar
o futuro. De qualquer modo, ainda não perderam a esperança de serem felizes no
presente e no futuro. À sua maneira!
30.9.16
A
Banca e o Fisco de mãos dadas?
FISCO: parte
da administração pública encarregada da definição e cobrança de taxas e
impostos.
Só uma mente tresloucada
pode imaginar um país governado pela Banca e pelo Fisco.
Quanto aos banqueiros já
sabemos do que são capazes...
E quem é que assegura a
idoneidade da parte da administração pública encarregada da cobrança?
Por outro lado, este
aperto de mão quer afastar a Justiça, porque, apesar da lentidão, ela
incomoda políticos e banqueiros e poderia começar a cercar os zelosos
cobradores de impostos.
Não sei se os olhos nos
pregam partidas, embora acredite que sim. Entre saber e acreditar há, no
entanto, um espaço enorme que a muitos não causa qualquer perturbação, de
tal modo lhes basta crer...
A situação agrava-se,
quando sem ver e só por ouvir, fazemos fé no que ouvimos dizer, de tal modo
que nos pomos de acordo ou, pelo contrário, divergimos...
O que ouvimos sobre os
outros deveria deixar-nos sempre de pé atrás. Afinal, não estivemos lá para
confirmar...
E, raramente, estamos.
Por vezes, passamos, mas sempre longe... o que vemos mais não é do que uma
incidência que utilizamos demasiadamente como prova do que achamos mais
conveniente... E alguém fica a perder!
29.9.16
Alguém lhe chamou
"parque linear ribeirinho" no estuário do Tejo. É atravessado por um
trilho que conduz a Fátima ou, para os mais ousados, a Santiago de Compostela.
Às 15 horas, não encontro
peregrinos; apenas dois pescadores perscrutam as águas turvas, aparentemente
sem sucesso... Num banco de jardim, um homem de meia-idade espreguiça-se ao
sol. No bar "guarda-rios", um jovem termina a navegação no
smartphone, antes de frustrar o cliente de ocasião - afinal, acabaram-se os
gelados! Só café, a 80 cêntimos, e sumo de laranja, a 2 euros!
Entro no trilho,
levantam-se as libelinhas, azuis, e as águas inclinam-se para Fátima, embora
por lá não passem. E no meio do canal (sapal), linear, o que sobra de outra
navegação, ainda azul... turquesa, talvez propriedade de uma antiga
princesa.
Incongruente: que
contém ou apresenta contradições; que se opõe aos padrões e/ou a regras
preestabelecidas; sem lógica; contraditório, desconexo ou incoerente.
Se os dias não existem,
poderão as horas contar? Não sei, porém elas alongam-se à medida que
a incongruência cresce...
Do que tenho observado,
perante comportamentos desregulados, pouco podemos fazer. Nem sequer nos é
permitido surfar a crista da onda... é vê-la crescer e
esperar que ela desfaleça...
Ao contrário dos dias, as
horas de incongruência incham a um ponto que nem a rã da fábula
alguma vez experimentou.
27.9.16
O que interessa é o ouro,
o brilho, o corte de cabelo, o brinco, o piercing, a tatuagem, a marca, o
bronze, a nudez, o milhão ... e mentiras, muitas!
A mentira está de
regresso, não porque se tenha voltado a mentir, mas porque a inverdade já não
convence.
Agora, ao acaso, a
mentira marca o discurso do político, do comentador, do sociólogo, do juiz,
do presidente da agremiação ... já não é a criança que mente até
porque ela deixou de recear que a mergulhem na casa das
cobras...
A mentira é atualmente a
arma dos covardes... a arma dos falsários...a arma dos vendidos... a arma dos
néscios.
26.9.16
Alberto
Gonçalves pensa que é bonecreiro
«Ao longo da sua curiosa carreira,
o dr. Louçã contou sempre com uma plateia de bonequinhos
amestrados que levam a sério os incontáveis disparates que
regularmente profere. Se a criatura se alivia de
uma mentira pequenina, os bonequinhos acreditam. Se a mentira
é grande, os bonequinhos acreditam também.» Alberto
Gonçalves (Sociólogo), Mais depressa se apanha o dr. Louçã do que um
coxo, DN, 25 de setembro de 2016
Os sublinhados são meus!
E revelam o desprezo que o senhor Alberto Gonçalves sente pela esquerda
portuguesa.
Não sabia que o
excremento já se tornara matéria da Sociologia, mas pelo que vou ouvindo
vende bem.
(Deste comentário não se
pode inferir que eu concorde com o Doutor Louça ou com certas ideias do Bloco
de Esquerda.)
25.9.16
Enquanto o possidónio
José António Saraiva alimenta a crónica mundana nos jornais, nas revistas, nos
canais de televisão e nas redes sociais, acolitado pelo Passos Coelho, na
Jordânia, em Amã, o escritor NAHED HATTAR é assassinado em frente do tribunal em
que estava a ser julgado por delito de opinião contra o ISLÃO.
Infelizmente, há cada vez
mais quem não queira esperar pela decisão dos tribunais, o que, na Jordânia -
país em que 90% da população é sunita -, abona a favor da justiça jordana.
Por cá é o que se vê: a
literatura latrinária consegue elevar um autor sem escrúpulos a notícia
nacional.
24.9.16
«...as bases do PS e
da JS estão cheias de cães. Para não dizer mesmo alguma 'canzoada' ao estilo de
João Araújo.» Não refiro o autor da afirmação, pois odeio o
estereótipo.
Chamar "cão" ao outro é um insulto medieval que era
resolvido no campo de batalha. Basta ler os cronicões e as crónicas - sem
esquecer OS LUSÍADAS - para dar conta do tratamento a que eram submetidos os
mouros, os castelhanos, os judeus e os indígenas africanos e
asiáticos.
Em pleno século XXI, há
quem insista em recorrer à mesma terminologia, apesar da confessada
devoção à doutrina do Papa Francisco.
Felizmente, o Papa atual
nada tem a ver com o fanatismo medieval. Pena é que os seus seguidores não
consigam acompanhá-lo no ecumenismo e, principalmente, na forma impoluta como
trata os que discordam da sua doutrina e condena os que insistem na
violência...
23.9.16
De momento, nem sol nem
lua! Até o momento mais não é do que verbal ilusão... e tudo o que
vem é infinita repetição...
De qualquer modo, vou ver
se o elevador não falha a sua missão...
21.9.16
À Calais, Londres finance l’édification d’un mur
végétalisé en béton haut de 4 mètres et long de 1 kilomètre pour sécuriser la
RN16, la nationale qui mène au port et longe la « jungle », le
bidonville où vivent 6 900 réfugiés selon la préfecture (plus de
9 000 selon des associations) désireux, dans leur grande majorité, de se
rendre au Royaume-Uni.
Le mur, d’un coût de 2,7 millions d’euros, doit
également être équipé de caméras de surveillance. Le Monde.fr avec AFP
Desde cedo, o homem
aprendeu a edificar cercas. Primeiro, com o argumento de que precisava de se
proteger dos animais. Depois, com o argumento de que precisava de se
defender dos homens que lhes queriam assaltar a cerca...
De cerca em cerca, o
homem chegou à fronteira. Delimitou tudo o que pôde e chamou-lhe seu,
mesmo que isso significasse apoderar-se de tudo o que fazia falta ao
outro...
Entretanto, para que a
memória do outro - animal, mineral, homem - não se perdesse, elevou-lhe museus,
estátuas, ciências e bibliotecas, sem se esquecer de os arrumar, segundo o
mérito do conquistador, do filantropo...
Nas prateleiras da
memória, os muros são intermináveis - construídos e demolidos - sem
qualquer proveito, pois aqueles que se orgulham de ter defendido a
liberdade, a fraternidade e a igualdade, são os mesmos que edificam novos
muros de betão coberto de
musgo...
20.9.16
Estou numa fase em que
não consigo perceber o que se passa à minha volta. Uns andam ocupados, embora
insatisfeitos; outros, andam ocupados sem nada ganhar; outros, andam
simplesmente sem nada fazer - não esquecendo os que fingem que
andam ocupados, de tal modo que parecem mais cansados do que os
restantes...
O problema deve ser meu
que me gasto a tentar compreender o curso dos dias, como se eles seguissem
algum rumo.
A verdade é que os dias
não existem; só o sol e a lua cumprem a rotina de nos obrigar a procurar uma
ocupação, sem a qual mais não somos do que areia por desfiar.
19.9.16
O advogado estava a
ajudar um cliente a resolver um problema corrente, quando a autoridade
entrou portas dentro. O objetivo do Ministério Público era apreender
documentação que permitisse fundamentar um dos casos de circulação não
autorizada de capitais, envolvendo políticos, empresários, entidades
bancárias nacionais e estrangeiras...
Feito arguido, o advogado
ficou à espera de que o caso fosse deslindado. Até hoje! Já lá vão
cinco anos...
Ser arguido, em Portugal,
significa ficar limitado, impedido, por exemplo, de se apresentar num
qualquer concurso público, de redefinir a vida profissional.
No caso em causa, já
houve quem tivesse sido preso e mais tarde posto em liberdade. Sem acusação até
à data!
Lembrei-me do arguido,
quando esta manhã, por volta das 7 horas, à saída da Portela, me
cruzei com um pelotão de agentes musculadamente armados e
que cercavam três barracas de ciganos e dois ou três machos... mulas,
cavalos, sei lá! Provavelmente procuravam armas, droga ou algum
foragido... Ao atravessar o dispositivo policial, pensei será que não corro o
risco de ser feito arguido?
Na minha idade, ser
arguido já não põe em causa o meu futuro, mas se tivesse apenas 30 anos, como
seria?
18.9.16
A psiquiatria é a
ciência dos sintomas de perturbações invisíveis da mente... Se assim é,
porque é que os psiquiatras se limitam a observar (a ouvir) os
supostamente afetados?
Creio que o diagnóstico e
o tratamento seriam muito mais seguros se estes profissionais do «mistério» se
dessem ao trabalho de ouvir a família, os amigos, os colegas de trabalho...
isto é, se conhecessem o meio em que o «doente» evolui...
Aflige-me que haja casos
em que o psiquiatra aumenta e diminui a dose de uma certa
"substância" só porque o doente lho sugere por telefone.
Não consigo entender como
é que um psiquiatra pode avaliar o "estado" de um indivíduo sem sair
do gabinete... cobrando em média 100 euros.
Este apontamento é, em
parte, resultado da leitura do testemunho do psiquiatra - José Luís Pio de
Abreu, autor da obra "Como Tornar-se Doente Mental":
«A Psiquiatria está em
crise, mundial. Ainda ninguém sabe o que é a mente. (...) Escreve-se
mais do que se lê. Existem instrumentos, o problema é saber se são bem
usados. Há muitas ofertas da psicologia e psicoterapia, o problema é a
orientação no meio desta selva.» in Público, 18 de set. 2016
17.9.16
Uma
corrente intempestiva e de fogo
As imagens
que dão conta do fluxo ininterrupto são diluvianas e vulcânicas - uma
corrente intempestiva e de fogo que engole e devora todo e qualquer
obstáculo...
Ao obstáculo só resta
deixar-se submergir e consumir na expetativa de que o fluxo se esgote, ainda
que por pouco tempo...
Claro que do lado de lá,
há sempre quem se alimente do rio, que mansamente mergulha no oceano, e do sol
que insiste em acariciar o terreiro em que repousa...
16.9.16
No início deste novo ano
letivo, não sei como fugir à logomania, isto é, à vontade imperiosa de falar.
Sei, no entanto, que o meu jovem público detesta a descrição, a explicação e o
comentário, mesmo se construídos de forma breve e coerente...
Em tempos de dispersão,
escutar deixou de fazer sentido e acaba quase sempre em indisciplina (violência
verbal; alheamento), porque o enunciado, mesmo se reduzido à expressão nominal,
é cada vez mais confundido com divagação, digressão...
E estou a referir-me
à logomania benigna, porque da logomania psicótica é melhor não falar... Essa
põe à prova a paciência de qualquer santo.
15.9.16
Não contacte
para... faça-o, por exemplo, através do e-mail 'macagomes@hotmail.com '
O verbo contactar pode
ser usado quer como transitivo direto («contactar alguém»), quer como
transitivo indireto, selecionando um complemento oblíquo («contactar com
alguém»), conforme se pode consultar no Dicionário Sintáctico de Verbos
Portugueses, de Winfried Busse (Coimbra, Livraria Almedina, 1994).
Há situações que
devem ser acauteladas, sobretudo quando queremos promover um
produto, defender uma ideia...
14.9.16
Um degrau! Afinal, a que
é que poderemos aspirar nesta vida?
Subimos e descemos
e, no intervalo, oferecem-nos uma cadeira ou até um sofá...
Quis ir ver "O
rio", mas não havia lugares - depois de esgotadas as reservas, sobraram
uns tantos degraus... e como o objetivo era encher a sala...
Não sei se havia algum
bombeiro de serviço, mas como não quis dificultar a sua tarefa,
retirei-me... Um destes dias, vou ver se compro atempadamente a cadeira para
poder descer "O rio". Sim! Para mim, já é difícil subi-lo.
Um degrau é que não!
12.9.16
- "Torres novas é tão bonita,
não tem mais nada a publicar sobre ela senão mato e árvores?"
(comentário no Facebook)
- O dia é de intenso calor; a cigarra
goza-o enquanto pode. A criança pergunta: - Quem é que canta tão alto? A
mãe responde: - o grilo, meu filho!
- Na Alameda (Lisboa), três jovens
"brasileiros" afinam o conhecimento. Um deles pergunta: -
Com quem é que ela estava? Com o namorado baiano? Resposta de outro:
- Não, ontem ela estava com o brasileiro. Ela já não quer nada com o baiano!
Os baianos têm a mania que são bons e nem sabem falar...
11.9.16
Cortada,
mas pronta a resistir
Esta oliveira vive no
Vale do Oceano. Centenária, por vezes parece que vai definhar. No entanto, se
ajudada, acaba por resistir muito para além do lenhador. Vive rodeada de
figueiras, mas também não rejeitaria a presença de algumas amendoeiras...
10.9.16
Talvez eu esteja a
exagerar, mas preocupa-me que alguns médicos desconheçam o nome de certas
doenças, mesmo se raras, ou de medicamentos prescritos pelos psiquiatras...
E sobretudo é preocupante
que, num quadro de hipotermia grave, o médico não infira que muitas das
certezas do paciente possam ser resultantes do seu quadro clínico...
Por outro lado, não me
parece razoável que a "história" contada pelo doente acabe
frequentemente por substituir o diagnóstico, competência que, creio, deveria
ser do médico...
Se, nos hospitais
privados, o recurso aos meios auxiliares de diagnóstico pode ajudar a
determinar o estado do paciente ou, pelo menos, a atenuar a
responsabilidade do clínico, em sentido contrário, tal pode não acontecer nos
hospitais públicos - espera-se que o doente caia em sonolência e manda-se
para casa...
Na minha longa
experiência, como doente ou como acompanhante, há muito que deduzi que o factor
económico, em múltiplas situações, se sobrepõe claramente à
responsabilidade de "acompanhar o paciente" até que o problema seja esclarecido...
os doentes vão sendo empurrados... alguém vai enriquecendo... e o país,
orgulhoso do sistema nacional de saúde, tem encargos financeiros
insuportáveis...
Talvez esteja a
exagerar... e depois há os médicos cuja formação me parece pouco
consolidada...
8.9.16
Há coisas que é melhor
esquecer. Ontem foi um desses dias supinamente preenchido, mas que me deixaram
de rastos... Como não sei se virei a recuperar, decidi que doravante passarei a
sofrer de amnésia seletiva...
Bem sei que este tipo de
amnésia é traumático, porém não me importo. Prefiro que o trauma
acabe em recalcamento...
Lúcido, aqui, declaro que
não suporto curandeiros de qualquer espécie, mesmo que se trate de psicólogos,
psiquiatras e psicanalistas...
6.9.16
|
Praia das
Adegas |
Este lugar está
reservado a nudistas, e alguém se lembrou de o designar de "Praia das
Adegas"... Não vejo a relação, embora, hoje, seja mais fácil andar nu do
que coberto. Será efeito do vinho?
Se há quem prefira os
vegetais, por que motivo as plantas não hão de ser carnívoras?
Enfim, hoje estou a
seguir a lição de Stendhal:
« - Ne croyez rien, mon ami, que ce que vous
aurez vu, et vous en serez plus sage. »
Lucien Leuwen
Só o que vejo me
conforta... os meus ouvidos já naufragaram...
5.9.16
Não fosse o calor, todas
as outras penas ficariam esquecidas...
Desde que cheguei à Costa
Vicentina que me vejo confrontado com o meu inimigo principal - outrora,
atormentava-me na colheita dos figos e das uvas...
Desta vez, o ar esmaga-me
a respiração e o nariz rebenta como se onda fosse... e nem sequer conhece o
intervalo das marés...
A onda é de calor e
liquefaz-se a cada instante, noite e dia.
Parece que tem origem em
Marrocos!
4.9.16
Um domingo numa praia
portuguesa. Colorido...
3.9.16
Na praia, os olhos bem
podem perder-se nos botões que se espreguiçam gulosamente ao sol, mas é nas
escarpas que eles descansam.
As escarpas escondem as
aves que as procuram; o sol enlouquece e esmorece...
2.9.16
Embora perto, tudo o que
vemos é de longe. Se nos aproximarmos deixamos de enxergar. Talvez pudéssemos
sentir, mas nada nos garante que não fossemos descontinuados.
Hoje, a paisagem não
revela a poeira que a inunda nem o calor que a atravessa.
1.9.16
Flexibilizar:
"Hacer algo que pueda ser adaptado a las circunstancias..."
Se não se quer ou não se
pode mudar o Programa, o que é o docente pode efetivamente fazer? Ou deveria
fazer?
A resposta parece
simples. Há que adaptá-lo às circunstâncias, desde que,
previamente, haja clarificação dos fatores e, sobretudo, haja hierarquização
das prioridades.
E quais são essas
prioridades?
- A progressão cognitiva, emocional e
motora do aluno.
- A aquisição dos conteúdos adequados a
essa progressão.
O resto é música
editorial e descaraterização da função do docente...
31.8.16
Dilma
Rousseff afastada. E pode?
Senado decidiu contra a
chefe de Estado brasileira por 61 votos contra 20. Dez de 13 investigados no
âmbito da Operação Lava Jato votaram a favor.
Dilma Rousseff afastada
da Presidência pelo Senado. E pode? Acusada do quê? De ter deixado avançar a
Operação Lava Jato?
Lembra o tempo em que o
voto do povo ainda não existia. O tempo romano!
E quanto ao novo
Presidente Temer, será que o Brasil entrou no tempo em que a traição rende?
30.8.16
Por razões familiares,
nos últimos meses, tive de me deslocar à rua da Bombarda, em Lisboa. Diga-se
que antes nunca tinha ouvido falar de tal arruamento... Peculiar, pois é uma
daquelas vias em que entrando nela não se pode voltar para trás e onde é quase
impossível estacionar.
Quando há obras à entrada
ou no interior, corre-se o risco de ficar indefinidamente bloqueado - e por ali
impera a lei do embrulho urbanístico.
Por aquilo que vou
observando, o embrulho urbanístico é lucrativo, pois permite desalojar,
arrendar a preços de mercado e, sobretudo, subalugar a jovens estrangeiros
perdidos nos subúrbios da Graça e do Castelo...
Enfim, nestes meses
calcorreei o Bairro das Colónias, cada vez mais multicultural e enlatado e, a
tempos, desemboquei na Graça, atualmente sem graça, tantas são as obras e,
sobretudo, sem que se veja o traço do arquiteto.
Hoje terá sido o último
dia em que fui à rua da Bombarda... e até consegui estacionar em frente do nº
62, logo a seguir a uma oficina de automóveis que nunca vi encerrada. Houve
sábados, domingos e feriados em que antecipei que poderia estacionar em frente
daquele portão. Mas não!
29.8.16
A Câmara Municipal de
Lisboa aprovou 292 propostas de trabalhos desde o início de 2015, ano em que
adjudicaram 74% das obras. E vão continuar até 2020: estradas e passeios,
praças e largos.
Ainda estamos em agosto e
é cada vez mais difícil circular na cidade. Hoje, precisei de percorrer a
avenida Infante D. Henrique e fiquei parvo com a quantidade de entraves criados
à circulação rodoviária e pedonal, sem esquecer os velocípedes.
Recordo que ainda há
poucos anos aquela via foi objeto de profunda remodelação que deverá ter
custado umas dezenas de milhões de euros... Provavelmente, nem houve tempo de
amortizar os empréstimos!
Há nisto tudo algo que me
incomoda. Donde é que vem o dinheiro necessário ao pagamento de todas estas
empreitadas? Será da Caixa Geral de Depósitos?
E no final, quantos
novos-ricos haverá a mais?
28.8.16
Perdi-lhe o nome, mas,
sempre que ele invade o ecrã, fico sem saber o que fazer - ouvi-lo pela enésima
vez; se mudo de canal, temo que o emplastro tenha decidido abdicar do seu papel
de "Velho do Restelo", e eu perca o acontecimento.
O problema é de que nada
serve mudar de canal, pois o emplastro vive neles como o Velho nas páginas
d' Os Lusíadas. E condena-nos à morte, inevitavelmente.
O emplastro lembra-me o
Presidente do Conselho, Oliveira Salazar, que insistia no argumento de que
"a razão" estava do seu lado e que o tempo se encarregaria de o
mostrar.
O emplastro parece ser um
legitimista que nunca percebeu que quem provocou a mudança foi ele próprio.
27.8.16
"O cão não
abandona o caixão do dono."
A notícia vem de Itália,
mas poderia vir de qualquer outra parte do mundo.
Entre nós, porém, há quem
não se importe com o que acontece ao seu semelhante. Passe de lado, mude de
passeio, se esconda...
Em último caso, acena-se
com uns milhões de euros que vão direitinhos para o bolso dos
"empreendedores"... Há por aí quem deite os foguetes e apanhe as
canas!
24.8.16
Vou ficar em silêncio...
A lição é dos avós que poupavam nas palavras e, assim, evito o desconforto
alheio, de quem já andava farto de tamanha prosápia...
Sob as horas inúteis, de
que serve terçar armas por uma ou outra causa ou até, num tom mais intimista,
dar conta da tensão a que obedecemos cegamente...
Em idade juvenil, o
silêncio era por vezes cenário de uma imaginação colonizada por anátemas
demoníacos - no silêncio, o mafarrico destroçava-me o sossego...
Agora, chegou o tempo de
ouvir as penas e guardá-las só para mim. A quem poderiam interessar as minhas
penas?
23.8.16
Vou esperar um pouco
mais, embora a espera nada traga de entusiasmante... A atitude é masoquista,
mas resulta de uma paciência inexplicável.
Sensato seria não
esperar, porém de pouco serviria. Provavelmente só apressaria o desenlace. E
esse é inevitável, mesmo que finjamos ignorá-lo.
E lá voltamos à
paciência, isto é, à capacidade de suportar a rotina, o inesperado, a dor e até
a ambição de uns tantos que persistem em acreditar na imortalidade...
Dentro de dias, estarei
de regresso à alegria, postiça...
22.8.16
'Geringonça’,
apontamento político-linguístico
Desde que Paulo Portas
batizou o governo como 'geringonça' que procuro a origem do termo. Pela
sua sonoridade, encontro-lhe um laivo onomatopaico que me faz pensar na sua
antiguidade e, sobretudo, na sua expressividade de raiz popular... Afinal, o aristocrata 'Paulinho
das feiras', era sensível à quinquilharia e ao palavrão...
Por outro lado, pondo a
questão de forma cerimoniosa, o termo 'geringonça" pode ser uma
adulteração do castelhano 'jerigonza' que, certamente, refletirá o modo como os
senhores de Castilha olhavam para as nossas proezas... Sem esquecer, o
antepassado provençal 'gergon' que serviria para designar a impossibilidade de
compreender o linguajar da época avesso a qualquer norma, senhorial ou
conventual...
Andava eu nestas
cogitações, quando o olhar me caiu sobre a exemplificação de palavras
africanas (Caderno de Atividades / Novo Plural 10): lá estava a
'geringonça' no meio de outros termos mais ou menos suspeitos: «búzio,
cachimbo, canga, Congo, cubata, dengoso, embalar, fulo, geringonça,
lengalenga, macaco, manha, missanga, pipoca, tanga, tango»
Rogando pragas à
erudição, estou pronto a aceitar a última explicação. Foi em África,
provavelmente no Roque Santeiro, que o Paulinho descobriu a
'geringonça' e decidiu que era do seu interesse (e do PP e do Estado
Português) apostar no governo do José Eduardo dos Santos, mesmo que isso o
obrigue a afirmar que a geringonça portuguesa está para durar,
ao contrário do 'amigo' Passos...
21.8.16
Maria
Rueff em entrevista ao Diário de Notícias
"As pessoas não
são as políticas dos países." DN, 21 de agosto de 2016
Se puder, compre o DN
deste domingo, e leia, pois, irá ver que não se arrepende. Está lá tudo sobre
algumas das pessoas mais genuínas deste país dos últimos 50 anos, a começar
pela Maria Rueff...
A entrevista, conduzida
por Ana Sousa Dias, deveria ser de leitura obrigatória nas escolas deste país,
que persiste em valorizar valores efémeros e fátuos.
Este é um daqueles
testemunhos que, até hoje, melhor me explicaram que a 'glória política' pouco
tem a ver com o sentir e o viver das pessoas, que, de forma espontânea, choram
e riem sempre que alguém lhes fala ao coração...
20.8.16
O
IMI não pode ser um privilégio
O IMI deve ser um imposto
universal.
Como tal, sou contra
qualquer tipo de isenção a quem quer que seja - Fundações, Igrejas,
Associações, Estado, Banca, Municípios, Embaixadas, Emigrantes, Estrangeiros...
A exceção abre sempre a
porta ao privilégio...
19.8.16
Desta vez, tenho de estar
de acordo com o BCE.
Um Governo socialista,
apoiado por partidos à sua esquerda, esqueceu-se de colocar 30% de mulheres no
topo da CGD. Lembra o atual executivo brasileiro...
Um Governo socialista
quer que a CGD seja "governada" por 19 administradores, contrariando
a norma europeia. Um Governo socialista promove a acumulação de interesses
privados no banco de que o Estado é o único acionista.
Um Governo socialista
nomeia para cargos executivos "rapazes" sem formação adequada e ainda
se prepara para lhes pagar as propinas numa instituição sediada em
Fontainebleau. Por seu turno, os três rapazes (João Tudela Martins, Paulo
Rodrigues da Silva e Pedro Leitão) não se queixam por serem
obrigados a frequentar, em regime pós-laboral, o curso de Gestão Bancária
Estratégica do INSEAD.
Enfim, perante a
argumentação de rejeição das decisões do BCE, ainda fico à espera que o
senhor Mário Draghi imponha que o secretário de Estado do Tesouro,
Ricardo Mourinho Félix, vá frequentar um curso de Administração da Fazenda
Pública...
18.8.16
Caim, o
primogénito, era senhor dos campos que a sua vista conseguia enxergar e
neles não havia lugar para os rebanhos do seu irmão, Abel. Este, inicialmente,
resignou-se e levou o seu gado para além do alcance de Caim.
Só que, certo dia, os
montes começaram a secar, e Abel viu-se obrigado a procurar novo pasto no
fecundo horto de Caim. Os rebanhos de Abel, famintos, devoravam as primícias
que iam encontrando pelo caminho...
Um caminho sem regresso,
pois Caim, irado, acabou por degolar o infeliz Abel.
Esta é uma história em
que o Senhor não pôs nem dispôs. A causa tem de ser procurada nos pais, Adão e
Eva, que não souberam educar os filhos. E assim continuamos. De nada serve
pensar que Caim, mais tarde, se terá arrependido, e que isso bastaria para
que o mundo se tornasse mais solidário.
17.8.16
A colonização
é apresentada como "globalmente positiva". Nesse balanço, o
destaque é dado às infraestruturas herdadas da colonização, sem esquecer o
contributo para a fundação dos novos estados modernos - versão corrigida do que
outrora era designado por "missão civilizadora". Por outro lado, a
tendência é para desvalorizar a ação repressiva, voltando as costas à ação dos
exércitos coloniais e à "selvajaria" dos insurretos.
Na obra Massacres Coloniaux - 1944-1950 : la IVè Republique et la
mise au pas des colonies françaises, ed. La Découverte, YVES BENOT explica
que, entre 1944-1950, " ces répressions ont lieu dans un temps où
s'achève une guerre mondiale dont deux des principaux protagonistes,
l'Angleterre et les États-Unis, ont défini les termes de la Charte de
l'Atlantique (août 1941) qui proclame notamment le principe du droit des peuples
à disposer d'eux-mêmes, autrement dit, l'autodétermination". Principe
repris dans la Charte des Nations unies dont la France est cofondatrice en
1945.
Basta olhar para o
historial dos massacres perpetrados pelos franceses para perceber que o
princípio consagrado na Carta das Nações Unidas foi totalmente desrespeitado:
- O massacre de Sétif teve início no
dia 8 de maio de 1945, fazendo dezenas de milhares de vítimas argelinas (e
apenas 102 vítimas europeias).
- Os massacres de Rabat-Salé e de Fez,
em Marrocos, janeiro-fevereiro de 1944.
- O massacre de Haiphong, no Vietname,
em novembro de 1946.
- O massacre de Madagascar, em
1947-1948.
- O massacre de Casablanca, em abril de
1947.
- O massacre da Costa do Marfim, em
janeiro de 1950.
O direito à
autodeterminação radica numa linha de pensamento inaugurada por Diderot e pelo
abade Rayal, consagrada ainda durante a Segunda Grande Guerra, mas isso não
impediu os vencedores de o ignorar. Basta ver como Salazar constrói uma
doutrina colonialista que lhe permitiu avançar para a guerra, à margem dos
processos de descolonização em curso desde os anos 40...
E hoje, países como a
Turquia ou a Rússia continuam a fazer tábua rasa desse princípio,
eliminando e anexando...
(Referência inicial:
Augusta Conchiglia, Massacres Coloniaux, Nouvel Afrique-Asie, nº 63, Déc. 1994)
16.8.16
Desvario linguístico:
Identificado como
simpatizante da FNLA, Teta Lando foi forçado a procurar refúgio na vizinha
República do Zaire. " Logo que cheguei fui convidado para cantar com
aquele que é, quanto a mim, o maior artista que África já produziu, Franco
Luambo Makiadi. Só não o fiz porque o salário que me ofereciam era muito
pequeno. E como a única coisa que tinha levado comigo era o carro, tornei-me
tacheiro." Motorista de táxi na desvairada cidade de Kinshasa. A sua
situação espantava e incomodava os angolanos. "Às vezes apareciam clientes
angolanos. Teta Lando? Você por aqui, e ainda por cima
taxeiro?!" Público Magazine, 8 de janeiro de 1995.
15.8.16
Um pouco à deriva, sem
compreender por que motivo um país de costas voltadas para a espiritualidade,
usufrui de mais um dia santo cuja imagética é, em si, suficientemente
fantasista, ataco as páginas de jornais que persistem em assombrar-me, e lá vou
encontrando “estórias inverosímeis”, mas perturbadoramente atuais…
Os meninos da rua
«Os meninos de rua,
fenómeno recente em Angola, contam-se já aos milhares. Na sua maior parte,
ocupam o dia vendendo todo o tipo de utensílios, que por sua vez adquirem a
preços ligeiramente inferiores no grande paralelo de Luanda, o Roque Santeiro:
vendem cigarros, canivetes, relógios, pentes, máquinas de calcular, espelhos,
rádios, secadores de cabelo, e até aparelhos de ar condicionado. Outros lavam
carros, transportam volumes, pedem esmola. À noite estendem-se nos passeios ou
constroem pequenas barracas nas areias da Ilha, onde outrora os luandenses iam
namorar.»
Palavra de honra
«Dirigiram os dois a casa
do presumível ladrão. O homem convidou-os a entrar, ofereceu-lhes de beber e
finalmente quis saber o motivo da visita. Quando Carlos disse ao que vinham, o
ladrão sobressaltou-se: “Palavra de honra que não fui eu”, garantiu, “aliás, se
tivesse sido, vendia-lhe já o carro!»
Homem nu
«Pouca gente repara neste
homem, que há vários meses se passeia nu em ferente ao parlamento. O fotógrafo
do Público repara. Levanta a máquina, e depois volta a baixá-la horrorizado:
“Não posso fotografar isto!” O homem tem uma ferida aberta no ventre e os
intestinos expostos à luz.»
Dias Kanombo,
investigador kimbanguista*
“O Grilo”, sempre vestido
de verde, muda de nome consoante o interlocutor, saltando do português para o
francês, o inglês ou até o sueco, com a mesma facilidade com que falava
umbundu, kikongo ou otchivambo, o luminoso idioma do seu próprio povo – os quanhamas…
(Nascido no Cuvelai, no
Cunene, Kanombo é neto por linha materna do régulo local. O pai, alfaiate e
pastor, era também catequista numa missão luterana finlandesa. Kanombo chegou a
frequentar o seminário, mas rapidamente concluiu que não tinha vocação para
padre, vindo a completar o ensino secundário no Liceu do Lubango. Mais tarde,
frequentou a Universidade Kopta, no Egito, licenciando-se em Egiptologia…)
Nos anos 80 foi um dos
mais ativos elementos da juventude da UNITA em Portugal. Em 1992, reapareceu em
Luanda, durante a campanha eleitoral, despertando dúvidas antigas: “Afinal,
para quem trabalha este homem?” Kanombo responde com uma gargalhada: “Trabalho
para o Ciciba, Centro de Investigação da Civilização Bantu, e estou agora
baseado em Durban, na África do Sul, onde estudo a relação entre o antigo
idioma egípcio e algumas línguas bantu, em particular o zulu
*Tudo terá começado na
pequena aldeia de Nkamba, então Congo Belga, a 8 de março de 1921. Nessa noite,
Simão Kimbangu, catequista, antigo aluno de uma missão batista inglesa sonhou
que um anjo o visitava. Soube no mesmo instante que era reencarnação do
Espírito Santo e que tinha vindo ao mundo cumprir uma missão: “Os povos negros
foram os primeiros a cortar relações com Deus”, explica Dias Konambo “em
consequência disso são os principais responsáveis pela decadência do mundo”. A
missão do Espírito Santo, encarnado no pobre catequista de Nkamba, seria a de
recuperar para Deus os negros de África, salvando assim toda a humanidade (…).
Hoje (Público, 8 de janeiro de1995) o kimbanguismo é a religião mais
popular do Zaire. Na África do Sul, milhões de negros, os sionistas, seguem os
seus ensinamentos, enquanto no Egipto encontrou o apoio irrestrito da Igreja
Kopta.
Nota: O
Kimbanguismo é um Cristianismo resultante dos ensinamentos e obras de Papá
Simon Kimbangu baseados no Amor, Obediência as leis de Deus e o empenho no
trabalho. É uma nova civilização que pretende implementar as bases do humanismo
pelo temor de Deus e o respeito do ser humano sem discriminação de raça, tribo
e línguas. O kimbanguismo é a filosofia do renascimento do povo de Deus
sustentando a visão do respeito dos valores Divinos e humanos. Em suma, o
kimbanguismo é uma visão teo-antropocêntrica.
(Mais uma organização
tentacular!)
14.8.16
"Diz o roto ao
nu", neste caso "sobre o nu", pois a vontade de encontrar
cumplicidade é mais forte...
Lá na terra, nem pastor
era, ajudava na condução e recolha do rebanho comunitário, quando um forasteiro
lhe contou que em Lisboa é que a vida era boa... Sem perder tempo, abalou para
a capital.
Ainda se pensou que
estivesse destinado a ajudante de pedreiro, mas não, em Lisboa, os ajudantes de
pedreiro são todos engenheiros... Sem saber como, um conterrâneo arranjou-lhe
trabalho numa pastelaria.
E o roto, em vez de aviar
o freguês, lá vai dizendo que o colega nem o almoço merece...
13.8.16
Há coisas que eu não
compreendo:
- " A rede internacional
Feithullah Gülen conta com uma cadeia de rádios, televisões, jornais,
centros educativos, empresas, associações e fundações em mais de 140
países."
- "Vivem na Alemanha perto de 100
mil «güllenistas», além de 150 associações, 25 escolas, 15 «centros de
diálogo» e um jornal, o diário «Zaman», com um cordão umbilical
ao grupo religioso(...) sem se saber o que realmente são: «uma
comunidade de crentes islâmicos conservadores, uma rede profissional de carácter
missionário ou um movimento político islamita
radical»". Expresso, 13 de agosto de 2016
A verdade é que eu não
compreendo que se deixem constituir organizações tentaculares no
interior de estados de direito que deviam zelar pelo interesse coletivo.
12.8.16
António
Gonçalves Ribeiro tem biografia a menos
Ainda a propósito
daqueles que têm biografia a mais, hoje, ao reler documentação vária sobre o
regresso dos portugueses de África em 1974 e, sobretudo, em 1975, verifico que
há quem tenha biografia a menos. Pelo menos, é o que constato ao
pesquisar o nome de António Gonçalves Ribeiro, responsável pelo retorno de uma
boa parte dos 700 mil que vieram acrescentar 6% à população metropolitana.
O milagre do regresso e
da integração dos portugueses de África muito deve ao voluntarismo e
à abnegação desse português que tomou para si a responsabilidade que era
do MFA, do Presidente da República, do Governo e das Forças
Armadas... que bem se esforçaram por sacudir a água do capote. Lá no fundo, os
Governantes da época não eram muito diferentes dos do Estado Novo... Só a
ideologia mudara, o que não era pouco, pois isso significou que as
colónias (províncias ultramarinas) tivessem ficado nas mãos das potências
estrangeiras... e que os laços afetivos fossem definitivamente
destruídos...
O que explica muita
coisa! Não fosse essa irresponsabilidade (da cegueira doutrinária
de Salazar ao excessos dos primeiros anos da Revolução), não
estaríamos hoje tão mal governados e sob a batuta do eurocentrismo.
11.8.16
Uma travessa! Uma chávena!
Sempre o passado. A herança.
As pessoas só interessam depois de mortas. E nem todas!
Vivem nas porcelanas, nas fotografias, em certas palavras...
Quanto aos vivos, se longe, assombram a cada esquina de distância...
Se perto, falta a paciência, já é tempo de zarpar...
E depois pego no Livro da Vida, falta lá imensa gente. Olho à volta, e é tudo
tão inflacionado...
10.8.16
Ponte
aérea durante o Verão Quente de 1975
«Havia quem defendesse
(no Conselho dos 20, um dos órgãos do MFA) que os não devíamos
ajudar, porque eram fascistas. Lembro-me do tempo que se perdeu com
esta discussão e que a reunião foi inconclusiva a este respeito.» Vieira
de Almeida, ministro da Economia nomeado por Portugal para o Governo de
transição saído do Acordo de Alvor, assinado a 15 de Janeiro de 1975.
O tenente-coronel
Gonçalves Ribeiro acabou por ser o responsável pela ponte aérea. É provável que
os mais de 200.000 portugueses saído no âmbito da ponte aérea devam a Gonçalves
Ribeiro o facto de lhes terem sido postos à disposição os meios de fuga.
Gonçalves Ribeiro chegara
a Angola em 1972 para uma comissão de serviço de dois anos. A mulher e os
filhos regressaram a Portugal em agosto de 1974, mas ele optou por prolongar a
sua permanência na ainda colónia portuguesa. Integrou o Governo provisório que
administrou o território até ao Acordo de Alvor. Em 1975, transitou para o
gabinete do Alto-Comissário Silva Cardoso, que substituíra o almirante Rosa
Coutinho no cargo…
Em junho de 1975, «Portugal
relegou a descolonização para plano subalterno. E, no entanto, faltavam
ainda cinco meses para a data da independência de Angola estabelecida em
Alvor.»
A 11 de Junho de 1975, o
tenente-coronel Gonçalves Ribeiro desloca-se de Luanda a Lisboa, reunindo com a
Comissão Nacional de Descolonização, onde defendeu que a TAP «estava muito
longe de poder fornecer os meios necessários à saída da população branca. Um
problema que não tem merecido o mínimo de atenção por parte do Governo»,
queixava-se. Naquela reunião, informou que, em Luanda, já havia 50.000
desalojados, vindos de outras áreas de Angola. E os pedidos de reserva de
transporte para a metrópole ascendiam a 140.000.
Em maio de 1975, havia
três exércitos em Luanda e cada um se considerava dono e senhor da cidade. A
segunda batalha de Luanda seria desencadeada no início de julho. O MPLA acaba
por dominar a maior parte da capital. Para a comunidade portuguesa, acentuava-se
a urgência da partida.
Em Lisboa, acreditava-se
que uma nova cimeira poria termo à guerra entre os três movimentos de
libertação. MPLA, FNLA e UNITA reuniram-se entre 16 e 21 de junho, em Nakuru,
no Quénia, sem que Portugal estivesse representado – o que violava uma das
cláusulas do Acordo de Alvor. No texto de Nakuru, não foi feita qualquer
referência a Portugal.
Entretanto, o MPLA estava
a receber armamento pesado vindo da União Soviética e de outros países do Leste
europeu. E a FNLA alimentava os cofres com dólares vindos dos Estados
Unidos. Era a lógica do conflito Leste-Oeste.
Para Gonçalves Ribeiro,
havia que “aguentar” com um mínimo de dignidade: «E se queriam partir (os
militares) tínhamos de os trazer (os portugueses). Os militares não
podiam partir, deixando lá abandonados aqueles que queriam vir embora.»
Donald
Trump a brincar com o fogo...
O candidato republicano à
Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, está novamente no olho do
furacão, depois de ter proferido declarações polémicas. O magnata
"sugere" aos seus eleitores o assassinato da sua rival, a democrata
Hillary Clinton, que defende mudanças na legislação de compra de armas de fogo.
“Hillary
quer, essencialmente, abolir a segunda emenda. Se ela conseguir escolher os
juízes, não há nada que possam fazer. Talvez os defensores da segunda emenda
possam, não sei”, disse o candidato republicano num comício na Carolina do
Norte. Económico
«Talvez os defensores
da segunda emenda possam, não sei.» Isto é, Donald Trump convida os
defensores da utilização pessoal de armas de fogo, a impedi-la de
alterar a segunda emenda. E como?
O tom dubitativo não só
não apaga a exortação, como reforça a pressuposição: «Não o posso fazer, mas
delego em ti.»
Uma vergonha! Uma
avaliação psiquiátrica vinha a calhar...
9.8.16
São 21h20, soa a
sirene...
O apelo de reunião dos
bombeiros prolonga-se...
Não sei se o fogo anda
por perto ou longe... a verdade é que as televisões passam as horas a dar conta
da falta de meios de combate aos incêndios. As imagens não mentem: os meios
humanos e os equipamentos são escassos...
E sobretudo as populações
não estão educadas para reduzir os riscos, evitando despejar o lixo no mato,
limpando caminhos e bosques. As autoridades, por sua vez, fazem vista
grossa... E até os pirómanos vivem à solta...
Quanto aos governantes,
estão de férias!
PORTUGAL SEM FOGOS
DEPENDE DE TODOS!
Entretanto, na Madeira,
ouvem-se cada vez mais explosões de botijas de gás.
É a primeira vez que
reformados e trabalhadores ativos da Função Pública trocam de posição. O número
de beneficiários da Caixa Geral de Aposentações (CGA) ultrapassou o de
subscritores – aqueles que fazem descontos para a reforma. Num relatório, o
Tribunal de Contas (TdC) nota que “2015 é o ano de viragem, em que o número de
subscritores é inferior ao número de aposentados/reformados”.
Os dados constam do
Relatório de Acompanhamento da Execução Orçamental da Segurança Social. No
documento, divulgado ontem, o TdC revela que, no final do ano passado, o
número de aposentados da Função Pública era de 486.269 pessoas. Só por si,
esse dado deixava clara a evolução face a 2006: o número de beneficiários
cresceu 23,5%, quando comparado com o cenário de dez anos antes.
Jornal i
Se diminuiu o número de
contratados e os novos deixaram de descontar para a Caixa Geral de
Aposentações, qual é a surpresa? Qual é a notícia?
Agora, só a canícula é
que pode tapar o buraco!
8.8.16
Resposta
de Salazar a George Ball
Lisboa, 29.02.1964
- A ordem nova (americana),
ao defender «o movimento nacionalista dos povos do continente africano», visando
a independência, «tem de negar o direito preexistente». Esta mudança
de posição dos Estados Unidos torna o diálogo impossível.
- A Carta das Nações Unidas «prevendo
prudentemente várias soluções, desde a integração à independência,
entendeu confiar a definição do destino desses territórios à
autodeterminação dos povos interessados por intermédio da soberania
responsável e, naturalmente, quando pudessem responder por ato tão
transcendente de vontade política.»
- Três graves queixas de Salazar: a)
«os territórios ultramarinos portugueses não são, não eram territórios
dependentes, mas politicamente integrados num Estado que nessa forma
constitucional foi admitido sem discrepância nas Nações Unidas; b) nas
moções votadas referentes a Portugal a autodeterminação não tem sido a
escolha de opções diversas, conforme prescreve a Carta, mas a imposição de
uma só - a independência; c) no tocante aos territórios portugueses (pelo
menos em relação a estes) a independência imediata que se tem exigido
recusa a natural evolução dos povos e a existência de uma formação
política esclarecida. (...) E podíamos queixar-nos ainda de que a chamada
autodeterminação está sendo procurada através de todos os meios de pressão
externa, como se a vontade dos povos possa substituir-se à única válida
das populações interessadas.»
- Salazar sabe bem que o objetivo da
autodeterminação defendido pelas Nações Unidas (e pelos Estados
Unidos) é apenas um disfarce da exigência de independência imediata, indo
ao ponto de referir a posição do Secretário-Geral da ONU, U Thant,
pois as Nações Unidas terão chegado ao ponto de votar não ser
precisa qualquer preparação para a independência.
- Salazar contrapõe à proposta
americana: «V. Exª contrapõe aos resultados desastrosos obtidos naqueles
casos em que a independência se operou contra a potência soberana, o êxito
alcançado quando a mesma se processou com o auxílio desta. Ora a experiência
tem demonstrado (...) que a estabilidade política dos novos Estados ou
assenta numa base tribal ou depende do auxílio exterior. No primeiro caso
assistimos a um recuo traduzido no renascimento da primitiva organização
dos territórios; no segundo estamos perante o que poderia designar-se
pseudoindependência ou soberania disfarçada dos mesmos territórios.»
- Salazar antevê que no caso de uma
independência em que sejam quebrados os laços políticos, a consequência
será «a de a posição de Portugal ser tomada por um terceiro país - e
não será isso que se pretende?»
- Em 1964, Salazar caracteriza o mapa
político africano, à exceção da África do Sul, com «um tom
exclusivamente neutralista, senão já alinhado em alguns casos
contra o Ocidente, o que quer dizer que os novos Estados africanos se
recusam a tomar posição no conflito ideológico que contrapõe o Ocidente ao
mundo comunista ou tomam-na em favor deste.»
- Sobre a estratégia comunista, Salazar
defende que o comunismo «pode desistir de formar partidos políticos
africanos identificados como comunistas; nem procurará ostensivamente
instalar repúblicas populares. Os objetivos comunistas em
África contentar-se-ão, ao que nos parece, com captar África para a
nacionalização da riqueza formada, meio caminho andado para lhe cortar o
progresso económico, e depois em neutralizá-la, ideológica e
estrategicamente. (...) Por isso, e na medida em que fomentarmos, o
neutralismo africano, creio que estaremos a criar posições que servem,
essencialmente, os interesses do inimigo.
- Sobre o terrorismo, Salazar não tem
dúvidas de «que, se cessasse o auxílio externo aos terroristas, estes não
tardariam também a fazer cessar a sua maléfica e inútil atividade...»
7.8.16
Salazar
pensava que tinha tempo
António Spínola
discordava, como vimos, de Salazar porque este pensava que era preciso
"saber esperar". Também George Ball, enviado de Kennedy, em carta de
21.10.1963, refuta a tese de Salazar:
«V. Exª acredita que o
tempo trabalha a seu favor, nós não. Conforme tive oportunidade de referir, as
nossas estimativas indicam que nas melhores circunstância, não será possível
dispor de mais de 10 anos para preparar os territórios para o
ato político da autodeterminação. Se forem aproveitadas todas as oportunidades
durante esse intervalo de tempo, nós estamos seguros de que a presença efetiva
de Portugal poderá persistir. Se, ao contrário, essas oportunidades forem
desperdiçadas nós concordaremos então com a previsão desoladora de V. Exª de
que Portugal será incapaz de "manter a sua influência e os seus interesses
atuais nos territórios contra todas as influências ideológicas e económicas
impulsionadas do exterior.»
E como sugestão
programática, George Ball acrescenta:
« Nós estamos
perfeitamente cientes de que este apoio (dos líderes africanos mais moderados)
só será possível se Portugal der uma indicação afirmativa, primeiro, de que a
autodeterminação é o objetivo em direção ao qual se orienta a sua política e,
segundo, que o Governo português está a promover numa base de urgência a
realização de uma série de medidas - sociais, económicas, educativas e
políticas - para preparar os povos para a autodeterminação dentro de um período
de tempo razoável ainda que não necessariamente explícito.
(...) Em menos de uma
década V. Exª poderia criar as bases para um programa educativo de grande
amplitude. A preparação de africanos que carecem de especialização
administrativa e técnica deveria também ser objeto de esforços imediatos, uma
vez que nos parece essencial desenvolver e alargar o núcleo indígena de
juristas, médicos, professores, engenheiros e operários especializados e semiespecializados
capazes de suplementar os brancos que agora ocupam os postos administrativos
fundamentais. E finalmente V. Exª poderia no espaço de tempo que lhe resta
treinar um quadro de professores para conduzirem um sistema de escolas, a
desenvolver tanto nas áreas rurais como urbanas...»
6.8.16
O
que António de Spínola disse
Entrevistado por José
Pedro Castanheira (Expresso, 1994)
1. O
acompanhamento de perto da Guerra Civil de Espanha e da ofensiva Alemã na União
Soviética, durante a Segunda Guerra (…) «no plano político, permitiram-me
reflectir sobre o papel das grandes potências na condução dos negócios do mundo
e sobre o papel reservado aos pequenos países quando queiram manter uma
soberania visível.»
2. Em
1961, foi como voluntário para Angola. «O Ultramar, qualquer que fosse o seu
futuro, era um desígnio nacional, reiterado por todas as forças políticas, quer
situacionistas quer da oposição.
3. «A minha experiência
militar, o meu conhecimento da História e a minha experiência no Ultramar (13
anos) ensinaram-me que não havia solução militar para a guerra. (…) Um Estado
federado ou uma federação de Estados eram soluções possíveis.»
4. Conheceu
bem Humberto Delgado, mas em 1958, votou no almirante Américo Tomás.
5. Em
maio de 68, foi convidado por Salazar para Governador da Guiné, tendo na
audiência que Salazar lhe concedeu, contrariado a tese de «saber esperar» …
«Ante a tese de Salazar de “defesa do Ultramar” e de “defesa da Guiné” face à
ameaça soviética, tive ocasião de lhe expor a tese da “revolução social”, com
aceleração máxima do desenvolvimento económico, em paralelo com a promoção
social e cultural dos africanos. Só assim a defesa militar tinha sentido útil.
No final, sem contrariar a minha tese, Salazar só me disse: “É urgente que
embarque para a Guiné.”»
6. A nomeação
de Marcelo Caetano para presidente do Conselho foi um momento de esperança,
«dando-lhe sempre o meu apoio para soluções de abertura.»
7. Nos dois
primeiros anos da sua estadia na Guiné, compromete-se num esforço militar no
sentido de recuperar posições. A partir de 1970, é a componente social e
política que ganha relevo… «O PAIGC, em 1970, estava enfraquecido, dividido e
mais longe das populações, então ainda muito ligadas à Mãe-Pátria. Era altura
negociar… 1972 era o ano ideal para medidas concretas.»
8. «O objetivo
principal da operação Conacri era justamente libertar Amílcar Cabral das
pressões sobre ele exercidas pela União Soviética, de que o PAIGC dependia
totalmente do ponto de vista financeiro e de material logístico e militar.»
9. «Mário Soares foi um
homem corajoso no seu combate à ditadura, aprendeu muito com os desvios da
revolução e soube corrigir o seu posicionamento; governou o país sempre em
situações difíceis e veio a ser um grande Presidente da República. (…) A morte
de Francisco Sá Carneiro foi uma perde nacional.»
10. Em 1972, «nunca
me assumi como candidato à Presidência da República. Naturalmente que não temia
um confronto eleitoral com o almirante Américo Thomaz em eleições diretas e
livres. (…) A escolha feita por Marcello Caetano foi sem dúvida um passo decisivo
para o suicídio político.»
11. O encontro
secreto com Senghor realizou-se a 18 de maio de 1972, tendo o Presidente
«expresso uma grande simpatia pelo nosso país e louvado a nossa política social
na Guiné. Ofereceu-se para intermediário, como defensor duma “autonomia interna”
de tipo federativo com Portugal. Informou-me mesmo de que Amílcar Cabral era
recetivo a essa ideia. Ele próprio me sugeriu um encontro com o prof. Marcello
Caetano em Bissau. (…) Em Lisboa, tudo foi rejeitado por Silva Cunha e Marcello
Caetano com argumentos jurídico-legais.
12. Estabeleceu
vários contactos com Amílcar Cabral, embora Luís Cabral e Aristides Pereira
afirmem que nunca tiveram conhecimento de tal. Em Outro de 1972, Amílcar Cabral
ter-lhe-á proposto um encontro em «território português», através do inspetor
da DGS Fragoso Alas.
13. Reagiu
intempestivamente à morte de Amílcar Cabral, em janeiro de 1973, “Lá me mataram
o homem”: «Essa reação está correta. E a insinuação foi, na verdade, para
PIDE/DGS de Lisboa, que, a proceder assim, agia às ordens do Governo Central,
sem qualquer ligação com o Governo da Guiné. Penso, no entanto, que as
dissidências internas do PAIGC, habilmente exploradas por Sékou Touré, é que
conduziram à morte de Amílcar Cabral. (…) Não havia no PAIGC substituto com
igual inteligência e portuguesismo.»
14. Na
remodelação de novembro de 1973 não aceitou ser ministro do Ultramar, porque
isso exigia «o compromisso de eu aderir à política ultramarina oficial.»
15. O
livro “Portugal e o Futuro” foi apresentado pelas «vias hierárquicas
competentes. Portugal e o Futuro exprimia ideias que eram do perfeito
conhecimento do presidente do Conselho. A proibição do livro, de acordo com a
Lei, era da competência do ministro da Defesa. Ninguém pode acreditar que o
livro não tivesse sido lido pelo ministro da Defesa e pelo presidente do
Conselho.»
16. Não
aceitou a proposta de Marcello Caetano de reclamar, junto do presidente Thomaz,
a entrega do poder às Forças Armadas. (Golpe palaciano) Tinha o apoio do
ministro Veiga Simão, do almirante Pereira Crespo, do Dr. Rui Martins dos Santos,
secretário de Estado do Ultramar…
17. O 16
de março de 1974 «foi uma reação de combatentes do Ultramar à minha destituição
e à do general Costa Gomes da chefia das Forças Armadas Portuguesas. O
sentimento que os motivou foi de profunda revolta, designadamente no seio dos
oficiais que serviram comigo (…) Mas o 16 de março foi uma reação espontânea e
construtiva de oficiais que fizeram muita falta ao País no período entre 16 de
março e 25 de abril. Resultou de uma reação espontânea do Comando de Operações
Especiais de Lamego, que teve o seu núcleo no regimento das Caldas da Rainha.»
18.«O plano operacional
do 25 de Abril foi da autoria dos majores Casanova Ferreira, Manuel Monge e
Otelo Saraiva de Carvalho, membros duma comissão militar de que faziam também
parte outros oficiais como o tenente-coronel Garcia dos Santos e o major Moreira
de Azevedo, coadjuvados pelos capitães Luís Macedo e Morais Silva e pelo
alferes Geraldo. Com o 16 de março, Casanova Ferreira e Monge foram presos,
aparecendo no 25 de abril o major Otelo como o principal estratego do
movimento.»
19. «Sou de opinião
que a iniciativa decisiva de Salgueiro Maia de se deslocar de Santarém para o
Quartel do Carmo o tornou merecedor de ser distinguido pelos altos serviços
prestados à democracia e ao País.»
20 «Não é verdade
que o brigadeiro Jaime Silvério Marques estivesse envolvido no golpe liderado
pelo general Kaúlza de Arriaga.»
21. Tomou
posse como presidente da República a 15 de maio de 1974. E empossou Adelino da
Palma Carlos como primeiro-ministro no dia seguinte. Spínola demitiu-se a 30 de
setembro de 1974, «face à anarquia que invadia as Forças Armadas», pois não
podia aplicar medidas de exceção: terminar «com as atividades políticas do MFA»
e impedir «as atividades conspiratórias do PC no seio das Forças Armadas,
obrigando-o, igualmente, a abandonar a ditadura do proletariado no seu programa
e a não impedir a institucionalização da democracia.»
22. «O meu
pensamento num governo militar de breves meses destinava-se a promover eleições
democráticas rapidamente e a referendar uma nova política ultramarina. Não me
bati por esta solução. O Programa do MFA manteve a Junta de Salvação Nacional,
de carácter militar, e um governo provisório civil. Foi o programa que eu li
aos portugueses e no qual acreditei. Esta solução acabou por se revelar
desastrosa com a nomeação de Vasco Gonçalves para primeiro-ministro e a
existência da Comissão Coordenadora do MFA.»
23. O
Partido Comunista não cumpriu as suas promessas, ao persistir no modelo
soviético. O PC sempre atuou na sombra…
24. Apesar
de na Junta, Rosa Coutinho concordar quase sempre com as decisões de Spínola,
este acaba por reconhecer que ao ser nomeado para presidir à Junta Governativa
de Angola, a atuação de Rosa Coutinho sofreu uma evolução completa, apoiando
deliberadamente as forças marxistas e tomando decisões contra os portugueses
residentes em Angola, que considerava inimigos. Spínola defende que «a sua
atuação em Angola, junto das Forças Armadas Portuguesas, fomentando a sua
rendição, enquadra-se, sem dúvida, no que eu considero um crime de alta traição
à Pátria.»
25. «Nunca pensei que o
Vasco Gonçalves estivesse ligado ao PC e que tivesse tanta falta de senso (…)
Quase louco.»
26. A
traição de Costa Gomes: «o comportamento de Costa Gomes no 28 de setembro
tirou-me todas as ilusões (…) Até setembro, acreditei na lealdade de Costa
Gomes (…) Mais tarde, ao refletir sobre os factos relacionados com a sua
permanente conivência com a Comissão Coordenadora do MFA, sobre a sua
identidade com os elementos esquerdistas, sobre a destruição dos apoios
militares firmes, não posso deixar de lhe atribuir uma ação preparada e
premeditada. (…) O seu desejo era que eu abandonasse Portugal logo após o 28 de
setembro, revelando-me, assim, que pretendia atuar sem um peso de consciência a
viver no país. (…) Posso apenas dizer que a sua convergência com os comunistas
foi total no que concerne ao problema ultramarino.»
27. «O 11 de Março
inicial não foi um golpe planeado por amadores, mas antes um movimento
patriótico a que tinham aderido inúmeros oficiais. (…) O Partido Comunista
infiltrou-se habilmente no seio dos militares e conduziu o 11 de Março (…) Os
objetivos do 11 de Março que estava programado – e que teria evitado a loucura
coletivista que se seguiu – não foram, infelizmente, atingidos.»
28. Maior
sucesso político da vida: «Ter colaborado abertamente nos objetivos previstos
no 25 de Abril que, em última análise, se resumiram à restituição da liberdade
e da democracia ao povo português».
29. Maior
sucesso militar: «Ter participado como voluntário na Guerra do Ultramar, onde
tive o privilégio de correr riscos ao lado dos nossos extraordinários soldados,
lídimos representantes do ancestral patriotismo do povo português.»
5.8.16
Em 2005, o JL (6-19
julho) perguntava a Manuel Alegre: - Consideras-te um narciso ou
não? Estás ou não no centro da tua obra? Ao que Alegre respondeu: «Eu acho que,
de uma maneira ou de outra, todos os artistas estão no centro da sua obra.»
E se lermos um pouco mais
da entrevista, ficamos a compreender que o escritor tem ideias claras
sobre o assunto: «Toda a gente está sempre no centro. O que há é pessoas que
não gostam de si próprias. Eu não desgosto de mim, mas não me considero um
narciso. Agora quem passou por certas experiências, esteve isolado numa cela,
esteve numa guerra onde se morria, viveu dez anos no exílio, numa grande
solidão - é evidente que tem de falar de si próprio.»
Nesta defesa, Manuel
Alegre parece querer dizer que não é narcisista, pois tem biografia a
mais. Centrando-se no seu caso, cita mesmo Semprun: «Porque hei de estar
a inventar personagens, quando eu próprio, com a vida que vivi, sou uma
personagem muito mais rica do que qualquer outra que inventasse?»
Gosto do conceito biografia
a mais, porque pressupõe que o narcisista é o que tem biografia a
menos.
De facto, por estes dias
(e por outros já passados), andam por aí certos rapazes (e certas raparigas)
que, talvez por terem biografia a menos, não resistem ao canto da sereia ou de
certos mecenas... E valerá a pena recordar que a figura do mecenato,
tão aplaudida socialmente, foi desenhada pelos mesmos rapazes que agora se
empanturram e desfilam pelos estádios e outras arenas...
Talvez Manuel Alegre
tenha razão. Eu nunca o considerei um desses rapazes narcisistas, porque, ao
entrar na Assembleia da República, já ia carregado de biografia...
4.8.16
Na vida, uns divertem-se
e outros amocham... não é que eu pense ter adquirido o hábito de me
dobrar para que outros me saltem para cima, mas a verdade é que, em termos de
retrospetiva, verifico que tal já me aconteceu demasiadas vezes... E hoje é um
desses dias, com a particularidade de ser o meu primeiro dia de férias...
Aqui estou eu, ansioso, à
espera, das 14 às 20 horas, que me venham trazer um utensílio doméstico,
quando me comprometera, entre as 18:30 e as 20 horas, a fazer o transporte de
um animal doméstico no casco da capital...
As horas não foram por
mim determinadas e quem o fez não quer saber de coincidências. Limita-se a
estabelecer que «no período selecionado não se deve ausentar do local
de entrega. Se houver necessidade de se ausentar deverá comunicar a sua
indisponibilidade com 24h de antecedência. Caso não seja feita a
referida comunicação, deverá ser paga uma retribuição de 15 euros.» WORTEN
Este é o exemplo do dia
de hoje depurado de outros factos que não mencionarei, mas que só o agravam.
De qualquer modo, se
conseguir ultrapassar estas dificuldades, talvez amanhã amoche um pouco
menos... Só que para que tal aconteça, necessito que o telefone toque
rapidamente. Sim, porque os transportadores prometem avisar com 30 minutos de
antecedência...
(...)
Às 18h23, recebi uma mensagem da Worten que informava «que a sua entrega /
recolha esta prevista ser realizada dentro de 30 minutos.» (sic) O
que veio a acontecer... e o resto seguiu a ordem prevista, com a compreensão
dos intervenientes...
3.8.16
Há
quem não perca o "andanças"...
Há quem não perca o
"andanças"... Desta vez, um parque de
estacionamento virou braseiro. Felizmente, não há perdas humanas...
centenas de carros arderam.
Neste
"andanças", volto a estar presente, embora indiretamente, e
estou sem saber se o carro* das amigas da Susana terá ardido...
O dia de hoje faz-me
lembrar o tempo em que o "andanças" decorria no concelho de S. Pedro
do Sul. Sempre que lá me deslocava, temia que uma coisas destas pudesse
acontecer...
Bem sei das minhas
"andanças" que em viagem, no campo ou na praia, o importante é
estacionar e que raramente pensamos na segurança de pessoas e
de veículos...
* Não ardeu! Il n'était pas écrit là-haut dans le grand rouleau
! (Diderot)
2.8.16
Entre
o fio mental e o fio dental
Apesar de haver quem diga
"que nunca é tarde", a verdade é que eu já não tenho idade para
certas coisas, como, por exemplo, correr a maratona ou escrever versos...
E porquê? Porque, numa
certa óptica, teria de carregar com toda a tradição daquela famosa corrida
ou do ofício de poetar.
Vem isto a propósito de
uma crítica literária de Paula Morão "Ana Luísa Amaral - Manto mais
brando do pensar", publicada no JL de 19 de Julho de 2005, em que, a
linhas tantas, afirma:
Assim, a literatura
«fala» numa des-coincidência entre a tradição e o eu que agora diz, e
a quem, por ser outro o tempo, «Não interessa onde / estou», como o poema vai
repetindo em eco, enquanto busca o «pequeno dicionário/que soubesse de paisagens/
de dentro», um mapa de palavras que emanasse da tradição para traçar o fio
mental com que nova Ariadne, o eu se orienta neste tempo poético conforme
ao que foi «inventado/há mais de três mil anos», mas em que «nada é já como
soía», como escreveu Sá de Miranda. Resta, pois, ao poeta de hoje o recomeço a
partir desse húmus de versos e de vozes ecoando no sopro do «vento», a que
Zéfiro de Boticelli dá tão bela expressão desde a capa do volume. (A
Génese do Amor)
Só a transcrição me deixa
exausto. Agora imaginem que, disciplinado na escola de Mário Moniz Pereira, me
atirava a uma destas disciplinas, e, em vez da pista ou do piano, me decidia,
qual Orpheu, a recuar três mil anos e a embebedar-me do «húmus de versos e de
vozes ecoando no sopro do vento...
Este fio mental que a
crítica procura a cada momento restabelecer, e que valoriza como cânone, mata
qualquer vontade de iniciar a corrida, mesmo que os louros se afigurem
longínquos ou até inúteis...
Por uma questão de
exercício, vou interromper este registo e continuar a leitura, pois não
quero desistir da caminhada para que fui convidado pela Paula Morão...
1.8.16
Mário
Moniz Pereira acreditava nas capacidades do indivíduo
Faleceu ontem Mário Moniz
Pereira. Tinha 95 anos. Para mim, Moniz Pereira era um daqueles homens
cuja existência me encoraja a vencer os obstáculos.
Ele acreditava nas
capacidades do indivíduo e sabia que, através do trabalho, era possível
rendibilizá-las ao máximo. Por isso, os atletas que orientou e treinou
atingiram o topo e retiraram Portugal do anonimato.
Através da persistência e
do trabalho, é possível ir muito longe. É esse espírito que falta a muitos de
nós, mais velhos ou mais novos. Acomodamo-nos demasiado cedo.
Moniz Pereira soube
merecer os 95 anos que viveu. Moniz Pereira sempre foi, para mim, uma fonte de
emoções... positivas!
31.7.16
Bem sei que estas notas
estivais não têm qualquer interesse, ainda por cima construídas com base em
recortes de jornais de 1993 - JL de 12 de janeiro de 1993. Sob o título Luís
Bernardo Honwana - Moçambique a Literatura em tempo de crise, encontro este
registo, assinado por NS:
«Depois veio o tempo da
subversão contra a ordem estabelecida. Foi preso entre 1965 e 1967.
Posteriormente, exilou-se em Portugal, onde frequentou alguns anos o curso de
Direito e participou na vida cultural portuguesa, emparceirando com destacados
intelectuais progressistas, enquanto prosseguia a sua atividade política.
Na véspera da Revolução dos Cravos deixa este país e junta-se finalmente aos
guerrilheiros da Frelimo.»
Não me surpreende que o
autor de Nós Matámos o Cão Tinhoso tenha sido preso na
província de Moçambique, em 1965. O que é extraordinário é que Luís
Bernardo Honwana se tenha exilado na metrópole, onde a polícia política lhe
permitiu prosseguir os estudos e a atividade política.
De momento, não sei se
LBH integrou A Casa dos Estudantes do Império*, mas não me
espantaria, pois, o Estado Novo com esta instituição visava enquadrar
politicamente os jovens africanos, de modo a mostrar ao mundo que o
colonialismo português assentava numa matriz bem diferente da dos
restantes colonialismos europeus.
Ainda agora, o estado
português continua a querer provar que é mais esperto do que os outros...
(Falar de Estado é um pouco excessivo...)
Da leitura da entrevista, resulta, no entanto, que LHB terá sabido manter-se à
tona, pois trabalhou muitos anos como chefe de gabinete de Samora Machel,
chegando a ministro da Cultura. Em 1993, já desempenhava funções que o
libertavam do "rigor partidário": Presidente do comité intergovernamental
da UNESCO, que coordenava um conjunto de atividades que celebravam "A
Década para o Desenvolvimento Cultural".
E também, creio, que
valerá a pena registar, a propósito da velha questão do desenho das fronteiras
que, à época, LHB acreditava que os conflitos poderiam ser ultrapassados
através de uma associação de base regional que possibilitaria
a "acomodação das nações subjacentes" aos atuais estados da
herança colonial... Estava LHB convencido que, em África, se poderia
seguir o caminho da Europa unida, em que ele avistava: o caminho da
«regionalização que vai tender a fazer apagar os Estados e puxar a via das nações,
em que as nações nem sempre são coincidentes com os Estados.
* A Casa dos
Estudantes do Império foi criada por sugestão de um ministro
das Colónias de Salazar, Francisco Vieira Machado. Mas foi apelidada por um inspetor
da PIDE de «alfobre de elementos anti-situacionistas». O Estado Novo acabou por
extingui-la em 1965.
30.7.16
A
Igreja católica angolana e a guerra
Não sei se o José Eduardo
Agualusa já se apercebeu do disparate que proferiu em 1993, entrevista ao JL de
12 de janeiro de 1993: «É o caso da igreja católica, que dispõe de meios
quase inesgotáveis, de um sólido apoio internacional e da confiança da maioria
dos angolanos. A Igreja está em condições de liderar um amplo levantamento
popular contra a guerra. Porque o não faz?»
O argumento era
completamente disparatado, porque a Igreja católica nunca teve o apoio da
maioria dos angolanos - basta pensar que a resistência ao Estado Novo foi, na
maioria das circunstâncias, protagonizada pela igrejas protestantes, em Angola
como em Moçambique... E essa situação não se transformou após a independência
de Angola...
Por outro lado, esperar
que o povo desarmado se pudesse opor a um exército fortemente equipado e
experimentado não passa de leviandade intelectual...
Esta triste ideia surge
numa entrevista em que José Eduardo Agualusa insiste na «base crioula» da
angolanidade que desenvolveu numa trilogia, constituída por: A Conjura, 1989;
D. Nicolau Água-Rosada e outras estórias verdadeiras e inverosímeis, 1990; A Feira
dos Assombrados,1992...
Neste testemunho, o
escritor insiste nalgumas ideias que merecem aprofundamento. Por exemplo, «é
no século XIX que mergulham as raízes da nossa angolanidade (...) entre
1880 e 1890 há mais jornais dirigidos por angolanos, em Angola, do que entre
1900 e a época actual."
Por outro lado, apresenta
como referências linguísticas, Mário António de Oliveira, Luandino Vieira - na
esteira do brasileiro Guimarães Rosa - com uma discreta alusão ao pendor
antropológico de Ruy Duarte de Carvalho e uma crítica desapiedada a Sousa Jamba...
Os restantes escritores
são epígonos de Luandino ou... inexistências, como, por exemplo, Pepetela...
Finalmente, a ideia de
que «Angola é uma ilha" cai muito mal num leitor que se habituou a vê-la
como um continente...
Esperemos que, em 2016,
José Eduardo Agualusa já tenha revisto as suas teses sobre a
"angolanidade", mesmo com o MPLA no poder, que, evidentemente, tem
todo o direito de combater. Mas com outra argumentação.
29.7.16
«Terra que caminha enquanto os homens dormem, é
metáfora de um país que procura a própria identidade.» Mia Couto
As páginas que vou lendo
são do JL de 12 de janeiro de 1993 – ainda Janeiro se escrevia com maiúscula –
agora amarelecidas, esperam que eu dê conta de uma tarefa que à época fazia
sentido, pois lecionava Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa… O título
da página 9 anunciava “Moçambique, país sonâmbulo”, a pretexto da
publicação do romance Terra Sonâmbula, por Mia Couto…
A frase inicial do
entrevistador diz-nos que este romance é «uma terrível metáfora sobre o
presente sofrido dos moçambicanos». Embatuco de imediato, pois não faço
ideia do que é uma TERRÍVEL metáfora… À força de pensar que a metáfora resulta
de uma analogia capaz de expressar o terror do real, fico a embirrar com o
adjetivo e com o sujeito que dele se socorreu…
Suspenso da tragédia
vivida pelo povo moçambicano, e convencido de que Mia Couto conheceu aquela
realidade, enfrento uma nova afirmação desencorajante: «O meu interlocutor
tem um ouvido de raríssima sensibilidade». A superlativação da
sensibilidade auditiva serve para pôr em evidência que o Autor vai registando,
a cada passo, as deformações linguísticas, aproveitando-as para construir o seu
idioleto, como se o seu objetivo fosse criar o seu próprio país… O contexto
exige, no entanto, a convergência de todos os sentidos, sem esquecer a razão.
Não sei se o refira, mas
também me assombra a pergunta do entrevistador do JL: «A grande
tragédia que se vive em Moçambique – e que constitui o pano de fundo desta
“Terra Sonâmbula” – é, na tua opinião, o que sustenta a necessidade de um
género como o romance?»
Não creio que uma
tragédia possa ser pano de fundo ou atirada para os bastidores para satisfazer
um qualquer “teórico da literatura” … Mia Couto fez o favor de esclarecer que a
tragédia é, no caso, um discurso sobre a guerra, construído já em tempo de paz,
com os deuses já amansados… Pobres deuses!
Depois surge a inevitável
falta de distância. O que é que isto significa? A necessidade de se
acomodar? E também «a segurança pessoal numa sociedade desgovernada na
qual o cidadão não tem defesas», que o escritor ultrapassa não
personificando a violência do terrorismo, a arrogância do poder.
Isto é, os rostos são
substituídos por máscaras…
28.7.16
Porque
sossego é coisa rara...
Deixada à mão de qualquer
pirómano, Caruma é um verdadeiro perigo para o território e para si própria.
Se pudesse, Caruma
aproveitava a canícula para se esconder no interior do glaciar mais próximo.
Mas como? Mesmo que o vento a levasse, corria o risco de se despenhar no
primeiro vulcão...
Face aos perigos que a ameaçam,
Caruma decidiu calar-se por uns tempos a ver se o verão a deixa incólume... o
mesmo é dizer a ver se os pinheiros sossegam...
Porque sossego é coisa
rara...
27.7.16
Desconfio dos eurocratas europeus
« Le réflexe naturel de qui ne comprend pas une langue, s'il
imagine être dans un milieu hostile et on cherche à l'humilier, c'est de se
méfier... » Béatrice Didier
É o meu caso! Eu não
compreendo a língua de Bruxelas, e estou certo de que, nos últimos meses, o
objetivo dos eurocratas europeus (peço desculpa, se a expressão parecer
pleonástica) era humilhar os portugueses.
Por isso desconfio da
notícia de que não haverá multas... Hoje já ninguém fala de sanções, talvez
porque confundamos os termos. No entanto para os eurocratas, uma multa é
diferente de um corte nos fundos, sem esquecer a necessária asfixia orçamental
em 2016... Qualquer coisa situada entre os 350 e os 450 milhões de euros.
Trocos...
Enfim, hoje até concordo
com os argumentos do PCP. Quem diria?
26.7.16
Tinhas 19 anos,
sentavas-te num banco de jardim, e choravas porque não te compreendiam.
Esperavas, talvez, o cavaleiro andante que te libertasse dos algozes e te
conduzisse ao palácio encantado da ventura...
Houve tempo em que o ouro
pareceu brilhar, mas os algozes nunca te libertaram. Pelo menos é o que
continuas a dizer, agora de forma ainda mais anelante - os algozes já não
se limitam a cercar o palácio, entraram nele e perseguem-te, deixando-te
exausta e inerte, sem perceberes que a única forma de evitar a dor, o silêncio
e a escuridão, é chamá-los para perto de ti... e ouvi-los, um a um...
Quanto ao cavaleiro
andante, esse nunca existiu. Mais não foi que um sonho teu, em que, no palácio,
te fizeste prisioneira de ti própria...
25.7.16
Não
é preciso fabricar mais armas...
Escrever sobre uma
personagem, por exemplo, Julien Sorel, poderia ser uma hipótese. Mas parece-me
arriscado. Stendhal criou-a para poder dar conta do modo como a
ambição secava tudo à sua volta, mesmo que para tal tivesse de vestir a
pele do lobo e do cordeiro. Julien Sorel ora veste uma ora veste outra, e em
cada papel "esmaga" os que lhe caem na rede. Só que Julien Sorel não
é um indivíduo, é a máscara do ser humano na primeira metade do século XIX
francês. Mesmo quando vítima, Julien Sorel é carrasco...
Comecei por dizer que não
queria arriscar, mas acabei por tecer um conjunto de considerações só
justificadas pela vertigem de escrever...
E essa vertigem quer dar
conta de pensamentos incompletos e desconfortáveis. Por exemplo, perante os
novos terroristas do século XXI - jovens desadaptados que não suportam viver
sem os luxos que a propaganda e o marketing lhes dizem estar ao seu alcance...
pequenos delinquentes frustrados, mas conscientes de que só conseguirão a
plenitude se forem notícia de sangue...
No turbilhão de ideias,
uma se evidencia: a de que cada ser humano é uma arma em potência ou já em
movimento. Não é preciso fabricar mais armas, basta espalhar a desigualdade e a
injustiça!
24.7.16
Saber lidar com a mudança
não é o mesmo que adaptar-se à mudança, até porque, muitas vezes, esta
significa mudar para pior.
Por exemplo, saber lidar
com pessoas que se encontram à beira de um ataque de nervos é bem diferente de
lidar com pessoas mergulhadas numa depressão profunda. Há pessoas que se
enervam com pouco, por exemplo, com aquelas que se revelam indisponíveis para
acolher certas campanhas alegres...
(Elaborar relatórios de
todo o tipo é uma mania institucional, cujos efeitos são invisíveis. Muitos são
copiados e os restantes encomiásticos, sem esquecer que quase todos são
autorreferenciais.)
Diz-se que o mundo está
diferente, o que significará que ele mudou, só que mudou para pior e porquê?
Porque quando se abre a comporta, a enxurrada é inevitável. Durante décadas, o
rio extravasou e agora soam as trancas à porta...
No que me diz respeito, o
mais grave é que não sei o que é "a mudança", a não ser em
termos tecnológicos, mas o desenvolvimento tecnológico não tem qualquer impacto
na melhoria do ser humano... Pelo contrário...
23.7.16
Suspensão
de 16 fundos estruturais
A Comissão Europeia vai
propor ao Parlamento Europeu a suspensão de 16 fundos estruturais em Portugal
como sanção pela violação do limite do défice de 3% do PIB em 2015.
Por mim, parece-me uma
proposta inteligente, embora eu não perceba porquê... Mea culpa!
Nunca soube quantos eram
os fundos estruturais, nem nunca lhes vi o fundo. Também não sei o que é que o
adjetivo "estrutural" significa, pois, até ao momento, o que oiço é
que "as reformas estruturais" continuam por fazer.
Dizem-me que esses fundos
fizeram entrar muito dinheiro em Portugal e que este fez enriquecer muita
gente. Não é o meu caso!
Há, também, quem diga que
os fundos foram desviados..., mas não se sabe quem o fez e parece não haver
maneira de o saber...
Em consequência, a
proposta da Comissão Europeia parece-me inteligente. Só peca por tardia!
Infelizmente, a Comissão
Europeia acabará encontrar uma solução "inteligente" para que nem
todos sofram com a referida suspensão. Entenda-se, para aqueles que se
habituaram a desviar os fundos...
22.7.16
Esta tarde, sob uma
tabela de cotações, fui escrevendo a lápis "quando deixamos de conseguir
acompanhar a mudança"; vejo agora que melhor teria sido ter
escrito "lidar com a mudança", pois o que se nos exige não
é uma atitude estética, mas, sim, um comportamento útil... e a ideia
fazia-me mergulhar num beco-sem-saída - um beco hifenizado para que
não haja espaço de fuga.
Entre parênteses
escrevera " E a mudança, a cada dia que passa, é mais frequente e mais
exigente". Sim, porque o terrorista já não precisa de atravessar qualquer
fronteira, nem de se esconder sob a ideia da autodeterminação coletiva. Já não
são necessários tambores de aviso, porque o sinal interior pode deflagrar
a qualquer momento. Ao contrário do que se diz, o terrorista não é lobo
solitário porque ele não tem fome, ele apenas se quer autodeterminar -
autodeterminar-se a si próprio de forma ruidosa; o dia chegará em que o fará de
forma silenciosa...
Apercebo-me, agora, que,
sob a tabela de cotações, acrescentara: "No entanto, quando esperávamos
percorrer resignadamente o caminho em falta, surgiam vozes a bater à porta,
desesperadas, convencidas de que poderíamos ser o abrigo derradeiro. Solução
pontual, porque só dura o que falta percorrer do caminho. Do lado de lá, pode
haver saída, mas só para quem quiser fazer parte da mudança."
O problema é que no beco
hifenizado não é possível avançar nem recuar. Talvez o Dédalo ainda nos possa
ajudar!
21.7.16
Decreto
o estado de emergência em Portugal
Uma serpente venenosa
anda à solta em Lisboa. Consta que estará escondida em duas escolas... Na ponte
25 de abril, regressaram as buzinas...
O PSD quer acabar com o
pagamento de portagens na Via do Infante...
O Presidente da República
considera que é inadmissível querer referendar a continuação de Portugal na
União Europeia...
Os amigos de Cavaco Silva
promovem um almoço de «amizade e gratidão» no próximo sábado. A nova
administradora do Grupo Caixa, Leonor Beleza, é a mandatária do festim...
A Polícia Judiciária
continua a apreender material informático aos bancos, deixando de fora o Banco
de Portugal...
As obras do Liceu Camões,
como as do TGV e muitas outras, já custaram uma fortuna e continuam por
realizar...
Em França, Hollande
prorrogou o estado de emergência; na Turquia, Erdogan não perdeu a oportunidade
e fez o mesmo; na Venezuela, é o que se sabe...
Face à presente situação,
creio que alguém deve decretar o estado de emergência. Eu não me importo de o
fazer.
20.7.16
Aposentação
de docentes com 40 anos de descontos
Dois projetos de
resolução recomendando ao Governo a possibilidade de docentes com 40 anos de
descontos se poderem aposentar sem penalizações foram hoje reprovados no
parlamento, motivando apupos e críticas de cidadãos presentes nas galerias.
Os textos, apresentados
por PCP e "Os Verdes", tiveram voto favorável destes partidos e do
Bloco de Esquerda (BE), merecendo a abstenção do deputado do PAN e o voto
contra de PS, PSD e CDS-PP.
Para quem ainda acredita
em promessas, a votação de hoje mata as ilusões e esclarece que o Bloco Central
continua de saúde. O resto são cantigas! Nem o PAN!
Aproxima-se
o estado de emergência na Turquia
O Conselho de Ensino
Superior (YÖK) proibiu, até nova ordem, todos os universitários de se
deslocarem ao estrangeiro, anunciou esta quarta-feira a agência estatal
Anadolu. O YÖK exige que a situação de todos os universitários que se encontram
actualmente fora do país seja examinada e que estes regressem à Turquia o mais
rapidamente possível, exceto em caso de “necessidade imperiosa”, adianta a
Anadolu.
Do que é que o
senhor Erdoğan tem medo? De que os estudantes universitários fujam do
país e / ou não queiram regressar ao país? Em linguagem diplomática, o que
é que significa "necessidade imperiosa"? Espionagem?
Desconfio que se avizinha
o momento em que os Turcos vão ter de jurar defender o Ditador, colocando a mão
sobre o Corão, caso contrário serão proibidos de exercer qualquer atividade
pública e privada e, simultaneamente, impedidos de sair do país.
O que é que os espera? O
conformismo e a submissão, em nome de Deus e da Democracia, com a
particularidade deste Deus ter rosto - o de Recep Tayyip Erdoğan.
19.7.16
O
ditador Erdogan e a educação
Após o pedido para
reintroduzir a pena de morte no país, o governo turco põe em causa as bases da
democracia com uma purga que atinge todos os sectores da sociedade. É agora o
caso da educação, onde mais de 15 mil empregados foram suspensos. Paralelamente
foram também revogadas as licenças a mais de 21 mil professores de instituições
privadas de ensino. O ministério da Educação ordenou também a demissão de 1.500
reitores e diretores de cursos universitários.
(Em nome da democracia e de Deus!)
Como interpretar tais
decisões? Qual é o objetivo? Provavelmente, substituir as escolas e as
universidades pelas madraças. Ou será que o objetivo é acabar com o ensino?
Parece que o Ocidente se
prepara para devolver o leme a Vasco da Gama!
Mas não é só o resultado
do referendo que está a preocupar os técnicos do FMI. “O choque do Brexit surge
entre situações por resolver no sistema bancário europeu, em
particular nos bancos italianos e portugueses", lê-se no
relatório do FMI.
11 milhões de portugueses
- muitos sem qualquer cêntimo no bolso - podem pôr em causa as finanças de 7000
milhões de habitantes deste triste planeta! É obra!
Nós já temos tendência
para o exagero e para a megalomania... só não esperávamos era tamanho destaque
vindo de quem frequentemente ignora a nossa existência.
Entretanto, o Grupo
Goldman Sachs viu o lucro trimestral subir 78%, para 1,82 mil
milhões de dólares, superando as expectativas dos analistas, com a
valorização das obrigações e obrigações subordinadas, avança a Reuters.
Finalmente, não devemos
esquecer que o português José Durão Barroso vai iniciar
funções como presidente do conselho de administração da Goldman Sachs
Internacional. É obra! Ou será prémio?
18.7.16
A
purga turca do ditador Erdogan
No imediato, a purga
turca não fica a dever quase em nada às grandes purgas levadas a cabo durante e
depois da Revolução francesa...
A purga turca só não é
completa, pois o Parlamento aboliu a pena de morte, a 3 de Agosto de 2002,
salvando da execução capital o líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão
(PKK), Abdullah Öcalan, condenado à morte e detido numa prisão do Mar de
Marmara.
Agora, o ditador Erdogan
espera repor a pena de morte, porque esta lhe permitirá purgar os partidos
políticos, a magistratura, as forças armadas, as polícias e a função pública e,
sobretudo, eliminar as minorias, decapitando os seus líderes, a começar por
Abdullah Öcalan...
E fá-lo em nome da
Democracia e de Deus!
Convém, entretanto, não
esquecer que a abolição da pena morte era uma velha exigência da União
Europeia, sem a qual a adesão da Turquia à Comunidade seria impossível.
O sonho turco voltou ao
início, mas a Turquia dispõe atualmente de uma nova arma de arremesso: 3
milhões de refugiados...
17.7.16
Estou a (re)ler Le
Rouge et le Noir, de Stendhal, e sinto que o leio pela primeira vez. Da
primeira leitura, pouco sobrou, a não ser certos vislumbres do que "poderá
vir a acontecer".
É um romance sobre as
castas sociais, sobre a religião e sobre o amor, sobre a província e a
capital, em que o comportamento humano é idêntico. Os protagonistas
procuram a todo o transe ganhar vantagem, independentemente da condição social.
Em termos políticos, o
liberalismo procura ganhar vantagem à velha e à nova aristocracia. O método é,
no entanto, o mesmo, como se se quisesse assegurar que a Revolução fora
incapaz de modificar as mentalidades. Ou como se, reunidas as condições, a
atitude do pobre e do rico, do nobre e do plebeu, do religioso e do burguês, do
cônjuge e do amante, fosse rigorosamente igual: vingativa, manhosa e
oportunista...
Da leitura, ficam-me
algumas ideias: Stendhal é um escritor que tira vantagem da leitura dos
clássicos e dos modernos; que Eça de Queiroz soube ler Stendhal e não apenas
Flaubert e Zola; que a condição humana sofre de narcisismo, ambição e mesquinhez;
que, hoje, tudo continua na mesma.
O importante é saber
tirar vantagem.
16.7.16
Perante o que ocorreu a
noite passada na Turquia, só me vem à cabeça uma ideia: há cada vez mais países
governados por homens sem formação intelectual e ética... e, consequentemente,
rodeados por sectários da mesma natureza...
Chegados ao poder pela
força ou pelo voto popular, estes governantes nunca são submetidos a análise de
carácter nem de competências para o exercício do cargo.
Em comum, têm a
capacidade de controlar todos os pilares do poder, e ao fazê-lo tornam-se
inamovíveis.
De vez em quando lá se
abre uma brecha, logo esmagada, e vista, de imediato, como "uma bênção de
Deus".
No fundo, é o que se está
a passar na Turquia, na Síria, na Venezuela, no Brasil, no Zimbabwe, em Angola,
na Rússia, no Sudão... e um destes dias nos Estados Unidos da América...
Quanto a Deus, deve andar
muito desatento...
Entretanto, na Europa
democrática, vai-se fazendo vista grossa...
15.7.16
Exacerbado
o 'espírito crítico'...
Numa sociedade em que
desenvolver o espírito crítico se tornou uma prioridade, sem que se defina o
que é "o espírito crítico, não espanta que este se confunda com rebeldia,
com revolta.
Motivos de revolta não
faltam e os motivos de rebeldia sobejam, o que associado ao referido
"espírito crítico" é suficiente para que cada um entenda que está no
seu direito de mudar o mundo.
A mudança pela força é o
melhor argumento daqueles que, exacerbado o espírito crítico, perderam a
esperança ou acreditam que a única forma de construir um mundo à sua medida é a
violência.
La Promenade des Anglais,
em Nice é, apenas, um exemplo. Hoje, estou bastante intolerante, porque,
afinal, também eu tenho dado prioridade ao desenvolvimento do espírito
crítico... e os ecos que me chegam são dissonantes. Podia explicar porquê, mas
não o vou fazer...
14.7.16
É
tempo de acabar com a chalaça!
O cidadão endivida-se e
tem de pagar a dívida. Os governantes endividam-nos e nós é que temos de a
pagar.
Há, no entanto, visões
distintas: certos governantes consideram que a dívida pública não é para ser
paga; outros, fazem finca-pé em que a paguemos, mesmo que isso nos custe a
vida..., só que, afastados da governação, limpam as mãos como Pilatos...
Agora, temos uma nova
categoria de governantes que entendem que a dívida é um problema que não lhes
diz respeito - afinal, não foram eles que a geriram...
Dívida só a que eles
deixarem, depois de devidamente escondida...
As dívidas, como todos
sabemos, obedecem a um calendário em nada semelhante ao dos ciclos governativos
e, como tal, não deve ser tratada com argumentos eleitoralistas, como o atual primeiro-ministro
insiste em proferir. É tempo de acabar com a chalaça de peito inchado... e de
trabalhar um pouco mais. Com tanta romaria...
13.7.16
Os
resultados dos exames de Português foram medíocres
Disseram que o exame de
Português do 12º ano era "superacessível e superfácil", mas os
resultados foram medíocres.
Para esta divergência
entre as expectativas e o desempenho há uma explicação. Uma parte significativa
dos jovens do ensino secundário não ouve e pensa que sabe tudo. Contesta quase
tudo, mas não sabe argumentar, porque não estuda ou, quando o faz, confunde o
trabalho intelectual com "achismo" ou, simplesmente, com memorização.
E claro que esta
explicação não se esgota em si... é preciso procurá-la um pouco mais fundo: na sociedade,
na família, na escola, na sala de aula, em cada um dos intervenientes no
processo educativo.
12.7.16
Não
há "multa zero". Não à "multa zero"!
O comissário europeu para
o euro, Valdis Dombrovskis, admite que Portugal poderá ter apenas uma
"multa zero", depois de o Conselho de Ministros das Finanças da União
Europeia (Ecofin) ter aprovado hoje a abertura de um processo de sanções por défice
excessivo no ano passado.
Outrora, era possível
comprar uma empresa por um escudo, quando o passivo era enorme. O comprador
encarregava-se de recuperá-la, assumindo os encargos...
Entre 2012-2015, um
Governo garantiu-nos que cumpria tudo o que a União Europeia exigia, fazendo-o
porque considerava justo que os portugueses pagassem pelos desmandos dos
governos anteriores. Era uma questão de honra!
Sabemos, entretanto, que
esse governo, para além de mentir, vendeu, a baixo preço, grande parte do
património mais lucrativo.
Hoje, o ECOFIM aprovou um
processo de sanções por défice excessivo nos anos anteriores.
Despudoradamente, a
ex-ministra das Finanças responsabiliza o atual Governo pela decisão... E
ninguém se revolta contra tal descaramento! Eu, que não gosto de manifestações,
promovia uma para deixar claro que a política de subserviência foi errada... e
também para dizer à coligação que apoia o Governo que não há "multa
zero"... O simples facto de se passar uma multa é uma penalização para os
portugueses que agravará ainda mais a dívida.
Em suma, o Governo atual
deve acabar com o cumprimento de algumas promessas que bem sabe que, mais
tarde, pagaremos com língua de pau. E também acabar com o nepotismo cada vez
mais visível no sector público...
Finalmente, o Governo,
que domina mal a arte da retórica, deve perceber, de uma vez por todas, que, do
outro lado, o sorriso esconde sempre o cinismo.
11.7.16
Dimitri
Payet, o crime compensa...
Dimitri Payet, carrasco
de Cristiano Ronaldo, é o melhor jogador do euro(peu). Como se costuma dizer, o
crime compensa...A minha hesitação entre 'euro' e 'europeu', resulta de o
melhor jogador do euro ser, na verdade, o Zé barroso; o durão Dimitri Payet Pode
ser que o homem não tenha agido intencionalmente, mas o ato não pode ser
totalmente desligado da intenção do selecionador francês: «Não acredito
que seja possível anulá-lo (CR), mas vamos estar atentos e tentar limitá-lo». E
conseguiram, mas o tiro saiu-lhes pela culatra.
Quanto ao Zé barroso, não
há quem o trave, com ou sem crime... (Entretanto, para mim, o europeu 2016 já
terminou.)
11.7.16
Em síntese, a formiga ganhou. A
formiga obreira, mesmo se calcada, nunca desistiu.
No essencial, a formiga representa
todos aqueles portugueses que contrariam a adversidade, e ousam enfrentar
coletivamente todos os obstáculos que lhes surgem ao caminho...
(...)
A cidade-luz, ao perder a cor, não
está à altura da tão apregoada igualdade, pois "esqueceu-se" de se
solidarizar com o vencedor - o seu símbolo maior não se iluminou com as cores
de Portugal...
(...)
Finalmente, desvalorizar a ação do
Éder, como continua a ocorrer em certos canais televisivos, faz de alguns
comentadores pobres cigarras...
10.7.16
Antes que se faça tarde, desejo
que, no França /Portugal, os jogadores se entreguem ao jogo e que ganhe a
melhor equipa.
Não me interessa qualquer acerto de
contas futebolístico ou outro. Considero detestável o modo como esta final tem
vindo a ser apresentada como vingança dos "petits portugais".
E, sobretudo, não ignoro que,
apesar de múltiplas humilhações, o fluxo migratório para França, quase sempre
clandestino, nos anos 60, libertou mais de um milhão de portugueses da miséria
em que vivia nesta ditosa pátria...
O jogo entre portugueses e
franceses deveria ser de união, e apenas isso. A reconstrução da França muito
deve aos portugueses que, por sua vez, quase sempre encontraram no Hexágono o
lugar de redefinição das suas vidas.
Há muito que penso deste modo, até
porque num certo dia de Julho de 1964, o meu pai teve de partir para França
porque o granizo lhe destruíra o pouco que lhe restava da esperança...
9.7.16
O
Zé barroso não é o meu herói!
Não é verdade! O Zé barroso não é o
meu herói! E também não é o pícaro anti-herói. De nada serve querer classificar
o Zé, embora ele não seja único e, como tal, classificável...
Faço este esclarecimento porque não
quero que algum leitor apressado me confunda com gente de tal laia. Nunca quis
tal confusão, embora um dia um tio, supostamente bem informado, me tenha
acusado de pertencer ao MRPP.
Por experiência antiga, sei que
nunca poderia alinhar por essa cartilha. Ainda não esqueci os anos de 1975-77,
no Liceu Passos Manuel, quando aquela seita me boicotava as aulas de Português,
ao recusarem-se a ler Os Gaibéus, o Constantino Guardador
de Vacas, Os Esteiros, A Abelha na Chuva, tudo
porque os autores seriam seguidores do Barreirinhas Cunhal... O Zé barroso não
é o meu herói!
PS. Nesta literatura de Zés, há que
não esquecer o Zé, primeiro - o do terramoto - e o Zé, Sócrates - o da
bancarrota...
8.7.16
O Zé barroso é o meu herói
desde os tempos em que, sob o olhar atento do timoneiro, Arnaldo de Matos,
lutava contra o capitalismo, a guerra e a CIA, sem esquecer o KGB... Longe vão
os tempos, mas, para ele, a luta continua!
Consegue estar sempre no sítio
certo, na hora certa. Eu, apesar da hora certa, estou sempre no lugar
errado. Talvez, porque não me chamo Zé.
A explicação não é fácil! No
entanto, já o Zé, o carpinteiro, soube aproveitar o momento, apesar do que
outros Zés, do tipo saramago, insinuam...
Sem esquecer, o Zé, o mourinho,
que, também não perde uma oportunidade...
E claro, é melhor não esquecer o
Zé, do bordalo e do manguito, que, contrariamente ao que se afirma, sempre se
esteve nas tintas para o povinho.
Começo a acreditar que isto de se
ser Zé é meio caminho andado. Por exemplo, no próximo domingo, o
Cristiano, para mim, passa a chamar-se Zé, o ronaldo. E se tal não for
permitido, que o Fernando não se atreva a retirar da equipa, o Zé, fonte...
7.7.16
Há muito que
deitei fora a chave
Começo a compreender
aqueles indivíduos que levam tudo a brincar. Por vezes, parecem irresponsáveis,
mas, provavelmente, a atitude deles é a que melhor se adequa à realidade que
vamos construindo - uma realidade postiça, parola e artificiosa...
Lá no fundo, a jocosidade
é expressão de um embate perdido, mas que insiste em levar a melhor sobre a
tradição... Defender a tradição mais não é do que legitimar o poder instituído,
seja ele qual for.
A verdade é que eu levo
demasiado a sério situações que se apresentam como absolutas, que, no entanto,
também elas são formas de preservar um outro tipo de poder, mais profundo e
despótico, que não sei nomear, mas que determina o modo como leio, como rio e
até como escrevo...
Em suma, falta-me o
sentido de humor e nem a ironia me consegue compensar da prisão em que vivo.
Há muito que deitei fora
a chave e por isso espero que o barqueiro passe, embora me comece a faltar o
óbolo para lhe pagar a viagem.
Que
Fernando Santos retire o pé do travão...
Primeiro, a cruz, depois, o padrão.
Primeiro, o rei, depois, o cidadão.
Primeiro, a fé, depois, a liberdade.
Agora que Portugal se
apurou para a final do campeonato da Europa de futebol, e "as finais são
para ganhar", esperemos que o engenheiro retire o pé do travão e liberte
os jogadores das vírgulas...
de pouco serve a cruz
se já não há rei
nem padrão
que o cidadão finte e
remate
até que o bloco europeu
derreta
6.7.16
Um
povo que, para ser, precisa de crer!
Primeiro, a cruz, depois, o padrão
Primeiro, o rei, depois, o cidadão
Primeiro, a fé, depois, a liberdade
Um povo que, para ser, precisa de crer!
Só um povo maltratado pode acreditar tanto no jogo
E não importa quem perde, perdemos todos!
E não importa quem ganhe, ganhamos todos!
Um povo que, para ter, precisa que alguém vença por ele...
5.7.16
O
cabo de esquadra e as novas competências
Não basta ser político
para se ser competente, já dizia o cabo de esquadra do Estado Novo. Segundo
ele, a competência era apanágio daqueles que se julgavam eleitos por Deus.
Só os eleitos sabiam
definir o rumo; aos restantes, decidida a missão, mais não restava do que
cumpri-la. Se necessário, com a própria vida...
O cabo de esquadra não
sabia o que era o messianismo - na expressão nacionalista, o sebastianismo -,
mas sabia identificar o Eleito, e como tal, agia sempre em seu nome, o que
significava, para ele, cumprir a vontade do Senhor...
Agora que os políticos se
preparam para rever as competências necessárias a um jovem obrigado a cumprir a
escolaridade obrigatória, há uma questão que me atormenta: necessárias para
quê?
Entretanto, o cabo de
esquadra já me começou a soprar ao ouvido que não devo atormentar-me, pois os
desígnios do Senhor são insondáveis. Basta que eu dê atenção ao Eleito para
orientar tal missão: Guilherme de Oliveira Martins - católico, praticante; socialista,
quanto baste; paladino da interculturalidade; educador realista; zeloso
defensor das finanças públicas e privadas; servidor abnegado de fundações... e
sobretudo, capaz de navegar em todos os contextos políticos. Competência não
lhe falta!
4.7.16
Sorte,
a de Miguel Torga, não teve de comparecer!
O antigo
primeiro-ministro José Sócrates está presente na inauguração do Espaço Torga,
em São Martinho de Anta, Sabrosa, projecto que impulsionou enquanto chefe de
Governo (2005-2011).
Sorte, a de Miguel Torga,
não teve de comparecer!
Homem, genuinamente
socialista, nunca foi complacente com o poder, nem quando este o perseguia, nem
quando as afinidades políticas poderiam explicar alguma conivência. Soube
sempre afastar-se dos interesses e, sobretudo, recusou favores, mesmo que tal
significasse um progressivo ostracismo.
Profundo conhecedor do
povo, defensor de uma identidade portuguesa e ibérica, austera e honrada,
Torga, se fosse vivo, dificilmente ficaria em silêncio na presença de tão
ilustres governantes.
3.7.16
Como é que se pode
considerar interessante uma história sem enredo, sem definição das
circunstâncias?
Não basta partir do
pressuposto de que o leitor se interessa pela referência para que a história
ganhe consistência.
Por aquilo que vou
observando, a história acontece quando se espera agitadamente por um
olhar, uma atenção, um autógrafo do ídolo de momento, para que os possamos
partilhar numa rede social.
Afinal, a história
acontece quando, momentaneamente, passamos a ser vistos do lado de lá do nosso
anonimato.
Na verdade, o que custa é
não existir aos olhos dos outros. Pelo menos, assim parece!
2.7.16
O
interessante nesta história...
Os peixinhos da Quinta
das Conchas estão demasiado inchados. Não creio que estejamos na presença de
nenhuma variedade de peixe-balão, o que, de si, também seria preocupante.
Portanto, os pobrezinhos devem estar a engolir demasiadas bactérias, não tendo
forma de se defender...
Felizmente, o nosso
presidente Marcelo ainda dispõe de livre-arbítrio, tendo sabido desfazer-se do
Mercedes de 129.000 € que o ex-presidente Cavaco lhe ofertou. Para quem prezava
a austeridade, é obra!
O interessante nesta
história é que o peixinho foi parar às mãos do primeiro Costa que não encontrou
forma de se livrar da bactéria... talvez, porque, a seu tempo, não tenha
cuidado devidamente dos lagos da Quinta das Conchas...
(A realidade deve ser
muito diferente, mas aqui fica a minha interpretação, esperando que ela esteja
errada...)
1.7.16
Pedir para explicar uma
reação pode tornar-se um bico-de-obra. Há situações em que a reação não tem
explicação possível.
Ainda se alguém pedisse
para indicar os sinais dessa reação.... Por exemplo, a ex-ministra das Finanças
insiste em reagir à política económica e financeira do atual governo... O
melhor seria estar calada, mas não, ela prefere falar sem dizer nada, e fá-lo
num tom birrento e infantil de criancinha mimada...
A menina bem poderia
aprender com o Cristiano Ronaldo que não reage ao falhanço no Portugal-Polónia,
pois, no íntimo, nem ele próprio compreende por que motivo o automatismo
falhou...
Um outro mau exemplo é o
do João Soares que insiste em reagir, no caso, à condenação do Macário Correia -
pretensa vítima das patranhas da Justiça...
30.6.16
A
inocência do diretor do Museu da Presidência
«O Diretor do
Museu da Presidência da República, Diogo Gaspar, é suspeito de levar para a sua
residência de férias, no Alentejo, quadros e estátuas da instituição.»
Estou convencido de que o
Diretor da Museu da Presidência, Diogo Gaspar, levava as obras de arte para
casa para as poder estudar sossegadamente. Os ex-presidentes eram muito
espalhafatosos (Sampaio e Cavaco) e estavam sempre a interpelá-lo sobre os
temas, a perspetiva, as cores, os materiais, o claro-escuro, a adequação ao
lugar...
Se forem chamados a
depor, Sampaio e Cavaco darão certamente testemunho dos fins de tarde, em que
Diogo Gaspar, depois do apurado estudo provinciano, lhes satisfez
minuciosamente a curiosidade.
Só esse zelo e abnegação
podem explicar a necessidade sentida pelos ex-presidentes da República de o
condecorar...
A
luz verde do senhor Wolfgang Schäuble
O ministro das Finanças
alemão, Wolfgang Schäuble, declarou esta quarta-feira que Portugal precisa e
deve pedir um novo programa de ajustamento. Mais, acrescenta o governante
alemão, se o fizer terá 'luz verde'.
Este alemão, apesar do
recuo, disse o que a Alemanha quer de Portugal. Por mais que os nossos
governantes se contorçam nas cadeiras ou inventem soluções para
"esconder" a dívida dos bancos, das empresas, do estado e dos
particulares, o caminho está à vista de todos...
Penso que deveríamos
levar a sério o conselho de Wolfgang Schäuble, e dizer-lhe que, em
Portugal, "luz" e "verde" são termos incompatíveis...
O senhor Wolfgang
Schäuble, para além, de deixar de fingir que se precipitou, o melhor que tem a
fazer é dar um pouco mais de atenção à cultura portuguesa, até porque nela
encontrará muita da prepotência que o caracteriza.
29.6.16
Um
exemplo de ironia: a excecionalidade da retenção
O Ministério da Educação
defendeu que cabe às escolas decidir se um aluno com muitas negativas passa ou
não de ano, no âmbito do carácter de excecionalidade das retenções previsto na
lei, interpretado de forma livre pelos estabelecimentos.
Leio a nota do ME, tendo
no horizonte a recomendação do FMI de que Portugal necessita de reduzir o
número de professores, e eu concordo não com o ME, mas com o FMI...
Há alunos que transitam
com 7 classificações negativas e outros não. Transitam para onde?
Pois, deve ser para o ano
seguinte. E o que é que fazem no ano seguinte? Dão cabo da turma em que são
inseridos e fazem perder a paciência ao Diretor de Turma, sem esquecer os
pobres dos professores, às voltas com as chamadas estratégias de recuperação e
/ ou de enriquecimento.
Muito da depressão dos
docentes tem origem nesta trapalhada, em que muitos chutam para a frente de
qualquer modo, porque é considerado incorreto reter o aluno ou, em alternativa,
criar turmas de nível.
O insucesso não é apenas
resultado da retenção. Em muitos casos, ele é fruto da transição. Há, por aí,
muito sucesso individual que tem contribuído para o atraso estrutural deste
país.
Não consigo entender por
que motivo não são criadas turmas de nível nas disciplinas estruturantes, como
Português, Matemática, Língua Estrangeira, História, Filosofia... com os
recursos docentes e pedagógicos mais adequados.
Sim, mas para isso, o ME
tem de se instalar nas escolas, averiguar o que lá se passa e disponibilizar os
recursos financeiros necessários.
Nota final: a figura da
autonomia pedagógica é, neste caso, uma boa desculpa para a
(ir)responsabilidade do ME.
28.6.16
Eu raramente leio a
revista Visão. Não por falta de visão, mas por falta do vil metal.
No entanto, quando o faço, consulto sempre a ficha técnica para verificar se o
meu antigo aluno, Filipe Luís, por lá continua. Lembro-me dele, porque
integrava uma turma do 9º ano (Escola Secundária de Santa Maria -
Sintra) de boa cepa - vários alunos mostravam-se competentes no exercício
da escrita, tendo já iniciativa jornalística e radiofónica...
Esta memória, creio que
está correta, mas pode ser o resultado de "um desmiolado" capaz de
"vender a própria mãe para dispor de acesso livre ao Estado" ou, em
alternativa, uma daquelas "pessoas de bem que se servem dos gays para
se promoverem". Esta classificação, um pouco contraditória, tem autoria: o
sociólogo Alberto Gonçalves.
Quem, de vez em quando,
lê os meus desabafos, sabe que eu tenho especial apreço por este sociólogo, que
eu costumo encontrar ao domingo no Diário de Notícias. A verdade é
que não esperava encontrá-lo na Visão, mas, afinal, ando mal
aconselhado - ele deve estar um pouco por toda a parte, a destilar o ódio que
nutre pelo PS...
Desta vez, o principal
alvo é a sua direita que anda cega, o que me leva a pensar, provavelmente, de
forma incongruente, que a ironia é um tropo incompreendido pela direita. A
ironia não é coisa séria!
E curiosamente lembro-me
que sempre me afligi quando os meus alunos não conseguiam perceber se aquilo
que eu lhes dizia "era a sério ou a brincar"...
(Visão, 8 junho 2016,
última página.)
27.6.16
Num tempo de globalização
e de mudança tecnológica constante, esperar-se-ia que aqueles que mais tempo
trabalharam cedessem o lugar aos mais jovens.
Essa substituição seria
naturalmente regenerativa, porque traria nova energia, novas ideias e,
principalmente, uma superior capacidade de lidar com a mudança...
Por exemplo, na educação,
esse processo de substituição traria uma aproximação geracional que, em si, só
poderia reforçar o clima relacional e, consequentemente, acelerar o
desenvolvimento cognitivo...
Por essa Europa fora, as
gerações mais velhas, em nome do statu quo, opõem-se à mudança,
sempre que ela significa integração e aceitação do outro...
Mas não são apenas os
mais velhos, são, principalmente, os governantes que não compreendem que só a
renovação geracional pode dar sentido à vida daqueles que, apesar de mais
habilitados, se arrastam e fenecem pelas vilas e cidades e, ao mesmo tempo,
garantir o futuro dos mais idosos.
Caso não consigamos fazer
a tempo e de forma honrosa essa renovação, acabaremos, todos, mais pobres, mais
revoltados e mais tristes.
Não sei se o jogo
Portugal - Croácia merece tanto frenesim, mas a verdade é que Portugal passou
esta etapa.
Só não compreendo é que
com tão bons jogadores, a bola não chega ao Cristiano Ronaldo.
O melhor seria, talvez,
pedir a Nossa Senhora de Fátima que o Fernando Santos ponha o Renato Sanches a
jogar de início e já, agora, que o autorize a rematar.
Não sei se, ontem,
aconteceu alguma coisa mais neste país. Parece-me que o Fernando Pimenta ganhou
o campeonato da Europa, mas não o de futebol...
PS. O canoísta Fernando Pimenta conquistou, no campeonato da Europa,
duas medalhas de ouro, em Moscovo: K1 5000 e K1 1000.
25.6.16
Que haja perto de três
milhões de refugiados na Turquia ou que a população sénior do Reino Unido,
porque não gosta que a paisagem humana se modifique, tenha votado a favor da
saída da União Europeia são questões de pouca monta.
No Sul da Europa, o mais
importante são as festas, a praia, a comidinha, o futebol e até a religião - as
seitas proliferam com os seus escaparates móveis...
Pelo que acabo de
observar, na primeira página de um pasquim, vinga a mesquinhez, pois, não
podendo humilhar antecipadamente Cristiano Ronaldo, coloca-o numa posição
dúbia...
24.6.16
Na noite do Brexit,
Marcelo e Costa participaram no S. João no Porto. Amanhã, não irão perder o
jogo de Portugal contra a Croácia.
Só se S. Cristiano
Ronaldo não nos fizer ganhar a eliminatória é que despertaremos para o
afundanço financeiro e para o retrocesso económico...
Entretanto, o partido
alemão já começou a acusar a "geringonça" de nos estar a colocar a
jeito para o caos que se avizinha, como se Passos e companhia não tivessem
fortemente contribuído para engordar o partido dos eurocéticos.
Com esta classe política,
não vamos lá!
O melhor seria aproveitar
a próxima vinda do Papa a Portugal para, pelo menos, beatificar o Cristiano
Ronaldo... e deixarmo-nos definitivamente de políticas...
(Nos bastidores, está a
ocorrer uma interessante mudança de diretores nos jornais. Porque será?)
23.6.16
Os
exames deveriam ser realizados ao princípio da noite
Ana Allen Gomes lembra
que existe, inclusivamente, investigação que sustenta a marcação de exames, a
partir da adolescência, para o período da tarde, com início às 15h00. E quando
assim é "adolescentes e jovens adultos têm mais oportunidades de obter uma
duração de sono adequada na véspera do exame".
Eu acredito na
ciência meridional, sobretudo, quando ela, para assegurar que os jovens tenham
dormido e repousado o suficiente antes das aulas e dos exames, defende que eles
devem passar as manhãs - até à hora da sesta? - na caminha...
As madrugadas já não são
o que eram! Imagine-se que os capitães de Abril, na noite de 24, tinham ido
para as docas, dormido até tarde, e iniciado a marcha ao entardecer...
Explicaram-me, em
tempos, que "o adolescente" era um produto dos liceus. A criança, em
vez de entrar de súbito na vida adulta, passou a viver um intervalo de
escolarização que permitiu gerar essa nova fase de maturação, que foi designada
por adolescência...
Entretanto, com a
extensão da escolaridade obrigatória e a criação de vários graus no ensino
superior, os adolescentes passaram a ser considerados jovens adultos. Só não se
sabe é quando que esta nova fase termina: aos 30, aos 40 anos?
Caso esta minha
reflexão resulte de alguma ciência, a verdade é que trabalho
atualmente para um ministro da educação - jovem adulto. A esta hora, já o
ministro terá lido a tese da cientista Ana Allen Gomes...
Em conclusão, espero
que, no próximo ano letivo, mesmo que os exames não possam ter
início ao anoitecer, comecem às 15h00, em ponto...
A
shadenfreude do Correio da Manhã TV...
« Il existe un joli mot allemand, Shadenfreude, la jouissance de
l'infortune d'autrui. C'est ce sentiment qu'un journal doit respecter et
alimenter. » Umberto Eco, Numéro Zéro, page160, Le Livre de Poche.
Cristiano Ronaldo é,
apenas, o alvo de maior renome de que o grupo Correio da Manhã se serve para
proporcionar prazer à custa da desgraça alheia.
Acidentes, incêndios,
rixas domésticas, casos de corrupção, todos servem o mesmo objetivo: lucrar com
a boçalidade do espectador e do leitor. E por isso, as " imagens" são
repetidas à exaustão; as notícias são recicladas, desenterrando o lado obscuro
da vida dos próprios defuntos, como acontece, por exemplo, com as alusões mais
ou menos explícitas ao pai do Cristiano Ronaldo...
Perante este jornalismo,
de tipo abutre, por mais que critiquem o Cristiano Ronaldo por ter atirado o
microfone ao lago, eu compreendo-o perfeitamente - Quem não se sente
não é filho de boa gente!
22.6.16
Não
gosto de empates nem de empatas
Não é por nada, mas não
gosto de empates nem de empatas. Na vida, como na bola, o empate não serve
ninguém.
Por esta hora, sinto-me
feliz. Vou esperar por sábado, ciente que, no jogo, o empate não é solução.
Como eu gostaria que esta minha confiança fosse extensiva à vida política
portuguesa.
21.6.16
Estaremos
a ficar desenvergonhados?
«...ça signifie que
nous sommes en train de perdre tout sentimento de honte.» Umberto Eco,
Numéro Zéro, page 232, Le Livre de Poche.
(Já não sei se estamos a
ficar desenvergonhados ou se nunca aprendemos a ter vergonha.)
Esta minha indecisão é
filha de um estado contraditório em que a educação judaico-cristã me fez
respeitar certos princípios (valores?), como os do pudor, da
responsabilidade e da honra. Sempre que desrespeitasse alguma destas regras,
deveria sentir vergonha, confessar o pecado e arrepender-me... Por outro lado,
Nietzsche e Freud alertaram-me para o peso excessivo da censura cultural e
pessoal, deixando-me a balouçar entre a autocrítica permanente e um certo tipo
de libertinagem, bastas vezes, antissocial.
Ouvi ou vi escrito que
Armando Vara pede uma comissão de inquérito parlamentar que avalie o seu
contributo para a bancarrota em que o país mergulhou. O mesmo exigem o PSD de
Passos e o CDS de Cristas, embora por motivos diferentes...
Todos eles se dizem
católicos; nenhum será judeu, quero crer. No entanto, comportam-se como
suicidas a quem a palavra do Livro nunca terá chegado.
20.6.16
Domani é o nome de um
jornal, imaginado para, sem chegar a ser publicado, dar conta do modo como o
jornalismo perde, por inteiro, a independência e de como os jornalistas são
controlados por um diretor ao serviço de um "patrão", cujo único fito
é eliminar todos os que lhe podem travar a ambição.
O que acabo de escrever
procura interpretar o pensamento de Umberto Eco no romance Número Zero.
Apesar de publicado em 1992, só agora o leio, mas vejo nele, mais do que
o manual do mau jornalismo da época, uma antevisão do
jornalismo da atualidade...
PS. Creio que este livro
deveria ser de leitura obrigatória de jornalistas, advogados, magistrados,
sem esquecer algumas das vítimas da comunicação, dita, social.
19.6.16
O
pecado privado e o pecado público
Ontem, pedi aqui perdão,
mas não disse do quê.
E também ninguém se
preocupou com a falta do complemento direto. Terão, talvez, pensado que me
referiria à minha ausência na manifestação em defesa da escola pública. De
certo modo, era verdade - o meu espírito gregário é frágil.
No entanto, o que eu
quero reafirmar é que nada tenho contra a escola pública nem contra a escola
privada. Estudei e ensinei em ambas, e encontrei virtudes e defeitos nas
pessoas que as serviam ou que, infelizmente, se serviam delas / nas pessoas que
as servem ou que, infelizmente, se servem delas.
Sei que insistir neste
tipo de abordagem pode parecer insanidade minha, mas é assim que penso.
O pecado privado em nada
se distingue do pecado público. Por exemplo, o padrão comportamental da
gestão do CGD é, afinal, o mesmo do BES, do BANIF, do BPN, do BPP.
Arruínam o país. Não têm
perdão. No entanto, os responsáveis continuam à solta. Provavelmente, porque,
num país católico, só o Juízo Final lhes ditará o destino...
E isso eu não perdoo!
18.6.16
Espero que me perdoem,
mas eu nunca fui de autos de fé, touradas e procissões!
Raramente, fui a uma
manifestação. E quando fui, não posso dizer que me tenha arrependido, mas
senti-me sempre a mais.
A verdade é que detesto
fenómenos de massas, talvez porque considere que os pastores são verdadeiros
manipuladores de opinião, acabando mais cedo ou mais tarde por tosquiar o
rebanho...
Nada tenho contra a
escola pública, nem a consigo imaginar como inimiga da escola privada. Para
mim, simplesmente, há homens e mulheres, nos dois lados, que não são dignos de
se ocupar da instrução do cidadão.
17.6.16
Se eu fosse inglês,
votaria a favor da saída da União Europeia. Não é que a ilha se baste a si
própria, mas pode sempre aprofundar os laços económicos e financeiros com as
suas extensões coloniais, evitando, deste modo, a supremacia germânica...
Portugal, antiga e
reiterada extensão colonial inglesa, no essencial pode apresentar os mesmos
argumentos que o Reino Unido, pois o centro da Europa insiste em desligar-nos
do passado de descoberta e, posteriormente, colonial.
A verdade é que, se a
nossa soberania, no passado, sempre foi frágil, hoje, não passa de uma ilusão.
Não há matéria em que possamos tomar uma decisão sem a aprovação do suserano.
À Alemanha, a saída da
Inglaterra acaba por ser conveniente. A médio prazo, acabará por aceitar a
adesão da Turquia e negociar acordos económicos favoráveis com a Rússia...
E Portugal, em vez de ser
o rosto da Europa, como defendeu Fernando Pessoa, acabará por ser a porta dos
fundos.
16.6.16
A
violência corrói os nossos dias
Jo Cox, representante
de "West Yorkshire" no Parlamento britânico foi assassinada.
Não há hora em que a
violência não seja notícia e, sobretudo, repasto para multidões famintas de
sangue.
A causa pouco interessa,
embora se saiba que, em muitos casos, a violência pontual procura que a mesma
se multiplique. Parece que, por toda a parte, a agressão substitui a palavra,
sem esquecer aqueles que usam a palavra para incitar à violência.
Da Rússia aos Estados
Unidos, passando pela Turquia, pela França e pela Inglaterra, a vertigem da
barbárie tomou conta dos comportamentos mais primários, atirando a educação
para o caixote do lixo.
Jo Cox, defensora de
causas humanitárias, é a vítima ideal para os fundamentalistas que, a todo o
momento, calcam aqueles que procuram preservar a lenta humanização do homem.
O que, ultimamente, se
tem visto, é o despertar da irracionalidade que, no passado ainda próximo, fez
milhões de vítimas.
15.6.16
Dizem
que o exame foi "superacessível, superfácil"...
Pouco tenho a dizer!
Afinal, a "geringonça" não mudou nada, a não ser, talvez, a ideia de
colocar os alunos do 12º ano a opinar sobre o papel da educação «na construção
dos ideais, da liberdade e da justiça social.»
Vamos ter muitas
opiniões, todas "superfavoráveis", com muitos exemplos e zero
argumentos!
E andou o Eça a testar
sistemas educativos, para concluir que, em Portugal, a educação não levava a
lado nenhum: desenhou personagens, testou-lhes o carácter, mergulhou-as no
meio, ora provinciano, ora citadino, sem esquecer o cosmopolita... e NADA. Tudo
na MESMA!
Se o exame era
"superacessível", espero que as respostas não sejam
"superfrouxas" e "superpopularuchas".
14.6.16
Será que a 'geringonça'
se entendeu para substituir José Saramago e Sttau Monteiro por Manuel Alegre?
Por dar a palavra a um daqueles poetas vivos que sempre soube escutar os
outros poetas?
FIQUE CLARO que eu
não sei responder... No entanto, se me pusesse a adivinhar escolheria o poema
AS PALAVRAS:
Palavras tantas vezes
perseguidas
palavras tantas vezes
violadas
que não sabem cantar
ajoelhadas
que não se rendem mesmo
se feridas.
Palavras tantas vezes
proibidas
e no entanto as únicas
espadas
que ferem sempre mesmo se
quebradas
vencedoras ainda que
vencidas.
Palavras por quem eu já
fui cativo
na língua de Camões vos
querem escravas
palavras com que canto e
onde estou vivo.
Mas se tudo nos levam
isto nos resta:
estamos de pé dentro de
vós palavras.
Nem outra glória há maior
do que esta.
Manuel Alegre, O
Canto E As Armas, 1967
(Expliquemos lá então a
opção de Manuel Alegre, sem esquecer a circunstância...)
E se quisesse escolher
outras "palavras", escolheria as de Eugénio Andrade...
13.6.16
Exercícios
de ansiedade gramatical
Este post pode parecer
descabido. No entanto, vou arriscar colocar aqui o questionário que acabo de
elaborar para todos aqueles alunos que têm o hábito de procurar em CARUMA
respostas para algumas das suas dúvidas.
Desta vez, o melhor é ter
uma Gramática à mão...
Os enunciados foram
extraídos do Diário de Notícias de 12 de Junho de 2016.
1. Emigrantes
gostam do hiperativo e do hiperotimista.
a. Classifique,
quanto ao processo de formação, as palavras sublinhadas.
2. Alunos
portugueses são dos que têm mais férias no verão.
a. Substitua dos por
um pronome demonstrativo.
b. Divida
a frase em orações e classifique-as.
c. Na
2ª oração, existe um modificador. Transcreva-o.
d. Em
1 e 2, o grupo nominal não é antecedido pelo determinante artigo. Explique
porquê.
3. Foram
aprovados dois protestos. Os socialistas votaram dos dois lados…
a. Classifique
sintaticamente o constituinte sublinhado.
b. Substitua
por um quantificador a expressão “dos dois lados”.
c. Classifique
esse quantificador.
d. Coloque
na voz ativa a primeira frase.
4. Para
os Portugueses, o grande problema é o défice público. Neste capítulo, Portugal
é incorrigível.
a. Classifique,
quanto à formação, a palavra sublinhada.
b. Classifique-a,
também, quanto à função sintática.
c. Explicite
o antecedente de “Neste capítulo”.
d. Identifique
dois grupos preposicionais e descreva-os.
e. “Neste
capítulo” é um estruturador de informação ou um reformulador explicativo?
5. Nos
EUA, a bossa-nova institucionalizou-se de tal forma que os
americanos acham que é deles…
a. Classifique,
quanto à sua formação, a palavra sublinhada.
b. Divida
as orações, e classifique a segunda e a terceira.
c. Transcreva
o antecedente “deles”.
d. Na
primeira oração, o verbo é pronominal ou pronominal reflexo?
e. Na
frase transcrita, destaque os elementos linguísticos que asseguram a cadeia de
referência.
6. Promoção
do mês: um corte de cabelo à Ronaldo por 16 euros.
a. 16
corresponde a que tipo de quantificador? (Interrogativo, universal,
existencial, relativo, numeral fracionário, numeral cardinal…)
b. Observe
a frase nominal e transforme-a numa frase verbal.
c. Indique
a função dos dois pontos no enunciado.
d. Especifique
a constituição do grupo preposicional “à Ronaldo”.
e. “Corte”
é uma forma de base ou um caso de derivação não afixal?
f. “de
cabelo” é um complemento do nome ou um do modificador restritivo do nome?
g. Dê
um exemplo de modificador apositivo do nome.
7. É
o segundo em meia dúzia de dias. Na semana passada, vi na televisão um amigo,
jornalista de carreira longa e escritor de basta obra, falando sem complexos da
sua experiência como motorista de tuk-tuk em Lisboa.
(…)
- Joel Neto! – ouço, num
berro inesperado, entre a exultação e o calduço, algures na rua dos Fanqueiros.
– O que é que faz aqui sua excelência, pá?! Veio à capital?!
É outro escritor e
jornalista ainda, e com uma obra mais expressiva do que o primeiro – dos
jornais à TV, dos livros de viagem à ficção. Pára a motinha, com os turistas
assarapantados no banco de trás. Apita, fez três aceleradelas, ri-se.
Cumprimentamo-nos calorosamente, perguntamos pelas patroas e depois ele
perde-se pela rua do Comércio.
a. Joel
Neto aplica o acordo ortográfico de 1990 ou não? Justifique.
b. Na
frase “É o segundo em meia dúzia de dias”, a palavra
sublinhada funciona é uma catáfora porque o referente se apresenta antes ou
depois?
i. Transcreva
o referente.
c. “segundo”
é quantificador numeral ordinal ou cardinal?
d. Em
“jornalista de carreira longa e escritor de basta obra”,
os adjetivos têm, ambos, valor restritivo ou não? Explicite.
e. “Tuk-tuk”
é exemplo de empréstimo interno ou externo?
f. Nas
orações “Apita, fez três aceleradelas, ri-se”, a coordenação é sindética ou
assindética?
g. Em
“O que é que faz aqui sua excelência, pá?!”, o ato ilocutório
é assertivo ou diretivo?
i. Classifique
o deítico sublinhado.
ii. Em
termos sintáticos, qual é o valor do termo sublinhado.
iii. Comente
a expressividade da sequência “sua excelência, pá”.
h. No
texto transcrito, a pergunta “Veio à capital?!” é, ou não, exemplo de um
processo de Implicatura conversacional? Justifique.
i. O
texto de Joel Neto corresponde a um protótipo injuntivo-instrucional ou a um
protótipo interrogativo.
j. No
último período do texto, identifique dois exemplos de conotação.
k. Em
relação aos meios de transporte “a motinha” é um hipónimo ou um merónimo?
12.6.16
A
escola pública e o ensino das línguas
"As minhas filhas
fizeram o jardim-de-infância e a primária numa escola pública. E agora estão na
Escola Alemã, (...) tem a ver com a opção por um currículo internacional. Para
mim era importante que elas tivessem uma educação com duas línguas que funcionassem
quase como maternas, digamos assim. Se assim não fosse, andariam obviamente
numa escola pública." Alexandra Leitão, secretária de Estado da
Educação.
A secretária de Estado da
Educação, Alexandra Leitão, tem dado provas de coragem ao afrontar os
interesses instalados no Ensino Privado, no entanto, na entrevista dada à
Visão, faz prova de falta de visão política, pois se o ensino público deve
promover a igualdade, em matéria de ensino das línguas estrangeiras, não o faz
já há muitos anos, por mais que se aposte no ensino do inglês desde o primeiro
ciclo.
Um país periférico da
União Europeia, se quiser competir com o centro dessa comunidade, tem de
generalizar o ensino das línguas nacionais dos parceiros europeus mais
poderosos, e fazê-lo recorrendo a professores devidamente habilitados e a
métodos adequados à idade dos jovens alunos. E a senhora secretária de Estado
sabe disso, como, em geral, a classe política o pratica com os seus filhos.
Ainda, nos últimos dias,
tive oportunidade de compreender a fragilidade da situação portuguesa, ao
assistir à projeção internacional dos filmes realizados pelas oficinas de
cinema de países como a Bulgária, o Reino Unido, a Alemanha, a Finlândia, a
Lituânia, a França, Portugal, a Bélgica, a Espanha, Cuba, o Brasil e o México.
As oficinas eram constituídas por jovens, entre os 7 e os 18 anos. Durante 3
dias, os jovens realizadores, produtores e atores apresentaram defenderam o
filme produzido por cada equipa e, sobretudo, questionaram de viva-voz o
trabalho das restantes oficinas.
Ora nesta situação de
exposição pública, não pude deixar de compreender a dificuldade portuguesa em
questionar os trabalhos apresentados ou de compreender as questões colocadas na
Cinemateca Francesa.
Há um défice imperdoável
num dos pilares da formação e da educação em Portugal - o ensino das línguas
estrangeiras. A senhora secretária de Estado da Educação sabe-o, porque não
ignora que há um "currículo internacional" e que o escolheu para os
seus filhos...
Não se trata, aqui, dos
jovens portugueses serem mais ou menos ricos ou pobres. Trata-se, sim, de
desenhar uma política da língua materna e estrangeira que nos tire da
periferia...
11.6.16
De
Paris, fica-me uma imagem de caos
De Paris, fica-me uma
imagem de caos. O lixo amontoa-se a céu aberto. As avenidas abrem-se em
estaleiros intermináveis. Ontem, fechadas ao trânsito, eram infindáveis
vazadouros humanos conduzidos por pastores de ocasião, pendurados nas grades
das grandes obras, e vigiadas por milhares de agentes das forças
militarizadas... Os adeptos do futebol davam expressão ao contentamento, de uma
forma brutal, ensurdecedora e irracional. É assustador como cantam a
marselhesa, à exaustão...
Da racionalidade
cartesiana, pouco sobra... De tal modo que a deslocação a Paris, para mim,
terminou numa visita demorada ao Père Lachaise...
Pode parecer estranho,
mas esta minha ida a Paris pouco teve de turístico. Afinal, o meu papel era o
de acompanhar um grupo de nove jovens (dos 16 aos 18 anos) cujo objetivo seria
o de apresentar o "filme-ensaio" realizado no âmbito do projeto "À
nous le cinéma! Une expérience de cinéma à l'école".
A verdade é que um grupo
de jovens portugueses, nesta faixa etária, em Paris, tem inevitavelmente uma
outra prioridade e, quando tal acontece, o papel do acompanhante torna-se muito
espinhoso.
Paris ter-lhes-á ficado
na memória, apesar dos riscos vividos, regressando todos a precisar de
dormir...
10.6.16
Em Paris, l'important c'est la musique !
Já é tarde e estou
impaciente.
O dia começou cedo. Só
que o avião (da Vueling) partiu com duas horas de atraso. Em Orly, pensei que
tinha regressado a Sacavém - o condutor do transbordo parecia um principiante;
os taxistas (3), nenhum sabia o caminho para a Cinemateca francesa - nem o GPS
ajudava...
Entretanto, as horas
tinham passado sem almoço; foi-nos dito, que por iniciativa de um colega de
outra escola, alguém nos tinha reservado 17 sandes. O problema é que ninguém
sabia delas - tinham sido roubadas!
Reduzidos a dez sandes
(de frango /atum) que levaram imenso tempo a ser confecionadas, os meus
acompanhantes acabaram por entrar na sessão da tarde, que decorria na sala
Henri Langlois, cinco minutos antes daquela ser dada por terminada...
Na atmosfera, apesar de
tudo o que nos ia acontecendo, reinava uma certa euforia. A ministra francesa
do Ambiente tinha estado presente, vários realizadores compareceram e
explicaram os documentários que foram apresentados no período da tarde...
Depois houve pic-nic:
brasileiros (ricos e pobres) descobriram em Paris que havia portugueses de
Lisboa e da margem sul Tejo...
Já tarde, chegados ao
hotel, os jovens prepararam-se com esmero para a noite de Paris... e aí começou
a minha impaciência que ainda não terminou... Percorrida a rua Faubourg de
Saint-Antoine em direção à Praça da Bastilha, fiquei a perceber que a História
pouco importa... L'important c'est la musique!
8.6.16
Nos próximos dias, vou
tentar perceber como é que a meteorologia influencia o cinema, porém, talvez,
acabe por descobrir que a questão é mais de tema do que de influência. Por
outro lado, também me interrogo se não seria melhor procurar o modo como o clima
influência o cinema.
Só que a minha perceção
desta temática parece estar errada, pois o clima e o tempo serão ramos da
meteorologia.
O tempo abarca o estado
físico das condições atmosféricas num determinado momento e local. Ora o
cinema, se não for produzido em estúdio, será sempre determinado pelas estado
da atmosfera e do lugar.
7.6.16
Pode parecer uma ideia
triste e absurda. A verdade, no entanto, é que depois de passar umas horas nos
corredores das urgências do Hospital de S. José, dei comigo a pensar que os
cemitérios deste país são muito mais hospitaleiros...
Não só o espaço é
insuficiente para todos aqueles que se veem para ali atirados, alguns sem
qualquer noção do tempo e do lugar, como é evidente a falta de clínicos e de
pessoal de enfermagem.
Hoje, por exemplo, nas
urgências, para além de todo o tipo de doentes, alguns moribundos,
havia presos, guardas prisionais, polícias de trânsito, bombeiros,
maqueiros, seguranças privados, voluntários... só não havia médicos, e os
que por ali circulavam eram tão novinhos...
É muito triste que os
doentes passem o dia inteiro nas urgências, o que os leva, frequentemente, a
abandonar o Hospital sem terem sido devidamente atendidos. E, também, é
triste que o facto de ser estrangeiro possa permitir passar à frente...
Em conclusão, quando eu
for internado num hospital ou num hospício, não me visitem. Peço-vos que deem um
passeio pelo cemitério mais próximo, e descansem uma boa hora à sombra
hospitaleira de um cipreste...
6.6.16
Estou indeciso! Não sei
se escreva sobre uma certa tendência da escola pública ou sobre uma ideia do
romancista Stendhall: Rapporter du revenu est la raison qui décide de
tout dans cette ville qui vous semblait si jolie. L'étranger qui arrive, séduit par la beauté des fraîches
et profondes vallées qui l'entourent, s'imagine d'abord que ses habitants sont
sensibles au beau... » Le
Rouge et le Noir, Livre premier.
Um pouco como o
estrangeiro que chega a Verrières, e perante a beleza do lugar, imagina que os
habitantes são sensíveis ao belo, também eu quero acreditar que a escola
pública se rege pelo rigor avaliativo. No entanto, verifico, a cada ano que
passa, que há um número significativo de alunos que consegue obter vinte
valores, na avaliação interna, nas mais diversas disciplinas, sujeitas ou não a
exame externo.
O vinte, mais do que
premiar a excelência, consagra um tempo de emoção vivida pelo professor que se
revê no discípulo, um pouco como o pai se revia outrora nos sucessos do
filho...
E o mais interessante é
que este tipo de excelência, em muitos casos, não tem qualquer continuidade no
prosseguimento de estudos, até porque, na verdade, estamos perante perfis que
não trazem qualquer contributo enriquecedor à comunidade...
Agora que se aproxima o
professor-tutor, desconfio que o número de vintes irá crescer ... como se os
portugueses apreciassem o rigor.
5.6.16
Não é fácil chegar à
praia se quisermos ir pela Marginal. Há quem mande a PSP cortar o trânsito
durante uma manhã inteira.
Não sei quem manda nem se
paga o serviço. O que sei é que o cidadão acaba desviado para a autoestradas,
sem aviso atempado, tendo de pagar retrocesso e portagens.
Por outro lado, também
não sei por que motivo é necessário cortar estradas em lugares onde há tantas
pistas para peões e para ciclistas... E bem sabemos como estas soluções são
caras para o contribuinte...
Nada contra a pegada
ecológica! Mas, nestes casos, desconfio que a iniciativa, para além de pouco
limpa, é, sobretudo, política...
4.6.16
Uma árvore, de pé!
Há uns tempos, parecia
condenada...
Hoje, certas zonas do
tronco reflorescem, como se a morte se tivesse distraído... Também nós estamos
condenados, mas quem sabe se um dia parte de nós desabrochará noutro lugar ou
noutra hora..
Um destes dias,
disseram-me que, no ano passado, por esta altura, eu definhava a olhos enxutos.
Quem sabe se parte de mim não regressou à vida?
O ano passado, por esta
altura, eu observava a felicidade das poupas e não dei conta da morte da
árvore.
Afinal, as poupas ainda
não regressaram e a árvore não morreu.
3.6.16
(Provavelmente, isto não tem qualquer interesse! Isto
é o quê? Qual é o referente?)
- A morte. Ela condiciona
tudo! Não tanto ela, mas a conceção que dela temos: determina o modo como
vivemos, a interpretação que fazemos da arte...
No essencial, só há dois
paradigmas: o trágico e o religioso (dramático).
Perante alguém que
confessava que, com a passagem do tempo, lhe parecia que desaprendia de ler, eu
quis explicar-lhe que ler é descobrir a morte da vida, isto é, responder à
pergunta: Será a morte o fim ou um tempo de passagem?
A arte, até hoje, ainda
mais não fez do que posicionar-se: do classicismo greco-romano a todas as suas
renovações; do cristianismo a todas as restantes religiões... A arte, por
vezes, procura apresentar-se como alternativa, mas acaba por ser, sobretudo, a
expressão de uma sucessão de dúvidas, incapaz de afrontar o enigma que resume a
condição humana...
O meu interlocutor deixou
de ouvir-me, porque acha a questão inútil. Lá no íntimo, prefere não se
interrogar sobre a finalidade da sua própria vida... e depois queixa-se do
texto.
2.6.16
Ouvi o professor doutor
Miguel Metelo Seixas proferir uma significativa conferência sobre a
"Heráldica hoje: porquê, por quem e para quê?
Registo com particular
cuidado a concisão da definição: A heráldica é um código visual que recorre a
imagens - sinais.
A heráldica, hoje, parece
retomar uma das funções que preenchia na Idade Média: informar, motivar e
persuadir grupos de indivíduos, em geral, analfabetos.
Para todos os efeitos, a
heráldica IDENTIFICA e cria, para o bem e para o mal, elos...
Vi uma sala esvaziar-se
num ápice. Bastou que terminasse a informação da classificação do terceiro
período. As preocupações com o exame nacional esfumaram-se e a debandada foi
quase total. Sobraram quatro almas! Espero que os dois sonetos de Camões não lhes
tenham feito perder o apetite...
Finalmente, ouvi a
formadora de uma oficina de cinema dar uma lição sobre a falta de
responsabilidade de quem ESCOLHE uma determinada tarefa e depois descura de
forma sistemática o seu envolvimento no projeto, sem apresentar razões
válidas... Numa oficina, o projeto é de todos os que a ele aderem.... e não,
apenas, do mestre.
O espírito do oficina é
difícil em contextos de aprendizagem, onde se insiste em premiar a
infantilidade... ou a prosápia.
1.6.16
Ouvimos ou não ouvimos? -
a dúvida.
- Sim, ouvimos tudo
o que nos disse e fizemos tudo o que nos disse.
- Tudo? - hesitação -
'Tudo' abarca o que foi dito ou apenas aquilo que quisemos ouvir?
Por exemplo, já
percebemos que 'tudo' é um quantificador universal, embora não saibamos para que
é que serve um quantificador e porque é que é classificado como
universal... Não seria melhor chamar-lhe global?
Esta problemática lembra
o Eusébio da Silveira - não confundir com o Ferreira! -, que andava a ler a
História de Todos os Povos do Universo. Pobrezinho! E ele nunca teve de
aprender que 'todos' também era um quantificador universal. O universo do
Eusebiozinho era tão tacanho que ele jamais teria compreendido o que
significava universal. E a bem dizer ele não lia, só folheava uma velha
enciclopédia e deixava que a vista se imobilizasse sobre as ilustrações. Nunca chegámos
a saber quais eram as ilustrações que ele mais apreciava, apesar de podermos
suspeitar que essas ilustrações seriam espanholas, mas não de Santa Teresa de
Ávila...
A Santa Teresa de Ávila
do catecismo! O pobrezinho também era muito forte em pontos de doutrina.
Sabia-os todos de cor. Se lhe fosse dada a oportunidade de
resolver o grupo da gramática do exame nacional de Português de 2016, em
vez de obter um certificado de bacharel, seria, de imediato, premiado com o
grau de doutor...
Ainda a propósito do que
ouvimos, - o senhor nunca nos falou desse eusébio, nem do ega, nem do maranhão,
nem de qualquer perdigão. E também não o ouvimos falar do brasão - só vagamente
de um sebastião; e talvez dum bonifácio, que nos disseram que era reverendo...
Só que nós não sabemos o
que significa reverendo. Não temos dicionário! Temos smartphone, mas o senhor
nunca disse que o poderíamos utilizar para saber o significado das palavras.
Até agora só aprendemos a passar a vista pelas ilustrações. Até já lá
encontrámos a Santa Teresa de Ávila, de Jean Genet - que nos sonhos era
devassa. - O que é que significa devassa?
- E, afinal, se não
ouvimos e não sabemos é porque o senhor não presta.
31.5.16
Bem
podíamos mandar eliminar o luar!
Disseram-me um destes
dias que "Felizmente Há Luar! “não era nenhuma obra-prima, como se uma
peça de teatro nascesse para ser prima-dona.
Surpreendido, procurei
explicar que, em 1961, Luís Sttau Monteiro tinha como objetivo contribuir para
uma mudança política que pusesse cobro a um regime caduco, que enviava para as
cadeias todos os que lutavam contra a ditadura, contra a guerra colonial,
contra a censura, contra o obscurantismo, embora ciente da dificuldade do
empreendimento:
SOUSA FALCÃO: Mas
como, Matilde? Como é que se pode lutar contra a noite?
Em 1961, o próprio dia se
transformava em noite para aqueles que eram citados como opositores do regime:
SOUSA FALCÃO: Ao
chegar a S. Julião da Barra, meteram-no logo numa masmorra e aí ficou todo o
dia, às escuras, até que, ao cair da noite, uns oficiais lhe mandaram uma
enxerga e duas mantas por piedade... {Gomes Freire d'Andrade)
Não era preciso ser
opositor! Bastava uma denúncia! A ditadura não sobrevive sem inimigo e, como
tal, se não houver, inventa-se...
Apetecia-me falar do
luar, mas para quê? É óbvio, o luar foi inventado para iluminar a noite. Agora
que a iluminação pública não nos falta, bem podíamos mandar eliminar o luar... Afinal,
o luar também não é uma obra-prima!
De qualquer modo, arrisco
e vou transcrever duas sequências significativas desta peça de Luís de Sttau
Monteiro:
A - D. MIGUEL FORJAZ (com
raiva): É verdade que a execução se prolongará pela noite, mas
felizmente há luar...
B - MATILDE (Para o
Povo): Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e abram as
almas ao que ela nos ensina! Até a noite foi feita para que a vísseis até ao
fim... (Pausa) Felizmente - Felizmente há luar!
30.5.16
A
17 dias do exame nacional de Português
Não é surpresa, mas,
nesta altura do ano letivo, há sempre um encarregado de educação que se queixa
do professor do educando.
Passaram três anos desde
o início do ciclo, e o professor ainda não anunciou aulas de recuperação e de
preparação para o exame nacional. E, sobretudo, o professor terá descurado o
Dicionário Terminológico e o Novo Acordo Ortográfico.
Chegou, assim, o momento
de ajustar contas, não com quem sempre perturbou o processo de ensino e de
aprendizagem, mas com quem foi excessivamente tolerante com os caprichos
juvenis...
A 17 dias do exame
nacional, há aqueles alunos que, finalmente, decidiram comprar uma Gramática de
Português, embora não saibam qual, apesar do professor, todos os dias, levar
uma para sala de aula, indo ao ponto de registar no quadro (e no sumário) o número
da página referente ao conteúdo em foco, E claro também há jovens que se
queixam dos professores que lhes recomendaram a compra ou, em último caso,
a consulta de uma Gramática, por exemplo, na Biblioteca Escolar...
Como Freud bem explicou,
isto não passa do conteúdo manifesto, porque há sempre um outro,
ainda mais traumático - o conteúdo latente.
Quando aborrecemos o
rigor e o método, quem paga é a competência de leitura. Com o tempo,
desaprendemos de ler e, sem leitura, não há escrita que resista.
Mais do que o
desconhecimento da Gramática, o exame nacional expõe os efeitos da
indisciplina, da instabilidade emocional e do amor-próprio, nos domínios da
compreensão, da interpretação e da produção de texto...
29.5.16
|
Tejo, em ano
pluvioso |
Em finais de maio, num
dia em que choveu por várias vezes e de forma intensa em Santarém, desloquei-me
às Portas do Sol, na expectativa de ver um rio caudaloso e pujante.
Infelizmente, a água alagava as margens, e o rio lá ia contornando os bancos de
areia. Se há coisa que nunca percebi é a razão por que boa parte do leito do
Tejo continua assoreado.
Triste, deixei a cidade e
acabei na autoestrada, de regresso a Lisboa. Só que, afinal, os bancos de areia
estendiam-se, a toda velocidade, pelas faixas de rodagem, em direção a São
Bento.
Na estação de serviço de
Aveiras, compreendi como é difícil ensinar as boas maneiras - amarelos ou não,
ninguém respeitava a instrução - FILA ÚNICA; ninguém parecia ter aprendido que
não deve passar à frente nas filas...
E eu que passei anos numa
escola privada, paga pelas esmolas dos crentes, a aprender os fundamentos da
cortesia, esperei pacientemente que o aluvião se desfizesse - tal como me
tinham ensinado num outro tempo...
Mas não, na autoestrada,
os bancos continuaram amarelos, embora vislumbrasse uns tantos vazios...
E o Tejo continua
assoreado! E o país continua assoreado!
28.5.16
A entrada no museu
diocesano de Santarém é cara - 4 euros. No entanto, paguei a renda disposto a
saber o que é que fora feito do espaço em que vivi durante quase seis anos.
Restauradas a fachada e a igreja, fui surpreendido pelo recheio - arte sacra -
e, sobretudo, porque pude voltar a entrar no refeitório.
Está como o conheci, mas
sem padres nem seminaristas... No seu lugar, o relicário de São Gil, cercado de
painéis e de candeeiros de iluminação...
Saí de lá com uma emoção
inesperada, a relembrar a sopa de abóbora, as travessas de carapaus fritos, os
medalhões de carne e, sobretudo, um arroz divino. E claro que na mesa dos
padres e dos prefeitos, havia tal aprumo que, por mais burgessos que fôssemos,
alguma coisa haveríamos de aprender...
Neste regresso ao
passado, acabei por saber que o enfermeiro Domingos, no meu tempo
(1965-1970), já foi fazer companhia aos três bispos de outras conversas. Na
verdade, deveria referir quatro, pois descobri que o primeiro bispo diocesano
se encontra sepultado na igreja do Seminário, embora um pouco distante do meu
altar preferido.
Finalmente, fui informado
que o meu padrinho de crisma, padre Fernando Campos, ainda faz os seus
passeios, apesar de já não celebrar missa... Isto de ter um padrinho que não
vejo desde 1970 é estranho, sobretudo porque ele é o principal responsável pelo
estado de meditação em que vivo - homem de pouca ou nenhuma fé!
27.5.16
Uma
leitura ousada de Frei Luís de Sousa
Eis, aqui, ao lado, uma
leitura ousada do III ato de Frei Luís de Sousa, de Almeida
Garrett.
Se for a Santarém, não se
esqueça de observar esta escultura, mesmo ao lado da Avenida do Brasil, bem
perto da Domus Justiae.
E já agora aproveite para
(re)ler o drama que melhor dá conta da veia dramática de um dos portugueses que
mais se esforçou por tornar Portugal um país civilizado.
(Esta postagem é dedicada
a todos aqueles que um dia me asseguraram que leram o drama cujo autor
tencionava revolucionar o teatro português.)
26.5.16
Em nome da transparência
das decisões, do rigor orçamental e da qualidade pedagógica, bom
seria que todos tivéssemos acesso ao custo de cada escola, pública ou
privada.
Estou em crer que a atual
polémica em nada serve a melhoria do sistema educativo, pois, se no universo
das escolas privadas há quem se sirva delas para acumular riqueza pessoal, no
universo das escolas públicas, embora haja muitas geridas com rigor não apenas
financeiro mas também pedagógico, outras há que mais não são do que sorvedouro
de dinheiros públicos.
É preciso saber o que é
feito do dinheiro entregue a cada estabelecimento de ensino, recorrendo
a uma observação que contemple o investimento na qualidade do ensino e da
aprendizagem. Não basta olhar para os resultados no final de cada ano
escolar e continuar a despejar dinheiro em programas de recuperação
oportunistas...
25.5.16
Feriado - diz-se do dia
em que se suspende o trabalho e as aulas, por prescrição civil ou religiosa.
Em Portugal, os dias
santos de religiões, que não a católica, não são feriados. Porquê? Creio que um
governo socialista, apoiado pelas forças de esquerda, deveria acabar com esta
discriminação.
Se todas as religiões
devem ter o direito de celebrar os seus deuses e o seus santos, não se entende
que, em pleno século XXI, a matriz do Estado Português continue a ser o
Catolicismo.
Pessoalmente, não entendo
por que motivo grande parte da população, que vive distante de qualquer
religião, é obrigada a usufruir de um dia santo como, por exemplo, o do Corpo
de Deus.
Demagogia e
oportunismo...
24.5.16
Ainda
se o professor pudesse aplicar a extrema unção!
Esbaforido, só lhe
importa saber quando é que pode realizar os testes em atraso. Não se importa de
fazê-lo por atacado.
Outro, nem sequer
aparece, mas manda mensagem ao colega para que ele coloque a mesma pergunta.
Neste caso, respondo sempre do mesmo modo ao mediador: - Veremos!
Claro que ainda há
aqueles que não aparecem nem dão qualquer explicação com ou sem recurso a
mediador - colega, diretor de turma. Um destes dias, irão aparecer com o ar
mais cândido, justificando que estiveram doentes e que já é tarde para realizar
qualquer tipo de tarefa...
Na escola pública, o
professor, como o médico ou o confessor, tem de estar sempre disponível. Ainda
se o professor pudesse aplicar a extrema unção! Não consta que algum moribundo
tenha sido obrigado a prestar uma derradeira prova, a não ser a do temor de que
o confessor possa estar farto de água benta... e chegue fora de horas...
Estes incidentes, noutros
tempos, eram críticos, agora não passam de contratempos. Qualquer
semelhança com a realidade é pura fantasia de quem se enganou na vocação.
23.5.16
O que dói é saber.
O que dói
é a pátria que nos divide e mata
antes de se morrer.
Eugénio
de Andrade, setembro 72
O que dói
é não querer saber
ou fingir não saber
que as pátrias nos dividem e nos matam
antes de se morrer.
O que dói
é haver quem pense que matar é um ato figurado
e que, a ter ocorrido, foi noutro tempo...
e noutro lugar.
O que dói
é haver quem pense que se morre
apenas quando tiver de ser...
O que dói
não é sofrer o que tem de ser.
O que dói
é saber que há quem nos impeça de viver.
22.5.16
O solilóquio é uma fala
que alguém dirige a si próprio. De certo modo, esta fala não pode ser
considerada réplica, pois esta pressupõe a existência de um diálogo ou, pelo
menos, um colóquio. Como alguns querem, ando muito longe da interação.
Eu bem gostava de
interagir, mas lá, no fundo, sinto que de mim só querem conformidade.
E o solilóquio arrasta-me
para a ataraxia de Demócrito - a tranquilidade de alma, a ausência de
perturbação - bem próxima da apatia dos estoicos...
No entanto, por mais que
me esforce, há sempre alguém a desassossegar-me. E os caminhos do desassossego
são tantos que, em certos momentos, me apetece acabar com o próprio
solilóquio...
Bem sei que os Poetas
sabem como resolver o problema, mas eu não. Nunca fui poeta! Tolo, sim!
21.5.16
O
binómio de Cesário Verde irrita-me
Binómio é uma noção cujo
termo é composto pelo prefixo bi e por um vocábulo grego que se pode traduzir
como “parte” ou “porção”. Isto significa que um binómio é formado por duas
partes.
Há binómios irritantes!
Um deles é o famoso binómio de Cesário Verde. Não há manual - sebenta, aluno ou
professor - que não fale do binómio 'cidade-campo' na poesia de Cesário Verde.
O único que nunca usou tal termo foi o Poeta.
No essencial, Cesário
Verde foi reduzido a esse binómio. Independentemente da pergunta, as respostas
começam todas pelo binómio: o poeta, cansado da cidade, refugia-se no campo...
Embora o Poeta tenha
introduzido a modernidade, no sentido baudelairiano do termo, na literatura
portuguesa, isto é, tenha deslocado o olhar do campo para a cidade,
descrevendo-a, à luz do sol e da iluminação pública, nas suas 24 horas, tenha
desenhado os tipos sociais que a povoavam e, em particular, as desigualdades,
tenha condenado a injustiça e celebrado o trabalho, a verdade é que a imagem
que dele se vulgarizou coloca no mesmo patamar o campo.
E fá-lo sem sequer se dar
ao trabalho de assinalar que o campo de Cesário é totalmente diferente daquele
que durante centenas de anos suportou a literatura ocidental. O campo de
Cesário é um campo produtivo, ao contrário do campo do classicismo e do romantismo,
onde nada acontecia a não ser algumas cenas cinegéticas, piscatórias... sem
esquecer as amorosas, felizes ou trágicas...
O campo de Cesário não é
um espaço de evasão, mas um território que continua o espaço do trabalho
citadino, apesar de mais eufórico...
De qualquer modo, a
novidade que Cesário nos trouxe foi a CIDADE - a Modernidade com todas as suas
contradições.
20.5.16
O
triângulo virtuoso pode ter nascido defeituoso...
Por uma qualquer razão
genética, nunca fui capaz de desenhar o que quer que fosse que merecesse a
minha aprovação, o que, sempre que necessário, disfarcei com o recurso a
uma régua, um esquadro e, em certos casos, um compasso... embora este último sempre
exigisse de mim um rigor que não estava ao meu alcance e, principalmente,
de quem sonhasse pertencer à confraria dos pedreiros-livres.
Portanto, condenado
à imperfeição, lá vou recorrendo às figuras geométricas. Mas não sou
o único!
Acabo de ler um artigo de
Carlos Moedas, "O desafio dos desafios na UE: recuperar o otimismo",
publicado no DN de 15 de maio de 2016, em que o Comissário europeu para a
investigação, ciência e inovação revela uma nova visão da geometria /
geografia europeia:
«Ora, a estratégia da
Comissão para promover o crescimento económico baseia-se num triângulo
virtuoso: investimento, reformas estruturais e responsabilidade orçamental.»
Tenho estado a dar voltas
ao triângulo, porém não consigo perceber como é que esta estratégia pode
ser aplicada em Portugal. Parece-me que este triângulo deve ter
nascido com defeito...
19.5.16
As
vacas portuguesas estão prontas a voar
Ainda a propósito do
esmagamento da soberania portuguesa, expus a um grupo de jovens a minha
preocupação sobre a indiferença de que davam mostras.
Procurei convencê-los de que o teatro de forma épica visa questionar o leitor
/espectador sobre o seu próprio tempo e não sobre o tempo da fábula. Por
exemplo, a peça Felizmente Há Luar! estabelece um nítido paralelismo
entre 1817 e 1961, no que concerne à ação do antigo regime e à ocupação
estrangeira. Expliquei que compreendo que não queiram aprofundar a História
desta apagada pátria; no entanto, disse-lhes que não entendo que ignorem que as
nossas decisões políticas de pouco servem, pois quem nos governa é a União
Europeia e os seus tentáculos no terreno... apesar de, hoje, o primeiro-ministro
ter prometido que as vacas portuguesas, proibidas de nos darem mais leite e
derivados, estão prontas a voar.
Quem diria?
18.5.16
A
juventude portuguesa ignora a questão da soberania
«Mesmo que, de
repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e
breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de
xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo
dum lance
Pra a efeito horas
depois)
É ainda entregue ao jogo
predilecto
Dos grandes indif'rentes.»
Fernando Pessoa / Ricardo
Reis
Batem-se pela
independência pessoal desde cedo mas, paradoxalmente, não dão qualquer
importância à soberania coletiva.
O cânone literário
- de Fernão Lopes a Camões, passando por Vieira, Garrett,
Eça, Cesário, Pessoa, Sttau Monteiro, Saramago
- retoma reiteradamente a questão da soberania nacional.
O resultado prático é uma
farsa gigantesca, pois há muito que a competência de leitura se degradou e,
sobretudo, o desinteresse pelo futuro coletivo se instalou.
Quando a Comissão
Europeia trata Portugal como uma colónia, estou sem compreender qual é causa do
comportamento da juventude portuguesa.
Por vezes, chego a pensar
que Portugal mais não é do que uma invenção de meia dúzia de iluminados que
nunca olharam à sua volta...
17.5.16
A
triste Penélope e o pobre Orpheu
|
Uma Poupa na Portela |
Não posso afirmar que
chegaram as poupas, porque, de facto, até agora só consegui avistar uma. Não
sei se ela terá vindo adiante para verificar se o terreno e o clima
lhes serão favoráveis no verão e no outono de 2016...
A verdade é que esta
poupa, este ano, procurou um terreno mais próximo da igreja, apesar
de muito mais poluído, ao contrário do que acontecera com as poupas do ano
anterior que se tinham refugiado num jardim afastado do bulício...
Vou ficar à espera para
ver se compreendo alguma coisa do que se passa no universo das poupas, pois no
meu nada acontece de significativo. Ou será que estou cada vez mais desfasado
da realidade?
É que agora vivemos a
vertigem de desfazer o que de mal foi feito. Mas tal será possível? Os governos
portugueses lembram-me a triste Penélope...
Creio que a continuarmos
assim, acabaremos como o pobre Orfheu...
16.5.16
«Hoje, com o alastramento
planetário do kitsch como género universal do gosto, era
inevitável que a grosseria se acentuasse no nosso país arcaico, tão próximo do
pós-modernismo.» José Gil, Portugal, Hoje. O Medo
de Existir, 2004, pág. 196.
Segundo os entendidos, ao
colocar a vulgaridade na ordem do dia, o Kitsch caracteriza-se
por agradar a uns e desagradar a outros.
Em Portugal, os artistas
são, por ora, ícones ambivalentes, cujas obras são enterradas com eles e, em
muitos casos, são mesmo cremadas.
Entretanto, já me
esquecia que hoje é o dia internacional de histórias de vida. E
como tal, não posso deixar de interrogar o conceito. Histórias de vida! Porquê?
Não nos basta uma história? Provavelmente não. Porque mais importante do que a
vida vivida é, afinal, a narrativa da vida... e, aqui, chegados, com maior ou
menor grosseria, cada um inventa as histórias de vida mais convenientes...
15.5.16
«O Bloco (...) encorna
o PS à esquerda (encorna é uma tradução possível de to corner, encostar
a um canto) ...» João Taborda da Gama, DN de 15 de maio de 2016.
Ontem, o festival da
Eurovisão quase que eliminava as línguas nacionais. Não fosse a Áustria ter
decorado um refrão em francês e uma ou outra mistura linguística, pensar-se-ia
que as nações europeias teriam sido extintas... Bem, os italianos ainda vão fazendo
jus à tradição!
Hoje, J.T. da Gama sai-se
com esta de que o Bloco de Esquerda anda a encornar o PS. Eu
ainda pensei que o verbo estaria a ser utilizado no seu sentido genuíno, mas
não, tinha de meter futebol e ainda por cima inglês... Com ou sem escola
pública, há que respeitar as línguas nacionais, a começar pela comunicação
social. Bem sei que o J.T. da Gama gosta de trocadilhos, porém... Já basta
a quantidade de linguistas e de gramáticos que nos querem convencer que a
origem do Português é anglo-saxónica e não latina!
14.5.16
Das
coisas e dos animais sensíveis
Das coisas sem respiração
não sei o que dizer, porque já não as sei contar.
Houve tempo em que
reparava numa pedra e dizia 'ali está uma coisa inerte'. Depois, comecei a
pensar que talvez a pedra tivesse uma vida secreta...
Só que a teoria do
conhecimento acabou-me com a indecisão no dia em que me convenceu que esta vida
se resume à relação do sujeito com o objeto. Nesse momento, descobri-me como
Sujeito, senhor de múltiplas coisas - tanto dava que elas respirassem ou não...
Lembro-me até de um certo
Bexiguinha convencido de que podia dispor da vida de todas as coisas, embora
não soubesse distinguir as coisas vegetais das coisas animais, umas racionais
outras inapelavelmente irracionais, porque alguém se esquecera de as ensinar a
falar.
Este Bexiguinha acabou
por se transformar numa coisa, porque, no sentido recentemente aprovado pelo
Parlamento português, terá deixado de ser um animal sensível... É uma decisão
acertada que, na minha opinião, deveria começar por ser aplicada na AR - há por
lá tantas coisas inertes!
De qualquer modo, vou
passar a ter mais cuidado.
Doravante, vou dar mais
atenção ao tronco da árvore, à relva e à ave acabada de chegar. Até o cimento
me parece que tem uma vida secreta - uma alma!
13.5.16
O corredor espelha
o bispo vermelho
das baionetas francesas
(querubins
penam sem fim)
um dia o falcão partiria para beja
outro dia outro campos partira
e morrera gaseado
na banheira da nazaré...
no encerado derrama-se ainda a púrpura
da cerejeira estéril...
e deixaram-me assim...
12.5.16
Encontro
com o escritor Mário de Carvalho
Hoje, 12 de maio de 2016,
pelas 10 horas, a convite da professora bibliotecária, Maria Teresa Saborida,
três turmas receberam o escritor Mário de Carvalho.
Feita a apresentação do
convidado, a turma de Latim, da professora Rosa Costa, expôs, através de
um «power point», o resultado da pesquisa efetuada na obra "Quatrocentos
Mil Sestércios" (1991) sobre as referências de origem latina, em
termos lexicais (toponímia e onomástica) e culturais (rituais domésticos e
espaços familiares e sociais).
Deste estudo fica a ideia
de que escrever é uma atividade que exige trabalho porfiado, pois, como Mário
de Carvalho confirmou, «o escritor tem obrigações para com o seu
leitor». Afinal, só compreendemos o presente se lhe conhecermos as raízes!
Questionado pela
moderadora sobre a 'qualidade' do tempo que viveu no Liceu Camões, quando,
aqui, frequentou o último ciclo do ensino liceal, Mário de Carvalho
revelou que esse período correspondeu a uma experiência complexa,
pois encetou relações de amizade com colegas que se distinguiram (e
distinguem) em importantes áreas da vida portuguesa, e também descobriu,
de forma dolorosa, como é que se asfixiava o anseio democrático...
Quanto à preparação da
sua escrita, Mário de Carvalho frisou a importância que dá à observação do
quotidiano e a tudo o que vai acontecendo no mundo em que vivemos.
Contrariando o senso comum, para o autor, escrever é um trabalho árduo que não
admite anacronismos e que deve acrescentar e não repetir - revelando, a
propósito, que continua fiel ao labor e ao rigor de Flaubert.
Num apontamento centrado
na obra "Quem disser o contrário é porque tem razão" (2014), foi
visível a importância que Mário de Carvalho atribui a este "Guia prático
de escrita de ficção", numa época em que a escrita parece resumir-se
a uma «falange hegemónica de prescrições, conceitos e juízos primários (...) a
chavões e estereótipos» arrancados ao 'senso comum' (e não ao 'bom senso') e à
'sabedoria das nações'...
Por
fim, sintetizando o modo como o escritor se dirigiu a quem aprecia o
oficio da escrita, esta breve nota, do muito que ficou por dizer, termina com
um conselho:
«O ponto é que se
identifique e conheça o que se está a rejeitar, ou que isso tenha, que mais não
seja, razoáveis possibilidades de existir, pelo menos nos seus contornos.
Porque, às vezes, o arroubo de protesto também grita as palavras da fantasia ou
da irrelevância.» op. cit., pág. 33, Porto editora.
Da fantasia e da
irrelevância...
11.5.16
Nenhum
Rodrigues aceitaria o papel de títere
Tem sido difícil escapar
à chuva nestes últimos meses e, pelo andar da carruagem, também não vai ser
fácil evitar as notícias sobre o 'ministro da educação".
Cansado do Crato,
prometera a mim próprio não me ocupar do Tiago Rodrigues, porque não sei quem
é: falta-me o tempo para lhe investigar o pensamento sobre a arquitetura do
sistema educativo e os valores que o devem orientar...
Cada vez que rebenta um
caso, sinto-me desorientado, pois não descortino uma estratégia; apenas, um
número avulso...
Dizem-me que o ministro
não passa de uma máscara. Não acredito. Nenhum Rodrigues aceitaria o papel de
títere. Consta que o velho bonequeiro é quem manda na "educação" em
Portugal. Prefiro não acreditar.
Talvez por me ver em
silêncio e um pouco amargurado, um colega aposentado, mas apostado na reposição
da memória do passado, ofereceu-me um texto de António Carlos Cortez, «Aos
alunos portugueses e ao actual ministro da Educação», Público, 11 de
maio de 2016, pág. 44.
O artigo, não sei bem
como classificar o referido texto, ocupa uma página inteira. (Parece estar na
moda oferecer páginas inteiras a certos colaboradores!) E também não sei o que
é que o ministro da Educação poderá aproveitar de tal contributo: a ideologia
do divertimento; a política da língua; a memória histórico-literária; o acordo
ortográfico; o regresso da Literatura; a dignificação da classe docente; a
avaliação; a formação; o fastio discente; a náusea docente ...
10.5.16
Aborreço-me
sempre que medram para mim
Leio, mas aborreço-me
sempre que alguém escreve sobre outrem sem lhe conhecer a obra. O que
quero dizer é que conhecer a obra de outrem é muito mais do que ler umas
recensões críticas, um artigo de um académico, sem esquecer a "prosa
" veiculada pela web...
Aborreço-me sempre que me
dizem que leram uma obra, mas dela nada conhecem...
Aborreço-me sempre que
medram para mim para dizer que um qualquer autor é desprezível só porque lhes
promete trabalho....
O trabalho, por exemplo,
de consultar um dicionário... O trabalho, por exemplo, de conhecer o léxico
específico de uma profissão. Até a abulia e a ociosidade deveriam merecer mais
atenção...
Aborrece-me a
displicência e a negligência e, em particular, aborrece-me o ar empinado de
certas criaturas que para tudo têm uma opinião definitiva.
9.5.16
Sr.
Alberto Gonçalves, "ao ponto da obesidade"?
O sociólogo Alberto
Gonçalves celebrou o 1º de Maio com um exemplo da sua ciência:
«Fernando Rosas é um
homem notável. Em décadas de carreira política, nunca lhe descobri uma opinião
favorável à liberdade, à democracia e ao progresso, embora encha sempre a boca
com esses vocábulos ao ponto da obesidade (...) O Dr. Rosas
não serve para coisa nenhuma, exceto de exemplo a fugir.» DN, 8 de
Maio de 2016
Não é que eu seja um
seguidor de Fernando Rosas, custa-me, no entanto que ele seja tão maltratado
por quem não tem o cuidado de definir o que entende por "liberdade",
"democracia" e "progresso"... Apesar de tudo, sabemos que
para Fernando Rosas a liberdade é a dos ´´povos, a democracia é ´popular' e o
progresso 'social'´... Fernando Rosas é um daqueles indivíduos que está sempre
pronto a combater o Antigo Regime onde quer que ele renasça...
Podemos não concordar com
ele, mas o Doutor Rosas explica com clareza o que pensa e não atropela a língua
portuguesa, como acontece com o Sr. Gonçalves que, se não se cuida, acaba por
se empanturrar com os seus próprios dislates linguísticos.
- Ao ponto da obesidade,
Sr. Gonçalves?
8.5.16
Hoje fui visitar o Museu
do Oriente, em Lisboa... Inaugurado há 8 anos, este museu traz a muitos que
nunca foram ao Oriente alguns dos traços culturais que nos distinguem.
Gostei do que vi (exposições)
e do que ouvi (música do norte da Índia), mas não resisto a perguntar: Por onde
é que andam os milhares de orientais que hoje residem em Lisboa?
Enquanto não obtiver
resposta, vou perscrutar o centro da terra com a curiosidade do felino que
procura libertar-se da serenidade oriental...
7.5.16
O sistema operativo
Windows 10 da Microsoft, instalado em cerca de 300 milhões de dispositivos, vai
deixar de ser grátis.
Os sistemas anteriores
descontinuados, o que é que sobra ao utilizador? PAGAR...
E se desligássemos os
computadores e restantes gadgets durante uma semana?
Primeiro acena-se com a
cenoura...
GTESC
apresenta Sete Crianças Judias
No Auditório da Escola
Secundária de Camões, o GTESC apresenta Sete Crianças Judias,
de Caryl Churchil nos dias 6, 8 e 10 de Maio de 2016, com encenação de Maria
Clara Melo da Silva; cenografia de Mário Rita; desenho de luzes, som e luz de
João Lacueva e José Alvega; filmes de António Manuel; interpretação de Carolina
Falcato, Maria Carrilho, Helena Real, Diogo Guerra, Beatriz Felício, Ana
Beatriz Santana, Gonçalo Romão, Maria Portugal, Ana Rodrigues, Marta Rocha e
Graça Gomes; Vozes de Helena Real e Ana Rodrigues; Expressão de Beatriz
Felício.
Esta noite, o GTESC
apresentou à comunidade o trabalho de aprendizagem realizado ao longo do
presente ano letivo. Com a dramatização de Sete Crianças Judias,
o GTESC comenta o que se passa no Mundo, sem se comprometer com nenhuma
das fações em conflito, porque os argumentos de uma e de outra parte estão
inevitavelmente comprometidos com valores particulares... o que fez do texto de
Caryl Churchill pretexto para uma adaptação que visa defender princípios que,
por definição, deveriam ser universais...
Sete anos depois de Maria Clara Melo da Silva ter fundado o GTESC, a
representação desta noite mobiliza a quase totalidade das linguagens que, de há
um século para cá, vêm dominando os palcos, pondo termo à dicotomia que
suportava a ideia de que o movimento, a luz, o som, a imagem... mais não seriam
do que auxiliares do chamado «texto principal"...
Quem conhece o texto de
Caryl Churchill, terá certamente ficado surpreendido com a qualidade do
trabalho realizado por todos aqueles que integram o GTESC 2015-2016.
Apesar da oliveira da "madrinha” Maria do Céu Guerra, as Sete
Crianças Judias do GTESC não se deixaram confinar à Faixa de Gaza.
6.5.16
A
guerra não se explica! Nem às crianças!
A propósito do monólogo
dedicado a Gaza, Sete Crianças Judias, de Caryl Churchill
A guerra não se explica!
Nem às crianças!
Na guerra morre-se! Por
vezes, sobrevive-se sem perceber como. Quem sobrevive também não sabe porquê.
Claro que há os que não
podem morrer na guerra. Vivem longe ou, então, mandam na guerra.
Às crianças que vivem a
guerra de nada serve explicar o que é a guerra nem a história da guerra. O
melhor é mostrar a todas as crianças o mapa dos que vivem longe da guerra, o
mapa dos palácios dos senhores da guerra...
O melhor é mostrar-lhes
que há senhores da guerra que vivem na sua própria casa, na sua própria rua, na
sua própria escola, na sua própria sinagoga, na sua própria mesquita, na sua
própria igreja, na árvore mais frondosa do terreiro mais próximo... e talvez
seja melhor mostrar-lhes que, entre as próprias crianças, também há senhores da
guerra...
Bom seria que não fosse necessário ficar à espera que as crianças crescessem.
Para quê colocar sobre os ombros das crianças a responsabilidade que é nossa,
os que vivemos longe e os que mandam na guerra?
5.5.16
Com pinças... escrever
mais do que isto já é atrevimento.
Aos dezoito anos, a
verdade é uma forma de enxovalho.
Traçar um plano e
aplicá-lo é desnecessário.
Distinguir uma ideia de
uma ação parece insensato.
Ignorar o significado das
palavras não aflige ninguém.
Ler segundo uma instrução
é uma forma de tortura.
Há temas pobres e temas
ricos. Por ora, a Internet parece ser um tópico desinteressante. Tal como a
leitura!
Aos dezoito anos, o ponto
de fuga encontra-se na escrita criativa.
Com pinças... acrescento:
- E se fossemos lendo o "Guia Prático de Escrita de Ficção", de Mário
de Carvalho... até porque "Quem Disser O Contrário É Porque Tem
Razão"...
Quem souber dizer o
contrário...
Com pinças também se pode
dizer o contrário.
4.5.16
Bem sei que os linguistas
e certos filósofos da linguagem estão convencidos que «dizer é agir», eu por
enquanto preocupo-me com aqueles que confundem o pensamento com a ação. Em
abstrato, isto pode enervar, mas eu sei bem do que estou a falar.
Publiquei esta breve
reflexão no Facebook, sem qualquer expectativa, convencido que o pensamento
vive de ideias e de certas imagens, nem todas. Há por lá umas tantas que
atrofiam!
Consta que há por aí um
paradigma que confunde tudo: os leitosos que nada fazem, os achistas
instantâneos e, sobretudo, os narcisistas de serviço...
Eu bem tento, mas há dias
em que esmoreço... chego a pensar que o melhor seria subir ao palco e despejar
tudo para a plateia.
Para quê? Continuaria a
falar sem demover. No meu caso, o provérbio «água mole em pedra dura tanto bate
até que fura" não se aplica.
3.5.16
A Internet permite-nos
falar «com o outro lado do mundo, com pessoas do outro lado do mundo».
O outro lado? Quanto a este, estamos esclarecidos! Será assim mesmo?
A Internet será um «tema
viral», uma vez que a «aderência» é cada vez maior?
O que é um «tema viral"? O que é feito da adesão? Caiu em desgraça?
A Internet permite mesmo «travar conhecimento com a cultura italiana»? Bom, ao
fim da tarde, marcamos encontro... Espero não me atrasar! É que ela há muito
que espera por mim...
Será que faz algum sentido que haja quem «se dedique à Internet»? Não sei se
antigamente havia quem se dedicasse à máquina de escrever, embora as boas
esposas se dedicassem aos maridos e aos filhos, sem esquecer as que procuravam
o «outro lado do mundo» ...
Acabo de encontrar um
enunciado que me assegura que «a Internet pode ser uma fonte de dispersão para
a sociedade”. Pobre sociedade, tão global e tão dispersa! Será que faz algum
sentido afirmar que «a minha Internet está muito lenta»? É bem feita! Ora, se
sou tão comedido quando me refiro à Luz...
2.5.16
O
sociólogo Alberto Gonçalves escreveu-me...
Embora não saiba quem eu
sou, o sociólogo Alberto Gonçalves escreveu-me nos seguintes termos:
«Aos cépticos, lembro
que, pormenores à parte, em Caracas a coisa também começou assim, com o poder
tomado por um bando de rústicos, nostálgicos do comunismo ou meros oportunistas
de carreira. E também houve bazófia, proclamações de soberania, injúrias a imperialistas
imaginários, juras de amor à liberdade, promessas de imparável progresso...»
DN, 1 de maio de 2016.
Quem quiser entender a
ciência deste sociólogo que leia o artigo "A Venezuela é o futuro".
Estão lá os dados todos!
Eu sou um dos céticos que
duvida da bondade das instituições europeias, que não crê na solidariedade dos
credores, que está convencido que o imperialismo existe... e que o senhor
Alberto Gonçalves se está a exceder, escrevendo por encomenda...
Pode ser que eu esteja
errado e que, afinal, o sociólogo tenho ponderado devidamente os dados e a
sociologia seja uma ciência exata, cujos resultados são fraternamente acolhidos
pelo Diário de Notícias... ao domingo, dia de todos os senhores.
1.5.16
No
Dia da Mãe, António Barreto escreve sobre os pais
No Dia da Mãe, António
Barreto queixa-se de que o Ministério, os sindicatos e os professores não
apreciam os pais:
«E muito menos os
pais. Metediços, ignorantes e incompetentes são os epítetos que muitos
professores e quase todos os sindicatos reservam para os pais dos seus alunos.
No que são acompanhados pelo ministério que jamais fez reais esforços para
interessar os pais e lhe dar tempo, proporcionar estruturas de participação
sincera e atribuir responsabilidades e poderes.» DN, 1 de maio de
2016.
Melhor seria começar por
afirmar que, em geral, é a MÃE que é a encarregada de educação, papel
que, atualmente, chega a ser desempenhado pela AVÓ. E que a mãe faz
na escola o que sempre fez na vida: defende a cria de tudo e de todos, com
maior ou menor razão. Sempre foi e, assim, continuará a ser.
Embora não seja meu
hábito defender o ME, tenho de reconhecer que, se faltam condições aos
encarregados de educação para uma maior participação na escola, a
responsabilidade deve ser partilhada por outras áreas da governação e do sector
empresarial privado e público. Quanto à irritação dos professores, o melhor
seria analisar, com realismo, a situação dos atuais docentes e, em particular,
dos diretores de turma.
Quando um
investigador docente universitário observa os ensino básico e secundário,
fá-lo, em regra, de forma especulativa, de acordo com pressupostos
razoáveis, mas cujas conclusões são, na maioria dos casos,
inadequadas. E porquê?
Porque raramente é
encarregado de educação, sobretudo se pai, porque nunca desempenha a
função de diretor de turma, porque não tem tempo para participar no
Conselho Geral da escola, e porque tem uma péssima noção do que significa
ser docente na escola atual: continua a pensar que a sala de aula é o
lugar para dar conta dos resultados da SUA investigação, que na sala
de aula ainda há lugar para o primado magistral e,
sobretudo, ignora... o que eu, por ora, não me atrevo a
reportar...
30.4.16
Li algures que Paul
Verhoeven (Amesterdão, 1938) é um realizador malcomportado ou, pelo menos, que
a sua obra desafia a moral instalada.
Talvez seja verdade, no
entanto, a "Cinemateca com o IndieLisboa" acaba de mostrar cinco dos
seus documentários, realizados entre 1960 e 1965, e fiquei com a ideia
de que este realizador não seria assim tão malcomportado.
No documentário HET KORPS
MARINIERS, a celebração dos 300 anos do Corpo da Marinha (1665-1965), não vi
ponta de sátira, não vi sombra de ironia. O Corpo da Marinha é instruído para
um cenário expansionista e de hegemonia territorial.
O tema do mau
comportamento preocupa-me por causa da ambiguidade com que
o perspetivamos. Nuns casos, tudo fazemos para nos vermos livres dos malcomportados;
noutros, incensamo-los pela rebeldia de que são capazes... E em muitas
situações, os malcomportados que rejeitámos acabam por ser objeto da
nossa veneração secreta...
29.4.16
Só pode ser força de
expressão dizer que 'há coisas que aborrecem'. A própria 'força de expressão'
não me agrada, parece-me querer exprimir uma certa atitude mental de quem é
preguiçoso, mas não se consegue calar...
Não querendo queixar-me
dos do costume, olho hoje para a Avenida Gago Coutinho, pejada de táxis, no
sentido do Areeiro e quase vazia no sentido contrário - os poucos
automobilistas eram forçados a circular na faixa do bus; as
restantes faixas serviam as forças da ordem, encavalitadas em motas alemãs,
exibindo o seu potencial de fogo... Fiquei um pouco apatetado, vindo-me à
memória "A Inaudita Guerra..." do Mário de Carvalho.
A verdade é que não
gostei daquela encenação poluidora e anacrónica. Nem daquela nem da maioria das
'formas de luta' que recorrem ao desperdício...
E a propósito de
desperdício, aborrecem-me os restaurantes onde se pode comer à tripa forra por
uma dezena de euros. Com tanta miséria, empanturrar-se deveria ser considerado
crime!
Acontece que, por razões
familiares, ao início da tarde, vi-me acantonado numa dessas manjedouras.
Contrariado, lá escolhi três ou quatro ingredientes, e fui avançando no
esvaziamento do prato ao ritmo dos outros comensais e, quando menos esperava,
surge um simpático funcionário que me interpela: - Então, o sr. não se serve de
mais!?
Francamente, bastava
olhar para mim, para perceber que isso me aborrecia...
28.4.16
Fernando
Cabral Martins na ES de Camões
A memória é um elemento
essencial de qualquer poética. Pelo menos é o que
infiro das palavras de Fernando Cabral Martins que, hoje, se deslocou à Escola
Secundária de Camões para abordar o tema "Algumas Imagens da Poesia de
Mário de Sá-Carneiro". Não tanto a memória do tempo vivido pelo jovem
Sá-Carneiro, há mais de 100 anos, no Liceu Camões, nem sequer a memória da
relação privilegiada com Fernando Pessoa, mas, sim, o papel da memória na
génese e na substância do ato poético.
O que Fernando Cabral
Martins procurou vincar foi que o que, hoje, deve interessar é o legado
poético e não tanto o Poeta, porque só a poesia dá conta do diálogo que
ele foi capaz de estabelecer com o modernismo baudelairiano e com as vanguardas
que foram respondendo às várias crises despoletadas pela revolução industrial:
a crise da vida social (o anonimato do homem citadino); a crise da comunicação
(o impacto dos novos mass media); a crise psíquica (o dilema da
identidade).
Neste sentido, o
cosmopolitismo de Mário de Sá-Carneiro foi um fator essencial
à produção de uma vanguarda - a vanguarda de Orpheu - em que as
fronteiras entre as diversas artes se esbateram, gerando sucessivas expressões
artísticas (paulismo, futurismo, cubismo,
expressionismo, interseccionismo, sensacionismo...) e, sobretudo,
agindo de forma visceral naquele que é hoje considerado o expoente máximo
da geração do Orpheu: Fernando Pessoa.
Eu não sou eu nem sou o
outro
Sou qualquer coisa de
intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o
outro.
Lisboa,
fevereiro de 1914
Na poesia de Pessoa há
extensos vestígios da Eurídice que nunca desapareceu da arca pessoana...
(Outros tópicos
merecedores de atenção: a ideia de que a vanguarda não implica rutura;
a noção de que os poetas decadentes não o são - combatem a decadência; o
paulismo como "disparate" provocador de bom senso; o
interseccionismo, expressão literária que fixa o essencial do cubismo; os
"performers" modernistas; Mário de Sá-Carneiro, produtor do Orpheu,
financiado pelo pai...); a sinestesia, intersecção de duas sensações ou de
várias realidades distintas; a centralidade de 1915...)
27.4.16
Explicar a técnica
narrativa de um autor como Saramago não é fácil, sobretudo explicar o modo como
o narrador se posiciona em relação à história e procura coagir o narratário a
acompanhá-lo na construção de um ponto de vista demolidor da História oficial e
da verosimilhança tradicional. O discurso do narrador, nas suas diversas faces,
desconstrói a expectativa do leitor tradicional e dá um abanão nas convicções
académicas e populares.
Em abstrato, nada disto é
inteligível, o que determina uma estratégia de leitura minuciosa, lenta, capaz
de pausas mais ou menos prolongadas para clarificar as múltiplas referências de
que o texto se alimenta. Só quem acompanhe este processo didático poderá fazer
uma pequena ideia de como a atitude dentro da sala de aula pode conduzir ao
sucesso ou ao sucesso interpretativo, e consequentemente à formação do
"leitor". Sim, porque o leitor não nasce feito nem deve ser objeto de
formatação.
Há muito que acredito que
aprender a ler é uma atividade que deve ser cultivada diariamente, embora os
meus atuais interlocutores andem muito distantes deste ponto de vista. Não
todos, felizmente! Mas há uns tantos que se estão marimbando, e que perturbam
permanentemente o processo de aprendizagem...
Por princípio, resisto
até um limite que, no meu caso, é o da minha própria dispersão. No entanto, em
cada aula, seleciono um "alvo" e pergunto-lhe o "que é que o
traz à sala de aula". Em regra, a minha pergunta fica sem resposta ou,
melhor, acabo por ser confrontado com uma argumento definitivo: - Porquê eu?
Um bom exemplo de pressuposição,
porque, afinal, há tantos outros desatentos, marimbando-se. O implícito fica
comigo: Deixe-me em paz, vá chatear outro... Eu sei muito bem ler! Não
preciso disto para nada...
26.4.16
A
racionalidade conjugal da morgada de Travanca
A presidente do Conselho
de Finanças Públicas (CFP), Teodora Cardoso, rejeitou hoje que este órgão
consultivo tenha uma postura ideológica, defendendo antes que respeita a
racionalidade económica.
A racionalidade económica
é um conceito que me provoca azia. Em primeiro lugar, porque a racionalidade só
pode ser estabelecida pela razão humana; em segundo lugar, porque a economia é
uma categoria que não deve descurar a ideologia que, pela sua origem, pressupõe
um governo do homem para o homem.
Para mim, não é
admissível que um perito em finanças públicas tenha uma visão da governação
estribada nas regras do galinheiro de salazar: os trabalhadores põem os ovos e
os safardanas abocanham-nos...
A dona Teodora Cardoso
lembra-me outra Teodora, a do Calisto Elói:
- Valha-me Deus!
- exclamou ela aflitivamente. Tu dizes-me coisas que me fazem endoudecer! Pois
tu não vês que eu já não posso dar o meu coração a outro enquanto for casada
com um?
- Vejo que me não amaste
nunca, Teodora. Dize a verdade... Nunca me tiveste amor?
- Eu sei cá, primo! ...
Se me casasse contigo, tinha-te amor... Assim como casei com meu marido, que
hei de fazer eu agora?
Camilo Castelo
Branco, A Queda dum Anjo - diálogo entre os primos Teodora e
Lopo, cap. XXIX.
25.4.16
Que
me desculpem os nostálgicos de abril!
Já me sentei ali. Sob um
sol tímido, procurei o sopro do dia. Procurei que a aragem me libertasse da
asfixia. Por momentos, a temperatura subiu e eu respirei melhor.
O alívio foi, no entanto,
breve. Talvez ainda possa regressar, mas não sei se fará sentido até porque há
outros bancos... de jardim que os outros já tiveram melhores dias.
De qualquer modo, hoje,
sei que de pouco serve regressar ao passado, por isso interrogo-me se ainda faz
sentido "voltar" a 1974, quando uma boa parte da população nasceu
depois dessa data... E sobretudo, questiono-me sobre o tempo de vida das revoluções.
A última revolução, se
não está moribunda para lá caminha. Que me desculpem os nostálgicos de Abril!
24.4.16
"Alguma
coisa mudou"... para pior
«Houve uma época em
que os professores estavam muito mais próximos dos alunos, em que se esforçavam
por lhes dizer: " As tuas condições atuais não têm necessariamente de
moldar o futuro." Mas alguma coisa mudou.» Kalaf Angelo Epalanga,
DN, 24 abril 2016
O Diário de Notícias
presta hoje um bom serviço, ao abordar a questão do "racismo
institucional" que tem medrado nas escolas portuguesas, com poucas
exceções, como será o caso da Secundária de Azevedo na Damaia.
Kalaf Angelo Epalanga,
entrevistado no mesmo diário, dá conta de que, na sua opinião, os professores
mudaram de atitude - tornaram-se mais distantes e menos conhecedores do meio
onde trabalham...
Eu concordo que alguma
coisa mudou para pior. Em primeiro lugar, mudou o modelo de formação de
professores que, nos anos 80 e 90, dava particular atenção à individualidade
do aluno e ao meio. Depois, a partir de 2005, mudaram o
estatuto do professor e do aluno.
O primeiro foi
transformado em «mão-de-obra» indiferenciada, sem qualquer reconhecimento de
saber e de competência relacional e pedagógica. O segundo, o aluno, passou a
ser mais um, subordinado a critérios de ensino que descuram por inteiro as
aprendizagens iniciais - não basta definir metas -, é preciso alterar os
mecanismos que permitam que todos possam atingi-las...
O responsável pelo
"racismo institucional" é o ministério da educação, incapaz de
definir uma política educativa que proporcione igualdade de
aprendizagem, e não de oportunidades porque elas são poucas,
independentemente, da origem social e cultural cada aluno.
23.4.16
POR
FAVOR, NÃO MEXA NOS ANJOS!
Que posso eu
acrescentar?
Estes anjos são tão
esbeltos, tão diáfanos, que só posso imaginá-los a fugirem da igreja onde os
têm reféns... Quanto ao pedido, não o entendo, pois eu nunca faria mal a um
anjo! De qualquer modo, saí da igreja com pena deles, e nem a injunção de
Cristo a Lázaro SURGE ET AMBULA me alegrou...
Preferia que o Senhor
lhes devolvesse a missão para que os criou, mesmo que alguns lhe tenham
desobedecido...
E também não compreendo
por que motivo parecem querer seguir caminhos opostos. Melhor seria que dessem
as mãos! Que seguissem o exemplo da esquerda portuguesa.
Ou será que estes dois
anjos, tão esbeltos e tão diáfanos, representam a direita portuguesa?
Bom, nesse caso, POR
FAVOR, NÃO MEXA NOS ANJOS!
22.4.16
José
Rodrigues dos Santos ajuda a explicar o que é um derivado não afixal
Ainda não eram 20 horas,
e já o José Rodrigues dos Santos vociferava UM ARRASO ÀS PREVISÕES DO GOVERNO.
De imediato, pensei
naqueles meus alunos que não entendem do que é que se está a falar quando se
explica e dá exemplos de derivação não afixal. Aquele ARRASO vem
mesmo a calhar - um grupo de peritos em finanças públicas ARRASARA
repetidamente o governo. É que eu passei o dia a ouvir a notícia, apesar do JRS
a apresentar como a última novidade, capaz de provocar a queda do próprio
céu...
Afinal, o que é um
derivado não afixal? De acordo com os linguistas lusitanos, trata-se de
um nome deverbal gerado por um verbo, (de modo não canónico)
- o parênteses é meu! Não canónico pela simples razão de que, em certos épocas,
não há tempo para aprender nem vontade para seguir as regras, por exemplo, da
derivação por afixação. Há por isso muitos nomes deverbais: abalo,
agasalho, busca, janta, espanto, insulto, toque, troca... Ao JRS deve ter
faltado o tempo para construir um enunciado menos tonitruante! (A falta de
tempo de quem tanto escreve!)
Já agora aproveito para
concluir a lição sobre o desrespeito pelo cânone: Dias houve que, por
razões de conveniência financeira, alguém sugeriu que o melhor era converter os
judeus, obrigando-os a adotar um nome cristão, novo já se vê pois os velhos
tinham todos senhor e senhora. E foi vê-los a trocar de nome: coelhos, cavacos,
cristas, sapateiros, ferreiros, ferros, anzóis, martelos, portas, marmelos,
relvas, costas, seguros, rebelos, figueiras, saramagos, uvas, zimbros - todos
nomes comuns que viraram nomes próprios...
E os mais extraordinário
é que os linguistas acabaram com a velhinha derivação imprópria, batizando-a
de conversão, certamente em homenagem à conversão forçada dos
judeus em cristãos-novos. Não sei se há por aí alguém que se chame auto da fé!
21.4.16
Às 18.05, sentei-me em
frente do coreto. Inexplicavelmente, este estava deserto. A miudagem habitual
desaparecera. As aulas tinham terminado, e o negócio mudara de lugar...
Senti-me defraudado. Na fachada do Liceu, três vultos de outrora pareciam, como
eu, frustrados. Creio que o Mário era o que estava mais triste, talvez porque
merecesse o lugar central...
Ele que chegou mais cedo,
cedeu o lugar a outro Mário que de Dyonisos teria muito pouco ou, talvez,
o engano seja meu.
O dia fora longamente
preenchido e improdutivo, apesar da agitação circundante... No entanto, ainda
vislumbrei aqui e ali uns olhos surpresos, porque, apesar de tudo, não me
conformo com o lugar-comum.
20.4.16
Devo andar a exprimir-me
mal. Por vezes, chego a imaginar que certos termos já estão classificados como
arcaísmos. Talvez o arcaísmo não passe de uma arca cheia de ismos. Definição
nada ortodoxa mas que, quem sabe, pode pegar de estaca...
Por exemplo, o Mário
Nogueira resolveu imitar o professor Marcelo, e veio a público classificar o
novíssimo ministro da educação, tendo lhe atribuído classificação positiva. Só
que desconheço os critérios de classificação. Espero que nada tenham a ver com
nomeações de familiares, amigos, amigos dos amigos - povo de esquerda em
geral...
A própria esquerda já
colocou na arca os velhos ismos. Como diria o António Barreto, por estes dias,
preferimos os rapazes e as raparigas e, sem ofensa, os neutros - velha
reminiscência latina, por ora, bastante maltratada...
O que verdadeiramente
interessa são as sacristias, lugar onde, afinal, o destino do contribuinte é
cozinhado.
19.4.16
As ideias surgem-me
avulsas e inconsequentes, mudas seguem o seu caminho que é não incomodar
ninguém. No entanto, uma delas não para de me dar comichão no cocuruto -
vivemos numa democracia de confessionário.
Anda por aí um Costa,
mais propriamente, o Carlos, que fiel servidor do eurismo, esconde informação
vital ao decisor ou a quem pensa que ainda decide... Qual confessor, o Carlos
não informa o governo das patranhas congeminadas lá para os lados de Frankfurt,
deixa-o enredar-se em soluções de última hora que acabarão por levá-lo ao
cadafalso. Diz que são as regras do sigilo, ignorando que, em democracia
deveria vingar a transparência...
Afinal, o velhinho
segredo de estado continua a fazer o seu caminho... e as suas vítimas, muitas!
18.4.16
Se a sociologia é uma
ciência, do que é que estou a falar quando acuso um sociólogo de ser de
direita, o qual, por seu turno, já acusou outro de ser de esquerda? Poderá a
ciência ser de direita ou de esquerda? Ou, afinal, a sociologia nunca foi uma
ciência, resumindo-se à ideologia daqueles que não conseguem despir-se das
vestes do poder?
Passa por mim uma
criatura que me evita o olhar e que se refugia na vitrine do hotel para me
observar de viés, como se não me conhecesse. No instante, interrogo-me sobre o
mal que lhe terei feito, e sigo caminho... Mais adiante, outra criatura, em
visita institucional, saúda-me majestaticamente, como se lhe faltasse a montra,
e eu sigo pensando no perdigão que subiu a uma alta torre...
Apesar da visão refrativa
me cansar cada vez mais, procuro esquecer aqueles que me olham de viés, mas é
difícil.
O confronto verbal ignora
o tema e perde-se em atalhos. A referência vive embrulhada na motivação,
diluindo-se na banalidade do cidadão comum que, por sê-lo,
voltou a ser súbdito...
17.4.16
Alberto
Gonçalves, sociólogo de direita
«Porque é que
isto acontece? Ninguém faz ideia. Um governo do partido derrotado nas urnas,
chefiado por uma nulidade irresponsável, herdeiro da histórica
competência do PS, repleto de adolescentes mentais e iluminado pela ponderação
do PCP e do BE tinha tudo para funcionar. É a história do maluco que se lançou
várias vezes do 3º andar com consequências aborrecidas - e agora lança-se do 5º
para ver se aterra ileso.» Alberto Gonçalves, Sociólogo, DN 17 de abril de
2016.
Primeiro não quis
acreditar que fosse possível viver num país governado por uma nulidade
irresponsável, depois reli o excerto de «Aos comentadores de
"direita"» atento aos sinais de IRONIA. E percebi que os fundadores
do PS eram incompetentes, que os quadros atuais pertencem à categoria dos
adolescentes pré-adultos, que o PCP e BE não passam de grupos de
destrambelhados. Quanto à história do maluco, desconheço o referente.
Embora pensasse que o Sol
quando nasce é para todos, hoje sei que não é bem assim. O Sol ilumina os
comentadores de "direita", mesmo que estejam adormecidos. De qualquer
modo, o sociólogo Alberto Gonçalves já começou a despertá-los.
Sem querer ofender o
ilustre sociólogo - afinal, a Sociologia também pode ser de direita! Salazar
foi uma nulidade irresponsável ao bani-la das Universidades -
vou lembrar-me deste dia sempre que entrar ou passar por perto da Quinta
Pedagógica dos Olivais.
16.4.16
As andorinhas ainda não
chegaram, porém os escuteiros estão um pouco por toda a parte.
O dicionário da Porto
editora define o ESCUTEIRO como «mancebo pertencente a uma associação
organizada, que se exercita em serviços humanitários e se prepara para a defesa
da Pátria.»
A definição parece-me um
pouco retrógrada: ignora as mancebas; confunde o escutismo com
o voluntariado; revela uma matriz militar...
Eu nunca fui escuteiro,
embora tenha sido seminarista, voluntário à força, tenha cumprido o serviço
militar, campista e caravanista...
Bem vistas as coisas, só
me falta ser escuteiro, mas creio que o melhor seria começar por rever a
definição do termo...
15.4.16
espirro com letra minúscula
(nunca atribui grande dignidade ao espirro)
a verdade é que raramente espirro
só que quando espirro a carcaça desfaz-se...
talvez seja por isso que perco a paciência
(de mim todos esperam que seja paciente
há mesmo quem pense que nasci paciente)
só que ninguém ouve a carcaça a desfazer-se
casco velho cheio de frinchas
depois de me embebedarem os quistos
querem agora dissecar-me os gânglios
só que eu prefiro o mar de sargaços
ou será de engaços
abstémio
disse-lhes que sim, daqui a seis meses,
sejam pacientes que eu vou ver se não espirro
se um costa incomoda muita gente
dois costas incomodam muito mais
e sobretudo um incomoda o outro
14.4.16
Não sei se o atual
ministro das finanças anda a esconder a verdade, mas custa-me aceitar que
aqueles que, nos últimos anos, nos mentiram diariamente venham acusar quem quer
que seja de mentiroso.
Não sei se o Bloco de
Esquerda não tem mais nada para fazer, mas parece. Talvez pudesse aproveitar o
tempo para estudar um pouco de Gramática! Consta que o BE quer
substituir o masculino pelo neutro para acabar com a discriminação.
Haja paciência!
Não sei se o Almada
Negreiros discriminava os ciganos, no entanto não deveria tê-los trazido à
baila na guerra ao Dantas:
O DANTAS É UM CIGANO!
O DANTAS É MEIO CIGANO!
... e sobretudo não deveria ter discriminado as CIGANAS!
13.4.16
As fronteiras podem ser
uma fonte de conflitos, a história o ensina. Um pouco como a formalidade pode
matar a espontaneidade e a imaginação.
Há, contudo, um certo
tipo de informalidade que, como o aluvião, tende a ignorar as regras que
impedem a subversão de valores e de comportamentos.
Dito de outro modo, há cada vez mais comportamentos que esmagam todo e qualquer
valor.
Nem já os detentores do
poder revelam ser capazes de separar a res púbica da res
privata. O primeiro-ministro delega num amigo a responsabilidade de o
representar em negócios equívocos.
Os exemplos são
múltiplos!
Vivemos no reino da
informalidade e quando tal acontece vinga a estupidez.
12.4.16
Francisco
Nicholson, aluno do antigo Liceu Camões
«O ator, argumentista,
escritor e encenador, Francisco Nicholson morreu esta terça-feira de manhã, 12
de abril. Internado no hospital Curry Cabral, o ator encontrava-se doente
devido a complicações resultantes de um transplante hepático a que fora submetido
há uns anos.
Francisco Nicholson
começou a fazer teatro aos 14 anos, no antigo Liceu Camões, sob direcção do
encenador e poeta António Manuel Couto Viana, a convite do qual veio a
pertencer ao Grupo da Mocidade, que integrou com, entre outros, Rui Mendes,
Morais e Castro, Catarina Avelar e Mário Pereira.»
Será que a Morte prefere
os dias sombrios? Há dias em que assim parece. Talvez, porque deixámos de
encarar a morte como lugar de passagem ou, em alternativa, de reintegração no
cosmos.
11.4.16
Pouco posso dizer sobre
as grandes questões, pois, do que conheço do passado, estas não passam de
querelas de ambiciosos sedentos de poder e de riqueza.
Por outro lado, do que
conheço do presente, a maioria vive animadamente o momento, alheia aos
problemas do mundo, como se vivesse num universo paralelo. E talvez viva!
Um universo que despreza
o ponto de vista de quem quer que seja. Em certos dias, é mesmo necessário
pedir desculpa por ainda cumprirmos o dever de explicar que o ponto de vista é
o lugar a partir do qual se observa, a partir do qual se pensa... um lugar concreto,
diferente sempre que ousamos mudar, aprofundar, questionar, propor outro
caminho...
Perante a soberba, não
querendo deixar de ser corteses, baixamos a voz, eliminamos as convicções, e
resguardamo-nos nas definições.
Um destes dias, mais não
faremos do que ler o manual de instruções...
10.4.16
Do Medo
1
Não pode o poema
circunscrever o medo,
dar-lhe o rosto glorioso
de uma fábula
ou crer intensamente na sua aura.
Nós permanecemos, quando
escurece à nossa volta o frio
do esquecimento
e dura o vento e uma nuvem leve
a separar-se das brumas
nos começa a noite.
Não pode o poema
quase nada. A alguns inspira
uma discreta repugnância.
Outras vezes inclinamo-nos, reverentes, ante os epitáfios
ou demoramo-nos a escutar as grandes chuvas
sobre a terra.
Quem reconhece a poesia, esse frio
intermitente, essa
persistência através da corrupção?
Quase sempre a angústia
instaura a luz por dentro das palavras
e lhes rouba os sentidos.
Quase sempre é o medo
que nos conduz à poesia.
2
Voltando ao medo: as asas
prendem mais do que libertam;
os pássaros percorrem necessariamente
os mesmos caminhos no espaço,
sem possibilidades de variação
que não estejam certas com esse mesmo voo
que sempre descrevem.
Voltando ao medo: o poema
desenha uma elipse em redor da tua voz
e cerca-se de angústia
e ervas bravias — nada mais
pode fazer.
Luis Filipe Castro Mendes, in "A Ilha dos Mortos"
«Pertenço a um género
de portugueses / Que depois de estar a Índia descoberta / Ficaram sem
trabalho...» Álvaro de Campos, Opiário.
Para lá do verde, o
investimento alemão; por detrás, o que resta da velha Índia – a
ponte.
Bom seria que os políticos
se empenhassem mais em construir pontes do que em destruí-las.
(...)
Na Índia de hoje, a
tragédia:
«O incêndio que
deflagrou este domingo num templo indiano, provocado por fogo-de-artifício,
causou pelo menos 102 mortos e 280 feridos, segundo um novo balanço oficial.
Milhares de indianos juntaram-se na madrugada de hoje num templo hindu de
Puttingal Deva, na província de Kerala, sul da Índia, para celebrar o festival
Vishu, quando o local de lançamento do fogo-de-artifício a ele associado foi
alvo de uma explosão.» Correio da Manhã
9.4.16
A
Voz inútil é um modo de dizer
A Voz inútil é apenas o
modo de dizer que naquele serviço o número de enfermeiros é de tal forma
reduzido que não sobra ninguém para responder às questões dos familiares dos
doentes.
Curiosamente, no serviço
de internamento, o familiar e o amigo do doente são esclarecidos de que só o
médico pode dar informação e como tal o melhor é ligar para a unidade, só que
do outro lado irrompe uma Voz inútil...
Chegados à unidade, por
exemplo de Cuidados Intensivos Neurocriticos, não há médico à vista, e apenas
se vislumbra um enfermeiro em frente de um terminal de computador,
provavelmente a preencher a ficha clínica dos doentes...
De qualquer maneira, não
me posso queixar: o António está a recuperar bem da intervenção... e cá fora
sempre pude observar o castelo de S. Jorge, apesar de bem distante.
Estou desde as 18 horas
de ontem a ligar para o serviço de neurocirurgia do Hospital de São José. O
telefone toca durante meio minuto até que uma Voz 'responde', Lamentamos,
de momento não é possível atender. Volte a ligar mais tarde.
Bem gostaria de saber de
quem é esta Voz e quanto é que lhe pagam para realizar esta tarefa inútil.
Lá terei de me mexer e
cumprir o preceito: Quem quer vai, quem não quer manda!
8.4.16
«Entretanto, o António
Costa deve lembrar a João Soares que não precisamos de um ministro da cultura
trauliteiro.» Caruma, 1 de Março de 2016
A nomeação de João Soares
para ministro da Cultura só não me surpreendeu por ele ser filho de quem é. A
Comunicação Social celebrou o 'homem de cultura', embora eu nunca tenha
percebido porquê. Conhecia-lhe a arrogância que o levou a perder a renovação do
mandato para presidente da CML, conhecia-lhe o descaramento que o levara a
apoiar Savimbi, contribuindo para a manutenção da guerra civil em Angola,
conhecia-lhe as relações pouco recomendáveis com investidores chineses
interessados na propriedade alentejana e não só...
No essencial, a cultura
de João Soares resume-se a um discutível círculo de relações, com enorme
dificuldade em aceitar a crítica... e que por isso reage como se ainda
vivêssemos no século XIX.
7.4.16
Idalécio
ou 'aquele que tem o espírito forte'
Passei anos a guardar
papéis e eles são tantos e já amarelecidos que já não tenho paciência para os
recuperar. Talvez pudesse digitalizá-los ou até copiá-los para o computador,
mas falta-me o tempo e, sobretudo, sobra-me a ideia de que estes não iriam interessar
a ninguém.
Apetece-me rasgá-los, de
vez! De tempos a tempos, inicio a tarefa, mas acabo por suspendê-la. Vá lá
saber-se porquê!
Nos últimos dias, tenho
vindo a pensar que, definitivamente, perdi a hipótese de enviar os meus papéis
para o Panamá.
Triste sina! Chego sempre
tarde! Eu que prezo a pontualidade... a culpa é dos meus pais que não quiseram
dar-me o nome de Idalécio.
6.4.16
Há tanta gente a
necessitar de ajuda! Tanta gente em movimento!
Com maior ou menor
diligência, desenvolvem-se estratégias de acolhimento e de integração. No
entanto, quando se pensa na aprendizagem da língua portuguesa como forma de
integração, há um momento em que todos desaparecem, como se o inglês bastasse
para eliminar as fronteiras.
Afinal, o que se
desenvolve através do ensino em inglês é uma nova forma de assimilação, em que
as escolas em geral e, em particular, as universidades não passam de barrigas
de aluguer.
A integração pressupõe o
conhecimento da cultura do lugar, da sua especificidade linguística e
histórica. Sem esse conhecimento, o imigrante e o refugiado (categorias, por
vezes, indistintas) estarão só de passagem, mesmo que a linha que separa a vida
da morte possa ser muito ténue...
5.4.16
Há sempre um dia em que a
intimidade acaba exposta, mesmo se por prevenção ou para despistar sintomas
recorrentes.
Há sempre um dia em que
um amigo se prepara para regressar às mãos do neurocirurgião, mesmo se para por
cobro ao crescimento de um cisto indesejado.
Há sempre um dia em que
um filho decide regressar a Ancara, capital de um país, onde a repressão das
oposições é cada vez mais frequente e violenta.
Há sempre um dia em que
um colega nos parece ter subitamente envelhecido...
Este é um desses dias!
Para a semana, esperemos
que o vento frio se tenha afastado e que o pólen dos plátanos tenha cumprido a
sua função.
Para a semana, esperemos
que o mal-estar destes dias tenha cessado!
4.4.16
«Mas os ‘Panama
Papers’ batem o recorde em volume de dados, sendo a maior fuga de informação
sobre offshores de que há registo: envolvem mais de 214 mil companhias. Os
ficheiros incluem emails, fotografias, ‘powerpoints’ e partes da base de dados
da Mossack Fonseca, a sociedade de advogados panamiana que está na origem da
informação aparentemente mais relevante, num período entre a década de 1970 e
2016.» Imprensa, 4 de abril 2016
Como escreveu Saramago
em Memorial do Convento, «mas isto, confessemo-lo sem vergonha,
é uma terra de ladrões, olho vê, mão pilha...» Só que Saramago, na
circunstância, referia-se à arte de furtar portuguesa. Afinal, o furto é
global, e como o polvo, sabe esconder-se nos lugares mais improváveis. No caso,
no Panamá.
Paga-se o trabalho
miseravelmente, corta-se nas pensões, condenam-se empresas à falência,
colocam-se os povos no pelourinho, e para quê? Para que os abutres vivam à
grande pelo menos desde os anos 70!
3.4.16
«Há duas maneiras de
organizar a receção de imigrantes. Uma tem a designação genérica de integração.
A outra de multiculturalismo.» António Barreto, DN, 3 de abril
de 2016.
Vale a pena ler o artigo
de António Barreto!
No que me diz que
respeito, desde meados dos anos 90 que pugno pela interculturalidade, uma das
estratégias possíveis de integração. Nunca percebi como é que politicamente se
pode defender a divisão do território em ilhas de cultura (religiosa ou
outra...)
A maioria dos conflitos
dos últimos 100 anos encontrou nessas ilhas terreno propício ao avanço de
projetos de alargamento do chamado "espaço vital". Basta lembrar como
Hitler anexou a Áustria, a Renânia, a República Checa, sempre em nome das minorias
alemãs...
O que, afinal, em nada se distingue, por exemplo, da estratégia de Putin, mais
recentemente...
2.4.16
Desde as cinco horas que
chuvisca e eu fui um dos tolos, embora não me possa queixar, pois o edredão
secou enquanto o sol durou.
Por entre os afazeres
domésticos, o dia foi consumido numa caminhada e, sobretudo, em leituras
várias: "O dia em que a jararaca voltou"; "Relations
Internationales de 1930 à 1939"; "Les agressions allemandes et la
marche à la guerre (1938-1939)"; capítulos primeiro e derradeiro de
"Memorial do Convento"... (Talvez, Santo Aleixo nos possa
valer!)
Estas leituras podem
parecer incongruentes, no entanto dão-nos a compreender a mecânica humana: por
um lado a ambição desmedida; por outro, a inconsequência e a cobardia.
O cruzamento de leituras
de índole jornalística (Brasil atual), histórica (conflito entre ditaduras e
democracias no séc. XX) e ficcional, dá ao leitor o distanciamento necessário à
compreensão do descalabro civilizacional em que estamos mergulhados.
Infelizmente, esta
experiência é cada vez menos partilhada.
1.4.16
Quando não há uma relação
direta entre o sucesso na vida e o sucesso escolar, qual é o lugar da escola no
mundo atual?
Tradicionalmente, a
pergunta seria "qual é o papel da escola na sociedade atual?"
Na verdade, já não há
sociedade e muito menos uma 'sociedade portuguesa' ou até uma 'sociedade
europeia'. O que há são corredores que uns tantos percorrem, alheios ao
interesse comum, e que, no final, se revelam portas de entrada para a riqueza e
para a fama, independentemente dos meios para as atingir...
O sucesso na vida não
obedece a qualquer critério ético, apesar de uns tantos continuarem a defender
valores verdadeiramente anacrónicos, pois os media e as redes,
ditas, sociais veiculam, ao segundo, atitudes e saberes
despojados de qualquer criticismo.
A escola mais não é hoje
do que um cais para onde são atirados os filhos daqueles que procuram o sucesso
na vida a todo o custo nos corredores da desumanização e da alienação...
Nestas condições, para que serve a escola? Para que serve a escolaridade
obrigatória de 12 anos?
Do ponto de vista
relacional, qualquer observação revela que os laços desenvolvidos são fúteis e,
por vezes, antissociais. Do ponto de vista da aprendizagem, não é difícil
concluir que a matriz conteudística é desfasada da realidade e, como tal,
desinteressante e aborrecida...
31.3.16
The Lady in the Van.
Filme, 2015.
Só hoje vi este filme
sobre as relações humanas num bairro londrino no período thatcheriano. Relações
postiças que, apesar de tudo, se vão tornando corteses.
Miss Shepherd sabe como
ninguém explorar a má consciência da rua em que instala a sua
"furgoneta", obrigando os vizinhos a tolerar-lhe o lixo, a sujidade,
a pestilência e uma certa sobranceria. Sobretudo, o "vizinho" Alan
Bennet acaba por, ao usá-la como tema de escrita, dar-lhe uma assistência
inesperada até porque a recusava à própria mãe...
Por outro lado, este
filme revela uma crítica explícita, embora pontual, ao catolicismo, porque
fora, afinal, um sacerdote católico que censurara o amor da jovem Margareth
(Miss Shepherd) pela música, levando-a entrar num convento... Critica, também,
a assistência social inglesa que só muito tarde se ocupou da velha Miss
Shepherd.
Esta obra mostra que uma
personagem excêntrica e foragida esconde muitas vezes uma vida frustrada,
porque os padrões de cultura assim o determinam. E Miss Shepherd nunca aceitou
por inteiro esse destino...
Finalmente, embora o tema
possa parecer 'negro', há momentos que são hilariantes, e a interpretação dos
atores Maggie Smith e Alex Jennings é excelente.
(Na sessão das 15:20,
no Cinema City Alvalade, estiveram apenas 7 (sete) espectadores...)
Ontem, foi celebrado um
acordo entre os do costume para que hoje o Novo Banco possa
ser posto novamente à venda sem assustar os potenciais compradores.
A leitura do ato é fácil,
mas parece que ninguém deu conta disso. Nem os lesados do BES /GES!
30.3.16
Do que ouvi até agora na
comissão de inquérito ao Banif, Administração, Banco de Portugal e Governo,
colocados sob a pressão de Frankfurt, mais não fizeram do que perder tempo... O
mesmo tem vindo a acontecer com o Novo Banco... E provavelmente o mesmo estará
a acontecer com o BPI...
Todos dão mostra de
grande azáfama na procura de soluções, mas o resultado é a rendição a
Frankfurt. Pelo meio, engordam uns tantos à custa do empobrecimento dos
restantes.
A perda de tempo deveria
ser tratada como 'caso de polícia' e não numa comissão de inquérito, pois esta
é, também, uma perda de tempo...
29.3.16
«Isto é que fim, que princípio, que fim de que
viagem, que crónica?» Mário Cláudio, A Memória do Rito.
Só porque existo
há princípio e fim
a dor da viagem acentua-se com a impressão de que o cais irá ficar deserto de
mim
o cais existe sem pensar que possa haver princípio e fim
nem a ilha que o acolhe lhe desperta atenção
as flores são de pedra
azuis, as águas e as aves
Só porque existo
o cais as flores as águas as aves ganham cor, e parece que têm princípio e fim.
28.3.16
Revolta
e Revolução - longe vai o tempo...
«Globalmente, o
tribunal deu como provado que os acusados formaram uma associação de
malfeitores, pelas reuniões que realizaram em Luanda entre Maio e Junho de 2015
(quando foram detidos). Num "plano" desenvolvido em coautoria,
pretendiam - concluiu o tribunal - destituir os órgãos de soberania
legitimamente eleitos, através de ações de "Raiva, Revolta e
Revolução", colocando no poder elementos da sua "conveniência" e
que integravam a lista para um "governo de salvação nacional".»
Lusa
Longe vai o tempo em que
o MPLA apelava à Revolta e à Revolução! Longe vai o tempo em que os escritores
escreviam poesia e narrativa a apelar e a legitimar a Revolta e a Revolução.
Longe vai o tempo em que Agostinho Neto (NOITE ESCURA) acreditava na liberdade:
(...)
Um dia começou uma noite
sem estrelas.
Mas na noite escura
os corações se erguem
Ah! é tão alegre a
madrugada!
Vivemos num tempo em que
os tribunais angolanos utilizam o mesmo léxico e decidem do mesmo modo que as
autoridades coloniais.
Ah! é tão triste o despotismo!
Ah! é tão mesquinha a indiferença!
27.3.16
Deste lado, um pontão e
uma ponte. Curiosamente o sufixo /ão/ nada acrescenta, pois a ponte, quase
invisível, leva muito mais longe...
Em 'ressurreição', o
sufixo /ão/ deveria acrescentar ou, pelo menos, trazer o perdão à iniquidade
humana, mas não. Tudo continua como dantes... até os flamingos voltaram, às
centenas, ao leito do Tejo... Longe da objetiva, mergulham os longos pescoços
sem qualquer preocupação com a redenção.
Alimentam-se
sofregamente, porque a viagem pode ser a derradeira. Ninguém os irá acusar de
gula, nem ouvi-los em confissão...
Eu é que já não tenho
perdão!
26.3.16
Sábado de
chuva! Ninguém refere se as barragens estão cheias, nem se o preço da
eletricidade deveria baixar...
Só as cerimónias da Semana
Santa surgem misturadas com os falhanços do Cristiano Ronaldo e com a
celebração do Dia Mundial do Chocolate. Lá por fora, ecos prolongados dos
atentados em Bruxelas e do acidente que vitimou doze portugueses, numa
furgoneta de sete lugares conduzida por um jovem de 19 anos...
Entretanto, eu termino a
leitura de "Resgatados", de David Dinis e Hugo Filipe Coelho. E
concluo com uma ideia oblíqua: quando à nossa frente se levanta uma parede é
muito difícil derrubá-la. A teimosia de uns acaba por ser a desgraça de outros...
«Para ele (José
Almeida Ribeiro), Sócrates era um líder político nato, com os
inconvenientes que os grandes líderes sempre tiveram: quando acertam os
resultados são magníficos; quando erram os seus erros são históricos.» op.
cit, pág 233.
O que é curioso no meio
de tudo isto é que também eu vivo cercado de paredes, e não sei como
escapar-lhes... Creio, todavia, que pouco falta para que a chuva de hoje se
transforme no fogo de amanhã...
25.3.16
Resgatados / Os
Bastidores da Ajuda Financeira a Portugal, de David
Dinis e Hugo Filipe Coelho...
Enquanto leio
"Resgatados...", vou pensando no calculismo que medra atualmente nos
bastidores da vida política nacional e europeia.
Este livro é, para mim,
surpreendente pela metodologia utilizada pois, ao evitar a verdade das câmaras,
acaba por revelar a voragem sequencial dos acontecimentos de ângulos opostos,
mas esclarecedores...
Lá no fundo, os governos
portugueses, desde a entrada na união europeia, dançaram todos ao som da
orquestra franco-alemã. E quando foi necessário dizer não, já era tarde: a
atividade produtiva fora desmantelada e a aposta no investimento público (2008)
esbarrou na nova era da austeridade (2010), sempre sob a batuta alemã... Os
empréstimos tinham de ser pagos!
Os credores aproveitaram
e lançaram-nos o garrote.
José Sócrates bem se
esforçou, mas, infelizmente para nós, parece que o amigo Santos Silva ainda não
dispunha de meios para nos salvar. E por outro lado, a oposição, além de viver
na ignorância, só sonhava com a manutenção (Cavaco Silva) ou o retorno ao poder
(PSD)...
Espero que o António
Costa tenha este livro na mesa de cabeceira e o vá relendo para não cair nas
ilusões de Sócrates...
24.3.16
Radovan
Karadzic...não compreendo!
Radovan Karadzic
condenado a 40 anos de prisão por genocídio.
40 anos? E porque não 30,
20, 50?
Este tipo de criminosos
não deveria poder ter qualquer expectativa. Já que não é defensável a
condenação à morte, esperar-se-ia que a sentença fosse taxativa: preso até ao
último dia de vida!
Há atos terroristas que
não merecem qualquer clemência, pois os seus autores foram impiedosos com as
suas vítimas e, na maioria dos casos, não manifestam qualquer tipo de
arrependimento.
«O ato
terrorista é uma negação da individualidade, é uma negação do ser humano,
naquilo que ele tem de único, em nome de uma causa geral.» Aloysio
Nunes Ferreira, deputado brasileiro.
23.3.16
Ajo
em função de um Dever antigo...
Hoje é um daqueles dias
em que me vi obrigado a trocar o calor pelo frio, embora o sol se esforçasse
por atenuar a friagem da brisa inconsistente.
Eu estou um pouco como o
sol, esforço-me, mas já não sei para quê. Faço-o há tanto tempo que já lhe
perdi a origem.
Creio que ajo em função
de um Dever antigo cuja consistência se esboroa a cada minuto que passa.
O problema é que o minuto
não passa, simplesmente dura, tornando mais pesados os dias, e escaqueirando o
coração. E este apenas acelera, indiferente ao calor e ao frio.
Nem a chegada da
Primavera suspende a chuva. E com ela, a flor esmorece...
Por este andar, os frutos
irão faltar... e tudo iremos importar.
No entanto, há flores que
resistem anunciando colheitas escassas, mas de qualidade.
Se procurarmos bem,
também há homens que não esmorecem, porém esses são mais difíceis de
encontrar...
O esmorecimento é uma
tentação que, por vezes, seduz pela possibilidade de desistir.
Se o que vai acontecendo
ocorresse no Outono, então...
22.3.16
O ato terrorista
«O ato terrorista é
uma negação da individualidade, é uma negação do ser humano, naquilo que ele
tem de único, em nome de uma causa geral.» Aloysio Nunes Ferreira,
deputado brasileiro.
Independentemente das
causas, o autor do ato terrorista é um ser formatado que age
quase sempre em nome de uma causa geral.
Em termos de combate há
que identificar e conhecer plenamente as causas gerais e,
principalmente, desmantelar todos os modelos de formação que
contribuem para a alienação (formatação) de jovens que, em muitos casos,
crescem em espaços multiculturais fechados sobre si próprios.
A prevenção do ato
terrorista depende assim da definição de modelos de sociedade e de educação que
impeçam a catequização de indivíduos desintegrados e marginalizados em
territórios com autonomia própria...
21.03.2016
Como se o orçamento os
pudesse alimentar a todos
A reivindicação é
notícia. Dos empresários aos trabalhadores, todos reivindicam como se o
orçamento os pudesse alimentar a todos... O Governo, por seu lado, desdobra-se
em compromissos com cedências ao acaso, pois sabe que o seu tempo é curto. Em
vez de informar devidamente o país da verdadeira situação financeira, prefere
fingir que pode satisfazer todos os interesses, sem perceber que há muitos
sectores que procuram derrubá-lo, tanto à direita como à esquerda...
(...)
Infelizmente, os
governantes portugueses não têm espinha dorsal, até porque ignoram a História
do séc. XX. Bastava-lhes ter estudado as crises com que os países ocidentais se
debateram entre as duas guerras mundiais, para compreender que a solução para os
problemas da economia dos povos vai muito para além da simples alternância
entre governos de direita e de esquerda...
Nem a austeridade nem a
distribuição de recursos voláteis resolve os problemas colocados pela
progressiva e inevitável eliminação de postos de trabalho e pelo envelhecimento
das populações.
Há que desenhar uma
estratégia e aplicá-la sem calculismos eleitoralistas.
20.03.2016
A corrupção é
inevitável...
A riqueza dos Estados
Unidos depende fortemente da desestabilização global e regional. Há 100 anos
que é assim!
O que se passa no Brasil
é a expressão de que a distribuição da riqueza por muitos ofende claramente os
interesses dos conservadores locais e, sobretudo, dos vizinhos do Norte.
A divulgação das
conversas entre os dirigentes políticos é feita de forma seletiva para criar o
caos. Há muito que os Estados Unidos controlam toda a informação, utilizando-a
cirurgicamente. Acontece agora, mas já está em curso há vários anos...
E a corrupção? Esta é
inevitável nos políticos filhos da pobreza. Rapidamente, percebem que no
aproveitar é que está o ganho e, sobretudo, que, se se mantiverem pobres, não
têm qualquer hipótese de ombrear com todos aqueles que controlam o mundo da
finança.
Se não podes com eles,
junta-te a eles!
Também, em Portugal, nas
últimas décadas, foi esse o caminho. Num país pobre, a gente pobre, quando
chega ao poder, acaba por se juntar a eles. E o caminho é a corrupção...
Quanto aos ricos
corruptos, a ambição não tem limites.
18.3.16
Conheci uma criança que
poupava durante três meses para poder comprar um pacote de bolacha baunilha. E
quando, finalmente, saboreava a primeira bolacha, sentia a consciência
pesada.
Aquela extravagância
perseguia-o para onde quer que fosse, porque, lá no íntimo, percebia que
quebrara o princípio de que não se deve desperdiçar dinheiro com coisas
inúteis, nomeadamente, que não deveria ter cedido ao pecado da gula...
De facto, aquele pecado
não resultava de um impulso momentâneo: a todos os três meses, lá comprava um
pacote de baunilha, com uma única exceção anual - em abril, substituía a
bolacha por um gelado, de preferência, de baunilha.
Agora avançado na idade,
só raramente compra um pacote de bolacha baunilha, e não porque lhe pese na
consciência, mas porque quem o poderia censurar partiu para um lugar onde não é
preciso poupar durante três meses para poder comprar um pacote de bolacha
baunilha ou trocá-lo por um gelado de baunilha...
Descobri, agora, que aquela
criança tinha um único sonho. Que, quando os seus amigos se forem despedir
dele, alguém tenha comprado alguns pacotes de bolacha baunilha, e que todos
possam saborear uma bolachinha... com sabor a baunilha. Ou, se for abril, que a
possam trocar por um gelado... de baunilha.
17.3.16
Avolumam-se as nuvens -
parecia que o sol brilhava. Mas é uva por amadurecer.
De forma sibilina, Freud
separou as pulsões da vida das da morte. Há, contudo, quem procure a vida
através da morte.
O caminho é sedutor.
Porém, no canavial sopra uma friagem que se desfaz em pranto...
Em tudo, há uma oposição
irritante. Chamam-lhe coordenada adversativa; melhor seria chamar-lhe
bifurcação. E, em vez de um caminho, são agora dois sem regresso.
16.3.16
Avolumam-se as pausas -
discutem-se os últimos escândalos, a bola, a família, a falta de educação, os
excessos... dos outros, as insuficiências dos outros, os erros dos outros...
Por vezes, as pausas são
interrompidas para regressar ao trabalho de mostrar ao chefe que o posto de
trabalho não foi desertado...
De qualquer modo o
esforço é inglório, porque o chefe não descola do lugar que ele próprio
determinou ser o seu.
Hoje a pausa é em frente
de um televisor, de onde é possível avistar um funeral de alguém que por aqui
passou, sem que, aparentemente, tenha deixado qualquer indício...
(Começo a pensar que sou
invisível! Eu que não sou chefe, observo e registo sem que isso desperte a
mínima atenção. Do outro lado, o televisor vai mostrando imagens que não
descortino; a própria voz da repórter é abafada por um discurso múltiplo sobre
as insuficiências e os erros dos outros, no caso, das outras, por ora,
ausentes...)
15.3.16
Embora sempre ocupado, em
algum momento deves ter pensado naqueles amigos que te ignoravam, mas que na
tua morte não iriam desperdiçar a oportunidade de saudar a tua jovialidade, a
tua fraternidade, o teu talento.
Nesse momento, o teu
sorriso seria amargo, mas por pouco tempo, pois faltava-te o tempo para
suportar a mediocridade, embora soubesses que a melhor forma de te desforrares
seria representar essas vidinhas postiças.
Desta vez partiste, sem
qualquer encenação, sem qualquer sorriso, mas nem por isso a mediocridade irá
desaproveitar o momento de dizer "eu fui teu amigo"...
No que me diz respeito, a
tua morte trouxe-me à memória que falta algures o teu testemunho, e não sei se
foi porque, à data, estivesses ocupado ou, simplesmente, porque as tuas
palavras poderiam destoar...
(Na morte de Nicolau
Breyner.)
14.3.16
Sou
eu que gosto e mais ninguém!
O gosto será determinado
pela vontade? Do tipo 'eu não quero gostar de sopa e portanto não gosto de
sopa'. A decisão parece resultar de embirração!
Se os adultos não comem sopa, por que motivo dão sopa à criança... E mesmo
que os adultos comam sopa, a vontade de afirmar a diferença, não vá o exemplo
coartar-lhe a liberdade, obriga à rejeição sob a forma de choro, grito ou
simplesmente de boca cerrada...
Os dias passam e o gosto vai ficando cada vez mais apurado: eu quero,
eu não quero; quero, não quero; não... já disse que não! Por outro
lado, o gosto não exige aprendizagem, não requer conhecimento do outro, nem do
contexto em que ele nasceu, cresceu e morreu...
Sou eu que gosto e mais
ninguém! O gosto foge de qualquer forma
de desgosto... e se não for suficientemente convincente, parte para a demolição
de todo e qualquer património, porque nada pior para o gosto do que admitir que
outro possa ter realizado qualquer coisa digna de admiração... Sou que gosto e
mais ninguém!
13.3.16
Nos anos 70, durante três
anos e meio, desci e subi diariamente a Calçada do Combro (Lisboa). À época, as
igrejas viviam envergonhadas...
Na sala de aula, por mais
de uma vez, procurei explicar o que era a arte do Barroco, dando exemplos
livrescos, quando poucos números acima se situava um dos expoentes do
Barroco e do Rococó do séc. XVII - a Igreja de Santa Catarina ou a Igreja
dos Paulistas. À época, a sede do MRRP tinha mais influência na juventude que
frequentava o Passos Manuel ou a Escola D. Maria I.
Hoje, regressei à
Igreja de Santa Catarina para ouvir o CRAMOL (Grupo de Canto de
Mulheres) interpretar um conjunto de polifonias e melodias tradicionais de
mulheres, evocativo do tempo religioso dos mistérios da vida e da morte.
A execução foi primorosa
e por isso merecedora de aplauso, até porque nos restitui cânticos do
tempo rural, evitando a mistura tão do agrado das gerações
urbanas.
A Igreja encheu,
sobretudo, de mulheres, mas isso já são contas de outro rosário... e o prior
não ficou a perder...
«A Senhora da Saúde
Tem uma rosa no rosto
Que lhe deram os romeiros
No dia 15 de Agosto»
Manhouce /Beira Alta
Pessoalmente, prefiro o
título: Da vida, da paixão, da morte. No entanto, aceito que o
lugar possa explicar a inversão... O que não quer dizer que compreenda.
12.3.16
Passei pela Ulmeiro, no
nº 13 da Avenida do Uruguai. Mais do que os livros, quem ali mais desperta a
atenção é o gato, de que desconheço o nome, mas lembrou-me o velho Bonifácio d'Os
Maias. Deitado ao sol na montra da livraria, parecia desprezar quem por ali
se comprazia em apreciar o seu porte soalheiro em vez de se fixar na livralhada
mais ou menos de teor religioso que ali dormitava...
Entrei, uma simpática
senhora, um pouco mais velha do que eu próprio, prontificou-se a
esclarecer alguma questão, embora de imediato remetesse para os identificadores
afixados nas estantes...
(Sobre a guerra do
Rift nunca ouvira falar e o proprietário (?) que se encontrava na penumbra nada
disse, o que me levou a pensar que há certos acontecimentos, sobretudo os
trágicos, que não interessam a ninguém - milhares de espanhóis, e não só, foram
massacrados e, provavelmente, ficaram para sempre nas areias do deserto.
Talvez, no entanto, não seja esta a única versão... se eu viajasse até
Marrocos, e investigasse as relações do Magreb com as potências
colonizadoras - Espanha e França - talvez encontrasse um outro livreiro capaz
de me elucidar sobre o primeiro quartel do século XX...)
Como não gosto de entrar
numa livraria e sair de mãos a abanar, virei a minha atenção para
a estante que indicava Literaturas Africanas. Apenas 5 livros, e eu
já os tinha todos... O mesmo sucedeu na estante Literatura Brasileira!
Acabei por encontrar um
livrinho em bom estado do Mário Cláudio, que afinal, é dois em um, porque,
de um lado, oferece prosa e do outro, poesia... O resto da livraria, não tive
coragem de o percorrer...
Preferi visitar o
cemitério do Lumiar, onde os ciprestes continuam perfilados e, hoje, visitados
por aves que não consigo identificar - não eram corvos nem gaivotas! Talvez
estivessem de passagem, como eu, e me seguissem até à Quinta das Conchas...
Ainda observei os
eucaliptos, mas neles só poisavam os pombos e um ou outro melro.
11.3.16
«O movimento não se
confunde com o espaço percorrido. O espaço percorrido é passado, o movimento é
presente, é o ato de percorrer.» Tese de Bergson
Com a idade, o espaço
percorrido cresce, e na cabeça de certas pessoas incha de tal modo que pouco
sobra para que o resto do corpo consiga mover-se...
Essas pessoas vivem
num espelho que lhes reflete as frustrações e os delírios. Reclamam
direitos por serviços prestados e detestam ser contrariadas.
O outro perde
em autonomia e ganha em servidão... e à medida que serve vai pensando
se não se enganou no caminho.
Desmeditando,
está na hora de voltar a servir, que os deuses já se inclinam sobre a
nossa insubordinação.
10.3.16
Marcelo,
oficialmente, esqueceu Fernando Pessoa
Ontem, Marcelo Rebelo de
Sousa prestou homenagem a Vasco da Gama e a Luís Vaz de Camões. E,
oficialmente, esqueceu Fernando Pessoa.
Esperemos que o
"espírito" do Estado Novo não esteja de regresso. Há, no entanto,
indicadores que perturbam: "venham a mim os pobres de espírito!"
Como diria José Rodrigues
Miguéis, "o pão não cai do céu"...
9.3.16
A cortesia impôs que
o presidente Cavaco fosse condecorado com o Grande Colar da Ordem
da Liberdade. 900 convidados deslocaram-se ao Palácio da Ajuda para
assistir ao ato e cumprimentar o homenageado. Na espera, foram petiscando e
cavaqueando.
Em rodapé:
Numa só empresa, 500
trabalhadores estão a caminho do desemprego. O Governo está obrigado a reduzir
a despesa em 700 milhões ou a cobrar mais 700 milhões em impostos.
Nós pagamos a insígnia,
os acepipes, o cavaco, o subsídio de desemprego, os palácios, os veículos
de alta cilindrada, os cortes nos vencimentos e nas reformas, na saúde
e na educação; nós pagamos as taxas... e 5 presidentes.
Começo a pensar que não
foi para isto que há mais de 100 anos a monarquia foi derrubada. A verdade é
que me sinto vilipendiado, não com a cortesia de condecorar o Presidente
Cavaco, mas com a atribuição do Grande Colar da Ordem da Liberdade.
8.3.16
« La guerre a enrichi les États-Unis. » in Le Monde
Contemporain, page 120, Bouillon, Sorlin, Rudel, Bordas
Esta é a frase que não me
sai da cabeça. A Grande Guerra (1914-1918) enriqueceu os Estados Unidos. A
Guerra da Síria está a enriquecer a Turquia e, absurdamente, a Grécia não está
a saber rendibilizar os milhares de refugiados que lhe entram portas dentro. A
afirmação pode parecer cruel, mas a desgraça alheia acaba por ser sempre
lucrativa para alguém.
Maria Luís, ex-ministra das
Finanças, sabe bem do que os credores são capazes, e como tal, a
necessitar de pagar a mansão hipotecada, não perde tempo a colocar-se ao
serviço de quem enriquece à nossa custa. Afinal, o Gaspar tinha seguido o mesmo
caminho, e o ruído foi menor...
Aníbal Cavaco Silva
deixa-nos amanhã, depois de condecorado pelos serviços prestados ao grande
capital, e parte muito mais rico do que chegou. Como? Não sabemos. Arauto da
austeridade, soube escolher o lado menos doloroso, ao contrário de muitos
portugueses a quem essa opção foi sonegada..
A experiência ensina que
a desgraça de muitos é a riqueza de poucos. Fundamental é não ter escrúpulos.
7.3.16
Todos temos opinião,
embora desconheçamos a história do conceito, embora ignoremos o nome daqueles
que lutaram até à morte pelo direito de deixar de ser escravo, de deixar de ser
vassalo... O tempo era outro, aquele em que a única voz que se fazia ouvir era
a do soberano, ou em nome do soberano...
Hoje, melhor seria
que a voz de cada um fosse a expressão de um ponto de vista
devidamente ancorado na realidade. Falta-nos a humildade de confessar a
nossa miopia, ainda que transitória.
Ao ´ponto de vista´
preferimos a 'opinião', que dizemos ser nossa, como se esta não fosse de um
grupo, de uma classe, de um rebanho. Preferimos escondermo-nos no
relativismo gratuito...
Infelizmente, as convicções são como as crenças, só com fé e muita liturgia é
que as toleramos.... E uma pitada de ironia.
6.3.16
Eu,
terrorista, confesso que nunca entrei na Laurentina...
Não tenho tempo para o
ler, mas hoje comprei o Diário de Noticias.
Por entre afazeres
vários, como classificar e corrigir testes e elaborar um novo teste para
os alunos absentistas - cada um com o seu motivo, em que nunca pesa o
'castigo' imposto ao professor, dou uma olhadela ao periódico.
Descubro que o DN oferece
toda a última página a um cronista chamado João Taborda Gama, embora desconfie
que a oferenda seja da Laurentina Restaurante, o Rei do Bacalhau...
Por associação com o teor
dos testes que vou saboreando, ainda cheguei a pensar que se
trataria de um velho descendente do Gama de 1498, mas logo relembrei outro
ascendente mais recente de águas profundas...
Este Gama, tal como os
Gamas retratados n'Os Lusíadas, embora vá escrevinhando, não revela
grande educação literária. Parece, no entanto, ter uma conceção muito
própria do poder local.
Ao lê-lo, percebi que eu
devo ser um daqueles "terroristas" que insiste que Portugal está
reduzido à pequenez anterior a 1415 - à exceção das paternas ilhas
atlânticas - que Portugal perdeu o Império e está a perder a língua...
Diz o Taborda da Gama:
«A existência de
prosperidade (...) só será possível com a criação de regiões
administrativas (...), sem o terrorismo do somos um país
demasiado pequeno para isso. (...) Mais autonomia significa,
por exemplo, cada município poder decidir se quer ou não ter IMT, e até se quer
ou não ter imposto que tribute as sucessões e as doações.» (sic)
Eu por mim contentava-me
com a eliminação do IMI! Será que o Bernardino Soares também acompanha o
Taborda da Gama?
5.3.16
«Inutilmente parecemos
grandes.» FP /Ricardo Reis
Ser grande é uma
aspiração humana. Ambição, de seu nome. A dado momento, nada parece tolher esse
impulso. Pulsão milenar, o ser humano não hesita em dar-lhe expressão, pouco
importando as vítimas que vão tombando a seus pés...O discurso contra os
excessos da ambição de ser grande já não faz qualquer sentido.
Motivo? Porque este tipo
de discurso é sempre contra a ambição do outro. De nós, nada acusa.
4.3.16
A
lição de Fernando Rosas 'O Estado Novo e os Fascismos'
Na Escola ( Liceu Camões)
que testemunhou a ascensão e a queda do fascismo, e que foi durante muito tempo
um dos pilares do Estado Novo, mesmo que no seu seio despontasse e crescesse a
oposição ao regime ou que das suas janelas Humberto Delgado tenha ousado
desafiar Oliveira Salazar, Fernando Rosas proferiu, esta manhã, uma lição
soberba, em termos de explicação dos fatores que, após a primeira Grande
Guerra, levaram ao poder, na periferia da Europa, sem esquecer a humilhada
Alemanha, o fascismo (e o nazismo) que, em nome da Nação, tudo fez para
destruir definitivamente os avanços civilizacionais resultantes da Revolução
Francesa...
Fernando Rosas mostrou
que o fascismo conseguiu atrair simultaneamente as elites conservadoras e
empresariais, e todos aqueles que se viram reduzidos a uma vida precária e sem
horizontes pela guerra, pela incompetência dos partidos de inspiração liberal e
pelo crash da Bolsa de Nova Iorque, em 24 de outubro de
1929.
A síntese que Fernando
Rosas fez em 90 minutos foi certamente estimulante para quem gosta de conhecer
o passado; no entanto, o mais importante da lição residiu no tom pedagógico com
que procurou que o auditório entendesse que hoje, na Europa, sobretudo nas suas
periferias, estamos a ressuscitar os fanatismos, os extremismos e as soluções
do passado...
Uma das razões que
justificam a reabilitação do Liceu Camões é precisamente porque, para o bem e
para o mal, ele é uma testemunha fundamental de mais de 100 anos, cujo memorial
não deverá esquecer os diversos contributos que Fernando Rosas lhe tem dado.
3.3.16
Como se não tivesse nada
para fazer, pus-me a contar os plátanos. Dez, em cada pátio. Dez troncos, eretos
sobre raízes invisíveis, alimentadas por arroios secretos. De cada tronco
jorram quatro bifurcações, sobre as quais jazem os ramos, por ora, nus de
folhas e de pássaros...
O arquiteto deve ter
amado o compasso e a simetria e talvez, um dia, tivesse lido 'Os Lusíadas'.
Para cada Canto, um plátano, e como o lugar era escolástico, em vez de um
pátio, imaginou dois, sem que saibamos qual deles é a réplica e qual o
original.
Por capricho do
legislador, o lugar passou a ser de Camões, em vez de ter sido apadrinhado por
Herculano, o romântico.
E, por uma vez, o
legislador acertou, já que Herculano preferia o azeite às alergias de cada
primavera...
Como se não tivesse nada
para fazer, pus-me a pensar na esterilidade da simetria, na clausura da
harmonia, na fatuidade das luzes... e fico-me por aqui, antes que algum
varandim venha abaixo... Entretanto, vou colocar o avental e convocar os
espíritos do lugar, na expectativa que saiam das Caves e, por um momento,
poisem nos ramos dos plátanos...
2.3.16
Talvez fechar os olhos
Talvez cerrar os ouvidos
Talvez ser cometa...
Esperar talvez
Olhar mais uma vez
Ser cúmplice
Ou ser cometa...
Não!
Tenho horror à podridão.
(No fundo da sala, os
pequenos e as pequenas abrilhantam o cavaco, estrelejam no reino da
vulgaridade. Ainda sobram, no entanto, uns tantos rostos ávidos de saber, e
avessos à batota...)
O
palácio de Antero de Quental
O palácio da Quinta do
Relógio, em Sintra, está à venda por 7, 5 milhões de euros! (notícia)
Sintra, palácio, quinta,
relógio - palavras distantes. Talvez voltar a vivê-las
se... Lembro-me, agora, que, à falta do vil metal, bem posso sonhar, ou, então,
visitar o Festival Periferias, organizado, por estes dias de março,
pelo João de Mello Alvim.
Sonho que sou um
cavaleiro andante,
Por desertos, por sóis,
por noite escura,
Paladino do amor, busco
anelante
O palácio encantado da
Ventura!
No entanto, o sonho
não é de alegria, quando as portas de ouro se abrem:
Mas dentro encontro só,
cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e
nada mais.
1.3.16
A
precisar de esclarecimento...
A dívida pública aumentou
3.344 milhões de euros em Janeiro face a Dezembro para 234,4 mil
milhões de euros, divulgou hoje o Banco de Portugal.
Estou a precisar de
esclarecimento. A dívida pública continua a agravar-se!
Espero que o atual
Governo já esteja em condições de dizer qual é o seu papel neste agravamento. E
de pouco me serve que queira imputar as culpas ao anterior Governo ou às forças
de esquerda que o suportam ou o armadilham a cada passo...
Em nome da verdade,
António Costa precisa urgentemente de prestar contas. E esclarecer se a
situação é reversível. E como! Se não sabe, o melhor é começar a arrumar as
botas.
Nesta matéria, de pouco
serve tapar o sol com uma ou várias peneiras...
Entretanto, o António Costa deve lembrar a João Soares que não precisamos de um
ministro da cultura trauliteiro.
29.2.16
«Porque todas as
recordações são a mesma recordação.» Álvaro de Campos, Acaso.
Uma avó quase cega que vê cada vez melhor. Um avó sorumbático que recorda os
guardas alinhados à espera de que o presidente do Conselho chegue ao destino. Um
pai que se imagina maquinista da automotora que devora a Linha do Norte. Uma
mãe que acredita que aquele filho a pode libertar da Cruz que carrega.
Detalhes! A recordação
atravessa-se em mim com ou sem comboio... Querer ser outro conforta! Tristes,
os que vivemos sem Norte...
28.2.16
Preocupa-me que haja cada
vez mais indivíduos em roda livre!
Aprendi com Freud e com
os Surrealistas que a eliminação da 'censura' era um movimento libertador,
capaz de combater o determinismo social e cultural, desmontar os recalcamentos
e, sobretudo, gerar novas formas de vida, de arte...
Só que a ausência de
'travões' está a tornar-se praga. Cada um diz, em qualquer circunstância, o que
lhe apetece, sem pesar a força ilocutória do que diz e apregoa, sem fundamentar
o gracejo ou a convicção.
Não sei se é a este
comportamento que outrora se chamava loucura, mas parece que anda tudo louco.
E aos loucos não se pode
responder! Só ouvir, respirar fundo e procurar compreender.
27.2.16
O governador do BP não se
demite "por um pequeno incidente"...
João Soares, ministro da
cultura, avisa que vai demitir o presidente do CCB na próxima 2ª feira...
O PCP vai aos ministérios
discutir o orçamento...
A CGTP já aprovou a
subida do ordenado mínimo para 600 € em 2017...
António Costa discute
Novo Banco com UGT...
A Maçonaria quer escolher
o secretário-geral do SIRP (Serviços de Informação da República Portuguesa) ...
O BE prefere Jesus a
Maomé...
Uma juíza trata a ré por
"querida"...
Um ex-procurador
despachou um inquérito-crime (2011) em quatro meses, deixando os restantes
visados em água de rosas. Leia-se arquivou a queixa contra o angolano Manuel
Vicente. Só, agora, Orlando Figueira foi detido!
A DGS garante que o
mosquito zika não quer nada connosco até ao fim do verão...
O Novo Banco foi
oferecido ao Santander e ao La Caixa...
(Isto ainda acaba mal!)
26.2.16
São
encantadores, quando nos desafiam!
De nós, pouco querem,
embora procurem afirmar-se como chefes de horda.
Há muito que o professor
perdeu o estatuto de mestre; mais não é do que o inimigo de ocasião que
lhes permite mostrarem-se superiores, pois pressentem que a abelha-mestra foi
expulsa da colmeia ou, então, vai definhando na sala de aula até que o
coração ou o cérebro estoirem de vez...
E o professor nem é o
verdadeiro inimigo, é apenas um ersatz da família em desagregação - aquela em
que o desafio seria natural e construtivo.
Destruído o porto de
abrigo, as palavras e os gestos tornam-se soezes, a simulação questão de honra,
até que, aos poucos, tudo degenera em violência verbal, depois gestual, e,
finalmente, física...
25.2.16
Já não sei se aprendemos,
se passamos o tempo a brincar, sem imaginação.
Se aprendêssemos, se
experimentássemos, não nos faltaria a memória essencial à imaginação.
A memória facultar-nos-ia
as imagens, as impressões dinâmicas, que poderíamos combinar até que fossemos
mais do que réplicas do Ser inicial...
Migalhas de conversas
transviadas mais não são do que verbetes de um estéril dicionário - nelas, mora
um código cuja chave alguém perdeu num dia aziago: o dia em que passámos a
brincar, sem imaginação.
24.2.16
Uma
narrativa estática ou será pantanosa?
Estou aqui às voltas com
um suposto conto, escrito por Fernando Pessoa, A Estrada do Esquecimento ou,
para alguns, A Estrada da Escuridão.
Tomando como válida a
hipótese de que no conto tem de ocorrer um acontecimento que transforme a ordem
em desordem para gerar uma nova ordem, parece pouco provável que, mergulhados
na escuridão ou afundados no esquecimento, possamos testemunhar individual ou
multiplamente qualquer ocorrência.
No primeiro caso,
desapossados da visão, no segundo desapossados da memória, deixamos de saber
como recuar ou avançar e, portanto, espectros, pairamos como os pingos da
chuva.
Estáticos, talvez, ainda
possamos percorrer os atalhos da audição ou do tato, mas por pouco tempo.
Recobrando, por instantes, a memória, vislumbro centenas de milhares de
soldados nas trincheiras da Flandres que esperam que a morte os liberte da
escuridão e do gás pimenta...
23.2.16
Como aquilo que eu vejo
não é o que tu vês, como é que eu te posso ensinar a ver?
Como aquilo que eu oiço não é o que tu ouves, como é que eu te posso ensinar a
ouvir?
Como o meu corpo não é o teu corpo, como é que eu te posso prender?
Por um instante, talvez possa ser o teu bordão no caminho que só tu podes
percorrer!
O teu poder não está ao alcance do meu ser!
22.2.16
«A noite estava
ilegível. (...) Só havia escuridão, sem forma, lugar ou fundo. (...) Apenas por
atalhos das sensações podíamos confiar na existência do céu, em cima, e
da terra, em baixo. (...) Como os meus olhos não podiam ver, eu via com os
ouvidos.» Fernando Pessoa, in A Estrada do Esquecimento.
Há muito que a noite
deixou de ser ilegível nas cidades.
Só nos campos desertos, a
escuridão insiste em persistir, a não ser que a lua se deixe esconder... Eu
ainda atravessei essa escuridão que ecoava sob os meus passos apressados e
desconcertados... passos que calcavam a terra num desafio ao medo que medrava
sob os uivos da canzoada.
A escuridão que me
envolvia tinha um chão, tinha um teto, e eu só ansiava que do fundo eclodisse a
luz.
Nunca fui tão longe na
noite, porque ainda assim raiava o dia, mas, hoje, a escuridão começa a
adensar-se nos sons noturnos, e o dia está a ficar ilegível.
21.2.16
«Na origem deste
último erro detetado pelo Ministério das Finanças esteve o cálculo das
contribuições imputadas à Caixa Geral de Aposentações (CGA), sabe o
Económico. Os serviços públicos não pagam efetivamente uma contribuição
pelos seus trabalhadores à CGA (apenas os funcionários fazem uma
contribuição efectiva), mas em contabilidade nacional é-lhes imputado um valor.»
Pois é, o Estado não
paga, no devido tempo, a contribuição devida à CGA. E depois, mais tarde,
queixa-se do peso excessivo do valor das aposentações. Ao contrário do
patronato, o estado adia a despesa, impedindo que a CGA possa gerir
autonomamente as contribuições dos funcionários públicos e do estado.
O que depois se torna
ainda mais penoso é perceber que as equipas que preparam o esboço de OGE
parecem desconhecer o modo como o estado foge às suas responsabilidades sob o
manto da "contabilidade nacional", conceito que, se não está, deveria
estar consignado na "arte de furtar"...
20.2.16
De
Umberto Eco recordo sempre...
De Umberto Eco recordo
sempre a fábula do riso que ia envenenando os austeros conservadores da
"arte poética" que, na verdade, não tinham qualquer motivo para zelar
por uma morte inevitável, sem retorno nem passagem...e também recordo o grande
e os pequenos inquisidores que preferiam o dogma à dúvida, atirando à fogueira
todos aqueles que não eram suficientemente manhosos para se colocarem sob a
proteção do magnífico Tribunal... o que me traz de volta, não os fazedores de
teses e nem os devotos da obra aberta, mas, sim, o António José da Silva, o
Bernardo Santareno e o José Saramago...
19.2.16
Só
os abutres vivem da morte do outro
«- Impossível. Você
sabe, tanto quanto eu sei, que a morte é sempre nova e sempre pessoal. Se assim
não fosse, já a tínhamos tornado científica.
- Aí
está, señor. Sempre nova e sempre pessoal, diz bem. Afinal, foi só a
mim que eles condenaram a morrer por fuzilamento.
- Por isso mesmo é um ato
novo e pessoal. Você vai ter de começar tudo pelo princípio. E, se mais alguém
morrer, não terá aprendido nada com o seu exemplo. Eu próprio, como nunca
morri, não posso nem sei dizer mais nada.» Excerto
de um diálogo entre o filósofo e o condenado, in Sombra de Touro Azul,
de João de Melo.
Não aprendemos nada com a
morte do outro.
Não aprendemos nada com a
notícia da morte do outro.
Não aprendemos nada com a
repetição da notícia da morte dos outro.
Não aprendemos nada com o
comentário obsceno da morte do outro.
Só os abutres vivem da
morte do outro. E não se pode dizer deles que sejam hipócritas, pois a morte do
outro é o seu próprio sustento.
18.2.16
Juíza de Carrilho e
Bárbara é fascinada pelo nazismo - fonte: CMTV
Ingenuamente, pensava que
o juiz deveria ser o fiel da balança.
Parece que não! Esta
juíza, de acordo com o CMTV, inclina-se para o lado do carrasco.
A situação noticiada é
muito grave: ou o CMTV manipula deliberadamente a informação e deve ser
sancionado ou, então, a juíza não deve julgar este ou qualquer outro caso de
justiça.
Embora não tenha a
certeza, desconfio que o Centro de Estudos Judiciários tem vindo a prestar um
mau serviço à causa da justiça. Não basta conhecer a lei, é necessário que o
juiz quando a aplica o faça, regido por valores bem definidos, como, por
exemplo, o da isenção.
Espero não estar a
incorrer em qualquer juízo de apreciação. Creio, no entanto, que a crise de
valores se manifesta cada vez mais na educação e na formação... dos políticos,
das polícias, dos magistrados, dos médicos, dos professores, dos
bombeiros... E quando tal não acontece não há estado de direito que
resista.
17.2.16
Ao
contrário das obras de Santa Engrácia
O Liceu Camões vive uma
situação sui generis: As obras nunca mais começam! Entretanto, o ME
prometeu à comunicação social que os estudos e o projeto vão avançar em 2016,
tendo feito saber que o financiamento está assegurado. Gostava de saber
quem financia e qual é a verba disponibilizada.
Nos anos anteriores à
chegada da TROIKA, já tinham sido gastos dois milhões de euros no
projeto da obra que nunca chegou a arrancar.
Finalmente, custa a
acreditar que a informação tenha chegado à comunicação social sem que o Diretor
da Escola tenha sido previamente informado.
16.2.16
Liceu
Camões: Novos estudos? Novo projeto?
«Segundo o ME, a
reabilitação da Escola Secundária Camões “foi já identificada como prioritária”
pela actual tutela, estando previsto que ainda em 2016 se proceda “à fase de
estudos e projectos de arquitetura”. O ministério refere ainda que existe
“fonte de financiamento assegurada” para esta fase. Quanto ao início das obras
propriamente ditas o ME informa que estará dependente da "tramitação"
deste processo e da adjudicação posterior da empreitada.» (sic)
O quê? Mais estudos? Novo
projeto? Novo arquiteto? Mais despesa? Quem é que paga todos os «avanços e
recuos»? Pensava que o projeto já apresentado publicamente tinha sido suspenso,
mas, afinal, parece que no ME reina a ignorância...
Infelizmente, em matéria de educação, passamos os dias a fazer de conta... E o
contribuinte sempre a pagar!
15.2.16
O Centro Escolar de
Lordelo I, no concelho de Paredes, já funciona desde o ano letivo 2013/2014,
mas é inaugurada esta segunda-feira, às 18h00. Quem a inaugura? O
ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. (sic)
Não tenho nenhum
dicionário à mão, mas, ao ler a notícia, fiquei confuso, perplexo, toldado. Bem
sei que o melhor é deixar de ler, ignorar as estações do ano... deixar que
a imaginação me transporte para outro clima, mesmo assim estou convencido que
as sinapses dos meus neurónios foram desligadas por falta de irrigação
sanguínea.
E a responsabilidade é
minha, pois procuro dormir sempre para o mesmo lado para evitar transformar-me
no roncador de Vieira.
Não fosse uma jovem aluna
ter-me confessado que apreciara «o fio lógico» de uma lição sobre o
pessoano Ricardo Reis, eu próprio solicitaria que me internassem na
Casa de Saúde Mental da Avenida do Brasil...
Haja decoro!
14.2.16
O meu Anjo não prevê
qualquer alinhamento favorável dos astros.
Como tal, não necessitam de me consultar nem de fazer qualquer donativo para as
obras piedosas das irmãzinhas do caruncho. (...)Eu já me tinha esquecido que o
Céu me atribuíra um Custódio. Por maior respeito que o Céu me inspire, cedo
descobri que a minha importância era tão insignificante que o divino Céu nem
sequer se lembraria da minha existência...
Por mais tola que esta
ideia possa parecer, a minha situação não é muito diferente da de Portugal. Ao
ler Le Monde Contemporain, de J. Bouillon, P. Sorlin e J. Rudel,
acabo de verificar que, apesar da participação trágica na Primeira Guerra
Mundial, só, na página 82, surge a primeira referência a Portugal:
« Au sortir de la guerre, qui ne lui avait valu que de minces avantages
coloniaux, le Portugal traversa une crise agricole et monétaire qui ne
purent résoudre les libéraux... », isto no sub capítulo : Les
autres régimes autoritaires d'après-guerre,
13.2.16
Falta-nos
um ministério da Chuva!
Quando a chuva se
prolonga, as notícias de inundações têm, pelo menos, um ponto em comum: a
geografia.
Há anos que por esta
época ouvimos as mesmas reclamações das populações e das autoridades locais. Há
anos que as autoridades nacionais prometem resolver os problemas decorrentes da
acumulação das águas...
Há anos que ouvimos falar
de programas de intervenção que ponham termo a esta fatalidade.
No entanto, abre-se o Céu
e, afinal, tudo continua na mesma, à exceção do país que fica cada vez mais
pobre...
Falta-nos um ministério
da Chuva!
12.2.16
Eu estou triste.
Nós estamos tristes.
Não sei se estais
tristes...
Os mandarins estão
tristes.
O dia esteve triste.
A noite acabará por ser
triste - ganhe o Benfica; ganhe o Porto; se o jogo acabar empatado, o Sporting
ficará triste... O Sporting também ficará triste se o Benfica ganhar. Quanto ao
jogo em si, pouco importa...
Até o alemão Wolfgang
Schäuble confessou que está triste com o destino dos portugueses - os
juros da dívida portuguesa estão a aumentar e a responsabilidade é da
nova esquerda que ousa questionar a vassalagem a que estaríamos obrigados...
E o mais extraordinário é
que o colapso escondido dos bancos alemães é, afinal, culpa dos países
periféricos que insistem em defender os direitos mais elementares dos seus
cidadãos.
O alemão Wolfgang
Schäuble nunca soube o significado da termo 'cidadão'. Para o Senhor
Wolfgang Schäuble, os povos periféricos não podem a aspirar a ser mais do
que vassalos...
A ideia é antiga. Já tem
bem mais de 100 anos, e, de tempos a tempos, agudiza-se...
11.2.16
O
novo real - subjetivo e cruel
Aprender a ver o que nos
cerca podia ser um projeto de vida. Podia ser o princípio da revolta e da
denúncia. E em tempos assim foi.
Para que a objetividade
não nos escape, descrevemos minuciosamente a paisagem, o corpo, o objeto.
Insatisfeitos, fotografamos; filmamos não, apenas, o objeto ou o corpo, mas a
situação, o curso do acontecimento...
E depois, quando
pensávamos na plenitude, na captura da flagrância, retomamos a imagem, a cena,
e começamos a montagem, e tudo o que lá estava inicialmente mais não é do que
pretexto para a expressão de um novo real - subjetivo e cruel...
Cruel, porque a realidade
de pouco serve, pois o nosso anseio está agora nas mãos do programa que tudo
permite manipular...
E nós gostamos!
Regressado à plenitude da
sala de aula, fiquei neste triste estado - marioneta de um filme por estrear.
10.2.16
Não nos é permitido
aumentar a despesa pública. Porém, para fomentar a
economia, a aposta principal centra-se no aumento do consumo, sem agravar a
dívida...
Para atingir o objetivo,
o Governo propõe-se reduzir o número de horas de trabalho, sem prejudicar o
serviço prestado - em regra, mau. Propõe-se, também, só contratar um
funcionário por cada dois que deixem a função pública e, sobretudo, defende que
as escolas devem acolher as crianças e os jovens, de manhã e de tarde. E porque
não à noite?
Eu, por exemplo, vivi em
regime de internato durante cinco anos e meio e quero crer que lá em casa
ninguém deu pela minha ausência. Não sei se o Governo da época também apostava
na diminuição de funcionários para reduzir a despesa, mas ainda me lembro
que havia um número razoável de prefeitos (ou similares) que zelavam pela
disciplina. Sim, porque o importante era a disciplina!
Por aquilo que vou
ouvindo, a disciplina hoje já não será um problema, desde que a criança e
o jovem estejam ocupados a fazer aquilo para que têm natural inclinação que,
como se sabe, anda longe da aprendizagem do português, da matemática, das línguas
estrangeiras, da filosofia, da programação, da física, da biologia...
Estou, no
entanto, sem saber se o Governo pensa reciclar os professores,
transformando-os em animadores infantis, culturais, políticos, religiosos... ou
se pensa contratar quem se ocupe de vigiar os interiores e as imediações das
escolas...
Para contratar sem
aumentar a despesa, o melhor é despedir os professores ou aposentá-los com
vinte ou 30% do vencimento...
9.2.16
Não
digo que o Céu esteja zangado
Não digo que o Céu esteja
zangado, mas parece. A Igreja Católica inventou o Carnaval de três dias,
seguido da Quaresma, para dar cabo das Maias demasiado primaveris e
libertinas..., embora atualmente esta não se pronuncie quando os corsos são
deslocados para o primeiro domingo da Quaresma.
O Céu nunca gostou que
lhe alterassem o projeto genesíaco, mesmo que o tenham feito em seu nome... Já
a ideia da existência de quatro estações lhe desagradava - a flores florescem
durante todo o ano, cada uma a seu tempo... E nós próprios nascemos e morremos
para além das estações.
O Céu apenas reconhece,
como princípio estruturante, a semana de trabalho, com direito a um dia de
descanso. O mês e o ano são invenções de papas e de imperadores, preocupados
com o registo da sua efemeridade que confundiam com a “imortalidade"...
No que me diz respeito,
já deixei de andar pelas estações e aborrece-me falar delas, porque há tantos
lugares onde o Sol deixou de brilhar e a Chuva de cair ou, então, quando a
enxurrada chega, fingimos que a culpa é do Céu.
8.2.16
Alimentar um blogue não é
fácil! A maioria das postagens não consegue despertar o interesse do leitor de
ocasião, sobretudo quando o escrevente não se limita a um tema e insiste em dar
opinião sobre tudo o que mexe...
E o que mexe, sem ser a
bola, é a política que finge servir, mas que, afinal, se serve de nós. Os
políticos parecem ser (são) perversos por nascimento e têm sempre à
mão o argumento de que nós é que somos os responsáveis pela nossa triste
situação: somos nós que fumamos; somos nós que consumimos a
crédito; somos nós que preferimos o automóvel ao transporte público...
No meu caso, o argumento
não me convence: utilizo o automóvel, porque a Carris encurtou a carreira 22 -
se ela, pelo menos, chegasse à Praça José Fontana!; não fumo há mais de 30
anos; e bem gostaria de não utilizar o único cartão de crédito que possuo -
bastava que não fosse obrigado a suportar as consequências da austeridade, em
matéria de desemprego e de remunerações amputadas..
O único vício que me
resta é este de preencher um espaço em branco, até que um cometa me liberte...
7.2.16
A furgoneta estaciona em
segunda fila, encobrindo o automóvel cuja porta à força de ranger me convenceu
a oleá-la, socorrendo-me de um lubrificante multiusos, no qual deposito mais fé
do que na classe política... Diz a embalagem que «lubrifica e penetra, remove
ferrugem e limpa metais, repele humidade do sistema elétrico». Por um momento,
chego a pensar que talvez pudesse aplicar este produto a mim próprio...
Enquanto cumpro a tarefa,
procuro o dono da furgoneta e vejo-o do outro lado do muro a abrir e a fechar
contentores de lixo, sem que nada retire do interior - ato mecânico e
aparentemente inútil. Entretanto, decido descer a rua, aproveitando para
caminhar um pouco mais, apesar do cansaço das pernas e da leveza
estomacal...
A rua e as seguintes,
quase vazias, deixam o vento à solta, afastando os mascarados da quadra, sem
impedir que a natureza troque as voltas às estações: as aráceas (os jarros)
florescem verticais, à sombra das sebes que cercam os prédios de doze andares que
predominam na localidade, sem esquecer os cogumelos que se escondem nos troncos
e nas redondezas das árvores.
Avanço no labirinto e
verifico que, na quinta do Seminário, os trabalhadores «guardam o dia do
Senhor», obrigando o bispo a pernoitar noutros aposentos - confesso que nunca
por aqui vi o bispo do Senhor; ele é ainda mais raro do que os agentes de
autoridade... Descubro, todavia, a furgoneta, desta vez bem estacionada, e no
seu interior não um, mas dois respigadores de papel - o que é curioso é que
hoje não é dia de recolha de papel... Mas eles sabem-no certamente!
E para terminar, que não
a caminhada, vislumbro um placard NÃO DEIXE QUE O SEU CÃO SUJE OS NOSSOS
JARDINS! Acabara de ver um a sujar a calçada... Contudo, o que me veio à cabeça
foi NÃO DEIXE QUE OS POLÍTICOS SUJEM A SUA CONSCIÊNCIA!
Por exemplo, não deixe
que, num tempo de decisões políticas precárias, o convençam a consumir mais,
sobretudo, produtos importados, e com recurso ao crédito...
6.2.16
O
dinheiro quanto mais circula
«O dinheiro, quanto
mais circula, mais quem não o tem vive de esperanças.» Italo
Calvino, Marcovaldo (no Supermercado) ...
Marcovaldo foi
publicado, primeiro em 1958 e depois em 1963. É um romance realista fantástico,
cujo autor deve ter inspirado muito escritor que anda por aí como inventor do
realismo fantástico, mágico, animista...
Muitas das histórias que
integram esta obra bem podiam integrar o «corpus» de leituras das nossas
escolas, pois ajudariam a educar a sensibilidade.
Em 2016, quem não tem
dinheiro não é ninguém. Talvez seja por isso que a maioria dos crimes tem como
causa primeira o dinheiro. Os próprios governos, para se legitimarem, passaram
a gerir as expectativas da população, prometendo-lhe, a qualquer custo, o vil
metal... E aqueles, que deixaram de confiar na governação, recorrem a todos os
expedientes para se apropriarem do eldorado, mesmo que por uns
tempos possam ser alvo da atenção da justiça e dos cobiçosos.
5.2.16
'Os
animais docentes' e o escritor emplumado
No Saldanha Residence, em
Lisboa, há uma livraria que coloca à venda livros a preço reduzido. Quase todos
os dias por lá passo e observo a oferta, variada e, por vezes, de qualidade...
Embora isto da qualidade seja subjetivo, como o prova o José Rodrigues dos
Santos que se considera o melhor escritor português da atualidade...
Hoje, decidi comprar
por três euros, o livro Entre Pássaro e Anjo, de João
de Melo. Trata-se de uma coletânea de 10 contos, de que destaco, desde já
"Os animais docentes"...
Num ápice, li o conto,
não só pelo registo autobiográfico, mas porque ele espelha fielmente o universo
dos docentes e dos discentes da província portuguesa nos anos 70 e 80 - um
mundo fechado, hierarquizado, preconceituoso e distante dos ventos que sopravam
da Europa... De certo modo, este conto fez-me lembrar as viagens de camioneta
para Mafra, por entre vendedores e aves de capoeira, sem esquecer a guerrilha
local entre o PSD e o PCP, isto nos anos 70... Sintra chegou depois, mas já se
sentiam os ares da capital, apesar das desconfianças e das suspeições.
Seja como for, não
consigo compreender que ninguém diga, de viva-voz, ao JRS que ele não é o Eça,
nem o António Lobo Antunes, nem o Mário Cláudio, nem o Mário de Carvalho, nem o
João de Melo, nem a Lídia Jorge, nem o João Tordo e outros tão vivos como ele,
mas que não colocam a RTP ao seu serviço...
Um destes dias, o próprio
candidata-se ao prémio Nobel da Literatura!
4.2.16
Às 14 horas, abro a porta
da sala 19, e espero....
Vinte minutos mais
tarde, chegam as 'assistentes' que depositam sobre as mesas a parafernália de
filmagem.
A formadora chega às
15h30 e, de imediato, manifesta a sua estranheza face às ausências... Ainda
pergunta se alguém tem o número de telefone de K, X ou Y...
Os aprendizes (ou será
aprendentes?) entram um a um, e só por volta das 15 horas é que se pode
considerar que metade do grupo está presente, faltando precisamente os que têm
o trabalho mais atrasado.
Entretanto, surge uma
candidata que quer fazer parte da oficina, mas que acaba por confessar que às
15h15 tem aula... A formadora dissuade-a, apelando ao sentimento de frustração
- afinal, a candidata, apenas estaria presente num período morto... Um pouco a
despropósito chegou uma outra jovem que vinha pedir autorização para divulgar a
existência desta oficina de cinema, com base na experiência adquirida, durante
três anos, na Escola Marquesa de Alorna...
Finalmente, às 15h
30, os presentes saíram para fazer "planos" do Sol em torno da Escamões.
Mal aqueles saíram, chegaram mais dois jovens que disseram desejar
integrar o 'grupo'... e lá foram a correr atrás dos primeiros...
A falta de pontualidade e
de explicação para a ausência têm sido uma constante. De qualquer modo,
hoje, quero crer que a publicação no JL da reportagem Aprender
(com o) cinema, da autoria de Catarina Letria, terá tido
influência nestas vontades serôdias de integrar a Oficina de Cinema...
(Enquanto eles se
debatem com a luz, eu vou me debatendo com o relato da ocorrência que, noutras
circunstâncias, designaria de 'incidente crítico'. Às 15h55, continuo à espera,
embora, de momento, tudo pareça correr normalmente. Resta acrescentar que K, X
e Y ainda não deram sinal de vida.)
3.2.16
Embora de forma forçada,
podemos 'apagar o quadro' e 'apagar a luz', mas não podemos apagar as contas
por pagar. Em princípio, porque há quem esqueça completamente os calotes e nos
faça pagar por conta...
Por outro lado, há '
artigos´ publicados e outros por publicar, mas, convém saber que artigos
queremos comprar, quando entramos na loja, na mercearia ou no supermercado,
caso contrário saímos de lá depenados. A novidade dos últimos anos é que,
quando consultamos a Gramática, os ‘artigos' foram secundarizados pelos
determinantes...
Também há várias maneiras
de fazer caldo verde, mas o que conta é o paladar do freguês...
De momento, nada mais
tenho a acrescentar a não ser que nas farmácias há quem goste de inquirir o
cliente sobre o destino do medicamento e os modos de o tomar, e quem se limite
a vender o artigo, não se sentindo minimamente responsável se o doente acabar
por se apagar...
Finalmente, sinto-me
frustrado porque ainda não sei se o esboço de orçamento já agrada à comissão
europeia e aos partidos da coligação, embora creia que já não somos mais do que
um esboço de país, pronto a apagar-se ou a ser apagado...
E eu estou em consonância
(ou como diria um sabido, em ´conivência') com o estado da nação...
2.2.16
Ainda não acordara, e já,
de forma repetida, tinha a sensação de que o carro fora roubado da garagem.
Interdito, nem punha a hipótese de que não o parqueara na garagem. Apenas uma
sensação de estranheza: Quem é que se ia dar ao trabalho de arrombar dois portões?
A obsessão onírica só
cessou quando a antena dois irrompeu no quarto com uma daquelas melodias que
costumam deliciar quem se arrasta no tempo...
Não se sabe se Freud
teria alguma coisa a dizer sobre o sentido do roubo e do derrube dos portões.
Provavelmente, falaria de uma pulsão sexual recalcada, ou, então, de um aviso:
- se te roubarem o carro, não te queixes, pois preferes deixá-lo estacionado na
rua a guardá-lo na garagem...
As meias de vidro
enrolaram-se de tal modo nos suportes do estendal da roupa que ele viu-se
obrigado a subir ao parapeito da janela para as salvar. A acção foi demorada e
não sem riscos: a janela de vidros duplos não abria completamente, o banco de
plástico deu de si, desequilibrando o serviçal, a vassoura perdera a magia dos
contos de antanho..
Pelo meio, uma
atrapalhada e tímida aluna, proveniente do Brasil, que colocava a hipótese de
trocar a Literatura Portuguesa pela Filosofia, na esperança de que esta última
fosse mais acessível. Talvez, tenha confundido a parte com o todo, isto é, que
a Literatura Portuguesa continue a ser escrita no português medievo, anterior a
Pedro Álvares Cabral...
Finalmente, os
meteorologistas do ar condicionado insistem em anunciar a chegada da Primavera,
porque não necessitaram de salvar umas meias de vidro enfunadas pela nortada
que ensandece os estendais...
1.2.16
Houve
tempo em que comprava livros...
Houve tempo em que
comprava livros, jornais e revistas. Fui deixando de os comprar à medida que
tive de começar a contar os tostões para pagar as dívidas alheias, sem
esquecer a luz, o aquecimento e as comunicações... O que me não me impede de
entrar em livrarias e percorrer-lhe os escaparates e as
prateleiras, minuciosamente.
Ainda agora venho da
Almedina (Atrium, Saldanha), impressionado com a profusão e o volume dos
livros, mas revoltado porque não consegui vislumbrar a obra do amigo Silva
Carvalho, autor.
Sim, do autor! Porque,
para mim, um autor é quem é capaz de compor, de criar de dentro das palavras, e
não, apenas, quem reproduz a realidade por demais sabida ou desinteressante...
Nas nossas livrarias,
só é exposto quem está na ribalta, quem é flácido ou defunto recente.
E a propósito de autor,
ando um pouco abalado com os cogumelos urbanos do Italo Calvino. Parece que, em
Itália, os cogumelos germinam na Primavera... Aqui, em Lisboa e arredores, é
fácil encontrá-los no Inverno, e não consta que deem origem a qualquer intoxicação
alimentar, com direito a lavagem ao estômago... Sempre que os revejo,
acastanhados ou esbranquiçados, estão destroçados…
31.1.16
António
Lobo Antunes, sempre...
I - «Nunca esquecerei
o início da minha carreira literária. Foi súbito, instantâneo, fulminante.
Vinha eu de elétrico para Benfica, depois de mais uma educativa tarde
no Liceu Camões, espécie de campo de concentração aterrorizador e inútil,
quando por alturas do Calhariz, uma evidência surpreendente me cegou: vou ser
escritor. Eu tinha doze anos...» António Lobo Antunes, Retrato
do artista quando jovem - II, in Segundo Livro de Crónicas, pág. 137,
Dom Quixote.
...Estávamos, assim, em
1954, sendo reitor do Liceu, Joaquim Sérvulo Correia (1950-1974) ...
II - «Sempre que alguém afirma ter lido um livro meu fico dececionado com o
erro. É que os meus livros não são para ser lidos no sentido em que usualmente
se chama ler: a única forma parece-me de abordar os romances que escrevo é
apanhá-los do mesmo modo que se apanha uma doença.» António Lobo
Antunes, Receita para me lerem, in Segundo Livro de Crónicas, pág.
109, Dom Quixote.
... Será por isso que,
para mim, a leitura de António Lobo Antunes é aberta; pelo
contrário, a leitura da obra de Saramago é fechada, o que
perspetiva ao primeiro uma eternidade mais radiosa do que ao segundo.
III - «A minha estrada
de Damasco ocorreu há cerca de dez anos, diante de um aparelho de televisão
onde um ornitólogo inglês explicava o canto dos pássaros. Tornava-o não sei
quantas vezes mais lento, decompunha-o e provava, comparando com obras de
Haendel e Mozart, a sua estrutura sinfónica. No fim do programa eu tinha
compreendido o que devia fazer: utilizar as personagens como os
diversos instrumentos de uma orquestra e transformar o romance numa partitura.»
António Lobo Antunes, De Deus como apreciador de Jazz, in Segundo
Livro de Crónicas, pág. 131, Dom Quixote.
Ultimamente, leio os livros sem os anotar e sublinhar, o que, terminada a
leitura, se revela uma grande chatice. Se quero fazer um apontamento, vejo-me
obrigado a folhear o livro; no entanto, a vista raramente acerta, o que
significa reler, tomar nota e voltar ao princípio. Para quem está de fora, isto
só pode significar que me falta o método. Mas não, o que me acontece é o mesmo
que ao hipocondríaco que foge a sete pés da saúde. Estar de saúde é estar
morto!
30.1.16
«A ironia é o humor
dos depressivos. “José Gameiro
Pouco tenho a dizer, a
não ser que, enquanto leio António Lobo Antunes, vou escutando a emissão do
programa Terra a Terra, dedicado a Vergílio Ferreira (TSF).
Pressinto que as minhas
palavras não passam de picuinhices, mas gostaria de recusar a ideia de que
Vergílio Ferreira tivesse sido «um mestre sem discípulos».
Num tempo de ortodoxias,
Vergílio Ferreira era um professor heterodoxo que respeitava a pessoa do aluno,
que o sabia ouvir, mas que recusava ser cúmplice de qualquer tipo de propaganda
e detestava a mediocridade.
De qualquer modo, talvez
não seja picuinhice ouvir quem o lê e quem o conheceu...
29.1.16
´Apoquentar´ é uma
daquelas palavras a que me habituei na infância. A minha mãe explicava o
comportamento do meu pai, dizendo que ele andava apoquentado com a vida... Eu
entendia que o céu não lhe sorria e por isso não me surpreendi quando um dia o
vi partir para França, depois do granizo lhe ter destruído as vinhas.
O salto para França não
lhe alterou o feitio, embora eu deixasse de ouvir falar da sua apoquentação.
Por essa altura, quem andava apoquentado era eu, pois não compreendia o sentido
da minha vida, apesar de me garantirem que o sentido da vida era servir...
Durante anos, só
esporadicamente ouvi conjugar o verbo 'apoquentar', e sempre na boca dos que
serviam, sem receberem a devida compensação...
Dir-se-ia que o termo
'apoquentar' só existia na boca da gente vulgar. Os poderosos desconheciam-no
por inteiro, porque eles não se deixavam incomodar por miudezas...
De súbito, oiço o
primeiro-ministro dizer que não está 'apoquentado' com as exigências da União
Europeia - as divergências mais não são que miudezas!
Eu entendo o poderoso
primeiro-ministro a quem o céu não tem faltado. Só que não consigo deixar de
estar apoquentado... E parece-me que neste país há mais gente que vive
apoquentada.
28.1.16
A
solidão de Vergílio Ferreira
"A unidade do
homem, centrada na consciência, desfaz-se à reflexão de que essa
consciência é apenas «uma rede de comunicação entre os homens» e assim
um homem solitário pode dispensá-la.! Vergílio Ferreira, Espaço
Invisível 2, pág. 124, Bertrand editora, 1991
O homem solitário deste
tempo deixou de ver reconhecida a consciência que lhe dava unidade, porque o
conceito mudou de substância. Vergílio Ferreira, cada vez menos lido, não pode
influenciar nem o estar nem o pensar, porque, afinal, o homem abdicou da consciência
individual...
O homem já só existe se
alinhado, isto é., se estiver presente nas redes sociais -
redes de comunicação - cuja eficácia assenta na imagem fácil e na ideia
medíocre.
Deste modo, ao ser
molécula da consciência coletiva, o homem desfaz-se da sua possível unidade,
deixando de ter valor como pessoa... passa a moeda de mão em mão...
Hoje, o homem que optar
pela solidão, morre... Vergílio Ferreira nasceu há 100 anos, escreveu uma obra
que quis devolver ao homem a sua unidade (a sua consciência), mas este não a
quer mais.
27.1.16
Le
Havre e o mundo à nossa volta
No âmbito do projeto
"Moving Cinema", fui hoje à Cinemateca com três "alunos
emprestados" ver o filme "Le Havre", do finlandês Aki
Kausrimaki.
Até ao momento da partida
para a Barata Salgueiro, pensava que os dez alunos que integram a Oficina de
Cinema da Escola Secundária de Camões, fossem cinéfilos... só que para meu
espanto a maioria não deu notícia. Lá saberão porquê!
A proximidade das
instituições permitiu que a deslocação se fizesse a pé e de forma célere.
Todavia, na Conde Redondo ocorreu um pequeno incidente: um aluno deu uma
cabeçada num semáforo, porque eu, atento ao que se passava no outro passeio,
chamei a atenção para uma situação caricata. Um jovem, que descia a rua, chocou
com uma corda de prumos sinalizadores de obra, deitando-os abaixo, sem revelar
qualquer preocupação em os recolocar na posição correta. Entretanto, o mestre
de obras, que saía do prédio em renovação, ficou estupefacto ao aperceber-se do
que acabara de acontecer, sem, no entanto, perceber quem fora o responsável...
Desenlace: "o aluno
emprestado" chocou com o semáforo sem lhe fazer qualquer mossa, facto que
causou o gáudio de uns tantos africanos estacionados numa esquina.
A sala Félix Ribeiro
estava cheia de petizes de origens diversas, mas alguns pareciam ter alguma
dificuldade em compreender que o silêncio é condição necessária ao bom
visionamento de um filme. Por outro lado, outros jovens, predominantemente de
origem africana, revelavam uma apreensão muito interessante das
situações, sem esquecer aqueles que conseguiam recordar o filme do ano
anterior.
Estas últimas reticências
são a expressão de um intervalo gasto para entrega de uma caixa de música ao
pai de uma criança de quatro anos que gosta de música, mas ainda não ouviu
falar do topónimo Havre.
Ora os "alunos
emprestados" também não sabiam que "Le Havre" é um porto francês
- a pergunta surgiu a meio da Conde Redondo, ainda antes do semáforo... o que
me fez lembrar o tempo em que nas aulas de Francês ensinava a geografia,
a economia, a cultura de França, sem descurar a História, por exemplo, da
ocupação alemã e da resistência...
Talvez por essa razão, o filme "Le Havre" recrie a situação dos
emigrantes clandestinos e dos refugiados neste início do século XXI, mas com
ecos comportamentais e icónicos do tempo da proliferação dos "campos de
concentração" e do modo como as populações davam, ou não, proteção a quem
era perseguido ou se via obrigado a fugir...
... Só que o desconhecimento dos lugares e dos tempos acaba por limitar a
compreensão de obras cinematográficas, como a de Kaurismaki. Preferimos
acreditar que as nossas "leituras" são capazes de dar conta do que,
entretanto, vai acontecendo na "Jungle" europeia...
26.1.16
Os
calotes da campanha eleitoral
Em matéria de despesas da
campanha eleitoral, sete candidatos não têm direito a qualquer subvenção
estatal.
O Vitorino revelou-se
senhor de muito tino, pois não terá gasto um cêntimo. O Edgar, apesar de não
ser "engraçadinho", o Partido paga-lhe as despesas. O Morais, senhor
de enorme moralidade, decidiu recorrer ao amigos do "face" para que
estes lhe paguem a extravagância. O Neto já não tem idade para se queixar. Do
Ferreira, não sei o que diga, mas terá património suficiente... O Jorge pouco
mais terá gasto que uma ou duas avenças. E quanto à Maria Roseira, são rosas
meu senhor... os seiscentos mil euros que terá gasto... Nem nunca D. Dinis
chegou a saber! Porém, desterrou a rainha Isabel para Alenquer. Neste caso,
desconfio que a quinta de Sintra acabará por mudar de mãos...
Quanto aos restantes,
ratos de cidade, calaram-se bem calados, não vá o trovador tratá-los como,
outrora, João Garcia de Guilhade fez a Dom Foam:
Dom Foam disse que partir queria
quanto lhi derom e o que havia.
E dixi-lh'eu, que o bem conhocia:
"Castanhas eixidas, e velhas per souto".
E disso-m'el, quando falava migo:
- Ajudar quero senhor e amigo.
E dixi-lh'eu: - Ess'é o verv'antigo:
"Castanhas saídas, e velhas per souto".
E disso-m'el: - Estender quer'eu mão
e quer'andar já custos'e loução.
E dixi-lh'eu: - Esso, ai Dom Foão:
"Castanhas saídas, e velhas per souto".
25.1.16
Tudo começa a acelerar, o
frio alterna com o calor, o suor invisível entranha-se na pele depois de um
longo banho catártico.
Os santos de ontem caem
em desgraça, e a salvação passa a estar do outro lado do telefone - qualquer
resposta, que diga sim à imediatez, serve...
Ao entardecer, os
argumentos perderam qualquer força. Só o silêncio e a obediência...
E quando os dias são de
chuva, mesmo que a temperatura suba, tudo acelera ainda mais... e depois há o
vento, quente ou frio, um demónio à solta...
Espero que ninguém pense
que estou a referir-me ao "entardecer" de Cesário Verde. Há, de
qualquer modo, a soturnidade da vida eivada de loucura, por vezes, pouco
benigna.
24.1.16
Temos
um novo Presidente da República
Temos um novo Presidente
da República - Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, nascido a 12 de Dezembro de
1948...
Esperemos que Marcelo
Rebelo de Sousa saiba ser presidente de todos os portugueses, fazendo esquecer
aqueles que, em nome do interesse dito nacional, contribuíram para o
empobrecimento do país, hipotecando-lhe a soberania.
Apesar de tudo o que
escrevi sobre o comentador, desejo que doravante o presidente saiba interpretar
a lei, não como um solitário exegeta, mas como um homem permanentemente atento
à realidade, sem transigir com todos aqueles que, em nome de interesses pessoais
e corporativos, vão delapidando o património territorial, cultural e
humano.
Parece
que a austeridade mora noutro lugar
Por onde circulo, os
cafés estão cheios de um tempo ocioso.
A maioria dos clientes
terá deixado de trabalhar há muito ou, talvez, nunca tenha trabalhado...
Não sei se já votaram ou
se o tencionam fazer, mas o seu ar despreocupado preocupa-me...
Quando olho os cafés, e
me dizem que vivemos em austeridade, fico sempre um pouco confuso: parece que a
pobreza mora noutro lugar ou, então, não passa de uma fantasia...
Dizem-me, entretanto, que
os clientes dos cafés são estrangeiros, porém, quando apuro o ouvido, o
argumento morre na chávena do meu café...
Mais logo se verá!
23.1.16
Ao
atravessar a Quinta das Conchas
Esta árvore parece ter
uma vida difícil, porém não desiste. Ao atravessar a Quinta das Conchas, dei de
caras com a sinuosidade torturada dos seus gestos e, primeiramente, pensei que
o seu estado seria fácil de explicar: a secura do solo.
No entanto, ao olhar à
sua volta, verifiquei que por perto se erguia um majestoso e frondoso
eucalipto, o que desmentia de imediato que a água andasse arredia de tal
lugar...
Afinal, o que falta a uma
árvore sobra a outra. Injustiça, talvez!
A Natureza nem sempre
favorece a equidade!
Enquanto
medito, vou esquecendo
Vou votar? Não vou votar?
Se for votar, voto
branco? Anulo o voto? Olho atentamente o boletim, e escolho o candidato mais
velho, o mais novo, o mais bonito, o mais gordo, o mais magro?
(Estou na dúvida, pois
não sei de quanto tempo disponho na mesa de voto para observar a foto de cada
um dos candidatos.)
Esta meditação pode
parecer disparatada, mas, na realidade, necessito de um critério de decisão.
Ainda não passaram 24 horas e já me não lembro de nada de essencial: esqueci
tudo o que eles disseram uns dos outros, ou fingiram não querer dizer; esqueci
até qual dos candidatos é o mais beijoqueiro...
Como já esqueci quem são
os candidatos, hoje já não penso mais neste tema.
Amanhã, se verá! Pode ser
que me lembre de me deslocar à assembleia de voto e acabe por me deixar de
fantasias... Na hora, talvez Deus me ilumine! Quem diria!?
22.1.16
A
marca pessoal dos candidatos
Dia 24, há eleições para
a presidência da República, e não sei em quem votar... Não por falta de
candidatos, mas porque não lhes vislumbro perfil para tal responsabilidade.
Votei em 1976, em 1986,
em 1996, em 2006, e sempre soube atempadamente o que fazer. Desta vez, não sei!
O modo como os candidatos
se apresentaram ao país, lembra-me um grupo de pavões deslumbrados com as suas
próprias plumas, que, a todo o momento, prometem cumprir com zelo a
Constituição e servir o respetivo povo... Nenhum deles apresenta qualquer razão
para que a Constituição seja revista, como se esta fosse a expressão de uma
verdade indiscutível... Texto sagrado que só um ímpio ousaria desafiar!
Todos estão prontos a
jurar e a fazer cumprir a Constituição, deixando uma marca pessoal...
Se algum dos amigos
quiser apontar dois ou três argumentos convincentes, ficar-lhes-ei muito
agradecido.
21.1.16
Começa a preocupar-me que
não haja uma Carta dos Deveres Humanos.
Na procela política, há
candidatos que clamam que não aceitam que lhes restrinjam os direitos...
Por outro lado, na vida
diária, os indivíduos de todas as idades e condições, a todo o momento,
reclamam os seus direitos...
Não quer isto dizer que
não seja necessário combater permanentemente o desrespeito pelos direitos
essenciais do ser humano e não só. Parece-me, no entanto, que, em termos de
conduta, também deveria ser estabelecida uma Carta dos Deveres Humanos...
Por toda a parte, se
verifica que muitos dos que exigem que os outros lhes reconheçam e zelem pelos
direitos, se sentem, por seu turno, desobrigados de cumprir com deveres
essenciais.
E fazem-no, colocando-se
ao abrigo da Lei e da Moral.
20.1.16
«Escrever é ir
descobrindo o que se escreve. Escrever é quando muito saber para que lados fica
o que se procura. Mas como chegar lá? Como saber mesmo que fica para esses
lados o que procuramos. Escrever (ou pintar, fazer música, etc. ou até mesmo
discorrer em filosofia) é inventar ou criar e só a própria criação ou invenção
nos diz por fim o que se inventou ou criou. Nos diz? Nem isso. Porque o que aí
está não o sabemos bem, são os outros que no-lo explicam e enfim a sua
significação fica sempre adiada enquanto a obra durar.» Vergílio
Ferreira, Conta-corrente, nova série II, pág. 348, Bertrand editora
Pouco me importa registar
que Vergílio Ferreira nasceu há cem anos (28.01.2016) e que com ele nasceram ou
morreram outros vultos da cultura da nacional ou mesmo da cultura local,
entenda-se, do Liceu Camões...
(Ao contrário de
outras eras, a informação está em linha, não sendo mais necessário recorrer a
mediadores encartados que venham repetir pela enésima vez o que todos podemos
alcançar e, também, é maçador aturar verdades construídas à sombra da
ignorância do passado...)
O que vale a pena
verificar é se, para além das homenagens, ainda há quem o explique, isto é, se
ainda há quem o leia, aprendendo que escrever vai muito para além de
qualquer processo de enfeudamento a um programa, seja qual for a respetiva
natureza...
Escrever é descobrir que,
para além das palas, se pode imaginar outras vidas. E esse é um caminho
pessoal!
19.1.16
"Não
acredites num tipo que te diz «falar a verdade». Não porque seja mentiroso, mas
porque ele próprio a não sabe." Vergílio Ferreira, Pensar.
Escrevemos, muitas vezes,
do que não sabemos, atrevendo-nos a afirmar que as enguias que, um dia,
vislumbrámos num poço lá foram postas por algum pescador finório. Essa passa a
ser a nossa verdade e com um pouco de sorte a verdade do interlocutor... Até que
alguém explica que as enguias dos poços para lá foram empurradas pelos
enchentes dos rios que ao inundarem os terrenos lhes mudaram o destino...
Quando nos dizem que «as
cheias são as maiores de que há memória», embalados pela verdade da cantiga,
deveríamos revisitar os poços para verificar se há por lá enguias...
Não há quem não «fale a
verdade»! Em jeito de remate, eu próprio escrevo frequentemente «é verdade
que...»
(Prometo, estar mais
atento!)
Nestes últimos dias, dez
candidatos à presidência da República têm asseverado «falar a verdade» e, como
pensou Vergílio Ferreira, nenhum deles a conhece. Como acreditar neles?
A verdade pressupõe a
crença, e como tal nada do que é dito deve ser tomado como verdadeiro. Talvez
possível...
E nova dúvida se levanta
sobre «a confiança»! Pedem-nos que tenhamos fé - coletivamente ...
18.1.16
Se não sabes o que
escrever, não te preocupes!
Lê uma página ou duas, ou
mais se te apetecer.
Sai de casa, procura um
jardim e, mesmo sem estares cansado, senta-te num banco, olha à tua volta,
segue o voo dos pássaros, escuta-lhes o chilreado; observa os arbustos e as
flores, procura-lhes a cor; com um pouco de sorte, talvez, oiças as crianças e o
ranger dos baloiços.
Ao regressares, não te
debruces sobre o parapeito, deixa que o Intercidades se afaste - o comboio fica
para o dia em que te encontres no cais... Observa apenas os idosos que
regressam das compras, em silêncio e tristes, porque só compraram uma pequena
parte do que sonharam...
Se não sabes o que
escrever, não te preocupes!
Amanhã, tu ainda podes
ler as páginas que te apetecer, tu ainda podes substituir o jardim pelo cais.
Os idosos, esses, vão ficando por casa, tristes... a dormitar.
17.1.16
Se possível, não
escrevas, não digas nada.
Fica, apenas, a olhar a
criança-ciclista que desce a rua, vinte metros atrás do pai-ciclista... O
automobilista segue-os, incrédulo, acabando por ultrapassá-los com cautela numa
reta antes de virar à direita...
Se possível, não
escrevas, não penses na curva, na briosa criança-ciclista e no pai-ciclista
para além da curva, destacado, como se toda a estrada mais não fosse do que uma
pista reservada a ciclistas...
16.1.16
A
chave que a vida nos oferece
«A pessoa tem de renunciar à sua própria chave
aquela que todos temos para
abrir a vida, a nossa e a alheia
e utilizar a chave que o texto
lhe oferece.»
António
Lobo Antunes, Receita para me lerem
Segundo Livro Crónicas, Dom Quixote
Habituados a trazer no
bolso ou na mala a chave de casa, do carro... acreditamos que para tudo há uma
chave. Uma chave anterior, exterior a nós.
As chaves são nossa
propriedade, e quando as perdemos ou no-las roubam caímos no desespero e,
devotos de ocasião, rogamos a santo António que no-las traga de volta...
E se o santo nos falta,
recorremos às chaves do Areeiro (passe a publicidade) que nos arromba a porta e
nos faz pagar uma nova fechadura para que possamos regressar ao sossego do
porta-chaves...
No entanto, quando se
trata da vida, de a compreender, de a enfrentar, não há chaveiro que nos valha,
porque cada vida tem a sua própria chave, difícil de encontrar e, sobretudo,
porque falta-nos a disponibilidade para a aceitar... até porque na vida não
estamos sozinhos, e cada um tem a sua chave como única.
15.1.16
Não os conheci
pessoalmente. Ou se calhar, conheci-os e perdi-lhes a voz, porque, para mim,
sem voz não há conhecimento.
Ter-se-ão zangado por
escrito, o que é inevitável para quem lhes lê as obras, conhece as capelas e a
filiação.
Dizem-me que sob os
plátanos fizeram uns tantos apóstolos, uns mais niilistas, outros crentes na
salvação da humanidade oprimida.
Durante muito tempo, tive
como seguro de que os discípulos se detestavam uns aos outros, de tal modo que
era impossível atribuir o nome de um a um plátano, sem que os apaniguados do
outro se enfurecessem, exigindo a exclusividade do dito cujo...
Um era existencialista,
forjado num seminário da Contra-Reforma; o outro era marxista, enfeitiçado
pelas conquistas soviéticas...
Atormentados pela Morte,
colocaram-na num pedestal, servindo-a escrupulosamente. O primeiro,
substituiu-a pelo Desespero Absoluto; o segundo, acabou por ver nela o Redentor
do rebanho oprimido.
Agora há quem queira
juntá-los! Deve ser do vento...
14.1.16
(À porta da sala de aula.)
O professor abre a porta.
Os alunos precipitam-se para o interior.
O professor continua do lado de fora.
(...)
Os alunos saem em silêncio...
13.1.16
'Nem
Só de Caviar Vive o Homem'
Ler um extenso romance
exige tempo e, por vezes, paciência. Nem sempre, a intriga é suficientemente
verosímil, sobretudo quando abarca um longo período, marcado pelo terror da
guerra - de 1939 a 1958.
O romance Nem Só
de Caviar Vive o Homem, de J. M. Simmel, é um bom exemplo de
uma obra que, sem ter a guerra como tema central, dá conta dos modos como esta
se desenvolve nos bastidores, misturando situações de espionagem e de contraespionagem
com negócios mafiosos de toda a sorte, sem esquecer o papel decisivo da
gastronomia...
Num mundo desumano, o
herói, Thomas Lieven, sobrevive porque há sempre uma solução
humana:
«Ao longo de toda a
minha vida desconfiei das palavras altissonantes e dos grandes heróis. Também
nunca gostei de hinos nacionais, de fardas, e daqueles a quem chamam homens
fortes.» op. cit., pág. 506.
Em conclusão, vale a pena
ler este romance porque ajuda a compreender os bastidores da segunda guerra
mundial nos países beligerantes e nos países neutros, como a Suíça e Portugal,
até porque boa parte da ação decorre em Lisboa, revelando o modo como o Estado
Novo se comportou durante aquela época.
A informação sobre
Lisboa, Estoril e Cascais, é rigorosa.
12.1.16
Qualquer
soldado raso pode chegar a general
Nesta República, qualquer
soldado raso pode chegar a general - resposta de Nóvoa
ao general Marcelo que entende que a Presidência só pode ser ocupada por
generais e almirantes...
Enquanto um parece
socorrer-se de uma metáfora de origem castrense, o outro exprime literalmente a
sua convicção de berço...
O problema é que ambos,
apesar de se declararem abertamente comprometidos com o futuro, continuam a
utilizar a linguagem do passado.
Por outro lado, a
História ensina que só em contextos revolucionários e despóticos é que soldados
rasos conseguiram alcandorar-se ao generalato.
E nesta guerra de
senhores feudais, as donas continuam a ficar em casa.
11.1.16
D.
Afonso Henriques tinha um cavalo...
«... D. Afonso
Henriques tinha um cavalo porque os reis andavam a cavalo só os presidentes é
que não sabem montar e nas batalhas o rei D. Afonso Henriques ia todo vestido
de rei que é um fato de lata e entrava à espadeirada aos inimigos que fugiam
dele não sei porquê...» Luís de Sttau Monteiro, Redações da
Guidinha
Para mim, um candidato a
presidente que não saiba montar a cavalo não serve. Já passaram mais de cem
anos desde que o último rei foi desmontado do cavalo, cedendo o lugar a
presidentes que, na maioria, nunca aprenderam a montar a cavalo, embora tenham
aprendido a ceder aos interesses dos poderosos e, até em demasiados casos,
tenham aumentado a fortuna de familiares, amigos e sequazes...
Para evitar este
descalabro, creio que o melhor seria só aceitar a candidatura a presidente de
quem soubesse montar ou, pelo menos estivesse disposto a aprender. E depois o
eleito presidente ia por esses campos fora, montado no rocim presidencial, à
conquista das ilhas perdidas até reencontrar o Encoberto... o verdadeiro
responsável pela queda da Cavalaria...
Texto motivado pela
leitura de uma estrofe de D. Dinis:
Joam Bol' anda mal
desbaratado
e anda trist' e faz muit'
aguisado
ca perdeu quant'havia
guaanhado
e o que lhi leixou a
madre sua:
um rapaz que era seu
criado
levou-lh' o rocim
e leixou-lh'a mua.
10.1.16
" O
património é de todos, ajude-nos a conservá-lo."
A entrada no Museu
Nacional de Arte Contemporânea custa 4 euros e cinquenta cêntimos. 4 euros e
cinquenta cêntimos é quanto pagamos para a ver a programação atual.
Hoje, no Piso 3,
visitei quatro das instalações* que se candidataram à 1ª
edição do Prémio Sonae Media Art, tecnologicamente interessantes, mas
efémeras.
A efemeridade não é, em
si, um defeito. No entanto, quando o custo da entrada é tão elevado,
estas ou outras instalações tornam-se invisíveis. Deste modo, o MNAC não só não
divulga os artistas, como não obtém as verbas necessárias à preservação do
património...
*Tatiana
Macedo. INSTALAÇÃO VÍDEO DE PROJEÇÃO SIMULTÂNEA EM TRÊS ÉCRANS
(vencedora)
Patrícia Portela.
PARASOMNIA, 2015
MUSA PARADISÍACA, CANTINA
FÁBULA, 2015
RUI PENHA. RESONO,
2015
9.1.16
“Tenho profunda
esperança que os portugueses decidirão em janeiro o que não devem deixar para
fevereiro”. Marcelo contraria Costa: “a primeira volta vai ser as
secundárias da esquerda".
Pode até estar mais bem
preparado do que os restantes candidatos, porém Marcelo Rebelo de
Sousa revela falta de humildade, como, se predestinado, lhe bastasse a
vassalagem de um povo que ansiasse pelo Messias...
Imaginando-se
anunciado por algum longínquo oráculo, Marcelo procura conquistar a
tribo dos infiéis, abrindo mão, assim, do rebanho que naturalmente o
seguiria, como se ele fosse o bom pastor...
Corre, no entanto, o
risco de as ovelhinhas não serem tão mansas e cristãs como ele quer crer. Por
vezes, as mansas ovelhinhas conseguem reconhecer o lobo, sobretudo quando ele é
demasiado espalhafatoso e arrogante...
8.1.16
Sempre
que um inteligente chega ao Ministério da Educação...
Sempre que um inteligente
chega ao Ministério da Educação, é sabido que os modos de avaliar mudam.
Educar, nos últimos 20
anos, passou a significar "avaliar", "classificar"...
Pouco importa se há
alguma coisa de consistente para aprender.
Pouco importa a qualidade
da formação de quem é suposto ensinar.
De facto, é
mais rápido alterar os modos de avaliar do que criar um sistema de
formação de alunos e de professores adequado à realidade atual e que ajude a
construir o futuro. Entretanto, vamo-nos entretendo com o passado...
Criar um sistema de
formação exige tempo, e tempo é o que faz falta ao inteligente que, a toda a
hora, chega ao Ministério da Educação.
7.1.16
Pensar que a chuva
cai da direita para a esquerda é possível. Neste momento, as gotas estão quase
a chegar ao fim da linha ou, melhor, já mudaram de linha...
Se a chuva fosse chinesa,
ela cairia da esquerda para a direita e, provavelmente, vê-la-íamos a saltar de
linha...
Sob a forma de bátega, a
chuva cai a direito, e as grossas gotas, em vez de
correrem, fazem-nos perder a linha...
Há também uma chuva
miudinha que não se sabe se cai e que, por vezes, nos entontece e, outras,
nos refresca...
A chuva a que me refiro,
na verdade, não cai; quase tudo o que lhe acontece é por força do vento.
Talvez devesse agora
reiniciar: «Pensar que o vento sopra da esquerda para a direita é possível» e
sem ter de ir à China «Pensar que o vento também sopra da direita para a esquerda»
...
e em pouco estaria no olho do furação...
6.1.16
Bomba
de hidrogénio: Surpresa ou hipocrisia?
Bombe H : « La Corée du Nord a surpris tout le
monde » Le Monde
A Coreia do Norte
surpreende o mundo inteiro!
Não acredito que um país
que vive fechado sobre si próprio tenha capacidade científica, tecnológica
e recursos financeiras para levar a cabo este tipo de testes, sem que outros
países lhe forneçam os recursos necessários, inclusive humanos...
E como tal, o espanto da
comunidade internacional não passa de uma manobra de diversão. Quem é que
pode crer que a China, a Rússia, os Estados Unidos, a Índia, Israel, o
Irão, o Paquistão, o Reino Unido e a França nada saibam do que se
passa na Coreia do Norte?
Os loucos, entretanto,
continuam à solta: aterrorizam e condenam à miséria as populações que,
infelizmente, acabam por os idolatrar...
É importante não esquecer
que em Portugal há gente boa que continua a confiar na bondade de regimes, como
o da Coreia do Norte.
Esta é uma matéria sobre
a qual todos os candidatos a presidente da República deveriam pronunciar-se.
5.1.16
O que eu gostava de saber
é por que motivo as evidências são tão opacas. Talvez, o problema seja meu, e
eu não saiba o que é uma evidência. Será que há alguma relação entre
a evidência e a vidência?
De facto, há muito que o
meu pensamento sobre o estado do mundo é contestado pelos videntes que me andam
cercando como as ondas de San Simion, só que a amiga era cega e por isso
não tinha pejo em pedir aos elementos que lhe dessem novas do amado...
Há quem pense que a
melhor forma de vida é esperar que lhe tragam a morte amortalhada no arco-íris,
eu porquanto prefiro andar à chuva e ao sol, sabendo que por mais água que
deitemos sobre o fogo, este nunca se apaga...
A esta hora, o leitor já
estará a pensar a que evidência é que me estou a referir, sem compreender que é
aquela que, por estar por cima do nariz, não pode ser objeto
de vidência.
4.1.16
Montesquieu
e a decadência de Portugal
Da leitura das Cartas
Persas (1721), infere-se que a expansão portuguesa, no opinião de
Montesquieu, não teve êxito por motivos religiosos e
demográficos.
Primeiramente, porque o
catolicismo gerou uma visão do mundo retrógrada, inimiga da tolerância
religiosa e da razão humana... Em segundo lugar, porque, em termos
demográficos, a nação não tinha qualquer possibilidade de gerir as enormes
parcelas do império inicial, apesar de não ter optado, como acontecera com a
Espanha, pelo extermínio dos íncolas:
«Quanto aos
portugueses, optaram por uma via oposta; não usaram da crueldade: por isso,
foram rapidamente expulsos de todos os países que tinham descoberto. Os
holandeses favoreceram a rebelião destes povos e aproveitaram-se dela.»
Carta CXXII
O que Montesquieu não
refere é que estes holandeses eram, em muitos casos, judeus expulsos da
Península Ibérica, primeiro de Espanha e depois de Portugal.
Faleceu o amigo Manuel Duarte Luís. Relembro-o como o homem bom
que, nos anos 80, me convidou para com ele orientar a formação de professores
no Colégio Vasco da Gama, em Meleças.
Profissional zeloso,
procurou sempre que as escolas em que lecionou e de que foi diretor fossem
espaços de educação, de aprendizagem e de socialização...
Para o Manuel Duarte Luís, o Outro era sempre uma PESSOA!
(4.1.2016)
3.1.16
O
Prémio Vasco Graça Moura - Cidadania Cultural
O Prémio Vasco Graça
Moura-Cidadania Cultural foi atribuído, por
unanimidade, ao ensaísta Eduardo Lourenço, de 92 anos, anunciou hoje a
Estoril-Sol, que instituiu o galardão, em parceria com a editora Babel.
Leio frequentemente
a obra de Eduardo Lourenço, e reconheço-lhe o talento ensaístico e a
capacidade de recuperar temas essenciais da cultura portuguesa na sua relação
com a Europa e com os restantes continentes, mas causa-me perplexidade uma
certa tendência na atribuição dos prémios: a veneração do mais velho em
detrimento do mais novo...
A própria notícia, em vez
de evidenciar o esforço do professor e ensaísta em prol da cidadania cultural
(o que não deixa de ser pleonástico), prefere enumerar os prémios
atribuídos e as condecorações recebidas...
Parece que só a morte do
mais velho pode "libertar" o mais novo. Relembre-se, por
exemplo, o culto de Manoel de Oliveira.
De qualquer modo, o
Estoril-Sol está no direito de atribuir o prémio a quem bem quer,
embora creia que Vasco Graça Moura que, designadamente através da Casa da
Moeda - Imprensa Nacional, deu um forte contributo para a divulgação da obra de
Eduardo Lourenço, talvez preferisse ver reconhecido o trabalho
de "alguém" das gerações mais recentes...
2.1.16
«Não há honra nem
dignidade no príncipe que se alia a um tirano. Diz-se que um monarca
do Egipto mandou prevenir o rei de Samos da sua crueldade e tirania,
intimando-o a corrigir-se: como ele não o fez, mandou dizer-lhe que
renunciava à sua amizade e à sua aliança.» Montesquieu, Cartas
Persas, Tomo II, pág.229-230, Tinta da China edições, 2015.
Cartas Persas é
uma obra pícara, escrita à maneira de Fernão Mendes Pinto, que põe em primeiro
plano a defesa dos direitos humanos, em culturas determinadas por princípios
religiosos discriminatórios, apesar de, por vezes,
parecerem diametralmente opostas...
Para quem, algum
dia, leu Peregrinação é visível a influência do estilo
pícaro de Fernão Mendes Pinto em Montesquieu e, em particular, da capacidade de
espelhar os defeitos de uma cultura, contrapondo-a à hipérbole das qualidades
de uma outra...
Hoje, por outro lado, o
que Montesquieu nos ensina é que muito mal vai o príncipe (a União Europeia)
que mantém relações de subserviência com o tirano (o presidente da
Turquia) por muito válidas que as razões possam parecer (acolhimento dos
refugiados e expansão do estado islâmico) ...
1.1.16
Ao
contrário de José Tolentino de Mendonça
Sou matéria finita. Para
lá da materialidade, nada experimento, apesar das religiões... Como tal, não me
defino como tempo, nem como espaço - vivo um certo tempo e ocupo um determinado
espaço, bastante mais material do que a duração...
Ao contrário de José
Tolentino de Mendonça, não vejo como defender que «somos feitos de tempo,
lavrados instante a instante pelos seus instrumentos» (E/58, 31 de
dezembro de 2015). Que eu entenda, não é possível falar da materialidade do
tempo até porque tal definição seria contrária à ideia de redenção que
caracteriza todas as religiões monoteístas...
Admito, sim, que estou no
tempo enquanto a matéria de que sou feito não se consome. Depois ou antes,
nada posso fazer a não ser ceder involuntariamente o lugar a
outros...
Ao contrário de José
Tolentino de Mendonça, para mim estar no tempo não significa qualquer
forma de desespero trágico, porque a redenção que tanto o ocupa pressupõe uma
culpabilidade herdada e, sobretudo, uma graça divina que me seria imposta por
uma força externa à matéria finita.
Quanto à nossa tarefa,
basta-me o princípio da equidade...