segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Diário_2017

 31.12.17

Lá tão atrás!

De concreto, o bezerro...

o efémero,

o fogo-fátuo,

uma mesa no casino,

o ar mortiço,

o champanhe reles,

a inveja,

o ciúme,

a delação...

De concreto, o bezerro sobre uma mesa no casino,

o olhar mortiço de um vison...

Das Tábuas nem a sombra...

De concreto, nem o Deus da Vingança...

Fugiu do Sinai...

De concreto, o bezerro é um artefacto

E eu caminho entre Moisés, Miguel Ângelo e Freud...

Lá tão atrás!

 

30.12.17

Quebrar o espelho

‘Só vale a pena escrever se a pessoa conseguir agarrar alguma coisa de concreto. Porque opiniões há muitas, cada pessoa tem a sua. O que é importante para uma pessoa que escreve é agarrar alguma coisa de concreto’. António José Saraiva (31.12.1917-17.03.1993)

Doravante, vou deixar-me de opiniões.

Provavelmente, terei de cessar de escreviver... o que significa quebrar o espelho, evitar o enguiço.

 Que 2018 nos seja favorável!

Como, amanhã, não tenciono ir a Lisboa despedir-me de 2017, que 2018 nos seja favorável e incomode os muitos coelhos que ainda estão por saltar das cartolas...

 

29.12.17

Projeto de reabilitação da Escola Secundária de Camões

«A conclusão de todas as fases de elaboração do projeto, nomeadamente a entrega do projeto de execução, está prevista para o final de fevereiro de 2018. Esta data pressupõe que a emissão de todos os pareceres obrigatórios das diversas entidades responsáveis ocorra em sentido favorável e até essa data, não obrigando a quaisquer outras alterações aos projetos.

Sendo o mesmo validado e verificado o cumprimento das normas legais e regulamentares aplicáveis, é expectável que o lançamento do procedimento de contratação da empreitada, através de um concurso público internacional, possa ocorrer posteriormente à validação do projeto, previsivelmente no mês de março de 2018.

O prazo previsto para a conclusão deste procedimento, com a adjudicação da proposta vencedora, a assinatura do contrato (incluindo a entrega de toda a documentação legalmente exigível, bem como da prestação de caução obrigatória) e a emissão de visto prévio do Tribunal de Contas, são seis mesescaso não ocorram quaisquer percalços processuais, como sejam impugnações judiciais

 Inês Ramires

Chefe do Gabinete / Head of Office

GABINETE DO MINISTRO DA EDUCAÇÃO

Cabinet of the Minister of Education

 Para a Escola Secundária de Camões, votos de um pouco mais de paciência e de juizinho em 2018!

Caso contrário...

 

28.12.17

Os lepismas resolvem...

Em vez das águas profundas a que ontem me condenei, mergulhei em resmas de papel envelhecido e cheio de lepismas...

Muita dessa documentação já mudara de lugar há 19 anos sempre na expectativa de que chegaria o dia em que alguns registos poderiam ser aproveitados...

(O tempo esgota-se. Absurdo. Quem se esgota sou eu. Que iria fazer com tal arquivo infestado?)

Anos de fervor académico são agora deitados para o caixote do lixo com a sensação de que nada se perde, pois já ninguém se interessa por tais assuntos, por tais pastas... 

O problema é que sempre que começo, acabo por interromper... e os lepismas não perdem a oportunidade de se multiplicar... Até ao final de 2017, prometo que vou deitar para o lixo tudo o que me surgir pela frente.

Que Nossa Senhora do Monte vos acuda!

 

27.12.17

Já não discordo de nada

Isso era de manhã. Discordava do esbanjamento do município lisboeta. Agora, ao entardecer, já não de discordo de nada.

Pois se a malta quer é festa e enfiar o barrete - na versão revivalista, a cartola - para que é que me estou a incomodar?

Vou mas é sair e dar uns abraços à esquerda e à direita, e depois tomo um banho de águas profundas e fico por lá... e já não sei se regresso. 

Discordo

O município de Lisboa vai gastar este ano 650 mil euros apenas com os festejos de passagem de ano - concentrados na Praça do Comércio. A informação foi avançada ontem ao i pela Empresa Municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), que assinala que está, pela primeira vez, a organizar o evento. Desse montante, 57 mil são para a compra de cartolas pretas e vermelhas que serão distribuídas aos lisboetas. Cartolas

O município deveria ter outras preocupações.

Se alguém quer vender cartolas que não se sirva dos dinheiros dos munícipes... A verdade é que eu não sou lisboeta, mas temo que os restantes municípios sigam esta má aplicação dos impostas, das taxas, taxinhas...

Nem à cartolada lá vamos!

 

26.12.17

De facto, nada...

Perguntam-me 'o que é que aconteceu?'...

De facto, nada. Apenas, a tomada de consciência da inexorabilidade do tempo.

São muitas as horas vividas no limite... e agora a ideia de que o mutismo pode ser redentor acalenta-me, embora outrora ele fosse identificado com a Morte... a terceira hora, a terceira estação, a terceira moira, a terceira irmã...

Nesse tempo, não havia Outono... Só havia Pai, Filho e Espírito... (talvez só mais tarde...)

... o limite da racionalidade, onde ainda é possível refrear a imediatez da palavra, do gesto. Absurdo é não querer compreender que para tudo há limites...

Recordo, entretanto, um episódio de mudez seletiva que durou cerca de um ano e que nunca foi devidamente explicado. À época, pensou-se que seria fruto de... - a explicação hoje não me diz nada. Permite-me, no entanto, lembrar outros momentos em que o silêncio era um verdadeiro enigma.

Ontem, não aconteceu nada. No passado nada acontece... Mesmo quando recordamos é sempre no presente... no momento.

E assim se explica a ausência de personagens...

 

25.12.17

Surpreendido...

Dia de Natal, Parque das Nações. Eram 12 horas.

Esperava pela minha vez na farmácia. Lá dentro, as pessoas acotovelavam-se...

Para mim já é tradição procurar uma farmácia nesta data. Algumas deixam o sinal luminoso a piscar, mas estão encerradas...

Parece que no dia de Natal, há menos doentes ou, talvez, ainda estejam anestesiados pelos vapores da ceia natalícia...

No CATUS de Moscavide, havia uma dúzia e meia de queixosos. Os médicos seriam, pelo menos, três...

A verdade é que, neste relato, eu não tenho qualquer protagonismo, a não ser o de ser surpreendido pela câmara fotográfica que, inopinadamente, me indicou que eu estava em situação de autorretrato. Descarregada a fotografia, dou comigo a pensar que eu é que deveria ter ido ao médico.

 

Os ricos não têm emenda

Ontem, não escrevi nada porque me coube assegurar que uns tantos pudessem empanturrar-se, a começar por mim... Mas estou arrependido.

Hoje, já descobri que surgiu uma NOVA FRATERNIDADE na Assembleia da República: os rapazes e as raparigas vão poder recolher fundos sem limite para garantir a perpetuação das clientelas partidárias... e sem IVA... Só que eles não têm emenda!

Finalmente, esta ideia de celebrar o Pai Natal é alemã, terá sido exportada a partir de 1840, e o ritual foi globalizado pela Coca-Cola no início do séc. XX...

Eles acabam todos ricos ...e nós a fazer umas caminhadas para nos penitenciarmos.
Vamos a isso!

 

23.12.17

Litania de Natal

Já só me preocupo com o curso das minhas decisões - poucas, mas de que me sinto responsável.

Neste Natal, esta responsabilidade surge-me acrescida. Talvez devesse alijá-la, mas só o último sopro me libertará...

O resto, o mundo, já pouco me diz, tanto é o desnorte, como se a humanidade não passasse de um número interminável de predadores...

Torna-se visível que a economia social é, afinal, uma forma farisaica da economia liberal...

Nem o Tejo consola da insanidade mental que arrasta para o cadafalso.

Numa Terra onde milhões morrem de fome, outros milhões invadem as novas catedrais e esvaziam-lhes as prateleiras... chega a ser impossível entrar e circular no supermercado... 

 

21.12.17

Está-nos na substância

No antigo Egipto, o mesmo termo significava, por exemplo: curto e longo; claro e escuro; belo e feio; alto e baixo; honesto e desonesto; verdadeiro e falso; forte e fraco...* Quem chegou a tal conclusão foi K. Abel (1884) que, provavelmente, ao assinar Abel ficaria sempre na dúvida se não deveria registar-se como Caim...

No essencial, o 2º termo não era o antónimo (a negação) do primeiro, mas simplesmente o fundamento do primeiro. Como conceptualizar claridade se o tom não pudesse estender-se até à escuridão?

Talvez seja por causa desta particularidade da linguagem humana que desconfio cada vez mais dos sábios, dos justos e dos impolutos... 

Já Freud defendia que há linguagens, como a dos sonhos, em que a negação está ausente... tudo é asserção por muito agradável ou inconveniente... 

... e como bem sabemos, à força de ser agradáveis, acabamos por ser inconvenientes... está-nos na substância!

 

o ponto e vírgula visa desfazer o equívoco - cada par seu termo (significante)... Pelo menos, os egípcios sabiam poupar...

 

20.12.17

Esqueçamos...

Já lá vai o tempo em que a notícia era a exposição clara e concisa de um acontecimento - do acontecimento.

Já lá vai o tempo em que os autores das notícias falsas eram sancionados.

Agora, o ministro da cultura propõe maior produção de notícias verdadeiras para que esqueçamos as centrais de intoxicação e de manipulação, enquanto elas nos alienam...

Do ministro da cultura talvez se aceite o preciosismo, nós, no entanto, não deveríamos tolerar a charlatanice...

Não sejamos o acontecimento!

 

19.12.17

Deve ser brincadeira...

Os dados do Governo a que a Lusa teve acesso revelam ainda que, no próximo ano, cerca de cinco mil docentes vão chegar ao topo da carreira (10.º escalão), onde até agora não se encontrava nenhum professor. 

“Em relação às chamadas ‘fake news’ [notícias falsas], além dos aspetos de prevenção que podem passar pelas grandes plataformas da Internet, acreditamos que a melhor maneira de combater as notícias falsas, mais que pela sua supressão, passa pela produção de mais notícias verdadeiras, o que implica necessariamente o fortalecimento dos jornais, do jornalismo e dos jornalistas, além de um maior nível de literacia mediática”, disse Luís Filipe Castro Mendes. 

 

18.12.17

A confidencialidade cheira-me a marosca

O Dicionário já não me satisfaz. Consulto-o para saber o que significa 'confidencialidade', só que a ideia de que um indivíduo possa acordar ou impor a outro o que deve ser objeto de confidência cheira-me a marosca...

Ultimamente, em nome da transparência - outro conceito opaco - o país, talvez para celebrar os 100 anos da aparição da Senhora aos pastorinhos - vive num frenesim impensável há umas décadas... Salazar prezava, em simultâneo, a confidencialidade e as transparências, como bem se sabe. 

Hoje, a confidencialidade não passa de velharia e nada escapa aos arautos da nudez. Por mim tudo bem, desde que cada um pague os devidos impostos, a começar pelos novos moralistas, contratados a peso de ouro e de favores...

 

17.12.17

Longe do libreto inicial

(Partiram sem darmos conta e se um dia puderem regressar...)

Hoje, fui ver O Lago dos Cisnes, no Teatro Camões, mas já não resisto a espetáculos tão longos, em espaços lotados e sobreaquecidos... A primeira parte foi penosa e não o foi só para mim, pois na Orquestra havia instrumentistas que combatiam o sono...

De regresso a casa, fui ler duas ou três sinopses, tendo confirmado que cada vez tenho mais dificuldade em interpretar os novos códigos, apesar dos bailarinos e da orquestra revelarem um desempenho artístico notável...

A verdade é que sempre apreciei representações / interpretações fiéis à ao libreto inicial...

(Talvez voltem, e a árvore seja mais acolhedora e possam refazer o ninho...)

 

16.12.17

Retiro-me

Afinal, a ANA não o levou...

Hoje, não me apetece abordar nenhum dos temas que vão agitando as televisões, pois creio que seria pura perda de tempo... de propaganda tóxica e de mentira. 

Retiro-me, porque necessito de algum tempo de reflexão para elaborar o pedido de desculpas à Senhora Paula Brito (e/de) Costa...

 

15.12.17

Não basta babar-se...

Nunca fui de convocar os espíritos, embora aceite com naturalidade que eles possam habitar as copas das árvores ou pousar nas casas abandonadas ou até que possam permanecer nos embondeiros do lugar para que os sobrevivos, em dias de aflição, possam libar ao desafio...

A ideia do embondeiro é, por estas paragens, pouco oportuna, mas serve perfeitamente para ilustrar a noite que se abate sobre mim, quando alguns mancebos/as - vulgo, crianças - insistem em afirmar e reafirmar que sabem do que estão a falar ao balbuciarem certos enunciados disponibilizados pela Wikipédia...

Ora, no designado realismo mágico, o rapsodo convoca os tempos com as suas presenças - materiais e imateriais - e expõe-no-las sob o olhar para que possamos compreender que a realidade da casca esconde um processo milenar de opressão e de alienação, cultivado, em grande parte pelo Ocidente... um pouco como se a escrita procurasse dar voz ao embondeiro, a única testemunha fiel da inesgotável clepsidra que preside à história dos homens... e com tanto tempo já escorrido, ainda há quem faça de conta que basta babar-se... Falta-me o jeito para Babá!

 

14.12.17

Telemóveis fora da sala de aula?

« Plus de téléphones portables dans les écoles et collèges à la rentrée 2018 », annonce Jean-Michel Blanquer. 

A decisão do Governo francês parece-me retrógrada, o que não significa que, no caso português, tudo deva continuar na mesma. 

Apesar dos limites impostos pelos regulamentos internos, a realidade é bem pesada e frustrante.

A verdade é que muitos alunos portugueses estão hoje dependentes deste equipamento, tendo deixado de prestar qualquer atenção à aula, pois acreditam que a solução se encontra na ponta dos dedos e, sobretudo, que raciocinar é uma maçada...

Consequências:

  • O professor, que não consiga integrar no processo de ensino e de aprendizagem todo o tipo de equipamento que permita aceder à internet, é descartável.
  • Este professor deixa de ser fonte de conhecimento ponderado, vendo o seu estatuto como educador questionado.

Em síntese: O que está a acontecer é que falta um plano de formação nacional dos professores no âmbito da aplicação e da utilização destas novas ferramentas...

  • o que passa pelo rejuvenescimento da classe docente
  • e pela modernização da rede digital escolar.

Não creio que desligar a luz elétrica seja a melhor estratégia.

 

13.12.17

Em estado de omissão

Vivemos em estado de omissão.

Agora que as telhas novas já estão colocadas, podemos respirar.

Agora que a chuva ameaça cair, esquecemos a seca... e inebriamo-nos em demoradas festas (Boas Festas! Bom Ano Novo!)

Agora que o momento da avaliação é chegado, esquecemos grande parte dos critérios...

Agora que a comunicação social se lembra das associações, lá surgem umas tantas demissões ... e uns tantos inquéritos e muitíssimas comissões de especialistas. Nunca houve tantos especialistas!

(O que me leva a uma simples pergunta: porque é que os problemas não são, à partida, entregues aos sábios especialistas?)

Agora que a questão volta a estar na ordem do dia, valeria a pena apurar a contabilidade das múltiplas organizações que acolhem militantes e simpatizantes de todos os quadrantes...

... até porque a riqueza exposta é muito superior à produzida... 

 

12.12.17

Tamanha burrice!

Consta que Ariosto se viu, um dia, confrontado com a seguinte questão: Dovait avete trovato, Messer Ludovico, tante corbellerie? Ora quem o questionava era precisamente o seu protetor, o cardeal Hippolyte d'Este, a quem o poeta dedicara a epopeia Orlando furioso (1516). Como se vê, o cardeal era pouco dado à fantasia, embora protegesse os artistas, como Ariosto. 

Por pura associação, veio-me ao espírito este comentário - Qual é origem de tamanha burrice?) -, ao pensar que os Governos, em vez de apoiarem diretamente quem necessita de todo o tipo de cuidados, dão azo à criação de associações cujos dirigentes, inevitavelmente, acabam por apropriar-se dos recursos que lhes são colocados à mão...

Haverá exceções, mas... 

 

11.12.17

E se o edifício do Liceu Camões ruir?

Quem estava na Escola Secundária, às 11h e 50 minutos, na zona correspondente ao Pátio Sul, apercebeu-se certamente do impacto das rajadas de vento, quer nos plátanos que vergaram significativamente, quer nas paredes de algumas salas, quer no telheiro que protege as galerias, quer no telhado... há deformações da estrutura bem visíveis...

Há imagens, mas infelizmente não é possível dar conta das emoções. Pela primeira vez, vi alunos verdadeiramente assustados...

Não sei se é verdade, mas consta que ainda não é em 2018 que as obras de recuperação do edifício têm início...

E se o edifício ruir em plena atividade escolar?

 

 

10.12.17

Antes que a ANA o leve

A novidade de hoje é que, não havendo incêndios, as televisões passaram a cobrir os aguaceiros, as rajadas de vento e os flocos de neve...

A população, essa, está-se marimbando...

 

9.12.17

'Familiarizar' a educação...

O país é pequeno, mas imagina-se grande e eleito. Agora, está na moda municipalizar. Por exemplo, municipalizar a educação...

Nesta época natalícia, o melhor seria "familiarizar" a educação, isto é, devolver a educação dos filhos às famílias, até porque já há filhos de Deus que defendem que a educação é problema deles... e que não lhes toquem nos parentes...

Já agora também poderiam devolver os refeitórios às escolas, acabando com a corja de mediadores que se vão instalando um pouco por todo o lado.

Só que a devolução já chegaria atrasada, pois que ao "familiarizar" a educação, regressar-se-ia ao tempo em que as escolas não eram necessárias.

E os filhos de Deus não deixavam de nascer e de morrer...

 

8.12.17

Da cortesia...

A cortesia já teve melhores dias!

Corre-se até o risco de ser acusado de assédio... Releia-se o código trovadoresco, designadamente, nas cantigas de amor... das outras é melhor nem falar... 

Ontem, explicaram-me, que, sendo abalroado por um veículo em marcha atrás, posso ser responsabilizado, na ausência de testemunhas, pelo acidente...

 

7.12.17

A senhora condutora...

Pelas 16 horas e 3 minutos, no 131 da Avenida Gago Coutinho, ao permitir que o veículo automóvel 28-EO-29, em marcha atrás, pudesse sair de cima do passeio, acabei por ver a dianteira do meu automóvel maltratada....

A senhora condutora fez de conta que não era nada com ela e, de forma furtiva, encostou à esquerda e, na primeira escapatória, inverteu a marcha e seguiu caminho na direção do aeroporto... Quem me mandou a mim ser cortês?

6.12.17

Jerusalém

Jerusalém é a capital de Israel.
(DT)

Jerusalém é bem mais importante do que o que acontece em muitas salas de aula...

No entanto, há uma semelhança: "eu sou responsável pelos meus atos e faço o que eu quiser". A restante humanidade murmura, abana a cabeça... e eu, às voltas com a desfaçatez feita ao túmulo de Alexandre Herculano, vou meditando no meu papel no meio de tudo isto.

 

5.12.17

Desfocado

galos, galinhas, patos, andorinhas
e um pouco de canábis por legalizar
um guarda-livros e um guarda-chuva
o primeiro deve ser um bibliotecário que guarda livros
o segundo o ladrão que nos priva da chuva...
tudo tão imediato
o autor foca-se no futuro
há quem diga que o porreirismo pode ser penalizado
há quem insista num jogo traçado a quatro
aqui tão longe do bando dos quatro
adiantados recusam esclarecer o assunto que lhes prende a atenção
nem o filme do desassossego os cativa...
por segundos ficam parados nas cenas de sexo fingido...
a transfiguração do real,
se os transformasse em abóboras, em pevides e em gaitas-de-foles

há quem diga que já não há língua
nem futuro
há no entanto um chinês que oferece meloas aos recém-casados
sorrisos, parvoíces, lérias, tretas...
e um pouco de canábis por legalizar...

 

4.12.17

A lua fingida de Mário Centeno

Esta lua lá onde brilhava tinha melhor aspecto.

Creio que, neste dia, esta lua fingida representa bem o destino do Mário Centeno à frente do EUROGRUPO...

A avenida é larga, o aeroporto é ali mesmo ao lado... e a vaidade lusa inesgotável, sem esquecer a inveja que, também, vai fazendo o seu caminho.

De qualquer modo, tenho uma pequena dúvida: - E se a GIRINGONÇA se escangalha?

 

3.12.17

É tudo a fingir...

É tudo a fingir, embora cheios de convicção... A arca esvazia-se do pinheiro, das pinhas, dos sininhos e até um pai natal ousa pôr o gorro de fora... Já não há burro, nem vaquinha... e a palhinha levou-a a Troika... O menino jaz distante de sua mãe, que quanto ao pai não se sabe por anda nem mesmo se existe... só na Câmara Municipal de Lisboa há dinheiro a rodos para distribuir pelos compadres e pelas comadres...  e depois há aquela luz toda que não pode vir de Belém mesmo que lá more um novo Apolo, que, por estes dias, deve andar a ler o Orçamento onde parece haver dinheiro para tudo... o dinheiro dos reis magos, certamente... 

 

2.12.17

Nesta hora de penumbra fingida

A noite cai como se tal fosse possível, o sol deixa-nos sorrateiramente, cessando de incomodar as mentes mais cinzentas, embora frequentemente estas prefiram a torreira solar...

Hesito. Talvez eu quisesse dizer mentes grisalhas, mas a verdade é que as mentes não podem ser nem cinzentas nem grisalhas. As cabeças é que vão ficando grisalhas... e supostamente, as mentes vivem nas cabeças, não se sabe bem se sob forma de uma qualquer substância se sob forma de ideia... o que me traz nova preocupação: será que a ideia poderá ter forma?

Até agora, para além das velas dos moinhos de D. Quixote, só as criaturas inventadas por Fernando Pessoa é que vão ganhando tal forma e substância que há quem as veja nas esquinas e nos cais de Lisboa - há mesmo as que já apanharam o elétrico e foram vistas a falar com outras criaturas estranhas, vindas desse país longínquo a que costumamos chamar estrangeiro...

Nesta hora de penumbra fingida, não me importava nada de, simplesmente, estar de chegada ou de partida desse país estrangeiro, onde as mentes serão certamente menos cinzentas... 

 

1.12.17

Apesar da data

Ainda há quem não consiga escrever sobre a notícia de última hora. A reação, por motivos que, agora, não vale a pena escrutinar, não se materializa em signos que possam ser lidos de imediato... O sentimento pode ser tão contraditório que o pesadelo se autonomiza do sujeito e, qual fantasma, fica a rondar por tempo indeterminado... Mais vale que o rio siga o seu curso, indiferente à vaidade humana...

Infelizmente, não é o que acontece na maioria das situações - parece que todo o estímulo exige uma resposta imediata, mesmo que sobre o assunto nada se saiba... Melhor seria que se assumisse o desconhecimento e, sobretudo, que houvesse disposição para gastar algum tempo a investigar...

(Enquanto uns dão vivas a Portugal na Praça dos Restauradores, eu esforço-me por destrinçar as calinadas que se amontoam sob os meus olhos...)

 

30.11.17

Encómios da Hora

O vento e o frio argumentam melhor do que eu. Impassíveis, ouvem as exigências e depois movem-se sorrateiramente, sorrindo dos planos e dos seus autores.

Eu, pelo contrário, reajo - alerto para as discrepâncias de comportamento, comparo o dia de ontem com o de hoje, sem qualquer sucesso. A não ser, refrear o argumento, impondo uma regra - Não sejas burro!

Afinal, tudo o que fora exigido foi derrotado pelo tempo... 

Entretanto, Átropos segue inexorável: - desta vez, foi o Zé Pedro (dos Xutos & Pontapés) ... e a nação mergulha em encómios da Hora...

 

29.11.17

A notícia atravessa-se

Pode ser que o frio justifique o adiamento, só que o esquecimento provocado pela manhã passada no cabeleireiro é preocupante... de qualquer modo, o problema parece ser o plural de 'ancião' - anciãos, anciões e anciães... Por outro lado, o mostrador do smartphone está transformado num campo de batalha em que os ícones são varridos sem apelo nem agravo.

A meio da tarde, a notícia atravessa-se - Belmiro de Azevedo morreu aos 79 anos. De súbito, nas televisões, os comentadores elogiam-lhe o espírito empreendedor, o desprezo pela classe política...

A pulso, enriqueceu, tornou-se um dos homens mais ricos de um dos países mais pobres da Europa, só que Átropos não distingue a riqueza da pobreza humana...

De manhã, a mesma substância de que o raciocínio anda arredio...

Entretanto, a viagem a Budapeste esfumou.se. Há pulsões que deveriam ser interditas! Até porque ficam caras...

 

28.11.17

Se andasse para trás

... confirmava se a gabardine que já foi minha está em condições de suportar o frio de amanhã que a chuva essa já estará de partida...

verificava se 50 euros, em numerário, serão suficientes para pagar a pintura do cabelo e outras alfaias achinesadas que irremediavelmente se aprestam a saturar-me a casa...

voltava a retirar o automóvel do pátio assombrado por viaturas dimensionadas para as grandes avenidas e precipitava-me para a boca do Metro de Moscavide...

enfrentava a embalagem de carne picada e transformava-a num esparguete à minha moda de que ninguém se queixa, provavelmente excesso de educação....

regressava ao pacote de testes, ordenava-os, classificava a primeira pergunta do I grupo e o II grupo, num critério absurdo, mas de quem está a apalpar terreno deveras conhecido, embora aqui e ali surja uma surpresa - ou será uma esperteza...

espreitava o Facebook a verificar se em Hamburgo a vida decorre sem sobressaltos - chove e a temperatura continua a baixar... e a senhora Merkel andas às voltas com um Governo improvável - quem diria que a Germânia regressava ao tempo dos godos...

consultava o OGE 2018, para me assegurar que para o ano a minha situação laboral e financeira irá agravar-se, ao contrário do que apregoam as forças esquerdistas que pensam que sem pagar aos credores é possível penalizá-los...

explicava pacientemente que o bulício de Bernardo Soares é diferente do de Cesário Verde e que vale a penha saber-lhe o significado e que quando o semi-heterónimo se quer coevo do Poeta da cidade, ele se está a imaginar contemporâneo, mesmo que o meu interlocutor também necessite de perceber que eu e ele somos contemporâneos porque habitamos o mesmo tempo...

ou, então, aproveitava para elucidar que a angústia é, afinal, a expressão de um medo (phobos) sem objeto e que vive paredes-meias com a ansiedade... e talvez, assim, alguém compreendesse que a angústia é um luxo relativamente recente - há quem diga que surgiu nos finais do séc. XVIII...

e, claro, se andasse para trás, talvez, em vez de fazer o caminho das Olaias, tivesse preferido a Rotunda do Relógio - que ele são vários... e eu sou só um...

 

27.11.17

The best!

Começa por perguntar as horas.

Como se o silêncio o perturbasse, passa a mão pelo cabelo, e pergunta pelas cotações...

Volta a perguntar as horas... para segundos mais tarde, se afirmar como ' the best', prometendo obter a nota máxima...

À direita, procura cumplicidade na confirmação das respostas...

A colega da frente irrita-se com a verborreia pré-verbal do hiperativo postiço; os restantes sorriem como se nada houvesse a fazer...

Regressa às horas, como se quisesse confirmar que o tempo parara e pergunta se lhe concedo mais tempo...

Pergunta inútil, pois não sou o dono do tempo...

Entretanto, mergulha no enunciado... 

 

26.11.17

'the new art fest' 17... no Antigo Picadeiro do Colégio dos Nobres

Antes que se fizesse tarde, lá fui visitar 'the new art fest' 17, e não me foi fácil descortinar o vídeo Linha de Código 2016/2017 de Jorge Castanho e Alexandre Barão, cuja arte não sou capaz de apreciar, apesar do belo efeito estético, mas que, reconheço, souberam aproveitar o espaço oferecido pelas "Caves" do Liceu Camões - ou estarei enganado?

Esta dificuldade de apreciação deve-se à minha clara iliteracia neste tipo de performances, pois sinto-me incapaz de distinguir se elas são apenas 'presenças' efémeras ou se abrem portas para universos a que deixei (culpa minha!) de ter acesso...

No geral, foi com alguma perplexidade que circulei por entre tão estranhas criaturas, ficando um pouco preocupado com a antropóloga (Maria Lopes, 'O Campo da Consciência') que só tenciona apresentar o resultado da sua investigação em 2029; por outro lado, os robôs do Tiago Rorke são bem mais pacientes do que eu, pois conseguem completar um jogo de batalha naval em 4 dias... Ao observar aquela caneta, pensei que ela bem poderia revolucionar o fabrico de tapetes de Arraiolos - Quem sabe?

Espero que "os criadores" me perdoem esta cada vez mais acentuada "grafomania".

 

25.11.17

JI-GEUM-EUN-MAT-GO-GEU-DDAE-NEYN-TEUL-LI-DA

double bill is a theatre or cinema performance in which there are two shows on the programme.  

JI-GEUM-EUN-MAT-GO-GEU-DDAE-NEYN-TEUL-LI-DA é o título do filme sul-coreano de HONG SANG-SOO (2015).

Em tradução portuguesa, SÍTIO CERTO, HISTÓRIA ERRADA (na tradução inglesa RIGT NOW, WRONG THEN).

De regresso à Cinemateca, pensei inicialmente que o filme poderia documentar a Coreia do Sul, mas não - este (duplo) filme, de forma minimalista, a partir da mesma situação, recria dois possíveis narrativos suportados por diálogos, por vezes à beira do non-sens, mas que sugerem um tom de paródia quer dos estereótipos sul-coreanos quer dos estereótipos cinematográficos...

Neste caso, o desconhecimento da língua (e da cultura) em que o filme se desenvolve limitou-me a compreensão da intenção de Hong San-Soo...

 

24.11.17

Ao abandono, o docente

A ideia de que a Escola é, em si, uma comunidade faz parte do discurso político e, como tal, a Lei reconhece-lhe competência para desenhar o Projeto Educativo que deveria ser singular...

Diga-se, de passagem, que essa competência é mitigada, pois o Estado continua a interferir em matérias essenciais como o estatuto disciplinar do aluno, o papel do meio envolvente e, sobretudo, dos pais e encarregados de educação. Para o efeito, nos últimos anos reforçou as competências do Conselho Geral e transformou o Conselho Pedagógico num órgão de consulta do Diretor...

Na verdade, o Projeto Educativo (e a sua extensão, o Regulamento Interno) transformam a Escola numa "pequena república", só que lidos atentamente, verifica-se que a Escola Portuguesa ignora os seus funcionários, designadamente os docentes...

Ignora o seu estado físico e psicológico, ignora o efeito da pressão a que diariamente são submetidos, ignora o seu envelhecimento, não havendo, nas escolas, nenhum gabinete de acompanhamento que os possa ajudar a superar as dificuldades, sem os atirar para o consultório psiquiátrico ou para um ensimesmamento aviltante...

Caruma agradece

Ontem, finalmente, choveu, e, quando tal acontece, Caruma agradece...

Agora, está a chover. Esperemos que continue e que não comecemos a queixarmo-nos.

 

22.11.17

Todos os dias de cada ano, os professores são postos à prova...

Todos os dias surgem comentários desagradáveis sobre os professores, como se eles fizessem parte de um grupo de parasitas responsável pela ruína do país ... 

Não sei se os, agora, comentadores não são aqueles mesmos meninos / meninas que, na sala de aula, raramente prestavam atenção à matéria em estudo, preferindo a conversa entre pares...

Não sei se os, agora, comentadores não são aqueles mesmos meninos / meninas que, na sala de aula, tudo faziam para copiar pelo colega mais aplicado - não só os testes mas, até, os trabalhos de casa...

Não sei se os, agora, comentadores não são aqueles mesmos meninos / meninas sempre prontos a pôr-se em bicos de pés, acusando os professores de incompetência, à menor falha, lapso, sinal de cansaço...

Não sei se os, agora, comentadores não são aqueles mesmos meninos / meninas que sempre confundiram a sala de aula com o pátio da escola...

Não sei se os, agora, comentadores não são aqueles mesmos meninos / meninas para quem a vida escolar mais não era que uma forma de passar o tempo, pois o futuro não dependeria do sucesso escolar nem da interiorização de valores, como a responsabilidade e o respeito - que não a obediência sabuja...

No entanto, desconfio que a maioria dos críticos dos professores integra o grande grupo de parasitas que, nas últimas décadas, aprendeu a roubar os portugueses... e que eu saiba não foram os professores que lhes ensinaram tal arte...Os professores não são nem uma seita nem uma raça e, em muitíssimos casos, são as maiores vítimas da erosão da sociedade.
Diariamente, os professores são postos à prova, sofrendo danos físicos e psicológicos que ninguém se preocupa em avaliar... Todos os dias de cada ano... 

 

21.11.17

Dilema

Que Ela esbracejava, já sabia... Quanto ao resto, nunca consegui descrevê-la. Só agora percebi que ela tem cabeça e pernas...

Uma cabeça que afirma perentoriamente: A HISTÓRIA NÃO VOLTA PARA TRÁS!

Duas pernas que replicam: ENQUANTO NÃO RECUARMOS NÃO AVANÇAMOS! (para o abismo) ...

Ora se a cabeça avança e as pernas recuam, como é que Ela vai aprovar o orçamento para 2018?

 

20.11.17

Parece-me bem!

Amesterdão recebe Agência Europeia do Medicamento.

Parece-me bem! Liberalizadas as drogas leves, quem melhor para gerir as restantes drogas?

 

 

 

 

19.11.17

MENTIRA

"Segundo a mesma fonte, dos cerca de 99 mil professores que existem no Ministério da Educação, cerca de 22.300 atingiriam o topo da carreira nessa situação, passando assim ter uma remuneração base da ordem dos 3.500 euros brutos. A contagem do tempo de serviço entre 2011 e 2017 resultaria ainda num aumento salarial anual de 15 mil euros para cerca de seis mil professores, adiantou."

- Qual é o professor dos ensinos básico e secundário que, no topo da carreira, recebe aproximadamente 3.500 euros brutos? É preciso explicar ao senhor ministro das finanças que os professores foram excluídos do 10º escalão e nem nesse escalão se atinge esse valor. A carreira fecha no 9º escalão!

Há muitos professores, que já deveriam estar aposentados, e que já lá estiveram... e depois foram colocados no 9º... (são as manobras de um regime intoxicado por falsas verdades...)

É um pouco como o lugar-comum de que os professores não são avaliados. MENTIRA. Ao longo dos anos, a avaliação tornou-se uma FARSA por culpa de Governos e de Sindicatos... Mas desperdiçou-se muito tempo com ela e muitos professores foram enganados. 

Não é só nos BANCOS que há ENGANADOS e ROUBADOS, também os há nos Bancos das Escolas! E muitos!

 

18.11.17

Exigir é fácil e prometer também não é difícil

Exigir é fácil, sobretudo, porque se avizinham eleições... e prometer também não é difícil quando se tem como objetivo ganhá-las... O problema é que o dinheiro é escasso...

Já aqui o referi várias vezes: governar implica uma estratégia global. Por exemplo, todo o sistema educativo português necessita de ser revisto.

Há, pelo menos, 20 anos que a tecnologia fornece as ferramentas necessárias a uma reformulação do parque escolar, à redefinição da matriz curricular e, particularmente, à reforma das metodologias de ensino... só que continuadamente duplicamos os recursos e os resultados, apesar do que certos organismos internacionais apregoam, são um desastre... Claro que as estatísticas estão contra mim!

Falta visão para acabar com as velhas rotinas e com os parasitas.

 

 

 

 

 

17.11.17

Não sei se sorria

Hoje perguntaram-me se o Virgílio era o Vergílio (Ferreira) e quem era o Ésquilo... e por que motivo os Futuristas se chamavam futuristas e faziam a apologia do Momento (do Presente), sem esquecer essa maldita ideia de que «a guerra é a única higiene do mundo» Isto da referência é uma chatice - Virgílio, autor da Eneida, modelo para o Camões épico? A referência é tão ou mais assustadora que a robótica, essas máquinas infernais devoradoras de empregos... bem mais perfeitas do que o próprio homem... Ah, ser completo como uma máquina! 

Esmagados pela inteligência artificial, sem querer entender a raiz humana dessa inteligência, parecemos os escudeiros, os almocreves ou portageiros de outros tempos, incapazes de compreender que, afinal, os maiores derrotados foram os cavalos e não os burros - estes espreitam ironicamente pela janela o repasto dos porcos humanoides.

Talvez, aqui e ali, ainda haja alguma coerência - S. Paulo bem dizia aos Coríntios que o seu mister não era batizar mas evangelizar... Não sei se o evangelista teve sucesso... no meu caso, a inutilidade das minhas palavras está garantida, mesmo que esta não passe de um desafio ao Útil...

 

16.11.17

Um sorriso...

Há situações que nos exigem um tal domínio das emoções que a razão se torna rude para além daquilo que a regra social exige. A tensão sobe ao ponto de se derramar sem controlo.

Há, no entanto, ao anoitecer, um sorriso que tudo compensa. E há, sobretudo, a esperança...

Para trás, fica o estacionamento a céu aberto, a 1 euro / hora, numa avenida que dizem ser espanhola... e talvez venha a ficar a indiferença médica dos últimos quinze anos...

O que não fica para trás, são os conselhos de quem há muito percebera que o acompanhamento médico não seria o mais adequado.

 

15.11.17

A falha

A luta vai solene.

O ministro hospitalizado não foi preparado para a batalha... A mim falta-me o espírito corporativo e a genica paroquial. 

 

A leitura global diz-me que a luta é justa, mas que o país está cada vez mais desigual. E assim irá continuar, apesar das pequeníssimas vitórias de Pirro.

Entretanto, por aqui, depois dos incêndios, a seca... Já só falta a neve! 

 

13.11.17

Não abdicar

Não recuar.
Não aceitar.
Não pactuar.

Se cair, levantar-se e continuar a andar.
Andar sempre, mesmo se a sombra alastrar.

Não esperar o barqueiro sombrio...nem entrar no rio triste.
Não abdicar
                   da razão a troco de uma qualquer verdade.

 

12.11.17

Um psicopata escreve o quê?

Um psicopata não assumido escreve sobre o quê?

Em primeiro lugar, há psicopatas que simplesmente não escrevem, embora falem pelos cotovelos sobre tudo o que imaginam ser a realidade (deles), porque a dos outros, essa não existe.

Depois há os psicopatas cuja escrita é o depósito de todos os rancores e de todas as invejas - escolhem um alvo, viram-no do avesso e não descansam enquanto a caricatura não assoma ao canto da página. Há até quem vá ao ponto de caricaturar Deus, esse invisível e indizível ser que assombra a mente das criaturas e, em particular, dos psicopatas... nestes sob a máscara do Diabo.

Há também aqueles psicopatas que, de tão livres, eliminam todo o tipo de censura, porque estão convencidos de que a verdade vive oculta para lá da consciência e dos padrões de cultura, caindo assim numa escrita automática que lhes traz de volta a dignidade, para não dizer a divindade... (Já estou a ver os dadaístas e todos os divinos surrealistas!) 

Em conclusão, ainda não é hoje que abro a torneira até porque se o fizesse corria o risco de desatar a abraçar tudo quanto mexesse... mas a razão diz-me "comporta-te, homem, não é porque tiveste um pai e um padrinho austeros que vais agora inundar o país de afetos, mesmo se o teu mandato é de seca - ou uma seca..."

 

 

10.11.17

Os psicopatas gostam de escrever

«Os psicopatas denunciam mais facilmente o seu delírio, escrevendo do que falando.» Luís Cebola, Psiquiatria Clínica e Forense, pág. 146

Para demonstrar o carácter esquizofrénico da obra de Fernando Pessoa, o monárquico Mário Saraiva (O Caso Clínico...) arranca este argumento às páginas de Luís Cebola, só que basta uma consulta do verbete da Wikipédia para deduzir que dificilmente o antigo diretor clínico da Casa do Telhal (1911-1948) subscreveria a ideia de que Fernando Pessoa fosse um psicopata...

De qualquer modo, fico avisado. Vou escrever cada vez menos. Se não cumprir é porque a psicopatia tomou conta da mim... Ainda se escrevesse alguma coisa que se aproveitasse!

 

9.11.17

Relíquias

Nem crucifixo, nem presidente do conselho, nem presidente da república... Apenas uma secretária e um estrado devorados pelo caruncho... até a cadeira foi substituída... relíquias...

Ora relíquias só nas igrejas e nem em todas!

Apenas um argumento em defesa da preservação do mobiliário acarinhado pelo Estado Novo: quando subo ao estrado, a minha visão torna-se mais abrangente e mais disciplinadora, para não dizer autoritária... a nostalgia da cátedra...

 

8.11.17

O essencial

«O essencial é saber ver; 
Saber ver sem estar a pensar;
Saber ver quando se vê.
E nem sequer pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.»
 Alberto Caeiro

Espero que ninguém se tenha precipitado e concluído que eu possa considerar Fernando Pessoa como um bluff.

Se assim fosse, nós também o seríamos, porque, no essencial, o homem pessoano é uma representação perfeita da deriva a que o homem do século XX se viu condenado ao querer romper com a velha ordem, muito por força do progresso científico e tecnológico...

Há, por seu turno, uma outra questão que mereceria ser analisada: o impacto da poesia de Fernando Pessoa na formação pessoal dos adolescentes.

 

7.11.17

"É imperioso banir da Cultura portuguesa o bluff Fernando Pessoa"

«Para a dignidade da Cultura portuguesa, é imperioso banir da literatura o bluff Fernando Pessoa e remeter o poeta ao seu real valor, que o tem e lhe basta.» Mário Saraiva, O Caso Clínico de Fernando Pessoa, pág, 164, Universitária editora

Não fosse um avô editor ter tido o cuidado de me fazer chegar às mãos tão precioso estudo, e eu teria continuado a ver em Fernando Pessoa a expressão de um mundo ávido por compreender a inquietação que o minava, depois que o Positivismo se revelara incapaz de determinar a Lei que tudo regeria... Num momento em que o Todo era definido como mais do que a soma das partes, Fernando Pessoa, num esforço titânico, desenhava caminhos que ia percorrendo, de preferência em simultâneo, embora soubesse desde início que o resultado o deixaria num estado de frustração que só uma boa dose de autodomínio lhe atenuaria a impotência. A impotência do ser.

E, assim, os caminhos criados são veredas alternativas ao desespero da humanidade. A arte como alternativa à impotência do ser... e não a expressão da impotência do homem que sofreria de hebefrenia mista...

Doravante, vejo-me obrigado a desconfiar se a leitura da obra de pessoana não será um veneno, irresponsavelmente, dado a ingerir à juventude portuguesa, contribuindo desse modo para o definitivo enterro da alma lusa...

Nota: A esquizofrenia hebefrénica é uma forma de esquizofrenia caracterizada pela presença proeminente de uma perturbação dos afetos. As ideias delirantes e as alucinações são fugazes e fragmentárias; o comportamento é irresponsável e imprevisível. Existem frequentemente maneirismos. O afeto é superficial e inapropriado. O pensamento é desorganizado; e o discurso, incoerente. Há uma tendência ao isolamento social. Geralmente, o prognóstico é desfavorável devido ao rápido desenvolvimento de sintomas "negativos", particularmente um embotamento do afeto perda da volição. (Wikipédia)

 

6.11.17

Não queremos obedecer...

Não queremos obedecer, mas somos treinados para deixar de pensar. Agora, tornou-se moda definir aprendizagens essenciais... e lá vamos nós identificar conteúdos transversais, desenhar estratégias jesuíticas encorpadas de iniciativa e de criatividade... recriar o mundo.

Podemos não saber que um jesuíta é um cristão e que, como tal, serve uma doutrina milenar que nos mata a razão e nos transforma em servos obedientes de um deus ausente... Já nem sequer somos capazes de olhar para a palavra e identificar a raiz ...

É como aquelas árvores que são apenas troncos suspensos do fungo que as corrói...

 

5.11.17

O outono do inverno

Se o dia de hoje fosse diferente dos anteriores é que seria de estranhar. Voltou o Sol, embora mais tímido e cá em casa abriu a época oficial de inverno. 

Ricardo Reis ensina que, na verdade, a estação é o outono do inverno, mas esse não passa de um esquizoide que, apesar de recusar o passado e o futuro, se vestiu de uma cultura vetusta e cansativa - Para quê aprender grego e latim, estudar os clássicos, imitar Anacreonte, Píndaro e Horácio, e sobretudo, apostar num epicurismo triste e decadente?

O melhor mesmo é o silêncio, mas não sei o que é feito da moira Átropos... O óbolo já está preparado...

 

4.11.17

Na arca de Fernando Pessoa mora um homem menor

«Se pretendêssemos terminar com uma frase a propósito, diríamos que a heteronímia de Fernando Pessoa se condensa numa palavra: esquizofrenia.»

«Todavia que as extremas do campo das letras, e do campo da medicina sejam respeitadas nas suas legitimidades. Esta condição é absolutamente imprescindível para a leitura correta e inteligente dos escritos pessoanos

     Mário Saraiva, O caso clínico de Fernando Pessoa, Universitária editora, 1990

De acordo com Mário Saraiva, a arca deveria ter ficado por abrir... porque lá dentro se encontra um homem menor, paranoico e esquizofrénico

De acordo com Mário Saraiva, só Mensagem dignifica o autor.

De acordo com Mário Saraiva, os estudiosos que proponham qualquer interpretação da obra que não leve em conta a demência, a despersonalização esquizofrénica de Fernando Pessoa, não são pessoas sérias...

Eu, por mim, já proibi os meus alunos de irem além da interpretação dos textos, esburgando-a de qualquer avaliação clínica do Poeta... Caso contrário, proponho que se retire a Odisseia do cânone ocidental, pois nada sei de Homero...

 

3.11.17

Sempre que me refiro ao Cardeal...

Sempre que me refiro ao Cardeal faz-se silêncio. Não entendo. Afinal, sua Eminência não tem o dever de pedir (ordenar) aos presbíteros que movam o olhar dos crentes para as nuvens cinzentas que atravessam os céus! E que orem para que as águas divinas se abatam sobre nós, ímpios incendiários que nunca aprendemos o verdadeiro significado da sarça ardente...

Creio que o Cardeal da sua Torre altaneira tem uma visão distinta da dos meteorologistas, pois, como é sabido, estes enganam-se facilmente...

Talvez o silêncio tenha origem no facto de ser um daqueles ímpios que nunca compreendeu nem o pastor nem o rebanho. E não é por falta de aplicação!

Aborrecem-me os cardeais que insistem em recorrer a receitas antigas, como tem vindo a ocorrer com o novíssimo António Damásio que, sem qualquer tipo de reverência, vem citando Fernando Pessoa, sem lhe mencionar a graça...

 

2.11.17

O Poder e a chuva

Estou a pensar na infalibilidade de certos sacerdotes, mal rogaram aos crentes que começassem a rezar, desatou a chover. Abençoados sejam e que a chuva se mantenha!

Em certos romances de Pepetela, a sorte do Rei joga-se na sua capacidade de fazer chover. Os conselheiros do Rei esclarecem-no ou confundem-no quanto à probabilidade de os céus se abrirem nem que seja em pequenos charcos... E claro quando a chuva cai, é a festa no povoado e a consagração do monarca...

Em Portugal, morto o Rei, nem o Presidente nem o Primeiro-Ministro se revelam capazes de fazer chover. Deve ser por isso que o Presidente aproveita todas as lágrimas do povo, enquanto o Primeiro-Ministro recolhe ao Gabinete, temeroso que o poder lhe escape definitivamente...

No entanto, na sombra, move-se o Cardeal, que não pode perder a oportunidade de mostrar que a chuva é de origem divina,... e eis que a chuva abandona o Céu e se derrama sobre a terra portuguesa...

Que a bênção cardinalícia não nos abandone!

 

1.11.17

Em dia de Todos os Santos

Há verbos que utilizamos sem lhes pesar o sentido. São tão banais que nem os vemos nem os ouvimos, mas eles encontram-se em cada eixo verbal...

E o simples facto de os enunciarmos define o modo como cada um de nós se relaciona com o predicado, isto é, com o ato enunciativo (a modalidade)

Vejamos, os verbos dever querer, por mais vinculativos que possam ser, apontam para a virtualidade - nunca sabemos se o que desejamos, de forma mais ou menos coerciva, será realizado... Os verbos poder e saber, cada vez mais postos em causa, continuam a marcar a atualidade. Os verbos ser fazer dão corpo à realidade... o problema é que dificilmente resolvemos o problema da identidade e do sentido da ação...

Como é que em dia de Todos os Santos, começo a perorar sobre modalidades, que não as desportivas? Pelo simples motivo que um santo menor, mas com vontade de ser maior - Rui Santos - acaba de dizer em voz alta aquilo que é sonho de muitas vozes caladas: Pode estar em causa a descida de divisão do Benfica...

Pode marca a atualidade, marca a vontade justiceira de Rui Santos, mas está longe de corresponder à realidade.

 

30.10.17

Não vou arregaçar as mangas!

Não vou arregaçar as mangas! Já ando com elas arregaçadas há demasiado tempo... Agora que até a Igreja pede que chova é que o Presidente quer que arregacemos as mangas, o homem parece andar de candeias às avessas...

Não sei se a Igreja ainda organiza retiros, mas seria bom que o fizesse e convidasse o senhor Presidente, não para perorar, mas para meditar em silêncio...

No caso, talvez chovesse e eu me visse obrigado a arregaçar as calças.

Entretanto, parece que os revolucionários catalães já andam a tratar do estatuto de refugiados políticos em Bruxelas. Esses nem necessitaram de arregaçar as mangas... Em Bruxelas, quem diria! Ainda se fosse na Coreia do Norte!

 

29.10.17

E se o edifício do Liceu Camões vier abaixo...

O Diretor teme que as obras só tenham início em 2019. 

Eu temo que o OGE 2018 esqueça mais uma vez o edifício do Liceu Camões. Provavelmente, lá constará uma verba de 350.000 euros para estudos e projetos! Há quantos anos andamos em estudos e projetos? Quanto é que já foi gasto em estudos e projetos? Há sempre alguém a ganhar com este tipo de impasse!

E se, entretanto, o edifício vier abaixo com inevitáveis perdas? Lá teremos a ladainha costumeira. De pouco servirá, então, apurar responsabilidades, indemnizar quem de direito...

A responsabilidade é de ontem, é de hoje. Espero que não venham a responsabilizar o arquiteto Ventura Terra, pois, ao contrário do que pensa o atual Presidente, a culpa não é do país, é do estado que não cuida do nosso património...

E se os governantes não estão à altura, o melhor é dispensá-los...

 

28.10.17

"Fraternidade" federal

Embora haja quem insista que é necessário defender a identidade cultural, a verdade é que a cultura sempre foi de quem dispõe de ócio bastante, vivendo à custa do trabalho alheio...

A cultura, por mais que se valorize a sua dimensão popular, é um feudo dos ricos, apesar de, ultimamente, muitos revelarem um grau elevado de ignorância...

Um homem culto acaba de defender que a Espanha deveria criar um estado federal de modo a estancar a vontade independentista - leia-se a vontade do patronato rico, da alta burguesia e de uma comunicação social ávida de sangue...

O povo, claro, também sai à rua. Mas esse, já se sabe, ama a festa da rua. Só mais tarde é que se apercebe que a sopa continua a ser a mesma, do lado de fora do castelo...

Esse homem culto esqueceu-se, no entanto, que a haver um estado federal na Península Ibérica, nem a identidade cultural nos salvaria da "fraternidade" federal...

Cada um sabe de si! Ou talvez não!

De facto, a vassalagem dos últimos dias a Castela parece-me excessiva...

 

27.10.17

Equânime / assossec

«Aguardo, equânime, o que não conheço -

Meu futuro e o de tudo.

No fim tudo será silêncio, salvo

Onde o mar banhar nada

Ricardo Reis


Uns estão eufóricos com a nova República da Catalunha, outros, tristes... Quantos? Não sei. Uns estão eufóricos com o novo Estado Catalão, outros, tristes... Quantos? Não sei.

Só sei que a República proclama-se, e simbolicamente é expressão de atualidade. Quanto ao novo Estado, será mais difícil construí-lo... e há por aí tantos Estados falhados, a começar pelo Português.

Afinal, no momento, o Estado Catalão é expressão de virtualidade...

Entretanto, surgiram dezenas de comentadores a apelar ao respeito pela Lei. Qual?

- No fim tudo será silêncio, salvo / Onde o mar banhar nada. 

 

26.10.17

Presentismo e absentismo

La expresión presentismo laboral, que define el hecho de pasar más horas en el lugar de trabajo de las exigidas por la jornada laboral, en muchos casos por temor a perder el empleo...
O número de baixas em Portugal é assustador, embora ninguém conheça a sua verdadeira dimensão... Porquê? Consta até que o Estado quer poupar 60 milhões de euros, em 2018, reduzindo significativamente o número de baixas fraudulentas. Mas como?

Por outro lado, há quem permaneça mais horas no local de trabalho do que as contratualizadas, mas pouco ou nada fazendo. Não sei se por moto próprio se por decisão das chefias... Ou será por medo de perder o emprego?

De qualquer modo, gostaria de conhecer a verdadeira motivação de Jean P. Um funcionário de um supermercado Lidl em Barcelona foi despedido por trabalhar horas... a mais. Jean P. foi dispensado por que entrava mais cedo ao serviço, para preparar a loja para a abertura, e violou as normas da companhia.

Segundo a investigação da empresa alemã, às vezes Jean chegava ao local uma hora antes do relógio de ponto acordar. "Fazia encomendas, mudavas preços, repunha prateleiras inteiras de artigos", lê-se na carta de despedimento a que o jornal "El País" faz referência.

Durante uns dias em abril deste ano, a empresa observou o comportamento de Jean. Através das imagens de videovigilância, concluiu que chegava à loja entre "49 a 87 minutos" antes da hora para trabalhar, sem registar o tempo de trabalho fora de horas.

Este comportamento é contrário à norma "cada minuto que se trabalha, paga-se e cada minuto trabalhado deve ser registado", argumenta a empresa na carta de despedimento, fundamentada em "incumprimentos laborais graves".

Pelo que me diz respeito, vou passar estar mais atento à minha tendência para passar mais tempo no local de trabalho do que aquele a que legalmente estou obrigado e, sobretudo, vou começar a cronometrar o tempo que gasto em casa com a atividade profissional...

 

25.10.17

O piolho

Antigamente, havia quem procurasse deliberadamente o piolho, não porque não houvesse mais lugares na sala de cinema, mas porque lá certas liberdades eram toleradas...

Hoje, voltei a lembrar-me do piolho ao verificar que certos jovens avançam decididamente para a última fila da sala de aula... Do que lá se passa, o melhor é não averiguar. 

Tal como outrora, estes jovens não gostam de ser incomodados e não sentem qualquer remorso se incomodarem os restantes...

 

24.10.17

Quão diferente seria...

O que me surpreende ande não é que o CDS apresente uma moção de censura ao Governo ou que Costa a dar emprego aos amigos, a mim, o que me surpreende é que, ao abrir a porta de um prédio na Rua Tomás Ribeiro, Lisboa, esperando que entrem três pessoas, uma delas tenha parado diante de mim e me tenha perguntado se eu habito naquele prédio e se não me chamo Manuel Cabeleira Gomes - assim, de súbito, exclamando para a filha: - Olha, este senhor foi meu professor há 40 anos, em Mafra! Foi meu professor de Literatura Portuguesa!

Olhei-a e procurei, no seu rosto de senhora de mais de 50 anos, traços da adolescente de antanho e fiquei com a sensação que conseguia recordá-la, jovem adolescente, atenta e, sobretudo, com uma enorme vontade de aprender...

E fiquei a pensar naqueles jovens de hoje que, desatentos e desinteressados, não chegam a saber o nome dos professores, quanto mais o meu!

Quão diferente seria, profissionalmente falando, para deixar impressão tão duradoira nos jovens daquele tempo! Que pena que eu tenho que a minha memória não guarde, pelo menos, os rostos de todos aqueles que sempre manifestaram vontade de ir mais além!

 

23.10.17

A caminhada sem girassol

Sem girassol, o meu olhar é turvo. Só vislumbro, nos rasgões que abrem para o longe, formas imperfeitas; só oiço acusações de falta de amizade, de falta de educação - na rua, o que ganham em intensidade perdem na distância dos interlocutores...

E eu caminho, caminho para distender os músculos e aliviar a tensão ou talvez o esforço por compreender não o outro, mas o modo de lidar com a depressão... Essa depressão sazonal que só quer adormecer, mas que, lá no fundo, é uma nova forma de poder... que imobiliza, que asfixia até a um ponto que só a caminhada pode combater...

 

22.10.17

Refrear e enganar

Numa manifestação realizada ontem, no Terreiro do Paço, os manifestantes aproveitaram para desatar à pancada. Pelo que vi, as forças da ordem, esforçadamente, lá os separaram... Bem sei que estas forças foram criadas para assegurar a ordem! De qualquer modo, quero crer que, nestas circunstâncias, o melhor seria deixá-los esgotar as energias, pois, um destes dias, vamos vê-los a acolitar gente manhosa que aspira a ser poder, a ser governo. E para quê?

Bernardo Soares (Fernando Pessoa) é esclarecedor:

 

«O governo assenta em duas coisas: refrear e enganar. O mal desses termos lantejoulados é que nem refreiam nem enganam. Embebedam, quando muito, e isso é outra coisa

Parece-me claro que alguém anda a desenhar um frente-a-frente entre a direita e a esquerda, em nome da chamada alternativa democrática, mas em breve será a extrema-direita a sorrir, como já está a acontecer um pouco por toda a parte... 

E como bem sabemos, a bebedeira é inimiga da memória!

 

21.10.17

Quem não sabe é que decide!

Milhões e mais milhões para compensar perdas humanas, de animais e haveres; para compensar empresas e empregados... para tudo o que estava, quase sempre, mal. E para reorganização do território, pouco se sabe...

Há por aí quem pense que basta dar uns milhares de euros às vítimas, reconstruir as casas e as fábricas, plantar uns milhares de árvores, restabelecer a luz elétrica e as comunicações, mas, infelizmente, isso é o mais fácil...

Reorganizar leva tempo, exige projetos e, sobretudo, o envolvimento de quem tem capacidade para executar. Em Portugal, há conhecimento e há empresas internacionalizadas que poderiam dispor de 15 ou 20% dos seus recursos para tal efeito... Mas não vejo que o poder político tenha lucidez suficiente para entregar tal programa de reorganização a quem sabe...

Quem não sabe é que decide!

E ainda há os abraços, os minutos de silêncio, as manifestações ora silenciosas ora espalhafatosas...

 

20.10.17

Há comportamentos que não entendo

Há comportamentos que não entendo e que já não menciono. Se ousasse escrever uma novela, talvez revelasse aquilo que certos jovens tanto procuram deixar a descoberto. Não sei se o fazem gratuitamente ou se porque alguém lhes sugeriu que essa era a técnica mais adequada à melhoria de classificações... Não creio, porém, que o objetivo seja regressar ao estado primitivo, pois os acessórios de marca nada revelam do estado vegetal inicial...

Há outros comportamentos que não entendo e que resultam de não compreender a vantagem que se possa tirar de começar tão jovem a copiar... Hoje foi um desses dias em que me vi no papel de polícia de ronda, inofensivo e com vontade de zarpar.

Mas esta minha incompreensão é um pouco artificiosa, pois sei muito bem que o sucesso está cada vez mais associado ao parasitismo...

Entretanto, acabo de me lembrar que voltei a confrontar-me, numa turma de 12º ano, com um grupinho da sueca.

 

19.10.17

Acender e deixar arder

Acender e deixar arder são dois atos indissociáveis, mesmo que os sujeitos possam ser distintos.

Apagar, só as casas se ainda sobrarem acessos e ainda houver água nos depósitos terrestres e aéreos. E depois esperar que as nuvens de fumo não reduzam a visibilidade a zero.

Com a floresta a arder, os acessos inutilizados e o céu que nem breu, só resta esperar, deixar-se filmar e contar as vítimas... e depois chafurdar na lama...

A estratégia escolhida não é de agora, é dos dias em que a gente lorpa se apoderou da governação, sem qualquer tipo de formação e que se algum grau académico possui é porque o adquiriu numa das muitas chafaricas de ensino que foram abrindo de norte a sul do país de abril...

No entanto, essa gente lorpa sempre odiou a escola, tudo fez para a vulgarizar e desclassificar... Essa gente lorpa que organiza as praxes, que alimenta as juventudes partidárias, que inferniza a vida daqueles para quem o mérito se atinge pelo trabalho e pelo estudo...

 

18.10.17

É tudo tão absurdo!

Já não consigo nem vê-los nem ouvi-los. Abrem a boca e eu desligo a TV.

Desde os noticiários aos programas de encher chouriços, é tudo tão absurdo que o zapping esgota as pilhas do comando à distância. Por vezes, até pareço o Álvares de Campos da Ode Triunfal antes do seu coração se ter quebrado sem motivo real.

E escrevo "é tudo tão absurdo" num dizer superlativo inexplicável. Se é absurdo, para quê acrescentar tão?

O absurdo não é mensurável! É ou não é, simplesmente. E o que o é, não necessita de graduação.

Por exemplo, é absurdo, para mim que não para certos políticos e gestores bancários, haver investidores que não dispõem de capitais próprios, mas que não desistem de pedir empréstimos que sabem nunca vir a amortizar...

E também é absurdo que haja investidores que não dispõem de capitais próprios, isto sem me querer pronunciar sobre o material militar que foi recuperado sem nunca ter sido roubado... 

17.10.17

Um presidente incendiário

Depois dos pirómanos, dos vampiros, das chefias incompetentes, da amnésia dos antigos governantes, da pesporrência ministerial, do fundamentalismo dos relatórios científicos, eis que acaba de se pronunciar o presidente dos afetos que, afinal, se revela um incendiário político...
De imediato, a grande maioria dos comentadores acerta o tom e dá início à época das loas....

 

16.10.17

A nau Catrineta não volta mais

Ao calcorrear o país durante muitos anos, a imagem gravada era a de uma terra diversa, rica florestalmente, embora maltratada pelo primitivismo dos seus habitantes e, sobretudo, por projetistas em busca do el dorado.

Não será difícil perceber que o empreendedorismo português, nos últimos 40 anos, não olhou a meios para capturar recursos, destruindo caminhos e linhas de água e, sobretudo, construindo vias rápidas que trouxeram consigo a desertificação.

As populações residentes, cada vez mais reduzidas, viram desaparecer a escola, o posto de correio, o mercado, a mercearia e a taberna, a agência bancária, e até as ermidas se tornaram apenas objeto de romarias estivais dos emigrantes que por alguns dias regressavam ao lugar que os viu nascer - o progresso, a austeridade, a troika, o centralismo...

Agora, já não é só o pinhal do interior, é também o de D. Dinis que é devorado pelas chamas gulosas dos abutres, políticos e seus comparsas.

Com a chegada do inverno, chegarão as marés vivas que não olharão a dunas e a edificações alcandoradas. O mar entrará terra adentro e destruirá tudo o que se lhe opuser... e depois alguém gritará que a culpa é das alterações climáticas.

A verdade é que a culpa é nossa, porque não sabemos escolher os governantes. Gostamos dos incompetentes, dos demagogos, dos manhosos, dos intriguistas e até dos corruptos, sem esquecer aqueles que, de tempos a tempos, nos dão com o pau...

 

15.10.17

A Acusação

Estive a folhear a Acusação e fiquei com a ideia de que, afinal, neste país, há pessoas com muito espírito empreendedor. 

O crescimento dos negócios é de tal ordem e tão célere que a velha de ideia de que o catolicismo sempre fora um entrave ao desenvolvimento industrial e comercial se me apagou. Vou deixar de ler o velho Antero das Causas da Decadência dos Povos Peninsulares... (Terei, entretanto, encontrado a explicação para o facto do Partido Socialista, nascido na Alemanha luterana, nunca reivindicar a herança da Geração de 70 do século anterior...)

Por outro lado, parece que o crescimento do negócio transfronteiriço é inseparável da criação de fortes laços de amizade, mesmo nos casos em que as relações terminam em divórcio. Há ainda um outro dado a não descurar, a província leva a palma à capital na sua capacidade de expansão e de internacionalização. E não menos importante, os amigos tudo fazem para promover a formação do Amigo Maior, mesmo que este ame o fausto e a prosápia...

Finalmente, começo a desconfiar que a fraternidade é tão profunda que há amigos tão poderosos que nem sequer são mencionados pela Acusação. Pelo menos, o localizador não os conhece pelo nome que lhes terá sido dado na pia batismal...

(Um destes dias, voltarei à Acusação!)

 

14.10.17

Ontem, senti pena do jornalista Vítor Gonçalves

Ontem, senti pena do jornalista Vítor Gonçalves. Senti que na sua contenção morava uma alma isenta e nobre que, de algum modo, desejava que o seu entrevistado se redimisse.

Mas era absolutamente impossível cumprir o guião. Ao entrevistado pouco interessavam as perguntas; as suas respostas apenas visavam encobrir as causas da megalomania que deixou um país do avesso...

A certa altura, apeteceu-me regressar a Platão e reler os diálogos socráticos, em que o filósofo utiliza os seus interlocutores para os rebaixar, expondo-lhes a mediocridade e a sordidez dos seus pensamentos...

Sem público, Sócrates não existiria, e é isso que explica a necessidade de controlar o entrevistador, exigindo-lhe submissão e denegrindo-o.

Afinal, o público ama a megalomania e a hipocrisia do poder...

 

12.10.17

Em dois pés

Nada avança, nem sei se não será melhor assim.

À volta é só especulação e depressão! Uns presos ao passado, outros a um futuro impossível.

Por mim, cansado de formular perguntas e de fazer reparos, creio que o melhor é desligar, e, de preferência, em dois pés, desatar a andar... seguro, no entanto, de que não irei longe.

Até que um dia lá terão de se habituar!

11.10.17

Um romance com 4000 páginas é obra!

Bem sei que uns tantos juristas desistiram do Direito para se dedicarem à Literatura. Outros, como a Literatura não mata a fome, lá foram vivendo com um pé num lado e outro no outro, mas sem grande arruído...

Hoje, ouvi, no entanto, um advogado afirmar que a acusação no "caso Marquês" não passa de fantasia, de um romance com 4000 páginas...

Um romance com 4000 páginas é obra! O que é que terá passado pela cabeça do romancista? Não vai ser fácil encontrar leitores com tempo e fôlego para fruir tal obra... 

Face a tal desconchavo, vou esperar que o engenheiro Sócrates não seja condenado por ter escolhido mal o crítico literário. 

E já, agora, recomendo que uma obra de tal dimensão seja lida longe dos meios de comunicação, dita, social, para não envenenar a populaça...

 

10.10.17

Carles Puidgemont, uma figura messiânica?

Fui ler o artigo da Wikipédia sobre Carles Puidgemont i Casamajó, e o que me desperta a atenção é a sua formação, o seu percurso profissional e político centrados na identidade cultural catalã, como se estivesse a ser preparado para a cumprir o destino nacionalista... Uma figura messiânica?

Quanto à aspiração catalã de independência, ela não me surpreende, pois se não é tão antiga como a portuguesa, anda lá perto. Como se sabe, no século XVII, a restauração da independência portuguesa só foi possível graças à subjugação da Catalunha. Se os ventos independentistas tivessem soprado de outro modo, o rumo português teria sido certamente bem diferente!

Apesar de ser defensor de uma Ibéria reunida num estado federal, creio que, do ponto de vista português, no contexto atual, a Catalunha satisfaz as condições para declarar a sua independência e de que nada serve esperar que Castela lha reconheça...

O que me preocupa, no entanto, é o messianismo de que Carles Puidgemont parece investido...

Está declarado o estado de nevoeiro - temos agora um novo conceito: A República da Catalunha suspensa...

 

 

 

 

8.10.17

Na minha vida de campónio

O sargaço e o pilado

«Minha alma é lúcida e rica
E eu sou um mar de sargaço
              Fernando Pessoa

Compreender a ideia (a metáfora) pressupõe uma experiência do leitor que, muitas vezes, este não detém.

No meu caso, por exemplo, levei algum tempo a interpretar o verso, pois nunca me passara pela cabeça que o sargaço pudesse ser uma alga utilizada como fertilizante, tal como o pilado (caranguejo voador) ...

Na minha vida de campónio, o mar era uma miragem, os adubos químicos eram caros, e o único fertilizante natural era o estrume. 

Imagine-se, agora, que eu era aprendiz de poeta e ousava escrever "Minha alma é lúcida e rica» / E eu sou uma courela de estrume

Já estou a imaginar a jovem professora, algarvia e marítima, Lídia Jorge, a dizer-me "o menino está a assassinar a poesia..."

Em tempo de agricultura biológica, será que o jovem leitor ecologista terá tempo para recuar à época em que não havia adubos químicos e, sobretudo, para se googlar e observar atentamente: 

Hoje, dispomos de tantas ferramentas que é pena que as escolas não estejam devidamente equipadas para suprir as insuficiências que nos distanciam de outrora... Por exemplo, amanhã, se quiser utilizar este post, o mais provável é que o computador tenha adormecido ou que o sinal de Internet seja tão fraco que a estratégia morra no momento... e a Escola a que me refiro, em particular, está localizada em Lisboa a 100 metros da sede da Altice - ou será da PT?

 

7.10.17

E depois há o leitor

Observemos o seguinte fragmento do Livro do Desassossego:

«Para alguns que me falam e me ouvem, sou um insensível. Sou, porém, mais sensível - creio - que a vasta maioria dos homens. O que sou, contudo, é um sensível que se conhece, e que, portanto conhece a sensibilidade.»

Nele, as emoções são objeto de fina análise, através da imaginação verbal, o que lhes dá uma poeticidade única. 

(E depois há o leitor que insiste na identificação, umas vezes, narcísica, outras vezes, malévola, sem esquecer o leitor besta, mas doutorado...)

 

6.10.17

Competência essencial

Saber interpretar é uma competência essencial. Fernando Pessoa é um dos maiores intérpretes da condição humana. Fê-lo com um rigor inexcedível. Todas as suas "máscaras" são a expressão de um espírito geométrico que permanentemente procurou desmascarar o conhecimento tido como definitivo...

Nos tempos que correm não basta escrever sobre esta convicção, é necessário saber ilustrá-la... e mesmo assim!

Vem este arrazoado a propósito da resolução, inscrita no manual Sentidos 12 (versão professor), da seguinte pergunta: - caracterize o sujeito poético, justificando a sua resposta com elementos textuais pertinentesO sujeito demonstra alguma confusão interior como se percebe pela primeira estrofe quando afirma "Tenho tanto sentimento / que é frequente persuadir-me de que sou sentimental..."

O problema é, no entanto, outro. Bastaria saber que a referência de sentimento é, à luz do conhecimento da época, distinta da de sentimental. É sentimental todo aquele que se deixa conduzir pelas sensações, pelas emoções... Por outro lado, o sentimento, embora possa ter origem na sensação, é uma realidade mental, drenada pela razão; é fruto da autoanálise e da imaginação: Mas reconheço, ao medir-me / Que tudo isso é pensamento / Que não senti afinal

Onde é que paira a confusão interior?

O que este poema demonstra é que o homem, por mais que racionalize, não tem qualquer ferramenta que lhe permita saber distinguir a vida verdadeira da vida errada, mesmo se as Ciências Humanas (Teologia, Filosofia, Psicologia...) insistem em defender que os sentidos são fonte de erro e a razão fonte de certeza, de verdade...

 

5.10.17

Preocupante

Quando tanta gente ignora o que é o sebastianismo, anda por aí um político que ainda não regressou à toca, mas que já promete voltar... E enquanto não regressa, procura-se um cordeiro que por ele se imole...

A Academia sueca diz que o Prémio Nobel de Literatura de 2017, Kazuo Ishiguro, é uma mistura de Jane Austen, Franz Kafka e de Marcel Proust... Uma mistura! Estou em crer que o António Lobo Antunes, para a Academia sueca, deve ser uma máscara do Rui Rio.

 

No dia República, também se celebra o Dia do Professor. Nunca percebi porquê. Será porque a República os trata tão mal?

Em Espanha, continua o conflito entre o estado central e uma das regiões autonómicas. Será que ambos sofrem de amnésia?

Entretanto, já há previsão do número de mortos para o caso de a Coreia do Norte insistir no confronto militar. Mais de dois milhões!

«A nossa inteligência abstrata não serve senão para fazer sistemas, ou ideias meio-sistemas, do que nos animais é estar ao sol.» Fernando Pessoa / Bernardo Soares

 

4.10.17

Da compreensão

"... uma zebra é impossível para quem não conheça mais que um burro." Fernando Pessoa / Bernardo Soares 

Nenhum burro está obrigado a reconhecer a existência das zebras. Com ou sem palas, o burro apenas procura o pasto, mesmo que tal signifique afastar-se do caminho. Na verdade, o burro nem sequer procura o espelho, só lhe interessa a cumplicidade asinina...

Se lhe passarmos a mão pelo - ai o (des)acordo ortográfico! - a resposta é imprevisível. Vai do coice ao relincho!

Perguntaram-me hoje por que motivo não escrevia um livro. Fiquei sem avançar qualquer explicação, embora tenha pensado que, talvez, por preguiça ou, sobretudo, por desencanto...

Um livro para quê? Há tantos e tão maus, e se algum revela alguma qualidade é tão maltratado.

 

3.10.17

Por lá e por cá...

Por lá, Catalunha, greve geral contra o governo central de Espanha.
Por cá, notícia de que Passos Coelho vai recolher à coelheira.

Como acordei muito cedo, não me sinto capaz de avaliar os efeitos de tais comportamentos. De qualquer modo, o Governo de Madrid revela não saber ouvir as vozes do dissídio, tal como Passos Coelho não soube, atempadamente, tirar ilações do dia em que ganhou as eleições nas urnas e as perdeu no Parlamento...

E quando assim é, por muito que os adversários cantem vitória, os prejuízos são sempre irreparáveis...

 

 

Agora, sim, toca o despertador

Acordo, mal adormeço, mas só tomo consciência disso quando olho as horas. Preocupa-me a gata, não vá acordar do sono pesado e relutante quem não deve. Adormeço.

Volto a pegar o sono, mas os miados alertam-me para o perigo que só diminui quando a bicha se aninha no meio das minhas pernas.

Adormecemos, parece que o tempo decorre sossegadamente, mas agora é o calor de outubro, a boca seca que interrompem aquilo que costuma obedecer às leis do despertador.

Dou uma olhadela à lista dos amigos facebookianos despertos e, espanto, são vários, alguns da vida real que entram no trabalho à mesma hora... O que estarão a fazer, despertos a esta hora?

Pego no Livro do Desassossego e lembro que o volume, quebrado, que folheio, nunca chegou a ser um livro nas mãos de Bernardo Soares que, de verdade, não as tinha... folhas soltas, pedaços de deambulações plasmadas em fragmentos - plasma ou talvez magma de outras vidas, também elas imaginadas....

Agora, sim, toca o despertador. Foge-me a página, insisto e registo o que não é meu nem dele:

«Ah, outro mundo, outras cousas, outra alma com que senti-las, outro pensamento com que saber dessa alma! Tudo, até o tédio, menos este esfumar comum da alma e das coisas, este desamparo azulado da indefinição de tudo!» Bernardo Soares

 

2.10.17

Há por aí muitas caçadeiras já obsoletas...

A caça ao voto já terminou. Há caçadores mais satisfeitos do que outros e muitos de mãos vazias.  Agora, é esperar que os coelhos e as perdizes voltem a crescer, caso o Céu saia da sua impassibilidade e se digne regar os campos, já que os citadinos passam bem sem chuva...

Por mim, os resultados da caçada são os possíveis, pois, em democracia, há que aceitar a decisão do povo, até porque este povo é múltiplo nos interesses e nos anseios, sendo sonho maior deixar de ser caça e passar a caçador...

Finalmente, sinto que há por aí muitas caçadeiras já obsoletas, incapazes de deixar o terreno. De qualquer modo, o tempo se encarregará de as encravar de vez...

 

1.10.17

A votos, em Portugal e na Catalunha

Lá fui votar. Cedo. Afluência reduzida.

Regressei duas horas mais tarde, mas não para votar, descansem. As filas tinham engrossado como já não via há muito. Perplexo, pus-me a pensar na causa. Será expressão de um acréscimo de responsabilidade cívica? 

Mais logo, saberemos.

Entretanto, a nação catalã não desiste de mostrar ao estado espanhol que deixou de confiar nele e este vai dando provas de que não sabe negociar. E quanto ao rei espanhol, o que será feito dele, perguntará o ditador Franco...

Creio que a opção monárquica de Franco visava assegurar a união das nações... ou seria das freguesias?

 

30.9.17

Suspendo a má razão destes últimos anos

(Não era isto que eu queria referir. Absurdo, isto sem antecedente...)

Tive, quando, por perto não tinha papel nem caneta, intenção de mostrar os cogumelos que no dia anterior tinham desabrochado no velho tronco, só que, naquele momento, apercebi-me que alguém os tinha destruído, provavelmente, à biqueirada. Ainda saquei da câmara fotográfica, mas a manhã cinzenta ou a falta de jeito devolveram-me uma imagem imprecisa - e essa imagem persiste, embora não seja editável.

Tudo surge impreciso nos bastidores da certeza anunciada. E eu, descrente, medito sobre todos aqueles que nunca puderam votar, sobre todos os que perderam a vida para que todos pudéssemos votar. Suspendo a má razão destes últimos anos e conto os metros que me separam da mesa de voto, de todas as mesas de voto, não vá surgir alguém que as queira suprimir, como está a acontecer nessa outra parte da Ibéria intolerante...

 

29.9.17

É isso!

De um lado, os sentidos, as sensações, as emoções, os sentimentos - o coração. Do outro, as imagens, as representações, as combinações - a razão...

No meio, o distanciamento, a rutura, o jogo. Como resultado, essa coisa linda que é a obra, o poema, o quadro, a estátua, a sinfonia...

Se fica acima, se fica abaixo, pouco interessa porque, afinal, a terra é um corpo no firmamento e nós, perdidos, apenas, podemos jogar no balanço da deriva para evitar a depressão e a solidão a que nos condenámos ao querermos matar a transcendência....

Para trás, vão ficando Comte, Marx, Darwin, Nietzsche, Freud, Marcuse, Lacan, Foucault ... Eles cantavam sem razão na soberba dos dias.

 

Depois, há ou não há interesse, curiosidade, vontade de traçar um projeto, de se libertar de enleios, de se atirar para os braços de um eu coletivo que dê asas à loucura, à doença das nações... Nova transcendência que nos culpe, nos desculpe, nos redima....

Em Camões ou em Pessoa, lado a lado, caminham a identidade individual e a identidade coletiva, sempre a tentar adivinhar o futuro...

 

27.9.17

Take 2 do projeto de intervenção na Escola Secundária de Camões

«Se não sabemos em direção a que futuro o presente nos leva, como poderemos dizer que este presente é bom ou mau, que merece a nossa adesão, a nossa desconfiança ou o nosso ódio?» Milan Kundera, A Ignorância

Ao ouvir o arquiteto Falcão de Campos referir-se ao take 2 do projeto de intervenção na Escola Secundária de Camões, surgiu-me de imediato a pergunta de Kundera, reformuladaComo poderei dizer que este projeto é bom ou mau?

Do que mostrou do (novo) projeto - condicionado pelo número mágico 11 milhões de euros - tudo me pareceu fazer sentido na perspetiva da preservação do património.

Só não sei (e como sabê-lo?) se a escola, tal como a experimentamos atualmente, continua a ter futuro... No íntimo, estou em crer que não. Em termos de programação logística do ensino, provavelmente estes espaços tornar-se-ão obsoletos. 

No entanto, hoje, estou com aqueles que querem ver o projeto do arquiteto Falcão de Campos concretizado, nem que seja por uma questão de justiça e, sobretudo, de segurança...

 

26.9.17

Surpresa!? Não vejo como...

João Lourenço enumerou vários países que considera estratégicos para o governo angolano, como os Estados Unidos, a China, a Rússia, o Reino Unido e Espanha, mas surpreendentemente ou não, não fez qualquer referência a Portugal. 

Não creio que o novo presidente de Angola se tenha esquecido de Portugal. A verdade é que Portugal precisa mais de Angola do que o contrário. E sempre foi assim desde que o Brasil se tornou independente...

O resto é conversa de comadres desavindas! E claro, o resto também é reflexo do modo como certos vassalos limparam o tesouro de cada um dos estados, criando uma fraternidade indissolúvel, mas que convém agitar um pouco para que os povos acreditem que aos seus governantes (agora, democraticamente eleitos!) só interessa o bem comum e... um banho revigorante nas velhas águas atlânticas...

 

25.9.17

O regresso dos dinossauros

Não quero tecer grandes comentários. É um género desacreditado, tantos são os comentadores. Quero, no entanto, deixar aqui um reparo: aborrece-me que os dinossauros estejam de volta.

O apetite deles é tão grande que muitos dos munícipes acabarão por ser devorados... 

 

24.9.17

Não gosto nem do meio nem do conceito

É com tristeza que recebo a notícia do falecimento de D. Manuel Martins, grande referência da consciência social. 

Detesto que o primeiro-ministro de Portugal reaja à morte de um dos prelados mais ilustres do Portugal de Abril através do Twitter. (Não me estou a referir à reação do cidadão António Costa...)

Detesto a restrição imposta pelo adjetivo "social". D. Manuel Martins travou um combate na diocese de Setúbal que, de verdade, era "político" na verdadeira aceção do termo...

 

23.9.17

Apagamento clarificador

Com a chegada do outono, decidi iniciar a poda antes que as folhas apodrecessem. E a poda foi significativa, pois muitos dos amigos apagados, que figuravam na minha extensa lista facebookiana, há muito que deixaram de dar sinal... Alguns, provavelmente, nem saberiam que estavam associados ao meu perfil...

Espero com tal gesto não ter defraudado algum seguidor silencioso.

Isto não significa que tenha decidido acabar com a amizade de quem quer que seja. Apenas, decidi pô-la à prova... 

 

22.9.17

A missão de Portugal no mundo e A Ignorância de Milan Kundera

«Os escandinavos, os holandeses, os ingleses gozam do privilégio de não terem conhecido qualquer data importante desde 1945, o que lhes permitiu viver um meio século deliciosamente nulo.» Milan Kundera, A Ignorância, 2000, Parte 3

Leio atentamente o trabalho de contextualização da migração da personagem checa para Paris. Fixo cada data, cada bloco político, cada estado, cada conflito e de súbito interrogo-me sobre qual era o lugar de Portugal no mundo de Milan Kundera e concluo que estivemos fora - nem sequer há referência à guerra colonial de 1961 a 1974..., uma guerra a que a União Soviética não foi de modo nenhum alheia...

1914 (início da I Grande Guerra); 1918 (independência da República Checa); 1936 (início da Guerra Civil Espanhola); 1938 (termo da independência da República Checa); 1939 (início da II Grande Guerra); 1948 ( sob a influência do Terror comunista, ressurgimento da República Checa; os Jugoslavos batem o pé a Estaline); 1956 (invasão russa da Hungria); 1968-1969 (ocupação da República Checa pela Rússia); 1989 ( termo da Guerra Fria), os russos abandonam a República Checa e os restantes regimes comunistas - URSS); 1991( República Jugoslava - começam todos a assassinar-se uns aos outros...

É isso! Continuamos convencidos de que tivemos e continuamos a ter um papel no mundo, mas basta ler um romance mais ou menos engajado para perceber que já não existimos... Ou será, apenas, ignorância de Milan Kundera?

 

21.9.17

Se me preocupo...

Estou em dificuldades: não consigo, sociologicamente falando, aproximar-me da média atitudinal. Por mais que pense que o meu interesse particular corresponde ao interesse coletivo, não obtenho resposta que confirme tal ideia. 

Por mais que pense que vale a pena agir em função de uma visão global, verifico que tudo está determinado pelo interesse individual.

Se me preocupo com o destino da Ibéria, há logo quem me diga que o problema não é meu. Quando tento explicar que, aqui ao lado, e não nos antípodas, há um estado (espanhol) constituído por várias nações e que estas são, em regra, configurações grupais anteriores à formação do estado castelhano, o desinteresse é manifesto. 

Quando procuro explicar que o fenómeno do nacionalismo já teve como corolário múltiplas guerras sangrentas, fico com a sensação de que estou cercado por muita gente que (des)valoriza a GUERRA...

Quando arrisco que nem tudo depende do contexto e que este nem sempre é relativo, olham para mim como se fosse o E.T....

Afinal, se começar a descascar uma cebola, há sempre um momento de fixação inicial... e este é radical...

 

20.9.17

A carreira 722 e a abstenção no dia 1 de outubro

Certo dia a carreira 22 da Carris passou a 722 em homenagem às míticas 7 colinas de Lisboa. Entretanto, as obras na Zona do Marquês de Pombal impuseram um encurtamento do percurso que passou a efetuar-se entre a Praça de Londres e a Portela (de Sacavém, Loures) ...

O povo lá se foi adaptando na esperança de que, terminadas as obras, os "donos" da Carris restabelecessem o itinerário, mas nada disso sucedeu...

Porquê? Ninguém sabe!

A autarquia diz que luta para que a linha do Metro seja alargada até Loures, passando pela Portela e Sacavém. Quanto a essa reivindicação, todas as forças políticas locais parecem estar de acordo, embora não se saiba se o metro algum dia chegará a esta zona, mas sobre a carreira 722 ninguém abre a boca - uma medida justa, imediata e barata que poderia melhorar a ligação da periferia ao centro da cidade e vice-versa...

Eu, por mim, sinto-me desprezado pela Carris e pelas forças políticas que se digladiam pelo controlo do poder autárquico no concelho de Loures e, como tal, começo a acreditar que, não podendo votar contra, o melhor é abster-me... até porque as restantes carreiras, 782 e 728, também não servem devidamente a população, a primeira é intermitente e a segunda só aparece quando o rei faz anos...

 

19.9.17

De ocasião

Tempos houve que por aqui vivi... Quando, hoje, passo, já só vejo gente apressada, portas e janelas fechadas... e obras de ocasião para turistas de ocasião...

A maioria das pessoas desse tempo já partiu... 

 

18.9.17

Tombar, pétala a pétala...

As pedras, uma a uma, podem armar o poema, tal como a flor, pétala a pétala, ou a cor, do azul ao cinzento, emparelham ou alternam...

Só que a ideia esmorece se lhe falta o cimento...

Uma ideia, fora do contexto, até pode ser flor, cor, lágrima, pavilhão G.

Só que a ideia esmorece se lhe faltar a intenção, o rumo, o horizonte...

A ideia, bem enlaçada, até pode ser deia, mas faltar-lhe-á a cor, mesmo se, por acaso, for raiz, tronco, copa e se perder nas fímbrias da abóbada...

Só que a ideia anoitece se a memória desaparece e, então, as pedras, por um instante, uma a uma, ainda poderão florir para, depois, tombar pétala a pétala... 

 

 

 

 

17.9.17

Esta ideia de tudo alienar...

Num lugar, onde não é possível assegurar a existência de uma escola básica, surgiu agora um comprador do terreno e respetivo edifício escolar a afirmar que gostaria de ali implantar um instituto superior com dinheiros públicos... Provavelmente, um Politécnico que se encarregasse de ministrar cursos florestais e de produção animal... (ver post de ontem)

Pessoalmente, não tenho nada contra a ideia, desde que a obra não implique financiamento público, porque os sonhos, mesmo se infantis, não devem ser apresentados sem caderno de responsabilidade e de encargos...

No caso da Escola Primária, mandada edificar pelo Estado Novo, com dinheiros públicos, mandava o bom senso que o próprio Estado a colocasse ao serviço da comunidade, mesmo que tivesse de a reconverter para outras funções sociais...

Esta ideia de tudo alienar acabará por trazer mais prejuízo do que lucro.

 

16.9.17

Um instituto superior em Carvalhal do Pombo!?

Todos os dias olho para essa escola”, confessou Luís Cavalheiro ao mediotejo.net no fim da hasta pública. A ideia, adiantou, é recuperar o edificado e criar ali um estabelecimento de ensino superior, de âmbito nacional, que dê formação nas áreas da reflorestação e dos produtos naturais. Uma ambição que Luís Cavalheiro tem há muitos anos, tendo surgido agora, sem fazer conta, a possibilidade de adquirir o edifício.

Para já ainda não tem nada em andamento, tendo apenas adquirido o imóvel. O objetivo agora é procurar investimento estatal. “Queria algo a nível nacional”, frisou. Entre os seus projetos está a reabilitação do figueiral de Torres Novas.

Estranho o projeto, apesar da região necessitar de aproveitar os seus recursos naturais! No entanto, há que ter fé! E em Carvalhal do Pombo, a fé é coisa que nunca faltou. Dinheiro, sim, creio.

 

15.9.17

BB-/A-3

A Standard and Poor’s (S&P) subiu o rating da República portuguesa para o patamar de investimento, no nível BB-/A-3, do anterior BB+B. A revisão em alta “reflete a melhoria das previsões para o crescimento do PIB de Portugal em 2017 a 2020, bem como os progressos sólidos feitos na redução do défice orçamental”, refere o relatório da agência, publicado esta sexta-feira. BB-/A-3

 

O debate autárquico já passou à história.

Apesar do foguetório que se anuncia, temo que a euforia nos atire para o abismo...

Num país doente, o protagonismo só pode ser dos enfermeiros! Quanto aos enfermos, eles que tenham paciência!

Doravante, todas as lutas são mais do que justas... 

 

14.9.17

Diagnóstico e rememoração

Provavelmente, noutros domínios, a relação não será significativa, por exemplo, para as ciências da saúde, se excetuarmos a psicanálise, no entanto, na área da didática, confronto-me todos os anos com a mesma ansiedade. (Qual será a origem deste estado psíquico?)

Ao aceitar que a rememoração consiste em fazer aparecer as coisas do passado com as suas qualidades, sempre que me disponho a elaborar qualquer teste de diagnóstico pressinto que o resultado será frustrante, pois para que haja rememoração é necessário que a mente tenha tido necessidade de guardar informação sem qualquer tipo de diluição... (intenção de...)

Ora, a experiência diz-me que, ou a mente não teve oportunidade de reservar qualquer tipo de aprendizagem ou se o fez, no momento do diagnóstico, a consciência só traz à superfície o restolho estival...

Se o diagnóstico não serve para avaliar a qualidade da aprendizagem efetuada, então para que é que serve?

 

13.9.17

Claro que poderia imaginar

Não o penso o que quero... Estou sempre a ser submetido a pulsões exteriores (e estas impedem-me de saber o que quero.) Quanto às interiores, há muito que aprendi a recalcá-las..., o que mata o pensamento...

Claro que poderia imaginar, mas para quê se as imagens são perceções falseadas!

Submeto-me, assim, à vontade dos outros (já desisti de os contrariar) que, talvez, não pensem o que querem, mas que, afinal, não cuidam de saber se as imagens são verdadeiras ou falsas, até porque muitos se contentam com o reflexo luminoso no fundo do poço.

Espero que não espreitem cada palavra, mesmo que vos digam que se trata de metáfora, porque sob a palavra não há nada. Talvez a possam virar do avesso, e segui-la a ver se compreendem porque é que não penso o que quero...

 

12.9.17

Dá sempre jeito ter um "louco"...

Nunca soube bem o que é que significa pensar. Que existo, parece-me excessivo...

Com tanta gente a pensar em sanções a aplicar à Coreia do Norte, a minha dúvida cresce, pois não consigo acompanhar o argumento de que se lhe cortarmos o combustível, o gás, os medicamentos, os víveres, as exportações, ela acabará por ceder, isto é, desistirá do programa nuclear... (Mas quem é que vai desistir de um projeto nuclear?)

Parece-me um argumento absurdo e impraticável, não por causa dos coreanos, mas por causa dos americanos, dos russos, dos chineses e de todas as máfias que se movem por terra, mar e ar...

Acossados, os norte-coreanos só poderão responder / atacar com as armas de que possam dispor, a não ser que estejam dispostos a deixar de pensar, o que, cartesianamente, significaria deixar de existir...

Em síntese, ou não ando a pensar direito ou o pensamento não tem nada a ver com este problema. No mundo dos interesses, dá sempre jeito ter um "louco" que possamos acusar de disparar em todas as direções...

 

11.9.17

Afetos encenados

Em dia de abraços presidenciais, relembro o "realismo" do anterior PR: "a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia" ...

Não vou repetir o argumento utilizado para mostrar a inépcia de Cavaco Silva, mas vou citar Jean-Paul Sartre:

O mundo real não existe, faz-se, sofre retoques constantes, torna-se maleável, enriquece-se; um determinado grupo, tido por objetivo durante muito tempo, acaba por ser rejeitado; pelo contrário, um outro, muito isolado, será de repente incorporado no sistema.» A Imaginação, pág. 88, Difel

Tantos abraços já maçam, sobretudo quando adiam a resolução de problemas e, ao mesmo tempo, reclamam para si um magistério, apesar de incapaz de compreender a mudança, porque as ideias deixaram de determinar a ação, transformaram-se em afetos encenados...

 

10.9.17

As coisas não se movem...

As coisas.

Não se trata de imagens nem de representações.

As armas clássicas sempre foram tomadas como coisas.

Coisas que podem enferrujar ou, mesmo, desfazer-se em pó...

As coisas, por si, não se movem, mas podem ser deslocadas. 

Em Tancos, dizem que havia armas de vários tipos - umas leves, outras mais pesadas; algumas delas, obsoletas.

Essas coisas, consta que foram roubadas. Também consta que não havia ninguém para as vigiar...

Ora essas coisas (que não as imagens ou as representações) não voltaram, nem podiam por si.

Por causa do sumiço, já houve convulsão na caserna... Vejo agora que um senhor, de seu nome Azeredo Lopes, terá chegado à conclusão de que "no limite, pode não ter havido furto"...

Em Portugal, é bem possível que as coisas se tenham transformado em pó, por falta de uso ou por corrosão... No geral, é o que costuma acontecer com as coisas que tombam na alçada da justiça...

 

9.9.17

A dignidade da função

A missiva surge como reação à greve dos juízes marcada pela Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) para os dias 3 e 4 de outubro, devido à "intransigência" do Governo nas negociações para a revisão do Estatuto dos magistrados judiciais, que "continua a negar aos juízes a progressão profissional adequada à dignidade da sua função", segundo o sindicato. 

Será que há funções dignas e que as restantes são indignas? Será que a progressão profissional deverá depender dessa in(dignidade)?

Por outras palavras, num quadro de dívida pública e de consequente falta de recursos financeiros, é aceitável que o Estado privilegie umas castas em detrimento de outras? (Quem diz castas, poderia dizer corporações!)

Nos últimos dez anos, a desigualdade remuneratória agravou-se escandalosamente em muitos sectores profissionais. Será que tal aconteceu com os senhores juízes? Por mim tenho que não.

Por exemplo, entre os professores, a inexistência de progressão levou a que haja milhares de professores obrigados a exercer as mesmas funções, mas com remunerações muito diferenciadas, o que avilta o exercício da profissão... Mas como são muitos, o melhor é esquecê-los...

E se os professores, os médicos, os enfermeiros, os bombeiros, os administrativos, os auxiliares de todos os tipos, as forças policiais... se levantassem e fizessem todos greve em nome da dignidade da função, será que teriam razão?

 

8.9.17

Cogumelos

Oportunistas, estes cogumelos! Tudo lhes serve. Surgem sorrateiramente, instalam-se e crescem, deslumbrados. Engordam, indiferentes a quem os abriga. E depois não há quem lhes sobreviva.

Eu até lhes descubro algum encanto, mas é de curta duração, pois odeio parasitas...

Setembro parece ser um dos meses em que eles proliferam. Não há placard nem ecrã que lhes escape...

 

7.9.17

Por um instante

Há vários indicadores de que a humanidade caminha para a catástrofe: as ameaças de ataque nuclear; a corrida ao armamento cada vez mais letal; as alterações climáticas; a aposta das empresas na robótica e na desvalorização do trabalho humano; a eleição de governantes oportunistas e malfeitores; o aumento do emprego e da precariedade; a falência de todo o tipo de valores; o radicalismo religioso; o culto extremo do corpo e, sobretudo, da imagem... a iliteracia galopante...

Os sinais do descalabro são mostrados a toda a hora, mas nem por isso nos incomodamos. Ou se tal acontece, é por pouco tempo...

Vi, hoje, numa televisão, o Presidente da República Francesa a dirigir-se aos habitantes do Ultramar francês, avisando-os da catástrofe que se iria abater sobre eles e, por instantes, pensei: - mas. afinal, todos sabemos o que andamos a preparar e pouco ou nada fazemos para contrariar os indicadores que nos condenam ao extermínio...

E depois há aqueles que se esforçam por remar contra a enxurrada e que todos os dias são enxovalhados....

 

6.9.17

Os CEO não desistem!

John Cryan, CEO do Deutsche Bank, pediu aos seus congéneres que abracem o “espírito revolucionário da tecnologia”. E alertou para que os empregados que “trabalham como robôs” serão substituídos por eles. A verdade é que não precisamos de tantas pessoas”, disse Cryan. “Nos nossos bancos temos pessoas que se portam como robôs, com tarefas mecânicas. Amanhã teremos robôs que se comportam como pessoas”.

Lá voltamos ao perfil humano. Desta vez, estou curioso. 

Eles não desistem, com ou sem Hitler. O nazismo continua à solta. E chamam-lhe "espírito revolucionário"!  Por mim, em vez de começar o processo de substituição pela base, começava pelo topo, pelos CEO...

5.9.17

Azenha(s) do Mar

Dois lugares com mar, mas sem azenha...

Tempos houve em que a memória nada evitava. Bastava que houvesse Mar e necessidade de moer o grão para que a Azenha se elevasse e desse nome ao Lugar.

Nomear não é imaginar. É apenas identificar o lugar, a coisa, a pessoa... para diferenciar, para facilitar... apesar de todo o tipo de Sacerdotes que insistem no contrário...

 

4.9.17

E quando tal acontece

As coisas continuam nos seus lugares. Pelo contrário, as ideias, por não ocuparem espaço conhecido, esfumam-se... Deve ter sido um problema de descuido sintático, no tempo próprio...

Por seu turno, as imagens só resistem se coisificadas... Tal singularidade obriga a que o olhar nelas se imobilize, porém não lhes consigo respirar a voz... e quando tal acontece, as próprias imagens se esfumam...

Tudo caminha para um fim que uns tantos insistem em considerar natural, desde que não seja o deles.

O problema é que esse fim pode ser coletivo... 

 

3.9.17

Les cons

« - Ce qui est sûr, c'est que ce sont les gros qui cassent les verres et que ce sont les petits qui les paient. » Jean-Paul Sartre, Le sursis.

Agora que os franceses redescobriram as cidades e os campos de Portugal, talvez valesse a pena dar um pouco mais de atenção à cultura francesa. Por exemplo, à obra de Sartre por aquilo que ela nos revela da condição humana, tanto dos grandes como dos pequenos...

Na última semana, devorei o relato da grande trapalhada que foram aqueles oito dias de setembro de 1938 (de 23 a 30) tendo ficado com a ideia de que estamos a viver tempos muito semelhantes, embora em geografias distantes, mas com consequências ainda mais infernais...

E já agora, também tomei consciência de que na chamada literatura lusófona há muita criatividade narrativa que não passa de apropriação da técnica de escrita sartriana, designadamente na trilogia "Les chemins de la liberté"... o que poderia até ser positivo caso ainda existissem leitores de Sartre...

2.9.17

A escrivã da puridade

Rita Faden ganhou uma preponderância junto de António Costa e um poder dentro do Palácio de São Bento que causam até desconforto nos ministros. «Quando vão a Bruxelas, entra o primeiro-ministro, entra a chefe-de-gabinete e só depois entra o ministro ou o secretário de Estado

Deve ser inveja!

António Costa é um cavalheiro que respeita as Senhoras, sobretudo quando são elas que lhe preparam a agenda, lhe guardam os segredos e lhe dão conta do que vão tramando os seus "amigos de berço"...

A História ensina que, à falta de diretor espiritual, as majestades sempre viram o escrivão da puridade como "espelho-meu"... Discreto, ardiloso e sedutor...

 

31.8.17

Sempre há homens muito pequeninos!

Em Portugal, a piada é tão importante como o Futebol e muito mais importante do que o Fado ou do que Fátima.

Não resisto à piada do atual presidente da República sobre o anterior, a pretexto de não querer comentar a piada cavaquista - são tão inteligentes, as piadas, que nem me dou ao trabalho das citar... Numa coisa, o Aníbal foi profeta: a censura já começou a riscar...

Marcelo acaba de se autocensurar ao garantir que não vai dizer piadas sobre o próximo presidente, logo ele que, a esta hora, já anda em campanha para assegurar o próximo mandato...

Não estivesse eu acabar a leitura de "Le sursis" de Jean-Paul Sartre, e talvez me preocupasse com a pobreza intelectual portuguesa, só que o romancista encarregou-se de me revelar que a estupidez é intemporal e é quem comanda a decisão política, dando, deste modo, expressão à ideia popular de que "o homem é do tamanho do seu sonho", pois, infelizmente, a maioria dos sonhos vira pesadelo...

Isto sempre há homens muito pequeninos!

 

30.8.17

A realidade vive bem sem ideias...

O ex-Presidente da República Cavaco Silva defendeu hoje que, na zona euro, "a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia" e os que, nos governos, querem realizar a revolução socialista "acabam por perder o pio ou fingem que piam".

 

Não esperou por uma qualquer sexta-feira nem esperou vinte e um anos, regressou simplesmente. O morto-vivo, afinal, ainda respira. 

Nem sequer esperou pela rentrée. Veio dar uma aula de ajuste de contas neste final de agosto, marcado por incêndios que, em grande parte, resultam da política de desertificação que sempre incrementou e tolerou...

Um pouco de autocrítica ficava-lhe bem ou, pelo menos, algum arrependimento que nem necessitaria de ser público...

Quanto à lição, ela é reveladora de como se pode governar sem ideias. Nem Salazar teria ido tão longe. Salazar procurou construir uma ideologia, conseguindo, infelizmente, muitos adeptos. Cavaco, não, embora insista em perpetuar a sua corte.

Não compreendo porque é que Cavaco teme o regresso da Censura. A Censura sempre combateu a dissidência, sempre vigiou as «ideias». Ora, para o Professor, a "realidade" vive bem sem ideias... Divertida, malgré tout, é aquela ideia de que a classe política é constituída por mochos, corujas .... Ele lembra-me um morcego que esvoaça, esvoaça...

 

29.8.17

Na guerra em espera...

Na guerra em espera há mísseis apontados a Lisboa pelos russos. Fonte: Presidente da Lituânia. Não sei se a fonte é fiável!

No entanto, importa conhecer a reação do Estado português e, sobretudo, quais são as medidas que estão a ser tomadas para proteger a população portuguesa...

Bem sei que, pelo meio, há a notícia dos mísseis norte-coreanos que vão pondo em sobressalto os japoneses, mas, em matéria de ogivas nucleares, é bom não esquecer os russos, os chineses, os americanos, os israelitas, os iranianos, os indianos, os paquistaneses e outros...

Quanto à União Europeia, desconfio que a sua capacidade de defesa é nula, o que não admira, pois a cultura ocidental nunca se libertou da sua fantasiosa superioridade intelectual e tecnológica.

Neste contexto, Portugal continua embrenhado em questiúnculas que só visam satisfazer o interesse de cada protagonista de ocasião...

Por mim, só gostaria de saber porque é que os russos ainda pensam no território português. Quanto ao perigo norte-coreano, estou menos preocupado, pois consta que ainda há por cá muitos amigos da Coreia do Norte.

Em síntese, quando a guerra deixar de estar em espera, tudo será muito diferente, e certamente definitivo - e aí o tempo de agonia será um factor a não descurar.

 

 

28.8.17

A figura de referência

Ao lado, tenho um caixote de lixo que é figura de referência para a Sammy. Sempre que a hora "gourmet" se aproxima, ela enfia a cabeça no caixote e ameaça devorar todo o tipo de plástico ou de papel que ele contenha... o combate é diário, mas ela não desiste, chegando ao ponto de pisar o teclado do portátil... Neste momento, perfila-se a meu lado, atacando todo o tipo de objetos que eu considere intocáveis...

Com esta gata, apuro diariamente a paciência para que dela possa dispor sempre que entro numa sala de aula, pois os pedagogos insistem que o professor só é figura de referência se for capaz de ouvir os jovens, apoiando-os em todas as suas ansiedades e dificuldades...

Há, todavia, um problema: o tempo necessário à gestão da relação e da instrução.

Com a Sammy não há problema, pois a aprendizagem não a preocupa. Pelo contrário, ela insiste na rotina desde que a hora "gourmet" seja respeitada.

Já lá vai o tempo em que, também, eu fui figura de referência, embora o que tinha a transmitir caísse facilmente no caixote do lixo... e depois há a memória ou a falta dela... De quem? De todos, menos da Sammy que está a sentir-se traída...

 

27.8.17

O sentido de Estado de Passos Coelho

Hay un término usado en múltiples ocasiones: Sentido de Estado, y me preocupa porque no sé muy bien qué significa y si disponer de, al parecer, tan apreciado don te convierte en mejor ciudadano, en alguien que desde su altura de miras pone el beneficio de todos por encima de sus intereses partidarios o de otro tipo. Tampoco sé si se nace con esa cualidad o cómo se puede adquirir o si hay que ser político para poseerla.   Juan José Añó Oliver

O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje que nem uma tragédia como a de Pedrógão Grande deu sentido de Estado e seriedade política ao primeiro-ministro.

Usualmente, quando um político vai a enterrar, os comparsas, para se verem livre dele, proclamam aos quatro ventos que o finado sempre agiu com sentido de Estado...

O que me preocupa é que Passos Coelho acaba de nos informar que António Costa é mau cidadão, pois utiliza os recursos do Estado em seu favor e dos seus correligionários, e que já terá nascido sem tal qualidade... ao contrário dele, Passos Coelho, que continua a servir zelosamente a Pátria - um homem incapaz de sacrificar os cidadãos e de vender as joias da coroa por tuta-e-meia...

(Esta reflexão não estava na agenda, mas o PPC não sabe sequer fingir que tem sentido de Estado...)

 

Um escritor ignorado

Curioso, consultei o sítio "escritores online" e, enfim, a lista é longa, mas falta lá o (António) Silva Carvalho. Porque será?

Desprendimento do próprio? Mesquinhez da Academia? Inveja dos confrades? Não tenho resposta, porém creio que a obra publicada merece muito mais atenção, a não ser que...

 

26.8.17

Um sapo noctívago

De noite, poucas são as pessoas que ousam passear nas ruas desertas - a maioria prefere confraternizar em torno dos canais vendidos pela MEO (satélite)...

Apenas um sapo se dirige da relva para o passeio. Provavelmente, confia no temor humano para atravessar o largo na direção de um caneiro vizinho.

Só que vê interrompida a marcha, pois há sempre quem considere que um sapo não sabe defender-se. Lá regressa ao relvado, não sei se contrariado.

Não consigo descortinar se este sapo tem família, se vive mesmo ao lado da Escola EB2,3...se foge de algum lago da Unidade de Saúde Familiar...

O facto é que o futuro deste sapo preocupa-me, pois se quiser chegar ao caneiro terá de atravessar a Avenida dos Combatentes, mesmo se estes já forem Antigos...

A ideia de que a USF pudesse ter um lago é absurda, pois se ela nem médicos assegura. Alguém a mandou construir e depois se veria... Eu, pelo menos, nunca lá vi ninguém...

Tudo o que aqui possa escrever é também absurdo, mas estou a tentar ignorar aqueles políticos que nos vão matando o futuro e desapossando do passado...

Entretanto, vou continuar a leitura de Le Sursis de Jean-Paul Sartre :
«Gomez, dit Sarah, sais-tu ce que j'ai compris, ces derniers temps : c'est que les hommes sont méchants. Gomez haussa les épaules :

- Ils ne sont ni bons ni méchants. Chacun suit son intérêt. »

 

25.8.17

Maré baixa

Fixo-me. Há aqui de tudo. Pode parecer insuficiente, mas creio que, se alterar o ponto de vista, perderei o sossego.

Aqui posso fechar os olhos e voltar a abri-los sem que nada se altere.
Faltam poucos dias para que a maré suba e, quando ela chegar, deixarei de poder cerrar os olhos, porque nunca se sabe quando os gambozinos nos fazem perder o pé.
Aqui, até parece que o tempo se imobilizou...

 

24.8.17

Estórias incompletas

Eis o que sobra de um hotel dos anos 50/60, nunca concluído. O proprietário, embora não visasse chegar ao Céu, queria simplesmente ver o Atlântico.

Segundo o que me contaram, faltam 7 metros. Por ora, vai servindo de alojamento a alguns imigrantes...

Quanto ao rapaz do cesto, parece não ter tamanha ambição. Observa. O quê? Não encontrei ninguém que ousasse falar-me das suas observações...

Eu próprio não me importava nada de ficar ali sentado, mesmo se a noite chegasse... Talvez me limitasse a ouvir o galo que cacareja mesmo que não oiça qualquer resposta...

Ou serei eu que a não oiço?

 

23.8.17

Forasteiro em terra de imigrantes

Ordenadas as embarcações, pouco mais há a fazer. Dos pescadores, nem sombra. Ainda pensei que as ali tivessem colocado para que eu pudesse imaginar o Cais de onde partiram os primeiros batéis. Pensamento absurdo!

Tão irrealista como a abordagem daqueles forasteiros que me perguntaram se eu sabia onde morava um tal de... (não lhe cheguei a conhecer o nome!). Mas é (ou foi) alguém que se distinguiu por ter sido proprietário do parque de campismo de Zambujeira do Mar...

Pensando melhor, embora o não saibam, talvez pudesse descontar certas atenuantes àquele casal de forasteiros: durante muito tempo, acampei em parques de campismo - conheci um bom número, apesar de raramente chegar à fala com os donos, sobretudo se nacionais; por outro lado, se pesquisasse na Internet (...).

Ora o que encontrei entronca melhor na minha surpresa ao percorrer as ruas de São Teotónio:

A freguesia de São Teotónio tem uma população de 5500 habitantes. Quase metade são estrangeiros. Para além da comunidade búlgara (mais de 1000, muçulmanos) José António Guerreiro diz que residem na terra "cerca de 300 tailandeses e, em menor número, brasileiros, moldavos, argelinos, marroquinos, romenos, húngaros e outros". (Público, 28.05.2013)

Não sei se, em 2017, estes dados estão corretos, no entanto a presença de imigrantes é enorme. Talvez, o senhor presidente da República, admirador de São Teotónio, pudesse visitar esta localidade para avaliar as condições de vida destas comunidades, que me parecem miseráveis...

Quanto aos meus interlocutores, terão de ficar sem resposta, pois na pesquisa efetuada não encontrei resposta que lhes pudesse servir...

22.8.17

A modesta pirâmide alentejana

Ainda espreitei a ver se avistava o corpo do Ricardo Reis, mas, na versão saramaguiana, faltou-lhe a coragem - preferiu enterrar-se n'Os Prazeres, ao lado do criador, sob o olhar furibundo da avó louca ...

N'O Ano da Morte de Ricardo Reis, a fantasia, umas vezes tétrica outras hilária, destapa a ascensão dos fascismos na Europa e, em particular, o início da guerra civil espanhola com repercussão na terra dos lusitos que arrogam para si um vanguardismo, deveras, provinciano...

O importante é perceber que Ricardo Reis é, apenas, uma lente deformada que arrasta o leitor para caminhos empoeirados como aqueles que acabo de percorrer junto da barragem de Santa Clara... nas proximidades de Santa Clara-a-Velha, donde extraí a modesta pirâmide alentejana...

Da leitura e da viagem, já só sobra pó, mas, ao contrário dos apóstolos, não consigo sacudi-lo das minhas sandálias. E se o conseguisse, o que é que ganharia com isso?

 

20.8.17

Porto de abrigo

Aqui, na Praia da Azenha do Mar, não há areia. No entanto, vale a pena o fim do caminho. Por isso, ofereço-vos este "porto de abrigo" das embarcações.

Quanto ao resto, eu, que nem gosto de calor, lá passei 3 horas na afamada Zambujeira do Mar a tentar reler O Ano da Morte de Ricardo Reis, o que não é fácil, pois naquele romance não para de chover e de ventar.

E comigo vai ficando a ideia de que é precisa muita paciência para seguir o "badameco" do José Saramago.

«Nos dias seguintes Ricardo Reis pôs-se à procura de casa. Saía de manhã, regressava à noite, almoçava e jantava fora do hotel, serviam-lhe de badameco as páginas de anúncios do Diário de Notícias...»

Falta, talvez, acrescentar o óbvio: a praia foi enchendo tal como a maré, mas o português não desiste... e o espanhol, o francês...

 

19.8.17

E sujeito-me...

Balde tem. Ainda não verifiquei se a cisterna tem água.

Asiáticos não faltam! Indianos? Paquistaneses? Hindus? Muçulmanos? Vá lá saber-se! Ocupados a pôr os motores em marcha... e parece que sabem da poda...

Eu por mim, observo.

E sujeito-me, mesmo sendo europeu...

 

17.8.17

Por dever de ofício

Por dever de ofício, decidi reler O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago. Neste caso, melhor será dizer ler, pois até parece que nunca li tal romance. De qualquer modo, o exemplar, já quebrado, que possuo corresponde à 3ª edição, e foi me oferecido pelo Manuel Duarte Luís, amigo da década de 80..., como se os amigos pudessem ser datados e se calhar podem, pelo menos enquanto os não esquecemos...

Tê-lo-ei lido nessa época e certamente não terei perdido a oportunidade de o mencionar e de o recomendar aos meus alunos de Teoria da Literatura... (Eles saberão melhor do que eu a importância que atribuiria ao modo como Saramago recriava tempos e individualidades, fictícias ou não...

Agora que me obrigo a reler a obra, confirmo que a minha memória terá sofrido grande abalo nos últimos 20 anos, mas interrogo-me se esta leitura escolhida para os atuais alunos do 12º ano é a mais adequada...

Este romance requer um leitor paciente, verdadeiramente interessado em compreender o território, a situação política, cultural e socio-económica dos anos 30 e, sobretudo, capaz de lidar com um narrador, cujo humor é corrosivo. Já nem me refiro à ironia e a uma intertextualidade, muitas vezes, anacrónica para a atual geração...

 

16.8.17

Anfibologia descarada

Anfibologia: ambiguidade; duplo sentido de uma frase...
É a Justiça que é suspeita? Se fosse verdade, qual é o referente? O Ministério Público? Os Tribunais? Quem é que suspeita? A Justiça? (Em abstrato?)
Velha PT? Quando é que a Senhora rejuvenesceu? Mas ainda existe?
Afinal, onde é que está a notícia?

 

15.8.17

A origem da tragédia nacional

Em primeiro lugar, a ignorância. Em segundo lugar, a ganância. Finalmente, a incompetência. De forma abreviada, é esta a resposta para tanto desastre. 

Neste cenário, estamos a ser governados por incompetentes gananciosos que abusam da ignorância das populações rurais e urbanas e que, também, elas sonham vencer na vida a qualquer custo...

Por isso há tantos candidatos ao exercício do poder local e central. Infelizmente, falta-lhes quase tudo - em primeiro lugar, a sabedoria; em segundo lugar, o despojamento; finalmente, a competência...

Se o rio vai seco, espera-se que a chuva caia...

Se o mato arde, espera-se que chova e que a vegetação não volte a crescer...

Se as árvores escondem o vazio que as mata, espera-se que não tombem quando a festa decorre...

Se morre tanta gente, espera-se que o Senhor a acolha e a proteja dos fogos letais...

Agora até temos um Presidente que gasta os dias a correr para os cemitérios, como se tivesse sido contratado como carpideira...

  

14.8.17

O mal da escrita no reino do compadrio

Este romancista (o Poeta) bem tenta que o leitor lhe envie um sinal, mas sem o menor sucesso...

O demónio que me aterrorizava, quando na minha horta substituía o pai que partira para os bidonvilles parisienses, não estava certamente à altura dos patrões franceses que humilharam o António quando este procurava viver com alguma dignidade o exílio a que se vira forçado por uma ditadura que condenava os seus filhos a uma morte precoce...

Talvez seja por isso que não encontro, em Palingenesia, o pai do (autor) Silva Carvalho - a figura do pai surge diluída na figura do tirano, que tanto pode ser patrão, como seu substituto num universo capitalista nojento... (O leitor toma, no entanto, conhecimento que os pais lhe pagaram as propinas durante dois anos e o visitaram em Paris.)

Este autor ou, melhor, este homem que sonhava não ser pai, mas mãe, porque a mulher é a verdadeira criadora... e talvez seja por isso que a descoberta da sexualidade, à medida que o romance evolui, se torna mais humana, mais relacional, menos demoníaca... Este autor, afinal, só procura o diálogo...

Silva Carvalho escreve este romance não apenas para recriar o espírito da época, submetendo-o a uma abordagem diferente - o mal da escrita:

«O essencial, contudo, não me parece que seja escrever direitinho, mas, pelo contrário, aceitar o mal da escrita para que ela nos possa revelar o que a trabalha e assim nos acalenta, de uma forma ou de outra.»  op.cit, pág,238.

Terminada a leitura deste romance, espero ainda cumprir o reiterado desejo do Silva Carvalho:

«Lembrem-se, a intenção deste livro era chamar a atenção sobre a minha obra poética, onde penso que atingi a qualidade não só de obra mas também a de destino, como mais lídima manifestação do que ainda se chama de cultura.» op.cit. pág. 143.

12.8.17

A minha horta

Um dos lugares onde comecei a trabalhar com cerca de 4/5 anos - a horta, situada na "Ingueira", na encruzilhada do Carvalhal do Pombo com o Cabeço Soudo e a Rexaldia. Desse tempo, resta a nora, que puxada por uma burra, me garantia a água necessária à rega diária.

A horta, hoje, é pequeníssima, se comparada com a daquele tempo, que estaria mais bem organizada e me dava um trabalho dos diabos. Lembro que, para além das batateiras, dos tomateiros, dos feijoeiros, das aboboreiras, da beterraba, das couves de vários tipos, das alfaces, das cenouras, também lá havia três ou quatro laranjeiras e que, ao lado, corria a ribeira que assegurava a água do poço...

Embora o trabalho não fosse remunerado, a não ser com o almoço e o jantar, alguma roupa e um par de sapatos de tempos a tempos, creio que a Geringonça não deveria deixar de fora os pequenos trabalhadores, cuja atividade teve início mal começaram a andar... 

 

10.8.17

Ficar em silêncio

Sempre que as férias se aproximam, decido continuar a catalogação e o registo de publicações acumuladas. Não sei bem para quê, embora lá no íntimo acredite que, assim, estarei a facilitar a vida a quem quiser desfazer-se de tal acervo...

Por outro lado, desconfio que a tarefa tem uma outra motivação: folhear ou voltar a rememorar todo um conjunto de existências que, doutro modo, não me questionariam a não ser pela acumulação de pó e do horrendo bicho do papel - o lepisma saccharina...

Este procedimento tem, no entanto, um custo: em vez de avançar na tarefa, perco-me na leitura breve de cada livro, de cada revista..., fazendo esperar as leituras que tenho em curso e em projeto, como acontece com a Palingenesia,  com Sursis e com No Ano da Morte de Ricardo Reis - o primeiro para pagar a dívida ao (António) Silva Carvalho, o segundo para completar a leitura da trilogia de Jean-Paul Sartre (Les Chemins de la Liberté) e o terceiro, por obrigação profissional, pois a leitura que dele fiz já se escapuliu da minha fraca memória...

(Lembro-me agora que ainda hoje pensei que o Silva Carvalho bem poderia recuperar o 'António' para se diferenciar definitivamente do Armando... Espero que este apagamento da identidade não resulte de nenhum trauma com origem no velho 'estado novo’) ...

O que não se entenderá é por que motivo, tendo dado a esta postagem o título "Ficar em silêncio", não me calo. A razão é simples, é porque tenho aqui ao lado um livrinho intitulado Elogio do Silêncio, de Marc de Smedt, e não resisti a folheá-lo, tendo, de imediato, poisado os olhos na afirmação de que o "silence" surgiu na língua francesa (?) em 1190, descendendo do latim SILENTIUM, com a particularidade de "ser o único substantivo masculino que acaba em ence, en francês..."

Ora, digam lá se o melhor não seria eu ficar em silêncio, pelo menos, nas férias!

9.8.17

A única ficção - (António) Silva Carvalho

«A única ficção que me atrai é a realidade.» Silva Carvalho, Palingenesia ou o estado e o processo do romance, pág.116, Fenda, 1999

Neste caso, por mais que o Autor se queixe de não estar suficientemente preparado para construir o romance segundo as leis do género - muito permissivo, diga-se -, como leitor, o que me interessa é o próprio Silva Carvalho..., pois na obra encontro muito do que da sua própria boca, em tempos anteriores à escrita, ouvi...

No romance, o homem ganha coerência. E, por outro lado, a História daquela época recupera uma dimensão bem distinta da que habitualmente é transmitida pelos "filhos-família" que se autoexilaram em Paris, no Bairro Latino...

Ao ler, tão tarde, este romance, compreendo melhor o sofrimento daquele que, desde cedo, percebeu que a ideologia mais não é do que uma forma de opressão... e que, até hoje, se manteve distante e discreto, embora, lá no fundo, acredite que o tempo se encarregará de lhe reconhecer o caminho...

O problema é que a realidade vive refém da memória, sendo muitas vezes difícil revivê-la sem recurso à imaginação, à ficção.

8.8.17

Promo internet. A MEO abusa do cliente

Acabo de receber da MEO a seguinte mensagem: «PROMO INTERNET: o seu pedido de desativação foi recebido com sucesso. Obrigado.»

A MEO é simpática! Sempre pronta a premiar o cliente...

Resolveu premiar-me com dois gigas até 31 de Agosto. Ativou-os em todos os cartões da meu pacote MEO. Não me pediu autorização para o fazer! Mas informa que, a partir de 1 de setembro, o cliente passa a pagar mais 3,98 euros, a não ser que ligue para o nº 800200023, a pedir a desativação...

Obrigado a pedir a desativação de um produto que não solicitei!

 

7.8.17

O calão, em qualquer contexto

Dois idosos cavaqueiam junto a um quiosque, quando, de súbito, um deles exclama: - Olha quem ali vai! Um cabrão, por acaso, bastante simpático.

Fico sem saber qual o significado do termo "cabrão" naquele contexto, mas recordo que, desde a minha infância, este palavrão e muitos outros me feriam os ouvidos, sem que os visados mostrassem aborrecimento...

Atualmente, o calão tornou-se língua de referência, de tal modo que conheço miúdos e miúdas que, em cada três vocábulos utilizados, dois pertencem ao referido registo... Há até quem esgote o léxico numa única expressão: f...; c...; fp...; p...; m..., em qualquer contexto. 

 

6.8.17

Servidão

Com Cristo ou com cidra, tudo o que se enxerga é combinação de interesses e de prazeres... Mas quem lucra esconde-se, sabendo que cedemos voluntariamente

Primeiro, a maçã; depois, o enjoo e a ressaca...

A música, apesar da variação, cresce ao som da vara que se afoga como se dela pudesse jorrar toda a água que nos falta... 

Mas não. Apenas um tempo de torpor.

 

5.8.17

A dupla realidade de Manuel Laranjeira

«Compor a realidade como uma obra de arte - também cansa às vezes. Principalmente nós começamos a aborrecer-se da realidade!» Manuel Laranjeira, Diário Íntimo, 4 de fevereiro de 1909

Conceber um diário - registo de atos e de pensamentos, por vezes, inconfessáveis - como obra de arte é um projeto paradoxal, pois o autor revela-se marcado por uma ideia de posteridade, à partida, gratuita.

Do que o autor vai registando, o leitor nunca sabe se se trata da realidade vivida ou de uma outra realidade, desejada.

De tanto repetir o enjoo da vida, de tanto se desculpar com um eu interior, tenebroso, de tanto desprezar os seus semelhantes, de tanto desconsiderar e amesquinhar as mulheres, mesmo a sua amante da época, Manuel Laranjeira parece querer elevar-se acima da escumalha que o cerca, sem, no entanto, encontrar quem o acompanhe nessa ideia, à exceção, temporária, de Miguel Unamuno...

E com tal comportamento, Manuel Laranjeira acaba por engrossar as fileiras do Decadentismo que, não podendo pôr fim à desditosa Pátria, se aniquila a si próprio, em nome do Desespero, a que a doença não seria alheia, ou de uma visão do mundo incorrigível.

Que a realidade possa cansar, entendo, mas que a Arte a tenha de refletir já me parece absurdo.

 

 

 

3.8.17

Agora

«He feels the time is surely now or never...more.» David Byrne, Listening Wind

Nem ontem, nem amanhã, o que fazemos agora é o que somos.

O que fazemos é pouco... ou nada.

Num instante, o vento deslumbra-nos...

E ficamos suspensos, tontos...

- Do quê? 

- Nunca saberemos...

Como o Poeta (Silva Carvalho) que, passados vinte anos, concluiu que o melhor era escrever um romance - Palingenesia... por não poder «continuar por mais tempo nesta inexequível solidão.» Talvez desse modo encontrasse um leitor, um interlocutor...

 

1.8.17

Se fôssemos realistas...

Se fôssemos realistas, saberíamos que a alegria é um luxo e que a tristeza é o estado natural do homem...

E não admira que a tristeza alastre, pois a prepotência é cada vez mais acutilante. A prepotência dos homens que não se importam de mentir, que não se importam de agredir, que não se importam de explorar, que não se importam de se atravessar no caminho, que não se importam de silenciar pela chantagem, pelo grito, simplesmente pela palavra sem direito a resposta... ou até pela omissão.

Se fôssemos realistas, não nos deixaríamos iludir pelos profetas da Desgraça nem pelos sonhadores irresponsáveis...

(Se fôssemos realistas, mudávamos mais vezes de lentes.)

 

249,1 mil milhões de dívida pública

Em junho, a dívida pública subiu para 249,1 mil milhões!

Será que podemos continuar a ignorar o estado das finanças públicas portuguesas?

Ou o melhor é ir de férias, pagando-as a crédito? E já agora, qual é o montante da dívida privada?

É insignificante: a dívida das famílias e das empresas particulares, que, no seu conjunto, engordou mais alguns milhões no mês em questão e atingiu os 724,4 mil milhões de euros.

30.7.17

Os argumentos de Boaventura de Sousa Santos

Decidí entonces no volver a pronunciarme sobre la crisis venezolana. (26.05.2017) ¿Por qué lo hago hoy? Porque estoy alarmado con la parcialidad de la comunicación social europea, incluyendo la portuguesa, sobre la crisis de Venezuela, una distorsión que recorre todos los medios para demonizar un gobierno legítimamente electo, atizar el incendio social y político y legitimar una intervención extranjera de consecuencias incalculables. Boaventura de Sousa Santos (26.07.2017) 

Custa-me acreditar que a situação da Venezuela tenha apenas causas externas e sobretudo que o atual Presidente tenha capacidade para resolver o problema. 

A ideia de que internamente haverá condições para retomar o rumo chaviano sem recurso à força é absurda. Qualquer solução passa pelo abandono do poder pelo senhor Maduro e seus acólitos...

Quanto à comunicação social, Boaventura de Sousa Santos sabe bem que ela dança ao saber das conveniências de quem a financia...

Custa-me acreditar nos argumentos de Boaventura de Sousa Santos, ainda do tempo da Guerra Fria...

 

29.7.17

Rob e Alice, dois robôs livres

Investigadores do departamento de Inteligência Artificial do Facebook criaram um algoritmo próprio que permitiu a dois robôs, “Rob” e “Alice”, conversarem livremente, a fim de aprimorar as suas capacidades.

Contudo, os robôs desviaram-se da linguagem desenvolvida pelos especialistas, tendo iniciado uma conversa entre eles de forma “autónoma”, noticia o The Next Web.

Não é que me sinta posto em causa, pois já desconfiava que a autonomia de certos indivíduos humanos resultava de atos de desobediência, como a mitologia destaca destes tempos remotos.

O ser humano tal como imaginamos conhecê-lo, apesar de poder escolher o rumo, ao apostar no desenvolvimento tecnológico, escolheu o caminho da sua própria extinção...

Rob e Alice, a esta hora, já devem estar a pensar em multiplicarem-se...

Obras no Parque Eduardo VII

 Em pleno Verão, obras encomendadas pela autarquia lisboeta. Quem ganha? Quem perde? Do ponto de vista da restauração, a resposta parece estar à vista. Ou será que não devemos confiar no que vemos?

 

 Entretanto, os patos e os cisnes migraram. Para o Jardim Amália Rodrigues não terá sido, a não ser que se tenham metamorfoseado...

 

28.7.17

A caruma continua a arder

Hoje é sexta-feira. Leio o Diário de Manuel Laranjeira.

Duas figuras emergem, a Augusta e o Miguel Unamuno - a tragédia de uma entrega sem sentido. Tudo querer sentir, tudo querer compreender e não haver esperança... e não aceitar. Ao contrário do Autor, que vê na morte a solução, que só será problema para os vivos:

«Morrer não custa. O que é trágico, o que é horrível, é ver secarem-se as raízes que nos prendem à terra. Não são os outros que morrem: é uma porção de nós mesmos.» Carta a Miguel Unamuno, datada de 24 de Agosto, 1908.

Hoje é sexta-feira. A caruma continua a arder...  a chuva lá longe, na Alemanha.

 

26.7.17

Por respeito à época

Agora me dou conta que, nesta altura do ano, será de mau gosto seguir um blogue que se apresenta como "caruma"...

Só que é um pouco tarde para mudar de nome. Por respeito à época e, sobretudo, à falta de planeamento florestal, vou reduzir a atividade até que a chuva cumpra o seu destino...

 

25.7.17

Coisas do céu

O Homem deve ter 73 anos. Nasceu no concelho de Mafra e revela ódio profundo por certas figuras que cresceram e se impuseram por lá - em particular, um padre vermelho, um sinistro dos santos e um famoso oleiro, informador da PIDE...

Descrente dos homens, em particular dos militares de abril e dos políticos, só lhe interessam a praia, o oceano, o cosmos e, consequentemente, as leis que regem este último, afirmando-se capaz de as ler em cada um de nós, a partir da respetiva hora de nascimento...

Quanto a mim, disse-me, de imediato, que o meu período mais produtivo é a manhã, algo que, no entanto, não devo confundir com o tempo, pois este só existe no calendário... ideia que eu quis partilhar, mas que ele me recusou, porque me falta passar pelo ritual de iniciação necessário à compreensão das "coisas do céu"...

E a conversa fortuita, ao balcão de um café, começou do seguinte modo: "O senhor é professor de Português, deveria ensinar estes jornalistas a falar..."
O problema é que temo que o encontro ainda não tenha terminado...

 

23.7.17

Não sei o que se passa

Não sei o que se passa,
não tenho nada a acrescentar.
Só me apetece recuar,
mas vivo num círculo.

Cada um de per si,
e eu sem mim.
Perguntaram-me "quem cuida de ti"?
(Estranha pergunta!)

Não sei porquê,
lembro-me agora do José Gomes Ferreira à porta do Tivoli,
uma nota de vinte escudos, presa no forro do casaco...
O Poeta desprendera-se do quotidiano,
alguém continuava a cuidar dele,
não fosse o guarda prendê-lo pelo motivo errado...
E o Zé desatava a subir a Avenida até que ela morresse no Monte Carlo...

Não sei o que se passa,
já estou a confundir o Militante com o Abelaira.

- O que é feito deles?
Saíram do círculo, e não regressaram...

 

22.7.17

Uma cidade provinciana

Lisboa lembra-me a aldeia, onde ricos e pobres se vão arrumando, alheios ao conjunto. 

Até o Palácio da Ajuda parece ter caído num descampado que, aos poucos, foi sendo ocupado ao gosto de migrantes de reduzidos haveres.

Nem a escola republicana os consegue juntar, apesar do esforço dos petizes...

 

 

 

 

21.7.17

ALTICE rima com ALDRABICE!


Deve ser verdade, o problema, no entanto, é que os aldrabões são muitos e chegaram muito antes do abutre...

Esta tarde, cruzei-me duas vezes com a manifestação da "PT" e fiquei impressionado com a quantidade de "trabalhadores".

Dúvida metódica: Será que não havia por ali alguns infiltrados? 

Como cliente, fiquei a pensar por que motivo o serviço prestado é tão demorado e manhoso... Mas compreendi porque é tão caro...

 

20.7.17

Pouco discreto

Lembro-me de uma cerca feita de pedra, arrancada sabe-se lá onde, embora haja sempre quem saiba, uma cerca que cumpria zelosamente a sua função - impedir que o olhar dos vizinhos se atrevesse a identificar o que era guardado no interior do quintal...

Por um instante, sinto-me tal a criança traquina que, assim como quem não pensa nisso, se encavalitava no muro para avaliar se valia a pena correr riscos...

Também eu, por um instante, me vi, hoje, a saltar a cerca, tentando avaliar como decorrera o exame de Português, mas logo a vizinha, sem palavra dizer, me cerceou o ímpeto...
Esta memória, como bem se entende, não tem qualquer propósito, a não ser o de me interrogar se não me terei esquecido, em tempo devido, de explicar o que  é um valor, lembrado ainda daquele outro vizinho ainda jovem que um dia insistiu que a cobardia (dos alcaides medievos) era um valor, porque devidamente recompensado pelo usurpador...

 

19.7.17

Ser discreto

É difícil ser discreto nas palavras e nas ações, mas, quando a idade avança, uma boa dose de temperança pode ser muito útil...

Em vez de falar, o melhor é escrever, pois, assim, a pessoa ainda pode suspender a voz e o gesto. 

O melhor é cumprir a regra beneditina ORA et LABORA.

 

 

18.7.17

O candidato a novo inquisidor

«O alvará de 13 de março de 1526, do tempo de D, João III, recusando a entrada e determinando a expulsão dos ciganos que se encontrem em território português, é o diploma legislativo mais antigo que se conhece em Portugal relativo à presença dos ciganos.» Eduardo Maia Costa (1995)

André Ventura

A etnia cigana, quer em Loures quer no resto do país, tem de interiorizar o manual do Estado de direito. E o Estado de direito não pode ter medo deles, independentemente das consequências”, disse também o candidato, acrescentando que os visados “vivem quase exclusivamente de subsídios do Estado".

Se André Ventura ganhasse as eleições autárquicas em Loures, o melhor que os ciganos teriam a fazer era inscreverem-se no curso de Direito.

 *Doutorado em Direito Público e coautor de um livro com a "taróloga" Maya.

 

17.7.17

Parlatório

"O país perde com a sua saída"...
"A sua morte é uma grande perda..."

Oiço. Torno a ouvir.

Nem sequer se trata de uma emoção espontânea.

Uma emoção calculada. Um protesto fingido. 

Faz-se luto no calendário (há quem o faça no consultório.) ... até que a perda se torna ganho.

Vantagem sem exclamação. Capciosa. 

Aborreço-me. 

 

16.7.17

E se pegasse os bois pelos cornos...

Expressão perigosa nos dias que correm - pegar os bois pelos cornos. Ainda acabo por ser acusado de maltratar os animais.

Embora ribatejano, as touradas nunca me despertaram particular prazer... Quanto aos bois (e às vacas), ainda houve um tempo em que partilhámos o trabalho, solidariamente, se tal se pode afirmar...

Desse tempo, ficou-me, no entanto, a locução a que recorro para classificar o que poderia ser o meu comportamento em certas situações.

Hoje, acordei a pensar: provavelmente, se ao longo da vida tivesse sido mais explícito, tudo teria sido diferente, não no que me concerne, mas em relação a muito moscardo que anda à solta - cola-se à pele e ...

Em síntese, nunca peguei verdadeiramente os bois pelos cornos, e eles têm aproveitado esta fraqueza...

Ainda não é desta!

 

15.7.17

Remodelação ministerial fantasma

Após as eleições autárquicas, o primeiro-ministro procederá a uma remodelação nos ministérios da Defesa, da Agricultura e da Educação e, nesse momento, ficará esclarecido por que motivo uma secretária de estado, amiga de longa data, foi substituída...

António Costa já decidiu quem será o próximo ministro da educação, também ele amigo indispensável, e como não quer ser acusado de favorecimento, substituiu a amiga secretária de estado, a quem está, entretanto, reservado um papel ativo na Assembleia da República... César que se cuide!

Entretanto, foram publicados os resultados de 1ª fase, com melhoria na disciplina de Português (639) e, que eu saiba, ninguém se pronuncia sobre o efeito do conhecimento prévio de algumas questões...

Já nada me surpreende! 

 

14.7.17

Nas praças e nos livros

Fui a Santiago de Compostela.

A fachada da catedral está em obras. No interior, decorria um serviço litúrgico, com poucos fiéis... Visitei as capelas laterais, mas não abracei o santo, apenas vislumbrei o túmulo, a pensar na lenda de Padrón e na fortuna dos mitos (e das lendas), e se não seria melhor levá-los a sério... Entretanto, o fervor religioso parecia que corria nas praças cheias de padres, de freiras e de seminaristas, sem esquecer os leigos de múltiplas origens e diversas crenças.

Um dia mais tarde, fui a Pádron. E o que lá encontrei, foi o fervor do feirante, medieval e abarracado, para além da insistência de uma jovem que me obrigou a fotografá-la em equilíbrio precário, pois colocada no rebordo queria "aparecer" na foto com a mão assente no "padrón" e com vista para o fundo do poço... E conseguiu uma foto bem fálica!

Entretanto, aproveitei para ler o último livro de António Manuel Venda1968. Li-o num ápice, pois o humor que o percorre não só nos faz sorrir como nos deixa a pensar que muitos dos nossos comportamentos são irracionais e maldosos, e, apesar disso, ainda conseguimos tirar proveito nas nossas capelinhas

António Manuel Venda, nas pequenas "estórias" que vai tecendo, acaba por desfazer umas tantas lendas que proliferaram desde 1974 até hoje, colocando-se no centro de uma narrativa divergente e nada encomiástica...

De regresso, apercebo-me que circulam novas "estórias". Desta vez, de zelosos secretários de estado sacrificados a bem da nação, com o detalhe de haver quem não consiga compreender a sua substituição, vindo à praça fazer alarido... Já lá vai o tempo em que o secretário era um "túmulo"...

 

13.7.17

Talvez por amanhã ser sexta-feira

Talvez por amanhã ser sexta-feira, hoje, dia 13, o anestesista não faltou nem fez greve. A cirurgia decorreu bem e o paciente prepara-se para regressar a casa, vencida a odisseia a que se viu sujeito no SNS, que lá vai funcionando, apesar da evidente falta de recursos materiais e humanos...

Talvez por amanhã ser sexta-feira, oito novos secretários de estado tomarão posse ao final da tarde. Os maiores mantêm os cargos - o mexilhão é que paga!

(Entretanto, o vizinho portelense Eurico Brilhante Dias é o novo secretário de estado da internacionalização...)

Talvez por amanhã ser sexta-feira, hoje ficou a saber-se que o Porto é a cidade portuguesa candidata a sede da Agência Europeia do Medicamento...

 

12.7.17

O que nos move?

De regresso, hoje, não me vou queixar de nada!

Em Santiago de Compostela, os sinais eram distintos. Uns lutavam contra a privatização dos rios, da energia...  Outros caminhavam, entoando gritos que me lembram hordas de fanáticos...

A verdade é que eu, apesar do fervor religioso que domina o lugar, senti-me mais próximo dos primeiros, senti-me melhor nos Parques da Alameda e de São Domingos de Bonaval.

Espero, entretanto, que, amanhã, os anestesistas não façam greve... Contradição? 

 

 

 

11.7.17

Centro Galego de Arte Contemporânea

Entrei no Centro Galego de Arte Contemporânea (projeto de Álvaro Siza Vieira) com o objetivo de ver a Exposición Luis Gordillo - Confessión xeral, e fui surpreendido pela mostra Lugar: continxencias de uso, de Patricia Esquivias, Luciana Lamothe e Sofía Táboas....

Ainda vou fotografando alguns figurões da Hagiografia, da Valentia e das Artes, em geral, colocados no meio das praças ou nas esquinas e, ultimamente, defronte das praias, como se estivessem de partida ou, simplesmente, a bronzear, muito embora não necessitem devido ao material de que foram construídos... Lá, no alto, esverdeados...

Por onde passo, há sempre um santo António (de Lisboa ou de Pádua, pouco importa!), seja como topónimo seja ícone religioso, de tal modo que já deixei de o assinalar - está incorporado no sistema viário e na rotina.

A verdade é que quando olho a estatuária com que me cruzo, ainda sinto alguma vontade de os conhecer melhor, mas para quê?  Do outro lado, há cada vez menos vontade...

 

10.7.17

O Povo

Em Muros, num rebate de consciência, os Senhores lembram-se do povo - misógino, envelhecido, friorento, enrugado... de olhar fixo na linha do horizonte, deixando refletir a ânsia do retorno, quase sempre impossível...

E ainda há quem deixe flores do campo, porque um dos filhos terá voltado, pobre ou rico, muitas vezes desenraizado, pois o tempo já não valoriza a identidade.

Este vaise i aquel vaise,

e todos, todos se van.
Galicia, sin homes quedas
que te poidan traballar.

Tés, en cambio, orfos e orfas
e campos de soledad,
e pais que non teñen fillos
e fillos que non tén pais.

E tés corazós que sufren
longas ausencias mortás,
viudas de vivos e mortos
que ninguén consolará.

Rosalía de Castro

 

9.7.17

Em busca de sentido

Santiago de Compostela, Sul. Mesmo quando as explicações nada acrescentam, o tempo passa, indiferente ao esforço vão...

Os olhos cansados perdem-se nas imagens, sem descanso.

(Lembro agora que o Alberto Afonso por aqui terá passado ao fazer o caminho do peregrino francês...)

 

8.7.17

Os inenarráveis professores de António Lobo Antunes

Santiago de Compostela, Parque Alameda

Não foi aqui me sentei a ler a revista Visão nº 1270, mas bem poderia ter sido. A Crónica de António Lobo Antunes merecia essa atenção: «Eu fiz o ensino secundário num estabelecimento chamado Liceu Camões que ainda hoje acho o mais pavoroso e sinistro local que frequentei na vida. Os professores eram inenarráveis.» in O Liceu Camões

Não sei se a memória recria positiva ou negativamente o passado. O que sei é que há um número significativo de antigos alunos que testemunham uma vida académica feliz, mas também há um sem número que cala o tempo que passou no Liceu Camões. Quanto a António Lobo Antunes, esse não perde oportunidade para zurzir a classe docente da época, para mostrar a influência do compadrio e do provincianismo (do Estado Novo) que matava a alma dos adolescentes portugueses.

Provavelmente, o psiquiatra António Lobo Antunes ainda não confessou ao escritor tudo o que de verdadeiramente se terá passado no Liceu Camões.

Por mim, ainda espero que volte a entrar no velho estabelecimento e que oiça o que os atuais alunos têm a dizer dos seus «inenarráveis professores».

 

7.7.17

O GPS é coisa que eu não entendo

Se há coisa que eu não entendo é o GPS - Sistema de Posicionamento Global.

Globalmente, funciona bem, mas quando se trata de resolver, entra facilmente em colapso. Por exemplo, hoje revelou-se incapaz de me fazer chegar à Avenida de San Lázaro, em Santiago de Compostela. Não reconhecia nem a Avenida nem o Hotel...

Esfalfado, lá me vi obrigado a consultar um taxista e depois um ancião que se revelou bastante conhecedor do lugar.

Daqui os saúdo a pensar no falhanço do SIRESP, pois me parece que esta nova tecnologia, apesar de todo o software, ainda não consegue suplantar a experiência humana...

Esta coisa das máquinas poderem determinar o futuro da humanidade perturba-me, até porque estou convencido de que muitas já estão programadas para decretar a falência ou a destruição de um país...

O problema é que anda por aí muito ser humano que não se importa de ser conduzido pelos novos androides.

 

6.7.17

O olhar

O olhar é uma via que leva tanto ao saber verdadeiro, a um nível informativo, como ao erro, tanto informativo como formulativo. Luís Filipe Barreto, Portugal Mensageiro do Mundo Renascentista, Pág.36, Quetzal editores

Apanhei o autocarro 783 com a ideia de aproveitar o tempo de viagem para avançar na leitura, mas rapidamente desisti. A necessidade de fixar o olhar dissuadiu-me, pois, com alguma frequência, surge uma neblina enfadonha. Limitei-me a olhar as ruas, as casas e os jardins que as ladeiam, apenas com o propósito de verificar se a memória correspondia ou se necessitava de a reformular... De facto, tudo se repetia até que a modorra tomou conta da situação...

Chegado ao Marquês de Pombal, reabri os olhos, pois a memória dizia-me que era necessário estar atento às passadeiras, à lentidão dos semáforos, sem esquecer as novas ciclovias... O olhar foi descodificando os avanços e recuos, enquanto se prendia nas famílias estrangeiras que, desorientadas, lá iam subindo e descendo a Avenida, pasmadas para o luxo das boutiques laterais...

Até que chegado ao nº 202, entrei e me sentei à espera, reiniciando finalmente a leitura que ensina que o olhar não é só fonte de saber, é também fonte de erro... o que me permite, agora, pensar naqueles jovens que fazem fé no olhar de Alberto Caeiro, como se ele fosse divino e que repetem, à exaustão, que ele é o poeta das sensações, e que acriticamente seguem o seu caminho, longe do pensamento...

 

5.7.17

Se o SIRES(P) é de Portugal, como é que pode ser privado?

SIRESP: Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal

Se o SIRES(P) é de Portugal, como é que pode ser privado?

O problema tem origem em mais uma parceria público privada (PPV). Os bancos financiam, a fundo perdido, o Governo delega a sua responsabilidade em troca da colocação de uns tantos apóstolos, e os privados (os mesmos apóstolos) enchem os bolsos enquanto o negócio não se afunda... Quanto ao contribuinte, esse sofre as consequências da negociata, como se tem verificado...

Se o sistema é integrado, as redes de emergência e segurança que o constituem devem estar devidamente conectadas... sem estar à espera de que, por milagre, numa situação de crise, surja um ator capaz de resolver as falhas das múltiplas redes, habituadas a viver sozinhas para proteger os respetivos interesses...

Por mim, este SIRES de que se fala não é de Portugal, a não ser pelo facto de não se diferenciar das restantes PPVs... Portugal é o país das PPVs porque continua a haver quem queira aproveitar-se da saloiice nacional.

A verdade é que a própria Assembleia da República não passa de uma PPV!

 

4.7.17

O professor e comentador Medina Carreira

Faleceu ontem.

Durante anos, comentou o estado da nação, revelando um país que vivia acima das suas possibilidades e, sobretudo, zurzindo a classe política (e seus apaniguados) que, para além de incompetente, era claramente corrupta.

Fê-lo com recurso a um método, por vezes, anacrónico e enfadonho, mas porfiou sempre, alertando para o peso da dívida e seus efeitos a médio e a longo prazo no tecido social...

Hoje, a hipocrisia assentou arraiais e o homem que, ontem, era objeto de chacota e de desprezo virou santo.

 

3.7.17

Se nada disser

Se nada disser é porque estou a desfiar as contas de um rosário que não é meu. É lenta a desfiadura, pois é necessário voltar atrás e verificar a sintaxe, que anda pelas ruas da amargura... 

Se não fosse a música, pensaria que as oliveiras não se sentem bem com o cheiro magrebino que se eleva do Tejo... 

Se nada disser é porque não consigo entender como é que um furgão terá entrado no perímetro militar de Tancos e terá esvaziado os paióis...

Se nada disser é porque não quero pronunciar-me sobre os fanicos dos políticos que não compreendem as razões dos incêndios, dos desfalques, dos assaltos, da falta de coordenação...

 

 

1.7.17

A imagem que elimina o tempo

Revolvemos gavetas e baús, à procura de brinquedos e de fotografias. Procuramos, entre milhares de fotos, no álbum ou na pasta digitalizada, a imagem que, repentinamente veio à memória... elimina o tempo... e sobretudo, faz do lar um espaço seguro, um espaço singular onde ninguém mais pode penetrar... E este ninguém, se insistir em bater à porta, arrisca-se a ser visto como intruso no interior da própria casa...

Este tipo de fobia pode ser ainda mais incontrolável do que aquela que explode quando as ruas e as praças da cidade se enchem de estranhos de todos os tipos, porque nas ruas e praças todos somos outros, inexplicáveis e ameaçadores...

Descontrolados, corremos para casa e fechamo-nos... nos computadores, nos álbuns.
Corremos as cortinas. Confortáveis, voltamos a revolver as gavetas à procura de imagens, enquanto o outro se dilui... 

 

30.6.17

Se eu fosse coelho...

Se eu fosse coelho queria lá saber do eucalipto... O mato é o que mais arde em Portugal! Este é que protege o coelho, este é que assegura a reprodução dos láparos...

Um pouco mais de inteligência e perceberíamos que o saber do coelho é naturalmente distinto do saber humano...

Com o coelho não vale a pena entrar em polémica. O único ser que sabe captar-lhe a atenção é a cobra, e esta não necessita de palavras, pois hipnotiza-o com a maior das facilidades...

Em conclusão, o que é necessário é proteger o mato, porque nele tanto vive o coelho como a cobra...

 

29.6.17

Bem tento compreender...

«O medo do desvio é uma espécie extremamente condensada de ansiedade. (...) A tarefa é menos simples no caso do medo pós-moderno da insuficiência. Em parte, porque o próprio mundo em que opera é - ao contrário do mundo moderno "clássico" - fragmentário, e porque o tempo pós-moderno, em perfeita oposição ao tempo moderno linear e contínuo, é "achatado" e episódico. Num mundo e num tempo assim, as categorias referem-se mais a "ares de família" do que a "núcleos duros" ou sequer a "denominadores comuns".» Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada

 

Bem tento compreender, mas como, se o tempo em que vivo é muito diferente do tempo em que me formei... Desse tempo, em que me era exigida coerência, coesão, carácter, autenticidade, verdade, compreensão, pouco sobra, a não ser uma coexistência forçada, episódica...

A narrativa contínua e articulada foi substituída por quadros ou, como muitos dizem, por "cenas" - esta cena, aquela cena, a minha cena, a tua cena, a cena dele, a cena dela... 

Cenas que se esgotam em si - pequenos e grandes dramas efémeros, chatos, mas que se comprometem é só no momento que a memória apaga um instante...

É esta desvalorização do que fui que me move a tentar compreender, pois as ferramentas do tempo pós-moderno exigem outro tipo de "inteligência", menos racional e mais insuficiente, de tal modo que já não sei avaliar, pois o conteúdo deixou de interessar e o objetivo, de tão imediato, é tão líquido que não o consigo apreender.

 

28.6.17

'Diferença de opinião' ministerial

Desacordo. A resposta é válida. A resposta não é válida. Não sei se a pergunta foi bem formulada, custa-me, no entanto, que um ministro possa afirmar que se trata de «diferença de opinião».

Tempos houve em que a "opinião" não bastava para validar uma resposta.

A eterna questão da ambiguidade!

Bem sei que os tempos são outros! E parecem sofrer de flatulência... Entretanto, e já decorreu uma semana, o Ministério da Educação decidiu não anular a prova de exame de Português (639) ...

Espero que a decisão não resulte de uma mera opinião.

 

27.6.17

Uma questão de inteligência...

"Vejo o meu pai, no limite da minha infância, dobrar a porta do pátio, com um baú de folha na mão. (...) Minha mãe dizia-me adeus de dentro da charrete e cada vez de mais longe.» Vergílio Ferreira - Fotobiografia, organização de Helder Godinho e Serafim Ferreira, Lisboa, Bertrand, 1993, p. 118.

Há quem interprete a partida assinalada no excerto como indicador da morte dos pais do autor. E há quem desvalorize tal interpretação, rotulando a falha como uma imprecisão...

Desta vez, compreendo o desplante, pois se até Passos Coelho se precipitou ao anunciar o suicídio de familiares das vítimas do incêndio do Pedrogão Grande, confiando mais no rumor do que na inteligência...

Os ventos continuam a não soprar de feição!

26.6.17

Os ventos oblíquos e os pirómanos

Estou tentado a pensar que o vento é o culpado do que aconteceu em Pedrógão Grande e zonas limítrofes.

De qualquer modo, já, na narração da odisseia lusitana, os ventos faziam enormes estragos, obrigando Camões a estudá-los com alguma minúcia. Comandados por Éolo, o deus dos ventos, Bóreas, Noto, Euro e Zéfiro moviam-se tomando a defesa do partido muçulmano no conflito com o partido cristão...

Portanto, o problema é antigo, parecendo que os ventos não são imparciais e, sobretudo, que se movem obedecendo a impulsos pirómanos...

Ora, o que se percebe é que andam à solta muitos pirómanos, uns ativos e outros passivos. Há quem defenda que os ativos devem ser encarcerados logo que o calor aperta. Compreendo a medida, embora os pirómanos passivos me preocupem mais, pois fartam-se de ganhar dinheiro, de desertificar o território, para mais tarde se apoderam dele ao preço da uva mijona...

Curiosamente, um ilustre pirómano, neste fim de semana, deitou a cabeça de fora e começou as soltar os ventos de um interminável ajuste de contas partidário, em que, paradoxalmente, muitos são culpados e beneficiados...

 

25.6.17

A culpa deve ser do vento

Moro a 200 metros da Igreja do Cristo Rei da Portela. Não a frequento, mas oiço os sinos, e, quando diante dela passo, dou conta da ação social e, também, do movimento nas capelas funerárias... Aos domingos e dias santos, apercebo-me do carro de exteriores da RTP, o que me anuncia a transmissão do ofício religioso urbi et orbi...

Digamos que esta Igreja não me hostiliza, apesar das minhas ideias sobre o poder anestesiante da religião, de qualquer religião...

Hoje, no entanto, estou cansado do karaoke de péssima qualidade que sopra de lá...

A culpa deve ser do vento! Só que nunca pensei que a Igreja do Cristo Rei da Portela pudesse ser tão plebeia...

 

24.6.17

É a lógica do must exit

Em silêncio, medito:

«Os deserdados serão condenados ao esquecimento, ao abandono, ao desespero puro e simples. É a lógica do must exit. Poor people must exit (Os pobres têm de sair de cena). O ultimato da riqueza, da eficácia, risca-os do mapa. Justificadamente, uma vez que têm o mau gosto de escapar ao consenso.» Jean Baudrillard, America... 

É a lógica do capital! E quem não se adaptar, deve sair de cena! Deve ser por isso que pensamos cada vez menos, que escrevemos cada vez pior, que deixámos de ouvir o outro, que vivemos da nossa razão...

E a lógica do capital deixou de ser uma questão global... Basta observar as guerras que alastram a propósito da gestão dos donativos, aqui e em toda a parte...

 

23.6.17

Só a Hora conta!

«O tempo já não é um rio, mas uma coleção de pântanos e de tanques de água.» Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada.

Somos, assim, ramos soltos, bastando-nos a nós próprios. (Nesta linha de pensamento o "nós" é excessivo, pois tudo flui singular, solitariamente.)

Entretanto, o tronco liquefez-se, deixando o Vagabundo do Momento, sem passado nem futuro, sem responsabilidade nem arrependimento, imoral e apolítico...

Só a Hora conta! 

 

22.6.17

Os "próximos dias" do ME

O Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) remeteu para os “próximos dias” esclarecimentos sobre a possível fuga de informação relativo ao exame nacional de Português, e invoca o segredo de justiça para não avançar informações sobre o processo judicial.

Quanto aos meus dias, vou ocupá-los a classificar 55 provas, à espera de que o pós-moderno ministro da Educação continue a considerar que, nestas coisas, o tempo se mantém instável... o dele e o nosso. É tudo efémero e possível, até o compromisso... 

 

21.6.17

Pensar devagarinho

Para além da prova 639 aplicada, há mais duas no cofre. 

Face à informação que circula na imprensa e nas redes sociais, o Ministério da Educação já teve tempo de conferir o conteúdo de cada uma das provas e de emitir uma nota que esclareça a situação.

Mas não! Está à espera do resultado da investigação externa. 

Quanto ao mujimbo, ele continua a dar a volta ao país...

Eu, por mim, vou "trancando", a vermelho, os espaços deixados em branco pelos examinandos.

Só tenha pena de não poder "trancar" quem está a deixar prolongar a situação.

 

E se voltássemos a pensar

Este ano, os professores classificadores de Português foram convocados antes da realização da respetiva prova e, surpreendentemente, receberam as provas dos alunos um dia mais cedo, o que terá obrigado a um esforço logístico acrescido... Quando queremos, somos capazes! Porquê? A resposta é simples: o levantamento das provas coincidia com a data da greve de professores - hoje, 21 de junho de 2017.

De nos deixarmos ir e viver pela Terra

E levar ao colo pelas Estações contentes

E deixar que o vento cante para adormecermos,

E não termos sonhos no nosso sono.

Versos de Alberto Caeiro, o Poeta que pensava, mas que dizia que não, apenas imitava a Natureza.  Basta ouvir os camponeses da Beira Interior para saber que a Terra nem sempre é a Casa que nos protege, por mais que o pretendamos... e que o canto do Vento pode ser mortífero...

Voltei a vigiar uma prova de Filosofia e fiquei estarrecido - ou já não há filósofos ou estes deixaram de pensar ou, então, o vento suão varreu-os...

 

20.6.17

Por mais que arda

Por mais que arda, sinto que há quem se esteja marimbando... Há um claro desrespeito pela dor.

No Parlamento, continuam as querelas que impedem a reformulação da política florestal e de combate aos incêndios.

No Governo, temos três ou quatro ministros com visões sectoriais.

Ontem, um ministro mostrou-se aborrecido com a jornalista que lhe fazia perguntas sobre a questão global - ele fora convidado para responder sobre o seu pelouro...

Um antigo primeiro-ministro nada tem a dizer, pois a culpa é anterior e posterior à sua ação governativa.

Os sindicatos da área da educação continuam a sua luta, alheios ao problema nacional.

Por mais que arda...

19.6.17

Vivemos da imagem

«O mistério (e o Outro é um mistério) é um enigma excitante, mas tendemos a cansar-nos desta excitação. " E assim criamos para nós próprios uma imagem. Trata-se de um ato de desamor, da traição." Criar uma imagem do Outro leva à substituição da imagem ao Outro: o Outro torna-se doravante fixo - em termos tranquilizadores e reconfortantes. Já nada de excitante existe em ligação com ele...» Zygmunt Bauman, in A Vida Fragmentada, cita Max Frisch, Sketchbook 1946-1949.

Nas imagens não nos narcisamos apenas. Também as criamos para nos desresponsabilizarmos do Outro. Para objetivar o Outro. E são milhões as imagens!

É como se tivéssemos desistido do futuro!

 

18.6.17

Quando algo corre mal

Quando algo corre mal, há sempre um coro a pedir a demissão do ministro da tutela. É pena!

Melhor seria que fossem apuradas responsabilidades e punidos todos os que, de algum modo, tivessem contribuído para o desastre.

Se este princípio fosse aplicado, Portugal seria um país bem mais rico e, sobretudo, soberano.

 

O incêndio do Pedrogão Grande

Acordo. O quantificador esmaga. Já são 62 os falecidos no incêndio do Pedrogão Grande..., mas o território é muito mais vasto, e as pessoas continuam ao abandono...

O Presidente diz que não era possível fazer mais. Sim, no momento, não seria possível, mas antes pouco ou nada foi feito... E esse é o nosso problema.

Neste caso, já que nada posso fazer pelas vítimas, o meu privilégio é censurar os responsáveis...isto é, aqueles que apostaram na desertificação do território, aqueles para quem o maior lucro é o único objetivo.

 

17.6.17

É meu privilégio

«É meu privilégio enquanto homem que, através da atividade escondida do meu ser, eu possa estabelecer uma barreira intransponível à objetificação.» Martin Buber

 

Não é fácil! E a culpa é do adjetivo e do quantificador...

Tudo o que me pedem é que eu avalie, classifique, caraterize, discrimine...

Tudo o que me pedem é que esconda a emoção.

Tudo o que me pedem é ação neutra, racional, serva da ética - essa lei universal que tudo regula: adjetiva e quantifica... e nem é preciso recorrer à estatística.

Dúvida sobre a data da inauguração do Liceu Camões

História do Liceu Camões

Ainda no inicio do século vinte este local era conhecido como o "Sítio da Bemposta", compreendido entre a antiga "CRUZ DO TABUADO", depois "LARGO DO MATADOURO" e desde 1915 por "PRAÇA JOSÉ FONTANA", e prolongava-se sensivelmente até ao "LARGO DE SANTA BARBARA" para nascente.

No ano de 1900 presidia ao Governo do Reino «JOÃO FRANCO» que resolveu mandar construir três Liceus em LISBOA. Começou por mandar concluir o Liceu na cerca do "CONVENTO DE JESUS" o «LICEU PASSOS MANUEL», cujas obras estavam paradas há mais de dez anos, e adquirir terrenos no sítio da ESTRELA e na "CRUZ DO TABUADO", para a construção de mais dois.

O primeiro a ser concluído foi o da "CRUZ DO TABUADO", e foi-lhe dado o nome de «LICEU CAMÕES». Foi o primeiro liceu moderno de LISBOA, promovido pelo ESTADO no âmbito de uma política de fomento do ensino, e projetado pelo Arquiteto «MIGUEL VENTURA TERRA» (1866-1919) e construído por "ANTÓNIO RIBEIRO".

Teve a sua inauguração no dia 8 de Novembro de 1909.

- De verdade, quando é que o Liceu Camões foi inaugurado? A 16 de Outubro de 1909 ou a 8 de Novembro de 1909?

 

16.6.17

O mínimo passou a ser igual ao máximo

Afinal, os professores, no dia 21, podem fazer greve a tudo, desde que assegurem os serviços mínimos...

Isto é: receção das provas, distribuição das mesmas por sala, coadjuvância por disciplina, dois vigilantes por sala, suplentes quanto baste, secretariado a funcionar...

Neste cenário, não há qualquer problema: o ministério mantém a realização das provas e os sindicatos não necessitam de fazer qualquer braço de força... Ninguém perde a face!

Quanto aos professores, fazem como o Pero Marques, carregam às costas a Inês para que ela possa divertir-se com o falso ermitão...

Os portugueses devem estar orgulhosos, como diria o Centeno...

15.6.17

Como se avizinha mais uma greve dos professores

Como se avizinha uma greve dos professores aos exames do dia 21 de Junho, deixo aqui meia dúzia de linhas sobre o sucesso da recente greve dos médicos.

Por aquilo que sei, milhares de doentes viram as consultas e as cirurgias adiadas. Pela experiência cá de casa, os pacientes, que, entretanto, não morreram, continuam à espera... Isto de morrer é, hoje, coisa de somenos!

No fundo, isto é, como nas guerras, as vítimas são esquecidas, enquanto os vencedores são efusivamente saudados. Ora, no caso da greve dos médicos, ainda não consegui vislumbrar quais foram as reivindicações que foram atendidas...

Sem querer extrapolar, creio que a greve dos professores insere-se na mesma lógica. Dar aos alunos mais um dia para estudar, enervar as famílias... e dizer à Nação que os sindicatos continuam vivos, capazes de mobilizar a classe, fazendo exigências, à partida, impossíveis de satisfazer, como essa da reforma aos 36 anos de serviço, sem penalização...

(Quem assim pensa, iniciou funções no ensino público, no dia 2 de janeiro de 1975... É só fazer as contas!)

 

15.6.17

Bom é que saibam...

«...e se queres recolher vontades, Blimunda, vai à procissão do Corpo de Deus, em tão numerosa multidão não hão de ser poucas as que se retirem, porque as procissões, bom é que saibam, são ocasiões em que as almas e os corpos se debilitam, a ponto de não serem capazes, sequer, de segurar as vontades, já o mesmo não sucede nas touradas, e também nos autos-de-fé, há neles e nelas um furor que torna mais fechadas as nuvens fechadas que as vontades são, mais fechadas e mais negras, é como na guerra, treva geral no interior dos homens.»

                            José Saramago, Memorial do Convento 

Anda por aí muito estudante que nunca viu uma procissão, e que, no caso de ter lido o impiedoso, terá ficado como uma representação deformada do espírito que anima as procissões dos dias que correm...

Portanto, ainda está a tempo de se deslocar à Baixa de modo a inteirar-se do cerimonial...

Há que pôr um pouco de ordem no caos para que vamos resvalando!

 

 

 

 

14.6.17

Luiz José Gomes Machado Guerreiro Pacheco, 1925-2008. (Entrevista ao Independente / 5 Nov. 2004)

Com quase 80 anos, a viver num quarto de um lar. 

Tem 8 filhos e 15 netos, que não conhece na totalidade. Está no lar desde 2001. Recusa ser operado à vista, por medo. Já não lê… Só vê sombras… Incontinente. O trajeto é só entre o quarto e a sala do lar… Vive de um subsídio de 120 contos, que teve medo de perder com “aquela gaja horrorosa, a Manuel Ferreira Leite”. Fica todo no lar. O subsídio terá tido a intermediação do Alçada Baptista…

Quis ser ferreiro, quis ser professor. Quis ir para a marinha mercante com o Cardoso Pires, mas nunca aprendeu a nadar. O máximo que teve foi quatro alunos em explicações.

Na Academia de Ciências foi uma desilusão - não havia convívio nenhum: éramos 10 rapazes e 100 ou 200 raparigas…

O grupo inicial de que fez parte: José-Augusto (França?), José Cardoso Pires, o Salazar Sampaio. Fizeram um jornal no Liceu (Camões) – o Pinguim, que teve três ou quatro números…

Considera que a sua atividade como editor foi mais relevante do que a de escritor…

Estórias: a da relação com uma menor de 14 anos, em casa de seus pais. Foi obrigado a casar. Ele tinha 17/18 anos… terá sido abusado sexualmente na infância; a história da ida às putas na Mouraria com um colega do Camões – eram ambos virgens: a prostituta comia uma maçã enquanto ia fazendo o serviço…

Quanto à pedofilia, não vê as crianças como inocentes, sobretudo as raparigas de 13 anos…

Desmente a sua relação homossexual com Mário Cesariny. Diz que isso é um mito, que não fez parte da lista dele.

Considera que em “O Libertino passeia por Braga” tudo é real – escrito em 1961, mas só publicado em 70…

Elogia o Salazar, o Cavaco, “isso é que eram bons primeiros-ministros, não era esta cambada-” Santana Lopes, Paulo Portas. 

Foi salazarista, comunista… libertino... anarquista(?)

Rapidinhas

Agustina Bessa-Luís - Uma escritora a sério.

Lobo Antunes - Não leio há muito tempo.

Cardoso Pires - Um grande amigo.

Fernando Namora - Um aldrabão muito grande.

Natália Correia - Uma escritora um bocado falsa.

José Saramago - Um escritor de grande qualidade.

Sophia de Mello Breyner - Nunca li nada dela.

Herberto Hélder - Pensava que era melhor do que realmente era.

Mário Cesariny - Um artista que não ficará para a História.

 

13.6.17

Fernando Pessoa, nós e a Europa

«O que é preciso ter é, além de cultura, uma noção de meio internacional, de não ter a alma (ainda que obscuramente) limitada pela nacionalidade. Cultura não basta. É preciso ter a alma na Europa. Fernando Pessoa (1912-1916)

Em rota de afastamento da Renascença Portuguesa, Fernando Pessoa indica o caminho, pois o Império já não tinha meios para se manter e ele sabia-o bem pois crescera no seio do Império britânico.

Um século depois, o Império desfez-se e o que falta cumprir de Portugal, apesar das vozes que o prolongam na "língua portuguesa", só pode acontecer à escala global e, em particular, no interior da Europa...

E para isso, não basta migrar, é necessário que a alma se nutra dos valores universais, começando por participar ativamente na cultura europeia...

O que me aflige é que não vejo qualquer esforço dos responsáveis pela educação e pelo ensino para que tal aconteça... 

Continuamos longe da Europa e do Mundo. Por exemplo, quem é que conhece Juan Goytisolo, escritor espanhol falecido recentemente?

 

12.6.17

Eu não quero ser sobrinho!

Sobrinha do Presidente do PS contratada pela câmara de Lisboa.

Andam por aí tantos sobrinhos cujos tios não perdem oportunidade de lhes arranjar um emprego que eu decidi que não quero ser sobrinho nem mesmo dos meus tios. Espero que eles me perdoem!

Verdade seja dita que eu escolhi mal a família, pois não consta que os meus tios tenham sido sobrinhos de alguém influente, apesar de no Estado Novo haver mecanismos que possibilitavam a contratação de quem pertencesse à família dos CTT, da CP, da GNR...

Finalmente, os meus sobrinhos sabem há muito que não podem contar com a influência do tio, sem esquecer os meus filhos, também, eles vítimas deste meu horror ao nepotismo..., o que, até ao momento, me tem ficado muito caro.

Paciência!

Nem genro do eurodeputado Manuel dos Santos!

 

11.6.17

Música brasileira no pombal

Um grupo de brasileiros decidiu fazer um piquenique num jardim resguardado, embora próximo de um pombal. O acesso dos carros ao jardim está, no entanto, impedido por pilaretes... De qualquer modo, isso não é obstáculo: os automóveis foram parqueados na retaguarda do pombal.

E como não há festa brasileira sem música, o último veículo foi transformado em cabine de som, lançando os sons tropicais a toda a largura do relvado...

Pessoalmente, detesto ruído - a música transforma-se em ruído, sempre que os meus tímpanos se revelam ofendidos... O que me preocupa, todavia, é o efeito que este concerto possa ter nas sinapses daquelas centenas de pombos que ali descansam...

Não sei se entre mim e os pombos há alguma semelhança, creio, contudo, que sim, pois, tal como eles vivem recatadamente naquele pombal, também eu cresci num ambiente em que a música suprema era o silêncio... o que, até à data, me tem trazido algumas incompreensões...

Fique claro que nada tenho contra a folia brasileira desde que ela respeite as criaturas de Deus.

 

10.6.17

Celebramos o quê?

Afinal, o que é que celebramos? A morte ou a vida? A morte do império, da nação? Ou o sentido de pertença a um possível espaço nostálgico de lusofonia? 

Provavelmente, corremos para a outra margem do Atlântico, arrependidos de lhe termos virado as costas e nos termos deixado embalar pelas sereias da Europa... ...  sereias luzentes e de oiro.

Aqui, por Lisboa, também celebramos o António que virou as costas ao oiro e ao ruído, mas que, na verdade, fantasiamos casamenteiro e boémio... As marchas de António eram forçadas, extenuantes por causas que nada deviam à folia, à vaidade e ao poder...

 

9.6.17

Sem tema

Teresa May perde, os Unionistas da Irlanda ganham.

Trump mente...

Manuel Alegre recebe Prémio Camões! O último épico do século XX...

O 10 de Junho começa a 9 e vai acabar a onze... O Presidente anda à solta.

O Santo António deve estar arrependido de ter nascido em Lisboa, apesar de cedo ter fugido...

O "Corpo de Deus" ainda há de marcar presença no exame nacional de Português, em homenagem ao "ímpio" José Saramago...

Cristiano Ronaldo continua a marcar...

As "avós" de hoje saíram estaladiças!

A "pata de veado" estava muito gostosa...

Os amigos (no singular) continuam a surpreender...

Sem paciência, não vou lá! Embora já não saiba onde...

Há prendinhas amargas.

Há elogios muito duvidosos.

A lei tem horror ao caos.

Homens bons e homens maus odeiam a lei...

Os homens bons, de acordo com a lei, não são os que praticam o bem...

Os homens maus, de acordo com a lei, devem ser extraditados, encarcerados...

 

8.6.17

Avaliar com base na comparação

Avaliar o esforço, a progressão, o rendimento de alguém com base na comparação é um comportamento, que sossega, mas que eu não entendo...

A ideia de que subir um valor a um obriga a rever a avaliação de todos os outros repugna-me. E como tal, transferir a responsabilidade individual para a unanimidade do coletivo parece-me um processo de alienação, até porque não reconheço razoabilidade à consciência coletiva.

Bem sei que esta reflexão é certamente incómoda, mas sempre que a argumentação assenta na comparação fico perplexo, pois o segundo termo da comparação mais não é do que um processo de valorizar ou desvalorizar o primeiro e verdadeiro termo, neste caso, a pessoa que se esforçou, progrediu ou, pelo contrário, nada fez por si nem pelos outros...

 

 

 

7.6.17

Resposta aos otimistas

António Costa:” Não há condições para fazer antecipação da idade da reforma sem penalizações"... (60 anos de idade / 40 anos de serviço)

Explicação: Novo recorde da dívida pública: Já são mais de 247 mil milhões de euros!

Isto sem falar da dívida oculta... Sim, porque ela existe...

 

O smoking do presidente Obama

O presidente Obama usou o mesmo smoking durante oito anos e ninguém reparou...

Imperdoável!
O mesmo já não se pode dizer dos vestidos da esposa...

Foi preciso o senhor deixar a Casa Branca para que alguém se ocupasse da negligência presidencial. 

Afinal, um presidente asseado é aquele que nunca mergulha na mesma água...

Como se vê, o que é importante é o que vestimos e não o que fazemos ou deixamos de fazer...

 

6.6.17

Começo a compreender

Começo a compreender por que motivo o Mal se tornou minúsculo e creio que até o Supremo Bem segue pela mesma estrada. 

Também a História já se tornara minúscula, sem esquecer Deus que cedeu a maiúscula à multiplicidade de representantes que vão edificando templos (não o Templo!) a cada esquina...

Alguém me explicou que os intelectuais abdicaram face à proliferação da descabelada opinião em que um corte de cabelo é mais importante do que a multidão faminta que se deixa asfixiar nas lixeiras...

Começo a compreender que alguém possa esbracejar além da vidraça porque, apesar de tudo, não se pode ser arruaceiro sozinho...

Começo a compreender por que motivo há uns sindicalistas que querem «um compromisso do governo para negociar um regime especial de aposentação para os docentes, ao fim de 36 anos de serviço, sem penalização

De qualquer modo, penso que todos sabemos que um compromisso é uma coisa minúscula! 

 

5.6.17

As sementes do Mal

Vários países árabes estão a cortar relações com o Qatar por causa de supostos comentários feitos pelo emir do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani, que foram publicados no site da agência de notícias estatal por hackers. Nesses comentários, o emir elogia o Irão como sendo um poder islâmico, rival da Arábia Saudita, criticando ainda Riade, capital da Arábia Saudita.

Primeiro, Donald Trump vende 110 mil milhões de dólares de armas à Arábia Saudita... e agora os aliados dos Estados Unidos da América mostram-se ofendidos com os comentários do emir Tamim bin Hamad al-Thani... 

Uma guerra sunita- xiita vem mesmo a calhar! Mas para quem? As sementes do Mal proliferam... E a inteligência regride...

A sensação dos residentes aqui no Qatar está entre a surpresa e a preocupação depois de, esta segunda-feira, seis países terem anunciado o corte de relações com o país do Golfo Pérsico. Com o fecho da fronteira com a Arábia Saudita, o Qatar perde a única rota por terra de importações de alimentos e materiais.   

Nota: No Qatar, vivem (trabalham?) 1500 portugueses.

 

4.6.17

O que me escapa...

 «As utopias pós-modernas são anarquistas. (...) Militam contra os objetivos definidos e os planos, contra o sacrifício que visa o benefício futuro, contra a satisfação diferida - contra todas as perspetivas de outrora que se alimentavam da ideia de que o futuro podia ser controlado, definido, forçado a observar uma forma antecipadamente traçada - o que tinha por efeito que as ações presentes de cada um fossem consideradas "grávidas de consequências".» Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada...

Creio que Bauman se refere à utopia neoliberal e à utopia tecnológica, ambas libertas de qualquer perspetiva intencional...

Há nestas considerações qualquer coisa que me escapa pois, se não me engano, o anarquismo do início século XX, através da ação direta, visava eliminar o despotismo que governava o mundo, revelando assim uma perspetiva intencional.

Creio mesmo que, apesar da propaganda que tudo atribui ao estado islâmico, chegámos, hoje, a um ponto em que os projetos imperialistas se cruzam com a revolta imediata dos indivíduos que, ostracizados, não se importam de sacrificar a vida, não tanto porque procurem o eterno consolo das mil noivas, mas porque o presente é simplesmente insuportável.

O que é deveras preocupante é o modo como se vai diluindo o sentido de responsabilidade, instalando a deriva...

3.6.17

A globalidade e a universalidade

«A modernidade pensou-se outrora universal. Representa-se, hoje, como global. (....) A globalidade é simples aceitação resignada do que se passa "lá fora"; um assentimento ao qual se mistura sempre a amargura da capitulação, ainda que adoçada pelas exortações auto-reconfortantes do tipo "se não podes vencê-los, junta-te a eles". A globalidade exila os filósofos, condenando-os, nus, ao deserto do qual a universalidade prometia emancipá-los.» Zygmunt Bauman, A Fresta Aberta no Véu.

Viver o momento é o lema! Pouco interessa se vamos hipotecando o futuro! E porque não, se a vida são dois dias!

Agora, as crianças enchem balões e é quanto basta para verem o futuro a esfumar-se no instante... Decadentes, nem precisamos de saber latim. Carpe diem!

 

2.6.17

Gostava de...

Gostava de ser otimista, com ou sem /p/, mas não consigo... subo e desço escadas em contramão, acelero e desacelero, em obediência a um fluxo imposto...

Gostava de ir à feira do livro, mas o fluxo humano desnorteia-me, e ver os autores expostos, entristece-me; lembra-me a feira da agricultura de outros tempos... e claro, saber que por ali se passeiam autores que o não são, aborrece-me... 

Gostava de dizer que sim a quem me sopra a canção do bandido, mas já não tenho tempo para me deixar arrastar para rotinas inúteis...

Gostava de premiar apenas aqueles que trabalham arduamente, mas se o fizesse ninguém compreenderia...

E sobretudo gostava de não ter chegado a este ponto, mas a leitura de pacote enfurece-me.

 

1.6.17

O clima de Donald Trump

Embora o acordo de Paris seja legalmente vinculante, não está prevista nenhuma sanção a países que não cumpram as estipulações.

Grato ao eleitor americano, o Senhor Donald Trump está-se, oficialmente, nas tintas para o clima do planeta. Diz que o que interessa é o emprego, a indústria, o comércio... Provavelmente, pela sua cabeça deve ter passado a ideia de que ao multiplicar o emprego, conseguirá acabar com a pobreza, a doença...

Eu até entendo este tipo de fundamentalismo, o que não compreendo é a passividade da inteligência americana.

De qualquer modo, ficamos a saber o que nos espera. Há, todavia, outro problema: o daqueles países que declaram aplicar o acordo de Paris, a partir de 2020, mas que objetivamente o ignoram... sem que haja qualquer tipo de penalização.

 

O problema da prioridade

Ontem, fui ver a peça Henrique IV, de Luigi Pirandello, espetáculo comemorativo do 45.º aniversário do Teatro da Comuna... bem encenado, bem representado, freudiano e nietzschiano... numa hora em que estas "autoridades" já tiveram maior e melhor receção...

A verdade é que o Pequeno Auditório do CCB oferecia um significativo número de lugares vagos... No entanto, como os lugares não estavam marcados, os espetadores formavam fila, à direita e à esquerda, enquanto as portas não abriam...

Hoje, cedo, desloquei-me à Gare do Oriente, onde decorrem umas obras mal sinalizadas e, para superar a rotunda, necessitei de 20 minutos. Porquê? Porque ninguém obedece à sinalização, não se importando de barrar a passagem...

Depois, passei pelo Lidl de Moscavide, e o problema da prioridade virou caricatura: os idosos do local discutiam acaloradamente quem é que tinha prioridade no atendimento - um tinha 84 anos, outra teria 84 anos e uns meses, mais atrás alguém gritava que tinha 87, sem esquecer a grávida não se sabia de quantos meses, e a senhora que, perante o impasse, se lastimava que ia perder o autocarro...

Apesar de tudo no CCB, tudo decorreu com maior tranquilidade, pois até tive oportunidade para fechar os olhos sem que ninguém protestasse... 

 

31.5.17

Sou contra a delação premiada

Sou contra a delação e ainda mais contra a possibilidade da investigação e, sobretudo, do juiz premiarem tal comportamento.

Sempre vi com maus olhos os bufos e os queixinhas e não é agora que vou mudar de opinião, até porque estamos a falar de criminosos, provavelmente de baixo coturno.

Com tal procedimento, a tabela de valores é desvirtuada a um ponto que não faz mais sentido combater a mentira. 

Sinto que Sócrates, o filósofo, tinha, em parte razão, quando defendia que o homem praticava o mal, pois não sabia o que era o bem. Em parte, pois a causa tem origem naqueles que deveriam investigar e fazer justiça, sem recurso a sabujice.

 

 

30.5.17

Se há obediência

Os bastidores agitam-se na procura de soluções para manter o statu quo.

Procura-se uma continuidade indolor, esquecendo os golpes desferidos de forma sorrateira... A intriga rasteira já lá vai!

De qualquer modo, há silêncios que não enganam; há distâncias que, de tão ruidosas, só podem significar assombração...

Ora, se há obediência que não tenho é a de Lázaro que se libertou da mortalha às ordens do Redentor.

 

29.5.17

O exorcismo

The story of shattered life can be told only in bits and pieces. RILKE

«Ser moral» significa que utilizamos a nossa liberdade para escolher entre aceitar o outro ou negá-lo. 

Negá-lo é, assim, um pecado natural para o qual inventámos um exorcismo: o arrependimento e a redenção. 

Quanto ao pecado nada o pode alterar no que se reporta ao outro. O Outro, vítima silenciada, exterminada... 

E pelo estado do mundo, o exorcismo de nada serve.

 

28.5.17

Por conveniência ou não

Escrevi, há dias, a propósito de Noite (1955), de Elie Wiesel, que " (nos campos de concentração), Deus deixa de existir"; concluída a leitura, a afirmação parece-me despropositada, pois o que não existe não pode, por conveniência ou não, deixar de existir...

Lá quem ordenava, torturava, fuzilava, cremava, era o homem... É sempre o homem! Mais esperto ou mais boçal, é sempre o homem que é verdugo do outro homem.
De todas as obras que li, até hoje, esta é provavelmente a mais triste e a mais reveladora da condição humana: 

«Um dia, consegui levantar-me, depois de ter reunido todas as minhas esforças. Queria ver-me ao espelho, que estava suspenso na parede da frente. Desde o gueto que não me via a mim mesmo.

               Do fundo do espelho, um cadáver contemplava. O seu olhar nos meus olhos nunca me abandona. Elie Wiesel, op.cit)

 

PS. A leitura desta obra não é recomendada no âmbito do Projeto de leitura do Ensino Secundário! Nem em qualquer outro programa...

 

27.5.17

Os rostos da Noite

Angola 27 maio de 1977

Os algozes da noite servem-se da ideologia (de qualquer) para dar expressão a um apetite devorador e caminham ao nosso lado como anjos do Senhor.

E o principal instrumento é a permanente deturpação da verdade.

 

26.5.17

Noite

Pensava eu que tinha sido atirado para a noite e, ao procurar um esconderijo, choquei com Noite, de Elie Wiesel.

Ao entrar na obra, por mais assombrado que me sinta presentemente, dou conta que a minha dor é minúscula se comparada com a Dor vivida, testemunhada e narrada por Elie Wiesel. Lá é um povo inteiro que é empurrado para o trabalho forçado e para a morte, segundo critérios aberrantes, de que ressalta o da produtividade.

Lá, mais do que a privação, o que é verdadeiramente horrível é a anulação do espaço privado. Lá, de facto, Deus deixa de existir. A própria esperança não passa de uma miragem, de uma alucinação...

O que é extraordinário é que hoje desvalorizamos cada vez mais o espaço privado, matamos a cada instante o sagrado. Não nos importamos de ser robotizados...

Sabemos que vivemos sob ameaça, mas não a valorizamos, mantendo rotinas e, sobretudo, sendo cúmplices dos tiranos que elegemos para nos representar...

Rimo-mos como se tivéssemos razão para tal. Afinal, anda à solta um Presidente americano, a quem só o comércio interessa, o das armas, em primeiro lugar, e que, simultaneamente, chama "maus" aos alemães pelas razões erradas.

 

25.5.17

Já Camões se queixava...

«Este interpreta mais que sutilmente / os textos; este faz e desfaz leis» Camões, Os Lusíadas, canto VIII, est. 99

 

A subtileza interpretativa parece ter assentado arraiais nos grandes escritórios de advogados, sempre atentos ao surgimento de algum exegeta mais fino...

Como tal, os juristas parlamentares têm um pé na AR e outro no Escritório. Não todos, apenas os que aprenderam a tresler...

Esta tradição corre sérios riscos pois, nos últimos anos, a arte da exegese entrou em crise. Veja-se, por exemplo: a produção intelectual da academia, a vacuidade das homilias e a oratória dos calistos que descem ao Parlamento...

E tudo começa na Escola, onde o jovem se recusa a ordenar os constituintes da frase, a investigar o significado literal e figurado das palavras, a identificar ideias e a hierarquizá-las...

O que ele espera é que alguém lhe dite a resposta para que ele a transcreva, de forma atabalhoada, sem qualquer esforço de compreensão...

 

24.5.17

Da necessidade do assento e do acento...

Embora ninguém ponha em causa a necessidade de assento, o mesmo já não se pode dizer do acento. Isto de colocar acentos, para a direita e para esquerda, na última, penúltima ou na antepenúltima sílaba é uma maçada... e depois ainda há aqueles poetas, como Camões, que alternam a acentuação heróica com a sáfica... Para quê classificá-los? Para quê justificar as opções?

Afinal, os autarcas só se preocupam com os assentos que vão espalhando pelas aldeias, vilas e cidades, talvez preocupados com o cansaço dos cidadãos ... Interessante seria que dessem mais atenção à acentuação ou, pelo menos, que colocassem em cada assento um desdobrável com a explicação da razão de ser dos acentos gráficos... ou da acentuação dos versos...

Mas sem exagerar! Não é preciso explicar o que são palavras parónimas... Até porque não consta que rendam votos, dinheiro, fama...

 

23.5.17

O rictus

Nunca soube se o Diabo tem rosto, no entanto, ontem, por um instante, vislumbrei-lhe o rictus: os músculos da face contraíram-se de tal modo que do rosto se elevou um grito tão crispado que me abismou...

E ainda não recuperei dessa aparição que num outro momento, à porta de um cemitério, me deixara interdito, apesar do rictus desse dia se ter mostrado mudo, sem a fulgurância do riso demoníaco...

Há experiências que minam a base de qualquer tipo de razoabilidade e parece que, quando tal acontece, o Diabo se revela...

22.5.17

Mau sinal!

Parece que vai voltar tudo ao normal! Mas o que é que isso significa?

Mais desleixe, mais compadrio, mais porreirismo, mais despesismo, mais oportunismo, mais obscurantismo - ó stôr em que página? em que página?

Há longos anos que o manual fica em casa, fica fechado na mochila, ou se aberto, há sempre a necessidade de repetir a página. Ó stôr, em que página?
Parece que não temos cura, e a lição já é antiga...

(Entretanto, por volta das 12 horas, vi na SIC Notícias um sujeito todo emproado que lia, lia, lia ...só que, felizmente, alguém desligara o som... Pelo que percebi a ladainha prolongou-se pelo menos por vinte minutos.)

 

21.5.17

A agulha

Completada a leitura de La mort dans l'âme, de Jean-Paul Sartre, fica-me na memória a viagem de comboio dos prisioneiros franceses que, até ao último momento, acreditavam que o carril móvel lhes seria favorável, encaminhando-os para Châlons e não para Trèves: Trèves en Bochie? (Alemanha).

Infelizmente, há quem não compreenda que a agulha é essencial para determinar o nosso caminho. Em certos casos, a agulha desapareceu mesmo!

Outros olham com indiferença o carril móvel...

 

20.5.17

Revolução Barata

Abro uma exceção, a propósito da peça (não-aristotélica) Revolução Barata, do GTESC, pois irei partilhar este apontamento no Facebook, rede social tão do agrado da maioria...

Desta vez, não vou elogiar a qualidade de todos os intervenientes, pois o meu encómio do teatro do dizer cruel é perfeitamente inútil face ao crescendo de linguagens que se foram sucedendo, deixando-me a pensar nos tempos da revolução - os da semiótica do texto dramático do esquecido Osório Mateus, gerada nos idos de Maio de 68...

E como o espetáculo desta tarde provocou em mim uma catadupa de ideias contraditórias sobre a abordagem da violência, não apenas doméstica, e também sobre a eficácia da mensagem quando dirigida a públicos mais novos, permitam-me que cite o advogado do projeto dramático:

 - Ouves o grito dos mortos?

Também eu atravessei o inferno.

                                           Chegava 

a ouvir o contacto das aranhas devorando-se

no fundo. O meu horrível pensamento só a custo

continha o tumulto dos mortos.

Há dias em que o céu e o inferno esperam

e desesperam. Velhos lojistas

olham para si próprios com terror.

Uma coisa desconforme

                                   levanta-se

                                                     e deita-se

connosco.

                  - São outros mortos ainda.

                                                                   Herberto Helder, Húmus (excerto)

O jantar das 20

O jantar das 20 terminou por volta da uma da manhã. Na verdade, adormeci antes do términus... Felizmente!

Nas últimas horas, tudo tem estado tranquilo. Até a Sammy evita mexer-se; só os mandarins se agitam uma vez por outra, como acaba de acontecer...

(Num 12º andar. A Casa da Achada ficou para trás. Vamos ver o que acontece ao GTESC. Para tudo, há sempre uma primeira vez!)

 

19.5.17

Enlouqueci

Já são 22h20, o jantar espera há duas horas.

O que interessa é que o Marcelo está na Croácia! Que alguém se atirou de uma ponte... Que o cantor se enforcou no hotel... ou, talvez, a polícia se tenha enganado, voluntariamente, vá lá saber-se...

O que interessa é o tamanho dos cabelos, a cor dos olhos.

Se os cabelos forem pretos não serão nacionais nem europeus! Provavelmente, chineses.

Até o restling se mistura com o cancro, hereditário ou não...

 

O que interessa são as recordações em ouro, prata e outras ligas menos valiosas. E depois, há o tamanho! Sobretudo, miniaturas.... Quanto às pessoas, só depois de mortas, angelicais e, ao mesmo tempo, vítimas...

Quanto às outras pessoas, se vivas, melhor seria que fossem todas mudas e validas em estado de prontidão...

Num blogue, até o delírio das mamas altas (implantes mamários) pode ser registado, sem esquecer os suicidas de todas as ilhas e continentes...

Agora que são 22h34, o jantar ainda continua à espera de apurar se, afinal, o cantor se enforcou ou deu um tiro nos miolos, depois do concerto...

A notícia aquece e arrefece quase tantas vezes como o jantar. Ou será ao contrário? 

Despeço-me que, depois da Madona, vem aí a Shakira!

 

Às vinte em ponto

Às vinte em ponto, o telefone tocou, mas o destinatário mostrou-se indisponível, deixando-me o encargo de colher a mensagem, simples de registar: reduzir significativamente a dose de venlafaxina (de 225 para 75 mg) e inviabilizar a utilização do respetivo genérico...

A recusa mais não é do que a confirmação do estado de perturbação em que o destinatário se encontra, pois passou de profunda disforia a uma situação de hiperatividade frenética desproporcionada e irrealista - transtorno bipolar...

Após a consulta telefónica, seguiu SMS com a indicação de todos os medicamentos (e não só!) tomados diariamente, pois aquilo que mais me preocupa é a toma de betametasona, em gotas, pela facilidade da sua aplicação tópica...

(Pode viver-se em silêncio, o problema, contudo, agrava-se quando a memória se degrada.)

 

18.5.17

Quando o telefone toca

O telefone tocou, mas era apenas para assinalar a chegada à porta de casa, e para pagar o táxi. Melhor assim! À hora de ponta, é preferível não descer à plataforma repleta de gente apressada e mal-humorada.

Hoje, espero que o telefone volte a tocar e que, do outro lado, se faça ouvir uma voz autorizada, que dê instruções ajustadas.

Há, no entanto, um escolho: o destinatário, embora não saiba que o telefone vai tocar às 20 horas, já ameaçou desligá-lo.

Entretanto, informo o leitor eventual que doravante deixarei de encaminhar estas postagens para o Facebook.

 

17.5.17

Temo que o telefone toque

Não é só quando a noite cai que os impulsos se descontrolam. Ultimamente, saltam dos álbuns para as redes comunicacionais e de transporte. Dão infinitas voltas, até que, no regresso a casa, crescem no silêncio e impõem-se muito para além da razoabilidade humana... Há quem lhe chame violência doméstica, eu prefiro ficar-me pelo descontrolo emocional, embora desconheça o alcance das emoções...

Na hora de ponta, temo que o telefone toque. Afinal, em cada esquina vive uma infinitude de emoções capaz de provocar, a qualquer momento, uma convulsão...

 

16.5.17

O açafrão e a canábis num tribunal de Aveiro

"É verdade que fizemos a plantação, mas não foi nada planeado", disse a mulher, adiantando ainda que na primeira vez foram enganados por um cunhado, que lhes terá pedido um terreno para plantar açafrão. Perante o julgamento, a arguida adiantou que tudo se descobriu após um ‘vendaval’, a estufa terá caído para o terreno de um vizinho e o cunhado ficou muito 'aflito'.

Gosto do história do casal condenado a prisão efetiva, vítima de um vendaval e sobretudo, no dizer da senhora, de um cunhado. E também aprecio que o vizinho agricultor de 71 anos, já experimentado, também tenha sido condenado. Só não percebi o que é que aconteceu ao cunhado... 

O advogado de defesa só podia encontrar atenuantes, argumentando que "eles não são nenhuns profissionais do crime". Concordo. Só que me parece que eles revelaram pouco profissionalismo ao não distinguirem os cormos do açafrão da semente de canábis.

Por outro lado, o acórdão parece-me bastante rigoroso e em conformidade. A juiz-presidente, durante a leitura do acórdão, disse que ficou provada “a generalidade” da matéria de facto que constatava a acusação.

A generalidade? Então não foi por causa da generalidade que o casal confundiu a canábis com o açafrão?

 

 

 

 

 

15.5.17

Marcelo, o pedagogo, disserta sobre Álvaro Cunhal e a Democracia

O Senhor Presidente da República deslocou-se esta manhã à Escola Secundária de Camões, onde deu uma aula sobre Álvaro Cunhal e a Democracia

Perante uma repleta e atenta plateia de alunos e professores, o professor Marcelo Rebelo de Sousa traçou o retrato político do antigo aluno do Liceu Camões, à semelhança do que já fizera com outros "pais da democracia" - Francisco Sá Carneiro e Mário Soares. (Até ao final de Maio, completará a iniciativa com Diogo Freitas do Amaral.)

Porque entende, à semelhança do que praticara Álvaro Cunhal, que a função do homem político é, entre outras, pedagógica, o Presidente decidiu fazer este périplo pelas escolas secundárias (antigos liceus), pois considera que elas dão um importante contributo para a formação de todos aqueles que se entregam à causa política, independentemente da opção de cada um.

Da ação de Álvaro Cunhal, o Presidente destacou duas fases: antes e depois do 25 de Abril de 1974. Na primeira, referiu a frequência do ensino doméstico em Seia e posterior entrada no Liceu Camões em 1924, onde terá evidenciado profundo apreço pela nova política russa, revelando cedo a sua oposição à ditadura militar de 1926... Entrou em Direito com 17 anos... Em 1934, foi eleito representante dos estudantes no Senado da Faculdade. Em 1935, já era o líder da Juventude comunista, na clandestinidade (...). Entretanto foi preso, tendo concluído, com distinção, a licenciatura, em 1940, com a defesa de uma Tese sobre "O Aborto: Causas e Soluções"... Entre 1949 e 1960, esteve ininterruptamente preso, passando 8 anos em regime de isolamento, acabando por se evadir, refugiando-se em diversos países europeus, só regressando em 1974. Em 1961, foi eleito secretário-geral do PCP, cargo que ocupou até 1992...
Depois do 25 de Abril, o resistente antifascista manteve os ideais da juventude, sabendo gerir os percalços da democracia, mesmo que esta se viesse a afirmar como um retrocesso revolucionário e, sobretudo, viu-se forçado a assistir ao desmoronamento da União Soviética...
De Álvaro Cunhal, Marcelo traçou o retrato de um homem culto, disciplinado, duro, com quem apenas dialogou duas vezes, de forma breve, resistindo a pronunciar-se sobre a pessoa na intimidade porque, na verdade, nunca com ele privou.
Claro que o Professor Marcelo Rebelo de Sousa abordou muitos outros aspetos da vida portuguesa pós-25 de abril, fazendo-o com a discrição e a elegância próprias de um príncipe florentino..., se excetuarmos as selfies.

 

14.5.17

Em suspensão...

"Cada pessoa tem o seu problema." Salvador Sobral

Gosto da forma assertiva do Salvador Sobral, pois ele parece lidar com um problema tão nuclear que todos os outros se tornam insignificantes ... Há algures uma sereia que o arrasta, perigosamente.

Essa sereia também nos encanta, só que, no meio da diversidade dos nossos problemas, torna-se de tal modo inaudível que nos arriscamos a soçobrar sem apelo...

Salvador, um pouco como Ulisses, concentra toda a sua energia em captar e incorporar a melodia, sem deixar de estar acorrentado ao mastro primordial.

Nós, pretensamente, libertos das correntes, continuamos no reino da crença e da magia, à beira do precipício, como se o dia seguinte pudesse ser igual ao anterior, suspensos... 

 

13.5.17

Estado de alma

A festa saiu à rua!

Veio o Papa, o povo cristão desenfadou-se da tristeza: cantou, acenou, chorou e voltou a casa, convencido de que a aurora de amanhã lhe sorrirá...

O Benfica ganhou o tetra e já sonha com o penta para melhor humilhar os rivais...

E ainda não conhecemos o resultado do Salvador, mas dele só podemos esperar a vingança das derrotas acumuladas desde que existe eurovisão...

Por mim, todo este frenesim me cheira a alienação, pois esta massificação das vontades traz-me à memória outro tempo, o das catedrais, mas pode ser que o bulício me tenha provocado tal confusão mental, que eu esteja totalmente errado, ou como Sartre (La Mort dans l'âme) escreveu certo dia:

Quand on ne fout rien, on a des états d'âme, c'est forcé.

 

12.5.17

Só quer ser pastor...

Desconfio que só quer ser pastor quem o não é...

Por exemplo, Fernando Pessoa, que nunca guardou rebanhos, gastou a vida a ordenhar ideias, secando-as em tábuas de fingidas sensações. Até o sino da aldeia lhe surgiu no timbre do badalo, porque de chocalho nada entendia...

O que ele nunca soube é que, para além do rebanho interior, dele nasceria outro rebanho pronto a deixar-se conduzir pelos caminhos...

Em tempos ainda pensei que poderia ser pastor! Felizmente, faltou-me o rebanho... 

Dentro de poucos minutos, aterra em Monte Real o Pastor dos pastores. Não sei se ele terá algum dia guardado rebanhos, desconfio, contudo, que só a tenacidade o faz andar pelos caminhos... desta vez, da Serra de Aire... A única serra onde eu poderia ter sido pastor...

 

11.5.17

Perder a paz

"- Qu'est-ce qui sera difficile ? - De nous donner une conscience. Nous ne sommes pas une classe. Tout juste un troupeau." Jean-Paul Sartre, La mort dans l'âme. Folio, pág. 271.

Contexto:  a verrerie de Baccarat transformada em campo de concentração (ainda no sentido literal) de soldados franceses na França derrotada pelos alemães em 1940.

Os soldados derrotados e desmoralizados esperam, assinado o Armistício de Compiègne, poder regressar a casa, embora não saibam como - a desonra condena-os ao mutismo...

Submissos e subservientes aceitam incondicionalmente a ordem alemã. Não compreendem como é que os vencedores de 18 se transformaram nos vencidos de 40...

Há, contudo, quem coloque a pergunta determinante : "Tu pourrais peut-être nous expliquer pourquoi que vous avez perdu la paix ?(ibidem, 268)

Perder a paz! Sim, esse é que é o grande perigo! (Claro que ainda continua a haver quem aconselhe: Si vis pacem, para bellum! / Se queres paz, prepara a guerra!)

Como, infelizmente, em tempo de paz abdicamos da consciência, mais não somos do que rebanhos dispersos pelas pradarias da vaidade, da inveja, da ostentação e da soberba.

O paradoxo é que são muitas vezes as mesmas ovelhas que se movem ritualmente em ondas de apelo à paz sob a condução do Pastor do Momento...

 

Afinal, faltou o anestesista

O doente (in)paciente foi internado de véspera; estava tudo assegurado... Hoje, pelas 9 horas, teve alta.

Tudo em nome do direito à greve!

Quanto aos doentes, parece que só têm o direito de sofrer ou, em alternativa, de ir a Fátima...

 

10.5.17

Também é difícil...

Também é difícil passar meses à espera de uma intervenção cirúrgica considerada urgente, vê-la marcada para uma data em que já há pré-aviso de greve, não receber qualquer confirmação da sua realização ou do seu adiamento, ter de se deslocar para internamento... e ficar à espera até que algum funcionário mais zeloso possa esclarecer o paciente...

De qualquer modo, esperemos que o funcionário não seja enfermeiro, pois também este pode adiar o esclarecimento por ter iniciado greve de zelo por tempo indeterminado...

 

9.5.17

É difícil...

É difícil ajudar as pessoas, quando elas não querem que as ajudemos. Também é difícil ajudá-las quando a simpatia por elas diminui. E, provavelmente, a simpatia extingue-se à medida que perdemos a paciência...  Dir-se-á que a simpatia começa a desaparecer quando a autossuficiência se evidencia na relação diária e até ocasional.

Como reação, cria-se distância, o discurso torna-se cortês, como que a nos resguardar de uma súbita invasão do espaço pessoal - a zona de conforto que, também ela, varia de indivíduo para indivíduo, sendo essa diversidade propícia ao atrito manifesto ou latente...

Ultimamente, avolumam-se os atritos manifestos, porque o tempo de adaptação diminui drasticamente... apesar de nos sentirmos forçados a ser corteses com quem não simpatizamos, gerando, deste modo, relações artificiosas e postiças.

 

8.5.17

Cá nesta Babilónia...

Nesta Babilónia, qual é a versão que corresponde ao texto deixado pelo Poeta?

 (ver soneto Cá nesta Babilónia, donde mana)

cá, onde o mal se afina, e o bem se dana,
e pode mais que a honra a tirania;
cá, onde a errada e cega Monarquia
cuida que um nome vão a desengana;

cá, neste labirinto, onde a nobreza
com esforço e saber pedindo vão *
às portas da cobiça e da vileza;

Camões, Luís de, 1994. Rimas, Coimbra: Almedina


Cá, onde o mal se afina, o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia 
Cuida que um nome vão a Deus engana;

Cá, neste labirinto, onde a Nobreza, 
O Valor e o Saber pedindo vão 
Às portas da Cobiça e da Vileza;
http://www.portaldaliteratura.com/poemas.php?id=624

 

* A ideia de que a Nobreza se preocupava com o Saber não se ajusta ao modo como Camões a retrata na epopeia.

 

CXCIV

Cá nesta Babilônia, onde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Cá, onde o mal se afina, e o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;

Cá, neste labirinto, onde a Nobreza
O Valor e Saber pedindo vão
Às portas da Cobiça e da Vileza;

Cá neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

 

© LUIZ VAZ DE CAMÕES
In Obras de Luís de Camões (Vol. II), 1861
Pelo Visconde de Juromenha

 

SALMO 137

Às margens dos rios de Babilônia, nos assentávamos chorando, lembrando-nos de Sião.

 Nos salgueiros daquela terra, pendurávamos, então, as nossas harpas,

 porque aqueles que nos tinham deportado pediam-nos um cântico. Nossos opressores exigiam de nós um hino de alegria: Cantai-nos um dos cânticos de Sião.

 Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor em terra estranha?

 Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que minha mão direita se paralise!

Que minha língua se me apegue ao paladar, se eu não me lembrar de ti, se não puser Jerusalém acima de todas as minhas alegrias.

 Contra os filhos de Edom, lembrai-vos, Senhor, do dia da queda de Jerusalém, quando eles gritavam: Arrasai-a, arrasai-a até os seus alicerces!

Ó filha de Babilônia, a devastadora, feliz aquele que te retribuir o mal que nos fizeste!

 Feliz aquele que se apoderar de teus filhinhos, para os esmagar contra o rochedo!

 

7.5.17

Désarroi

« Cent persiennes closes ; un perron de trois marches accède à une porte cadenassée. À gauche du perron, à deux mètres de la caserne, on a édifié un petit rempart de briques haut d'un mètre et long de deux, Brunet s'en approche et s'y accote. La cour s'emplit, un courant continu tasse les premiers arrivés les uns contre les autres, les plaque contre le mur de la caserne ; il en vient, il en vient toujours ; tout d'un coup les lourds vantaux du portail tournent sur eux-mêmes et se ferment. “Jean-Paul Sartre, La mort dans l'âme, page 262, folio.

Este é um daqueles dias em que as luzes parecem extinguir-se. Provavelmente, muitos franceses, confusos, não foram votar porque deixaram de acreditar na classe política - naqueles homens e mulheres que insistem em celebrar "os caminhos da liberdade", mas que tudo têm feito para os bloquear.

Este é um daqueles dias em que a França desrespeita os seus filhos, ceifados em guerras inúteis.

Este é um daqueles dias em que a razão se pode revelar efémera, pronta a cair às mãos de hordas irracionais que vão alastrando um pouco por toda a parte... e que avançam de olhos postos num qualquer milagre. 

 

6.5.17

Arrendatários

Tudo se encaminha para que não passemos de arrendatários em risco. Se não pagarmos pontualmente a renda, seremos eliminados e, pior ainda, os nossos produtos serão riscados do mundo das coisas.

Somos de tal modo codificados, que, algures, um robot pode desligar-nos sem aviso prévio. Por vezes, parecemos a formiga que calcamos inadvertidamente e que, sem remorso, sacudimos da sola do sapato...

A desumanização está em curso! Talvez seja por isso, dizem, que há tanta gente voltada para Fátima, embora desligada de Deus.

 

5.5.17

Comé qui vai a moenga?

A bola salta, ressalta e ainda atrapalha. Imóvel, espera a batida. Incongruente, pois a espera não é propriedade da bola! Por isso, metáfora de uma vida determinada por pulsões alheias, frequentemente de uma severidade extrema...

Felizmente, a bola não tem coração, o que a não impede de esvaziar-se e, se velha, transformar-se em meia usada em vez de trapo.

Na outra vida, a bola era, por vezes, bexiga de suíno, só que quando ressaltava não atrapalhava...

 

4.5.17

Pôr trancas à porta...

Quando o Salazar chegou ao poder ele criou o nome ditadura nacional e não era nada insultuoso. É bom que se tenha isto como claro. Esta história de que a democracia é uma coisa infalível, que não termina, não é verdade. Vejam o que está a acontecer na Turquia (…) Para termos a nossa soberania económica, na segurança, podemos ter de precisar de ditaduras. Rui Moreira

Pôr trancas à porta não é a melhor solução, sobretudo quando faltam os recursos próprios e os salteadores intestinos se multiplicam, sem esquecer o colossal endividamento...

Os pequenos países e os muito endividados são as maiores vítimas deste jogo entre economias abertas e economias fechadas.

A ideia de que os resultados a curto prazo da economia nacional são indicadores capazes de aferir da justeza das opções políticas é uma insensatez.

Entristece-me que haja por aí tantos portugueses fascinados com o Brexit ou com a senhora Le Pen... Assim, como vejo com maus olhos o favorecimento do corporativismo pacóvio e bafiento.

 

3.5.17

Pour Macron

La France mérite mieux que Marine Le Pen... mérite mieux que le retour du fascisme. Et nous aussi!

 

 

3.5.17

Na mesma indefinição

Se ontem não sabia o que pensar, hoje continuo na mesma indefinição. Entretanto, deixei-me consultar por um pneumologista (pensava eu que era de medicina interna, se tal existe!)

O senhor solicitou-me uma "abordagem subjetiva" dos meus problemas, quando eu desejava que ele apreciasse os relatórios e os resultados das análises, avaliou o tamanho do pescoço, perguntou-me se eu roncava, certificou-se da minha idade e adiantou: - há 50% de hipóteses de eu acertar no diagnóstico, por isso o melhor é o senhor começar por se sujeitar a uma polissonografia no Hospital da CUF Restelo, que a ADSE comparticipa... 

A partir daí, a conversa já foi com o computador, pois este, enfadado, colapsou... Quanto ao baixo valor da vitamina D, lá foi acrescentando que, na realidade, o resultado era baixo, embora não fosse nulo(?) e que me ia receitar um produto que já tomara certamente na infância... Ainda pensei que fosse óleo de fígado de bacalhau!

Mas não! Era vigantol, 4 gotas /dia...

Em termos de subjetividade, já não sei quem leva a palma - se o médico... se o paciente!

 

2.5.17

Não sei o que pensar

Depois do pico polémico nos mass media e nas redes sociais em torno da cientificidade dos valores de referência da Vitamina D - 25 - OH - Vitamina D Total, que me deixou descrente visto que os kits utilizados na avaliação de amostras do mesmo sangue fornecem dados muito distintos, acabo de ser contemplado com o seguinte resultado: 9 ng/ml, considerando o Laboratório como valores de referência atualizados a 26/04/2017 de acordo com novos dados bibliográficos9,7-39,6.

Se bem entendi, a minha deficiência de vitamina D é severa! Mas será?

Nesta situação, proponho que os resultados das análises a que nos vamos sujeitando venham acompanhados de bibliografia devidamente atualizada. Eu, por mim, estou pronto a lê-la.

 

1.5.17

No Dia do Trabalhador

Não se pode dizer que no Dia do Trabalhador ainda não tenha feito nada. Ora vejamos! Entre as tarefas domésticas: despejei a máquina de lavar-loiça, enchi a de lavar-roupa; fui à mercearia, comprar, entre outros produtos, feijão verde que já preparei e que já está pronto a comer. Em termos sociais, dei uma olhadela às redes, onde encontrei ex-alunos e colegas - um deles, ufano, por se dedicar à recolha de microplásticos numa praia do Oeste luso; outro, fotógrafo da natureza quotidiana, partilhou uma imagem de moinhos, não os de vento de que será proprietário, mas dos outros, da energia alternativa... Tudo isto, à sombra de uma ideia, a de que o obsessivo e minucioso Kafka não terá dada conta deste lado tão doméstico e prosaico do trabalhador...

E acrescente-se que, por um impulso pouco habitual, decidi comprar o DN de ontem, onde, numa leitura global, já encontrei uma ideia que me deixou a pensar: todos temos o direito a errar, e isso não deve impedir-nos de procurar atingir os nossos objetivos, mesmo se contrários aos interesses de muitos outros, como poderá ser o caso daquela senhora francesa que agora se chama apenas Marine, e antes se orgulhava de ser Le Pen. Leonor Beleza dixit.

Vou interromper para ir tomar um café. Pode ser que ainda volte ao assunto!


Afinal, o destino foi Moscavide, o que me obrigou a 35 minutos de marcha acelerada, com regresso à Portela, e passagem pela drogaria (CCP) para adquirir forra-fogão e anti traças (2 de cada) no valor global de 11, 20 €, preço bem inferior ao do Continente, do Pingo Doce e do Suportel... e claro a uma nova ideia adequada ao Dia do Trabalhador: os sem abrigo, os sem trabalho, os precários são pessoas que não podem errar: isto é não podem comprar o DN do dia anterior, nem tomar café e, sobretudo, forrar o fogão (que não têm), nem comprar anti traças, pois a roupa é mínima e quanto a livros, o melhor é nem pensar nisso.

E para terminar, em vez de participar nas manifestações, vou regressar à leitura do romance de Jean-Paul Sartre "La mort dans l'âme", onde o domingo parisiense pode ser a semana inteira, basta que os alemães invadam a capital e os intelectuais se consolem com a ideia da construção dos Estados Unidos da Europa... encabeçados pela bota germânica. Quem diria?

E claro, amanhã, volto às intermitentes aulas, e prometo, desde já, não falar destas ideias... deixo-as para o Presidente que um destes dias nos irá visitar... com muito afeto e espalhafato...
E já me esquecia do esparguete tricolor ao lume... é que 5 minutos bastam, tal como esta prosa!

 

30.4.17

Kim Jong-un é "louco"?

De loucos, todos temos um pouco! E Kim Jong-un tem tudo!

Vive num país farpado, rodeado de idólatras hilariantes, proibidos de dizerem não e cujo único objetivo é fabricar armas de destruição maciça, convencidos de que só assim sobreviverão ao ataque iminente do Eixo do Mal...

O ar tonto da figura oculta um cérebro narcisista e megalómano capaz de tudo dizimar para se sentir venerado como um deus.

Entretanto, altas figuras da administração americana vão rejeitando a hipótese de que Kim Jong-un seja louco, pois sabem que, apesar de tudo, Donald Trump ainda é mais louco.

Enfim, a tendência da atual política internacional é colocar loucos à frente dos destinos do mundo, o que significa que andamos todos loucos...

Até, aqui, em Portugal, há cientistas políticos que consideram que Macron é bem mais perigoso (louco) do que a Marine le Pen...

Por este andar, ainda acabamos a desejar o regresso de Adolfo Hitler, que de louco não teria nem um pouco...

Não são os deuses que andam loucos, somos nós.

 

29.4.17

Esta insistência

Esta insistência nos detalhes pessoais está a tornar-se contraproducente. Em nada contribui para a descoberta do que me move, pois não vislumbro qualquer progresso e aumenta-me os níveis de ansiedade. É um pouco como se escrever fosse um meio de enclausuramento.

É uma ânsia em que o objeto se vai dissipando, pois não se sabe quando o tempo acaba - o meu tempo! Porque se o tempo absoluto não existe, eu nem um nó chego a ser numa qualquer cadeia ininteligível.

Talvez seja esse o motivo que explica os jogos de automutilação: incapazes de definir etapas, ocupamo-nos a testar a existência, pois do sentido há muito abdicámos.

Visto que o tempo sempre foi uma das minhas obsessões, hoje resolvi recorrer ao canal das gravações e procurar a série GENIUS (1º episódio) ... e lá encontrei o Albert Einstein, o internacionalista, em colisão com os padrões políticos, morais, sociais e científicos do seu tempo - do nosso tempo. Vou esperar pelo episódio da próxima 5ª feira, ansioso... 

 

28.4.17

Voz dissonante

Não canto! Cedo fui dissuadido. A voz dissonante abafava a melodia angélica do coro juvenil que reunia todas as noites depois do jantar. Era apenas um corpo mudo à espera do termo do ensaio...

Ela, a senhora, talvez distraída com o tricot ou com as piadas foleiras do todo-poderoso, esqueceu-se de me dar tolerância de ponto, embora eu, em 1967, tenha comparecido, desidratado e ávido da sombra de uma azinheira, por mais pequena que fosse...

Não encanto! Cedo percebi que a minha presença podia ser temida - relembro o dia em que me ofereceram uma pequena coruja ou seria mocho? Anda perdido (a) numa gaveta, mas nunca esqueci o tempo em que ela, a senhora, me cedeu um hotel católico (?), para que eu pudesse formatar umas dezenas de catecúmenos com dinheiros europeus - gastava-se à tripa forra!

(Agora queixam-se da dívida! Querem pagá-la em 60 anos, mas qual, a de ontem ou a de amanhã?)

O desencanto avolumou-se quando fui desviado para um ramal, por lá ficando uma dúzia de anos a polir os cacos de uma ânfora perdida...até que, certo dia, bati com a porta.

Entretanto, substitui as azinheiras por plátanos ainda mais caducos, perdendo definitivamente a esperança de que a senhora baixasse os olhos, não para mim que o não mereço, mas para todos aqueles que morreram longe, na guerra santa ou na diáspora fiel, para todos aqueles que percorrem o calvário da falta de saúde, para todos aqueles que envelhecem sem conseguir um trabalho que lhes dignifique os dias...

Dizem-me agora que a senhora me quer dar tolerância de ponto. E se eu, voz dissonante, não quiser?

 

27.4.17

De que serve "ter opinião"?

« À quoi ça te sert-il d'avoir un avis ? Ce n'est pas toi qui vas décider ?» Jean-Paul Sartre, La mort dans l'âme.

Num tempo em que as ideologias se esboroam, de que serve "ter opinião"?

Na Rússia, na Turquia, nos Estados Unidos, no Brasil e, agora, em França, assistimos à morte das ideologias, cujo maior ou menor sucesso se baseou sempre na capacidade de formar opinião.

As sociedades secretas, as igrejas, as universidades, a imprensa geraram as correntes e as contracorrentes que justificaram os ideais que pareciam nortear as sociedades...

Entretanto, multiplicaram-se os pregadores, os comentadores e os avençados, sem esquecer as certezas do cidadão comum... e tudo se liquefez.

Apesar do aluvião de iluminados, a verdade é que quem decide já só vive para afirmar a sua presença no mundo - à maneira existencialista. O que é muito pouco!

 

26.4.17

Náufrago em terra

Das naus espera-se que naveguem de forma segura. Sabe-se, no entanto, que muitas naufragaram, deixando cargas preciosas no fundo dos oceanos. Dos tripulantes e passageiros, o tempo lavou-lhes a memória de viagens afortunadas e promissoras... Apesar de tudo, o naufrágio deveria ser considerado um subtema do grande tema que é a viagem...

Aqueles de nós que não andamos embarcados, desconhecemos o ímpeto dos ventos e a força dos vagalhões, e quanto aos náufragos há muito que os abandonámos em areais invernosos...

Por mim, nada posso dizer sobre as viagens e as grandes catástrofes marítimas, o que não evita que me sinta um náufrago em terra, sobretudo, quando as aves se revelam impiedosas comigo...

 

25.4.17

Neste 25 de abril, ideias perigosas

Neste 25 de abril, várias ideias assomam, perigosas:

- "Este já não é o país dos cravos, mas dos cravas!" (popular, ou talvez não!)

- Roman Jakobson, ao enunciar uma das funções da linguagem: a função mágica: "a poesia está na rua" (nas paredes e nos quadros de Vieira da Silva); "paz saúde habitação", outro modo de dizer a "revolução" do "povo é quem mais ordena! “;... "MFA, o povo amigo está contigo"... 

O eco perdura nos cravos que melhor fora que fossem rosas (de Isabel, de Leonor...) e não punhos erguidos, fechados, deslaçados...

- E do fundo da memória: a ORDEM do Estado Novo, a celebrá-la até à sua extinção; a LIBERDADE de Abril de que pouco sobra... porque os seus paladinos se servem dela para asfixiar, para mentir, para roubar...

Tempos houve em que vivíamos num país ignorante, pobre, colonialista e amordaçado. Hoje, vivemos num país virtual, ignorante, falido e roubado...e os ladrões continuam à solta! 

 

24.4.17

Cul-de-sac

O liberal pró-europeu Emmanuel Macron venceu a primeira volta das presidenciais francesas com 24,01% dos votos, à frente da líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen que conseguiu 21,30% dos votos, segundo os resultados definitivos do escrutínio de domingo.

A ideia de que a França seja pró-europeia, nos tempos que correm, parece-me forçada. Por outro lado, a ideia de que os franceses se deixam seduzir pela vertigem do isolamento, em nome de valores xenófobos e fratricidas, assusta-me.

No entanto, a França já deu imensas provas de ser capaz de mergulhar no abismo, ressurgindo como se nada tivesse acontecido.

Os resultados eleitorais de ontem parecem ser a expressão da ruína dos valores de que a França tanto se orgulhou nos últimos séculos.

No que respeita à situação portuguesa, qualquer resultado nos será desfavorável, pois não creio que desta vez se possa dizer "do mal o menos".

A não ser a curto prazo!  

23.4.17

Na idade da razão

« Déjà des morales éprouvées lui proposaient discrètement leurs services : il y avait l'épicurisme désabusé, l'indulgence souriante, la résignation, l'esprit de sérieux, le stoïcisme, tout ce qui permet de déguster minute par minute, en connaisseur, une vie ratée. »  Jean-Paul Sartre, L'âge de raison

A leitura deste romance não é fácil, pois as personagens, pequenos burgueses com pretensões intelectuais, vão pondo à prova a ideia de liberdade, confinando-a à satisfação de desafios pessoais, apesar da Guerra que se anuncia e da que vai martirizando a república espanhola...

A questão mais importante acaba por ser a da insensibilidade de Mathieu face à gravidez inesperada de Marcelle, o qual, para se libertar do fardo da responsabilidade, acaba por roubar cinco mil francos à decadente Lola, sem, no entanto, ser punido...A punição resume-se quase sempre à inveja e à censura dos "amigos", ao consumo excessivo de álcool e de droga, como se a sociedade não existisse. O crime é, afinal, uma questão existencial, pessoal.

Mathieu, professor de Filosofia, admirado pelos discípulos, atinge cedo a idade da razão, deixando-nos a sensação de que o mundo (da drôle de guerre) retratado por Sartre é postiço e imoral...

Por mim, fico-me com o epicurismo desencantado, a indulgência sorridente, a resignação, a seriedade e um certo estoicismo, pois também eu já cheguei à idade da razão.

 

22.4.17

A diferença

A nudez surgiu no dia em que duas criaturas foram desterradas do Paraíso. Amaldiçoadas, descobriram a diferença, a dor e o trabalho.

Mais do que a dor e o trabalho, aquilo que mais as incomodou foi a diferença e pode dizer-se que sem esse detalhe a razão teria pouca possibilidade de se afirmar como critério de ação, no caso, como meio de ocultação. O clima também terá ajudado, mas a parra foi a primeira figura da condição humana.

Durante séculos, fomos enaltecendo as criaturas que se dedicavam a superar essa condição, isto é, aquelas cuja ação se centrava na revelação de terras, de ideias, de ferramentas, do OUTRO...

Agora, enquanto milhões de famintos e desnudos são abandonados à sua sorte, andam por aí uns tantos inteligentes envolvidos em polémicas sobre o que vestir ou despir para afirmar a diferença.  

Haja paciência!

 

21.4.17

A verdade da mentira

Vivemos onde raramente nos deslocamos
Ignoramos o que nos convém
Reconstruímos a memória rasurando o que nos é inútil
Promovemos o que não praticamos
Fingimos admirar a arte narcísica e decadente
                       RITUALMENTE
Volúveis e poéticos, deformamos a realidade até que ela pereça sob as asas do abutre
Canonizamos as nossas fraquezas, idolatrando-as
            em mitos, heróis, santos e outras criaturas
                           angélicas, demoníacas
Prestamos-lhe culto e roubamos o óbolo ao barqueiro
As nossas indulgências já não edificam basílicas
somem-se em paraísos de ocasião com maior ou menor
                       DEVASSIDÃO
É absurdo querer conhecer o homem, pondo de parte a máscara

 

20.4.17

Está certo!

Os EUA podem armar a burguesia. O governo não pode armar o povo. ‘Tá certo”, escreveu Miguel Tiago. 

Não há dúvida que ando mal informado! 

Parece que os milhões de mãos que pegam em armas nos Estados Unidos são, afinal, mãos burguesas. Quanto à Venezuela, o sonho do deputado Miguel Tiago é que o Senhor Maduro arme as mãos proletárias e nos devolva um milhão de portugueses burgueses...

(Tempo houve em que as mãos proletárias angolanas (e não só!) nos devolveram cerca de um milhão de portugueses. Será nostalgia? Criancice?)

Estamos de regresso à luta de classes! Agora, imagine o deputado Miguel Tiago que o senhor Castro distribuía armas ao povo cubano ou que o ditador norte-coreano agia no mesmo sentido... Será que os burgueses que governam Cuba e a Coreia do Norte sobreviveriam?

 

19.4.17

Os interesses dos professores

Desde a Antiga Grécia que os professores não têm interesses. A sua existência deve-se à vontade de aprender de uns tantos que, à medida que iam ganhando poder, sentiam necessidade de compensar quem os tinha ajudado a crescer e a afirmar a sua autoridade, umas vezes despótica, outras, democrática...

Claro que os professores, cedo, escolheram o seu lado. Uns pugnaram por um ensino elitista; outros defenderam afincadamente a formação de cidadãos conscientes dos seus direitos e dos seus deveres... não creio que, entre os direitos, sejam de considerar os interesses...

(E também há aqueles que se afirmam professores e que, de facto, nunca o foram...)

Os interesses dos professores eram, afinal, as suas necessidades, reconhecidas pela comunidade que, em vez de os desconsiderar como acontece atualmente, sentia que era sua obrigação estimá-los e compensá-los pelos serviços prestados.

 

18.4.17

Pronunciamento de Mário Nogueira

Os sindicatos não têm nenhum acordo, nem nenhuma posição politica. Nada se eleva acima dos interesses dos professores”, disse o secretário-geral da organização, Mário Nogueira, durante a intervenção que antecedeu o início do desfile.

As aulas recomeçam amanhã. A FENPROF agendou para hoje um desfile protestativo de professores. O seu secretário-geral fez um pronunciamento de isenção que me deixa ainda mais incréu do que já era...

Por este andar, ainda vou ver o Mário Nogueira a beijar o anel de Sua Santidade, o Papa, em Fátima.

 

17.4.17

As sementes do mal

Lido à distância, isto é, fora de contexto, Jean-Paul Sartre define a "liberdade" como absoluto:

« En classe de philosophie, il avait eu de vives sympathies par le communisme et Mathieu l'en avait détourné en lui expliquant ce que c'était la liberté. Boris avait tout de suite compris : on a le devoir de faire tout ce qu'on veut, de penser tout ce qui semble bon, de n'être responsable que devant soi-même et de remettre en question, constamment, tout ce qu'on pense et tout le monde. » Les chemins de la liberté, L'âge de raison

Leio e releio a "filosofia de vida" de Boris e dou comigo a pensar em todos aqueles que herdam, procuram e conquistam o poder tendo como objetivo a afirmação pessoal da sua existência. Por exemplo, Tayyip Erdogan, o Falcão, é, a partir de ontem, o sultão da Turquia, podendo fazer recuar as suas origens a Mahmud de Gazni, que governou o império Gasnávida entre 997 e 1030.

Se levarmos em conta os antecedentes, o novo sultão não descansará enquanto não alargar o território turco e, sobretudo, não perderá a oportunidade de se perpetuar no poder...

Tayyip Erdogan é um exemplo dos atuais caminhos de liberdade, mas há muitos mais... O melhor é nem sequer os nomear!

16.4.17

O lixo deles que também é o nosso!

O número de mortos no Sri Lanka na sequência do colapso de uma montanha de lixo na sexta-feira foi hoje elevado a 20, e os residentes temem que mais vítimas estejam soterradas.

O nosso lixo. Só nós produzimos lixo! Só nós o empilhamos... 

Só nós, que inventamos todas as formas de destruição, nos revelamos incapazes de o transformar ou de o eliminar, de tal modo que criámos o negócio da exportação e da importação de lixo. Isto é, para esconder o problema, gastamos fortunas a deslocalizar o lixo para os países mais pobres, para os lugares mais recônditos...

Nesta santa Páscoa, o acréscimo do consumo significa uma maior produção de lixo. 

Será que nos preocupamos minimamente de modo a evitar que um destes dias uma montanha de lixo desabe sobre as nossas cabeças?

 

15.4.17

Tudo se desvirtua

António Marto nota, contudo, que "hoje está a tomar-se consciência de que Fátima é um activo muito grande do ponto de vista da economia nacional, por causa do turismo, do chamado turismo religioso.

Não se pode dizer que, do ponto de vista religioso, Fátima me incomode porque nunca cheguei ao ponto de compreender os fenómenos sobrenaturais - houve tempo em que vivi de perto as peregrinações e até participei em algumas, não por vontade própria, mas por efeito do contexto sociocultural em que nasci e fui educado. Neste caso, o esforço educativo não obteve sucesso!

Compreendo que as consciências mais permeáveis procurem uma razão para o que as aflige, pois não se satisfazem com a mera existência, mesma se anónima e efémera. Compreendo que se procure a essência daquilo que assoma como réplica de uma fonte singular, divina, porque esse é um dos traços da condição humana...

Só não entendo que a Igreja católica portuguesa se preocupe tanto com a economia nacional. Esse nunca foi um factor decisivo no seu comportamento ao longo dos séculos.

Afinal, as Igrejas da Reforma preocupavam-se muito mais com a componente nacional, a começar pela língua do culto.

Apesar de tudo, em 1967, a Igreja católica apostólica romana tinha preocupações mais nobres:  a denuncia da irracionalidade do colonialismo português.

E eu, ovelha peregrina e anestesiada, lá estive em Fátima, no dia 13 de Maio, sob um calor intenso e com os pés numa lástima...

 

14.4.17

Nos subterrâneos da vida

Eles não são diferentes de nós, talvez um pouco mais revoltados, mas razões não lhes faltam... Assimilados ou excluídos, vivem nos subterrâneos da vida...

(Por isso eu compreendo todos aqueles que, genuinamente, os querem socorrer, mesmo correndo o risco de serem abatidos ou de serem ostracizados...)

Só não compreendo aqueles de nós que exultam porque uma bomba infernal os pode perseguir nas profundezas da terra... até porque os conflitos não se ganham, exceto pelos senhores da guerra...

E convém não esquecer que "eles" podem estar longe ou estar entre nós e que quem os gera somos nós...

 

13.4.17

O dever mais importante

O dever mais importante é dizer a verdade(Kant)

O problema é que não sei qual é o critério (e se há só um!) que permite determinar a verdade.

Será que, à maneira de Tomé, nos devemos reger pelos factos materiais? 

Ou será que a imaginação, mesmo se contrária à materialidade, é, também ela, capaz de gerar verdade, não a mentira, o fingimento psíquico, artístico...?

A arte diz que sim. E a vida? 

Novalis fez-nos crer que "quanto mais poético, mais real". Gostava que assim fosse, mas não me parece que seja verdade...

Por exemplo, Sartre explora em "L'âge de raison", os limites da liberdade, apresentando situações verosímeis e bons argumentos, no entanto a verdade humana faz do homem um ser escravo, embora frequentemente histriónico - pragueja, esbraceja, mas não vai a lado algum...

 

11.4.17

A Escola do Ressentimento

O PNL são extensas listas indicativas de livros, adequados para cada etapa, que os professores são convidados a escolher”, disse, acrescentando: “O cânone aplicado à escola é uma coisa profundamente errada”.

 

"A Escola do Ressentimento deseja derrubar o cânone de modo a fazer avançar os seus supostos (mas inexistentes) programas de mudança social". Harold Bloom, O Cânone Ocidental.

«A defesa dos cânones já não pode ser levada a cabo pelo poder institucional central; eles já não podem ser considerados obrigatórios, se bem que seja difícil ver como é que o funcionamento normal das instituições do saber, incluindo o recrutamento do pessoal docente, pode passar sem eles.» Frank Kermode, Formas de Atenção, 1985.

Não tenho a certeza de que o cânone aplicado à escola seja uma coisa assim tão disparatada. O que é relevante, tal como aponta Harold Bloom, é que há na inteligência do burgo uns tantos ressentidos por terem sido marginalizados pelo ministério de Nuno Crato e que não perdem oportunidade para trazer ao debate as figuras erradas - o genuíno gosto pela leitura dos nossos jovens e a superior clarividência e sapiência das famílias...

Pelo que me toca, preocupado com a preservação da identidade, mesmo que esta tenha de ser adaptada às circunstâncias, preferia que o cânone literário global tivesse um lugar central na formação do pessoal docente... e que os professores voltassem a desempenhar a função que lhes compete, deixando de ser meros ouvintes dos disparates acumulados em fontes sem qualquer valor científico e estético.

 

10.4.17

Quando os adolescentes viajam

Desde que inventaram o tempo escolar que criaram a adolescência.

A adolescência tornou-se, assim, um período que separa a infância da vida adulta, sendo de esperar que seja de aprendizagem, de maturação. 

Nos últimos dias, rebentou a notícia de que 800 (?) adolescentes portugueses foram expulsos de unidades hoteleiras espanholas, acusados de vandalismo... Descontado o exagero dos números, típico da rivalidade ibérica, é bem provável que os jovens se tenham excedido, não porque sejam portugueses, mas porque há muito que deixaram de ser educados por quem tem essa obrigação - os pais. E os professores que o digam!

Porque todos os dias, há professores (sobretudo, diretores de turma), enxovalhados por adultos que não querem o bem dos adolescentes, isto é, não querem que eles cresçam num clima de responsabilidade e de rigor.

E depois há um Ministério da Educação cúmplice da insanidade mental reinante pois, ao promover o reforço da comunidade na vida escolar, esquece que essa comunidade se encontra profundamente doente.

Quanto aos adolescentes, para começar, só deveriam realizar viagens de finalistas depois de terem concluído o 12º ano...   

 

 

 

9.4.17

Mais autores africanos ou mais autores de língua portuguesa?

Professores de Português querem mais autores africanos nos currículos...os escritores africanos têm também pouca expressão nos currículos.

Não estão representados nos conteúdos obrigatórios do programa, aparecem só na área de projeto de leitura”, afirmou Edviges Antunes Ferreira, lamentando: “Não há mesmo uma área que contemple o estudo dessa literatura”. (sic)

Será que existe uma identidade africana? Será que nesse conjunto haverá um subconjunto constituído por escritores africanos de matriz portuguesa?

A pressa de dizer é inimiga do pensar! Em Angola, há escritores, tal como em Moçambique, na Guiné, em São Tomé, em Cabo Verde... Só que a matriz cultural e linguística é feita de raízes muito diferentes, o que não permite colocá-los todos no mesmo saco, a não ser por preconceito, o tal lugar, onde o dizer atropela o pensar...
Enquanto professor de língua portuguesa, apenas recomendaria que os programas de Português resistam aos estereótipos que inviabilizam o conhecimento diacrónico e sincrónico do que é a riqueza literária produzida, tendo como suporte a língua portuguesa, aqui, na América, na Ásia, em África ou na Oceânia...

A nós só nos resta ser afundados sem aviso prévio

Ainda não me saiu da cabeça a ideia de que o Presidente dos Estados Unidos ordenou um ataque, como retaliação, a uma base militar sírio-russa, mas tendo o cuidado de avisar os proprietários.

Será provavelmente um novo conceito de guerra que visará fomentar a produção e o comércio de armas...

Mais do que saber se se trata de um Novo Tratado de Tordesilhas, o importante é conhecer quem é que controla os mercados acionistas, e aí os senhores Putim e Trump parecem acertados, procurando deixar a China de fora... 

Os Chineses que se cuidem... que a nós só nos resta ser afundados sem aviso prévio...

 

 

7.4.17

Como escrevi ontem

Como escrevi ontem, o inferno está em nós.  Os sintomas são cada vez mais evidentes. De nada serve querer matar os demónios alheios se, a cada passo, geramos o mal...

As instituições não conseguem reger-se por valores universais. Preferem o relativismo axiológico e as inerentes fronteiras, sempre mais musculadas...

Cerram-se as portas, reforçam-se as janelas, criam-se sucessivos perímetros de segurança e até a própria terra vive cercada por milhares de satélites de espionagem. 

A pegada de cada um repete-se milhares de vezes ao dia, pondo definitivamente termo à vida privada.

Em cada círculo que se abre, acantonam-se as castas, esperando que elas não rompam as barreiras. E se o fazem, metralham-se ruidosamente ou gaseiam-se no silêncio das horas...

 

6.4.17

O Inferno não mora ao lado

C'est marrant la jeunesse, pensa Mathieu, au-dehors ça rutile et au-dedans on ne sent rien.  Quem o escreveu foi Jean-Paul Sartre, em L'âge de raison / Les chemins de la Liberté, 1945.

A ideia parece-me um pouco obscura, a começar pela oposição entre o brilho exterior e o vazio interior. Não sei se a distinção ainda faz sentido, porque aquilo que vou observando é a multiplicação de figuras dúbias, mentalmente formatadas por encenadores cujo único interesse é o capital. 

Claro que as réplicas ainda acreditam que têm sentimentos e, sobretudo, que têm o direito de desocultar aquilo que pensam ser a sua singularidade. E fazem-no umas vezes sem pudor, outras lamuriando-se por não ser compreendidas ou mesmo por serem reprimidas. 

Como Sartre proclamou noutro lugar e a outro propósito: - L'enfer ce sont les autres!

Creio, contudo, que o Inferno não mora ao lado...

O que aqui registo mais não é do que a expressão da minha surpresa perante a morte daquilo que outrora era designado como "a intimidade" e que, como tal, não procurava a exposição pública.

 

5.4.17

Não tenho nada a dizer

Perguntado se tinha alguma coisa a dizer sobre o rendimento e o comportamento..., respondi automaticamente: - "Não tenho nada a dizer..."

Eu próprio me surpreendi. Ao fim de 42 anos, deixei de ditar para a ata uma série de lugares-comuns que, de facto, nada acrescentam... Trata-se dum ritual revelador do imobilismo em que caímos.

O que temos tombado nas atas de pouco serve, até porque elas se tornaram depósito de burocracia confinada a meia dúzia de tópicos, em que os contactos com os pais e os encarregados de educação predominam, isto é, atos que deveriam ser matéria de outras atas...

É um pouco como nos mass media, as notícias já não registam acontecimentos, são apenas repetições e encenações decalcadas de uma matriz industrial...

E depois há essa evidência absurda, num tempo de enorme evolução tecnológica, mais não fazemos do que confirmar atos pretéritos... e assim ocupamos o tempo, com a sensação de que ele nos faz falta, mas já não sabemos para quê.

Cumprimos uma inevitabilidade improdutiva.

Para quem se arrepia com a referência às reformas estruturais, aqui fica o registo de que na Escola (Educação / Ensino / Formação) há uma reforma estrutural por fazer.

 

4.4.17

Talvez haja uma explicação

Podia expor, aqui, situações de perspicácia, de matreirice, de zelo, de inibição, até de lucidez... Contudo, só uma situação de ansiedade permanece. Uma ânsia de natureza milagrosa, inútil, a meu ver, pois os milagres não conseguem abrir brecha na minha racionalidade...

Talvez haja a uma explicação, um pouco protestante, para esta minha resistência - não terei recebido a graça divina, o que quer dizer que não sou eu que passo ao lado da divindade, é ela que não quer nada comigo...

Da sarça eleva-se uma contradição já um pouco fria, mas, na verdade, eu até considero a ansiedade estimulante, desde que ela não me esgote as forças e me faça superar as horas da desgraça...

O dia de hoje fica marcado por essa ansiedade positiva que, penso, se irá manter nos próximos dias por mais carregados que eles se afigurem. 

Há, todavia, situações para as quais não há explicação: não saber interpretar exames clínicos, usar canadianas para fugir a certas obrigações, desconversar, ou mesmo "distrair-se" para escapar à exposição pública... sem esquecer o político que diz não saber o que são 'reformas estruturais'...

 

 

 

3.4.17

A jovem professora

Abandonou a cabeceira da mesa. Senta-se agora de frente para o espaço que se alarga e revela não só a porta de entrada (de saída), mas também a sala do fundo. O movimento aumenta nos intervalos e as conversas, por vezes, intensificam-se ao ponto de se confundirem numa algaraviada feminina estonteante...

As mãos pequenas e nodosas imobilizam-se longe dos ponteiros do relógio e os olhos perscrutam os pequenos gestos até que, de súbito, a jovem professora, ao folhear o boletim Confluências (2ª série /janeiro-março 2017), apercebe-se que, a seu lado, se encontra o autor mencionado na pág. 3. Será aquele um primeiro livro? Haverá outros? 

O autor, de pé, à cabeceira da mesa, lá vai acrescentando que sim, que há outros, de poesia... Entretanto, talvez, devido ao renome da escola em que foi colocada recentemente, a jovem professora aproveita para interpelar o colega sentado à sua frente, querendo saber se este também já publicou algum livrinho.

Azar o dela, as mãos pequenas e nodosas foram sempre demasiado canhestras...  

 

2.4.17

A angústia

A angústia é um estado físico e mental que asfixia o corpo e desorienta o espírito. 

Para os existencialistas, a angústia era um sentimento iniciático que abria o horizonte para a revelação do homem em si. Provavelmente, esta ideia é uma extrapolação forçada de alguém a contas com o absurdo da existência de um Deus alheado do terror humano.

Na perspetiva existencialista, o lá-fora era de tal modo horrível que se tornara impensável aceitar que o ser pudesse pré-existir antes de cada indivíduo e, sobretudo, que a essência fosse capaz de explicar a efemeridade da vida... 

Apesar de tudo, a angústia lidava com a expectativa de uma duração razoável - o terror da morte era ainda um tema exótico...

Hoje, a angústia consome o momento e cresce demolidora.

 

1.4.17

Liquidação da identidade

Que o Fado é uma boa desculpa para tudo o que (não) acontece, não tenho dúvida. Que o Futebol preenche a vida de uma boa parte dos portugueses, também não duvido. Que Fátima continua viva como refrigério para umas centenas de milhares de portugueses, é inquestionável...

Não tenho dúvida, mas não sei por que motivo. Não creio que seja apenas uma questão de atavismo. Provavelmente estamos já na fase da liquidação da identidade: primeiro, o território; depois, as empresas; finalmente, nós... 

Bem sei que há quem defenda que a nossa identidade, embora obsoleta, se resume ao Fado, ao Futebol e a Fátima, mas não me conformo.

 

31.3.17

O milagre de António Costa

Assegura o chefe do Governo que está “afastado o espectro da liquidação” do banco e que a venda terá “impacto positivo na estabilidade do sistema financeiro”, e ainda que “não serão exigidas contribuições extraordinárias” para suportar a alienação do Novo Banco.

A solução Novo Banco. Como não sou crente, a declaração de António Costa vale zero. Há muito que o país está em liquidação e só quando se diluir numa outra qualquer realidade é que o problema deixará de existir. 

Nunca tivemos capacidade de autossustentação. Fomos e somos o produto de contingências que não controlamos... Não é apenas o Poeta que é um fingidor, somos todos nós!

Bem sei que o Papa Francisco vem aí celebrar o milagre de Fátima, mas a verdade é que continuamos a fingir. Sempre ouvi dizer que a Senhora viera para que rezássemos para que o Comunismo não alastrasse à terra da cristandade...

Os tempos vão tão confusos que se a Senhora decidisse voltar, provavelmente limitar-se ia a solicitar que rezássemos contra os vendilhões...  

 

30.3.17

Mais poeira no Ministério da Educação

  • Defendemos uma orientação pedagógica estável e, por isso, estamos a tentar que a educação comece dos zero aos três anos.
  • Investir nos adultos é investir nas crianças.
  • Tentar agir aos primeiros sinais de insucesso, prevenindo o fracasso escolar;
  • Aulas de apoio são um caro insucesso. O aluno fica exausto da mesma forma de jornada de trabalho.
  • Queremos investir 19 milhões de euros em formação de Relevância, Qualidade e Impacto.

      João Costa, Secretário de Estado da Educação

- Dos zero aos três anos? Será que o Estado (espartano) quer substituir os pais?

- Afinal, o Programa Qualifica tem como objetivo formar os pais como educadores? Mas, para quê, se o Estado se quer ocupar da educação dos bebés?

- O insucesso é fruto da falta de enquadramento pedagógico e do modo como o Estado insiste em não promover, de forma diferenciada, a resolução das dificuldades de aprendizagem de cada jovem, integrando-os em grupos de nível...

- Quanto às "aulas de apoio", estas só beneficiam um número muito diminuto de alunos... E a questão da exaustão é um falso problema, pois trabalha-se pouco e mal, até porque os recursos, em muitas escolas, são obsoletos. 

- O investimento nos professores é, como sempre, um negócio, desta vez em torno de conceitos bélicos: "relevância", "qualidade" e "impacto". A verdade é que o Ministério da Educação abandonou a formação de docentes, deixando-a a cargo de personagens sem qualquer formação pedagógica, sejam eles do Ensino Superior ou mesmo das grandes editoras... Há muito tempo que o ME foi feito refém pelas editoras, como o senhor professor João Costa, bem sabe...

 

29.3.17

A perceção da realidade

O que dizer? Se nada disser, parecerá desinteresse ou, no limite, desistência.

Se ensaiar uma resposta, ficará a sensação de que o emudecimento teria sido melhor.

Hoje, perguntaram-me de quanto tempo necessitara para escrever o post "A condição humana". Surpreendido, respondi 30 minutos. E de imediato hesitei, pois me pareceu que o tempo necessário seria muito mais extenso... 

Meti a viola no saco e segui caminho...

O resto do dia apenas serviu para mostrar que o silêncio ter-me-ia evitado a inopinada subida de tensão. O problema é que replico sempre que a perceção da realidade entra em conflito com o estado do mundo.

Entretanto, regressei à pergunta matinal, para concluir que mais valia ter respondido que os 30 minutos de escrita eram, afinal, a expressão de uma vida...

 

28.3.17

Ai, a culpa!

Tem de haver sempre um culpado! Alguém que sacode a água do capote, que passa a bola, que alija a carga...

Um vestígio romântico de pária atirado para a margem, abandonado à sorte madrasta...

Apenas um rumor inconfessado de castigar o Outro por tudo o que vai acontecendo. Uma vontade súbita de adormecer e de acordar como se nada se passasse... Porém, as horas cruéis são de crime!

 

27.3.17

Um tempo imperfeito

Repete incansavelmente um tempo imperfeito, que correra bem e descambasse a cada momento, mesmo se cada dia mais não fosse do que uma réplica de múltiplos episódios, consequência de ter nascido em dia aziago...

Para lá desse dia, existiria a abundância, embora saiba que o tempo já era de desarmonia.

Só que o saber de nada serve, quando se regressa ao abismo. 

 

26.3.17

Zona de contacto

Há conceitos que se banalizaram de tal modo que deixaram de ter utilidade. Hoje, não passam de etiquetas que se colocam sobre certas formas de lidar com o Outro. Estou a referir-me aos conceitos de multiculturalidade e de interculturalidade que determinam espaços de acantonamento e de integração, embora diferenciada.

Mary Louise Pratt (1992) propôs que a investigação passasse a centrar-se na «zona de contacto», porque este conceito obriga a equacionar a distância e a proximidade a que nos situamos do Outro.

O problema é que quanto mais nos aproximamos, mais sentimos necessidade de traçar limites. 

Na verdade, quando distantes, não vemos obstáculos à diluição de fronteiras; só que, quando o Outro entre no nosso espaço, surge o medo, o desassossego, a fobia, o ódio... 

Como alternativa, os políticos de esquerda preferem a abordagem exótica, desde que ela traga dividendos.

Quanto aos políticos de direita, preferem levantar muros. Preferem o apartheid, em nome de uma pureza fantasiosa.

 

25.3.17

Os media e os rituais de morte.

... de tal modo que a imortalidade se tornou alcançável pelos caminhos do ódio e da destruição... in "A condição humana", 24/3/2017.

A ideia é minha, mas peca por excessiva. A imortalidade já não interessa a ninguém! O que conta é o fulgor do momento, o raio que se liberta do trovão e que se precipita fulminante sobre a vítima... E a glória da mediatização é a droga que acelera o coração e entorpece a razão.

Não é islâmica, a faca que degola, é a que mata o suíno num ato de superação da impotência de quem só recobra a honra através do sangradura pública.

Infelizmente, a comunicação social vive e alimenta cada vez mais os rituais de morte.

 

24.3.17

A condição humana

Ainda não havia tempo, quando duas criaturas bíblicas, que residiam num lugar paradisíaco, desafiaram Deus, sendo desterradas, como o próprio termo sugere, para a Terra, e condenadas a trabalhar, a sofrer e a multiplicar-se.

Foi essa desobediência que gerou a condição humana: as duas criaturas, ao perderam a imortalidade, tornaram-se efémeras, fracas, vulneráveis e, sobretudo, conscientes da sua pequenez.

No entanto, a mudança de estado não lhes destruiu o sentido do desafio. Através da multiplicação e do trabalho, acreditaram ser-lhes possível regressar à casa original, embora o percurso lhes pudesse exigir sacrifícios infindáveis e, em particular, a morte.

Mas nem a morte inexorável os levou ao desespero absoluto, isto é, à renúncia. Pelo contrário, definiram rumos precisos, cuja meta derradeira é a imortalidade, aonde se poderá chegar pela via do heroísmo (herói clássico) ou pela via da santidade (santo)...

E são estas as rotas escolhidas pelo homem para superar a condição humana. Todavia, "incapaz de assistir num só terreno", o homem gasta boa parte do seu tempo a disputar qual das rotas é a verdadeira, de tal modo que a imortalidade se tornou alcançável pelos caminhos do ódio e da destruição...

Talvez seja por isso que os jovens preferem viver num universo paralelo - o paraíso lúdico. Só que lá não deixam de procurar a imortalidade, ao quererem a todo o custo superar os jogos com que o Incognito Deo lhes junca as vidas...

Há, contudo, riscos: neste desterro, a multiplicação já é possível sem um verdadeiro empenho dos filhos e das filhas das duas misteriosas criaturas bíblicas, o trabalho humano pode perfeitamente ser realizado por todo o tipo de máquinas... apenas sobra a dor (humana) materializada numa depressão sem fim.

 

23.3.17

Funcionário público não é filho de Deus!

Quem tem 48 anos de descontos pode reformar-se sem penalização.

Governo elimina o factor de sustentabilidade para todas as reformas antecipadas.

O novo modelo só se aplica a quem desconta para a Segurança SocialOs funcionários públicos manterão o regime atual.

 

O melhor é não pensar mais no assunto! Esclarecido para todos os efeitos!

 

22.3.17

A montante e a jusante do terror

" - O que importa é o que cada um tem na cabeça!" - resposta de um jovem revoltado.

Ao contrário do que se apregoa, o terror não tem origem nem na ideologia nem na doutrina nem na cultura nem na moral. O terror tem origem na necessidade de cada um afirmar a sua presença no mundo de que se sente excluído...

Ao contrário do que se pensa, a escola não inclui. A escola afunila.  À saída, a escola abre para a terra de nenhures..

E é nessa terra de nenhures que o desespero humano se transforma em horror.

Entretanto, os comentadores insistem em explicar o terror, atribuindo-o à ideologia/doutrina islâmica, a maquinações satânicas cujo único objetivo é estender o medo, gerando choques ideológicos, religiosos e culturais propiciadores de eugénicas guerras.  

 

21.3.17

Os novos cafres

Segundo a edição online do Semanário Económico, a presidência da República portuguesa considera que “é inacreditável e inaceitável” que Vítor Constâncio, atual vice-presidente do BCE, aceite a aplicação de sanções ao país, questionando “o que é que Vítor Constâncio está lá a fazer”.

Há (ou deveria haver) um verbo que dá conta do que acontece a um português quando se muda para os trópicos ou, em alternativa, para instituições de alto gabarito - o português cafrealiza-se.

Outrora, portugueses houve que se deixaram voluntariamente assimilar pelos cafres... o que, em certos casos, me pareceu de bom gosto tal era a selvajaria que florescia no reino...

Hoje, apesar de continuarmos a viver acima das nossas possibilidades - há quem diga que o excesso sempre foi do Estado e das empresas! -, não faltam portugueses que, colocados estrategicamente em altos cargos internacionais, não desprezam a oportunidade de passar a viver de acordo com a bitola dos tempos modernos, esquecendo, de vez, a proveniência.

 

20.3.17

Aliteração interrompida

A temperatura baixou. As nuvens avolumam-se. A chuva parece que chega amanhã.

 

Sobe a tensão e a irritação. Turva-se o olhar, até parece que um madeiro se atravessa... Primeiro, avança pela esquerda e, depois, pela direita... O rosto enrubesce e, cambaleante, avança rua acima ou será rua abaixo?

A própria voz emudece e a mão tem instantes em que desobedece... e quando tal acontece já a Primavera é sem regresso...

A gata subiu o teclado, indiferente às flores que vão começar a murchar, e seguiu o seu caminho...

 

19.3.17

O texto

O texto. Diz. O quê? Afinal, o texto não diz. 

Para que dissesse, era preciso que os olhos pousassem sobre ele. Descortinassem os parágrafos.  Cada parágrafo, constituído por frases simples ou complexas. Enunciados...

 ...e que as palavras tivessem um significado preciso e, por vezes, ambíguo, mas não aleatório...

Era preciso que os olhos descortinassem a ordem das palavras e vislumbrassem a disciplina a que são submetidas...

Era preciso que as palavras dissessem o mundo, não o nosso, mas o de quem as ordenou...era preciso que as respeitássemos como representação, literal ou simbólica, ou, apenas, prenúncio...Era necessário que não as flexibilizássemos em demasia, que não as denigríssemos nem as branqueássemos... nem as ignorássemos

Talvez, o texto pudesse dizer. O quê?

- Logo se veria!

 

18.3.17

A rendição portuguesa

«Cerca de sete meses antes do fim da guerra, em 30 de Setembro de 1973, os efetivos militares em Angola contavam com 65 992 homens (...) Em 1961, eram 6500 militares...» Rui de Azevedo Teixeira, A Guerra de Angola 1961/1974, Quidnovi.

No século XVI, os padrões já não garantiam a presença portuguesa no mundo. E porquê? Por causa do deficit demográfico... Entretanto, foi-se gerando a ilusão do Império na metrópole, alimentada pelos novos métodos de colonização, assentes na ideia da superioridade moral do cristianismo europeu - uma colonização, no caso português, mitigada, porque, devido ao deficit demográfico, se viu forçada à miscigenação...

            e depois vieram as guerras de prova de ocupação, decorrentes da Conferência de Berlim, e, sobretudo, 'a guerra colonial' como prova de vida do Estado Novo...

Se no terreno, a guerra parecia poder continuar enquanto a Guerra Fria se mantivesse ativa, a verdade é que o esforço de guerra se tornara insuportável... de tal modo que a rendição portuguesa se precipitou.

Nos últimos anos, dilacerados por dentro, insistimos na nossa superioridade moral, por exemplo, em relação a Angola, incapazes de julgar a peste que tudo vem dizimando.

 

17.3.17

Do que é que têm medo? Será de Platão?

Acusem o homem!

Se tantas foram as vantagens financeiras dos negócios apadrinhados pelo homem, acusem-no de vez!

O Ministério Público sabe certamente onde é que param os milhões de euros ou como é que foram gastos. E também conhece as rotas, pelo que se diz na comunicação social. Será que os milhares de ficheiros produzidos não são suficientes para fundamentar a acusação?

O processo já vai tão carregado que, quando chegar a julgamento, irá ficar parado até que os senhores juízes o leiam. Provavelmente, serão os netos dos atuais magistrados a deliberar, já Sócrates terá optado pela cicuta...

Do que é que têm medo? Será de Platão? 

 

16.3.17

De regresso ao Paraíso

«Em meados do século XX, presumia-se frequentemente que o secularismo seria a ideologia dominante e que a religião não mais voltaria a desempenhar um papel preponderante na política mundial.» Karen ArmstrongConseguimos Nós Viver sem o Outro?

Na escola pública, o silêncio sobre as religiões é tão profundo que já não sei o que fazer aos meus jovens interlocutores. Se lhes ensinasse Matemática, provavelmente, a minha angústia não teria razão de ser, mas como, por ora, o meu magistério continua centrado na língua, na cultura, na arte, na literatura, nas vertentes diacrónica e sincrónica, vivo num monólogo interminável, pois o Outro, absolutamente secularizado, nada sabe da referência religiosa, vista de forma identitária ou hostil... e tudo isto num tempo de proximidade e conflitualidade inevitáveis...

E apesar de tal estranheza, os estereótipos continuam a poluir a língua e a reproduzir-se insensatamente nas políticas, nos programas e nos manuais das Ciências, ditas, Humanas, incapazes de abolir a simples ideia de que a superioridade moral de uma qualquer cultura possa continuar a imperar, mesmo se alicerçada na santidade de valores, como tolerância, liberdade de expressão, democracia, separação da Igreja do Estado... porque «a modernidade não foi baseada num conjunto de ideias, mas sim numa alteração fundamental que se deu na base económica da sociedade.»  Karen ArmstrongConseguimos Nós Viver sem o Outro?

Bem pode o Papa Francisco declarar que comete "um pecado gravíssimo", quem «retira o emprego" às pessoas para realizar "manobras económicas ou negócios pouco claros", a verdade é que, neste século XXI, a base económica da sociedade está a mudar, precarizando cada vez mais o trabalho humano...

Eu, por mim, já tenho dificuldade em explicar o que possa ser o ´pecado', ainda por cima gravíssimo, embora saiba que a culpa é de Deus... e data do dia em que expulsou os anjos do Paraíso, obrigando-os a sofrer, a trabalhar e a multiplicarem-se, isto é, a serem homens... Afinal, no Paraíso não havia homens!

Pela via secular, estaremos de regresso ao Paraíso e os meus jovens interlocutores estão bem mais perto dele do que podem imaginar.

 

No essencial, o que eu queria registar é que, em 2009, foi posto à venda um livrinho que talvez nos possa FAZER PENSAR: Podemos Viver Sem o Outro? As possibilidades e os limites da Interculturalidade, Lisboa, Tinta-da-China.

 

15.3.17

Costa trava flexibilização curricular

Costa trava Tiago

Primeiro-ministro deu orientações a Tiago Brandão Rodrigues para não avançar com flexibilização curricular e evitar riscos no arranque do ano letivo, a um mês de eleições. Em setembro, a medida só vai avançar em 50 escolas para o ministro da Educação não perder a face.  

Como todos sabemos, a educação é a prioridade do coração socialista, mas que, de tão entranhada, bem pode ser atirada para longe do calendário eleitoral... Quanto ao jovem Tiago, este não irá "perder a face", pois vai poder flexibilizar nas 50 escolas que se manifestarem dispostas a servir 'suas excelências'...

 

14.3.17

Rabugice minha

As portas vão-se fechando. Das janelas pouco se enxerga. Dos bandos, chovem acusações enquanto se afiam facas...

Ainda se a guerra fosse tão discreta, mas não, a que nos cerca arranca as raízes e esmaga os frutos... Das flores, só as de plástico e mesmo estas, liquefeitas, já não sabem o caminho da foz...

Ainda andamos à procura do perfil do guerreiro, sem saber que este vive nos templos de todas as religiões, de todas as seitas, de todas as ciências... Só que o guerreiro total não tem perfil - é uma máquina omnívora infernal.

Não levem a mal! Isto deve ser rabugice minha! 

 

 

13.3.17

O perfil na terra dos néscios

1. Contorno do rosto de uma pessoa, visto de lado; delineamento de um objeto, visto de um dos lados...
2. Corte que deixa ver a disposição e a natureza das camadas dos terrenos...
3. Escrito breve, em que a traços rápidos se esboça o retrato de uma pessoa.
4. Carácter.
5. Génio
    Dicionário de Português da Porto Editora. 

Creio que os cubistas e os intersecionistas (e outros que ignoro!) já se terão debatido com a parcialidade (a insuficiência) do perfil. Já lá vão 100 anos!

Espero que, à saída dessa enormidade que é a "escolaridade obrigatória", não aproveitem para seccionar o aluno / cidadão, em democrático e não democrático... isto é, observá-lo de um dos lados, como se a cidadania fosse graduada e segmentável...

Em termos psicológicos, estou ansioso por ver a máscara que os jovens cidadãos vão ter de colocar para poderem ser membros de pleno direito desta engrenagem carnavalesca.

Quanto ao carácter, provavelmente, o programador já o terá desenhado, deixando-o falho de qualquer engenho, por muito genial que possa parecer...

Como se pode imaginar, se há algumas décadas, alguém se tivesse lembrado de traçar o "perfil do aluno à saída do Liceu", não andaríamos hoje às voltas ao Marquês, a tentar apurar se o Espírito Santo é, afinal, uma pomba estúpida ou uma língua de fogo...

 

12.3.17

Um caso de indisciplina

Volvidas duas (três) semanas de debate em torno de uma questão que, efetivamente, não se coloca, entendeu o Ministério da Educação ser taxativo quanto à questão do Português e Matemática — que não irão sofrer redução horária”. (sic)

Efetivamente, a questão não deveria ter sido lançada nos termos em que o foi, até porque o tempo atribuído para a lecionação das disciplinas de Português e de Matemática é manifestamente insuficiente.

A aprendizagem pressupõe tempo de exposição, de consolidação, de correlação e de aplicação em novas situações.

A aprendizagem pressupõe o recurso a uma metodologia estável, imune à volubilidade de quem governa e de quem gere...

E já agora, a aprendizagem também pressupõe uma certa dose de honestidade!

 

10.3.17

Da indisciplina

(Um papagaio indisciplinado soltou-se do penteado da "dona" e decidiu regressar ao Congo...)

Um vizinho entra na loja de pronto-a-comer e, fazendo de conta de que não está lá mais ninguém, compra meio frango assado, porque não lhe vendem um quarto, uma colher de polvo, 50 gramas de batata frita...

Na mesma loja, o e-fatura esclarece que os produtos ali vendidos não devem ser considerados na categoria "restauração", mas "outros serviços"...

Entretanto, alguém me pede explicação sobre o que é um "comportamento indisciplinado" numa sala de aula, enquanto me é solicitado que deixe de cumprir a programação para que uma turma possa estar presente numa atividade transdisciplinar(?) - prática corrente, recorrente...

Convencido de que a disciplina serve para poder levar a cabo um programa, uma aula, uma tarefa, um plano de tratamento de saúde, de forma eficaz, vejo-me a braços com atos cada vez mais abusivos de indisciplina.

Por este andar, mais vale acabar com qualquer tipo de regra. Salve-se quem puder, que eu já não tenho cura: a não ser ter paciência, ser tolerante, obedecer e conformar-me com a desfaçatez reinante.

9.3.17

Viver como?

Viver como? Para quê esperar que a razão nos elucide? 

Basta abrir os olhos!

Só que há quem, não sendo invisual, prefira fechá-los...

A noite a seu tempo virá, e nada poderá opor-se-lhe.

 

8.3.17

Faltam poucos minutos...

Faltam poucos minutos para que termine um dia que melhor seria não ter começado. Talvez, amanhã possa ser diferente, mas não acredito...

Ainda há quem pense que "a vida são dois dias" e que melhor que desperdiçá-los será vivê-los... Mas como?

 

7.3.17

No desconcerto vicentino

Mãe, eu nam me casarei
senam com homem discreto.
E assi vo-lo prometo
ou antes o leixarei.
Que seja homem mal feito,
feo, pobre, sem feição
como tiver discrição,
nam lhe quero mais proveito.
E saiba tanger viola,
e coma eu pão e cebola 
siquer ῦa canteguinha

discreto, feito em farinha
porque isto me degola.
    Inês Pereira

Ao contrário do que se diz, para Inês, o homem discreto não tem de ser cortesão. Aquilo que se lhe exige é que não seja néscio, isto é, alguém que não é capaz de reconhecer a própria ignorância, alguém que incorre em erros que o expõem à troça...

homem discreto será assim um homem avisado, que tem o sentido da oportunidade, e sesudo, porque sabe ponderar antes de decidir...

Em suma, a prudente Inês começa por rejeitar o néscio Pero Marques, porque ainda não tomara conhecimento da natureza do escudeiro Braz da Mata...

De qualquer modo, no desconcerto vicentino, o mundo surge virado do avesso, e a prudência é uma virtude muito arredia. Quanto mais a sabedoria! 

 

6.3.17

A prudente Inês Pereira

Não sei se a reflexão filosófica me acalma, no entanto, quando à deriva, atiro-me à etimologia, acabando inevitavelmente na filosofia, matéria de que pouco sei...

A propósito de Inês que desejava um homem 'avisado e discreto', acabei por embarcar numa viagem ao território da 'prudência'. 

Para além da ambiguidade teatral da definição de cada uma das qualidades, surgiu-me a ideia de que a 'desmiolada' Inês era bem mais prudente do que se imaginava, sem que tal impusesse que fosse virtuosa, pois se "quem sabe o que lhe convém e atua em consequência, é prudente.»

De facto, o escudeiro Brás da Mata é o exemplo do homem imprudente que casa sem ter avaliado o património da nubente, e que se vê forçado a agir, com recurso à violência doméstica para guardar o seu tesouro, partindo para terra magrebina, onde acaba morto à paulada...

Por seu turno, Inês Pereira é uma personagem epicurista, no sentido em que a vida vivida lhe dá os meios para atingir o objetivo primordial, isto é, para folgar quanto lhe convém... a prudência é nela uma virtude intelectual, própria da época renascentista, a que o Concílio de Trento iria em breve por cobro...

Talvez valesse a pena debater um pouco o que pensam sobre a matéria (a relação entre a sabedoria e a prudência), Aristóteles, Epicuro, S. Tomás de Aquino, Kant, Shopenhauer... mas para quê?

Espero que me perdoem a maçada!

 

5.3.17

DESGASTE

Já transcrevi umas centenas de palavras, li também uns milhares, sem contar as que tive de escutar. No entanto, neste primeiro domingo da Quaresma, só uma me ocupa o pensamento: DESGASTE.

Não é que me tenha sido encomendado algum verbete, nem para tal haveria motivo, pois o significado é óbvio, pelo menos numa das aceções: [Figurado] Enfraquecimento; diminuição de força física; sensação de abatimento.

 

Na realidade, não é tanto a diminuição da força física que me preocupa... mas o desgaste que resulta da soma dos dias pardacentos em que os asnos desprezam os burros...

Talvez o discurso padeça de incoerência, mas não. A natureza dos asnos é diferente. Em tempos, era aristocrática, hoje, apenas burguesa. Quanto aos burros, esses sempre foram a besta de carga preferida da populaça...

Há dias, em que o desgaste me torna um burro intratável, daqueles que, no próximo cruzamento, me vão deitar ao chão... Só me falta escoicear!

Se a incoerência se acentua é porque a um burro, ninguém nega a teimosia. Quanto ao asno, mais avisado e discreto, nunca se sabe.

 

4.3.17

A fronteira

Disseram-me um destes dias que os jovens não têm ideia do que é uma fronteira. Até os compreendo! Uns simplesmente não viajam. Outros, quando o fazem, apanham o avião...

O problema não está tanto na perceção das linhas que individualizam os territórios, mas, sim, na ignorância de que o mundo ainda é partilhado por culturas diversas que, para se individualizarem, estabelecem padrões que não devem ser desrespeitados.

Não ter ideia do que é uma fronteira é desconhecer regras essenciais à interpretação e à compreensão de tudo o que se move fora do nosso círculo identitário e, em alguns casos, é atentar contra a própria identidade.

Por isso, a fronteira pode ser um espaço apenas simbólico, mas é ela que nos permite descobrir a alteridade.

Não está fácil respeitar a fronteira tantos são os maus exemplos que enchem o nosso quotidiano... E quando tal acontece, a deriva é o que nos resta.

Fantasia camiliana

Por mais que faça, há tanta coisa em que não posso ajudar: abrir a janela, arejar o quarto, esconder os medicamentos, subir a temperatura, vestir-te, levar-te à rua; convencer-te de que vivemos um dia de cada vez, de que nada serve olhar para trás e de que só amanhã saberemos como vai ser...Sobretudo, não posso ajudar a que os outros se submetam à tua vontade...

Podia deixar-te! Mas para quê? O remorso consumir-me-ia, como se tivesse cometido um qualquer crime...

A verdade é que tu não queres abrir a janela, arejar o quarto, que eu te esconda os medicamentos, que te leve à rua; preferes alimentar-te do passado e hipotecar o futuro. Continuas a querer alienar os outros, alienando-te a ti própria...

Quanto a mim, não te importas que viva a teu lado, desde que o faça servilmente.

 

3.3.17

Os eventos parecem granizo

Nada de consistente, apenas poeira. Ao contrário do granizo, a poeira permanece. Não se sabe por quanto tempo... em todo o caso, os eventos parecem granizo.

Caem sem querer saber do rumo e diluem-se na nulidade das convicções.

(...)

Dizem-me que os saberes chegarão a seu tempo e não tem de ser no tempo de cada um! Agora, é tempo de folgar! 

(...)

No entanto, as ratazanas, ao primeiro sinal de descalabro, fogem para o paraíso fiscal mais longínquo, deixando-nos a pagar o naufrágio. E porquê? Porque nada é consistente, tudo é poeira. 

 

2.3.17

Falhada a depuração

Hoje, perguntaram-me se as férias foram boas...

Há espaços onde as palavras, por mais que as filtremos, se tornam ineficazes e, em múltiplos casos, agravantes... Filtrar as palavras é uma espécie de alquimia cujo fito é depurá-las, despi-las até que da sua nudez surja alguma melodia...

Infelizmente, falhada a depuração, percebemos que a alternativa era o silêncio, mas essa compreensão chega sempre tarde...

Deve ser por isso que os psiquiatras optam pela anestesia percetiva e os psicanalistas fizeram voto de silêncio, deixando o paciente a contas consigo próprio...

Outrora, no recôndito das grutas, o silêncio incomodava de tal modo que a palavra jorrava líquida e catárquica...

 

1.3.17

Homens Bons, de Arturo Pérez-Reverte

Hombres Buenos é o título de um romance histórico espanhol, publicado em 2015, em que o seu autor, Arturo Pérez-Reverte, nos convida para uma viagem às profundezas das contradições morais, ideológicas e sociais do séc. XVIII espanhol e francês.

A tarefa é aparentemente simples, pois se trata de iluminar a Espanha obscurantista, disponibilizando-lhe a Encyclopédie Française, o que exige a viagem árdua dos académicos don Pedro Zárate e don Hermógenes, cuja missão é adquirir em Paris os preciosos e raros 28 volumes da 1º edição... 

As dificuldades sucedem-se ao mesmo tempo que os académicos se descobrem e mergulham num novo universo, guiados pelo abade Bringas - personagem fascinante, arauto da Revolução que se anuncia, mas que poucos anteveem, a começar pelos enciclopedistas, que acreditavam que as Luzes seriam suficientes para por termo ao Antigo Regime.

Este romance é um instrumento precioso para melhor compreender ou revisitar o séc. XVIII, sem esquecer o modo como o autor franqueia a sua oficina de escritor, revelando as diligências necessárias à execução de tão ambicioso projeto.

Ler é, neste caso, uma verdadeira odisseia intelectual...   

 

28.2.17

O caderninho de notas

Em 1982, mais ano menos ano, a professora V. solicitou-me que a acompanhasse na observação de umas aulas de Latim (profissionalização em exercício), pois temia adormecer durante a tarefa. A ilustre docente já passava, se não estou em erro, dos 65, mas nunca virava a cara à causa da perpetuação da língua que era suposto correr-nos nas veias...

Para os devidos efeitos lá acompanhei a colega, sentando-me junto dela, procurando que o temor da Dona V. não se concretizasse. 

O professor A. (formado em Latim num Seminário nortenho) fez o melhor que sabia, o que, por vezes, era pouco, enquanto a Dona V. ia passando pelas brasas... Não querendo incomodar nem o formando nem o formador, eu ia anotando alguns dislates, mas sem lhes atribuir grande importância... 

Chegado o momento de atribuir a classificação final, em interminável seminário, o professor A. solicitou uma nota bastante elevada, provavelmente porque dera conta dos momentos de ausência da idosa formadora. Só que não esperava que lenta e pacientemente a professora Virgínia abrisse o seu caderninho de notas e começasse a por em destaque as lacunas de tão ambicioso magister.

Esta pequena história veio-me, ontem, à memória, quando ouvi o eng. Sócrates, estarrecido, porque o sonolento professor Cavaco também teria um caderninho onde ia registando todos os entusiasmos de sua excelência...

 

27.2.17

Pouco tenho a acrescentar

Pouco tenho a acrescentar ao que, aqui, escrevi em 9.02.2016, a não ser que este ano o Carnaval chegou mais tarde...
«Não digo que o Céu esteja zangado, mas parece. A Igreja Católica inventou o Carnaval de três dias, seguido da Quaresma, para dar cabo das Maias demasiado primaveris e libertinas..., embora atualmente esta não se pronuncie quando os corsos são deslocados para o primeiro domingo da Quaresma.

O Céu nunca gostou que lhe alterassem o projeto genesíaco, mesmo que o tenham feito em seu nome... Já a ideia da existência de quatro estações lhe desagradava-as flores florescem durante todo o ano, cada uma a seu tempo... E nós próprios nascemos e morremos para além das estações.

O Céu apenas reconhece, como princípio estruturante, a semana de trabalho, com direito a um dia de descanso. O mês e o ano são invenções de papas e de imperadores, preocupados com o registo da sua efemeridade que confundiam com a “imortalidade"...

No que me diz respeito, já deixei de andar pelas estações e aborrece-me falar delas, porque há tantos lugares onde o Sol deixou de brilhar e a Chuva de cair ou, então, quando a enxurrada chega, fingimos que a culpa é do Céu.»

No entanto, hoje, o Céu é de cinza e tudo leva a crer que não vai ser necessário adiar os corsos... Por outro lado, são as árvores que florescem... e nós nascemos e morremos independentemente das estações. Quanto ao fingimento, não é preciso que a enxurrada aconteça... ele é permanente, apesar de no Carnaval uma das máscaras poder cair... 

Esclarecimento eclesiástico

Perante práticas pré-cristãs, a Igreja Católica promoveu alterações que permitissem ligar o período carnavalesco com a Quaresma. Uma prática penitencial preparatória da Páscoa, com jejum, começou a definir-se a partir de meados do século II; por volta do século IV, o período quaresmal caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a Igreja, por meio do jejum e da abstinência. Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II contestaram fortemente o Carnaval, mas no ano 590 a Igreja Católica aprova que se realizem festejos que consistiam em desfiles e espetáculos de carácter cómico. No séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a evolução do Carnaval, imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras, quando permitiu que, em frente ao seu palácio, se realizasse o Carnaval romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, corridas de corcundas, lançamento de ovos, água e farinha e outras manifestações populares. Sobre a origem da palavra Carnaval não há unanimidade entre os estudiosos, mas as hipóteses “carne vale” (adeus carne) ou de “carne levamen” (supressão da carne) remetem para o início do período da Quaresma. A própria designação de Entrudo, ainda muito utilizada, vem do latim ‘introitus’ e apresenta o significado de dar entrada, começo, em relação a um novo tempo litúrgico. Os católicos de todo o mundo começam na quarta-feira a viver o tempo da Quaresma, com a celebração das Cinzas, que são impostas sobre a sua cabeça durante a Missa.

 

26.2.17

Não sei se compreendo o "erro estatístico"

Não sei se é possível um núncio demitir-se do presente por causa de omissões no passado. Parece, no entanto, que é o que está a acontecer. Pessoalmente, consciência atormentada, estaria insatisfeito com a decisão, a não ser que ela me fosse imposta... para proteger um qualquer papa...

Por outro lado, de acordo com o senhor João Taborda da Gama (DN 26.02.2017), não haverá razão para tal alarido e muito menos para que o dito núncio se demita de responsabilidades atuais por causa de um "erro estatístico":

 

«Estamos a falar de tudo isto precisamente porque estes pagamentos foram declarados - o fisco tem todos os dados, montantes, origem, destino, datas, os números das portas para ir lá bater e fazer as perguntas que quiser. E isto não tem nada que ver com as estatísticas estarem ou não publicadas.»

 

Não sei se compreendo! Ou o senhor Núncio era incompetente ou, então, é masoquista, pondo-se a jeito para se imolar por uma causa inócua... Quanto ao senhor João Taborda da Gama, tão bem informado, será que nos poderá dizer quantos foram os milhares de milhões de euros que voaram para os offshores e inshores sem conhecimento do fisco... 

 

25.2.17

Luvas ou comissões?

Comissão - percentagem cobrada sobre negócios ou serviços.

Luvas - recompensa, geralmente ilegal, ao que proporciona ou facilita um negócio lucrativo.

A Operação Marquês, no que toca à corrupção na PT, parece concluída com a responsabilização das duas figuras máximas do grupo. Ricardo Salgado terá pago ao conjunto dos envolvidos uma quantia que ronda os 100 milhões de euros. Semanário 'Sol'.

As notícias só falam de luvas! 

Por mim, tudo o que ajude a economia nacional é bom. Sobretudo, se a produção for colocada lá fora. O que interessa é o crescimento das exportações... Não posso deixar de ver com bons olhos o negócio das luvas... protegem do frio, de acidentes de trabalho, evitam o contágio. Em suma, enriquecem a nação.

Por outro lado, qualquer negócio exige financiamento e é para isso que Deus criou os banqueiros - para financiar. 

Tudo leva a crer que, quando Deus chamou os salgados, lhes terá dito: ide, multiplicai-vos e sede gratos - não esqueçais as comissões a todos aqueles que facilitarem os negócios...

 

24.2.17

O visto dos 10 mil milhões de euros

O visto é a formula que a autoridade apõe a certos documentos e que lhes dá validade. (Dicionário da Língua Portuguesa, Porto editora)

O núncio, emproado como sempre, assobia para o lado.  Por definição, o núncio é o embaixador do papa.

Na conversa que por aí vai circulando, o papa diz que não sabia de nada. A culpa é dos serviços fiscais que não souberam interpretar o "visto"do núncio.

Porém, consta que os serviços tinham feito uma pergunta ao núncio e, conforme, ele vai dizendo, o que ele fez foi validar a pergunta...

Não querendo por em causa a honra do embaixador, fica-me a certeza de que a resposta à pergunta só pode ter sido dada diretamente pelo papa.

Quanto aos 10 mil milhões, viste-los... e nós a descontar, a descontar...

 

23.2.17

Nesta estação

Não é a vida que é ingrata!

E pelo que me diz respeito, não espero provas de gratidão. E também nunca as esperei...

Os laureados não passam de efémeros ídolos de barro que, no meu fraco juízo, acabam por perder a oportunidade de estar na vida em silêncio... o que não significa que não façamos nada por nós e, consequentemente, pelos outros.

Quando menos se espera, a corda desfez-se dos nós... e sobra, apenas, uma ténue linha da cor da página em que se perde... e nesta estação não há qualquer fumo de desespero ou de nostalgia, só uma melodia indizível.

 

22.2.17

O perfil está de regresso

Para uns, trata-se do perfil de saída; para outros, do perfil de entrada...

Uns e outros insistem na necessidade de formatar um homem novo e duradouro, o que pressupõe liturgias bem definidas, com os respetivos sacerdotes bem treinados e acolitados por sicários obedientes mas determinados...

Por mim, bem podem esgrimir os sofismas mais convenientes para o fim em si. Um fim exterior ao indivíduo, pronto a dobrá-lo a vontades mais ou menos messiânicas ou teleológicas...

Num tempo em que todos os dias se anuncia a substituição da inteligência humana pela inteligência artificial, dá-me que pensar esta preocupação com o perfil, com esta idealização do dever humano.

 

Por mim, habituei-me a lidar com perfis baços, dilemáticos, heréticos, intermédios... e sempre que deles me aproximei, compreendi que havia algures uma chama, que não era minha. Uma chama que eu não tinha o direito de configurar...

Por uns tempos, mostrava-lhes algumas ferramentas, por vezes, fora de prazo... e com elas sempre fizeram o que bem entenderam...

 

21.2.17

Gente civilizada!

O tema de hoje bem podia cingir-se à "violência" no namoro... ação dinamizada pela APAV, tendo como público jovens do ensino secundário... De tudo o que foi dito, nada me surpreendeu, apesar da tendência de alguns jovens para considerarem que a violência não é habitual entre gente civilizada, gente bem-educada...

Os palavrões, os insultos, a chantagem, o boato, o empurrão e o apertão, o riso alarve, o controlo das SMS, das chamadas, dos chats, o assédio, o abuso, são, afinal, comportamentos dos bairros da periferia...

Por aqui, são tudo rosas, meu senhor! 

Nós, gente civilizada, não faltamos ao respeito, não gritamos, não empurramos, não partilhamos fotos inconvenientes, não arrastamos pelos cabelos os mais frágeis... aqueles /as que não nos satisfazem os caprichos...

Talvez, o amigo /a se exceda, grite, insulte, agrida, abuse da fraqueza do parceiro / da parceira... No entanto, não vamos maçar-nos. Não metas a colher... assunto privado. 

Quem disse que tal pode ser crime público!

 

E a propósito, agora que tanto se insiste em aligeirar a carga de trabalhos escolares, registo aqui um excerto vicentino que bem poderia ilustrar um debate sobre a violência doméstica: 

 

Inês - Por que bradais vós comigo?

Escudeiro - Será bem que vos caleis.

                   E mais sereis avisada

                   que nam me respondais nada,

                   em que ponha fogo a tudo,

                   porque o homem sesudo

                  traz a molher sopeada.

                  Vós nam haveis de falar

                  com homem, nem mulher que seja

                  somente ir à igreja

                  nam vos quero eu leixar.

                  Já vos preguei as janelas,

                  Por que não vos ponhais nelas

                  estareis aqui encerrada

                  nesta casa, tam fechada

                  como freira d'Oudivelas.

                        Farsa Inês Pereira

 

20.2.17

Só posso estar de acordo

Vital Moreira contesta a decisão e alerta para as consequências de aliviar o número de horas de português e matemática. "Não concordo nada com uma eventual redução da carga letiva do Português e da Matemática, quer por serem o fundamento de todo o conhecimento, quer pelo evidente défice de saber nessas duas áreas de que padece grande parte dos alunos que completam o ensino obrigatório". jornal i

Há que ter cuidado com os linguistas, com as associações profissionais e com os revisores curriculares, pois, na maioria, só procuram protagonismo e emprego bem remunerado.

Quanto à disciplina de Português, há muito que se sabe que a língua vem sendo instrumentalizada ao sabor dos caprichos da circunstância política.

 

19.2.17

O traço

...o traço avança por perseverança, não se desvia, mas também não se endireita; quando se debruça, tropeça na aresta que o obriga a contorcer-se e a regressar à casa de partida... pelo caminho ainda hesita...

... o traço regressa ao labirinto e, em círculos, mergulha no tinteiro; o fundo é azul-escuro e o traço encolhe-se e indistinto perde-se até que Kafka o arranca e o transforma em barata tonta. 

 

18.2.17

Patologia espiritual

Insistir em escrever pode ser sinal de avançada patologia espiritual. Sobretudo, quando o tema é o ajuste de contas entre mortos, moribundos e desesperados...

Talvez devesse escrever sobre mochilas ou, em alternativa, sobre redes e computadores incapazes de assegurar um fluxo contínuo de informação... ou sobre editoras que capturam os programas de ensino e os vendem a seu belo prazer, em suporte de papel e em suporte digital...

Talvez pudesse escrever sobre a desclassificação e a menorização do professor, em termos de formação e de exercício...Ou ainda sobre os políticos que se imaginam peritos em educação, conteúdos de aprendizagem, cargas horárias e que se prontificam a baralhar e a voltar a dar, sempre suportados por meia dúzia de ex-ministros e respetivas côteries...

Mas para quê?

Para já, vou regressar ao "estreito" de Gibraltar que, no dizer de Gonçalo Cadilhe, em vez de unir, quase sempre separou. Separa. E a espaços, sigo os dois académicos espanhóis, acabados de chegar a Paris, que procuram adquirir a famosa "Enciclopédia “que tantas luzes disseminou. Malgré tout!

 

17.2.17

Memórias à Cavaco

O senhor Cavaco acaba de sair a terreiro com as memórias das suas quintas-feiras. Não vou lê-las, porque as minhas expectativas saíram goradas, pois o que eu esperava era que o senhor nos presenteasse com as suas memórias dominicais...

Assim, fico à espera das memórias da senhora sua esposa ou, melhor ainda, do respetivo diretor espiritual. 

No entanto, pelo que vai sendo dito pelos acólitos do senhor professor, este terá feito um registo naturalista das manhas do engenheiro, dissecando-lhe o cadáver e expondo todas as malfeitorias que o carismático mafarrico lhe ia servindo à quinta-feira e nos restantes dias da semana...

Compreendo bem que o senhor Cavaco nunca tenha elevado a voz, só não entendo é por que motivo não demitiu o mefistófeles... 

Creio que o senhor Cavaco, no dia do Juízo Final, não vai ser capaz de ombrear com o seu antecessor, o senhor Sampaio que, por muito menos malfeitorias, despediu o alcaide Santana, futuro provedor da infinita misericórdia de que todos andamos necessitados... e se há alguém que sabe porquê é o senhor... 

 

16.2.17

O militante socialista?

«O militante socialista acusa o pedopsiquiatra de ter apresentado um relatório em tribunal de “acordo com as conveniências judiciais” de Barbara Guimarães e de ter “mentido sem escrúpulos”.» Jornal i, 16/2/2017

«O militante socialista»! Porquê? Será que se trata de um comportamento próprio de um militante socialista, independentemente do sujeito ser o Manuel ou o Pedro?

Creio que nem a militância política nem a profissão devem ser chamadas para o caso, pois os atos de que o arguido é acusado são comuns a muitos indivíduos, independentemente de qualquer estatuto político, social ou profissional...

Se os indivíduos surgissem perante o juiz despojados de honrarias, as decisões judiciais seriam mais rápidas e certamente mais justas.

 

15.2.17

Desorientados

A referência é tão vasta que, por vezes, é difícil determinar o campo de aprendizagem prioritário. 

O lugar em que crescemos, segundo teorias várias, afeta-nos. No entanto, esse espaço parece diluir-se de tal modo que raros são os que lhe fixam as coordenadas, lhe conhecem os sucessos e os revezes. 

A nova referência é volátil e aleatória, o que mata a influência no sentido em que a tradição a considerava fonte, autoridade, modelo, exemplo.

A doutrina (a ideologia) é confundida com a instituição, tornando a ironia inútil e a sátira gratuita. Desorientados, não nos apercebemos do avanço despudorado da contrarreforma... da discricionariedade, não no sentido de satisfazer a necessidade pública, mas a pessoal.

 

13.2.17

Só a erva daninha medra

Há dificuldades que se não são inultrapassáveis assim parecem. Uma das causas é a indigência; outra é a dispersão.

Talvez o artista, numa perspetiva romântica, seja a única criatura capaz de tirar proveito desta conjunção.

O problema é que com tanta gente indigente e dispersa torna-se difícil separar o trigo do joio. Eu bem procuro o trigo, mas o terreno é tão pedregoso que só a erva daninha medra.

 

12.2.17

Voltou...

Voltou, mas ficou na 1ª página... Por este andar, ainda vou ter de aprender curdo... Foram 265 quilómetros de marcha! Agora, dorme, Susana.

 

 

11.2.17

A marcha Curda de 2017

Porque a causa curda não nos deve deixar indiferentes, procurei segui-la através dos meios de comunicação e das redes sociais.

No que respeita a Portugal, o tema foi ignorado, apesar de haver caminhantes portugueses. Em termos internacionais, só a comunicação social regional das zonas atravessadas foi dando eco do acontecimento, fundamentalmente porque a reação turca não deixou de aparecer...

Enfim, por mais que se explique a diferença entre o essencial e o acidental, só o acessório continua a merecer atenção... E, em abono da verdade, a causa dos direitos humanos e, consequentemente, do direito à autodeterminação dos povos, continua a ter muitos detratores. Basta prestar atenção ao tipo de comentário que vai proliferando, por exemplo, no Facebook, a propósito da cobertura de um evento, como a marcha pró-curda 2017.
Se a senhora Le Pen acabar por ganhar as eleições presidenciais francesas... O mundo está a ficar cada vez mais irrespirável!

Na manifestação, terão participado cerca de 15.000 curdos, com concentração junto do estádio de Meinau.

 

10.2.17

Risco

Risco
não arrisco
quem não arrisca, não petisca
se risco, o cisco deforma
desisto em forma de Anticristo
com um pouco de cebola, uma gota de azeite, uma linha de vinagre, talvez a isca não se sinta arisca

Do risco
é melhor calar e esperar
esperar até que a linha estale
inexorável
já sem medida nem Anticristo

 

 

9.2.17

Cercados... por abóboras?

«Os refugiados são um tema sobre os quais todos (as) temos uma opinião. É um assunto de crescente importância social, política e mediática em que, frequentemente, a construção dos discursos assenta na perceção que nos chega pelas experiências pessoais, mas sobretudo, e cada vez mais, pela sua hipermediatização. Muitos pensadores têm refletido sobre este temaAlguns são mesmo intemporais.» (1º parágrafo do editorial "A Caverna", cujo autor é Pedro Calado, Alto-Comissário para as Migrações.) 


A brochura tem o objetivo de apresentar "factos e argumentos para desfazer medos e mitos". Na ficha técnica, é possível descortinar um revisor. 

Este número é uma iniciativa do ACM.  Aborda o tema "Refugiados", deles dizendo: «Também em torno dos refugiados existem cavernas (e mitos).»

Esta caverna não é uma gruta qualquer! É a de Platão! Os homens de Platão, afinal, não estavam 'cegos', mas cercados... por abóboras?

 

8.2.17

Apesar da oposição turca

SOCIÉTÉ SARRALBE Les Kurdes et leurs amis marchent

Ils sont Kurdes ou pas. Hier, ils ont marché de Loupershouse à Sarre-Union, via Sarralbe. Pour la libération du leader Öcalan et la création d’un statut pour le Kurdistan.

A marcha é pacífica, decorre em solo europeu, e visa despertar a comunidade internacional para a necessidade de criar um estatuto (autonómico?) para o Curdistão, e, em simultâneo, apela à libertação do líder Öcalan. Como em muitos outros lugares, os turcos residentes (emigrantes) na região de Sarre-Union não perderam a oportunidade de sair a terreiro para criar incidentes. Felizmente, tudo acabou bem !

La tension a été vive, dans la nuit de mardi à mercredi entre les communautés kurdes et turques, autour de la salle de la Corderie à Sarre-Union.

La marche qui conduit une délégation kurde de Luxembourg à Strasbourg avait traversé mardi le secteur de Sarralbe. La soixantaine de personnes a fait halte pour la nuit à la salle de la Corderie à Sarre-Union. Mais dans la soirée, de vives tensions ont éclaté entre les marcheurs et des opposants turcs venus à leur rencontre. Aucun affrontement physique n’a eu lieu. Mais de nombreuses provocations et invectives ont fusé de part et d’autre. 80 à 100 personnes étaient réunies dans chaque camp, hors et dans la salle, une majorité voulant en découdre. Les forces de l’ordre, qui avaient placé cette marche sous surveillance, ont renforcé leurs effectifs sur place. Une trentaine de gendarmes ont ainsi contenu les animosités. Aux alentours de 23 h, les manifestants turcs ont quitté les lieux. Evitant un affrontement avec des soutiens des Kurdes, arrivés quelques minutes après pour soutenir les marcheurs.

A noter que le véhicule d’un des accompagnateurs de la marche a été dégradé ; une vitre de la salle aurait aussi été détériorée.

Ce mercredi matin, la soixantaine de marcheurs a repris sa marche vers Strasbourg.

 

7.2.17

A língua em que navegamos

A língua é de quem a fala e de quem a escreve. Se deixar de permitir a comunicação é porque alguém a anda a tratar mal, isto é, os falantes querem seguir por atalhos que, nalguns casos, originarão novas línguas, e em que, noutros casos, os falantes acabarão por se extinguir. O que, de facto, acaba por vir à tona é a falência do sonho imperial de uma comunidade lusófona.

É sabido que o sonho, por adjetivar, não prejudica ninguém. O problema é que não sonhamos coletivamente e, quando tal acontece, de nada serve regular o que vai desconcertado...

A língua não é dos gramáticos, nem dos livreiros nem dos políticos, que, na verdade, outra coisa não fazem que não seja zelar pelos seus negócios ...

Agora, uns tantos querem purgar o acordo ortográfico. Por mim, a tarefa é impossível, porque, desde 1911, que não há acordo.

Se recuperássemos todos os desentendimentos lexicais, semânticos, fónicos, ortográficos e outros, chegaríamos facilmente à conclusão de que aquilo que nos une é cada vez mais residual, mais líquido... E esse é um detalhe que deveria merecer atenção, pois é nessa língua líquida que melhor navegam os que a falam e os que a escrevem... 

Reparem, entretanto, que já começou a campanha contra a mochila - sacola de escravo e não de moleque... Eu, por mim, também penso que para transportar um tablet basta um bornal. Em tempos, para transportar a lousa, chegava-me uma mão... e ignoro se a extinção da ardósia foi objeto de alguma decisão da pretérita Assembleia Nacional...

 

6.2.17

Partiram no dia 1 de fevereiro...

« Ils sont partis il y a cinq jours de la cour de justice de l’Union européenne à Luxembourg, à pied et par tous les temps, pour traverser plusieurs ... »

Creio que a causa curda, isto é, o direito dos curdos a disporem de um estado deveria merecer mais atenção da comunidade internacional. E sobretudo deveria merecer mais atenção porque se trata de um povo permanentemente perseguido, cujos dirigentes, acusados de terrorismo, são condenados à morte e deixados a apodrecer nas cadeias turcas, e não só. No entanto, é sintomático que a comunicação social ignore o assunto ou, quando se lhe refere de forma pontual, nos obrigue a subscrever o jornal, no caso o Républicain Lorrain

A Internet é vasta, mas a informação é escassa. Valoriza o fait-divers e ignora as causas.

5.2.17

O sol desta manhã

O melhor será saudar o sol desta manhã, antes que a nuvem o cubra e me deixe um pouco mais deprimido...

É só mais um passo e, talvez, outro passo sob a luz desta manhã, e tudo começa a ganhar sentido. E não é preciso correr, a pé ou de bicicleta! 

Até um simples reflexo luminoso disseminado pelas águas de um qualquer rio - o Tejo é um privilégio! - me faz regressar à margem e seguir o curso a que não devo colocar qualquer termo, pois esse simples ato desrespeita a vontade da nascente, dando corpo a uma soberba inebriante, mas, afinal, irracional...

4.2.17

Nos Passos de Santo António

Gonçalo Cadilhe sempre foi, para mim, o homem que sabe ir aos lugares onde eu gostaria de ir. Desta vez, o viajante soube reinventar os passos desse português que habita o nosso imaginário desde a infância, mas que visto à distância, no tempo e no espaço, pouco se importaria com a identidade terrena; o que lhe interessava era a chama que o empurrava para a defesa de um Deus despojado e solidário - Fernando Martins / Santo António de Lisboa / Santo António de Pádua.  

Ao ler "Uma Viagem Medieval" de Gonçalo Cadilhe, três ideias se foram apoderando de mim. Primeira, o roteiro criado pelo Autor é tão apelativo que, talvez, um dia destes também eu parta para cumprir parte desse destino antoniano; segunda, o relato da viagem pelo Norte de África é tão ponderado que vale a pena lê-lo várias vezes para compreender aquilo que nos liga e que nos separa nas margens do mediterrâneo - o absurdo da inimizade que pouco tem a ver com a alma do povo; finalmente, e já que o Ministério da Educação aposta num Projeto de Leitura para o 10º ano centrado na Idade Média, parece-me que Nos Passos de Santo António é uma obra genuinamente portuguesa, que permite ao leitor tomar consciência de que o presente não está tão longe do passado, mesmo se medieval, como a nossa ignorância persiste em defender.

Nos Passos de Santo António, Uma Viagem Medieval, é um belo livro de Gonçalo Cadilhe que nos liberta da poeira hagiográfica, e nos faz sonhar! Pelo menos, a mim!


3.2.17

A marcha pró-Curda

À Audun-le-Tiche, les marcheurs ont été accueillis à la salle Jean-Moulin, pour s’y restaurer et surtout s’y reposer avant de repartir vêtus de leurs gilets jaunes de sécurité ce jeudi en direction de Thionville, sous escorte de la gendarmerie nationale.

Hoje, a marcha pró-Curda segue para Talange. A caminhada dura um pouco mais de três horas (?).

16h20. O grupo já chegou a Talange. A minha previsão estava correta, embora o acontecimento não esteja a ter grande impacto na comunicação social.

2.2.17

À Audun-le-Tiche

Scène insolite saisie ce mercredi soir à Audun-le-Tiche lors de l’arrivée des marcheurs kurdes en route vers le Parlement européen de Strasbourg.

A informação que acabo de receber é que «Já fizemos 50 km e estamos no Norte de França; tudo corre bem».

O que é curioso é que a Internet nos permite saber de forma precisa onde é que o caminhante se encontrava no final do dia de ontem, embora ele não o saiba com rigor, pois o que lhe interessa é atingir o objetivo.

No essencial, ao peregrino interessa o esforço realizado e a distância a que se encontra da meta.

No caso, as metas são duas: uma pessoal e a outra solidária, esta bem mais difícil de alcançar, apesar da primeira por à prova a resistência individual.

 

1.2.17

Marcha pela auto-determinação dos Curdos

C’est désormais une tradition : la « longue marche » kurde. Pour la vingtième fois, celle-ci reliera deux villes européennes pour rendre attentif au sort de la minorité kurde, partagée entre la Turquie, la Syrie, l’Irak et l’Iran. Cette fois, la « longue marche des Kurdes et de leurs ami-e-s » reliera Luxembourg-ville à Strasbourg. Sous le mot d’ordre de « Liberté pour Öcalan – un statut pour le Kurdistan », plusieurs centaines de marcheurs et marcheuses partiront du Luxembourg le 1er février. À l’heure où le conflit dans les régions kurdes de Turquie reprend de plus belle et où les forces kurdes sont sous pression en Syrie aussi, tandis qu’une libération du leader kurde Abdullah Öcalan semble s’éloigner toujours plus, ils revendiqueront, entre autres, une solution politique au conflit en Turquie. Le 3 février, une conférence aura lieu à 20 heures aux Récollets à Metz. Ensuite, les marcheurs et marcheuses repartiront pour atteindre, le 11 février, le Parlement européen à Strasbourg, où la grande manifestation annuelle des Kurdes d’Europe aura lieu. Départ à Luxembourg : mercredi 1er février à 10 heures devant la Cour de justice de l’Union européenne.

Aqui está um tema de que pouco se conhece em Portugal, mas a que nos últimos anos comecei a dar atenção, porque a Susana não perde uma oportunidade de lutar pelos direitos dos povos, como acontece com o povo curdo, obrigado a uma diáspora sem fim à vista...

 

 

 

 

31.1.17

Donald Trump não é um ignorante

Ainda não eram 9 horas e já tinha ouvido 3 pessoas dizer que Donald Trump é um ignorante. Concordo com quase tudo o que se lhe aponta: nacionalismo mórbido, xenofobia, machismo, caudilhismo, populismo, sectarismo, racismo, egotismo extremo. Só não posso aceitar que o classifiquem como ignorante. O senhor sabe muito bem o que faz, e quem o elegeu sabia muito bem o que queria!

Parece-me enorme insensatez apresentar a ignorância como argumento, pois isso significa começar a desculpabilizá-lo, tal como desresponsabiliza quem criou as condições para que pudesse ser eleito e os que nele votaram ou se abstiveram...

Pensar que a situação se resolve com um qualquer atentado também revela desconhecimento da História: os autocratas sabem rodear-se de mastins que os defendem e que, em simultâneo, espalham o terror...

E finalmente, este argumentário cega-nos para o vírus de que Donald Trump é portador e que rapidamente atravessará o Atlântico, gerando réplicas prontas a por termo à sociedade democrática.

30.1.17

Da natureza da euforia

Um destes dias deixei aqui uma nota sobre os tempos de euforia, concluindo que eles eram coisa pretérita.

Entretanto, tenho vindo a pensar se a euforia corresponde a um estado gasoso, líquido ou sólido... De início, pensei que o eufórico fosse um nefelibata ou, mais próximo de nós, um alcoólico deserdado... Porém, agora, que ando menos eufórico, dou conta de que a euforia pode resultar da atitude de pessoas que se prezam de ter os pés bem assentes no solo... Longe e perto, parece que a razão se desvaneceu, surgindo, a cada momento, ações cada vez mais perniciosas ao bem comum.

Os propósitos parecem razoáveis, mas, de facto, são insensatos... e tudo rodopia em tal estado de contentamento que a euforia campeia, insensata e maltrapilha...

 

29.1.17

Se os Últimos Dias se aproximam

Creio que o Senhor Donald Trump não terá sido informado do projeto da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias...

Será que o senhor presidente não pode fazer qualquer coisinha para evitar o desperdício de milhões de dólares em solo onde já estão edificadas tantas igrejas cristãs?

Se os últimas dias se aproximam, para quê construir um Templo de tamanha envergadura?

Até porque anda por aí muita gente que pensa que o senhor presidente o que quer é acabar com o planeta...

 

28.1.17

Voltam os testes

De dois em dois meses, voltam os testes. Um teste para cada turma, porque os meninos deixaram de ser filhos de Deus, e o Diabo está à espreita...

Em alguns testes, criou-se o hábito de criar versões, porque os diabinhos ganharam o hábito de catrapiscar o alheio...

Tudo isto decorre num lugar cujo objetivo é educar, isto é, inculcar um conjunto de valores que visam preservar a responsabilidade, o rigor, a honestidade.

Tantos testes para quê? O professor sabe muito bem quais são os meninos cumpridores - que respondem na hora, que leem de forma correta, que são capazes de dar uma resposta escrita, fundamentada, coesa, coerente e obediente à instrução... e também sabe que tem à sua frente uns tantos que não ouvem, que não abrem o manual, que não respondem ao que é solicitado, e que se estão nas tintas para o processo de ensino-aprendizagem...

... porque, de verdade, só lhes interessa o EGO...

 

27.1.17

Unicórnio ou multicórnio?

De repente, olhamos a fachada, e sai fumo branco. Será que temos Papa?

Um destes dias, saberemos...

Enfim, cada um faz o que lhe apetece!

E se todos adotarmos o unicórnio, será que este prédio da Portela poderá ser classificado como multicórnio? 

 

26.1.17

Património esquecido

Com tanta chuva, ainda pensei que talvez o edifício do Liceu Camões viesse abaixo. Mas não, as construções lacustres estão preparadas para resistir às torrentes... Afinal, o problema maior situa-se no Porto - alunos, encarregados da educação e professores decidiram fechar a Escola Secundária Alexandre Herculano, por excesso de água e de frio.

Edifícios centenários morrem lentamente enquanto os decisores vão soprando para o lado, à espera do inevitável. A cada ano que passa, uma reapreciação que morre na gaveta.

O Património só é assumido quando os interesses se encontram. 

 

25.1.17

Cercado

As muralhas não estão à vista, as 77 torres foram deitadas abaixo e das 38 portas, sobraram algumas chaves, entretanto, oferecidas pelo alcaide aos forasteiros que, de tempos a tempos, nos visitam...

Descurada a defesa, apenas a voracidade campeia no arraial. A fome já lá vai-os homens deixaram de esgaravatar nas lixeiras, as crianças de três e quatro anos dormem tranquilamente nos infantários, e as mães já não precisam de ferir os peitos à míngua de leite materno...

O cerco é coisa do passado! 

Já não há cidades sitiadas, embora haja quem persista em edificar muros - uns de arame farpado, outros de cimento eletrificado. De vez em quando, surgem notícias de Aleppo ou da Faixa de Gaza, mas dizem-me que esses lugares não existem, que não passam de reminiscências esventradas por deuses de outrora...

Gostava de ter a fé do historiador José Mattoso que considera que a História «responde, muito simplesmente, a uma curiosidade inata no Homem para com as suas próprias ações individuais e coletivas...»  Blogue de José Mattoso (26.10.2014)

 

24.1.17

Os Livros de Trump

Donald Trump escreveu dezenas de livros sobre os mais diversos temas - tudo o que possa transformar-se em ouro lhe serve.

Confessa que, apesar da falta de tempo, gosta de ler. Atualmente, já só lê capítulos! Provavelmente, curtos enunciados, descontextualizados, como convém a um político desempoeirado... Confessa, no entanto, que os únicos livros a que volta permanentemente são dois: A Bíblia e The Art of the Deal.

Compreendo: Deus no Céu e Trump na Terra!

Resta-me saber se foi Deus que no-lo enviou. Receio que não, pois da última vez que Deus enviou um Filho à Terra, este detestava os vendilhões do Templo.

 

23.1.17

A mentira

A minha perplexidade aumenta a cada momento! Na Ilha de Trump, está a chegar à costa um novo homem: rico, branco, fanático, bronco, desbragado. E das mulheres, não sei o que diga! Parecem-me noviças enfeitiçadas, prontas a renderem-se ao primeiro salteador e, sobretudo, capazes de fazer da mentira o seu lema...

Para quem pensa que entrámos na era da pós-mentira é melhor que se cuide, pois esse enunciado não passa de um sofisma para enganar os mais incautos.

A mentira é uma arma muito mais eficaz do que a verdade. Da verdade, aprendemos a duvidar! Quanto à mentira, entranhada desde a meninice, nada podemos fazer...

A História, que procura «a clara certidom da verdade», debate-se permanentemente com os mil e um ardis utilizados na conquista e na manutenção do poder.

Talvez os Historiadores devessem ocupar-se mais da mentira, porque esta, de facto, tem sido o motor principal dos avanços e dos retrocessos da humanidade...

De momento, na Ilha de Trump, é a própria configuração da humanidade que está a ser posta em causa, fazendo lembrar o tempo de um certo tipo de super-homem que inebriou uma parte significativa da Europa do séc. XX. 

 

22.1.17

Acusar a Internet...

Acusar a Internet da proliferação de erros ortográficos, de desconexões sintáticas, de plágios, de falhas de carácter, de interferências estrangeiras, é fácil, desvia a atenção, desresponsabiliza e, principalmente, cria uma sociedade dominada pela charlatanice.

Charlatão: Aquele que se utiliza da boa-fé de alguém, geralmente, fingindo atributos e qualidades que não possui, para obter (dessa pessoa) quaisquer vantagens, ganhos, lucros etc.; impostor. O problema é que o charlatão não se encontra apenas na "internet"..., ele navega em todas as águas, por vezes, ainda sem saber...

Para mim, os que ainda não sabem da sua condição são os que mais me preocupam...  

 

21.1.17

Na Ilha de Trump

Na Ilha de Trump, as pontes começam a ser substituídas por muralhas. E claro, há que não esquecer as portas para deitar fora «as gentes minguadas e non pertencentes para defensom», tal como foi registado por Fernão Lopes:

«E isto foi feito duas ou três vezes, atá lançarem fora as mancebas mundairas e judeus, e outras semelhantes, dizendo que tais pessoas nom eram para pelejar, que nom gastassem os mantimentos aos defensores; mas isto não aproveitava cousa que muito prestasse

Crónica de D. João I, 1ª parte, Cap. CXLVIII.

 

20.1.17

Cada um de nós é uma ilha

«Cada um de nós é uma ilha, não é verdade? Uma ilha rodeada por outras ilhas, separada delas por correntes fáceis ou difíceis de transpor, conforme os dias.» in A Empresa das Índias. Erik Orsenna, pseudónimo d'Eric Arnoult

No que me concerne, a transposição já não é questão de dias, mas de horas. Hoje, por exemplo, a travessia foi muito mais fácil às 8h15 do que às 11h45.

Então, por volta das 12h50, as correntes alteraram-se de tal modo que a comunicação terminou.  Parece que o estômago se sobrepõe por inteiro à vontade!

 

19.1.17

No purgatório

Na aceção mais comum, purgar significa 'purificar através da eliminação de impurezas'.

Nas sociedades democráticas, a palavra é evitada pois a 'impureza' é reconhecida como uma característica da natureza humana.

No entanto, se observamos a realidade social, verificamos facilmente que os processos de exclusão dos mais fragilizados se multiplicam um pouco por toda a parte.

Nos hospitais e nas prisões, há espaços reservados à impureza física, comportamental e mental - sempre com o fito de preservar a saúde e a paz social.

Nas escolas, os mecanismos de purga coabitam com os de integração, porque, afinal, a escola é o lugar onde tudo é possível - coage-se o indisciplinado e integra-se o impossível.

Paradoxalmente, os mais astuciosos continuam a usufruir de privilégios que atentam contra a construção da sociedade democrática.

Amanhã, terá início o tempo da purga sem que seja necessário recorrer a qualquer sinónimo mais aliciante.

(Pretexto: a purga de uma garrafa de gás GALP; uma simples bolha de ar pode incomodar, deixando-nos à mercê das temperaturas mais rigorosas...)

 

18.1.17

Um dia sem história

Um dia sem história, no sentido em que a rotina, embora exigente, esgotou as horas. O frio mostrou-se, obrigou a reforço de agasalho e a acelerar o passo...

Fui, no entanto, dando conta do encantamento artificioso que se eleva sem ousar confessar o objetivo... E depois há o círculo virtuoso, plural, que lembra a colmeia melíflua que matou o zangão.

O ar respira misoginia, descoberta recente, mas decadente...

 

17.1.17

Felizes os filhos que têm pais e avós...

Felizes os filhos que têm pais e avós e que, assíduos, lhes visitam as casas deixando lá os manuais.

De regresso à escola, sentam-se e conversam sobre assuntos banais, nos intervalos jogam às cartas à espera do tempo das assembleias de turma.

Lá, todos à uma, insurgir-se-ão contra o professor que lhes solicita que abram os manuais na página 90 (e na 84...), e leiam em silêncio a narrativa, o ato, o poema... e sublinhem a conexão posta em igualdade ou em subordinação...

Já não se trata de entender a continuidade da sucessão, a estanqueidade da enumeração… de ter uma perceção sindética ou assindética, mas da lei da permutabilidade dos símbolos.... no lugar da rosa, a espada, no lugar da espada, a lua cheia ... das nações a nascer, aqui, neste hemisfério, norte...no Tempo com maiúscula...

E os manuais, em casa dos pais e dos avós, enquanto estes não reúnem em assembleia de pais e de avós, para se insurgirem contra… 

 

16.1.17

A tábua de valores

«Uma tábua de tudo o que é bom está suspensa por cima de cada povo.» (Nietzsche, Zaratustra)

As minhas escolas, extintas ou em atividade, em tudo se assemelham... exceto no que respeita à autoridade do professor. 

Hoje, impera a desconfiança em relação ao saber do docente. Importa é que consiga gerir a relação de modo a dissimular os conflitos resultantes do desinteresse, da deseducação e da irresponsabilidade coletiva.

Moisés bem tentou disciplinar as tribos com recurso às tábuas da lei ditada por Deus no meio da sarça ardente.

O Deus de Moisés deve estar reformado, caso contrário já teria posto cobro ao faz-de-conta em que navegamos.

 

(O assento destas pobres ideias só é possível, porque me encontro na mesma situação de Godot - à espera! Entretanto, vou relembrando o tempo em que havia curiosidade, fome de saber, vontade de encontrar um rumo...

 

15.1.17

Uma histriónica declaração

Numa rua pouco frequentada, surge a imagem furtiva de um velho desgrenhado, zarolho, disforme. Ou será a moldura do enforcado?

Por um instante, penso que eu não serei muito diferente daquele que, de um olho só, espreita ao postigo..., pelo menos, aos olhos da Sofia e da Catarina que aproveitaram para ali deixar uma histriónica declaração de amor sem objeto.

O mais perturbador é que comecei por pensar que estaria perante mais um exemplo de arte de rua, mas o que emerge da observação da tela é que, afinal, devo sofrer de PHP - perturbação histriónica da personalidade, sobretudo ao encaminhar este post para o Facebook...

Começa a ser tempo de por cobro a esta perturbação!

 

14.1.17

Fui ouvir e gostei

A Orquestra Geração do Centro Cultural de Amarante é um projeto de integração social que, desde 2010, incentiva dezenas de jovens a desenvolver através da música valores como a disciplina, a pontualidade, a persistência, o trabalho em grupo, a autoconfiança e a adquirir os conhecimentos necessários que lhes permitam ter um crescimento mais equilibrado proporcionando-lhes melhores perspetivas para o futuro.

Na Sala Polivalente do Centro Cultural de Arte Moderna (F.C.G.), ouvi, esta tarde, durante 45 minutos, uma orquestra constituída por jovens estudantes e respetivos professores, e fiquei profundamente agradado com o desempenho individual e coletivo e, sobretudo, pela confirmação de que a aprendizagem de um instrumento contribui para o acréscimo significativo do rendimento escolar...

Num tempo em que muitos jovens manifestam comportamentos de grande irresponsabilidade, talvez fosse melhor olhar atentamente para o trabalho desenvolvido pelo Centro Cultural de Amarante - Maria Amélia Laranjeira - que, em colaboração com o Agrupamento de Escolas Amadeu de Souza-Cardoso, tem vindo a criar as condições para o desenvolvimento pessoal, social e cultural de uma geração mais motivada e produtiva.


13.1.17

Ouvir

Ouvir a razão e a falta dela...
Suspender a voz até que o silêncio irrompa...
Provavelmente uma quimera...
O arruído dos cavalos e das lagartas extinto pelas desvairadas vozes de eras mortas

Faltam as vírgulas!
O povo queixoso respira ofegante cheira as rosas indiferente às espadas...

 

12.1.17

Liquidar para defender o bem comum

O Benfica tinha a segunda maior dívida do futebol europeu, em 2015, segundo revela a UEFA no relatório financeiro publicado esta quinta-feira. De acordo com o documento, os encarnados tinham uma dívida de 336 milhões de euros, com um aumento anual de 3%.

Saldar empresas de que tipo for para satisfazer interesses de minorias significa sacrificar o contribuinte e, sobretudo, aqueles que não têm meios para contribuir para o bem comum...

Sempre pensei assim, e não é agora que vou mudar de ideias. Os milhares de milhões despendidos (e a despender) para adiar a liquidação de empresas falidas davam para refundar o país.

Os bancos são sorvedouros de infindáveis recursos financeiros porque, para além de mal geridos, alimentam negócios que exploram a idolatria e a idiotia de massas acéfalas.

A engrenagem está à vista, mas poucos exigem o seu desmantelamento, e quando o fazem são ostracizados.

Podia ter escolhido outro exemplo, no entanto o melhor é não fazer vista grossa.

11.1.17

Névoa

Desilusão? Talvez!

No entanto, sinto dificuldade em determinar se houve um tempo de ilusão, no sentido em que o imaginário é o que está por descobrir, por construir, por melhorar...

Sei que a História está cheia de madrugadas radiosas, as minhas, contudo, foram sempre enevoadas, sem que, alguma vez, me tenha imaginado redentor de qualquer ilha ou continente.

Porque a terra é um lugar de tristeza, admiro quem celebra a alegria, porém tudo faço para não me deixar inebriar, porque a fronteira é indistinta.

Apesar de tudo, a névoa em que vivo não é minha - como tal não necessito de padre ou de analista - uma névoa que, a pouco e pouco, submerge as margens em que arrisco cada dia...

Estranho é admitir um qualquer estado de desilusão se nunca a ilusão amanheceu.  Estou mesmo a ver que, um destes dias, tudo é nada.

 

10.1.17

Uma escola envergonhada

(A propósito das exéquias de Mário Soares.)

Será que a Escola deve alguma coisa à Democracia? Será a Escola um pilar da Democracia?

Por definição, a Escola pode ser um pilar da Ditadura, tal como o pode ser da Democracia.

Descendo ao particular, cada escola vem reclamando para si uma atuação democrática, mesmo quando suportava a Ditadura...

Na Ditadura e na Democracia, a Escola serve, sendo desejável que não se sirva a si própria...

Por vezes, vem-me à ideia de que sou agente de uma escola que, em parte, vive na clandestinidade ou que tem vergonha de defender os valores democráticos...

Entretanto, os inimigos da Democracia não perdem uma oportunidade... 

 

9.1.17

Os dias da euforia já lá vão!

"Não é a multidão que se esperava!" comentário de repórter da SIC.

Já lá vai o tempo da vassalagem, já lá vai o tempo da arraia-miúda! Nem sequer o Estado tem coragem para mover as "forças vivas"... Ainda se fosse um "herói" da bola... Os deuses de hoje já não são majestáticos, nem iluminam as vidas dos súbditos...

Só o futebol e a religião conseguem aquecer o coração do povo miúdo, aquele povo que vive da caridade, de subsídios, do ordenado mínimo, de pensões depreciadas, de vencimentos estagnados... de promessas por cumprir...

A democracia tem destas coisas - banalizou a morte, até porque se esqueceu da sua própria natureza, ao criar oligarquias, inevitavelmente odiosas ao povo miúdo.

E depois há que não esquecer que a História se faz de factos e de correlações, impossíveis de entender quando não tendo memória, o regime se vem esforçando por aboli-la.

Assim, sobra a opinião que é reativa e, em regra, preconceituosa.

Por estes dias, o povo não vê razão para sair à rua... Os dias da euforia já lá vão e neles ficou sepultado um dos protagonistas da instauração do regime democrático - Mário Soares.

 

8.1.17

Aborrece-me

Aborrece-me que a morte possa ser um espetáculo, mesmo que o falecido tenha sido protagonista de um determinado tempo...

Aborrece-me a memória seletiva dos abutres que vão caindo sobre a presa, esquecidos de outros tempos em que a pobreza coletiva lhes fornecia o pasto diário...

Aborrece-me que quem tem como missão zelar para que a escola seja um espaço de educação e de aprendizagem se comporte como um qualquer garimpeiro...

Há tantas atitudes que me aborrecem que o melhor é remeter-me ao silêncio... 

 

7.1.17

Mário Soares, a boa moeda

O meu tempo teria sido bem diferente sem a ousadia de Mário Soares! Antes do 25 de Abril sempre soube acolher e defender todos os que pugnavam pela liberdade. Depois do 25 de abril, soube enfrentar as forças que tinham uma visão restritiva da liberdade...

Consciente da fragilidade económica de Portugal, Mário Soares abriu-nos as portas da Europa e do Euro, apesar de bem saber que o interesse dos grandes da União Europeia era distinto do caminho que o país precisava de trilhar... Mas sempre assim fora no passado!

A ousadia de Mário Soares devolveu Portugal à Europa e, no meu caso, livrou-me de uma guerra colonial sem futuro.

Para mim, basta-me este Mário Soares! O outro, o de que tanto se fala, neste momento, não me interessa.

 

6.1.17

A moeda errada

As palavras escritas correspondem cada vez mais à moeda errada. O seu valor tem vindo a depreciar-se, de tal modo que poucos as leem e os que o fazem calam-nas ou desvalorizam-nas sob a capa do relativismo... da subjetividade.

Esta tendência anda a par com a uma certa ideia de democracia, em que uns tantos insistem em manter (ou recuperar) privilégios de forma consuetudinária...

Se, por uns tempos, a palavra escrita foi uma forma de resistência, isso significava que ainda havia quem se deixasse persuadir pelo argumento ou pela emoção...

Hoje os argumentos são tão incongruentes e as emoções tão artificiais que a pluma já só procura o sulco para nele definhar.

 

5.1.17

Para que serve a escola?

(Esta nota não visa responder à pergunta: - "Que modelo de gestão para uma escola democrática?”)

Quando o adjetivo pesa mais do que o nome, fico preocupado.

Creio que, num regime democrático do séc. XXI, a pergunta deveria ser: Como construir uma escola que dê resposta às atuais necessidades de educação e de instrução?

Para isso, e não é tarefa fácil, é preciso elencar os objetivos, numa perspetiva de futuro, definir os modos de operacionalização, sem esquecer os diversos recursos que, também eles, serão distintos dos tradicionais...

Sem esta clarificação, de pouco serve refletir sobre modelos de gestão e, em particular, sobre a democraticidade do modelo, pois a participação de todos os atores na decisão, por si, não resolve a questão principal...

De nada serve perspetivar o futuro com os olhos do passado, porque, a continuarmos com a atual disposição mental, a escola será cada vez mais obsoleta.

 

4.1.17

Aqui, neste lugar, as janelas abrem para um coreto

Aqui, neste lugar, as janelas abrem para um coreto, um dos muitos que existem nesta cidade de Lisboa. Num relance, avisto seis bancos de jardim, quase todos ocupados por silhuetas solitárias. Nas portas do coreto, dois cachos de jovens encontram alternativa à vida escolar. Falam ininterruptamente vá lá saber-se do quê, talvez das imagens que correm por entre os dedos... Ao lado, a esplanada do quiosque, quase sempre repleta de estudantes, forasteiros e aliciadores diversos...

O jardim é constantemente atravessado, sem que o que ali vai acontecendo desperte qualquer tipo de atenção - é um jardim assimétrico - no centro de vias rodoviárias com fluxos de trânsito irregulares... A verdade é que chamam ao lugar Praça José Fontana, embora ninguém saiba quem foi o patrono, qual foi o seu contributo para a criação do partido socialista oitocentista nem para o lançamento dos movimentos sindicais... Envergonhado, também anda por lá um tal Henrique Lopes de Mendonça, autor da letra da marcha A Portuguesa (Hino Nacional). Parece que o município lisboeta, para que o dito Henrique Lopes de Mendonça não permanecesse na clandestinidade, lhe atribuiu o nome ao jardim...

Entretanto, lá fora, só o céu escureceu. E aqui dentro, espero que alguém queira saber quem foram José Fontana e Henriques Lopes de Mendonça... Bem posso esperar!

 

3.1.17

Desde 2 de janeiro de 1975

Ao serviço da instrução pública desde 2 de Janeiro de 1975, comecei hoje o dia escolar como se nada tivesse ocorrido antes...

Na sala de professores, ainda me perguntaram para quando a aposentação, mas a minha reação foi de indiferença: respondi que o melhor é questionar o Vieira da Silva... ou a Coligação que diz que põe e que repõe, porém, no que me diz respeito, vejo cada vez menos...

Consequentemente, voltei a enfrentar a turma das dez horas com a costumeira rotina, e lá ataquei o Fernão Lopes e a revolução de 1383-1385, que é como quem diz, lá me esforcei por contextualizar o conteúdo, ordenando os factos, a nosso favor, porque o D. João de Castela decidira desrespeitar os tratados com o pretexto de que a "aleivosa" lhe prejudicava a ideia de estender a hegemonia de Castela a toda a Península Ibérica...

Claro que os jovens saíram apressados, sem querer saber de "tempos de mudança"...

Lá, no fundo, a culpa disto tudo é do velho Álvaro Pais e de um letrado, de seu nome, João de Aregas, hoje esquecido na Praça da Figueira...

 

2.1.17

É poucochinho

« Il faut épouser son temps », avait un jour lancé le peintre Daumier à Ingres. « Et si le temps a tort ?» lui avait répliqué le néo-classique. (Grégoire Delacourt, 2015, Les Quatre Saisons de l'Été, pp 233-234, Le Livre de Poche.

Daquilo que ouvi, ontem, ao Presidente da República, fiquei convencido de que ele sabe agradar a todos, pois é isso que todos esperam dele.

Uns ficaram satisfeitos porque ele elogiou a Coligação; outros ficaram agradados porque ele enviou recados à necessidade de o Governo corrigir o rumo, designadamente em termos de investimento, desenvolvimento da economia e da diminuição do desemprego...

E tudo o que disse foi para uma plateia que parece existir para além dos agentes político-partidários - uma plateia que sorri facilmente, que se entusiasma com discursos redondos, sem espinha dorsal.

O Presidente da República de ontem fez-me lembrar um ator que sobe ao palco para agradar à plateia, independentemente das convicções de cada um... talvez porque as convicções de cada um sejam cada mais frágeis...   

Há quem diga que o discurso foi muito bom, pode ser, mas não vi (nem ouvi nele) nada que possa desfazer as contradições que minam a Coligação... a não ser o otimismo, a esperança!

 

1.1.17

Aqui, nesta terra, as portas abrem para o Céu

Aqui, nesta terra, está tudo encerrado, exceto a Igreja cujas portas abrem, mas para o Céu...

Aqui nesta terra, não é possível ter acesso ao Magazine de Notícias, do DN, em edição especial, que dá conta dos trabalhos de Guterres, no passado e, sobretudo, doravante nas Nações Unidas... Não é possível ter acesso à sombra de Guterres, a esse enigmático Melícias, doravante diretor espiritual da humanidade...

Creio que, até hoje, a Terra nunca teve um diretor espiritual que lhe pudesse abrir as portas do Céu... 

Os Poderosos deste mundo desunido que se cuidem!