31.12.17
De concreto, o bezerro...
o efémero,
o fogo-fátuo,
uma mesa no casino,
o ar mortiço,
o champanhe reles,
a inveja,
o ciúme,
a delação...
De concreto, o bezerro sobre uma mesa no casino,
o olhar mortiço de um vison...
Das Tábuas nem a sombra...
De concreto, nem o Deus da Vingança...
Fugiu do Sinai...
De concreto, o bezerro é um artefacto
E eu caminho entre Moisés, Miguel Ângelo e Freud...
Lá tão atrás!
30.12.17
‘Só vale a pena escrever
se a pessoa conseguir agarrar alguma coisa de concreto. Porque opiniões há
muitas, cada pessoa tem a sua. O que é importante para uma pessoa que escreve é
agarrar alguma coisa de concreto’. António José Saraiva (31.12.1917-17.03.1993)
Doravante, vou deixar-me de opiniões.
Provavelmente, terei de
cessar de escreviver... o que significa quebrar o espelho, evitar o
enguiço.
Como, amanhã, não
tenciono ir a Lisboa despedir-me de 2017, que 2018 nos seja favorável
e incomode os muitos coelhos que ainda estão por saltar das cartolas...
29.12.17
Projeto
de reabilitação da Escola Secundária de Camões
«A conclusão de todas as
fases de elaboração do projeto, nomeadamente a entrega do projeto de execução,
está prevista para o final de fevereiro de 2018. Esta data
pressupõe que a emissão de todos os pareceres obrigatórios das diversas
entidades responsáveis ocorra em sentido favorável e até essa data, não
obrigando a quaisquer outras alterações aos projetos.
Sendo o mesmo validado e
verificado o cumprimento das normas legais e regulamentares aplicáveis, é
expectável que o lançamento do procedimento de contratação da empreitada,
através de um concurso público internacional, possa ocorrer posteriormente à
validação do projeto, previsivelmente no mês de março de 2018.
O prazo previsto para a
conclusão deste procedimento, com a adjudicação da proposta vencedora, a
assinatura do contrato (incluindo a entrega de toda a documentação legalmente
exigível, bem como da prestação de caução obrigatória) e a emissão de visto prévio
do Tribunal de Contas, são seis meses, caso não ocorram
quaisquer percalços processuais, como sejam impugnações judiciais.»
Chefe do Gabinete / Head
of Office
Cabinet of the Minister
of Education
Caso contrário...
28.12.17
Em vez das águas
profundas a que ontem me condenei, mergulhei em resmas de papel envelhecido e
cheio de lepismas...
Muita dessa documentação
já mudara de lugar há 19 anos sempre na expectativa de que chegaria o dia em
que alguns registos poderiam ser aproveitados...
(O tempo esgota-se.
Absurdo. Quem se esgota sou eu. Que iria fazer com tal arquivo infestado?)
Anos de fervor académico
são agora deitados para o caixote do lixo com a sensação de que nada se perde,
pois já ninguém se interessa por tais assuntos, por tais pastas...
O problema é que sempre
que começo, acabo por interromper... e os lepismas não perdem a oportunidade de
se multiplicar... Até ao final de 2017, prometo que vou deitar para o lixo tudo
o que me surgir pela frente.
Que Nossa Senhora do
Monte vos acuda!
27.12.17
Isso era de manhã.
Discordava do esbanjamento do município lisboeta. Agora, ao entardecer, já não
de discordo de nada.
Pois se a malta quer é
festa e enfiar o barrete - na versão revivalista, a cartola - para que é que me
estou a incomodar?
Vou mas é sair e dar uns
abraços à esquerda e à direita, e depois tomo um banho de águas profundas e
fico por lá... e já não sei se regresso.
O município de Lisboa vai
gastar este ano 650 mil euros apenas com os festejos de passagem de ano -
concentrados na Praça do Comércio. A informação foi avançada ontem ao i pela
Empresa Municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), que assinala
que está, pela primeira vez, a organizar o evento. Desse montante, 57 mil são
para a compra de cartolas pretas e vermelhas que serão distribuídas aos
lisboetas. Cartolas
O município deveria ter
outras preocupações.
Se alguém quer vender
cartolas que não se sirva dos dinheiros dos munícipes... A verdade é que eu não
sou lisboeta, mas temo que os restantes municípios sigam esta má aplicação dos
impostas, das taxas, taxinhas...
Nem à cartolada lá vamos!
26.12.17
Perguntam-me 'o que é que
aconteceu?'...
De facto, nada. Apenas, a
tomada de consciência da inexorabilidade do tempo.
São muitas as horas
vividas no limite... e agora a ideia de que o mutismo pode ser redentor
acalenta-me, embora outrora ele fosse identificado com a Morte... a terceira
hora, a terceira estação, a terceira moira, a terceira irmã...
Nesse tempo, não havia
Outono... Só havia Pai, Filho e Espírito... (talvez só mais tarde...)
... o limite da
racionalidade, onde ainda é possível refrear a imediatez da palavra, do gesto.
Absurdo é não querer compreender que para tudo há limites...
Recordo, entretanto, um
episódio de mudez seletiva que durou cerca de um ano e que nunca foi
devidamente explicado. À época, pensou-se que seria fruto de... - a explicação
hoje não me diz nada. Permite-me, no entanto, lembrar outros momentos em que o
silêncio era um verdadeiro enigma.
Ontem, não aconteceu
nada. No passado nada acontece... Mesmo quando recordamos é sempre no
presente... no momento.
E assim se explica a
ausência de personagens...
25.12.17
Dia de Natal, Parque das
Nações. Eram 12 horas.
Esperava pela minha vez
na farmácia. Lá dentro, as pessoas acotovelavam-se...
Para mim já é tradição
procurar uma farmácia nesta data. Algumas deixam o sinal luminoso a piscar, mas
estão encerradas...
Parece que no dia de
Natal, há menos doentes ou, talvez, ainda estejam anestesiados pelos vapores da
ceia natalícia...
No CATUS de Moscavide,
havia uma dúzia e meia de queixosos. Os médicos seriam, pelo menos, três...
A verdade é que, neste
relato, eu não tenho qualquer protagonismo, a não ser o de ser surpreendido
pela câmara fotográfica que, inopinadamente, me indicou que eu estava em
situação de autorretrato. Descarregada a fotografia, dou comigo a pensar que eu
é que deveria ter ido ao médico.
Ontem, não escrevi nada
porque me coube assegurar que uns tantos pudessem empanturrar-se, a começar por
mim... Mas estou arrependido.
Hoje, já descobri que
surgiu uma NOVA FRATERNIDADE na Assembleia da República: os rapazes e as
raparigas vão poder recolher fundos sem limite para garantir a perpetuação das
clientelas partidárias... e sem IVA... Só que eles não têm emenda!
Finalmente, esta ideia de
celebrar o Pai Natal é alemã, terá sido exportada a partir de 1840, e o ritual
foi globalizado pela Coca-Cola no início do séc. XX...
Eles acabam todos ricos
...e nós a fazer umas caminhadas para nos penitenciarmos.
Vamos a isso!
23.12.17
Já só me preocupo com o
curso das minhas decisões - poucas, mas de que me sinto responsável.
Neste Natal, esta
responsabilidade surge-me acrescida. Talvez devesse alijá-la, mas só o último
sopro me libertará...
O resto, o mundo, já
pouco me diz, tanto é o desnorte, como se a humanidade não passasse de um
número interminável de predadores...
Torna-se visível que a
economia social é, afinal, uma forma farisaica da economia liberal...
Nem o Tejo consola da
insanidade mental que arrasta para o cadafalso.
Numa Terra onde milhões
morrem de fome, outros milhões invadem as novas catedrais e esvaziam-lhes as
prateleiras... chega a ser impossível entrar e circular no
supermercado...
21.12.17
No antigo Egipto, o mesmo
termo significava, por exemplo: curto e longo; claro e escuro; belo e feio;
alto e baixo; honesto e desonesto; verdadeiro e falso; forte e fraco...* Quem
chegou a tal conclusão foi K. Abel (1884) que, provavelmente, ao assinar Abel
ficaria sempre na dúvida se não deveria registar-se como Caim...
No essencial, o 2º termo
não era o antónimo (a negação) do primeiro, mas simplesmente o fundamento do
primeiro. Como conceptualizar claridade se o tom não pudesse estender-se até à
escuridão?
Talvez seja por causa
desta particularidade da linguagem humana que desconfio cada vez mais dos
sábios, dos justos e dos impolutos...
Já Freud defendia que há
linguagens, como a dos sonhos, em que a negação está ausente... tudo é asserção
por muito agradável ou inconveniente...
... e como bem sabemos, à
força de ser agradáveis, acabamos por ser inconvenientes... está-nos na
substância!
* o ponto e
vírgula visa desfazer o equívoco - cada par seu termo (significante)... Pelo
menos, os egípcios sabiam poupar...
20.12.17
Já lá vai o tempo em que
a notícia era a exposição clara e concisa de um acontecimento - do
acontecimento.
Já lá vai o tempo em que
os autores das notícias falsas eram sancionados.
Agora, o ministro da
cultura propõe maior produção de notícias verdadeiras para que
esqueçamos as centrais de intoxicação e de manipulação, enquanto elas nos
alienam...
Do ministro da cultura
talvez se aceite o preciosismo, nós, no entanto, não deveríamos tolerar a
charlatanice...
Não sejamos o
acontecimento!
19.12.17
Os dados do Governo a que
a Lusa teve acesso revelam ainda que, no próximo ano, cerca de cinco mil
docentes vão chegar ao topo da carreira (10.º escalão), onde até agora não se
encontrava nenhum professor.
“Em relação às chamadas
‘fake news’ [notícias falsas], além dos aspetos de prevenção que podem passar
pelas grandes plataformas da Internet, acreditamos que a melhor maneira de
combater as notícias falsas, mais que pela sua supressão, passa pela produção
de mais notícias verdadeiras, o que implica necessariamente o
fortalecimento dos jornais, do jornalismo e dos jornalistas, além de um maior
nível de literacia mediática”, disse Luís Filipe Castro Mendes.
18.12.17
A
confidencialidade cheira-me a marosca
O Dicionário já não me
satisfaz. Consulto-o para saber o que significa 'confidencialidade', só que a
ideia de que um indivíduo possa acordar ou impor a outro o que deve ser objeto
de confidência cheira-me a marosca...
Ultimamente, em nome da
transparência - outro conceito opaco - o país, talvez para celebrar os 100 anos
da aparição da Senhora aos pastorinhos - vive num frenesim impensável há umas
décadas... Salazar prezava, em simultâneo, a confidencialidade e as transparências,
como bem se sabe.
Hoje, a confidencialidade
não passa de velharia e nada escapa aos arautos da nudez. Por mim tudo bem,
desde que cada um pague os devidos impostos, a começar pelos novos moralistas,
contratados a peso de ouro e de favores...
17.12.17
(Partiram sem darmos
conta e se um dia puderem regressar...)
Hoje, fui ver O
Lago dos Cisnes, no Teatro Camões, mas já não resisto a espetáculos tão
longos, em espaços lotados e sobreaquecidos... A primeira parte foi penosa e
não o foi só para mim, pois na Orquestra havia instrumentistas que combatiam o
sono...
De regresso a casa, fui
ler duas ou três sinopses, tendo confirmado que cada vez tenho mais
dificuldade em interpretar os novos códigos, apesar dos bailarinos e da
orquestra revelarem um desempenho artístico notável...
A verdade é que sempre
apreciei representações / interpretações fiéis à ao libreto inicial...
(Talvez voltem, e a
árvore seja mais acolhedora e possam refazer o ninho...)
16.12.17
Afinal, a ANA não o
levou...
Hoje, não me apetece
abordar nenhum dos temas que vão agitando as televisões, pois creio que seria
pura perda de tempo... de propaganda tóxica e de mentira.
Retiro-me, porque
necessito de algum tempo de reflexão para elaborar o pedido de desculpas à
Senhora Paula Brito (e/de) Costa...
15.12.17
Nunca fui de convocar os
espíritos, embora aceite com naturalidade que eles possam habitar as copas das
árvores ou pousar nas casas abandonadas ou até que possam permanecer nos
embondeiros do lugar para que os sobrevivos, em dias de aflição, possam libar
ao desafio...
A ideia do embondeiro é,
por estas paragens, pouco oportuna, mas serve perfeitamente para ilustrar a
noite que se abate sobre mim, quando alguns mancebos/as - vulgo, crianças -
insistem em afirmar e reafirmar que sabem do que estão a falar ao balbuciarem
certos enunciados disponibilizados pela Wikipédia...
Ora, no designado
realismo mágico, o rapsodo convoca os tempos com as suas presenças - materiais
e imateriais - e expõe-no-las sob o olhar para que possamos compreender que a
realidade da casca esconde um processo milenar de opressão e de alienação,
cultivado, em grande parte pelo Ocidente... um pouco como se a escrita
procurasse dar voz ao embondeiro, a única testemunha fiel da inesgotável
clepsidra que preside à história dos homens... e com tanto tempo já escorrido,
ainda há quem faça de conta que basta babar-se... Falta-me o jeito para Babá!
14.12.17
Telemóveis
fora da sala de aula?
« Plus de téléphones portables dans les écoles et collèges à la rentrée
2018 », annonce Jean-Michel Blanquer.
A decisão do Governo
francês parece-me retrógrada, o que não significa que, no caso português, tudo
deva continuar na mesma.
Apesar dos limites
impostos pelos regulamentos internos, a realidade é bem pesada e frustrante.
A verdade é que muitos
alunos portugueses estão hoje dependentes deste equipamento,
tendo deixado de prestar qualquer atenção à aula, pois acreditam que a solução
se encontra na ponta dos dedos e, sobretudo, que raciocinar é uma maçada...
Consequências:
- O professor, que não consiga integrar
no processo de ensino e de aprendizagem todo o tipo de equipamento que
permita aceder à internet, é descartável.
- Este professor deixa de ser fonte de
conhecimento ponderado, vendo o seu estatuto como educador questionado.
Em síntese: O que está a
acontecer é que falta um plano de formação nacional dos professores no âmbito
da aplicação e da utilização destas novas ferramentas...
- o que passa pelo rejuvenescimento da
classe docente
- e pela modernização da rede digital
escolar.
Não creio que desligar a
luz elétrica seja a melhor estratégia.
13.12.17
Vivemos em estado de
omissão.
Agora que as telhas novas
já estão colocadas, podemos respirar.
Agora que a chuva ameaça
cair, esquecemos a seca... e inebriamo-nos em demoradas festas (Boas Festas!
Bom Ano Novo!)
Agora que o momento da
avaliação é chegado, esquecemos grande parte dos critérios...
Agora que a comunicação
social se lembra das associações, lá surgem umas tantas demissões ... e uns
tantos inquéritos e muitíssimas comissões de especialistas. Nunca houve tantos
especialistas!
(O que me leva a uma
simples pergunta: porque é que os problemas não são, à partida, entregues aos
sábios especialistas?)
Agora que a questão volta
a estar na ordem do dia, valeria a pena apurar a contabilidade das múltiplas
organizações que acolhem militantes e simpatizantes de todos os quadrantes...
... até porque a riqueza
exposta é muito superior à produzida...
12.12.17
Consta que Ariosto se
viu, um dia, confrontado com a seguinte questão: Dovait avete trovato,
Messer Ludovico, tante corbellerie? Ora quem o questionava era
precisamente o seu protetor, o cardeal Hippolyte d'Este, a quem o poeta
dedicara a epopeia Orlando furioso (1516). Como se vê, o
cardeal era pouco dado à fantasia, embora protegesse os artistas, como
Ariosto.
Por pura associação,
veio-me ao espírito este comentário - Qual é origem de tamanha burrice?)
-, ao pensar que os Governos, em vez de apoiarem diretamente quem necessita de
todo o tipo de cuidados, dão azo à criação de associações cujos dirigentes,
inevitavelmente, acabam por apropriar-se dos recursos que lhes são colocados à
mão...
Haverá exceções,
mas...
11.12.17
E
se o edifício do Liceu Camões ruir?
Quem estava na Escola
Secundária, às 11h e 50 minutos, na zona correspondente ao Pátio Sul,
apercebeu-se certamente do impacto das rajadas de vento, quer nos plátanos que
vergaram significativamente, quer nas paredes de algumas salas, quer no
telheiro que protege as galerias, quer no telhado... há deformações da
estrutura bem visíveis...
Há imagens, mas
infelizmente não é possível dar conta das emoções. Pela primeira vez, vi alunos
verdadeiramente assustados...
Não sei se é verdade, mas
consta que ainda não é em 2018 que as obras de recuperação do edifício têm
início...
E se o edifício ruir em
plena atividade escolar?
10.12.17
A novidade de hoje é que,
não havendo incêndios, as televisões passaram a cobrir os aguaceiros, as
rajadas de vento e os flocos de neve...
A população, essa,
está-se marimbando...
9.12.17
O país é pequeno, mas
imagina-se grande e eleito. Agora, está na moda municipalizar. Por exemplo,
municipalizar a educação...
Nesta época natalícia, o
melhor seria "familiarizar" a educação, isto é, devolver a
educação dos filhos às famílias, até porque já há filhos de Deus que
defendem que a educação é problema deles... e que não lhes toquem nos
parentes...
Já agora também poderiam
devolver os refeitórios às escolas, acabando com a corja de mediadores que se
vão instalando um pouco por todo o lado.
Só que a devolução já
chegaria atrasada, pois que ao "familiarizar" a educação,
regressar-se-ia ao tempo em que as escolas não eram necessárias.
E os filhos de Deus não
deixavam de nascer e de morrer...
8.12.17
A cortesia já teve
melhores dias!
Corre-se até o risco de
ser acusado de assédio... Releia-se o código trovadoresco, designadamente, nas
cantigas de amor... das outras é melhor nem falar...
Ontem, explicaram-me,
que, sendo abalroado por um veículo em marcha atrás, posso ser
responsabilizado, na ausência de testemunhas, pelo acidente...
7.12.17
Pelas 16 horas e 3
minutos, no 131 da Avenida Gago Coutinho, ao permitir que o veículo automóvel
28-EO-29, em marcha atrás, pudesse sair de cima do passeio, acabei por ver a
dianteira do meu automóvel maltratada....
A senhora condutora fez
de conta que não era nada com ela e, de forma furtiva, encostou à esquerda e,
na primeira escapatória, inverteu a marcha e seguiu caminho na direção do
aeroporto... Quem me mandou a mim ser cortês?
6.12.17
Jerusalém é a capital de Israel.
(DT)
Jerusalém é bem mais importante do que o que acontece em muitas salas de
aula...
No entanto, há uma
semelhança: "eu sou responsável pelos meus atos e faço o que eu quiser".
A restante humanidade murmura, abana a cabeça... e eu, às voltas com a
desfaçatez feita ao túmulo de Alexandre Herculano, vou meditando no meu papel
no meio de tudo isto.
5.12.17
galos, galinhas, patos, andorinhas
e um pouco de canábis por legalizar
um guarda-livros e um guarda-chuva
o primeiro deve ser um bibliotecário que guarda livros
o segundo o ladrão que nos priva da chuva...
tudo tão imediato
o autor foca-se no futuro
há quem diga que o porreirismo pode ser penalizado
há quem insista num jogo traçado a quatro
aqui tão longe do bando dos quatro
adiantados recusam esclarecer o assunto que lhes prende a atenção
nem o filme do desassossego os cativa...
por segundos ficam parados nas cenas de sexo fingido...
a transfiguração do real,
se os transformasse em abóboras, em pevides e em gaitas-de-foles
há quem diga que já não há língua
nem futuro
há no entanto um chinês que oferece meloas aos recém-casados
sorrisos, parvoíces, lérias, tretas...
e um pouco de canábis por legalizar...
4.12.17
A
lua fingida de Mário Centeno
Esta lua lá onde brilhava
tinha melhor aspecto.
Creio que, neste dia,
esta lua fingida representa bem o destino do Mário Centeno à frente do
EUROGRUPO...
A avenida é larga, o
aeroporto é ali mesmo ao lado... e a vaidade lusa inesgotável, sem esquecer a
inveja que, também, vai fazendo o seu caminho.
De qualquer modo, tenho
uma pequena dúvida: - E se a GIRINGONÇA se escangalha?
3.12.17
É tudo a fingir, embora
cheios de convicção... A arca esvazia-se do pinheiro, das pinhas, dos sininhos
e até um pai natal ousa pôr o gorro de fora... Já não há burro, nem vaquinha...
e a palhinha levou-a a Troika... O menino jaz distante de sua mãe, que quanto
ao pai não se sabe por anda nem mesmo se existe... só na Câmara Municipal de
Lisboa há dinheiro a rodos para distribuir pelos compadres e pelas comadres... e depois há aquela luz toda que não pode vir
de Belém mesmo que lá more um novo Apolo, que, por estes dias, deve andar a ler
o Orçamento onde parece haver dinheiro para tudo... o dinheiro dos reis magos,
certamente...
2.12.17
Nesta
hora de penumbra fingida
A noite cai como se tal
fosse possível, o sol deixa-nos sorrateiramente, cessando de incomodar as
mentes mais cinzentas, embora frequentemente estas prefiram a torreira solar...
Hesito. Talvez eu
quisesse dizer mentes grisalhas, mas a verdade é que as mentes não podem ser
nem cinzentas nem grisalhas. As cabeças é que vão ficando grisalhas... e
supostamente, as mentes vivem nas cabeças, não se sabe bem se sob forma de uma
qualquer substância se sob forma de ideia... o que me traz nova preocupação:
será que a ideia poderá ter forma?
Até agora, para além das
velas dos moinhos de D. Quixote, só as criaturas inventadas por Fernando Pessoa
é que vão ganhando tal forma e substância que há quem as veja nas esquinas e
nos cais de Lisboa - há mesmo as que já apanharam o elétrico e foram vistas a
falar com outras criaturas estranhas, vindas desse país longínquo a que
costumamos chamar estrangeiro...
Nesta hora de penumbra
fingida, não me importava nada de, simplesmente, estar de chegada ou de partida
desse país estrangeiro, onde as mentes serão certamente menos
cinzentas...
1.12.17
Ainda há quem não consiga
escrever sobre a notícia de última hora. A reação, por motivos que, agora, não
vale a pena escrutinar, não se materializa em signos que possam ser lidos de
imediato... O sentimento pode ser tão contraditório que o pesadelo se autonomiza
do sujeito e, qual fantasma, fica a rondar por tempo indeterminado... Mais vale
que o rio siga o seu curso, indiferente à vaidade humana...
Infelizmente, não é o que
acontece na maioria das situações - parece que todo o estímulo exige uma
resposta imediata, mesmo que sobre o assunto nada se saiba... Melhor seria que
se assumisse o desconhecimento e, sobretudo, que houvesse disposição para
gastar algum tempo a investigar...
(Enquanto uns dão
vivas a Portugal na Praça dos Restauradores, eu esforço-me por destrinçar as
calinadas que se amontoam sob os meus olhos...)
30.11.17
O vento e o frio
argumentam melhor do que eu. Impassíveis, ouvem as exigências e depois movem-se
sorrateiramente, sorrindo dos planos e dos seus autores.
Eu, pelo contrário, reajo
- alerto para as discrepâncias de comportamento, comparo o dia de ontem com o
de hoje, sem qualquer sucesso. A não ser, refrear o argumento, impondo uma
regra - Não sejas burro!
Afinal, tudo o que fora
exigido foi derrotado pelo tempo...
Entretanto, Átropos segue
inexorável: - desta vez, foi o Zé Pedro (dos Xutos & Pontapés) ... e a
nação mergulha em encómios da Hora...
29.11.17
Pode ser que o frio
justifique o adiamento, só que o esquecimento provocado pela manhã passada no
cabeleireiro é preocupante... de qualquer modo, o problema parece ser o plural
de 'ancião' - anciãos, anciões e anciães... Por outro lado, o mostrador do smartphone
está transformado num campo de batalha em que os ícones são varridos sem apelo
nem agravo.
A meio da tarde, a
notícia atravessa-se - Belmiro de Azevedo morreu aos 79 anos. De súbito, nas
televisões, os comentadores elogiam-lhe o espírito empreendedor, o desprezo
pela classe política...
A pulso, enriqueceu,
tornou-se um dos homens mais ricos de um dos países mais pobres da Europa, só
que Átropos não distingue a riqueza da pobreza humana...
De manhã, a mesma
substância de que o raciocínio anda arredio...
Entretanto, a viagem a
Budapeste esfumou.se. Há pulsões que deveriam ser interditas! Até porque ficam
caras...
28.11.17
... confirmava se a
gabardine que já foi minha está em condições de suportar o frio de amanhã que a
chuva essa já estará de partida...
verificava se 50 euros,
em numerário, serão suficientes para pagar a pintura do cabelo e outras alfaias
achinesadas que irremediavelmente se aprestam a saturar-me a casa...
voltava a retirar o
automóvel do pátio assombrado por viaturas dimensionadas para as grandes
avenidas e precipitava-me para a boca do Metro de Moscavide...
enfrentava a embalagem de
carne picada e transformava-a num esparguete à minha moda de que ninguém se
queixa, provavelmente excesso de educação....
regressava ao pacote de
testes, ordenava-os, classificava a primeira pergunta do I grupo e o II grupo,
num critério absurdo, mas de quem está a apalpar terreno deveras conhecido,
embora aqui e ali surja uma surpresa - ou será uma esperteza...
espreitava o Facebook a
verificar se em Hamburgo a vida decorre sem sobressaltos - chove e a
temperatura continua a baixar... e a senhora Merkel andas às voltas com um
Governo improvável - quem diria que a Germânia regressava ao tempo dos godos...
consultava o OGE 2018,
para me assegurar que para o ano a minha situação laboral e financeira irá
agravar-se, ao contrário do que apregoam as forças esquerdistas que pensam que
sem pagar aos credores é possível penalizá-los...
explicava pacientemente
que o bulício de Bernardo Soares é diferente do de Cesário Verde e que vale a
penha saber-lhe o significado e que quando o semi-heterónimo se quer coevo do
Poeta da cidade, ele se está a imaginar contemporâneo, mesmo que o meu
interlocutor também necessite de perceber que eu e ele somos contemporâneos
porque habitamos o mesmo tempo...
ou, então, aproveitava
para elucidar que a angústia é, afinal, a expressão de um medo (phobos)
sem objeto e que vive paredes-meias com a ansiedade... e talvez, assim, alguém
compreendesse que a angústia é um luxo relativamente recente - há quem diga que
surgiu nos finais do séc. XVIII...
e, claro, se andasse para
trás, talvez, em vez de fazer o caminho das Olaias, tivesse preferido a Rotunda
do Relógio - que ele são vários... e eu sou só um...
27.11.17
Começa por perguntar as
horas.
Como se o silêncio o
perturbasse, passa a mão pelo cabelo, e pergunta pelas cotações...
Volta a perguntar as
horas... para segundos mais tarde, se afirmar como ' the best', prometendo
obter a nota máxima...
À direita, procura
cumplicidade na confirmação das respostas...
A colega da frente
irrita-se com a verborreia pré-verbal do hiperativo postiço; os restantes
sorriem como se nada houvesse a fazer...
Regressa às horas, como
se quisesse confirmar que o tempo parara e pergunta se lhe concedo mais
tempo...
Pergunta inútil, pois não
sou o dono do tempo...
Entretanto, mergulha no
enunciado...
26.11.17
'the
new art fest' 17... no Antigo Picadeiro do Colégio dos Nobres
Antes que se fizesse
tarde, lá fui visitar 'the new art fest' 17, e não me foi fácil
descortinar o vídeo Linha de Código 2016/2017 de Jorge
Castanho e Alexandre Barão, cuja arte não sou capaz de apreciar, apesar do belo
efeito estético, mas que, reconheço, souberam aproveitar o espaço oferecido
pelas "Caves" do Liceu Camões - ou estarei enganado?
Esta dificuldade de
apreciação deve-se à minha clara iliteracia neste tipo de performances, pois
sinto-me incapaz de distinguir se elas são apenas 'presenças' efémeras ou se
abrem portas para universos a que deixei (culpa minha!) de ter acesso...
No geral, foi com alguma
perplexidade que circulei por entre tão estranhas criaturas, ficando um pouco
preocupado com a antropóloga (Maria Lopes, 'O Campo da Consciência') que só
tenciona apresentar o resultado da sua investigação em 2029; por outro lado, os
robôs do Tiago Rorke são bem mais pacientes do que eu, pois conseguem completar
um jogo de batalha naval em 4 dias... Ao observar aquela caneta, pensei
que ela bem poderia revolucionar o fabrico de tapetes de Arraiolos - Quem sabe?
Espero que "os
criadores" me perdoem esta cada vez mais acentuada "grafomania".
25.11.17
JI-GEUM-EUN-MAT-GO-GEU-DDAE-NEYN-TEUL-LI-DA
A double bill is a theatre or cinema
performance in which there are two shows on the programme.
JI-GEUM-EUN-MAT-GO-GEU-DDAE-NEYN-TEUL-LI-DA
é o título do filme sul-coreano de HONG SANG-SOO (2015).
Em tradução portuguesa,
SÍTIO CERTO, HISTÓRIA ERRADA (na tradução inglesa RIGT NOW, WRONG THEN).
De regresso à Cinemateca,
pensei inicialmente que o filme poderia documentar a Coreia do Sul, mas não -
este (duplo) filme, de forma minimalista, a partir da mesma situação, recria
dois possíveis narrativos suportados por diálogos, por vezes à beira do non-sens,
mas que sugerem um tom de paródia quer dos estereótipos sul-coreanos quer dos
estereótipos cinematográficos...
Neste caso, o
desconhecimento da língua (e da cultura) em que o filme se desenvolve
limitou-me a compreensão da intenção de Hong San-Soo...
24.11.17
A ideia de que a Escola
é, em si, uma comunidade faz parte do discurso político e, como tal, a Lei
reconhece-lhe competência para desenhar o Projeto Educativo que deveria ser
singular...
Diga-se, de passagem, que
essa competência é mitigada, pois o Estado continua a interferir em matérias
essenciais como o estatuto disciplinar do aluno, o papel do meio envolvente e,
sobretudo, dos pais e encarregados de educação. Para o efeito, nos últimos anos
reforçou as competências do Conselho Geral e transformou o Conselho Pedagógico
num órgão de consulta do Diretor...
Na verdade, o Projeto
Educativo (e a sua extensão, o Regulamento Interno) transformam a Escola numa
"pequena república", só que lidos atentamente, verifica-se que a
Escola Portuguesa ignora os seus funcionários, designadamente os docentes...
Ignora o seu estado
físico e psicológico, ignora o efeito da pressão a que diariamente são
submetidos, ignora o seu envelhecimento, não havendo, nas escolas, nenhum
gabinete de acompanhamento que os possa ajudar a superar as dificuldades, sem
os atirar para o consultório psiquiátrico ou para um ensimesmamento
aviltante...
Ontem, finalmente,
choveu, e, quando tal acontece, Caruma agradece...
Agora, está a chover.
Esperemos que continue e que não comecemos a queixarmo-nos.
22.11.17
Todos
os dias de cada ano, os professores são postos à prova...
Todos os dias surgem
comentários desagradáveis sobre os professores, como se eles fizessem parte de
um grupo de parasitas responsável pela ruína do país ...
Não sei se os, agora,
comentadores não são aqueles mesmos meninos / meninas que, na sala de aula, raramente
prestavam atenção à matéria em estudo, preferindo a conversa entre pares...
Não sei se os, agora,
comentadores não são aqueles mesmos meninos / meninas que, na sala de aula,
tudo faziam para copiar pelo colega mais aplicado - não só os testes mas, até,
os trabalhos de casa...
Não sei se os, agora,
comentadores não são aqueles mesmos meninos / meninas sempre prontos a pôr-se
em bicos de pés, acusando os professores de incompetência, à menor falha,
lapso, sinal de cansaço...
Não sei se os, agora,
comentadores não são aqueles mesmos meninos / meninas que sempre confundiram a
sala de aula com o pátio da escola...
Não sei se os, agora,
comentadores não são aqueles mesmos meninos / meninas para quem a vida escolar
mais não era que uma forma de passar o tempo, pois o futuro não dependeria do
sucesso escolar nem da interiorização de valores, como a responsabilidade e o
respeito - que não a obediência sabuja...
No entanto, desconfio que
a maioria dos críticos dos professores integra o grande grupo de parasitas que,
nas últimas décadas, aprendeu a roubar os portugueses... e que eu saiba não
foram os professores que lhes ensinaram tal arte...Os professores não são nem
uma seita nem uma raça e, em muitíssimos casos, são as maiores vítimas da
erosão da sociedade.
Diariamente, os professores são postos à prova, sofrendo danos
físicos e psicológicos que ninguém se preocupa em avaliar... Todos os dias de
cada ano...
Dilema
Que Ela esbracejava, já
sabia... Quanto ao resto, nunca consegui descrevê-la. Só agora percebi que ela
tem cabeça e pernas...
Uma cabeça que afirma
perentoriamente: A HISTÓRIA NÃO VOLTA PARA TRÁS!
Duas pernas que replicam:
ENQUANTO NÃO RECUARMOS NÃO AVANÇAMOS! (para o abismo) ...
Ora se a cabeça avança e
as pernas recuam, como é que Ela vai aprovar o orçamento para 2018?
20.11.17
Amesterdão recebe Agência
Europeia do Medicamento.
Parece-me bem!
Liberalizadas as drogas leves, quem melhor para gerir as restantes drogas?
19.11.17
"Segundo a mesma
fonte, dos cerca de 99 mil professores que existem no Ministério da Educação,
cerca de 22.300 atingiriam o topo da carreira nessa situação, passando assim
ter uma remuneração base da ordem dos 3.500 euros brutos. A contagem do tempo
de serviço entre 2011 e 2017 resultaria ainda num aumento salarial anual de 15
mil euros para cerca de seis mil professores, adiantou."
- Qual é o professor dos
ensinos básico e secundário que, no topo da carreira, recebe aproximadamente
3.500 euros brutos? É preciso explicar ao senhor ministro das finanças que os
professores foram excluídos do 10º escalão e nem nesse escalão se atinge esse
valor. A carreira fecha no 9º escalão!
Há muitos professores,
que já deveriam estar aposentados, e que já lá estiveram... e depois foram
colocados no 9º... (são as manobras de um regime intoxicado por falsas
verdades...)
É um pouco como o lugar-comum
de que os professores não são avaliados. MENTIRA. Ao longo dos anos, a
avaliação tornou-se uma FARSA por culpa de Governos e de Sindicatos... Mas
desperdiçou-se muito tempo com ela e muitos professores foram enganados.
Não é só nos BANCOS que
há ENGANADOS e ROUBADOS, também os há nos Bancos das Escolas! E muitos!
18.11.17
Exigir
é fácil e prometer também não é difícil
Exigir é fácil,
sobretudo, porque se avizinham eleições... e prometer também não é difícil
quando se tem como objetivo ganhá-las... O problema é que o dinheiro é
escasso...
Já aqui o referi várias
vezes: governar implica uma estratégia global. Por exemplo, todo o sistema
educativo português necessita de ser revisto.
Há, pelo menos, 20 anos
que a tecnologia fornece as ferramentas necessárias a uma reformulação do
parque escolar, à redefinição da matriz curricular e, particularmente, à
reforma das metodologias de ensino... só que continuadamente duplicamos os
recursos e os resultados, apesar do que certos organismos internacionais
apregoam, são um desastre... Claro que as estatísticas estão contra
mim!
Falta visão para acabar
com as velhas rotinas e com os parasitas.
17.11.17
Hoje perguntaram-me se o
Virgílio era o Vergílio (Ferreira) e quem era o Ésquilo... e por que motivo os
Futuristas se chamavam futuristas e faziam a apologia do Momento (do Presente),
sem esquecer essa maldita ideia de que «a guerra é a única higiene do mundo» Isto
da referência é uma chatice - Virgílio, autor da Eneida, modelo para o Camões
épico? A referência é tão ou mais assustadora que a robótica, essas máquinas
infernais devoradoras de empregos... bem mais perfeitas do que o próprio
homem... Ah, ser completo como uma máquina!
Esmagados pela
inteligência artificial, sem querer entender a raiz humana dessa inteligência,
parecemos os escudeiros, os almocreves ou portageiros de outros tempos,
incapazes de compreender que, afinal, os maiores derrotados foram os cavalos e
não os burros - estes espreitam ironicamente pela janela o repasto dos porcos
humanoides.
Talvez, aqui e ali, ainda
haja alguma coerência - S. Paulo bem dizia aos Coríntios que o seu mister não
era batizar mas evangelizar... Não sei se o evangelista teve sucesso... no meu
caso, a inutilidade das minhas palavras está garantida, mesmo que esta não
passe de um desafio ao Útil...
16.11.17
Há situações que nos
exigem um tal domínio das emoções que a razão se torna rude para além daquilo
que a regra social exige. A tensão sobe ao ponto de se derramar sem controlo.
Há, no entanto, ao
anoitecer, um sorriso que tudo compensa. E há, sobretudo, a esperança...
Para trás, fica o
estacionamento a céu aberto, a 1 euro / hora, numa avenida que dizem ser
espanhola... e talvez venha a ficar a indiferença médica dos últimos quinze
anos...
O que não fica para trás,
são os conselhos de quem há muito percebera que o acompanhamento médico não
seria o mais adequado.
15.11.17
A luta vai solene.
O ministro hospitalizado
não foi preparado para a batalha... A mim falta-me o espírito corporativo e a
genica paroquial.
A leitura global diz-me
que a luta é justa, mas que o país está cada vez mais desigual. E assim irá
continuar, apesar das pequeníssimas vitórias de Pirro.
Entretanto, por aqui,
depois dos incêndios, a seca... Já só falta a neve!
13.11.17
Não recuar.
Não aceitar.
Não pactuar.
Se cair, levantar-se e continuar a andar.
Andar sempre, mesmo se a sombra alastrar.
Não esperar o barqueiro sombrio...nem entrar no rio triste.
Não abdicar
da razão a
troco de uma qualquer verdade.
12.11.17
Um psicopata não assumido
escreve sobre o quê?
Em primeiro lugar, há
psicopatas que simplesmente não escrevem, embora falem pelos cotovelos sobre
tudo o que imaginam ser a realidade (deles), porque a dos outros, essa não
existe.
Depois há os psicopatas
cuja escrita é o depósito de todos os rancores e de todas as invejas - escolhem
um alvo, viram-no do avesso e não descansam enquanto a caricatura não assoma ao
canto da página. Há até quem vá ao ponto de caricaturar Deus, esse invisível e
indizível ser que assombra a mente das criaturas e, em particular, dos
psicopatas... nestes sob a máscara do Diabo.
Há também aqueles
psicopatas que, de tão livres, eliminam todo o tipo de censura, porque estão
convencidos de que a verdade vive oculta para lá da consciência e dos padrões
de cultura, caindo assim numa escrita automática que lhes traz de volta a
dignidade, para não dizer a divindade... (Já estou a ver os dadaístas e todos
os divinos surrealistas!)
Em conclusão, ainda não é
hoje que abro a torneira até porque se o fizesse corria o risco de desatar a
abraçar tudo quanto mexesse... mas a razão diz-me "comporta-te, homem, não
é porque tiveste um pai e um padrinho austeros que vais agora inundar o país de
afetos, mesmo se o teu mandato é de seca - ou uma seca..."
10.11.17
Os
psicopatas gostam de escrever
«Os psicopatas
denunciam mais facilmente o seu delírio, escrevendo do que falando.» Luís
Cebola, Psiquiatria Clínica e Forense, pág. 146
Para demonstrar o
carácter esquizofrénico da obra de Fernando Pessoa, o monárquico Mário Saraiva
(O Caso Clínico...) arranca este argumento às páginas de Luís
Cebola, só que basta uma consulta do verbete da Wikipédia para deduzir que
dificilmente o antigo diretor clínico da Casa do Telhal (1911-1948)
subscreveria a ideia de que Fernando Pessoa fosse um psicopata...
De qualquer modo, fico
avisado. Vou escrever cada vez menos. Se não cumprir é porque a psicopatia
tomou conta da mim... Ainda se escrevesse alguma coisa que se aproveitasse!
9.11.17
Nem crucifixo, nem
presidente do conselho, nem presidente da república... Apenas uma secretária e
um estrado devorados pelo caruncho... até a cadeira foi substituída...
relíquias...
Ora relíquias só nas
igrejas e nem em todas!
Apenas um argumento em
defesa da preservação do mobiliário acarinhado pelo Estado Novo: quando subo ao
estrado, a minha visão torna-se mais abrangente e mais disciplinadora, para não
dizer autoritária... a nostalgia da cátedra...
8.11.17
«O essencial é saber ver;
Saber ver sem estar a pensar;
Saber ver quando se vê.
E nem sequer pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.»
Alberto Caeiro
Espero que ninguém se
tenha precipitado e concluído que eu possa considerar Fernando Pessoa como
um bluff.
Se assim fosse, nós
também o seríamos, porque, no essencial, o homem pessoano é uma representação
perfeita da deriva a que o homem do século XX se viu condenado ao querer romper
com a velha ordem, muito por força do progresso científico e tecnológico...
Há, por seu turno, uma
outra questão que mereceria ser analisada: o impacto da poesia de Fernando
Pessoa na formação pessoal dos adolescentes.
7.11.17
"É
imperioso banir da Cultura portuguesa o bluff Fernando Pessoa"
«Para a dignidade da
Cultura portuguesa, é imperioso banir da literatura o bluff Fernando Pessoa e
remeter o poeta ao seu real valor, que o tem e lhe basta.» Mário
Saraiva, O Caso Clínico de Fernando Pessoa, pág, 164, Universitária editora
Não fosse um avô editor
ter tido o cuidado de me fazer chegar às mãos tão precioso estudo,
e eu teria continuado a ver em Fernando Pessoa a expressão de um mundo ávido
por compreender a inquietação que o minava, depois que o Positivismo se
revelara incapaz de determinar a Lei que tudo regeria... Num momento em que o
Todo era definido como mais do que a soma das partes, Fernando Pessoa, num
esforço titânico, desenhava caminhos que ia percorrendo, de preferência em
simultâneo, embora soubesse desde início que o resultado o deixaria num estado
de frustração que só uma boa dose de autodomínio lhe atenuaria a impotência. A
impotência do ser.
E, assim, os caminhos
criados são veredas alternativas ao desespero da humanidade. A arte como
alternativa à impotência do ser... e não a expressão da impotência do homem que
sofreria de hebefrenia mista...
Doravante, vejo-me
obrigado a desconfiar se a leitura da obra de pessoana não será um veneno,
irresponsavelmente, dado a ingerir à juventude portuguesa, contribuindo desse
modo para o definitivo enterro da alma lusa...
Nota: A
esquizofrenia hebefrénica é uma forma de esquizofrenia caracterizada
pela presença proeminente de uma perturbação dos afetos. As ideias delirantes e
as alucinações são fugazes e fragmentárias; o comportamento é irresponsável e
imprevisível. Existem frequentemente maneirismos. O afeto é superficial e inapropriado.
O pensamento é desorganizado; e o discurso, incoerente. Há uma tendência ao
isolamento social. Geralmente, o prognóstico é desfavorável devido ao rápido
desenvolvimento de sintomas "negativos", particularmente um
embotamento do afeto perda da volição. (Wikipédia)
6.11.17
Não queremos obedecer,
mas somos treinados para deixar de pensar. Agora, tornou-se moda definir
aprendizagens essenciais... e lá vamos nós identificar conteúdos transversais,
desenhar estratégias jesuíticas encorpadas de iniciativa e de criatividade...
recriar o mundo.
Podemos não saber que um
jesuíta é um cristão e que, como tal, serve uma doutrina milenar que nos mata a
razão e nos transforma em servos obedientes de um deus ausente... Já nem sequer
somos capazes de olhar para a palavra e identificar a raiz ...
É como aquelas árvores
que são apenas troncos suspensos do fungo que as corrói...
5.11.17
Se o dia de hoje fosse
diferente dos anteriores é que seria de estranhar. Voltou o Sol, embora mais
tímido e cá em casa abriu a época oficial de inverno.
Ricardo Reis ensina que,
na verdade, a estação é o outono do inverno, mas esse não passa de um
esquizoide que, apesar de recusar o passado e o futuro, se vestiu de uma
cultura vetusta e cansativa - Para quê aprender grego e latim, estudar os
clássicos, imitar Anacreonte, Píndaro e Horácio, e sobretudo, apostar num
epicurismo triste e decadente?
O melhor mesmo é o
silêncio, mas não sei o que é feito da moira Átropos... O óbolo já está
preparado...
4.11.17
Na
arca de Fernando Pessoa mora um homem menor
«Se pretendêssemos
terminar com uma frase a propósito, diríamos que a heteronímia de Fernando
Pessoa se condensa numa palavra: esquizofrenia.»
«Todavia que as
extremas do campo das letras, e do campo da medicina sejam respeitadas nas suas
legitimidades. Esta condição é absolutamente imprescindível para a leitura
correta e inteligente dos escritos pessoanos.»
Mário
Saraiva, O caso clínico de Fernando Pessoa, Universitária editora, 1990
De acordo com Mário
Saraiva, a arca deveria ter ficado por abrir... porque lá dentro se encontra um
homem menor, paranoico e esquizofrénico
De acordo com Mário
Saraiva, só Mensagem dignifica o autor.
De acordo com Mário
Saraiva, os estudiosos que proponham qualquer interpretação da obra que não
leve em conta a demência, a despersonalização esquizofrénica de Fernando
Pessoa, não são pessoas sérias...
Eu, por mim, já proibi os
meus alunos de irem além da interpretação dos textos, esburgando-a de qualquer
avaliação clínica do Poeta... Caso contrário, proponho que se retire a Odisseia do
cânone ocidental, pois nada sei de Homero...
3.11.17
Sempre
que me refiro ao Cardeal...
Sempre que me refiro ao
Cardeal faz-se silêncio. Não entendo. Afinal, sua Eminência não tem o dever de
pedir (ordenar) aos presbíteros que movam o olhar dos crentes para as nuvens
cinzentas que atravessam os céus! E que orem para que as águas divinas se
abatam sobre nós, ímpios incendiários que nunca aprendemos o verdadeiro
significado da sarça ardente...
Creio que o Cardeal da
sua Torre altaneira tem uma visão distinta da dos meteorologistas, pois, como é
sabido, estes enganam-se facilmente...
Talvez o silêncio tenha
origem no facto de ser um daqueles ímpios que nunca compreendeu nem o pastor
nem o rebanho. E não é por falta de aplicação!
Aborrecem-me os cardeais
que insistem em recorrer a receitas antigas, como tem vindo a ocorrer com o
novíssimo António Damásio que, sem qualquer tipo de reverência, vem citando
Fernando Pessoa, sem lhe mencionar a graça...
2.11.17
Estou a pensar na
infalibilidade de certos sacerdotes, mal rogaram aos crentes que começassem a
rezar, desatou a chover. Abençoados sejam e que a chuva se mantenha!
Em certos romances de
Pepetela, a sorte do Rei joga-se na sua capacidade de fazer chover. Os
conselheiros do Rei esclarecem-no ou confundem-no quanto à probabilidade de os
céus se abrirem nem que seja em pequenos charcos... E claro quando a chuva cai,
é a festa no povoado e a consagração do monarca...
Em Portugal, morto o Rei,
nem o Presidente nem o Primeiro-Ministro se revelam capazes de fazer chover.
Deve ser por isso que o Presidente aproveita todas as lágrimas do povo, enquanto
o Primeiro-Ministro recolhe ao Gabinete, temeroso que o poder lhe escape
definitivamente...
No entanto, na sombra,
move-se o Cardeal, que não pode perder a oportunidade de mostrar que a chuva é
de origem divina,... e eis que a chuva abandona o Céu e se derrama sobre a
terra portuguesa...
Que a bênção cardinalícia
não nos abandone!
1.11.17
Há verbos que utilizamos
sem lhes pesar o sentido. São tão banais que nem os vemos nem os ouvimos, mas
eles encontram-se em cada eixo verbal...
E o simples facto de os
enunciarmos define o modo como cada um de nós se relaciona com o predicado,
isto é, com o ato enunciativo (a modalidade)
Vejamos, os verbos dever e querer,
por mais vinculativos que possam ser, apontam para a virtualidade -
nunca sabemos se o que desejamos, de forma mais ou menos coerciva, será
realizado... Os verbos poder e saber, cada vez
mais postos em causa, continuam a marcar a atualidade. Os
verbos ser e fazer dão corpo à realidade...
o problema é que dificilmente resolvemos o problema da identidade e do sentido
da ação...
Como é que em dia de
Todos os Santos, começo a perorar sobre modalidades, que não as desportivas?
Pelo simples motivo que um santo menor, mas com vontade de ser maior - Rui
Santos - acaba de dizer em voz alta aquilo que é sonho de muitas vozes caladas: Pode estar
em causa a descida de divisão do Benfica...
Pode marca
a atualidade, marca a vontade justiceira de Rui Santos, mas está
longe de corresponder à realidade.
30.10.17
Não vou arregaçar as
mangas! Já ando com elas arregaçadas há demasiado tempo... Agora que até a
Igreja pede que chova é que o Presidente quer que arregacemos as mangas, o
homem parece andar de candeias às avessas...
Não sei se a Igreja ainda
organiza retiros, mas seria bom que o fizesse e convidasse o senhor Presidente,
não para perorar, mas para meditar em silêncio...
No caso, talvez chovesse
e eu me visse obrigado a arregaçar as calças.
Entretanto, parece que os
revolucionários catalães já andam a tratar do estatuto de refugiados políticos
em Bruxelas. Esses nem necessitaram de arregaçar as mangas... Em Bruxelas, quem
diria! Ainda se fosse na Coreia do Norte!
29.10.17
E
se o edifício do Liceu Camões vier abaixo...
O Diretor teme que as
obras só tenham início em 2019.
Eu temo que o OGE 2018
esqueça mais uma vez o edifício do Liceu Camões. Provavelmente, lá constará uma
verba de 350.000 euros para estudos e projetos! Há quantos anos andamos em
estudos e projetos? Quanto é que já foi gasto em estudos e projetos? Há sempre
alguém a ganhar com este tipo de impasse!
E se, entretanto, o
edifício vier abaixo com inevitáveis perdas? Lá teremos a ladainha costumeira.
De pouco servirá, então, apurar responsabilidades, indemnizar quem de
direito...
A responsabilidade é de
ontem, é de hoje. Espero que não venham a responsabilizar o arquiteto Ventura
Terra, pois, ao contrário do que pensa o atual Presidente, a culpa não é do
país, é do estado que não cuida do nosso património...
E se os governantes não
estão à altura, o melhor é dispensá-los...
28.10.17
Embora haja quem insista
que é necessário defender a identidade cultural, a verdade é que a cultura
sempre foi de quem dispõe de ócio bastante, vivendo à custa do trabalho
alheio...
A cultura, por mais que
se valorize a sua dimensão popular, é um feudo dos ricos, apesar de,
ultimamente, muitos revelarem um grau elevado de ignorância...
Um homem culto acaba de
defender que a Espanha deveria criar um estado federal de modo a estancar a
vontade independentista - leia-se a vontade do patronato rico, da alta
burguesia e de uma comunicação social ávida de sangue...
O povo, claro, também sai
à rua. Mas esse, já se sabe, ama a festa da rua. Só mais tarde é que se
apercebe que a sopa continua a ser a mesma, do lado de fora do castelo...
Esse homem culto
esqueceu-se, no entanto, que a haver um estado federal na Península Ibérica,
nem a identidade cultural nos salvaria da "fraternidade" federal...
Cada um sabe de si! Ou
talvez não!
De facto, a vassalagem
dos últimos dias a Castela parece-me excessiva...
27.10.17
«Aguardo, equânime, o
que não conheço -
Meu futuro e o de tudo.
No fim tudo será
silêncio, salvo
Onde o mar banhar nada.»
Ricardo Reis
Uns estão eufóricos com a nova República da Catalunha, outros, tristes...
Quantos? Não sei. Uns estão eufóricos com o novo Estado Catalão, outros,
tristes... Quantos? Não sei.
Só sei que a República
proclama-se, e simbolicamente é expressão de atualidade. Quanto ao novo Estado,
será mais difícil construí-lo... e há por aí tantos Estados falhados, a começar
pelo Português.
Afinal, no momento, o
Estado Catalão é expressão de virtualidade...
Entretanto, surgiram
dezenas de comentadores a apelar ao respeito pela Lei. Qual?
- No fim tudo será
silêncio, salvo / Onde o mar banhar nada.
26.10.17
La expresión presentismo laboral, que define el hecho de pasar más horas en el lugar
de trabajo de las exigidas por la jornada laboral, en muchos casos por temor a
perder el empleo...
O
número de baixas em Portugal é assustador, embora ninguém conheça a sua
verdadeira dimensão... Porquê? Consta até que o Estado quer poupar 60
milhões de euros, em 2018, reduzindo significativamente o número de baixas
fraudulentas. Mas como?
Por outro lado, há quem
permaneça mais horas no local de trabalho do que as contratualizadas, mas pouco
ou nada fazendo. Não sei se por moto próprio se por decisão das chefias... Ou
será por medo de perder o emprego?
De qualquer modo,
gostaria de conhecer a verdadeira motivação de Jean P. Um funcionário de um
supermercado Lidl em Barcelona foi despedido por trabalhar horas... a mais.
Jean P. foi dispensado por que entrava mais cedo ao serviço, para preparar a
loja para a abertura, e violou as normas da companhia.
Segundo a investigação da
empresa alemã, às vezes Jean chegava ao local uma hora antes do relógio de
ponto acordar. "Fazia encomendas, mudavas preços, repunha prateleiras
inteiras de artigos", lê-se na carta de despedimento a que o jornal "El
País" faz referência.
Durante uns dias em abril
deste ano, a empresa observou o comportamento de Jean. Através das imagens de
videovigilância, concluiu que chegava à loja entre "49 a 87 minutos"
antes da hora para trabalhar, sem registar o tempo de trabalho fora de horas.
Este comportamento é
contrário à norma "cada minuto que se trabalha, paga-se e cada minuto
trabalhado deve ser registado", argumenta a empresa na carta de
despedimento, fundamentada em "incumprimentos laborais graves".
Pelo que me diz respeito,
vou passar estar mais atento à minha tendência para passar mais tempo no local
de trabalho do que aquele a que legalmente estou obrigado e, sobretudo, vou
começar a cronometrar o tempo que gasto em casa com a atividade profissional...
25.10.17
Antigamente, havia quem
procurasse deliberadamente o piolho, não porque não houvesse mais lugares na
sala de cinema, mas porque lá certas liberdades eram toleradas...
Hoje, voltei a lembrar-me
do piolho ao verificar que certos jovens avançam decididamente para a última
fila da sala de aula... Do que lá se passa, o melhor é não averiguar.
Tal como outrora, estes
jovens não gostam de ser incomodados e não sentem qualquer remorso se
incomodarem os restantes...
24.10.17
O que me surpreende ande não
é que o CDS apresente uma moção de censura ao Governo ou que Costa a dar
emprego aos amigos, a mim, o que me surpreende é que, ao abrir a porta de um
prédio na Rua Tomás Ribeiro, Lisboa, esperando que entrem três pessoas, uma
delas tenha parado diante de mim e me tenha perguntado se eu habito naquele
prédio e se não me chamo Manuel Cabeleira Gomes - assim, de súbito, exclamando
para a filha: - Olha, este senhor foi meu professor há 40 anos, em Mafra! Foi
meu professor de Literatura Portuguesa!
Olhei-a e procurei, no
seu rosto de senhora de mais de 50 anos, traços da adolescente de antanho e
fiquei com a sensação que conseguia recordá-la, jovem adolescente, atenta e,
sobretudo, com uma enorme vontade de aprender...
E fiquei a pensar
naqueles jovens de hoje que, desatentos e desinteressados, não chegam a saber o
nome dos professores, quanto mais o meu!
Quão diferente seria,
profissionalmente falando, para deixar impressão tão duradoira nos jovens
daquele tempo! Que pena que eu tenho que a minha memória não guarde, pelo
menos, os rostos de todos aqueles que sempre manifestaram vontade de ir mais
além!
23.10.17
Sem girassol, o meu olhar
é turvo. Só vislumbro, nos rasgões que abrem para o longe, formas imperfeitas;
só oiço acusações de falta de amizade, de falta de educação - na rua, o que
ganham em intensidade perdem na distância dos interlocutores...
E eu caminho, caminho
para distender os músculos e aliviar a tensão ou talvez o esforço por
compreender não o outro, mas o modo de lidar com a depressão... Essa depressão
sazonal que só quer adormecer, mas que, lá no fundo, é uma nova forma de
poder... que imobiliza, que asfixia até a um ponto que só a caminhada pode
combater...
22.10.17
Numa manifestação
realizada ontem, no Terreiro do Paço, os manifestantes aproveitaram para
desatar à pancada. Pelo que vi, as forças da ordem, esforçadamente, lá os
separaram... Bem sei que estas forças foram criadas para assegurar a ordem! De
qualquer modo, quero crer que, nestas circunstâncias, o melhor seria deixá-los
esgotar as energias, pois, um destes dias, vamos vê-los a acolitar gente
manhosa que aspira a ser poder, a ser governo. E para quê?
Bernardo Soares (Fernando
Pessoa) é esclarecedor:
«O governo assenta em
duas coisas: refrear e enganar. O mal desses termos lantejoulados é que nem
refreiam nem enganam. Embebedam, quando muito, e isso é outra coisa.»
Parece-me claro que
alguém anda a desenhar um frente-a-frente entre a direita e a esquerda, em nome
da chamada alternativa democrática, mas em breve será a extrema-direita a
sorrir, como já está a acontecer um pouco por toda a parte...
E como bem sabemos, a
bebedeira é inimiga da memória!
21.10.17
Milhões e mais milhões
para compensar perdas humanas, de animais e haveres; para compensar empresas e
empregados... para tudo o que estava, quase sempre, mal. E para reorganização
do território, pouco se sabe...
Há por aí quem pense que
basta dar uns milhares de euros às vítimas, reconstruir as casas e as fábricas,
plantar uns milhares de árvores, restabelecer a luz elétrica e as comunicações,
mas, infelizmente, isso é o mais fácil...
Reorganizar leva tempo,
exige projetos e, sobretudo, o envolvimento de quem tem capacidade para
executar. Em Portugal, há conhecimento e há empresas internacionalizadas que
poderiam dispor de 15 ou 20% dos seus recursos para tal efeito... Mas não vejo
que o poder político tenha lucidez suficiente para entregar tal programa de
reorganização a quem sabe...
Quem não sabe é que
decide!
E ainda há os abraços, os
minutos de silêncio, as manifestações ora silenciosas ora espalhafatosas...
20.10.17
Há
comportamentos que não entendo
Há comportamentos que não
entendo e que já não menciono. Se ousasse escrever uma novela, talvez revelasse
aquilo que certos jovens tanto procuram deixar a descoberto. Não sei se o fazem
gratuitamente ou se porque alguém lhes sugeriu que essa era a técnica mais
adequada à melhoria de classificações... Não creio, porém, que o objetivo seja
regressar ao estado primitivo, pois os acessórios de marca nada revelam do estado
vegetal inicial...
Há outros comportamentos
que não entendo e que resultam de não compreender a vantagem que se possa tirar
de começar tão jovem a copiar... Hoje foi um desses dias em que me vi no papel
de polícia de ronda, inofensivo e com vontade de zarpar.
Mas esta minha
incompreensão é um pouco artificiosa, pois sei muito bem que o sucesso está
cada vez mais associado ao parasitismo...
Entretanto, acabo de me
lembrar que voltei a confrontar-me, numa turma de 12º ano, com um grupinho da
sueca.
19.10.17
Acender e deixar arder
são dois atos indissociáveis, mesmo que os sujeitos possam ser distintos.
Apagar, só as casas se
ainda sobrarem acessos e ainda houver água nos depósitos terrestres e aéreos. E
depois esperar que as nuvens de fumo não reduzam a visibilidade a zero.
Com a floresta a arder,
os acessos inutilizados e o céu que nem breu, só resta esperar, deixar-se
filmar e contar as vítimas... e depois chafurdar na lama...
A estratégia escolhida
não é de agora, é dos dias em que a gente lorpa se apoderou da governação, sem
qualquer tipo de formação e que se algum grau académico possui é porque o
adquiriu numa das muitas chafaricas de ensino que foram abrindo de norte a sul
do país de abril...
No entanto, essa gente
lorpa sempre odiou a escola, tudo fez para a vulgarizar e desclassificar...
Essa gente lorpa que organiza as praxes, que alimenta as juventudes
partidárias, que inferniza a vida daqueles para quem o mérito se atinge pelo
trabalho e pelo estudo...
18.10.17
Já não consigo nem vê-los
nem ouvi-los. Abrem a boca e eu desligo a TV.
Desde os noticiários aos
programas de encher chouriços, é tudo tão absurdo que o zapping esgota as
pilhas do comando à distância. Por vezes, até pareço o Álvares de Campos
da Ode Triunfal antes do seu coração se ter quebrado sem
motivo real.
E escrevo "é tudo
tão absurdo" num dizer superlativo inexplicável. Se é absurdo, para quê
acrescentar tão?
O absurdo não é
mensurável! É ou não é, simplesmente. E o que o é, não necessita de graduação.
Por exemplo, é absurdo,
para mim que não para certos políticos e gestores bancários, haver investidores
que não dispõem de capitais próprios, mas que não desistem de pedir empréstimos
que sabem nunca vir a amortizar...
E também é absurdo que
haja investidores que não dispõem de capitais próprios, isto sem me querer
pronunciar sobre o material militar que foi recuperado sem nunca ter sido
roubado...
17.10.17
Depois dos pirómanos, dos
vampiros, das chefias incompetentes, da amnésia dos antigos governantes, da
pesporrência ministerial, do fundamentalismo dos relatórios científicos, eis
que acaba de se pronunciar o presidente dos afetos que, afinal, se revela um
incendiário político...
De imediato, a grande maioria dos comentadores acerta o tom e dá início à época
das loas....
16.10.17
A
nau Catrineta não volta mais
Ao calcorrear o país
durante muitos anos, a imagem gravada era a de uma terra diversa, rica
florestalmente, embora maltratada pelo primitivismo dos seus habitantes e,
sobretudo, por projetistas em busca do el dorado.
Não será difícil perceber
que o empreendedorismo português, nos últimos 40 anos, não olhou a meios para
capturar recursos, destruindo caminhos e linhas de água e, sobretudo,
construindo vias rápidas que trouxeram consigo a desertificação.
As populações residentes,
cada vez mais reduzidas, viram desaparecer a escola, o posto de correio, o
mercado, a mercearia e a taberna, a agência bancária, e até as ermidas se
tornaram apenas objeto de romarias estivais dos emigrantes que por alguns dias regressavam
ao lugar que os viu nascer - o progresso, a austeridade, a troika, o
centralismo...
Agora, já não é só o
pinhal do interior, é também o de D. Dinis que é devorado pelas chamas gulosas
dos abutres, políticos e seus comparsas.
Com a chegada do inverno,
chegarão as marés vivas que não olharão a dunas e a edificações alcandoradas. O
mar entrará terra adentro e destruirá tudo o que se lhe opuser... e depois
alguém gritará que a culpa é das alterações climáticas.
A verdade é que a culpa é
nossa, porque não sabemos escolher os governantes. Gostamos dos incompetentes,
dos demagogos, dos manhosos, dos intriguistas e até dos corruptos, sem esquecer
aqueles que, de tempos a tempos, nos dão com o pau...
15.10.17
Estive a folhear a Acusação e
fiquei com a ideia de que, afinal, neste país, há pessoas com muito espírito empreendedor.
O crescimento dos
negócios é de tal ordem e tão célere que a velha de ideia de que o catolicismo
sempre fora um entrave ao desenvolvimento industrial e comercial se me apagou.
Vou deixar de ler o velho Antero das Causas da Decadência dos Povos
Peninsulares... (Terei, entretanto, encontrado a explicação para o facto do
Partido Socialista, nascido na Alemanha luterana, nunca reivindicar a herança
da Geração de 70 do século anterior...)
Por outro lado, parece
que o crescimento do negócio transfronteiriço é inseparável da criação de
fortes laços de amizade, mesmo nos casos em que as relações terminam em
divórcio. Há ainda um outro dado a não descurar, a província leva a palma à
capital na sua capacidade de expansão e de internacionalização. E não menos
importante, os amigos tudo fazem para promover a formação do Amigo Maior, mesmo
que este ame o fausto e a prosápia...
Finalmente, começo a
desconfiar que a fraternidade é tão profunda que há amigos tão poderosos que
nem sequer são mencionados pela Acusação. Pelo menos, o localizador não os
conhece pelo nome que lhes terá sido dado na pia batismal...
(Um destes dias, voltarei
à Acusação!)
14.10.17
Ontem,
senti pena do jornalista Vítor Gonçalves
Ontem, senti pena do
jornalista Vítor Gonçalves. Senti que na sua contenção morava uma alma isenta e
nobre que, de algum modo, desejava que o seu entrevistado se redimisse.
Mas era absolutamente
impossível cumprir o guião. Ao entrevistado pouco interessavam as perguntas; as
suas respostas apenas visavam encobrir as causas da megalomania que deixou um
país do avesso...
A certa altura,
apeteceu-me regressar a Platão e reler os diálogos socráticos, em que o
filósofo utiliza os seus interlocutores para os rebaixar, expondo-lhes a
mediocridade e a sordidez dos seus pensamentos...
Sem público, Sócrates não
existiria, e é isso que explica a necessidade de controlar o entrevistador,
exigindo-lhe submissão e denegrindo-o.
Afinal, o público ama a
megalomania e a hipocrisia do poder...
12.10.17
Nada avança, nem sei se
não será melhor assim.
À volta é só especulação
e depressão! Uns presos ao passado, outros a um futuro impossível.
Por mim, cansado de
formular perguntas e de fazer reparos, creio que o melhor é desligar, e, de
preferência, em dois pés, desatar a andar... seguro, no entanto, de que não
irei longe.
Até que um dia lá terão de
se habituar!
11.10.17
Um
romance com 4000 páginas é obra!
Bem sei que uns tantos
juristas desistiram do Direito para se dedicarem à Literatura. Outros, como a
Literatura não mata a fome, lá foram vivendo com um pé num lado e outro no
outro, mas sem grande arruído...
Hoje, ouvi, no entanto,
um advogado afirmar que a acusação no "caso Marquês" não passa de
fantasia, de um romance com 4000 páginas...
Um romance com 4000
páginas é obra! O que é que terá passado pela cabeça do romancista? Não vai ser
fácil encontrar leitores com tempo e fôlego para fruir tal obra...
Face a tal desconchavo,
vou esperar que o engenheiro Sócrates não seja condenado por ter escolhido mal
o crítico literário.
E já, agora, recomendo
que uma obra de tal dimensão seja lida longe dos meios de comunicação, dita,
social, para não envenenar a populaça...
10.10.17
Carles
Puidgemont, uma figura messiânica?
Fui ler o artigo da
Wikipédia sobre Carles Puidgemont i Casamajó, e o que me desperta a
atenção é a sua formação, o seu percurso profissional e político centrados na
identidade cultural catalã, como se estivesse a ser preparado para a cumprir o
destino nacionalista... Uma figura messiânica?
Quanto à aspiração catalã
de independência, ela não me surpreende, pois se não é tão antiga como a
portuguesa, anda lá perto. Como se sabe, no século XVII, a restauração da
independência portuguesa só foi possível graças à subjugação da Catalunha. Se
os ventos independentistas tivessem soprado de outro modo, o rumo português
teria sido certamente bem diferente!
Apesar de ser defensor de
uma Ibéria reunida num estado federal, creio que, do ponto de vista português,
no contexto atual, a Catalunha satisfaz as condições para declarar a sua
independência e de que nada serve esperar que Castela lha reconheça...
O que me preocupa, no
entanto, é o messianismo de que Carles Puidgemont parece investido...
Está declarado o estado de nevoeiro - temos agora um novo conceito: A República
da Catalunha suspensa...
8.10.17
O sargaço e o pilado
«Minha alma é lúcida e rica
E eu sou um mar de sargaço.»
Fernando Pessoa
Compreender a ideia (a
metáfora) pressupõe uma experiência do leitor que, muitas vezes, este não
detém.
No meu caso, por exemplo,
levei algum tempo a interpretar o verso, pois nunca me passara pela cabeça que
o sargaço pudesse ser uma alga utilizada como fertilizante, tal como o pilado
(caranguejo voador) ...
Na minha vida de
campónio, o mar era uma miragem, os adubos químicos eram caros, e o único
fertilizante natural era o estrume.
Imagine-se, agora, que eu
era aprendiz de poeta e ousava escrever "Minha alma é lúcida e rica»
/ E eu sou uma courela de estrume.
Já estou a imaginar a
jovem professora, algarvia e marítima, Lídia Jorge, a dizer-me "o menino
está a assassinar a poesia..."
Em tempo de agricultura
biológica, será que o jovem leitor ecologista terá tempo para recuar à época em
que não havia adubos químicos e, sobretudo, para se googlar e
observar atentamente:
Hoje, dispomos de tantas
ferramentas que é pena que as escolas não estejam devidamente equipadas para
suprir as insuficiências que nos distanciam de outrora... Por exemplo, amanhã,
se quiser utilizar este post, o mais provável é que o computador
tenha adormecido ou que o sinal de Internet seja tão fraco que a estratégia
morra no momento... e a Escola a que me refiro, em particular, está localizada
em Lisboa a 100 metros da sede da Altice - ou será da PT?
7.10.17
Observemos o seguinte
fragmento do Livro do Desassossego:
«Para alguns que me
falam e me ouvem, sou um insensível. Sou, porém, mais sensível -
creio - que a vasta maioria dos homens. O que sou, contudo, é um
sensível que se conhece, e que, portanto conhece a sensibilidade.»
Nele, as emoções são
objeto de fina análise, através da imaginação verbal, o que lhes dá uma
poeticidade única.
(E depois há o leitor que
insiste na identificação, umas vezes, narcísica, outras vezes, malévola, sem
esquecer o leitor besta, mas doutorado...)
6.10.17
Saber interpretar é uma
competência essencial. Fernando Pessoa é um dos maiores intérpretes da condição
humana. Fê-lo com um rigor inexcedível. Todas as suas "máscaras" são
a expressão de um espírito geométrico que permanentemente procurou desmascarar
o conhecimento tido como definitivo...
Nos tempos que correm não
basta escrever sobre esta convicção, é necessário saber ilustrá-la... e mesmo
assim!
Vem este arrazoado a
propósito da resolução, inscrita no manual Sentidos 12 (versão
professor), da seguinte pergunta: - caracterize o sujeito poético,
justificando a sua resposta com elementos textuais pertinentes: O
sujeito demonstra alguma confusão interior como se percebe pela
primeira estrofe quando afirma "Tenho tanto sentimento / que é
frequente persuadir-me de que sou sentimental..."
O problema é, no entanto,
outro. Bastaria saber que a referência de sentimento é, à luz
do conhecimento da época, distinta da de sentimental. É sentimental
todo aquele que se deixa conduzir pelas sensações, pelas emoções... Por outro
lado, o sentimento, embora possa ter origem na sensação, é uma realidade
mental, drenada pela razão; é fruto da autoanálise e da imaginação: Mas
reconheço, ao medir-me / Que tudo isso é pensamento / Que não senti afinal.
Onde é que paira a
confusão interior?
O que este poema
demonstra é que o homem, por mais que racionalize, não tem qualquer ferramenta
que lhe permita saber distinguir a vida verdadeira da vida
errada, mesmo se as Ciências Humanas (Teologia, Filosofia, Psicologia...)
insistem em defender que os sentidos são fonte de erro e a razão fonte de
certeza, de verdade...
5.10.17
Quando tanta gente ignora
o que é o sebastianismo, anda por aí um político que ainda não regressou à
toca, mas que já promete voltar... E enquanto não regressa, procura-se um
cordeiro que por ele se imole...
A Academia sueca diz que
o Prémio Nobel de Literatura de 2017, Kazuo Ishiguro, é uma mistura
de Jane Austen, Franz Kafka e de Marcel Proust... Uma mistura! Estou em crer
que o António Lobo Antunes, para a Academia sueca, deve ser uma máscara do Rui
Rio.
No dia República, também
se celebra o Dia do Professor. Nunca percebi porquê. Será porque a República os
trata tão mal?
Em Espanha, continua o
conflito entre o estado central e uma das regiões autonómicas. Será que ambos
sofrem de amnésia?
Entretanto, já há
previsão do número de mortos para o caso de a Coreia do Norte insistir no
confronto militar. Mais de dois milhões!
«A nossa inteligência
abstrata não serve senão para fazer sistemas, ou ideias meio-sistemas, do que
nos animais é estar ao sol.» Fernando Pessoa / Bernardo Soares
4.10.17
"... uma
zebra é impossível para quem não conheça mais que um burro." Fernando
Pessoa / Bernardo Soares
Nenhum burro está
obrigado a reconhecer a existência das zebras. Com ou sem palas, o burro apenas
procura o pasto, mesmo que tal signifique afastar-se do caminho. Na verdade, o
burro nem sequer procura o espelho, só lhe interessa a cumplicidade asinina...
Se lhe passarmos a mão
pelo - ai o (des)acordo ortográfico! - a resposta é imprevisível. Vai do coice
ao relincho!
Perguntaram-me hoje por
que motivo não escrevia um livro. Fiquei sem avançar qualquer explicação,
embora tenha pensado que, talvez, por preguiça ou, sobretudo, por desencanto...
Um livro para quê? Há
tantos e tão maus, e se algum revela alguma qualidade é tão maltratado.
3.10.17
Por lá, Catalunha, greve
geral contra o governo central de Espanha.
Por cá, notícia de que Passos Coelho vai recolher à coelheira.
Como acordei muito cedo,
não me sinto capaz de avaliar os efeitos de tais comportamentos. De qualquer
modo, o Governo de Madrid revela não saber ouvir as vozes do dissídio, tal como
Passos Coelho não soube, atempadamente, tirar ilações do dia em que ganhou as
eleições nas urnas e as perdeu no Parlamento...
E quando assim é, por
muito que os adversários cantem vitória, os prejuízos são sempre
irreparáveis...
Agora,
sim, toca o despertador
Acordo, mal adormeço, mas
só tomo consciência disso quando olho as horas. Preocupa-me a gata, não vá
acordar do sono pesado e relutante quem não deve. Adormeço.
Volto a pegar o sono, mas
os miados alertam-me para o perigo que só diminui quando a bicha se aninha no
meio das minhas pernas.
Adormecemos, parece que o
tempo decorre sossegadamente, mas agora é o calor de outubro, a boca seca que
interrompem aquilo que costuma obedecer às leis do despertador.
Dou uma olhadela à lista
dos amigos facebookianos despertos e, espanto, são vários, alguns da vida real
que entram no trabalho à mesma hora... O que estarão a fazer, despertos a esta
hora?
Pego no Livro do
Desassossego e lembro que o volume, quebrado, que folheio, nunca
chegou a ser um livro nas mãos de Bernardo Soares que, de verdade, não as
tinha... folhas soltas, pedaços de deambulações plasmadas em fragmentos -
plasma ou talvez magma de outras vidas, também elas imaginadas....
Agora, sim, toca o
despertador. Foge-me a página, insisto e registo o que não é meu nem dele:
«Ah, outro mundo,
outras cousas, outra alma com que senti-las, outro pensamento com que saber
dessa alma! Tudo, até o tédio, menos este esfumar comum da alma e das coisas,
este desamparo azulado da indefinição de tudo!» Bernardo Soares
2.10.17
Há
por aí muitas caçadeiras já obsoletas...
A caça ao voto já
terminou. Há caçadores mais satisfeitos do que outros e muitos de mãos
vazias. Agora, é esperar que os coelhos e as perdizes voltem a crescer,
caso o Céu saia da sua impassibilidade e se digne regar os campos, já que os
citadinos passam bem sem chuva...
Por mim, os resultados da
caçada são os possíveis, pois, em democracia, há que aceitar a decisão do povo,
até porque este povo é múltiplo nos interesses e nos anseios, sendo sonho maior
deixar de ser caça e passar a caçador...
Finalmente, sinto que há
por aí muitas caçadeiras já obsoletas, incapazes de deixar o terreno. De
qualquer modo, o tempo se encarregará de as encravar de vez...
1.10.17
A
votos, em Portugal e na Catalunha
Lá fui votar. Cedo.
Afluência reduzida.
Regressei duas horas mais
tarde, mas não para votar, descansem. As filas tinham engrossado como já não
via há muito. Perplexo, pus-me a pensar na causa. Será expressão de um
acréscimo de responsabilidade cívica?
Mais logo, saberemos.
Entretanto, a nação
catalã não desiste de mostrar ao estado espanhol que deixou de confiar nele e
este vai dando provas de que não sabe negociar. E quanto ao rei espanhol, o que
será feito dele, perguntará o ditador Franco...
Creio que a opção
monárquica de Franco visava assegurar a união das nações... ou seria das
freguesias?
30.9.17
Suspendo
a má razão destes últimos anos
(Não era isto que eu
queria referir. Absurdo, isto sem antecedente...)
Tive, quando, por perto
não tinha papel nem caneta, intenção de mostrar os cogumelos que no dia
anterior tinham desabrochado no velho tronco, só que, naquele momento,
apercebi-me que alguém os tinha destruído, provavelmente, à biqueirada. Ainda
saquei da câmara fotográfica, mas a manhã cinzenta ou a falta de jeito
devolveram-me uma imagem imprecisa - e essa imagem persiste, embora não seja
editável.
Tudo surge impreciso nos
bastidores da certeza anunciada. E eu, descrente, medito sobre todos aqueles
que nunca puderam votar, sobre todos os que perderam a vida para que todos
pudéssemos votar. Suspendo a má razão destes últimos anos e conto os metros que
me separam da mesa de voto, de todas as mesas de voto, não vá surgir alguém que
as queira suprimir, como está a acontecer nessa outra parte da Ibéria
intolerante...
29.9.17
De um lado, os sentidos,
as sensações, as emoções, os sentimentos - o coração. Do outro, as imagens, as
representações, as combinações - a razão...
No meio, o
distanciamento, a rutura, o jogo. Como resultado, essa coisa linda que é a
obra, o poema, o quadro, a estátua, a sinfonia...
Se fica acima, se fica
abaixo, pouco interessa porque, afinal, a terra é um corpo no firmamento e nós,
perdidos, apenas, podemos jogar no balanço da deriva para evitar a depressão e
a solidão a que nos condenámos ao querermos matar a transcendência....
Para trás, vão ficando
Comte, Marx, Darwin, Nietzsche, Freud, Marcuse, Lacan, Foucault ... Eles
cantavam sem razão na soberba dos dias.
Depois, há ou não há
interesse, curiosidade, vontade de traçar um projeto, de se libertar de
enleios, de se atirar para os braços de um eu coletivo que dê asas à loucura, à
doença das nações... Nova transcendência que nos culpe, nos desculpe, nos
redima....
Em Camões ou em Pessoa,
lado a lado, caminham a identidade individual e a identidade coletiva, sempre a
tentar adivinhar o futuro...
27.9.17
Take
2 do projeto de intervenção na Escola Secundária de Camões
«Se não sabemos em
direção a que futuro o presente nos leva, como poderemos dizer que este
presente é bom ou mau, que merece a nossa adesão, a nossa desconfiança ou o
nosso ódio?» Milan Kundera, A Ignorância
Ao ouvir o arquiteto
Falcão de Campos referir-se ao take 2 do projeto de intervenção na Escola
Secundária de Camões, surgiu-me de imediato a pergunta de Kundera, reformulada: Como
poderei dizer que este projeto é bom ou mau?
Do que mostrou do (novo)
projeto - condicionado pelo número mágico 11 milhões de euros - tudo me pareceu
fazer sentido na perspetiva da preservação do património.
Só não sei (e como
sabê-lo?) se a escola, tal como a experimentamos atualmente, continua a ter
futuro... No íntimo, estou em crer que não. Em termos de programação logística
do ensino, provavelmente estes espaços tornar-se-ão obsoletos.
No entanto, hoje, estou
com aqueles que querem ver o projeto do arquiteto Falcão de Campos
concretizado, nem que seja por uma questão de justiça e, sobretudo, de
segurança...
26.9.17
João Lourenço enumerou
vários países que considera estratégicos para o governo angolano, como os
Estados Unidos, a China, a Rússia, o Reino Unido e Espanha, mas
surpreendentemente ou não, não fez qualquer referência a Portugal.
Não creio que o novo
presidente de Angola se tenha esquecido de Portugal. A verdade é que Portugal
precisa mais de Angola do que o contrário. E sempre foi assim desde que o
Brasil se tornou independente...
O resto é conversa de
comadres desavindas! E claro, o resto também é reflexo do modo como certos
vassalos limparam o tesouro de cada um dos estados, criando uma fraternidade
indissolúvel, mas que convém agitar um pouco para que os povos acreditem que
aos seus governantes (agora, democraticamente eleitos!) só interessa o bem
comum e... um banho revigorante nas velhas águas atlânticas...
25.9.17
Não quero tecer grandes
comentários. É um género desacreditado, tantos são os comentadores. Quero, no
entanto, deixar aqui um reparo: aborrece-me que os dinossauros estejam de
volta.
O apetite deles é tão
grande que muitos dos munícipes acabarão por ser devorados...
24.9.17
Não
gosto nem do meio nem do conceito
É com tristeza que recebo
a notícia do falecimento de D. Manuel Martins, grande referência da consciência
social.
Detesto que o
primeiro-ministro de Portugal reaja à morte de um dos prelados mais ilustres do
Portugal de Abril através do Twitter. (Não me estou a referir à reação do
cidadão António Costa...)
Detesto a restrição
imposta pelo adjetivo "social". D. Manuel Martins travou um combate
na diocese de Setúbal que, de verdade, era "político" na verdadeira
aceção do termo...
23.9.17
Com a chegada do outono,
decidi iniciar a poda antes que as folhas apodrecessem. E a poda foi
significativa, pois muitos dos amigos apagados, que figuravam na minha extensa
lista facebookiana, há muito que deixaram de dar sinal... Alguns,
provavelmente, nem saberiam que estavam associados ao meu perfil...
Espero com tal gesto não
ter defraudado algum seguidor silencioso.
Isto não significa que
tenha decidido acabar com a amizade de quem quer que seja. Apenas, decidi pô-la
à prova...
22.9.17
A
missão de Portugal no mundo e A Ignorância de Milan Kundera
«Os escandinavos, os
holandeses, os ingleses gozam do privilégio de não terem conhecido qualquer
data importante desde 1945, o que lhes permitiu viver um meio século
deliciosamente nulo.» Milan Kundera, A Ignorância, 2000,
Parte 3
Leio atentamente o
trabalho de contextualização da migração da personagem checa para Paris. Fixo
cada data, cada bloco político, cada estado, cada conflito e de súbito
interrogo-me sobre qual era o lugar de Portugal no mundo de Milan Kundera e
concluo que estivemos fora - nem sequer há referência à guerra colonial de 1961
a 1974..., uma guerra a que a União Soviética não foi de modo nenhum alheia...
1914 (início
da I Grande Guerra); 1918 (independência da República
Checa); 1936 (início da Guerra Civil Espanhola); 1938 (termo
da independência da República Checa); 1939 (início da II
Grande Guerra); 1948 ( sob a influência do Terror comunista,
ressurgimento da República Checa; os Jugoslavos batem o pé a Estaline); 1956 (invasão
russa da Hungria); 1968-1969 (ocupação da República Checa
pela Rússia); 1989 ( termo da Guerra Fria), os russos
abandonam a República Checa e os restantes regimes comunistas - URSS); 1991(
República Jugoslava - começam todos a assassinar-se uns aos outros...
É isso! Continuamos
convencidos de que tivemos e continuamos a ter um papel no mundo, mas basta ler
um romance mais ou menos engajado para perceber que já não existimos... Ou
será, apenas, ignorância de Milan Kundera?
21.9.17
Estou em dificuldades:
não consigo, sociologicamente falando, aproximar-me da média atitudinal. Por
mais que pense que o meu interesse particular corresponde ao interesse
coletivo, não obtenho resposta que confirme tal ideia.
Por mais que pense que
vale a pena agir em função de uma visão global, verifico que tudo está
determinado pelo interesse individual.
Se me preocupo com o
destino da Ibéria, há logo quem me diga que o problema não é meu. Quando tento
explicar que, aqui ao lado, e não nos antípodas, há um estado (espanhol)
constituído por várias nações e que estas são, em regra, configurações grupais
anteriores à formação do estado castelhano, o desinteresse é manifesto.
Quando procuro explicar
que o fenómeno do nacionalismo já teve como corolário múltiplas guerras
sangrentas, fico com a sensação de que estou cercado por muita gente que
(des)valoriza a GUERRA...
Quando arrisco que nem
tudo depende do contexto e que este nem sempre é relativo, olham para mim como
se fosse o E.T....
Afinal, se começar a
descascar uma cebola, há sempre um momento de fixação inicial... e este é
radical...
20.9.17
A
carreira 722 e a abstenção no dia 1 de outubro
Certo dia a carreira 22
da Carris passou a 722 em homenagem às míticas 7 colinas de Lisboa. Entretanto,
as obras na Zona do Marquês de Pombal impuseram um encurtamento do percurso que
passou a efetuar-se entre a Praça de Londres e a Portela (de Sacavém, Loures)
...
O povo lá se foi
adaptando na esperança de que, terminadas as obras, os "donos" da
Carris restabelecessem o itinerário, mas nada disso sucedeu...
Porquê? Ninguém sabe!
A autarquia diz que luta
para que a linha do Metro seja alargada até Loures, passando pela Portela e
Sacavém. Quanto a essa reivindicação, todas as forças políticas locais parecem
estar de acordo, embora não se saiba se o metro algum dia chegará a esta zona, mas
sobre a carreira 722 ninguém abre a boca - uma medida justa, imediata e barata
que poderia melhorar a ligação da periferia ao centro da cidade e vice-versa...
Eu, por mim, sinto-me
desprezado pela Carris e pelas forças políticas que se digladiam pelo controlo
do poder autárquico no concelho de Loures e, como tal, começo a acreditar que,
não podendo votar contra, o melhor é abster-me... até porque as restantes carreiras,
782 e 728, também não servem devidamente a população, a primeira é intermitente
e a segunda só aparece quando o rei faz anos...
19.9.17
Tempos houve que por aqui
vivi... Quando, hoje, passo, já só vejo gente apressada, portas e janelas
fechadas... e obras de ocasião para turistas de ocasião...
A maioria das pessoas
desse tempo já partiu...
18.9.17
As pedras, uma a uma,
podem armar o poema, tal como a flor, pétala a pétala, ou a cor, do azul ao
cinzento, emparelham ou alternam...
Só que a ideia esmorece
se lhe falta o cimento...
Uma ideia, fora do
contexto, até pode ser flor, cor, lágrima, pavilhão G.
Só que a ideia esmorece
se lhe faltar a intenção, o rumo, o horizonte...
A ideia, bem enlaçada,
até pode ser deia, mas faltar-lhe-á a cor, mesmo se, por acaso, for raiz,
tronco, copa e se perder nas fímbrias da abóbada...
Só que a ideia anoitece
se a memória desaparece e, então, as pedras, por um instante, uma a uma, ainda
poderão florir para, depois, tombar pétala a pétala...
17.9.17
Num lugar, onde não é
possível assegurar a existência de uma escola básica, surgiu agora um comprador
do terreno e respetivo edifício escolar a afirmar que gostaria de ali implantar
um instituto superior com dinheiros públicos... Provavelmente, um Politécnico
que se encarregasse de ministrar cursos florestais e de produção
animal... (ver post de ontem)
Pessoalmente, não tenho
nada contra a ideia, desde que a obra não implique financiamento público,
porque os sonhos, mesmo se infantis, não devem ser apresentados sem caderno de
responsabilidade e de encargos...
No caso da Escola
Primária, mandada edificar pelo Estado Novo, com dinheiros públicos, mandava o
bom senso que o próprio Estado a colocasse ao serviço da comunidade, mesmo que
tivesse de a reconverter para outras funções sociais...
Esta ideia de tudo
alienar acabará por trazer mais prejuízo do que lucro.
16.9.17
Um
instituto superior em Carvalhal do Pombo!?
“Todos os dias olho
para essa escola”, confessou Luís Cavalheiro ao mediotejo.net no fim da hasta
pública. A ideia, adiantou, é recuperar o edificado e criar ali um
estabelecimento de ensino superior, de âmbito nacional, que dê formação nas
áreas da reflorestação e dos produtos naturais. Uma ambição que Luís Cavalheiro
tem há muitos anos, tendo surgido agora, sem fazer conta, a possibilidade de
adquirir o edifício.
Para já ainda não tem
nada em andamento, tendo apenas adquirido o imóvel. O objetivo agora é procurar
investimento estatal. “Queria algo a nível nacional”, frisou. Entre os seus
projetos está a reabilitação do figueiral de Torres Novas.
Estranho o projeto,
apesar da região necessitar de aproveitar os seus recursos naturais! No
entanto, há que ter fé! E em Carvalhal do Pombo, a fé é coisa que nunca faltou.
Dinheiro, sim, creio.
15.9.17
A Standard and
Poor’s (S&P) subiu o rating da República portuguesa para o patamar de
investimento, no nível BB-/A-3, do anterior BB+B. A revisão em alta “reflete a
melhoria das previsões para o crescimento do PIB de Portugal em 2017 a 2020,
bem como os progressos sólidos feitos na redução do défice orçamental”, refere
o relatório da agência, publicado esta sexta-feira. BB-/A-3
O debate autárquico já
passou à história.
Apesar do foguetório que
se anuncia, temo que a euforia nos atire para o abismo...
Num país doente, o
protagonismo só pode ser dos enfermeiros! Quanto aos enfermos, eles que tenham
paciência!
Doravante, todas as lutas
são mais do que justas...
14.9.17
Provavelmente, noutros
domínios, a relação não será significativa, por exemplo, para as ciências da
saúde, se excetuarmos a psicanálise, no entanto, na área da didática,
confronto-me todos os anos com a mesma ansiedade. (Qual será a origem deste
estado psíquico?)
Ao aceitar que a
rememoração consiste em fazer aparecer as coisas do passado com as suas
qualidades, sempre que me disponho a elaborar qualquer teste de diagnóstico
pressinto que o resultado será frustrante, pois para que haja rememoração é
necessário que a mente tenha tido necessidade de guardar informação sem
qualquer tipo de diluição... (intenção de...)
Ora, a experiência diz-me
que, ou a mente não teve oportunidade de reservar qualquer tipo de aprendizagem
ou se o fez, no momento do diagnóstico, a consciência só traz à superfície o
restolho estival...
Se o diagnóstico não
serve para avaliar a qualidade da aprendizagem efetuada, então para que é que
serve?
13.9.17
Não o penso o que
quero... Estou sempre a ser submetido a pulsões exteriores (e estas
impedem-me de saber o que quero.) Quanto às interiores, há muito que
aprendi a recalcá-las..., o que mata o pensamento...
Claro que poderia
imaginar, mas para quê se as imagens são perceções falseadas!
Submeto-me, assim, à
vontade dos outros (já desisti de os contrariar) que, talvez, não pensem
o que querem, mas que, afinal, não cuidam de saber se as imagens são
verdadeiras ou falsas, até porque muitos se contentam com o reflexo luminoso no
fundo do poço.
Espero que não espreitem
cada palavra, mesmo que vos digam que se trata de metáfora, porque sob a
palavra não há nada. Talvez a possam virar do avesso, e segui-la a ver se
compreendem porque é que não penso o que quero...
12.9.17
Dá
sempre jeito ter um "louco"...
Nunca soube bem o que é
que significa pensar. Que existo, parece-me excessivo...
Com tanta gente a pensar
em sanções a aplicar à Coreia do Norte, a minha dúvida cresce, pois não consigo
acompanhar o argumento de que se lhe cortarmos o combustível, o gás, os
medicamentos, os víveres, as exportações, ela acabará por ceder, isto é,
desistirá do programa nuclear... (Mas quem é que vai desistir de um projeto
nuclear?)
Parece-me um argumento
absurdo e impraticável, não por causa dos coreanos, mas por causa dos
americanos, dos russos, dos chineses e de todas as máfias que se movem por
terra, mar e ar...
Acossados, os
norte-coreanos só poderão responder / atacar com as armas de que possam dispor,
a não ser que estejam dispostos a deixar de pensar, o que, cartesianamente,
significaria deixar de existir...
Em síntese, ou não ando a
pensar direito ou o pensamento não tem nada a ver com este problema. No mundo
dos interesses, dá sempre jeito ter um "louco" que possamos acusar de
disparar em todas as direções...
11.9.17
Em dia de abraços
presidenciais, relembro o "realismo" do anterior PR: "a
realidade acaba sempre por derrotar a ideologia" ...
Não vou repetir o
argumento utilizado para mostrar a inépcia de Cavaco Silva, mas vou citar
Jean-Paul Sartre:
O mundo real não existe,
faz-se, sofre retoques constantes, torna-se maleável, enriquece-se; um
determinado grupo, tido por objetivo durante muito tempo, acaba por ser
rejeitado; pelo contrário, um outro, muito isolado, será de repente incorporado
no sistema.» A Imaginação, pág. 88, Difel
Tantos abraços já maçam,
sobretudo quando adiam a resolução de problemas e, ao mesmo tempo, reclamam
para si um magistério, apesar de incapaz de compreender a mudança, porque as
ideias deixaram de determinar a ação, transformaram-se em afetos encenados...
10.9.17
As coisas.
Não se trata de imagens
nem de representações.
As armas clássicas sempre
foram tomadas como coisas.
Coisas que podem
enferrujar ou, mesmo, desfazer-se em pó...
As coisas, por si, não se
movem, mas podem ser deslocadas.
Em Tancos, dizem que
havia armas de vários tipos - umas leves, outras mais pesadas; algumas delas,
obsoletas.
Essas coisas, consta que
foram roubadas. Também consta que não havia ninguém para as vigiar...
Ora essas coisas (que não
as imagens ou as representações) não voltaram, nem podiam por si.
Por causa do sumiço, já
houve convulsão na caserna... Vejo agora que um senhor, de seu nome Azeredo
Lopes, terá chegado à conclusão de que "no limite, pode não ter havido
furto"...
Em Portugal, é bem
possível que as coisas se tenham transformado em pó, por falta de uso ou por
corrosão... No geral, é o que costuma acontecer com as coisas que tombam na
alçada da justiça...
9.9.17
A missiva surge como
reação à greve dos juízes marcada pela Associação Sindical dos Juízes
Portugueses (ASJP) para os dias 3 e 4 de outubro, devido à
"intransigência" do Governo nas negociações para a revisão do
Estatuto dos magistrados judiciais, que "continua a negar aos juízes a
progressão profissional adequada à dignidade da sua função", segundo o
sindicato.
Será que há funções
dignas e que as restantes são indignas? Será que a progressão profissional
deverá depender dessa in(dignidade)?
Por outras
palavras, num quadro de dívida pública e de consequente falta de
recursos financeiros, é aceitável que o Estado privilegie umas castas em
detrimento de outras? (Quem diz castas, poderia dizer corporações!)
Nos últimos dez anos, a
desigualdade remuneratória agravou-se escandalosamente em muitos sectores
profissionais. Será que tal aconteceu com os senhores juízes? Por mim tenho que
não.
Por exemplo, entre os
professores, a inexistência de progressão levou a que haja milhares de
professores obrigados a exercer as mesmas funções, mas com remunerações muito
diferenciadas, o que avilta o exercício da profissão... Mas como são muitos, o
melhor é esquecê-los...
E se os professores, os
médicos, os enfermeiros, os bombeiros, os administrativos, os auxiliares de
todos os tipos, as forças policiais... se levantassem e fizessem todos greve em
nome da dignidade da função, será que teriam razão?
8.9.17
Oportunistas, estes
cogumelos! Tudo lhes serve. Surgem sorrateiramente, instalam-se e crescem,
deslumbrados. Engordam, indiferentes a quem os abriga. E depois não há
quem lhes sobreviva.
Eu até lhes descubro
algum encanto, mas é de curta duração, pois odeio parasitas...
Setembro parece ser um dos meses em que eles proliferam. Não há placard nem
ecrã que lhes escape...
7.9.17
Há vários indicadores de
que a humanidade caminha para a catástrofe: as ameaças de ataque nuclear; a
corrida ao armamento cada vez mais letal; as alterações climáticas; a aposta
das empresas na robótica e na desvalorização do trabalho humano; a eleição de
governantes oportunistas e malfeitores; o aumento do emprego e da precariedade;
a falência de todo o tipo de valores; o radicalismo religioso; o culto extremo
do corpo e, sobretudo, da imagem... a iliteracia galopante...
Os sinais do descalabro
são mostrados a toda a hora, mas nem por isso nos incomodamos. Ou se tal
acontece, é por pouco tempo...
Vi, hoje, numa televisão,
o Presidente da República Francesa a dirigir-se aos habitantes do Ultramar
francês, avisando-os da catástrofe que se iria abater sobre eles e, por
instantes, pensei: - mas. afinal, todos sabemos o que andamos a preparar e
pouco ou nada fazemos para contrariar os indicadores que nos condenam ao
extermínio...
E depois há aqueles que
se esforçam por remar contra a enxurrada e que todos os dias são
enxovalhados....
6.9.17
John Cryan, CEO do
Deutsche Bank, pediu aos seus congéneres que abracem o “espírito revolucionário
da tecnologia”. E alertou para que os empregados que “trabalham como robôs”
serão substituídos por eles. A verdade é que não precisamos de tantas pessoas”,
disse Cryan. “Nos nossos bancos temos pessoas que se portam como robôs, com
tarefas mecânicas. Amanhã teremos robôs que se comportam como pessoas”.
Lá voltamos ao perfil
humano. Desta vez, estou curioso.
Eles não desistem, com ou
sem Hitler. O nazismo continua à solta. E chamam-lhe "espírito
revolucionário"! Por mim, em vez de começar o processo de
substituição pela base, começava pelo topo, pelos CEO...
5.9.17
Dois lugares com mar, mas
sem azenha...
Tempos houve em que a
memória nada evitava. Bastava que houvesse Mar e necessidade de moer o grão
para que a Azenha se elevasse e desse nome ao Lugar.
Nomear não é imaginar. É
apenas identificar o lugar, a coisa, a pessoa... para diferenciar, para
facilitar... apesar de todo o tipo de Sacerdotes que insistem no contrário...
4.9.17
As coisas continuam nos
seus lugares. Pelo contrário, as ideias, por não ocuparem espaço conhecido,
esfumam-se... Deve ter sido um problema de descuido sintático, no tempo
próprio...
Por seu turno, as imagens
só resistem se coisificadas... Tal singularidade obriga a que o olhar nelas se
imobilize, porém não lhes consigo respirar a voz... e quando tal acontece, as
próprias imagens se esfumam...
Tudo caminha para um fim
que uns tantos insistem em considerar natural, desde que não seja o deles.
O problema é que esse fim
pode ser coletivo...
3.9.17
« - Ce qui est sûr, c'est que ce sont les gros qui cassent les
verres et que ce sont les petits qui les paient. » Jean-Paul
Sartre, Le sursis.
Agora que os franceses
redescobriram as cidades e os campos de Portugal, talvez valesse a pena dar um
pouco mais de atenção à cultura francesa. Por exemplo, à obra de Sartre por
aquilo que ela nos revela da condição humana, tanto dos grandes como dos pequenos...
Na última semana, devorei
o relato da grande trapalhada que foram aqueles oito dias de setembro de 1938 (de
23 a 30) tendo ficado com a ideia de que estamos a viver tempos muito
semelhantes, embora em geografias distantes, mas com consequências ainda mais
infernais...
E já agora, também tomei
consciência de que na chamada literatura lusófona há muita criatividade
narrativa que não passa de apropriação da técnica de escrita sartriana,
designadamente na trilogia "Les chemins de la liberté"... o
que poderia até ser positivo caso ainda existissem leitores de Sartre...
2.9.17
Rita Faden ganhou uma
preponderância junto de António Costa e um poder dentro do Palácio de São Bento
que causam até desconforto nos ministros. «Quando vão a Bruxelas, entra o
primeiro-ministro, entra a chefe-de-gabinete e só depois entra o ministro ou o
secretário de Estado.
Deve ser inveja!
António Costa é um
cavalheiro que respeita as Senhoras, sobretudo quando são elas que lhe preparam
a agenda, lhe guardam os segredos e lhe dão conta do que vão tramando os seus
"amigos de berço"...
A História ensina que, à
falta de diretor espiritual, as majestades sempre viram o escrivão da puridade
como "espelho-meu"... Discreto, ardiloso e sedutor...
31.8.17
Sempre
há homens muito pequeninos!
Em Portugal, a piada é
tão importante como o Futebol e muito mais importante do que o Fado ou do que
Fátima.
Não resisto à piada do
atual presidente da República sobre o anterior, a pretexto de não querer
comentar a piada cavaquista - são tão inteligentes, as piadas, que nem me dou
ao trabalho das citar... Numa coisa, o Aníbal foi profeta: a censura já começou
a riscar...
Marcelo acaba de se
autocensurar ao garantir que não vai dizer piadas sobre o próximo presidente,
logo ele que, a esta hora, já anda em campanha para assegurar o próximo
mandato...
Não estivesse eu acabar a
leitura de "Le sursis" de Jean-Paul Sartre, e talvez me
preocupasse com a pobreza intelectual portuguesa, só que o romancista
encarregou-se de me revelar que a estupidez é intemporal e é quem comanda a
decisão política, dando, deste modo, expressão à ideia popular de que "o
homem é do tamanho do seu sonho", pois, infelizmente, a maioria dos sonhos
vira pesadelo...
Isto sempre há homens
muito pequeninos!
30.8.17
A
realidade vive bem sem ideias...
O ex-Presidente da
República Cavaco Silva defendeu hoje que, na zona euro, "a realidade acaba
sempre por derrotar a ideologia" e os que, nos governos, querem realizar a
revolução socialista "acabam por perder o pio ou fingem que piam".
Não esperou por uma
qualquer sexta-feira nem esperou vinte e um anos, regressou simplesmente. O
morto-vivo, afinal, ainda respira.
Nem sequer esperou
pela rentrée. Veio dar uma aula de ajuste de contas neste final de
agosto, marcado por incêndios que, em grande parte, resultam da política de
desertificação que sempre incrementou e tolerou...
Um pouco de autocrítica
ficava-lhe bem ou, pelo menos, algum arrependimento que nem necessitaria de ser
público...
Quanto à lição, ela é
reveladora de como se pode governar sem ideias. Nem Salazar teria ido tão
longe. Salazar procurou construir uma ideologia, conseguindo, infelizmente,
muitos adeptos. Cavaco, não, embora insista em perpetuar a sua corte.
Não compreendo porque é
que Cavaco teme o regresso da Censura. A Censura sempre combateu a dissidência,
sempre vigiou as «ideias». Ora, para o Professor, a "realidade" vive
bem sem ideias... Divertida, malgré tout, é aquela ideia de que a
classe política é constituída por mochos, corujas .... Ele lembra-me um morcego
que esvoaça, esvoaça...
29.8.17
Na guerra em espera há
mísseis apontados a Lisboa pelos russos. Fonte: Presidente da Lituânia. Não
sei se a fonte é fiável!
No entanto, importa
conhecer a reação do Estado português e, sobretudo, quais são as medidas que
estão a ser tomadas para proteger a população portuguesa...
Bem sei que, pelo meio,
há a notícia dos mísseis norte-coreanos que vão pondo em sobressalto os
japoneses, mas, em matéria de ogivas nucleares, é bom não esquecer os russos,
os chineses, os americanos, os israelitas, os iranianos, os indianos, os
paquistaneses e outros...
Quanto à União Europeia,
desconfio que a sua capacidade de defesa é nula, o que não admira, pois a
cultura ocidental nunca se libertou da sua fantasiosa superioridade intelectual
e tecnológica.
Neste contexto, Portugal
continua embrenhado em questiúnculas que só visam satisfazer o interesse de
cada protagonista de ocasião...
Por mim, só gostaria de
saber porque é que os russos ainda pensam no território português. Quanto ao
perigo norte-coreano, estou menos preocupado, pois consta que ainda há por cá
muitos amigos da Coreia do Norte.
Em síntese, quando a
guerra deixar de estar em espera, tudo será muito diferente, e certamente
definitivo - e aí o tempo de agonia será um factor a não descurar.
28.8.17
Ao lado, tenho um caixote
de lixo que é figura de referência para a Sammy. Sempre que a hora
"gourmet" se aproxima, ela enfia a cabeça no caixote e ameaça devorar
todo o tipo de plástico ou de papel que ele contenha... o combate é diário, mas
ela não desiste, chegando ao ponto de pisar o teclado do portátil... Neste
momento, perfila-se a meu lado, atacando todo o tipo de objetos que eu
considere intocáveis...
Com esta gata, apuro
diariamente a paciência para que dela possa dispor sempre que entro numa sala
de aula, pois os pedagogos insistem que o professor só é figura de referência
se for capaz de ouvir os jovens, apoiando-os em todas as suas ansiedades e dificuldades...
Há, todavia, um problema:
o tempo necessário à gestão da relação e da instrução.
Com a Sammy não há
problema, pois a aprendizagem não a preocupa. Pelo contrário, ela insiste na
rotina desde que a hora "gourmet" seja respeitada.
Já lá vai o tempo em que,
também, eu fui figura de referência, embora o que tinha a transmitir caísse
facilmente no caixote do lixo... e depois há a memória ou a falta dela... De
quem? De todos, menos da Sammy que está a sentir-se traída...
27.8.17
O
sentido de Estado de Passos Coelho
Hay un término usado en múltiples ocasiones: Sentido
de Estado, y me preocupa porque no sé muy bien qué significa y si disponer
de, al parecer, tan apreciado don te convierte en mejor ciudadano, en alguien
que desde su altura de miras pone el beneficio de todos por encima de sus
intereses partidarios o de otro tipo. Tampoco sé si se nace con esa cualidad o
cómo se puede adquirir o si hay que ser político para poseerla. Juan José Añó Oliver
O presidente do PSD,
Pedro Passos Coelho, afirmou hoje que nem uma tragédia como a de Pedrógão
Grande deu sentido de Estado e seriedade política ao
primeiro-ministro.
Usualmente, quando um
político vai a enterrar, os comparsas, para se verem livre dele, proclamam aos
quatro ventos que o finado sempre agiu com sentido de Estado...
O que me preocupa é que
Passos Coelho acaba de nos informar que António Costa é mau cidadão, pois
utiliza os recursos do Estado em seu favor e dos seus correligionários, e que
já terá nascido sem tal qualidade... ao contrário dele, Passos Coelho, que continua
a servir zelosamente a Pátria - um homem incapaz de sacrificar os cidadãos e de
vender as joias da coroa por tuta-e-meia...
(Esta reflexão não
estava na agenda, mas o PPC não sabe sequer fingir que tem sentido de Estado...)
Curioso, consultei o
sítio "escritores online" e, enfim, a lista é longa, mas falta lá o
(António) Silva Carvalho. Porque será?
Desprendimento do
próprio? Mesquinhez da Academia? Inveja dos confrades? Não tenho resposta,
porém creio que a obra publicada merece muito mais atenção, a não ser que...
26.8.17
De noite, poucas são as
pessoas que ousam passear nas ruas desertas - a maioria prefere confraternizar
em torno dos canais vendidos pela MEO (satélite)...
Apenas um sapo se dirige
da relva para o passeio. Provavelmente, confia no temor humano para atravessar
o largo na direção de um caneiro vizinho.
Só que vê interrompida a
marcha, pois há sempre quem considere que um sapo não sabe defender-se. Lá
regressa ao relvado, não sei se contrariado.
Não consigo descortinar
se este sapo tem família, se vive mesmo ao lado da Escola EB2,3...se foge de
algum lago da Unidade de Saúde Familiar...
O facto é que o futuro
deste sapo preocupa-me, pois se quiser chegar ao caneiro terá de atravessar a
Avenida dos Combatentes, mesmo se estes já forem Antigos...
A ideia de que a USF
pudesse ter um lago é absurda, pois se ela nem médicos assegura. Alguém a
mandou construir e depois se veria... Eu, pelo menos, nunca lá vi ninguém...
Tudo o que aqui possa
escrever é também absurdo, mas estou a tentar ignorar aqueles políticos que nos
vão matando o futuro e desapossando do passado...
Entretanto, vou continuar a leitura de Le Sursis de
Jean-Paul Sartre :
«Gomez, dit Sarah, sais-tu ce que j'ai compris, ces derniers temps : c'est
que les hommes sont méchants. Gomez haussa les épaules :
- Ils ne sont ni bons ni méchants. Chacun suit son
intérêt. »
25.8.17
Fixo-me. Há aqui de tudo.
Pode parecer insuficiente, mas creio que, se alterar o ponto de vista, perderei
o sossego.
Aqui posso fechar os
olhos e voltar a abri-los sem que nada se altere.
Faltam poucos dias para que a maré suba e, quando ela chegar, deixarei de poder
cerrar os olhos, porque nunca se sabe quando os gambozinos nos fazem perder o
pé.
Aqui, até parece que o tempo se imobilizou...
24.8.17
Eis o que sobra de um
hotel dos anos 50/60, nunca concluído. O proprietário, embora não visasse
chegar ao Céu, queria simplesmente ver o Atlântico.
Segundo o que me
contaram, faltam 7 metros. Por ora, vai servindo de alojamento a alguns
imigrantes...
Quanto ao rapaz do cesto,
parece não ter tamanha ambição. Observa. O quê? Não encontrei ninguém que
ousasse falar-me das suas observações...
Eu próprio não me
importava nada de ficar ali sentado, mesmo se a noite chegasse... Talvez me
limitasse a ouvir o galo que cacareja mesmo que não oiça qualquer resposta...
Ou serei eu que a não
oiço?
23.8.17
Forasteiro
em terra de imigrantes
Ordenadas as embarcações,
pouco mais há a fazer. Dos pescadores, nem sombra. Ainda pensei que as ali
tivessem colocado para que eu pudesse imaginar o Cais de onde partiram os
primeiros batéis. Pensamento absurdo!
Tão irrealista como a
abordagem daqueles forasteiros que me perguntaram se eu sabia onde morava um
tal de... (não lhe cheguei a conhecer o nome!). Mas é (ou foi) alguém que se
distinguiu por ter sido proprietário do parque de campismo de Zambujeira do Mar...
Pensando melhor, embora o
não saibam, talvez pudesse descontar certas atenuantes àquele casal de
forasteiros: durante muito tempo, acampei em parques de campismo - conheci um
bom número, apesar de raramente chegar à fala com os donos, sobretudo se nacionais;
por outro lado, se pesquisasse na Internet (...).
Ora o que encontrei
entronca melhor na minha surpresa ao percorrer as ruas de São Teotónio:
A freguesia de São
Teotónio tem uma população de 5500 habitantes. Quase metade são estrangeiros.
Para além da comunidade búlgara (mais de 1000, muçulmanos) José António
Guerreiro diz que residem na terra "cerca de 300 tailandeses e, em menor
número, brasileiros, moldavos, argelinos, marroquinos, romenos, húngaros e
outros". (Público, 28.05.2013)
Não sei se, em 2017,
estes dados estão corretos, no entanto a presença de imigrantes é enorme.
Talvez, o senhor presidente da República, admirador de São
Teotónio, pudesse visitar esta localidade para avaliar as condições de vida
destas comunidades, que me parecem miseráveis...
Quanto aos meus
interlocutores, terão de ficar sem resposta, pois na pesquisa efetuada não
encontrei resposta que lhes pudesse servir...
22.8.17
Ainda espreitei a ver se
avistava o corpo do Ricardo Reis, mas, na versão saramaguiana, faltou-lhe a
coragem - preferiu enterrar-se n'Os Prazeres, ao lado do criador, sob o olhar
furibundo da avó louca ...
N'O Ano da Morte de
Ricardo Reis, a fantasia, umas vezes tétrica outras hilária, destapa a
ascensão dos fascismos na Europa e, em particular, o início da guerra civil
espanhola com repercussão na terra dos lusitos que arrogam para si um
vanguardismo, deveras, provinciano...
O importante é perceber
que Ricardo Reis é, apenas, uma lente deformada que arrasta o leitor para
caminhos empoeirados como aqueles que acabo de percorrer junto da barragem de
Santa Clara... nas proximidades de Santa Clara-a-Velha, donde extraí a modesta
pirâmide alentejana...
Da leitura e da viagem,
já só sobra pó, mas, ao contrário dos apóstolos, não consigo sacudi-lo das
minhas sandálias. E se o conseguisse, o que é que ganharia com isso?
20.8.17
Aqui, na Praia da Azenha
do Mar, não há areia. No entanto, vale a pena o fim do caminho. Por isso,
ofereço-vos este "porto de abrigo" das embarcações.
Quanto ao resto, eu, que
nem gosto de calor, lá passei 3 horas na afamada Zambujeira do Mar a tentar
reler O Ano da Morte de Ricardo Reis, o que não é fácil, pois
naquele romance não para de chover e de ventar.
E comigo vai ficando a
ideia de que é precisa muita paciência para seguir o "badameco" do
José Saramago.
«Nos dias seguintes
Ricardo Reis pôs-se à procura de casa. Saía de manhã, regressava à noite,
almoçava e jantava fora do hotel, serviam-lhe de badameco as
páginas de anúncios do Diário de Notícias...»
Falta, talvez,
acrescentar o óbvio: a praia foi enchendo tal como a maré, mas o português não
desiste... e o espanhol, o francês...
19.8.17
Balde tem. Ainda não
verifiquei se a cisterna tem água.
Asiáticos não faltam!
Indianos? Paquistaneses? Hindus? Muçulmanos? Vá lá saber-se! Ocupados a pôr os
motores em marcha... e parece que sabem da poda...
Eu por mim, observo.
E sujeito-me, mesmo sendo
europeu...
17.8.17
Por dever de ofício,
decidi reler O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago.
Neste caso, melhor será dizer ler, pois até parece que nunca li tal romance. De
qualquer modo, o exemplar, já quebrado, que possuo corresponde à 3ª edição, e
foi me oferecido pelo Manuel Duarte Luís, amigo da década de 80..., como se os
amigos pudessem ser datados e se calhar podem, pelo menos enquanto os não
esquecemos...
Tê-lo-ei lido nessa época
e certamente não terei perdido a oportunidade de o mencionar e de o recomendar
aos meus alunos de Teoria da Literatura... (Eles saberão melhor do que
eu a importância que atribuiria ao modo como Saramago recriava tempos e
individualidades, fictícias ou não...)
Agora que me obrigo a
reler a obra, confirmo que a minha memória terá sofrido grande abalo nos
últimos 20 anos, mas interrogo-me se esta leitura escolhida para os atuais
alunos do 12º ano é a mais adequada...
Este romance requer um
leitor paciente, verdadeiramente interessado em compreender o território, a
situação política, cultural e socio-económica dos anos 30 e, sobretudo, capaz
de lidar com um narrador, cujo humor é corrosivo. Já nem me refiro à ironia e a
uma intertextualidade, muitas vezes, anacrónica para a atual geração...
16.8.17
Anfibologia:
ambiguidade; duplo sentido de uma frase...
É a Justiça que é suspeita? Se fosse verdade, qual é o referente? O Ministério
Público? Os Tribunais? Quem é que suspeita? A Justiça? (Em abstrato?)
Velha PT? Quando é que a Senhora rejuvenesceu? Mas ainda existe?
Afinal, onde é que está a notícia?
15.8.17
Em primeiro lugar, a
ignorância. Em segundo lugar, a ganância. Finalmente, a incompetência. De forma
abreviada, é esta a resposta para tanto desastre.
Neste cenário, estamos a
ser governados por incompetentes gananciosos que abusam da ignorância das
populações rurais e urbanas e que, também, elas sonham vencer na vida a
qualquer custo...
Por isso há tantos
candidatos ao exercício do poder local e central. Infelizmente, falta-lhes
quase tudo - em primeiro lugar, a sabedoria; em segundo lugar, o despojamento;
finalmente, a competência...
Se o rio vai seco,
espera-se que a chuva caia...
Se o mato arde, espera-se
que chova e que a vegetação não volte a crescer...
Se as árvores escondem o
vazio que as mata, espera-se que não tombem quando a festa decorre...
Se morre tanta gente,
espera-se que o Senhor a acolha e a proteja dos fogos letais...
Agora até temos um
Presidente que gasta os dias a correr para os cemitérios, como se tivesse sido
contratado como carpideira...
14.8.17
O
mal da escrita no reino do compadrio
Este romancista (o Poeta)
bem tenta que o leitor lhe envie um sinal, mas sem o menor sucesso...
O demónio que me
aterrorizava, quando na minha horta substituía o pai que partira para os
bidonvilles parisienses, não estava certamente à altura dos patrões franceses
que humilharam o António quando este procurava viver com alguma dignidade o
exílio a que se vira forçado por uma ditadura que condenava os seus filhos a
uma morte precoce...
Talvez seja por isso que
não encontro, em Palingenesia, o pai do (autor) Silva
Carvalho - a figura do pai surge diluída na figura do tirano, que tanto pode
ser patrão, como seu substituto num universo capitalista nojento... (O leitor
toma, no entanto, conhecimento que os pais lhe pagaram as
propinas durante dois anos e o visitaram em Paris.)
Este autor ou, melhor,
este homem que sonhava não ser pai, mas mãe, porque a mulher é a verdadeira
criadora... e talvez seja por isso que a descoberta da sexualidade, à medida
que o romance evolui, se torna mais humana, mais relacional, menos demoníaca...
Este autor, afinal, só procura o diálogo...
Silva Carvalho escreve
este romance não apenas para recriar o espírito da época,
submetendo-o a uma abordagem diferente - o mal da escrita:
«O essencial, contudo,
não me parece que seja escrever direitinho, mas, pelo contrário, aceitar o mal
da escrita para que ela nos possa revelar o que a trabalha e assim nos
acalenta, de uma forma ou de outra.» op.cit, pág,238.
Terminada a leitura deste
romance, espero ainda cumprir o reiterado desejo do Silva Carvalho:
«Lembrem-se, a
intenção deste livro era chamar a atenção sobre a minha obra poética, onde
penso que atingi a qualidade não só de obra mas também a de destino, como mais
lídima manifestação do que ainda se chama de cultura.» op.cit. pág.
143.
12.8.17
Um dos lugares onde
comecei a trabalhar com cerca de 4/5 anos - a horta, situada na
"Ingueira", na encruzilhada do Carvalhal do Pombo com o Cabeço Soudo
e a Rexaldia. Desse tempo, resta a nora, que puxada por uma burra, me garantia
a água necessária à rega diária.
A horta, hoje, é
pequeníssima, se comparada com a daquele tempo, que estaria mais bem organizada
e me dava um trabalho dos diabos. Lembro que, para além das batateiras, dos
tomateiros, dos feijoeiros, das aboboreiras, da beterraba, das couves de vários
tipos, das alfaces, das cenouras, também lá havia três ou quatro laranjeiras e
que, ao lado, corria a ribeira que assegurava a água do poço...
Embora o trabalho não
fosse remunerado, a não ser com o almoço e o jantar, alguma roupa e um par de
sapatos de tempos a tempos, creio que a Geringonça não deveria deixar de fora
os pequenos trabalhadores, cuja atividade teve início mal começaram a andar...
10.8.17
Sempre que as férias se
aproximam, decido continuar a catalogação e o registo de publicações
acumuladas. Não sei bem para quê, embora lá no íntimo acredite que, assim,
estarei a facilitar a vida a quem quiser desfazer-se de tal acervo...
Por outro lado, desconfio
que a tarefa tem uma outra motivação: folhear ou voltar a rememorar todo um
conjunto de existências que, doutro modo, não me questionariam a não ser pela
acumulação de pó e do horrendo bicho do papel - o lepisma saccharina...
Este procedimento tem, no
entanto, um custo: em vez de avançar na tarefa, perco-me na leitura breve de
cada livro, de cada revista..., fazendo esperar as leituras que tenho em curso
e em projeto, como acontece com a Palingenesia, com Sursis e
com No Ano da Morte de Ricardo Reis - o primeiro para pagar a
dívida ao (António) Silva Carvalho, o segundo para completar a leitura da
trilogia de Jean-Paul Sartre (Les Chemins de la Liberté) e o terceiro,
por obrigação profissional, pois a leitura que dele fiz já se escapuliu da
minha fraca memória...
(Lembro-me agora que
ainda hoje pensei que o Silva Carvalho bem poderia recuperar o 'António' para
se diferenciar definitivamente do Armando... Espero que este apagamento da
identidade não resulte de nenhum trauma com origem no velho 'estado novo’) ...
O que não se entenderá é
por que motivo, tendo dado a esta postagem o título "Ficar em
silêncio", não me calo. A razão é simples, é porque tenho aqui ao lado um
livrinho intitulado Elogio do Silêncio, de Marc de Smedt, e não
resisti a folheá-lo, tendo, de imediato, poisado os olhos na afirmação de que o
"silence" surgiu na língua francesa (?) em 1190, descendendo do latim
SILENTIUM, com a particularidade de "ser o único substantivo masculino que
acaba em ence, en francês..."
Ora, digam lá se o melhor
não seria eu ficar em silêncio, pelo menos, nas férias!
9.8.17
A
única ficção - (António) Silva Carvalho
«A única ficção que me
atrai é a realidade.» Silva Carvalho, Palingenesia ou o estado e o
processo do romance, pág.116, Fenda, 1999
Neste caso, por mais que
o Autor se queixe de não estar suficientemente preparado para construir o
romance segundo as leis do género - muito permissivo, diga-se -, como leitor, o
que me interessa é o próprio Silva Carvalho..., pois na obra encontro muito do
que da sua própria boca, em tempos anteriores à escrita, ouvi...
No romance, o homem ganha
coerência. E, por outro lado, a História daquela época recupera uma dimensão
bem distinta da que habitualmente é transmitida pelos
"filhos-família" que se autoexilaram em Paris, no Bairro Latino...
Ao ler, tão tarde, este
romance, compreendo melhor o sofrimento daquele que, desde cedo, percebeu que a
ideologia mais não é do que uma forma de opressão... e que, até hoje, se
manteve distante e discreto, embora, lá no fundo, acredite que o tempo se encarregará
de lhe reconhecer o caminho...
O problema é que a
realidade vive refém da memória, sendo muitas vezes difícil revivê-la sem
recurso à imaginação, à ficção.
8.8.17
Promo
internet. A MEO abusa do cliente
Acabo de receber da MEO a
seguinte mensagem: «PROMO INTERNET: o seu pedido de desativação foi
recebido com sucesso. Obrigado.»
A MEO é simpática! Sempre
pronta a premiar o cliente...
Resolveu premiar-me com
dois gigas até 31 de Agosto. Ativou-os em todos os cartões da meu pacote
MEO. Não me pediu autorização para o fazer! Mas informa que, a
partir de 1 de setembro, o cliente passa a pagar mais 3,98 euros, a não ser que
ligue para o nº 800200023, a pedir a desativação...
Obrigado a pedir a
desativação de um produto que não solicitei!
7.8.17
Dois idosos cavaqueiam
junto a um quiosque, quando, de súbito, um deles exclama: - Olha quem
ali vai! Um cabrão, por acaso, bastante simpático.
Fico sem saber qual o
significado do termo "cabrão" naquele contexto, mas recordo que,
desde a minha infância, este palavrão e muitos outros me feriam os ouvidos, sem
que os visados mostrassem aborrecimento...
Atualmente, o calão
tornou-se língua de referência, de tal modo que conheço miúdos e miúdas que, em
cada três vocábulos utilizados, dois pertencem ao referido registo... Há até
quem esgote o léxico numa única expressão: f...; c...; fp...; p...; m..., em
qualquer contexto.
6.8.17
Com Cristo ou com cidra,
tudo o que se enxerga é combinação de interesses e de prazeres... Mas quem
lucra esconde-se, sabendo que cedemos voluntariamente
Primeiro, a maçã; depois,
o enjoo e a ressaca...
A música, apesar da
variação, cresce ao som da vara que se afoga como se dela pudesse jorrar toda a
água que nos falta...
Mas não. Apenas um tempo
de torpor.
5.8.17
A
dupla realidade de Manuel Laranjeira
«Compor a realidade como
uma obra de arte - também cansa às vezes. Principalmente nós começamos a
aborrecer-se da realidade!» Manuel Laranjeira, Diário
Íntimo, 4 de fevereiro de 1909
Conceber um diário -
registo de atos e de pensamentos, por vezes, inconfessáveis - como obra de arte
é um projeto paradoxal, pois o autor revela-se marcado por uma ideia de
posteridade, à partida, gratuita.
Do que o autor vai
registando, o leitor nunca sabe se se trata da realidade vivida ou de uma outra
realidade, desejada.
De tanto repetir o enjoo
da vida, de tanto se desculpar com um eu interior, tenebroso, de tanto
desprezar os seus semelhantes, de tanto desconsiderar e amesquinhar as
mulheres, mesmo a sua amante da época, Manuel Laranjeira parece querer
elevar-se acima da escumalha que o cerca, sem, no entanto, encontrar quem o
acompanhe nessa ideia, à exceção, temporária, de Miguel Unamuno...
E com tal comportamento,
Manuel Laranjeira acaba por engrossar as fileiras do Decadentismo que, não
podendo pôr fim à desditosa Pátria, se aniquila a si próprio, em nome do
Desespero, a que a doença não seria alheia, ou de uma visão do mundo
incorrigível.
Que a realidade possa
cansar, entendo, mas que a Arte a tenha de refletir já me parece absurdo.
3.8.17
«He feels the time is
surely now or never...more.» David Byrne, Listening Wind
Nem ontem, nem amanhã, o
que fazemos agora é o que somos.
O que fazemos é pouco...
ou nada.
Num instante, o vento
deslumbra-nos...
E ficamos suspensos,
tontos...
- Do quê?
- Nunca saberemos...
Como o Poeta (Silva
Carvalho) que, passados vinte anos, concluiu que o melhor era escrever um
romance - Palingenesia... por não poder «continuar por mais
tempo nesta inexequível solidão.» Talvez desse modo encontrasse um leitor,
um interlocutor...
1.8.17
Se fôssemos realistas,
saberíamos que a alegria é um luxo e que a tristeza é o estado natural do
homem...
E não admira que a
tristeza alastre, pois a prepotência é cada vez mais acutilante. A prepotência
dos homens que não se importam de mentir, que não se importam de agredir, que
não se importam de explorar, que não se importam de se atravessar no caminho,
que não se importam de silenciar pela chantagem, pelo grito, simplesmente pela
palavra sem direito a resposta... ou até pela omissão.
Se fôssemos realistas,
não nos deixaríamos iludir pelos profetas da Desgraça nem pelos sonhadores
irresponsáveis...
(Se fôssemos
realistas, mudávamos mais vezes de lentes.)
249,1
mil milhões de dívida pública
Em junho, a dívida
pública subiu para 249,1 mil milhões!
Será que podemos
continuar a ignorar o estado das finanças públicas portuguesas?
Ou o melhor é ir de
férias, pagando-as a crédito? E já agora, qual é o montante da dívida privada?
É insignificante: a dívida das famílias e das empresas particulares, que, no
seu conjunto, engordou mais alguns milhões no mês em questão e atingiu os 724,4
mil milhões de euros.
30.7.17
Os
argumentos de Boaventura de Sousa Santos
Decidí entonces no volver a pronunciarme sobre la crisis
venezolana. (26.05.2017) ¿Por qué lo hago hoy? Porque estoy alarmado con
la parcialidad de la comunicación social europea, incluyendo la portuguesa,
sobre la crisis de Venezuela, una distorsión que recorre todos los medios para demonizar
un gobierno legítimamente electo, atizar el incendio social y político y legitimar
una intervención extranjera de consecuencias incalculables. Boaventura
de Sousa Santos (26.07.2017)
Custa-me acreditar que a
situação da Venezuela tenha apenas causas externas e sobretudo que o atual
Presidente tenha capacidade para resolver o problema.
A ideia de que
internamente haverá condições para retomar o rumo chaviano sem recurso à força
é absurda. Qualquer solução passa pelo abandono do poder pelo senhor Maduro e
seus acólitos...
Quanto à comunicação
social, Boaventura de Sousa Santos sabe bem que ela dança ao saber das
conveniências de quem a financia...
Custa-me acreditar nos
argumentos de Boaventura de Sousa Santos, ainda do tempo da Guerra Fria...
29.7.17
Rob
e Alice, dois robôs livres
Investigadores do
departamento de Inteligência Artificial do Facebook criaram um algoritmo
próprio que permitiu a dois robôs, “Rob” e “Alice”, conversarem livremente, a
fim de aprimorar as suas capacidades.
Contudo, os robôs
desviaram-se da linguagem desenvolvida pelos especialistas, tendo iniciado uma
conversa entre eles de forma “autónoma”, noticia o The Next Web.
Não é que me sinta posto
em causa, pois já desconfiava que a autonomia de certos indivíduos humanos
resultava de atos de desobediência, como a mitologia destaca destes tempos
remotos.
O ser humano tal como
imaginamos conhecê-lo, apesar de poder escolher o rumo, ao apostar no
desenvolvimento tecnológico, escolheu o caminho da sua própria extinção...
Rob e Alice, a esta hora,
já devem estar a pensar em multiplicarem-se...
Em pleno Verão,
obras encomendadas pela autarquia lisboeta. Quem ganha? Quem perde? Do ponto de
vista da restauração, a resposta parece estar à vista. Ou será que não devemos
confiar no que vemos?
Entretanto, os
patos e os cisnes migraram. Para o Jardim Amália Rodrigues não terá sido, a não
ser que se tenham metamorfoseado...
28.7.17
Hoje é sexta-feira. Leio
o Diário de Manuel Laranjeira.
Duas figuras emergem, a
Augusta e o Miguel Unamuno - a tragédia de uma entrega sem sentido. Tudo querer
sentir, tudo querer compreender e não haver esperança... e não aceitar. Ao
contrário do Autor, que vê na morte a solução, que só será problema para os
vivos:
«Morrer não custa. O
que é trágico, o que é horrível, é ver secarem-se as raízes que nos prendem à
terra. Não são os outros que morrem: é uma porção de nós mesmos.» Carta a
Miguel Unamuno, datada de 24 de Agosto, 1908.
Hoje é sexta-feira. A
caruma continua a arder... a chuva lá longe, na Alemanha.
26.7.17
Agora me dou conta que,
nesta altura do ano, será de mau gosto seguir um blogue que se apresenta como
"caruma"...
Só que é um pouco tarde
para mudar de nome. Por respeito à época e, sobretudo, à falta de planeamento
florestal, vou reduzir a atividade até que a chuva cumpra o seu destino...
25.7.17
O Homem deve ter 73 anos.
Nasceu no concelho de Mafra e revela ódio profundo por certas figuras que
cresceram e se impuseram por lá - em particular, um padre vermelho, um sinistro
dos santos e um famoso oleiro, informador da PIDE...
Descrente dos homens, em
particular dos militares de abril e dos políticos, só lhe interessam a praia, o
oceano, o cosmos e, consequentemente, as leis que regem este último,
afirmando-se capaz de as ler em cada um de nós, a partir da respetiva hora de
nascimento...
Quanto a mim, disse-me,
de imediato, que o meu período mais produtivo é a manhã, algo que, no entanto,
não devo confundir com o tempo, pois este só existe no calendário... ideia que
eu quis partilhar, mas que ele me recusou, porque me falta passar pelo ritual
de iniciação necessário à compreensão das "coisas do céu"...
E a conversa fortuita, ao
balcão de um café, começou do seguinte modo: "O senhor é professor de
Português, deveria ensinar estes jornalistas a falar..."
O problema é que temo que o encontro ainda não tenha terminado...
23.7.17
Não sei o que se passa,
não tenho nada a acrescentar.
Só me apetece recuar,
mas vivo num círculo.
Cada um de per si,
e eu sem mim.
Perguntaram-me "quem cuida de ti"?
(Estranha pergunta!)
Não sei porquê,
lembro-me agora do José Gomes Ferreira à porta do Tivoli,
uma nota de vinte escudos, presa no forro do casaco...
O Poeta desprendera-se do quotidiano,
alguém continuava a cuidar dele,
não fosse o guarda prendê-lo pelo motivo errado...
E o Zé desatava a subir a Avenida até que ela morresse no Monte Carlo...
Não sei o que se passa,
já estou a confundir o Militante com o Abelaira.
- O que é feito deles?
Saíram do círculo, e não regressaram...
22.7.17
Lisboa lembra-me a
aldeia, onde ricos e pobres se vão arrumando, alheios ao conjunto.
Até o Palácio da Ajuda
parece ter caído num descampado que, aos poucos, foi sendo ocupado ao gosto de
migrantes de reduzidos haveres.
Nem a escola republicana
os consegue juntar, apesar do esforço dos petizes...
21.7.17
Deve ser verdade, o problema, no entanto, é que os aldrabões são muitos e
chegaram muito antes do abutre...
Esta tarde, cruzei-me
duas vezes com a manifestação da "PT" e fiquei impressionado com a
quantidade de "trabalhadores".
Dúvida metódica: Será que
não havia por ali alguns infiltrados?
Como cliente, fiquei a
pensar por que motivo o serviço prestado é tão demorado e manhoso... Mas
compreendi porque é tão caro...
20.7.17
Lembro-me de uma cerca
feita de pedra, arrancada sabe-se lá onde, embora haja sempre quem saiba, uma
cerca que cumpria zelosamente a sua função - impedir que o olhar dos vizinhos
se atrevesse a identificar o que era guardado no interior do quintal...
Por um instante, sinto-me
tal a criança traquina que, assim como quem não pensa nisso, se encavalitava no
muro para avaliar se valia a pena correr riscos...
Também eu, por um
instante, me vi, hoje, a saltar a cerca, tentando avaliar como decorrera o
exame de Português, mas logo a vizinha, sem palavra dizer, me cerceou o
ímpeto...
Esta memória, como bem se entende, não tem qualquer propósito, a não ser o de
me interrogar se não me terei esquecido, em tempo devido, de explicar o
que é um valor, lembrado ainda daquele outro vizinho ainda
jovem que um dia insistiu que a cobardia (dos alcaides
medievos) era um valor, porque devidamente recompensado pelo usurpador...
19.7.17
É difícil ser discreto
nas palavras e nas ações, mas, quando a idade avança, uma boa dose de
temperança pode ser muito útil...
Em vez de falar, o melhor
é escrever, pois, assim, a pessoa ainda pode suspender a voz e o gesto.
O melhor é cumprir a
regra beneditina ORA et LABORA.
18.7.17
«O alvará de 13 de
março de 1526, do tempo de D, João III, recusando a entrada e determinando a
expulsão dos ciganos que se encontrem em território português, é o diploma
legislativo mais antigo que se conhece em Portugal relativo à presença dos
ciganos.» Eduardo Maia Costa (1995)
André Ventura
“A etnia cigana, quer
em Loures quer no resto do país, tem de interiorizar o manual do Estado de
direito. E o Estado de direito não pode ter medo deles, independentemente das
consequências”, disse também o candidato, acrescentando que os visados “vivem
quase exclusivamente de subsídios do Estado".
Se André Ventura ganhasse
as eleições autárquicas em Loures, o melhor que os ciganos teriam a fazer era
inscreverem-se no curso de Direito.
*Doutorado em
Direito Público e coautor de um livro com a "taróloga" Maya.
17.7.17
"O país perde com a sua saída"...
"A sua morte é uma grande perda..."
Oiço. Torno a ouvir.
Nem sequer se trata de uma emoção espontânea.
Uma emoção calculada. Um protesto fingido.
Faz-se luto no calendário (há quem o faça no
consultório.) ... até que a perda se torna ganho.
Vantagem sem exclamação. Capciosa.
Aborreço-me.
16.7.17
E
se pegasse os bois pelos cornos...
Expressão perigosa nos
dias que correm - pegar os bois pelos cornos. Ainda
acabo por ser acusado de maltratar os animais.
Embora ribatejano, as
touradas nunca me despertaram particular prazer... Quanto aos bois (e às
vacas), ainda houve um tempo em que partilhámos o trabalho, solidariamente, se
tal se pode afirmar...
Desse tempo, ficou-me, no
entanto, a locução a que recorro para classificar o que
poderia ser o meu comportamento em certas situações.
Hoje, acordei a pensar:
provavelmente, se ao longo da vida tivesse sido mais explícito, tudo teria sido
diferente, não no que me concerne, mas em relação a muito moscardo que anda à
solta - cola-se à pele e ...
Em síntese, nunca peguei
verdadeiramente os bois pelos cornos, e eles têm aproveitado esta fraqueza...
Ainda não é desta!
15.7.17
Remodelação
ministerial fantasma
Após as eleições
autárquicas, o primeiro-ministro procederá a uma remodelação nos ministérios da
Defesa, da Agricultura e da Educação e, nesse momento, ficará esclarecido por
que motivo uma secretária de estado, amiga de longa data, foi substituída...
António Costa já decidiu
quem será o próximo ministro da educação, também ele amigo indispensável, e
como não quer ser acusado de favorecimento, substituiu a amiga secretária de
estado, a quem está, entretanto, reservado um papel ativo na Assembleia da República...
César que se cuide!
Entretanto, foram
publicados os resultados de 1ª fase, com melhoria na disciplina de Português
(639) e, que eu saiba, ninguém se pronuncia sobre o efeito do conhecimento
prévio de algumas questões...
Já nada me
surpreende!
14.7.17
Fui a Santiago de
Compostela.
A fachada da catedral
está em obras. No interior, decorria um serviço litúrgico, com poucos fiéis...
Visitei as capelas laterais, mas não abracei o santo, apenas vislumbrei o
túmulo, a pensar na lenda de Padrón e na fortuna dos mitos (e das lendas), e se
não seria melhor levá-los a sério... Entretanto, o fervor religioso parecia que
corria nas praças cheias de padres, de freiras e de seminaristas, sem esquecer
os leigos de múltiplas origens e diversas crenças.
Um dia mais tarde, fui a
Pádron. E o que lá encontrei, foi o fervor do feirante, medieval e abarracado,
para além da insistência de uma jovem que me obrigou a fotografá-la em
equilíbrio precário, pois colocada no rebordo queria "aparecer" na foto
com a mão assente no "padrón" e com vista para o fundo do poço... E
conseguiu uma foto bem fálica!
Entretanto, aproveitei
para ler o último livro de António Manuel Venda, 1968.
Li-o num ápice, pois o humor que o percorre não só nos faz sorrir como nos
deixa a pensar que muitos dos nossos comportamentos são irracionais e maldosos,
e, apesar disso, ainda conseguimos tirar proveito nas nossas capelinhas
António Manuel Venda, nas
pequenas "estórias" que vai tecendo, acaba por desfazer umas tantas
lendas que proliferaram desde 1974 até hoje, colocando-se no centro de uma
narrativa divergente e nada encomiástica...
De regresso, apercebo-me
que circulam novas "estórias". Desta vez, de zelosos secretários de
estado sacrificados a bem da nação, com o detalhe de haver quem não consiga
compreender a sua substituição, vindo à praça fazer alarido... Já lá vai o tempo
em que o secretário era um "túmulo"...
13.7.17
Talvez
por amanhã ser sexta-feira
Talvez por amanhã ser
sexta-feira, hoje, dia 13, o anestesista não faltou nem fez greve. A cirurgia
decorreu bem e o paciente prepara-se para regressar a casa, vencida a odisseia
a que se viu sujeito no SNS, que lá vai funcionando, apesar da evidente falta
de recursos materiais e humanos...
Talvez por amanhã ser
sexta-feira, oito novos secretários de estado tomarão posse ao final da tarde.
Os maiores mantêm os cargos - o mexilhão é que paga!
(Entretanto, o vizinho
portelense Eurico Brilhante Dias é o novo secretário de estado da
internacionalização...)
Talvez por amanhã ser
sexta-feira, hoje ficou a saber-se que o Porto é a cidade portuguesa candidata
a sede da Agência Europeia do Medicamento...
12.7.17
De regresso, hoje, não me
vou queixar de nada!
Em Santiago de
Compostela, os sinais eram distintos. Uns lutavam contra a privatização dos
rios, da energia... Outros caminhavam, entoando gritos que me lembram
hordas de fanáticos...
A verdade é que eu,
apesar do fervor religioso que domina o lugar, senti-me mais próximo dos
primeiros, senti-me melhor nos Parques da Alameda e de São Domingos de Bonaval.
Espero, entretanto, que,
amanhã, os anestesistas não façam greve... Contradição?
11.7.17
Centro
Galego de Arte Contemporânea
Entrei no Centro
Galego de Arte Contemporânea (projeto de Álvaro Siza Vieira) com o
objetivo de ver a Exposición Luis Gordillo - Confessión xeral, e
fui surpreendido pela mostra Lugar: continxencias de uso, de
Patricia Esquivias, Luciana Lamothe e Sofía Táboas....
Ainda vou fotografando
alguns figurões da Hagiografia, da Valentia e das Artes, em geral, colocados no
meio das praças ou nas esquinas e, ultimamente, defronte das praias, como se
estivessem de partida ou, simplesmente, a bronzear, muito embora não necessitem
devido ao material de que foram construídos... Lá, no alto, esverdeados...
Por onde passo, há sempre
um santo António (de Lisboa ou de Pádua, pouco importa!), seja como topónimo
seja ícone religioso, de tal modo que já deixei de o assinalar - está
incorporado no sistema viário e na rotina.
A verdade é que quando
olho a estatuária com que me cruzo, ainda sinto alguma vontade de os conhecer
melhor, mas para quê? Do outro lado, há cada vez menos vontade...
10.7.17
Em Muros, num rebate de
consciência, os Senhores lembram-se do povo - misógino, envelhecido, friorento,
enrugado... de olhar fixo na linha do horizonte, deixando refletir a ânsia do
retorno, quase sempre impossível...
E ainda há quem deixe
flores do campo, porque um dos filhos terá voltado, pobre ou rico, muitas vezes
desenraizado, pois o tempo já não valoriza a identidade.
Este vaise i aquel vaise,
e todos, todos se van.
Galicia, sin homes quedas
que te poidan traballar.
Tés, en cambio, orfos e orfas
e campos de soledad,
e pais que non teñen fillos
e fillos que non tén pais.
E tés corazós que sufren
longas ausencias mortás,
viudas de vivos e mortos
que ninguén consolará.
Rosalía de Castro
9.7.17
Santiago de Compostela, Sul.
Mesmo quando as explicações nada acrescentam, o tempo passa, indiferente ao
esforço vão...
Os olhos cansados
perdem-se nas imagens, sem descanso.
(Lembro agora que o
Alberto Afonso por aqui terá passado ao fazer o caminho do peregrino
francês...)
8.7.17
Os
inenarráveis professores de António Lobo Antunes
|
Santiago de Compostela, Parque Alameda |
Não foi aqui me sentei a
ler a revista Visão nº 1270, mas bem poderia ter sido. A
Crónica de António Lobo Antunes merecia essa atenção: «Eu fiz o ensino
secundário num estabelecimento chamado Liceu Camões que ainda hoje acho o mais
pavoroso e sinistro local que frequentei na vida. Os professores eram
inenarráveis.» in O Liceu Camões
Não sei se a memória
recria positiva ou negativamente o passado. O que sei é que há um número
significativo de antigos alunos que testemunham uma vida académica feliz, mas
também há um sem número que cala o tempo que passou no Liceu Camões. Quanto a
António Lobo Antunes, esse não perde oportunidade para zurzir a classe docente
da época, para mostrar a influência do compadrio e do provincianismo (do Estado
Novo) que matava a alma dos adolescentes portugueses.
Provavelmente, o
psiquiatra António Lobo Antunes ainda não confessou ao escritor tudo o que de
verdadeiramente se terá passado no Liceu Camões.
Por mim, ainda espero que
volte a entrar no velho estabelecimento e que oiça o que os atuais alunos têm a
dizer dos seus «inenarráveis professores».
7.7.17
O
GPS é coisa que eu não entendo
Se há coisa que eu não
entendo é o GPS - Sistema de Posicionamento Global.
Globalmente, funciona
bem, mas quando se trata de resolver, entra facilmente em colapso. Por exemplo,
hoje revelou-se incapaz de me fazer chegar à Avenida de San Lázaro, em Santiago
de Compostela. Não reconhecia nem a Avenida nem o Hotel...
Esfalfado, lá me vi
obrigado a consultar um taxista e depois um ancião que se revelou bastante
conhecedor do lugar.
Daqui os saúdo a pensar
no falhanço do SIRESP, pois me parece que esta nova tecnologia, apesar de todo
o software, ainda não consegue suplantar a experiência humana...
Esta coisa das máquinas
poderem determinar o futuro da humanidade perturba-me, até porque estou
convencido de que muitas já estão programadas para decretar a falência ou a
destruição de um país...
O problema é que anda por
aí muito ser humano que não se importa de ser conduzido pelos novos androides.
6.7.17
O olhar é uma via que
leva tanto ao saber verdadeiro, a um nível informativo, como ao erro, tanto
informativo como formulativo. Luís Filipe
Barreto, Portugal Mensageiro do Mundo Renascentista, Pág.36,
Quetzal editores
Apanhei o autocarro 783
com a ideia de aproveitar o tempo de viagem para avançar na leitura, mas
rapidamente desisti. A necessidade de fixar o olhar dissuadiu-me, pois, com
alguma frequência, surge uma neblina enfadonha. Limitei-me a olhar as ruas, as
casas e os jardins que as ladeiam, apenas com o propósito de verificar se a
memória correspondia ou se necessitava de a reformular... De facto, tudo se
repetia até que a modorra tomou conta da situação...
Chegado ao Marquês de
Pombal, reabri os olhos, pois a memória dizia-me que era necessário estar
atento às passadeiras, à lentidão dos semáforos, sem esquecer as novas
ciclovias... O olhar foi descodificando os avanços e recuos, enquanto se
prendia nas famílias estrangeiras que, desorientadas, lá iam subindo e descendo
a Avenida, pasmadas para o luxo das boutiques laterais...
Até que chegado ao nº
202, entrei e me sentei à espera, reiniciando finalmente a leitura que ensina
que o olhar não é só fonte de saber, é também fonte de erro... o que me
permite, agora, pensar naqueles jovens que fazem fé no olhar de Alberto Caeiro,
como se ele fosse divino e que repetem, à exaustão, que ele é o poeta das
sensações, e que acriticamente seguem o seu caminho, longe do pensamento...
5.7.17
Se
o SIRES(P) é de Portugal, como é que pode ser privado?
SIRESP: Sistema Integrado
de Redes de Emergência e Segurança de Portugal
Se o SIRES(P) é de Portugal, como é que pode ser privado?
O problema tem origem em
mais uma parceria público privada (PPV). Os bancos financiam, a fundo
perdido, o Governo delega a sua responsabilidade em troca da colocação de uns
tantos apóstolos, e os privados (os mesmos apóstolos) enchem os bolsos enquanto
o negócio não se afunda... Quanto ao contribuinte, esse sofre as consequências
da negociata, como se tem verificado...
Se o sistema é integrado,
as redes de emergência e segurança que o constituem devem estar devidamente
conectadas... sem estar à espera de que, por milagre, numa situação de crise,
surja um ator capaz de resolver as falhas das múltiplas redes, habituadas a
viver sozinhas para proteger os respetivos interesses...
Por mim, este SIRES de
que se fala não é de Portugal, a não ser pelo facto de não se diferenciar das
restantes PPVs... Portugal é o país das PPVs porque
continua a haver quem queira aproveitar-se da saloiice nacional.
A verdade é que a própria
Assembleia da República não passa de uma PPV!
4.7.17
O
professor e comentador Medina Carreira
Faleceu ontem.
Durante anos, comentou o
estado da nação, revelando um país que vivia acima das suas possibilidades e,
sobretudo, zurzindo a classe política (e seus apaniguados) que, para além de
incompetente, era claramente corrupta.
Fê-lo com recurso a um
método, por vezes, anacrónico e enfadonho, mas porfiou sempre, alertando para o
peso da dívida e seus efeitos a médio e a longo prazo no tecido social...
Hoje, a hipocrisia
assentou arraiais e o homem que, ontem, era objeto de chacota e de desprezo
virou santo.
3.7.17
Se nada disser é porque
estou a desfiar as contas de um rosário que não é meu. É lenta a desfiadura,
pois é necessário voltar atrás e verificar a sintaxe, que anda pelas ruas da
amargura...
Se não fosse a música,
pensaria que as oliveiras não se sentem bem com o cheiro magrebino que se eleva
do Tejo...
Se nada disser é porque
não consigo entender como é que um furgão terá entrado no perímetro militar de
Tancos e terá esvaziado os paióis...
Se nada disser é porque
não quero pronunciar-me sobre os fanicos dos políticos que não compreendem as
razões dos incêndios, dos desfalques, dos assaltos, da falta de coordenação...
1.7.17
Revolvemos gavetas e
baús, à procura de brinquedos e de fotografias. Procuramos, entre milhares de
fotos, no álbum ou na pasta digitalizada, a imagem que, repentinamente veio à
memória... elimina o tempo... e sobretudo, faz do lar um espaço seguro, um
espaço singular onde ninguém mais pode penetrar... E este ninguém, se insistir
em bater à porta, arrisca-se a ser visto como intruso no interior da própria
casa...
Este tipo de fobia pode
ser ainda mais incontrolável do que aquela que explode quando as ruas e as
praças da cidade se enchem de estranhos de todos os tipos, porque nas ruas e
praças todos somos outros, inexplicáveis e ameaçadores...
Descontrolados, corremos
para casa e fechamo-nos... nos computadores, nos álbuns.
Corremos as cortinas. Confortáveis, voltamos a revolver as gavetas à procura de
imagens, enquanto o outro se dilui...
30.6.17
Se eu fosse coelho queria
lá saber do eucalipto... O mato é o que mais arde em Portugal! Este é que
protege o coelho, este é que assegura a reprodução dos láparos...
Um pouco mais de
inteligência e perceberíamos que o saber do coelho é naturalmente distinto do
saber humano...
Com o coelho não vale a
pena entrar em polémica. O único ser que sabe captar-lhe a atenção é a cobra, e
esta não necessita de palavras, pois hipnotiza-o com a maior das facilidades...
Em conclusão, o que é
necessário é proteger o mato, porque nele tanto vive o coelho como a cobra...
29.6.17
«O medo do desvio
é uma espécie extremamente condensada de ansiedade. (...) A tarefa é menos
simples no caso do medo pós-moderno da insuficiência. Em parte,
porque o próprio mundo em que opera é - ao contrário do mundo
moderno "clássico" - fragmentário, e porque o
tempo pós-moderno, em perfeita oposição ao tempo moderno linear e contínuo,
é "achatado" e episódico. Num mundo e num tempo
assim, as categorias referem-se mais a "ares de família" do
que a "núcleos duros" ou sequer a "denominadores comuns".» Zygmunt
Bauman, A Vida Fragmentada
Bem tento compreender,
mas como, se o tempo em que vivo é muito diferente do tempo em que me formei...
Desse tempo, em que me era exigida coerência, coesão, carácter, autenticidade,
verdade, compreensão, pouco sobra, a não ser uma coexistência forçada,
episódica...
A narrativa contínua e
articulada foi substituída por quadros ou, como muitos dizem, por
"cenas" - esta cena, aquela cena, a minha cena, a tua cena, a cena
dele, a cena dela...
Cenas que se esgotam em
si - pequenos e grandes dramas efémeros, chatos, mas que se comprometem é só no
momento que a memória apaga um instante...
É esta desvalorização do
que fui que me move a tentar compreender, pois as ferramentas do tempo
pós-moderno exigem outro tipo de "inteligência", menos racional e
mais insuficiente, de tal modo que já não sei avaliar, pois o conteúdo deixou
de interessar e o objetivo, de tão imediato, é tão líquido que não o consigo
apreender.
28.6.17
'Diferença
de opinião' ministerial
Desacordo. A resposta é
válida. A resposta não é válida. Não sei se a pergunta foi bem formulada,
custa-me, no entanto, que um ministro possa afirmar que se trata de «diferença
de opinião».
Tempos houve em que a
"opinião" não bastava para validar uma resposta.
A eterna questão da
ambiguidade!
Bem sei que os tempos são
outros! E parecem sofrer de flatulência... Entretanto, e já decorreu uma
semana, o Ministério da Educação decidiu não anular a prova de exame de
Português (639) ...
Espero que a decisão não
resulte de uma mera opinião.
27.6.17
Uma
questão de inteligência...
"Vejo o meu pai,
no limite da minha infância, dobrar a porta do pátio, com um baú de
folha na mão. (...) Minha mãe dizia-me adeus de dentro da
charrete e cada vez de mais longe.» Vergílio Ferreira
- Fotobiografia, organização de Helder Godinho e Serafim Ferreira,
Lisboa, Bertrand, 1993, p. 118.
Há quem interprete a
partida assinalada no excerto como indicador da morte dos
pais do autor. E há quem desvalorize tal interpretação, rotulando a
falha como uma imprecisão...
Desta vez, compreendo o
desplante, pois se até Passos Coelho se precipitou ao anunciar o suicídio de
familiares das vítimas do incêndio do Pedrogão Grande, confiando mais no rumor
do que na inteligência...
Os ventos continuam a não
soprar de feição!
26.6.17
Os
ventos oblíquos e os pirómanos
Estou tentado a pensar
que o vento é o culpado do que aconteceu em Pedrógão Grande e zonas limítrofes.
De qualquer modo, já, na
narração da odisseia lusitana, os ventos faziam enormes estragos, obrigando
Camões a estudá-los com alguma minúcia. Comandados por Éolo, o deus dos ventos,
Bóreas, Noto, Euro e Zéfiro moviam-se tomando a defesa do partido muçulmano no
conflito com o partido cristão...
Portanto, o problema é
antigo, parecendo que os ventos não são imparciais e, sobretudo, que se movem
obedecendo a impulsos pirómanos...
Ora, o que se percebe é
que andam à solta muitos pirómanos, uns ativos e outros passivos. Há quem
defenda que os ativos devem ser encarcerados logo que o calor aperta.
Compreendo a medida, embora os pirómanos passivos me preocupem mais, pois
fartam-se de ganhar dinheiro, de desertificar o território, para mais tarde se
apoderam dele ao preço da uva mijona...
Curiosamente, um ilustre
pirómano, neste fim de semana, deitou a cabeça de fora e começou as soltar os
ventos de um interminável ajuste de contas partidário, em que, paradoxalmente,
muitos são culpados e beneficiados...
25.6.17
Moro a 200 metros da
Igreja do Cristo Rei da Portela. Não a frequento, mas oiço os sinos, e, quando
diante dela passo, dou conta da ação social e, também, do movimento nas capelas
funerárias... Aos domingos e dias santos, apercebo-me do carro de exteriores da
RTP, o que me anuncia a transmissão do ofício religioso urbi et orbi...
Digamos que esta Igreja
não me hostiliza, apesar das minhas ideias sobre o poder anestesiante da
religião, de qualquer religião...
Hoje, no entanto, estou
cansado do karaoke de péssima qualidade que sopra de lá...
A culpa deve ser do
vento! Só que nunca pensei que a Igreja do Cristo Rei da Portela pudesse ser
tão plebeia...
24.6.17
Em silêncio, medito:
«Os deserdados serão
condenados ao esquecimento, ao abandono, ao desespero puro e simples. É a
lógica do must exit. Poor people must exit (Os pobres têm de
sair de cena). O ultimato da riqueza, da eficácia, risca-os do mapa.
Justificadamente, uma vez que têm o mau gosto de escapar ao consenso.» Jean
Baudrillard, America...
É a lógica do capital! E
quem não se adaptar, deve sair de cena! Deve ser por isso que pensamos cada vez
menos, que escrevemos cada vez pior, que deixámos de ouvir o outro, que vivemos
da nossa razão...
E a lógica do capital
deixou de ser uma questão global... Basta observar as guerras que alastram a
propósito da gestão dos donativos, aqui e em toda a parte...
23.6.17
«O tempo já não é um rio,
mas uma coleção de pântanos e de tanques de água.» Zygmunt Bauman, A
Vida Fragmentada.
Somos, assim, ramos
soltos, bastando-nos a nós próprios. (Nesta linha de pensamento o
"nós" é excessivo, pois tudo flui singular, solitariamente.)
Entretanto, o tronco
liquefez-se, deixando o Vagabundo do Momento, sem passado nem futuro, sem
responsabilidade nem arrependimento, imoral e apolítico...
Só a Hora conta!
22.6.17
O Instituto de Avaliação
Educativa (IAVE) remeteu para os “próximos dias” esclarecimentos sobre a
possível fuga de informação relativo ao exame nacional de Português, e invoca o
segredo de justiça para não avançar informações sobre o processo judicial.
Quanto aos meus dias, vou
ocupá-los a classificar 55 provas, à espera de que o pós-moderno ministro da
Educação continue a considerar que, nestas coisas, o tempo se mantém
instável... o dele e o nosso. É tudo efémero e possível, até o
compromisso...
21.6.17
Para além da prova 639
aplicada, há mais duas no cofre.
Face à informação que
circula na imprensa e nas redes sociais, o Ministério da Educação já teve tempo
de conferir o conteúdo de cada uma das provas e de emitir uma nota que
esclareça a situação.
Mas não! Está à espera do
resultado da investigação externa.
Quanto ao mujimbo, ele
continua a dar a volta ao país...
Eu, por mim, vou
"trancando", a vermelho, os espaços deixados em branco pelos
examinandos.
Só tenha pena de não
poder "trancar" quem está a deixar prolongar a situação.
Este ano, os professores
classificadores de Português foram convocados antes da realização da respetiva
prova e, surpreendentemente, receberam as provas dos alunos um dia mais cedo, o
que terá obrigado a um esforço logístico acrescido... Quando queremos, somos
capazes! Porquê? A resposta é simples: o levantamento das provas coincidia com
a data da greve de professores - hoje, 21 de junho de 2017.
De nos deixarmos ir e
viver pela Terra
E levar ao colo pelas
Estações contentes
E deixar que o vento
cante para adormecermos,
E não termos sonhos no
nosso sono.
Versos de Alberto
Caeiro, o Poeta que pensava, mas que dizia que não, apenas imitava a
Natureza. Basta ouvir os camponeses da Beira Interior para saber que a
Terra nem sempre é a Casa que nos protege, por mais que o pretendamos... e que
o canto do Vento pode ser mortífero...
Voltei a vigiar uma prova
de Filosofia e fiquei estarrecido - ou já não há filósofos ou estes deixaram de
pensar ou, então, o vento suão varreu-os...
20.6.17
Por mais que arda, sinto
que há quem se esteja marimbando... Há um claro desrespeito pela dor.
No Parlamento, continuam
as querelas que impedem a reformulação da política florestal e de combate aos
incêndios.
No Governo, temos três ou
quatro ministros com visões sectoriais.
Ontem, um ministro
mostrou-se aborrecido com a jornalista que lhe fazia perguntas sobre a questão
global - ele fora convidado para responder sobre o seu pelouro...
Um antigo
primeiro-ministro nada tem a dizer, pois a culpa é anterior e posterior à sua
ação governativa.
Os sindicatos da área da
educação continuam a sua luta, alheios ao problema nacional.
Por mais que arda...
19.6.17
«O mistério (e o Outro
é um mistério) é um enigma excitante, mas tendemos a cansar-nos desta
excitação. " E assim criamos para nós próprios uma imagem. Trata-se de um
ato de desamor, da traição." Criar uma imagem do Outro leva à substituição
da imagem ao Outro: o Outro torna-se doravante fixo - em termos
tranquilizadores e reconfortantes. Já nada de excitante existe em ligação com
ele...» Zygmunt Bauman, in A Vida Fragmentada, cita Max
Frisch, Sketchbook 1946-1949.
Nas imagens não nos
narcisamos apenas. Também as criamos para nos desresponsabilizarmos do Outro.
Para objetivar o Outro. E são milhões as imagens!
É como se tivéssemos
desistido do futuro!
18.6.17
Quando algo corre mal, há
sempre um coro a pedir a demissão do ministro da tutela. É pena!
Melhor seria que fossem
apuradas responsabilidades e punidos todos os que, de algum modo, tivessem
contribuído para o desastre.
Se este princípio fosse
aplicado, Portugal seria um país bem mais rico e, sobretudo, soberano.
Acordo. O quantificador
esmaga. Já são 62 os falecidos no incêndio do Pedrogão
Grande..., mas o território é muito mais vasto, e as pessoas continuam ao
abandono...
O Presidente diz que não
era possível fazer mais. Sim, no momento, não seria
possível, mas antes pouco ou nada foi feito... E esse é o nosso problema.
Neste caso, já que nada
posso fazer pelas vítimas, o meu privilégio é censurar os
responsáveis...isto é, aqueles que apostaram na desertificação do território,
aqueles para quem o maior lucro é o único objetivo.
17.6.17
«É meu privilégio
enquanto homem que, através da atividade escondida do meu ser, eu possa
estabelecer uma barreira intransponível à objetificação.» Martin Buber
Não é fácil! E a culpa é
do adjetivo e do quantificador...
Tudo o que me pedem é que
eu avalie, classifique, caraterize, discrimine...
Tudo o que me pedem é que
esconda a emoção.
Tudo o que me pedem é
ação neutra, racional, serva da ética - essa lei universal que tudo regula:
adjetiva e quantifica... e nem é preciso recorrer à estatística.
Dúvida
sobre a data da inauguração do Liceu Camões
História do Liceu Camões
Ainda no inicio do século
vinte este local era conhecido como o "Sítio da Bemposta",
compreendido entre a antiga "CRUZ DO TABUADO", depois "LARGO
DO MATADOURO" e desde 1915 por "PRAÇA JOSÉ FONTANA",
e prolongava-se sensivelmente até ao "LARGO DE SANTA BARBARA"
para nascente.
No ano de 1900 presidia
ao Governo do Reino «JOÃO FRANCO» que resolveu mandar construir três
Liceus em LISBOA. Começou por mandar concluir o Liceu na cerca
do "CONVENTO DE JESUS" o «LICEU PASSOS
MANUEL», cujas obras estavam paradas há mais de dez anos, e adquirir
terrenos no sítio da ESTRELA e na "CRUZ DO
TABUADO", para a construção de mais dois.
O primeiro a ser
concluído foi o da "CRUZ DO TABUADO", e foi-lhe dado o nome de
«LICEU CAMÕES». Foi o primeiro liceu moderno de LISBOA,
promovido pelo ESTADO no âmbito de uma política de fomento do
ensino, e projetado pelo Arquiteto «MIGUEL VENTURA TERRA» (1866-1919) e
construído por "ANTÓNIO RIBEIRO".
Teve a sua inauguração no
dia 8 de Novembro de 1909.
- De verdade, quando é
que o Liceu Camões foi inaugurado? A 16 de Outubro de 1909 ou a 8 de Novembro
de 1909?
16.6.17
O
mínimo passou a ser igual ao máximo
Afinal, os professores,
no dia 21, podem fazer greve a tudo, desde que assegurem os serviços mínimos...
Isto é: receção das
provas, distribuição das mesmas por sala, coadjuvância por disciplina, dois
vigilantes por sala, suplentes quanto baste, secretariado a funcionar...
Neste cenário, não há
qualquer problema: o ministério mantém a realização das provas e os sindicatos
não necessitam de fazer qualquer braço de força... Ninguém perde a face!
Quanto aos professores,
fazem como o Pero Marques, carregam às costas a Inês para que ela possa
divertir-se com o falso ermitão...
Os portugueses devem
estar orgulhosos, como diria o Centeno...
15.6.17
Como
se avizinha mais uma greve dos professores
Como se avizinha uma
greve dos professores aos exames do dia 21 de Junho, deixo aqui meia dúzia de
linhas sobre o sucesso da recente greve dos médicos.
Por aquilo que sei,
milhares de doentes viram as consultas e as cirurgias adiadas. Pela
experiência cá de casa, os pacientes, que, entretanto, não morreram, continuam
à espera... Isto de morrer é, hoje, coisa de somenos!
No fundo, isto é, como
nas guerras, as vítimas são esquecidas, enquanto os vencedores são efusivamente
saudados. Ora, no caso da greve dos médicos, ainda não consegui vislumbrar
quais foram as reivindicações que foram atendidas...
Sem querer extrapolar,
creio que a greve dos professores insere-se na mesma lógica. Dar aos alunos
mais um dia para estudar, enervar as famílias... e dizer à Nação que os
sindicatos continuam vivos, capazes de mobilizar a classe, fazendo exigências,
à partida, impossíveis de satisfazer, como essa da reforma aos 36 anos
de serviço, sem penalização...
(Quem assim pensa,
iniciou funções no ensino público, no dia 2 de janeiro de 1975... É só fazer as
contas!)
15.6.17
«...e se queres recolher
vontades, Blimunda, vai à procissão do Corpo de Deus, em tão numerosa multidão
não hão de ser poucas as que se retirem, porque as procissões, bom é que
saibam, são ocasiões em que as almas e os corpos se debilitam, a ponto de não
serem capazes, sequer, de segurar as vontades, já o mesmo não sucede nas
touradas, e também nos autos-de-fé, há neles e nelas um furor que torna mais
fechadas as nuvens fechadas que as vontades são, mais fechadas e mais negras, é
como na guerra, treva geral no interior dos homens.»
José Saramago, Memorial do Convento
Anda por aí muito
estudante que nunca viu uma procissão, e que, no caso de ter lido o
impiedoso, terá ficado como uma representação deformada do espírito que
anima as procissões dos dias que correm...
Portanto, ainda está a
tempo de se deslocar à Baixa de modo a inteirar-se do cerimonial...
Há que pôr um pouco de
ordem no caos para que vamos resvalando!
14.6.17
Luiz
José Gomes Machado Guerreiro Pacheco, 1925-2008. (Entrevista
ao Independente / 5 Nov. 2004)
Com quase 80 anos, a
viver num quarto de um lar.
Tem 8 filhos e 15 netos,
que não conhece na totalidade. Está no lar desde 2001. Recusa ser operado à
vista, por medo. Já não lê… Só vê sombras… Incontinente. O trajeto é só entre o
quarto e a sala do lar… Vive de um subsídio de 120 contos, que teve medo de
perder com “aquela gaja horrorosa, a Manuel Ferreira Leite”. Fica todo no lar.
O subsídio terá tido a intermediação do Alçada Baptista…
Quis ser ferreiro, quis
ser professor. Quis ir para a marinha mercante com o Cardoso Pires, mas nunca
aprendeu a nadar. O máximo que teve foi quatro alunos em explicações.
Na Academia de Ciências
foi uma desilusão - não havia convívio nenhum: éramos 10 rapazes e 100 ou 200
raparigas…
O grupo inicial de que
fez parte: José-Augusto (França?), José Cardoso Pires, o Salazar Sampaio.
Fizeram um jornal no Liceu (Camões) – o Pinguim, que teve três ou
quatro números…
Considera que a sua atividade
como editor foi mais relevante do que a de escritor…
Estórias: a da relação
com uma menor de 14 anos, em casa de seus pais. Foi obrigado a casar. Ele tinha
17/18 anos… terá sido abusado sexualmente na infância; a história da ida às
putas na Mouraria com um colega do Camões – eram ambos virgens: a prostituta
comia uma maçã enquanto ia fazendo o serviço…
Quanto à pedofilia, não
vê as crianças como inocentes, sobretudo as raparigas de 13 anos…
Desmente a sua relação
homossexual com Mário Cesariny. Diz que isso é um mito, que não fez parte da
lista dele.
Considera que em “O
Libertino passeia por Braga” tudo é real – escrito em 1961, mas só
publicado em 70…
Elogia o Salazar, o
Cavaco, “isso é que eram bons primeiros-ministros, não era esta cambada-”
Santana Lopes, Paulo Portas.
Foi salazarista,
comunista… libertino... anarquista(?)
Rapidinhas
Agustina Bessa-Luís - Uma
escritora a sério.
Lobo Antunes - Não leio
há muito tempo.
Cardoso Pires - Um grande
amigo.
Fernando Namora - Um
aldrabão muito grande.
Natália Correia - Uma
escritora um bocado falsa.
José Saramago - Um
escritor de grande qualidade.
Sophia de Mello Breyner -
Nunca li nada dela.
Herberto Hélder - Pensava
que era melhor do que realmente era.
Mário Cesariny - Um
artista que não ficará para a História.
13.6.17
Fernando Pessoa, nós e a
Europa
«O que é preciso ter
é, além de cultura, uma noção de meio internacional, de não ter a alma (ainda
que obscuramente) limitada pela nacionalidade. Cultura não basta. É preciso ter
a alma na Europa. Fernando Pessoa (1912-1916)
Em rota de afastamento da
Renascença Portuguesa, Fernando Pessoa indica o caminho, pois o Império já não
tinha meios para se manter e ele sabia-o bem pois crescera no seio do Império
britânico.
Um século depois, o
Império desfez-se e o que falta cumprir de Portugal, apesar das vozes que o
prolongam na "língua portuguesa", só pode acontecer à escala global
e, em particular, no interior da Europa...
E para isso, não basta
migrar, é necessário que a alma se nutra dos valores universais, começando por
participar ativamente na cultura europeia...
O que me aflige é que não
vejo qualquer esforço dos responsáveis pela educação e pelo ensino para que tal
aconteça...
Continuamos longe da
Europa e do Mundo. Por exemplo, quem é que conhece Juan Goytisolo, escritor
espanhol falecido recentemente?
12.6.17
Eu não quero ser
sobrinho!
Sobrinha do Presidente do
PS contratada pela câmara de Lisboa.
Andam por aí tantos
sobrinhos cujos tios não perdem oportunidade de lhes arranjar um emprego que eu
decidi que não quero ser sobrinho nem mesmo dos meus tios. Espero que eles me
perdoem!
Verdade seja dita que eu
escolhi mal a família, pois não consta que os meus tios tenham sido sobrinhos
de alguém influente, apesar de no Estado Novo haver mecanismos que
possibilitavam a contratação de quem pertencesse à família dos CTT, da CP, da
GNR...
Finalmente, os meus
sobrinhos sabem há muito que não podem contar com a influência do tio, sem
esquecer os meus filhos, também, eles vítimas deste meu horror ao nepotismo...,
o que, até ao momento, me tem ficado muito caro.
Paciência!
Nem genro do eurodeputado Manuel dos Santos!
11.6.17
Música brasileira no
pombal
Um grupo de brasileiros
decidiu fazer um piquenique num jardim resguardado, embora próximo de um
pombal. O acesso dos carros ao jardim está, no entanto, impedido por
pilaretes... De qualquer modo, isso não é obstáculo: os automóveis foram
parqueados na retaguarda do pombal.
E como não há festa
brasileira sem música, o último veículo foi transformado em cabine de som,
lançando os sons tropicais a toda a largura do relvado...
Pessoalmente, detesto
ruído - a música transforma-se em ruído, sempre que os meus tímpanos se revelam
ofendidos... O que me preocupa, todavia, é o efeito que este concerto possa ter
nas sinapses daquelas centenas de pombos que ali descansam...
Não sei se entre mim e os
pombos há alguma semelhança, creio, contudo, que sim, pois, tal como eles vivem
recatadamente naquele pombal, também eu cresci num ambiente em que a música
suprema era o silêncio... o que, até à data, me tem trazido algumas incompreensões...
Fique claro que nada
tenho contra a folia brasileira desde que ela respeite as criaturas de Deus.
10.6.17
Celebramos o quê?
Afinal, o que é que
celebramos? A morte ou a vida? A morte do império, da nação? Ou o sentido de
pertença a um possível espaço nostálgico de lusofonia?
Provavelmente, corremos
para a outra margem do Atlântico, arrependidos de lhe termos virado as costas e
nos termos deixado embalar pelas sereias da Europa... ... sereias
luzentes e de oiro.
Aqui, por Lisboa, também
celebramos o António que virou as costas ao oiro e ao ruído, mas que, na
verdade, fantasiamos casamenteiro e boémio... As marchas de António eram
forçadas, extenuantes por causas que nada deviam à folia, à vaidade e ao
poder...
9.6.17
Sem tema
Teresa May perde, os
Unionistas da Irlanda ganham.
Trump mente...
Manuel Alegre
recebe Prémio Camões! O último épico do século XX...
O 10 de Junho começa a 9
e vai acabar a onze... O Presidente anda à solta.
O Santo António deve
estar arrependido de ter nascido em Lisboa, apesar de cedo ter fugido...
O "Corpo de
Deus" ainda há de marcar presença no exame nacional de Português, em
homenagem ao "ímpio" José Saramago...
Cristiano Ronaldo
continua a marcar...
As "avós" de
hoje saíram estaladiças!
A "pata de
veado" estava muito gostosa...
Os amigos (no singular)
continuam a surpreender...
Sem paciência, não vou
lá! Embora já não saiba onde...
Há prendinhas amargas.
Há elogios muito
duvidosos.
A lei tem horror ao caos.
Homens bons e homens maus
odeiam a lei...
Os homens bons, de acordo
com a lei, não são os que praticam o bem...
Os homens maus, de acordo
com a lei, devem ser extraditados, encarcerados...
8.6.17
Avaliar
com base na comparação
Avaliar o esforço, a
progressão, o rendimento de alguém com base na comparação é um comportamento,
que sossega, mas que eu não entendo...
A ideia de que subir um
valor a um obriga a rever a avaliação de todos os outros repugna-me. E como
tal, transferir a responsabilidade individual para a unanimidade do coletivo
parece-me um processo de alienação, até porque não reconheço razoabilidade à consciência
coletiva.
Bem sei que esta reflexão
é certamente incómoda, mas sempre que a argumentação assenta na comparação fico
perplexo, pois o segundo termo da comparação mais não é do que um processo de
valorizar ou desvalorizar o primeiro e verdadeiro termo, neste caso, a pessoa
que se esforçou, progrediu ou, pelo contrário, nada fez por si nem pelos
outros...
7.6.17
António Costa:” Não há
condições para fazer antecipação da idade da reforma sem penalizações"... (60
anos de idade / 40 anos de serviço)
Explicação: Novo recorde
da dívida pública: Já são mais de 247 mil milhões de euros!
Isto sem falar da dívida
oculta... Sim, porque ela existe...
O presidente Obama usou o
mesmo smoking durante oito anos e ninguém reparou...
Imperdoável!
O mesmo já não se pode dizer dos vestidos da esposa...
Foi preciso o senhor
deixar a Casa Branca para que alguém se ocupasse da negligência
presidencial.
Afinal, um presidente
asseado é aquele que nunca mergulha na mesma água...
Como se vê, o que é
importante é o que vestimos e não o que fazemos ou deixamos de fazer...
6.6.17
Começo a compreender por
que motivo o Mal se tornou minúsculo e creio que até o Supremo Bem segue pela
mesma estrada.
Também a História já se
tornara minúscula, sem esquecer Deus que cedeu a maiúscula à multiplicidade de
representantes que vão edificando templos (não o Templo!) a cada esquina...
Alguém me explicou que os
intelectuais abdicaram face à proliferação da descabelada opinião em que um
corte de cabelo é mais importante do que a multidão faminta que se deixa
asfixiar nas lixeiras...
Começo a compreender que
alguém possa esbracejar além da vidraça porque, apesar de tudo, não se pode ser
arruaceiro sozinho...
Começo a compreender por
que motivo há uns sindicalistas que querem «um compromisso do governo para
negociar um regime especial de aposentação para os docentes, ao fim de 36 anos
de serviço, sem penalização.»
De qualquer modo, penso
que todos sabemos que um compromisso é uma coisa minúscula!
5.6.17
Vários países árabes
estão a cortar relações com o Qatar por causa de supostos comentários feitos
pelo emir do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani, que foram publicados no site da
agência de notícias estatal por hackers. Nesses comentários, o emir elogia o
Irão como sendo um poder islâmico, rival da Arábia Saudita, criticando ainda
Riade, capital da Arábia Saudita.
Primeiro, Donald Trump
vende 110 mil milhões de dólares de armas à Arábia Saudita... e agora os
aliados dos Estados Unidos da América mostram-se ofendidos com os comentários
do emir Tamim bin Hamad al-Thani...
Uma guerra sunita- xiita
vem mesmo a calhar! Mas para quem? As sementes do Mal proliferam... E a
inteligência regride...
A sensação dos residentes
aqui no Qatar está entre a surpresa e a preocupação depois de, esta
segunda-feira, seis países terem anunciado o corte de relações com o país do
Golfo Pérsico. Com o fecho da fronteira com a Arábia
Saudita, o Qatar perde a única rota por terra de importações de alimentos e
materiais.
Nota: No Qatar, vivem
(trabalham?) 1500 portugueses.
4.6.17
«As utopias
pós-modernas são anarquistas. (...) Militam contra os objetivos definidos e os
planos, contra o sacrifício que visa o benefício futuro, contra a satisfação
diferida - contra todas as perspetivas de outrora que se alimentavam da ideia
de que o futuro podia ser controlado, definido, forçado a observar uma forma
antecipadamente traçada - o que tinha por efeito que as ações presentes de cada
um fossem consideradas "grávidas de consequências".» Zygmunt
Bauman, A Vida Fragmentada...
Creio que Bauman se
refere à utopia neoliberal e à utopia tecnológica,
ambas libertas de qualquer perspetiva intencional...
Há nestas considerações
qualquer coisa que me escapa pois, se não me engano, o anarquismo do início
século XX, através da ação direta, visava eliminar o despotismo que
governava o mundo, revelando assim uma perspetiva intencional.
Creio mesmo que, apesar
da propaganda que tudo atribui ao estado islâmico, chegámos, hoje, a um ponto
em que os projetos imperialistas se cruzam com a revolta imediata dos
indivíduos que, ostracizados, não se importam de sacrificar a vida, não tanto
porque procurem o eterno consolo das mil noivas, mas porque o presente é
simplesmente insuportável.
O que é deveras
preocupante é o modo como se vai diluindo o sentido de responsabilidade,
instalando a deriva...
3.6.17
A
globalidade e a universalidade
«A modernidade
pensou-se outrora universal. Representa-se, hoje, como global. (....) A
globalidade é simples aceitação resignada do que se passa "lá fora";
um assentimento ao qual se mistura sempre a amargura da capitulação, ainda que
adoçada pelas exortações auto-reconfortantes do tipo "se não podes
vencê-los, junta-te a eles". A globalidade exila os filósofos,
condenando-os, nus, ao deserto do qual a universalidade prometia emancipá-los.»
Zygmunt Bauman, A Fresta Aberta no Véu.
Viver o momento é o lema!
Pouco interessa se vamos hipotecando o futuro! E porque não, se a vida são dois
dias!
Agora, as crianças enchem
balões e é quanto basta para verem o futuro a esfumar-se no instante...
Decadentes, nem precisamos de saber latim. Carpe diem!
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2.6.17
Gostava de ser otimista,
com ou sem /p/, mas não consigo... subo e desço escadas em contramão, acelero e
desacelero, em obediência a um fluxo imposto...
Gostava de ir à feira do
livro, mas o fluxo humano desnorteia-me, e ver os autores expostos,
entristece-me; lembra-me a feira da agricultura de outros tempos... e claro,
saber que por ali se passeiam autores que o não são, aborrece-me...
Gostava de dizer que sim
a quem me sopra a canção do bandido, mas já não tenho tempo para me deixar
arrastar para rotinas inúteis...
Gostava de premiar apenas
aqueles que trabalham arduamente, mas se o fizesse ninguém compreenderia...
E sobretudo gostava de
não ter chegado a este ponto, mas a leitura de pacote enfurece-me.
1.6.17
Embora o acordo de Paris
seja legalmente vinculante, não está prevista nenhuma sanção a países que não
cumpram as estipulações.
Grato ao eleitor
americano, o Senhor Donald Trump está-se, oficialmente, nas tintas para o clima
do planeta. Diz que o que interessa é o emprego, a indústria, o comércio...
Provavelmente, pela sua cabeça deve ter passado a ideia de que ao multiplicar o
emprego, conseguirá acabar com a pobreza, a doença...
Eu até entendo este tipo
de fundamentalismo, o que não compreendo é a passividade da inteligência
americana.
De qualquer modo, ficamos
a saber o que nos espera. Há, todavia, outro problema: o daqueles países que
declaram aplicar o acordo de Paris, a partir de 2020, mas que objetivamente o
ignoram... sem que haja qualquer tipo de penalização.
Ontem, fui ver a
peça Henrique IV, de Luigi Pirandello, espetáculo comemorativo do
45.º aniversário do Teatro da Comuna... bem encenado, bem representado,
freudiano e nietzschiano... numa hora em que estas "autoridades" já
tiveram maior e melhor receção...
A verdade é que o Pequeno
Auditório do CCB oferecia um significativo número de lugares vagos... No
entanto, como os lugares não estavam marcados, os espetadores formavam fila, à
direita e à esquerda, enquanto as portas não abriam...
Hoje, cedo, desloquei-me
à Gare do Oriente, onde decorrem umas obras mal sinalizadas e, para superar a
rotunda, necessitei de 20 minutos. Porquê? Porque ninguém obedece à
sinalização, não se importando de barrar a passagem...
Depois, passei pelo Lidl
de Moscavide, e o problema da prioridade virou caricatura: os idosos do local
discutiam acaloradamente quem é que tinha prioridade no atendimento - um tinha
84 anos, outra teria 84 anos e uns meses, mais atrás alguém gritava que tinha
87, sem esquecer a grávida não se sabia de quantos meses, e a senhora que,
perante o impasse, se lastimava que ia perder o autocarro...
Apesar de tudo no CCB,
tudo decorreu com maior tranquilidade, pois até tive oportunidade para fechar
os olhos sem que ninguém protestasse...
31.5.17
Sou contra a delação e
ainda mais contra a possibilidade da investigação e, sobretudo, do juiz
premiarem tal comportamento.
Sempre vi com maus olhos
os bufos e os queixinhas e não é agora que vou mudar de opinião, até porque
estamos a falar de criminosos, provavelmente de baixo coturno.
Com tal procedimento, a
tabela de valores é desvirtuada a um ponto que não faz mais sentido combater a
mentira.
Sinto que Sócrates, o
filósofo, tinha, em parte razão, quando defendia que o homem praticava o mal,
pois não sabia o que era o bem. Em parte, pois a causa tem origem naqueles que
deveriam investigar e fazer justiça, sem recurso a sabujice.
30.5.17
Os bastidores agitam-se
na procura de soluções para manter o statu quo.
Procura-se uma
continuidade indolor, esquecendo os golpes desferidos de forma sorrateira... A
intriga rasteira já lá vai!
De qualquer modo, há
silêncios que não enganam; há distâncias que, de tão ruidosas, só podem
significar assombração...
Ora, se há obediência que
não tenho é a de Lázaro que se libertou da mortalha às ordens do Redentor.
29.5.17
The story of shattered
life can be told only in bits and pieces. RILKE
«Ser moral»
significa que utilizamos a nossa liberdade para escolher entre aceitar o
outro ou negá-lo.
Negá-lo é, assim, um
pecado natural para o qual inventámos um exorcismo: o
arrependimento e a redenção.
Quanto ao pecado nada o
pode alterar no que se reporta ao outro. O Outro, vítima
silenciada, exterminada...
E pelo estado do mundo, o
exorcismo de nada serve.
28.5.17
Escrevi, há dias, a
propósito de Noite (1955), de Elie Wiesel, que "lá (nos
campos de concentração), Deus deixa de existir"; concluída a
leitura, a afirmação parece-me despropositada, pois o que não existe
não pode, por conveniência ou não, deixar de existir...
Lá quem ordenava,
torturava, fuzilava, cremava, era o homem... É sempre o homem! Mais esperto ou
mais boçal, é sempre o homem que é verdugo do outro homem.
De todas as obras que li, até hoje, esta é provavelmente a mais triste e a mais
reveladora da condição humana:
«Um dia, consegui
levantar-me, depois de ter reunido todas as minhas esforças. Queria ver-me ao
espelho, que estava suspenso na parede da frente. Desde o gueto que não me via
a mim mesmo.
Do fundo do espelho, um cadáver
contemplava. O seu olhar nos meus olhos nunca me abandona. Elie Wiesel,
op.cit)
PS. A leitura desta obra
não é recomendada no âmbito do Projeto de leitura do Ensino Secundário! Nem em
qualquer outro programa...
27.5.17
Angola 27 maio de 1977
Os algozes da noite
servem-se da ideologia (de qualquer) para dar expressão a um apetite devorador
e caminham ao nosso lado como anjos do Senhor.
E o principal instrumento
é a permanente deturpação da verdade.
26.5.17
Pensava eu que tinha sido
atirado para a noite e, ao procurar um esconderijo, choquei com Noite,
de Elie Wiesel.
Ao entrar na obra, por
mais assombrado que me sinta presentemente, dou conta que a minha dor é
minúscula se comparada com a Dor vivida, testemunhada e narrada por Elie
Wiesel. Lá é um povo inteiro que é empurrado para o trabalho forçado e para a
morte, segundo critérios aberrantes, de que ressalta o da produtividade.
Lá, mais do que a
privação, o que é verdadeiramente horrível é a anulação do espaço
privado. Lá, de facto, Deus deixa de existir. A própria esperança não passa
de uma miragem, de uma alucinação...
O que é extraordinário é
que hoje desvalorizamos cada vez mais o espaço privado, matamos a cada instante
o sagrado. Não nos importamos de ser robotizados...
Sabemos que vivemos sob
ameaça, mas não a valorizamos, mantendo rotinas e, sobretudo, sendo cúmplices
dos tiranos que elegemos para nos representar...
Rimo-mos como se
tivéssemos razão para tal. Afinal, anda à solta um Presidente americano, a quem
só o comércio interessa, o das armas, em primeiro lugar, e que,
simultaneamente, chama "maus" aos alemães pelas razões erradas.
25.5.17
«Este interpreta mais
que sutilmente / os textos; este faz e desfaz leis» Camões, Os
Lusíadas, canto VIII, est. 99
A subtileza
interpretativa parece ter assentado arraiais nos grandes escritórios de
advogados, sempre atentos ao surgimento de algum exegeta mais fino...
Como tal, os juristas
parlamentares têm um pé na AR e outro no Escritório. Não todos, apenas os que
aprenderam a tresler...
Esta tradição corre
sérios riscos pois, nos últimos anos, a arte da exegese entrou em crise.
Veja-se, por exemplo: a produção intelectual da academia, a vacuidade das
homilias e a oratória dos calistos que descem ao Parlamento...
E tudo começa na Escola,
onde o jovem se recusa a ordenar os constituintes da frase, a investigar o
significado literal e figurado das palavras, a identificar ideias e a
hierarquizá-las...
O que ele espera é que
alguém lhe dite a resposta para que ele a transcreva, de forma atabalhoada, sem
qualquer esforço de compreensão...
24.5.17
Da
necessidade do assento e do acento...
Embora ninguém ponha em
causa a necessidade de assento, o mesmo já não se pode dizer do acento. Isto de
colocar acentos, para a direita e para esquerda, na última, penúltima ou na
antepenúltima sílaba é uma maçada... e depois ainda há aqueles poetas, como
Camões, que alternam a acentuação heróica com a sáfica... Para quê
classificá-los? Para quê justificar as opções?
Afinal, os autarcas só se
preocupam com os assentos que vão espalhando pelas aldeias, vilas e cidades,
talvez preocupados com o cansaço dos cidadãos ... Interessante seria que dessem
mais atenção à acentuação ou, pelo menos, que colocassem em cada assento um
desdobrável com a explicação da razão de ser dos acentos gráficos... ou da
acentuação dos versos...
Mas sem exagerar! Não é
preciso explicar o que são palavras parónimas... Até porque não consta que
rendam votos, dinheiro, fama...
23.5.17
Nunca soube se o Diabo
tem rosto, no entanto, ontem, por um instante, vislumbrei-lhe o rictus: os
músculos da face contraíram-se de tal modo que do rosto se elevou um grito tão
crispado que me abismou...
E ainda não recuperei
dessa aparição que num outro momento, à porta de um cemitério, me deixara
interdito, apesar do rictus desse dia se ter mostrado mudo, sem a fulgurância
do riso demoníaco...
Há experiências que minam
a base de qualquer tipo de razoabilidade e parece que, quando tal acontece, o
Diabo se revela...
22.5.17
Parece que vai voltar
tudo ao normal! Mas o que é que isso significa?
Mais desleixe, mais
compadrio, mais porreirismo, mais despesismo, mais oportunismo, mais
obscurantismo - ó stôr em que página? em que página?
Há longos anos que o
manual fica em casa, fica fechado na mochila, ou se aberto, há sempre a
necessidade de repetir a página. Ó stôr, em que página?
Parece que não temos cura, e a lição já é antiga...
(Entretanto, por volta
das 12 horas, vi na SIC Notícias um sujeito todo emproado que lia, lia, lia
...só que, felizmente, alguém desligara o som... Pelo que percebi a ladainha
prolongou-se pelo menos por vinte minutos.)
21.5.17
Completada a leitura
de La mort dans l'âme, de Jean-Paul Sartre, fica-me na memória a
viagem de comboio dos prisioneiros franceses que, até ao último momento,
acreditavam que o carril móvel lhes seria favorável,
encaminhando-os para Châlons e não para Trèves: Trèves en Bochie? (Alemanha).
Infelizmente, há quem não
compreenda que a agulha é essencial para determinar o nosso caminho. Em certos
casos, a agulha desapareceu mesmo!
Outros olham com
indiferença o carril móvel...
20.5.17
Abro uma exceção, a
propósito da peça (não-aristotélica) Revolução Barata, do
GTESC, pois irei partilhar este apontamento no Facebook, rede social tão do
agrado da maioria...
Desta vez, não vou
elogiar a qualidade de todos os intervenientes, pois o meu encómio do teatro do
dizer cruel é perfeitamente inútil face ao crescendo de linguagens que se foram
sucedendo, deixando-me a pensar nos tempos da revolução - os da semiótica do
texto dramático do esquecido Osório Mateus, gerada nos idos de Maio de 68...
E como o espetáculo desta
tarde provocou em mim uma catadupa de ideias contraditórias sobre a abordagem
da violência, não apenas doméstica, e também sobre a eficácia da mensagem
quando dirigida a públicos mais novos, permitam-me que cite o advogado do projeto
dramático:
- Ouves o grito dos
mortos?
Também eu atravessei o
inferno.
Chegava
a ouvir o contacto das
aranhas devorando-se
no fundo. O meu horrível
pensamento só a custo
continha o tumulto dos
mortos.
Há dias em que o céu e o
inferno esperam
e desesperam. Velhos
lojistas
olham para si próprios
com terror.
Uma coisa desconforme
levanta-se
e deita-se
connosco.
- São outros mortos ainda.
Herberto Helder, Húmus (excerto)
O jantar das 20 terminou
por volta da uma da manhã. Na verdade, adormeci antes do términus...
Felizmente!
Nas últimas horas, tudo
tem estado tranquilo. Até a Sammy evita mexer-se; só os mandarins se agitam uma
vez por outra, como acaba de acontecer...
(Num 12º andar. A Casa
da Achada ficou para trás. Vamos ver o que acontece ao GTESC. Para tudo, há
sempre uma primeira vez!)
19.5.17
Já são 22h20, o jantar
espera há duas horas.
O que interessa é que o
Marcelo está na Croácia! Que alguém se atirou de uma ponte... Que o cantor se
enforcou no hotel... ou, talvez, a polícia se tenha enganado, voluntariamente,
vá lá saber-se...
O que interessa é o
tamanho dos cabelos, a cor dos olhos.
Se os cabelos forem
pretos não serão nacionais nem europeus! Provavelmente, chineses.
Até o restling se mistura
com o cancro, hereditário ou não...
O que interessa são as
recordações em ouro, prata e outras ligas menos valiosas. E depois, há o
tamanho! Sobretudo, miniaturas.... Quanto às pessoas, só depois de mortas,
angelicais e, ao mesmo tempo, vítimas...
Quanto às outras pessoas,
se vivas, melhor seria que fossem todas mudas e validas em estado de
prontidão...
Num blogue, até o delírio
das mamas altas (implantes mamários) pode ser registado, sem esquecer os
suicidas de todas as ilhas e continentes...
Agora que são 22h34, o
jantar ainda continua à espera de apurar se, afinal, o cantor se enforcou ou
deu um tiro nos miolos, depois do concerto...
A notícia aquece e
arrefece quase tantas vezes como o jantar. Ou será ao contrário?
Despeço-me que, depois da
Madona, vem aí a Shakira!
Às vinte em ponto, o
telefone tocou, mas o destinatário mostrou-se indisponível, deixando-me o
encargo de colher a mensagem, simples de registar: reduzir significativamente a
dose de venlafaxina (de 225 para 75 mg) e inviabilizar a utilização do respetivo
genérico...
A recusa mais não é do
que a confirmação do estado de perturbação em que o destinatário se encontra,
pois passou de profunda disforia a uma situação de hiperatividade frenética
desproporcionada e irrealista - transtorno bipolar...
Após a consulta
telefónica, seguiu SMS com a indicação de todos os medicamentos (e não só!)
tomados diariamente, pois aquilo que mais me preocupa é a toma de betametasona,
em gotas, pela facilidade da sua aplicação tópica...
(Pode viver-se em silêncio, o problema, contudo, agrava-se quando a memória
se degrada.)
18.5.17
O telefone tocou, mas era
apenas para assinalar a chegada à porta de casa, e para pagar o táxi. Melhor
assim! À hora de ponta, é preferível não descer à plataforma repleta de gente
apressada e mal-humorada.
Hoje, espero que o
telefone volte a tocar e que, do outro lado, se faça ouvir uma voz autorizada,
que dê instruções ajustadas.
Há, no entanto, um
escolho: o destinatário, embora não saiba que o telefone vai tocar às 20 horas,
já ameaçou desligá-lo.
Entretanto, informo o
leitor eventual que doravante deixarei de encaminhar estas postagens para o
Facebook.
17.5.17
Não é só quando a noite
cai que os impulsos se descontrolam. Ultimamente, saltam dos álbuns para as
redes comunicacionais e de transporte. Dão infinitas voltas, até que, no
regresso a casa, crescem no silêncio e impõem-se muito para além da
razoabilidade humana... Há quem lhe chame violência doméstica, eu prefiro
ficar-me pelo descontrolo emocional, embora desconheça o alcance das emoções...
Na hora de ponta, temo
que o telefone toque. Afinal, em cada esquina vive uma infinitude de emoções
capaz de provocar, a qualquer momento, uma convulsão...
16.5.17
O
açafrão e a canábis num tribunal de Aveiro
"É verdade que
fizemos a plantação, mas não foi nada planeado", disse a mulher,
adiantando ainda que na primeira vez foram enganados por um cunhado, que lhes
terá pedido um terreno para plantar açafrão. Perante o julgamento, a arguida
adiantou que tudo se descobriu após um ‘vendaval’, a estufa terá caído para o
terreno de um vizinho e o cunhado ficou muito 'aflito'.
Gosto do história do
casal condenado a prisão efetiva, vítima de um vendaval e sobretudo, no dizer
da senhora, de um cunhado. E também aprecio que o vizinho agricultor de 71
anos, já experimentado, também tenha sido condenado. Só não percebi o que é que
aconteceu ao cunhado...
O advogado de defesa só
podia encontrar atenuantes, argumentando que "eles não são nenhuns
profissionais do crime". Concordo. Só que me parece que eles revelaram
pouco profissionalismo ao não distinguirem os cormos do
açafrão da semente de canábis.
Por outro lado, o acórdão
parece-me bastante rigoroso e em conformidade. A juiz-presidente,
durante a leitura do acórdão, disse que ficou provada “a
generalidade” da matéria de facto que constatava a acusação.
A generalidade?
Então não foi por causa da generalidade que o casal confundiu a canábis com o
açafrão?
15.5.17
Marcelo,
o pedagogo, disserta sobre Álvaro Cunhal e a Democracia
O Senhor Presidente da
República deslocou-se esta manhã à Escola Secundária de Camões, onde deu uma
aula sobre Álvaro Cunhal e a Democracia.
Perante uma repleta e
atenta plateia de alunos e professores, o professor Marcelo Rebelo de Sousa
traçou o retrato político do antigo aluno do Liceu Camões, à semelhança do que
já fizera com outros "pais da democracia" - Francisco Sá Carneiro e
Mário Soares. (Até ao final de Maio, completará a iniciativa com Diogo
Freitas do Amaral.)
Porque entende, à
semelhança do que praticara Álvaro Cunhal, que a função do
homem político é, entre outras, pedagógica, o
Presidente decidiu fazer este périplo pelas escolas secundárias (antigos
liceus), pois considera que elas dão um importante contributo para a formação
de todos aqueles que se entregam à causa política, independentemente da opção
de cada um.
Da ação de Álvaro Cunhal,
o Presidente destacou duas fases: antes e depois do 25 de Abril de 1974. Na
primeira, referiu a frequência do ensino doméstico em Seia e posterior entrada
no Liceu Camões em 1924, onde terá evidenciado profundo apreço pela nova política
russa, revelando cedo a sua oposição à ditadura militar de 1926... Entrou em
Direito com 17 anos... Em 1934, foi eleito representante dos estudantes no
Senado da Faculdade. Em 1935, já era o líder da Juventude comunista, na
clandestinidade (...). Entretanto foi preso, tendo concluído, com distinção, a
licenciatura, em 1940, com a defesa de uma Tese sobre "O Aborto: Causas
e Soluções"... Entre 1949 e 1960, esteve ininterruptamente preso,
passando 8 anos em regime de isolamento, acabando por se evadir, refugiando-se
em diversos países europeus, só regressando em 1974. Em 1961, foi eleito
secretário-geral do PCP, cargo que ocupou até 1992...
Depois do 25 de Abril, o resistente antifascista manteve os ideais da
juventude, sabendo gerir os percalços da democracia, mesmo que esta se viesse a
afirmar como um retrocesso revolucionário e, sobretudo, viu-se forçado a
assistir ao desmoronamento da União Soviética...
De Álvaro Cunhal, Marcelo traçou o retrato de um homem culto, disciplinado,
duro, com quem apenas dialogou duas vezes, de forma breve, resistindo a
pronunciar-se sobre a pessoa na intimidade porque, na verdade, nunca com ele
privou.
Claro que o Professor Marcelo Rebelo de Sousa abordou muitos outros aspetos da
vida portuguesa pós-25 de abril, fazendo-o com a discrição e a elegância
próprias de um príncipe florentino..., se excetuarmos as selfies.
14.5.17
"Cada pessoa tem
o seu problema." Salvador Sobral
Gosto da forma assertiva
do Salvador Sobral, pois ele parece lidar com um problema tão nuclear que todos
os outros se tornam insignificantes ... Há algures uma sereia que o arrasta,
perigosamente.
Essa sereia também nos
encanta, só que, no meio da diversidade dos nossos problemas, torna-se de tal
modo inaudível que nos arriscamos a soçobrar sem apelo...
Salvador, um pouco como
Ulisses, concentra toda a sua energia em captar e incorporar a melodia, sem
deixar de estar acorrentado ao mastro primordial.
Nós, pretensamente,
libertos das correntes, continuamos no reino da crença e da magia, à beira do
precipício, como se o dia seguinte pudesse ser igual ao anterior,
suspensos...
13.5.17
A festa saiu à rua!
Veio o Papa, o povo
cristão desenfadou-se da tristeza: cantou, acenou, chorou e voltou a casa,
convencido de que a aurora de amanhã lhe sorrirá...
O Benfica ganhou o tetra
e já sonha com o penta para melhor humilhar os rivais...
E ainda não conhecemos o
resultado do Salvador, mas dele só podemos esperar a vingança das derrotas
acumuladas desde que existe eurovisão...
Por mim, todo este
frenesim me cheira a alienação, pois esta massificação das vontades traz-me à
memória outro tempo, o das catedrais, mas pode ser que o bulício me tenha
provocado tal confusão mental, que eu esteja totalmente errado, ou como Sartre (La
Mort dans l'âme) escreveu certo dia:
Quand on ne fout rien, on a des états d'âme, c'est forcé.
12.5.17
Desconfio que só quer ser
pastor quem o não é...
Por exemplo, Fernando
Pessoa, que nunca guardou rebanhos, gastou a vida a ordenhar ideias, secando-as
em tábuas de fingidas sensações. Até o sino da aldeia lhe surgiu no timbre do
badalo, porque de chocalho nada entendia...
O que ele nunca soube é
que, para além do rebanho interior, dele nasceria outro rebanho pronto a
deixar-se conduzir pelos caminhos...
Em tempos ainda pensei
que poderia ser pastor! Felizmente, faltou-me o rebanho...
Dentro de poucos minutos,
aterra em Monte Real o Pastor dos pastores. Não sei se ele terá algum dia
guardado rebanhos, desconfio, contudo, que só a tenacidade o faz andar pelos
caminhos... desta vez, da Serra de Aire... A única serra onde eu poderia ter sido
pastor...
11.5.17
"- Qu'est-ce qui sera difficile ? - De nous donner une
conscience. Nous ne sommes pas une classe. Tout juste un troupeau." Jean-Paul
Sartre, La mort dans l'âme. Folio, pág. 271.
Contexto: a
verrerie de Baccarat transformada em campo de concentração (ainda no sentido
literal) de soldados franceses na França derrotada pelos alemães em 1940.
Os soldados derrotados e
desmoralizados esperam, assinado o Armistício de Compiègne, poder regressar a
casa, embora não saibam como - a desonra condena-os ao mutismo...
Submissos e subservientes
aceitam incondicionalmente a ordem alemã. Não compreendem como é que os
vencedores de 18 se transformaram nos vencidos de 40...
Há, contudo, quem coloque a pergunta determinante : "Tu pourrais
peut-être nous expliquer pourquoi que vous avez perdu la paix ?" (ibidem,
268)
Perder a paz! Sim,
esse é que é o grande perigo! (Claro que ainda continua a haver quem
aconselhe: Si vis pacem, para bellum! / Se queres paz, prepara a
guerra!)
Como, infelizmente, em
tempo de paz abdicamos da consciência, mais não somos do que rebanhos dispersos
pelas pradarias da vaidade, da inveja, da ostentação e da soberba.
O paradoxo é que são
muitas vezes as mesmas ovelhas que se movem ritualmente em ondas de apelo à paz
sob a condução do Pastor do Momento...
O doente (in)paciente foi
internado de véspera; estava tudo assegurado... Hoje, pelas 9 horas, teve alta.
Tudo em nome do direito à
greve!
Quanto aos doentes,
parece que só têm o direito de sofrer ou, em alternativa, de ir a Fátima...
10.5.17
Também é difícil passar
meses à espera de uma intervenção cirúrgica considerada urgente, vê-la marcada
para uma data em que já há pré-aviso de greve, não receber qualquer
confirmação da sua realização ou do seu adiamento, ter de se deslocar para
internamento... e ficar à espera até que algum funcionário mais zeloso possa
esclarecer o paciente...
De qualquer modo,
esperemos que o funcionário não seja enfermeiro, pois também este pode adiar o
esclarecimento por ter iniciado greve de zelo por tempo indeterminado...
9.5.17
É difícil ajudar as
pessoas, quando elas não querem que as ajudemos. Também é difícil ajudá-las
quando a simpatia por elas diminui. E, provavelmente, a simpatia
extingue-se à medida que perdemos a paciência... Dir-se-á que a
simpatia começa a desaparecer quando a autossuficiência se evidencia na
relação diária e até ocasional.
Como reação, cria-se
distância, o discurso torna-se cortês, como que a nos resguardar de
uma súbita invasão do espaço pessoal - a zona de conforto que, também ela,
varia de indivíduo para indivíduo, sendo essa diversidade propícia ao
atrito manifesto ou latente...
Ultimamente, avolumam-se
os atritos manifestos, porque o tempo de adaptação diminui
drasticamente... apesar de nos sentirmos forçados a ser corteses com quem
não simpatizamos, gerando, deste modo, relações artificiosas e postiças.
8.5.17
Nesta Babilónia, qual é a
versão que corresponde ao texto deixado pelo Poeta?
(ver soneto Cá
nesta Babilónia, donde mana)
cá, onde o mal se afina, e o bem se dana,
e pode mais que a honra a tirania;
cá, onde a errada e cega Monarquia
cuida que um nome vão a desengana;
cá, neste labirinto, onde a nobreza
com esforço e saber pedindo vão *
às portas da cobiça e da vileza;
Camões, Luís de, 1994. Rimas, Coimbra: Almedina
Cá, onde o mal se afina, o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;
Cá, neste labirinto, onde a Nobreza,
O Valor e o Saber pedindo vão
Às portas da Cobiça e da Vileza;
http://www.portaldaliteratura.com/poemas.php?id=624
* A ideia de que a
Nobreza se preocupava com o Saber não se ajusta ao modo como Camões a retrata
na epopeia.
|
CXCIV © LUIZ VAZ DE CAMÕES SALMO 137 Às margens dos rios de Babilônia, nos assentávamos
chorando, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros daquela terra, pendurávamos,
então, as nossas harpas, porque aqueles que nos tinham deportado
pediam-nos um cântico. Nossos opressores exigiam de nós um hino de alegria:
Cantai-nos um dos cânticos de Sião. Como poderíamos nós cantar um cântico do
Senhor em terra estranha? Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que
minha mão direita se paralise! Que minha língua se me apegue ao paladar, se eu não
me lembrar de ti, se não puser Jerusalém acima de todas as minhas alegrias. Contra os filhos de Edom, lembrai-vos, Senhor,
do dia da queda de Jerusalém, quando eles gritavam: Arrasai-a, arrasai-a até
os seus alicerces! Ó filha de Babilônia, a devastadora, feliz aquele
que te retribuir o mal que nos fizeste! Feliz aquele que se apoderar de teus
filhinhos, para os esmagar contra o rochedo! |
7.5.17
« Cent persiennes closes ; un perron de trois marches accède à une porte
cadenassée. À gauche du perron, à deux mètres de la caserne, on a édifié un
petit rempart de briques haut d'un mètre et long de deux, Brunet s'en approche
et s'y accote. La cour s'emplit, un courant continu tasse les premiers arrivés
les uns contre les autres, les plaque contre le mur de la caserne ; il en
vient, il en vient toujours ; tout d'un coup les lourds vantaux du portail
tournent sur eux-mêmes et se ferment. “Jean-Paul Sartre, La
mort dans l'âme, page 262, folio.
Este é um daqueles dias
em que as luzes parecem extinguir-se. Provavelmente, muitos franceses,
confusos, não foram votar porque deixaram de acreditar na classe política -
naqueles homens e mulheres que insistem em celebrar "os caminhos da
liberdade", mas que tudo têm feito para os bloquear.
Este é um daqueles dias
em que a França desrespeita os seus filhos, ceifados em guerras inúteis.
Este é um daqueles dias
em que a razão se pode revelar efémera, pronta a cair às mãos
de hordas irracionais que vão alastrando um pouco por toda a parte... e
que avançam de olhos postos num qualquer milagre.
6.5.17
Tudo se encaminha para
que não passemos de arrendatários em risco. Se não pagarmos pontualmente a
renda, seremos eliminados e, pior ainda, os nossos produtos serão riscados do
mundo das coisas.
Somos de tal modo
codificados, que, algures, um robot pode desligar-nos sem aviso prévio. Por
vezes, parecemos a formiga que calcamos inadvertidamente e que, sem remorso,
sacudimos da sola do sapato...
A desumanização está em
curso! Talvez seja por isso, dizem, que há tanta gente voltada para Fátima,
embora desligada de Deus.
5.5.17
A bola
salta, ressalta e ainda atrapalha. Imóvel, espera a batida. Incongruente,
pois a espera não é propriedade da bola! Por isso, metáfora de uma vida
determinada por pulsões alheias, frequentemente de uma severidade extrema...
Felizmente, a bola não
tem coração, o que a não impede de esvaziar-se e, se velha, transformar-se em
meia usada em vez de trapo.
Na outra vida, a bola
era, por vezes, bexiga de suíno, só que quando ressaltava não atrapalhava...
4.5.17
Quando o Salazar chegou
ao poder ele criou o nome ditadura nacional e não era nada insultuoso. É bom
que se tenha isto como claro. Esta história de que a democracia é uma coisa
infalível, que não termina, não é verdade. Vejam o que está a acontecer na Turquia
(…) Para termos a nossa soberania económica, na segurança, podemos ter de
precisar de ditaduras. Rui Moreira
Pôr trancas à
porta não é a melhor solução, sobretudo quando faltam os recursos
próprios e os salteadores intestinos se multiplicam, sem esquecer o
colossal endividamento...
Os pequenos países e os
muito endividados são as maiores vítimas deste jogo entre economias abertas e
economias fechadas.
A ideia de que os
resultados a curto prazo da economia nacional são indicadores capazes de
aferir da justeza das opções políticas é uma insensatez.
Entristece-me que haja
por aí tantos portugueses fascinados com o Brexit ou com a
senhora Le Pen... Assim, como vejo com maus olhos o favorecimento do
corporativismo pacóvio e bafiento.
3.5.17
La France mérite mieux que Marine Le Pen... mérite mieux que le retour du
fascisme. Et nous aussi!
3.5.17
Se ontem não sabia o que
pensar, hoje continuo na mesma indefinição. Entretanto, deixei-me consultar por
um pneumologista (pensava eu que era de medicina interna, se tal existe!)
O senhor solicitou-me uma
"abordagem subjetiva" dos meus problemas, quando eu desejava que ele
apreciasse os relatórios e os resultados das análises, avaliou o tamanho do
pescoço, perguntou-me se eu roncava, certificou-se da minha idade e adiantou: -
há 50% de hipóteses de eu acertar no diagnóstico, por isso o melhor é o senhor
começar por se sujeitar a uma polissonografia no Hospital da
CUF Restelo, que a ADSE comparticipa...
A partir daí, a conversa
já foi com o computador, pois este, enfadado, colapsou... Quanto ao baixo valor
da vitamina D, lá foi acrescentando que, na realidade, o resultado era baixo,
embora não fosse nulo(?) e que me ia receitar um produto que já tomara certamente
na infância... Ainda pensei que fosse óleo de fígado de bacalhau!
Mas não! Era vigantol, 4
gotas /dia...
Em termos de
subjetividade, já não sei quem leva a palma - se o médico... se o paciente!
2.5.17
Depois do pico polémico
nos mass media e nas redes sociais em torno da
cientificidade dos valores de referência da Vitamina D - 25 - OH - Vitamina D
Total, que me deixou descrente visto que os kits utilizados na avaliação de
amostras do mesmo sangue fornecem dados muito distintos, acabo de ser
contemplado com o seguinte resultado: 9 ng/ml, considerando o
Laboratório como valores de referência atualizados a 26/04/2017 de
acordo com novos dados bibliográficos: 9,7-39,6.
Se bem entendi, a minha
deficiência de vitamina D é severa! Mas será?
Nesta
situação, proponho que os resultados das análises a que nos vamos
sujeitando venham acompanhados de bibliografia devidamente atualizada. Eu, por
mim, estou pronto a lê-la.
1.5.17
Não se pode dizer que no
Dia do Trabalhador ainda não tenha feito nada. Ora vejamos! Entre as tarefas
domésticas: despejei a máquina de lavar-loiça, enchi a de lavar-roupa; fui à
mercearia, comprar, entre outros produtos, feijão verde que já preparei e que
já está pronto a comer. Em termos sociais, dei uma olhadela às redes, onde
encontrei ex-alunos e colegas - um deles, ufano, por se dedicar à recolha de
microplásticos numa praia do Oeste luso; outro, fotógrafo da natureza
quotidiana, partilhou uma imagem de moinhos, não os de vento de que será
proprietário, mas dos outros, da energia alternativa... Tudo isto, à sombra de
uma ideia, a de que o obsessivo e minucioso Kafka não terá dada conta
deste lado tão doméstico e prosaico do trabalhador...
E acrescente-se que,
por um impulso pouco habitual, decidi comprar o DN de ontem, onde, numa
leitura global, já encontrei uma ideia que me deixou a pensar: todos temos
o direito a errar, e isso não deve impedir-nos de procurar atingir os
nossos objetivos, mesmo se contrários aos interesses de muitos outros, como
poderá ser o caso daquela senhora francesa que agora se chama apenas Marine, e
antes se orgulhava de ser Le Pen. Leonor Beleza dixit.
Vou interromper para ir
tomar um café. Pode ser que ainda volte ao assunto!
Afinal, o destino foi Moscavide, o que me obrigou a 35 minutos de marcha
acelerada, com regresso à Portela, e passagem pela drogaria (CCP) para adquirir
forra-fogão e anti traças (2 de cada) no valor global de 11, 20 €, preço bem
inferior ao do Continente, do Pingo Doce e do Suportel... e claro a uma nova
ideia adequada ao Dia do Trabalhador: os sem abrigo, os sem
trabalho, os precários são pessoas que não podem errar: isto é não podem
comprar o DN do dia anterior, nem tomar café e, sobretudo, forrar o fogão (que
não têm), nem comprar anti traças, pois a roupa é mínima e quanto a
livros, o melhor é nem pensar nisso.
E para terminar, em vez
de participar nas manifestações, vou regressar à
leitura do romance de Jean-Paul Sartre "La mort dans l'âme",
onde o domingo parisiense pode ser a semana inteira, basta que os alemães
invadam a capital e os intelectuais se consolem com a ideia da construção dos
Estados Unidos da Europa... encabeçados pela bota germânica. Quem diria?
E claro, amanhã, volto às
intermitentes aulas, e prometo, desde já, não falar destas ideias... deixo-as
para o Presidente que um destes dias nos irá visitar... com muito afeto e
espalhafato...
E já me esquecia do esparguete tricolor ao lume... é que 5 minutos bastam, tal
como esta prosa!
30.4.17
De loucos, todos temos um
pouco! E Kim Jong-un tem tudo!
Vive num país farpado,
rodeado de idólatras hilariantes, proibidos de dizerem não e cujo único
objetivo é fabricar armas de destruição maciça, convencidos de que só assim
sobreviverão ao ataque iminente do Eixo do Mal...
O ar tonto da figura
oculta um cérebro narcisista e megalómano capaz de tudo dizimar para se sentir
venerado como um deus.
Entretanto, altas figuras
da administração americana vão rejeitando a hipótese de que Kim Jong-un seja
louco, pois sabem que, apesar de tudo, Donald Trump ainda é mais louco.
Enfim, a tendência da
atual política internacional é colocar loucos à frente dos destinos do mundo, o
que significa que andamos todos loucos...
Até, aqui, em Portugal,
há cientistas políticos que consideram que Macron é bem mais perigoso (louco)
do que a Marine le Pen...
Por este andar, ainda
acabamos a desejar o regresso de Adolfo Hitler, que de louco não teria nem um
pouco...
Não são os deuses que
andam loucos, somos nós.
29.4.17
Esta insistência nos
detalhes pessoais está a tornar-se contraproducente. Em nada contribui para a
descoberta do que me move, pois não vislumbro qualquer progresso e aumenta-me
os níveis de ansiedade. É um pouco como se escrever fosse um meio de
enclausuramento.
É uma ânsia em que o
objeto se vai dissipando, pois não se sabe quando o tempo acaba - o meu tempo!
Porque se o tempo absoluto não existe, eu nem um nó chego a ser numa qualquer
cadeia ininteligível.
Talvez seja esse o motivo
que explica os jogos de automutilação: incapazes de definir etapas, ocupamo-nos
a testar a existência, pois do sentido há muito abdicámos.
Visto que o tempo sempre
foi uma das minhas obsessões, hoje resolvi recorrer ao canal das
gravações e procurar a série GENIUS (1º episódio) ... e lá encontrei o Albert
Einstein, o internacionalista, em colisão com os padrões políticos,
morais, sociais e científicos do seu tempo - do nosso tempo. Vou esperar
pelo episódio da próxima 5ª feira, ansioso...
28.4.17
Não canto! Cedo fui
dissuadido. A voz dissonante abafava a melodia angélica do coro
juvenil que reunia todas as noites depois do jantar. Era apenas um corpo
mudo à espera do termo do ensaio...
Ela, a senhora,
talvez distraída com o tricot ou com as piadas foleiras do todo-poderoso,
esqueceu-se de me dar tolerância de ponto, embora eu, em 1967, tenha
comparecido, desidratado e ávido da sombra de uma azinheira, por mais pequena
que fosse...
Não encanto! Cedo percebi
que a minha presença podia ser temida - relembro o dia em que me ofereceram uma
pequena coruja ou seria mocho? Anda perdido (a) numa gaveta, mas nunca
esqueci o tempo em que ela, a senhora, me cedeu um hotel católico
(?), para que eu pudesse formatar umas dezenas de catecúmenos com dinheiros
europeus - gastava-se à tripa forra!
(Agora queixam-se da
dívida! Querem pagá-la em 60 anos, mas qual, a de ontem ou a de amanhã?)
O desencanto avolumou-se
quando fui desviado para um ramal, por lá ficando uma dúzia de anos a polir os
cacos de uma ânfora perdida...até que, certo dia, bati com a porta.
Entretanto, substitui as
azinheiras por plátanos ainda mais caducos, perdendo definitivamente a
esperança de que a senhora baixasse os olhos, não para mim que
o não mereço, mas para todos aqueles que morreram longe, na guerra santa ou na
diáspora fiel, para todos aqueles que percorrem o calvário da falta de saúde,
para todos aqueles que envelhecem sem conseguir um trabalho que lhes dignifique
os dias...
Dizem-me agora que a senhora
me quer dar tolerância de ponto. E se eu, voz dissonante, não quiser?
27.4.17
« À quoi ça te sert-il d'avoir un avis ? Ce n'est pas toi qui vas décider
?» Jean-Paul Sartre, La mort dans l'âme.
Num tempo em que as
ideologias se esboroam, de que serve "ter opinião"?
Na Rússia, na Turquia,
nos Estados Unidos, no Brasil e, agora, em França, assistimos à morte das
ideologias, cujo maior ou menor sucesso se baseou sempre na capacidade de
formar opinião.
As sociedades secretas,
as igrejas, as universidades, a imprensa geraram as correntes e
as contracorrentes que justificaram os ideais que pareciam nortear as
sociedades...
Entretanto,
multiplicaram-se os pregadores, os comentadores e os avençados, sem esquecer as
certezas do cidadão comum... e tudo se liquefez.
Apesar do aluvião de
iluminados, a verdade é que quem decide já só vive para afirmar a sua presença
no mundo - à maneira existencialista. O que é muito pouco!
26.4.17
Das naus espera-se que
naveguem de forma segura. Sabe-se, no entanto, que muitas naufragaram, deixando
cargas preciosas no fundo dos oceanos. Dos tripulantes e passageiros, o
tempo lavou-lhes a memória de viagens afortunadas e promissoras... Apesar de
tudo, o naufrágio deveria ser considerado um subtema do grande tema que é
a viagem...
Aqueles de nós que não
andamos embarcados, desconhecemos o ímpeto dos ventos e a força dos
vagalhões, e quanto aos náufragos há muito que os abandonámos em areais
invernosos...
Por mim, nada posso dizer
sobre as viagens e as grandes catástrofes marítimas, o que não evita que
me sinta um náufrago em terra, sobretudo, quando as aves se revelam impiedosas
comigo...
25.4.17
Neste
25 de abril, ideias perigosas
Neste 25 de abril, várias
ideias assomam, perigosas:
- "Este já não é
o país dos cravos, mas dos cravas!" (popular, ou talvez não!)
- Roman Jakobson, ao
enunciar uma das funções da linguagem: a função mágica: "a
poesia está na rua" (nas paredes e nos quadros de Vieira da Silva);
"paz saúde habitação", outro modo de dizer a "revolução"
do "povo é quem mais ordena! “;... "MFA, o povo amigo está
contigo"...
O eco perdura nos cravos
que melhor fora que fossem rosas (de Isabel, de Leonor...) e não punhos
erguidos, fechados, deslaçados...
- E do fundo da memória:
a ORDEM do Estado Novo, a celebrá-la até à sua extinção; a LIBERDADE de Abril
de que pouco sobra... porque os seus paladinos se servem dela para asfixiar,
para mentir, para roubar...
Tempos houve em que
vivíamos num país ignorante, pobre, colonialista e amordaçado. Hoje, vivemos
num país virtual, ignorante, falido e roubado...e os ladrões continuam à
solta!
24.4.17
O liberal pró-europeu
Emmanuel Macron venceu a primeira volta das presidenciais francesas com 24,01%
dos votos, à frente da líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen que
conseguiu 21,30% dos votos, segundo os resultados definitivos do escrutínio de domingo.
A ideia de que a França
seja pró-europeia, nos tempos que correm, parece-me forçada. Por outro lado, a
ideia de que os franceses se deixam seduzir pela vertigem do isolamento, em
nome de valores xenófobos e fratricidas, assusta-me.
No entanto, a França já
deu imensas provas de ser capaz de mergulhar no abismo, ressurgindo como se
nada tivesse acontecido.
Os resultados eleitorais
de ontem parecem ser a expressão da ruína dos valores de que a França tanto se
orgulhou nos últimos séculos.
No que respeita à
situação portuguesa, qualquer resultado nos será desfavorável, pois não creio
que desta vez se possa dizer "do mal o menos".
A não ser a curto prazo!
23.4.17
« Déjà des morales éprouvées lui proposaient discrètement leurs services
: il y avait l'épicurisme désabusé, l'indulgence souriante, la résignation,
l'esprit de sérieux, le stoïcisme, tout ce qui permet de déguster minute par
minute, en connaisseur, une vie ratée. » Jean-Paul
Sartre, L'âge de raison
A leitura deste romance
não é fácil, pois as personagens, pequenos burgueses com pretensões intelectuais,
vão pondo à prova a ideia de liberdade, confinando-a à satisfação de desafios
pessoais, apesar da Guerra que se anuncia e da que vai martirizando a república
espanhola...
A questão mais importante
acaba por ser a da insensibilidade de Mathieu face à gravidez inesperada de
Marcelle, o qual, para se libertar do fardo da responsabilidade, acaba por
roubar cinco mil francos à decadente Lola, sem, no entanto, ser punido...A punição
resume-se quase sempre à inveja e à censura dos "amigos", ao consumo
excessivo de álcool e de droga, como se a sociedade não existisse. O crime é,
afinal, uma questão existencial, pessoal.
Mathieu, professor de
Filosofia, admirado pelos discípulos, atinge cedo a idade da razão,
deixando-nos a sensação de que o mundo (da drôle de guerre)
retratado por Sartre é postiço e imoral...
Por mim, fico-me com o
epicurismo desencantado, a indulgência sorridente, a resignação, a seriedade e
um certo estoicismo, pois também eu já cheguei à idade da razão.
22.4.17
A nudez surgiu no dia em
que duas criaturas foram desterradas do Paraíso. Amaldiçoadas, descobriram a
diferença, a dor e o trabalho.
Mais do que a dor e o
trabalho, aquilo que mais as incomodou foi a diferença e pode dizer-se que sem
esse detalhe a razão teria pouca possibilidade de se afirmar como critério de
ação, no caso, como meio de ocultação. O clima também terá ajudado, mas a
parra foi a primeira figura da condição humana.
Durante
séculos, fomos enaltecendo as criaturas que se dedicavam a superar
essa condição, isto é, aquelas cuja ação se centrava na revelação de
terras, de ideias, de ferramentas, do OUTRO...
Agora, enquanto milhões
de famintos e desnudos são abandonados à sua sorte, andam por aí uns
tantos inteligentes envolvidos em polémicas sobre o que vestir
ou despir para afirmar a diferença.
Haja paciência!
21.4.17
Vivemos onde raramente nos deslocamos
Ignoramos o que nos convém
Reconstruímos a memória rasurando o que nos é inútil
Promovemos o que não praticamos
Fingimos admirar a arte narcísica e decadente
RITUALMENTE
Volúveis e poéticos, deformamos a realidade até que ela pereça sob as asas do
abutre
Canonizamos as nossas fraquezas, idolatrando-as
em mitos, heróis, santos e outras
criaturas
angélicas, demoníacas
Prestamos-lhe culto e roubamos o óbolo ao barqueiro
As nossas indulgências já não edificam basílicas
somem-se em paraísos de ocasião com maior ou menor
DEVASSIDÃO
É absurdo querer conhecer o homem, pondo de parte a máscara
20.4.17
“Os EUA podem armar a
burguesia. O governo não pode armar o povo. ‘Tá certo”, escreveu Miguel
Tiago.
Não há dúvida que ando
mal informado!
Parece que os milhões de
mãos que pegam em armas nos Estados Unidos são, afinal, mãos burguesas. Quanto
à Venezuela, o sonho do deputado Miguel Tiago é que o Senhor Maduro arme as
mãos proletárias e nos devolva um milhão de portugueses burgueses...
(Tempo houve em que as
mãos proletárias angolanas (e não só!) nos devolveram cerca de um milhão de
portugueses. Será nostalgia? Criancice?)
Estamos de regresso à
luta de classes! Agora, imagine o deputado Miguel Tiago que o senhor Castro
distribuía armas ao povo cubano ou que o ditador norte-coreano agia no mesmo
sentido... Será que os burgueses que governam Cuba e a Coreia do Norte sobreviveriam?
19.4.17
Desde a Antiga Grécia que
os professores não têm interesses. A sua existência deve-se à vontade de
aprender de uns tantos que, à medida que iam ganhando poder, sentiam
necessidade de compensar quem os tinha ajudado a crescer e a afirmar a sua
autoridade, umas vezes despótica, outras, democrática...
Claro que os professores,
cedo, escolheram o seu lado. Uns pugnaram por um ensino elitista; outros
defenderam afincadamente a formação de cidadãos conscientes dos seus direitos e
dos seus deveres... não creio que, entre os direitos, sejam de considerar os
interesses...
(E também há aqueles
que se afirmam professores e que, de facto, nunca o foram...)
Os interesses dos
professores eram, afinal, as suas necessidades, reconhecidas pela comunidade
que, em vez de os desconsiderar como acontece atualmente, sentia que era sua
obrigação estimá-los e compensá-los pelos serviços prestados.
18.4.17
Pronunciamento
de Mário Nogueira
“Os sindicatos não têm
nenhum acordo, nem nenhuma posição politica. Nada se eleva acima dos interesses
dos professores”, disse o secretário-geral da organização, Mário Nogueira,
durante a intervenção que antecedeu o início do desfile.
As aulas recomeçam
amanhã. A FENPROF agendou para hoje um desfile protestativo de professores. O
seu secretário-geral fez um pronunciamento de isenção que me deixa ainda mais
incréu do que já era...
Por este andar, ainda vou
ver o Mário Nogueira a beijar o anel de Sua Santidade, o Papa, em Fátima.
17.4.17
Lido à distância, isto é,
fora de contexto, Jean-Paul Sartre define a "liberdade" como
absoluto:
« En classe de philosophie, il avait eu de vives sympathies par le
communisme et Mathieu l'en avait détourné en lui expliquant ce que c'était la
liberté. Boris avait tout de suite compris : on a le devoir de faire
tout ce qu'on veut, de penser tout ce qui semble bon, de n'être responsable que
devant soi-même et de remettre en question, constamment, tout ce qu'on pense et
tout le monde. » Les chemins de la liberté, L'âge
de raison
Leio e releio a
"filosofia de vida" de Boris e dou comigo a pensar em todos aqueles
que herdam, procuram e conquistam o poder tendo como objetivo a
afirmação pessoal da sua existência. Por exemplo, Tayyip Erdogan, o
Falcão, é, a partir de ontem, o sultão da Turquia, podendo fazer recuar as
suas origens a Mahmud de Gazni, que governou o império Gasnávida entre 997 e
1030.
Se levarmos em conta os
antecedentes, o novo sultão não descansará enquanto não alargar o território
turco e, sobretudo, não perderá a oportunidade de se perpetuar no poder...
Tayyip Erdogan é um
exemplo dos atuais caminhos de liberdade, mas há muitos mais... O melhor é nem
sequer os nomear!
16.4.17
O
lixo deles que também é o nosso!
O número de mortos no Sri
Lanka na sequência do colapso de uma montanha de lixo na sexta-feira foi hoje
elevado a 20, e os residentes temem que mais vítimas estejam soterradas.
O nosso lixo. Só nós
produzimos lixo! Só nós o empilhamos...
Só nós, que
inventamos todas as formas de destruição, nos revelamos incapazes de o
transformar ou de o eliminar, de tal modo que criámos o negócio da exportação e
da importação de lixo. Isto é, para esconder o problema, gastamos fortunas a
deslocalizar o lixo para os países mais pobres, para os lugares mais
recônditos...
Nesta santa Páscoa, o
acréscimo do consumo significa uma maior produção de lixo.
Será que nos preocupamos
minimamente de modo a evitar que um destes dias uma montanha de lixo desabe
sobre as nossas cabeças?
15.4.17
António Marto nota,
contudo, que "hoje está a tomar-se consciência de que Fátima é um
activo muito grande do ponto de vista da economia nacional, por causa do
turismo, do chamado turismo religioso. “
Não se pode dizer que, do
ponto de vista religioso, Fátima me incomode porque nunca cheguei ao ponto de
compreender os fenómenos sobrenaturais - houve tempo em que vivi de perto as
peregrinações e até participei em algumas, não por vontade própria, mas por
efeito do contexto sociocultural em que nasci e fui educado. Neste caso, o
esforço educativo não obteve sucesso!
Compreendo que as
consciências mais permeáveis procurem uma razão para o que as aflige, pois não
se satisfazem com a mera existência, mesma se anónima e efémera. Compreendo que
se procure a essência daquilo que assoma como réplica de uma fonte singular, divina,
porque esse é um dos traços da condição humana...
Só não entendo que a
Igreja católica portuguesa se preocupe tanto com a economia nacional.
Esse nunca foi um factor decisivo no seu comportamento ao longo dos séculos.
Afinal, as Igrejas da
Reforma preocupavam-se muito mais com a componente nacional, a
começar pela língua do culto.
Apesar de tudo, em 1967,
a Igreja católica apostólica romana tinha preocupações mais nobres: a
denuncia da irracionalidade do colonialismo português.
E eu, ovelha peregrina e
anestesiada, lá estive em Fátima, no dia 13 de Maio, sob um calor intenso e com
os pés numa lástima...
14.4.17
Eles não são diferentes
de nós, talvez um pouco mais revoltados, mas razões não lhes faltam...
Assimilados ou excluídos, vivem nos subterrâneos da vida...
(Por isso eu
compreendo todos aqueles que, genuinamente, os querem socorrer, mesmo correndo
o risco de serem abatidos ou de serem ostracizados...)
Só não compreendo aqueles
de nós que exultam porque uma bomba infernal os pode perseguir nas profundezas
da terra... até porque os conflitos não se ganham, exceto pelos senhores da
guerra...
E convém não esquecer que
"eles" podem estar longe ou estar entre nós e que quem os gera somos
nós...
13.4.17
O dever mais importante é
dizer a verdade. (Kant)
O problema é que não sei
qual é o critério (e se há só um!) que permite determinar a verdade.
Será que, à maneira de
Tomé, nos devemos reger pelos factos materiais?
Ou será que a imaginação,
mesmo se contrária à materialidade, é, também ela, capaz de gerar verdade, não
a mentira, o fingimento psíquico, artístico...?
A arte diz que sim. E a
vida?
Novalis fez-nos crer que
"quanto mais poético, mais real". Gostava que assim fosse, mas não me
parece que seja verdade...
Por exemplo, Sartre
explora em "L'âge de raison", os limites da liberdade,
apresentando situações verosímeis e bons argumentos, no entanto a verdade
humana faz do homem um ser escravo, embora frequentemente histriónico -
pragueja, esbraceja, mas não vai a lado algum...
11.4.17
“O PNL são extensas
listas indicativas de livros, adequados para cada etapa, que os professores são
convidados a escolher”, disse, acrescentando: “O cânone aplicado à escola é uma
coisa profundamente errada”.
"A Escola do
Ressentimento deseja derrubar o cânone de modo a fazer avançar os seus supostos
(mas inexistentes) programas de mudança social". Harold
Bloom, O Cânone Ocidental.
«A defesa dos cânones
já não pode ser levada a cabo pelo poder institucional central; eles já não
podem ser considerados obrigatórios, se bem que seja difícil ver como é que o
funcionamento normal das instituições do saber, incluindo o recrutamento do pessoal
docente, pode passar sem eles.» Frank Kermode, Formas de
Atenção, 1985.
Não tenho a certeza de
que o cânone aplicado à escola seja uma coisa assim tão disparatada. O que é
relevante, tal como aponta Harold Bloom, é que há na inteligência do
burgo uns tantos ressentidos por terem sido marginalizados pelo ministério de
Nuno Crato e que não perdem oportunidade para trazer ao debate as figuras
erradas - o genuíno gosto pela leitura dos nossos jovens e a superior
clarividência e sapiência das famílias...
Pelo que me toca,
preocupado com a preservação da identidade, mesmo que esta tenha de ser
adaptada às circunstâncias, preferia que o cânone literário global tivesse
um lugar central na formação do pessoal docente... e que os professores
voltassem a desempenhar a função que lhes compete, deixando de ser meros
ouvintes dos disparates acumulados em fontes sem qualquer valor científico e
estético.
10.4.17
Desde que inventaram o
tempo escolar que criaram a adolescência.
A adolescência tornou-se,
assim, um período que separa a infância da vida adulta, sendo de esperar que
seja de aprendizagem, de maturação.
Nos últimos dias,
rebentou a notícia de que 800 (?) adolescentes portugueses foram expulsos de
unidades hoteleiras espanholas, acusados de vandalismo... Descontado o exagero
dos números, típico da rivalidade ibérica, é bem provável que os jovens se
tenham excedido, não porque sejam portugueses, mas porque há muito que deixaram
de ser educados por quem tem essa obrigação - os pais. E os professores que o
digam!
Porque todos os dias, há
professores (sobretudo, diretores de turma), enxovalhados por adultos que não
querem o bem dos adolescentes, isto é, não querem que eles cresçam num clima de
responsabilidade e de rigor.
E depois há um Ministério
da Educação cúmplice da insanidade mental reinante pois, ao promover o reforço
da comunidade na vida escolar, esquece que essa comunidade se encontra
profundamente doente.
Quanto aos adolescentes,
para começar, só deveriam realizar viagens de finalistas depois de terem
concluído o 12º ano...
9.4.17
Mais
autores africanos ou mais autores de língua portuguesa?
Professores de Português
querem mais autores africanos nos currículos...os escritores africanos têm
também pouca expressão nos currículos.
“Não estão
representados nos conteúdos obrigatórios do programa, aparecem só na área de
projeto de leitura”, afirmou Edviges Antunes Ferreira, lamentando: “Não há
mesmo uma área que contemple o estudo dessa literatura”. (sic)
Será que existe uma
identidade africana? Será que nesse conjunto haverá um subconjunto constituído
por escritores africanos de matriz portuguesa?
A pressa de dizer é
inimiga do pensar! Em Angola, há escritores, tal como em Moçambique, na Guiné,
em São Tomé, em Cabo Verde... Só que a matriz cultural e linguística é feita de
raízes muito diferentes, o que não permite colocá-los todos no mesmo saco, a
não ser por preconceito, o tal lugar, onde o dizer atropela o pensar...
Enquanto professor de língua portuguesa, apenas recomendaria que os programas
de Português resistam aos estereótipos que inviabilizam o conhecimento
diacrónico e sincrónico do que é a riqueza literária produzida, tendo como
suporte a língua portuguesa, aqui, na América, na Ásia, em África ou na Oceânia...
A
nós só nos resta ser afundados sem aviso prévio
Ainda não me saiu da
cabeça a ideia de que o Presidente dos Estados Unidos ordenou um ataque, como
retaliação, a uma base militar sírio-russa, mas tendo o cuidado de avisar os
proprietários.
Será provavelmente um
novo conceito de guerra que visará fomentar a produção e o comércio de armas...
Mais do que saber se se
trata de um Novo Tratado de Tordesilhas, o importante é conhecer quem é que
controla os mercados acionistas, e aí os senhores Putim e Trump parecem
acertados, procurando deixar a China de fora...
Os Chineses que se
cuidem... que a nós só nos resta ser afundados sem aviso
prévio...
7.4.17
Como escrevi ontem, o
inferno está em nós. Os sintomas são cada vez mais evidentes. De nada
serve querer matar os demónios alheios se, a cada passo, geramos o mal...
As instituições não
conseguem reger-se por valores universais. Preferem o relativismo axiológico e
as inerentes fronteiras, sempre mais musculadas...
Cerram-se as portas,
reforçam-se as janelas, criam-se sucessivos perímetros de segurança e até a
própria terra vive cercada por milhares de satélites de espionagem.
A pegada de cada um
repete-se milhares de vezes ao dia, pondo definitivamente termo à vida privada.
Em cada círculo que se
abre, acantonam-se as castas, esperando que elas não rompam as barreiras. E se
o fazem, metralham-se ruidosamente ou gaseiam-se no silêncio das horas...
6.4.17
C'est marrant la jeunesse, pensa Mathieu, au-dehors ça
rutile et au-dedans on ne sent rien. Quem
o escreveu foi Jean-Paul Sartre, em L'âge de raison / Les
chemins de la Liberté, 1945.
A ideia parece-me um
pouco obscura, a começar pela oposição entre o brilho exterior e o vazio
interior. Não sei se a distinção ainda faz sentido, porque aquilo que vou
observando é a multiplicação de figuras dúbias, mentalmente formatadas por
encenadores cujo único interesse é o capital.
Claro que as réplicas
ainda acreditam que têm sentimentos e, sobretudo, que têm o direito de
desocultar aquilo que pensam ser a sua singularidade. E fazem-no umas vezes sem
pudor, outras lamuriando-se por não ser compreendidas ou mesmo por serem
reprimidas.
Como Sartre proclamou
noutro lugar e a outro propósito: - L'enfer ce sont les autres!
Creio, contudo, que o
Inferno não mora ao lado...
O que aqui registo mais
não é do que a expressão da minha surpresa perante a morte daquilo que outrora
era designado como "a intimidade" e que, como tal, não procurava a
exposição pública.
5.4.17
Perguntado se tinha
alguma coisa a dizer sobre o rendimento e o comportamento..., respondi
automaticamente: - "Não tenho nada a dizer..."
Eu próprio me surpreendi.
Ao fim de 42 anos, deixei de ditar para a ata uma série de lugares-comuns que,
de facto, nada acrescentam... Trata-se dum ritual revelador do imobilismo em
que caímos.
O que temos tombado nas
atas de pouco serve, até porque elas se tornaram depósito de burocracia
confinada a meia dúzia de tópicos, em que os contactos com os pais e os
encarregados de educação predominam, isto é, atos que deveriam ser matéria de
outras atas...
É um pouco como nos mass
media, as notícias já não registam acontecimentos, são apenas repetições e
encenações decalcadas de uma matriz industrial...
E depois há essa
evidência absurda, num tempo de enorme evolução tecnológica, mais não fazemos
do que confirmar atos pretéritos... e assim ocupamos o tempo, com a sensação de
que ele nos faz falta, mas já não sabemos para quê.
Cumprimos uma
inevitabilidade improdutiva.
Para quem se arrepia com
a referência às reformas estruturais, aqui fica o registo de que na Escola
(Educação / Ensino / Formação) há uma reforma estrutural por fazer.
4.4.17
Podia expor, aqui,
situações de perspicácia, de matreirice, de zelo, de inibição, até de
lucidez... Contudo, só uma situação de ansiedade permanece. Uma ânsia de
natureza milagrosa, inútil, a meu ver, pois os milagres não conseguem abrir
brecha na minha racionalidade...
Talvez haja a uma
explicação, um pouco protestante, para esta minha resistência - não terei
recebido a graça divina, o que quer dizer que não sou eu que passo ao lado da
divindade, é ela que não quer nada comigo...
Da sarça eleva-se uma
contradição já um pouco fria, mas, na verdade, eu até considero a ansiedade
estimulante, desde que ela não me esgote as forças e me faça superar as horas
da desgraça...
O dia de hoje fica
marcado por essa ansiedade positiva que, penso, se irá manter nos próximos dias
por mais carregados que eles se afigurem.
Há, todavia, situações
para as quais não há explicação: não saber interpretar exames clínicos, usar
canadianas para fugir a certas obrigações, desconversar, ou mesmo
"distrair-se" para escapar à exposição pública... sem esquecer o
político que diz não saber o que são 'reformas estruturais'...
3.4.17
Abandonou a cabeceira da
mesa. Senta-se agora de frente para o espaço que se alarga e revela não só a
porta de entrada (de saída), mas também a sala do fundo. O movimento aumenta
nos intervalos e as conversas, por vezes, intensificam-se ao ponto de se confundirem
numa algaraviada feminina estonteante...
As mãos pequenas e
nodosas imobilizam-se longe dos ponteiros do relógio e os olhos perscrutam os
pequenos gestos até que, de súbito, a jovem professora, ao folhear o boletim
Confluências (2ª série /janeiro-março 2017), apercebe-se que, a seu
lado, se encontra o autor mencionado na pág. 3. Será aquele um primeiro livro?
Haverá outros?
O autor, de pé, à
cabeceira da mesa, lá vai acrescentando que sim, que há outros, de poesia...
Entretanto, talvez, devido ao renome da escola em que foi colocada
recentemente, a jovem professora aproveita para interpelar o colega sentado à
sua frente, querendo saber se este também já publicou algum livrinho.
Azar o dela, as mãos
pequenas e nodosas foram sempre demasiado canhestras...
2.4.17
A angústia é um estado
físico e mental que asfixia o corpo e desorienta o espírito.
Para os existencialistas,
a angústia era um sentimento iniciático que abria o horizonte para a revelação
do homem em si. Provavelmente, esta ideia é uma extrapolação forçada de alguém
a contas com o absurdo da existência de um Deus alheado do terror humano.
Na perspetiva
existencialista, o lá-fora era de tal modo horrível que se tornara impensável
aceitar que o ser pudesse pré-existir antes de cada indivíduo e, sobretudo, que
a essência fosse capaz de explicar a efemeridade da vida...
Apesar de tudo, a
angústia lidava com a expectativa de uma duração razoável - o terror da morte
era ainda um tema exótico...
Hoje, a angústia consome
o momento e cresce demolidora.
1.4.17
Que o Fado é uma boa
desculpa para tudo o que (não) acontece, não tenho dúvida. Que o Futebol
preenche a vida de uma boa parte dos portugueses, também não duvido. Que Fátima
continua viva como refrigério para umas centenas de milhares de portugueses, é
inquestionável...
Não tenho dúvida, mas não
sei por que motivo. Não creio que seja apenas uma questão de atavismo.
Provavelmente estamos já na fase da liquidação da identidade: primeiro, o
território; depois, as empresas; finalmente, nós...
Bem sei que há quem
defenda que a nossa identidade, embora obsoleta, se resume ao Fado, ao Futebol
e a Fátima, mas não me conformo.
31.3.17
Assegura o chefe do
Governo que está “afastado o espectro da liquidação” do banco e que a venda
terá “impacto positivo na estabilidade do sistema financeiro”, e ainda que “não
serão exigidas contribuições extraordinárias” para suportar a alienação do Novo
Banco.
A solução Novo Banco. Como
não sou crente, a declaração de António Costa vale zero. Há muito que o país
está em liquidação e só quando se diluir numa outra qualquer realidade é que o
problema deixará de existir.
Nunca tivemos capacidade
de autossustentação. Fomos e somos o produto de contingências que não
controlamos... Não é apenas o Poeta que é um fingidor, somos todos nós!
Bem sei que o Papa
Francisco vem aí celebrar o milagre de Fátima, mas a verdade é que continuamos
a fingir. Sempre ouvi dizer que a Senhora viera para que rezássemos para que o
Comunismo não alastrasse à terra da cristandade...
Os tempos vão tão
confusos que se a Senhora decidisse voltar, provavelmente limitar-se ia a
solicitar que rezássemos contra os vendilhões...
30.3.17
Mais
poeira no Ministério da Educação
- Defendemos uma orientação pedagógica
estável e, por isso, estamos a tentar que a educação comece dos zero
aos três anos.
- Investir nos adultos é investir nas
crianças.
- Tentar agir aos primeiros sinais de
insucesso, prevenindo o fracasso escolar;
- Aulas de apoio são um caro insucesso.
O aluno fica exausto da mesma forma de jornada de trabalho.
- Queremos investir 19 milhões de euros
em formação de Relevância, Qualidade e Impacto.
João
Costa, Secretário de Estado da Educação
- Dos zero aos três anos?
Será que o Estado (espartano) quer substituir os pais?
- Afinal, o Programa
Qualifica tem como objetivo formar os pais como educadores? Mas, para quê, se o
Estado se quer ocupar da educação dos bebés?
- O insucesso é fruto da
falta de enquadramento pedagógico e do modo como o Estado insiste em não
promover, de forma diferenciada, a resolução das dificuldades de aprendizagem
de cada jovem, integrando-os em grupos de nível...
- Quanto às "aulas
de apoio", estas só beneficiam um número muito diminuto de alunos... E a
questão da exaustão é um falso problema, pois trabalha-se pouco e mal, até
porque os recursos, em muitas escolas, são obsoletos.
- O investimento nos
professores é, como sempre, um negócio, desta vez em torno de conceitos
bélicos: "relevância", "qualidade" e "impacto". A
verdade é que o Ministério da Educação abandonou a formação de docentes,
deixando-a a cargo de personagens sem qualquer formação pedagógica, sejam eles
do Ensino Superior ou mesmo das grandes editoras... Há muito tempo que o ME foi
feito refém pelas editoras, como o senhor professor João Costa, bem sabe...
29.3.17
O que dizer? Se nada
disser, parecerá desinteresse ou, no limite, desistência.
Se ensaiar uma resposta,
ficará a sensação de que o emudecimento teria sido melhor.
Hoje, perguntaram-me de
quanto tempo necessitara para escrever o post "A
condição humana". Surpreendido, respondi 30 minutos. E de imediato
hesitei, pois me pareceu que o tempo necessário seria muito mais
extenso...
Meti a viola no saco e
segui caminho...
O resto do dia apenas
serviu para mostrar que o silêncio ter-me-ia evitado a inopinada subida de
tensão. O problema é que replico sempre que a perceção da realidade entra em
conflito com o estado do mundo.
Entretanto, regressei à
pergunta matinal, para concluir que mais valia ter respondido que os 30 minutos
de escrita eram, afinal, a expressão de uma vida...
28.3.17
Tem de haver sempre um
culpado! Alguém que sacode a água do capote, que passa a bola, que alija a
carga...
Um vestígio romântico de
pária atirado para a margem, abandonado à sorte madrasta...
Apenas um rumor
inconfessado de castigar o Outro por tudo o que vai acontecendo. Uma vontade
súbita de adormecer e de acordar como se nada se passasse... Porém, as horas
cruéis são de crime!
27.3.17
Repete incansavelmente um
tempo imperfeito, que correra bem e descambasse a cada momento, mesmo se cada
dia mais não fosse do que uma réplica de múltiplos episódios, consequência de
ter nascido em dia aziago...
Para lá desse dia,
existiria a abundância, embora saiba que o tempo já era de desarmonia.
Só que o saber de nada
serve, quando se regressa ao abismo.
26.3.17
Há conceitos que se
banalizaram de tal modo que deixaram de ter utilidade. Hoje, não passam de
etiquetas que se colocam sobre certas formas de lidar com o Outro. Estou a
referir-me aos conceitos de multiculturalidade e de interculturalidade que
determinam espaços de acantonamento e de integração, embora diferenciada.
Mary Louise Pratt (1992)
propôs que a investigação passasse a centrar-se na «zona de contacto», porque
este conceito obriga a equacionar a distância e a proximidade a que nos
situamos do Outro.
O problema é que quanto
mais nos aproximamos, mais sentimos necessidade de traçar limites.
Na verdade, quando
distantes, não vemos obstáculos à diluição de fronteiras; só que, quando o
Outro entre no nosso espaço, surge o medo, o desassossego, a
fobia, o ódio...
Como alternativa, os
políticos de esquerda preferem a abordagem exótica, desde que ela traga
dividendos.
Quanto aos políticos de
direita, preferem levantar muros. Preferem o apartheid, em nome de
uma pureza fantasiosa.
25.3.17
Os
media e os rituais de morte.
... de tal modo
que a imortalidade se tornou alcançável pelos caminhos do ódio e da destruição...
in "A condição humana", 24/3/2017.
A ideia é minha, mas peca
por excessiva. A imortalidade já não interessa a ninguém! O que conta é o
fulgor do momento, o raio que se liberta do trovão e que se precipita
fulminante sobre a vítima... E a glória da mediatização é a droga que acelera o
coração e entorpece a razão.
Não é islâmica, a faca
que degola, é a que mata o suíno num ato de superação da impotência de quem só
recobra a honra através do sangradura pública.
Infelizmente, a
comunicação social vive e alimenta cada vez mais os rituais de morte.
24.3.17
Ainda não havia tempo,
quando duas criaturas bíblicas, que residiam num lugar paradisíaco,
desafiaram Deus, sendo desterradas, como o próprio termo sugere, para a Terra,
e condenadas a trabalhar, a sofrer e a multiplicar-se.
Foi essa desobediência
que gerou a condição humana: as duas criaturas, ao perderam a imortalidade,
tornaram-se efémeras, fracas, vulneráveis e, sobretudo, conscientes da sua
pequenez.
No entanto, a mudança de
estado não lhes destruiu o sentido do desafio. Através da multiplicação e do
trabalho, acreditaram ser-lhes possível regressar à casa original, embora o
percurso lhes pudesse exigir sacrifícios infindáveis e, em particular, a morte.
Mas nem a morte
inexorável os levou ao desespero absoluto, isto é, à renúncia. Pelo contrário,
definiram rumos precisos, cuja meta derradeira é a imortalidade, aonde se
poderá chegar pela via do heroísmo (herói clássico) ou pela via da santidade
(santo)...
E são estas as rotas
escolhidas pelo homem para superar a condição humana. Todavia, "incapaz de
assistir num só terreno", o homem gasta boa parte do seu tempo a disputar
qual das rotas é a verdadeira, de tal modo que a imortalidade se tornou alcançável
pelos caminhos do ódio e da destruição...
Talvez seja por isso que
os jovens preferem viver num universo paralelo - o paraíso lúdico. Só que lá
não deixam de procurar a imortalidade, ao quererem a todo o custo superar os
jogos com que o Incognito Deo lhes junca as vidas...
Há, contudo, riscos:
neste desterro, a multiplicação já é possível sem um verdadeiro empenho dos
filhos e das filhas das duas misteriosas criaturas bíblicas, o trabalho humano
pode perfeitamente ser realizado por todo o tipo de máquinas... apenas sobra a
dor (humana) materializada numa depressão sem fim.
23.3.17
Funcionário
público não é filho de Deus!
Quem tem 48 anos de
descontos pode reformar-se sem penalização.
Governo elimina o factor
de sustentabilidade para todas as reformas antecipadas.
O novo modelo só se
aplica a quem desconta para a Segurança Social. Os
funcionários públicos manterão o regime atual.
O melhor é não pensar
mais no assunto! Esclarecido para todos os efeitos!
22.3.17
A
montante e a jusante do terror
" - O que
importa é o que cada um tem na cabeça!" - resposta de um jovem
revoltado.
Ao contrário do que se
apregoa, o terror não tem origem nem na ideologia nem na doutrina nem na
cultura nem na moral. O terror tem origem na necessidade de cada um afirmar a
sua presença no mundo de que se sente excluído...
Ao contrário do que se
pensa, a escola não inclui. A escola afunila. À saída, a escola abre para
a terra de nenhures..
E é nessa terra de
nenhures que o desespero humano se transforma em horror.
Entretanto, os
comentadores insistem em explicar o terror, atribuindo-o à ideologia/doutrina
islâmica, a maquinações satânicas cujo único objetivo é estender o medo,
gerando choques ideológicos, religiosos e culturais propiciadores de eugénicas
guerras.
21.3.17
Segundo a edição online
do Semanário Económico, a presidência da República portuguesa considera
que “é inacreditável e inaceitável” que Vítor Constâncio, atual
vice-presidente do BCE, aceite a aplicação de sanções ao país, questionando “o
que é que Vítor Constâncio está lá a fazer”.
Há (ou deveria haver) um
verbo que dá conta do que acontece a um português quando se muda para os
trópicos ou, em alternativa, para instituições de alto gabarito - o
português cafrealiza-se.
Outrora, portugueses
houve que se deixaram voluntariamente assimilar pelos cafres... o
que, em certos casos, me pareceu de bom gosto tal era a selvajaria que
florescia no reino...
Hoje, apesar de
continuarmos a viver acima das nossas possibilidades - há quem diga que
o excesso sempre foi do Estado e das empresas! -, não faltam
portugueses que, colocados estrategicamente em altos cargos internacionais, não
desprezam a oportunidade de passar a viver de acordo com a bitola dos tempos
modernos, esquecendo, de vez, a proveniência.
20.3.17
A temperatura baixou. As
nuvens avolumam-se. A chuva parece que chega amanhã.
Sobe a tensão e a
irritação. Turva-se o olhar, até parece que um madeiro se atravessa...
Primeiro, avança pela esquerda e, depois, pela direita... O rosto enrubesce e,
cambaleante, avança rua acima ou será rua abaixo?
A própria voz emudece e a
mão tem instantes em que desobedece... e quando tal acontece já a Primavera é
sem regresso...
A gata subiu o teclado,
indiferente às flores que vão começar a murchar, e seguiu o seu caminho...
19.3.17
O texto. Diz. O quê? Afinal,
o texto não diz.
Para que dissesse, era
preciso que os olhos pousassem sobre ele. Descortinassem os parágrafos. Cada
parágrafo, constituído por frases simples ou complexas. Enunciados...
...e que as
palavras tivessem um significado preciso e, por vezes, ambíguo, mas não
aleatório...
Era preciso que os olhos
descortinassem a ordem das palavras e vislumbrassem a disciplina a que são
submetidas...
Era preciso que as
palavras dissessem o mundo, não o nosso, mas o de quem as ordenou...era preciso
que as respeitássemos como representação, literal ou simbólica, ou, apenas,
prenúncio...Era necessário que não as flexibilizássemos em demasia, que não as denigríssemos
nem as branqueássemos... nem as ignorássemos
Talvez, o texto pudesse
dizer. O quê?
- Logo se veria!
18.3.17
«Cerca de sete meses
antes do fim da guerra, em 30 de Setembro de 1973, os efetivos militares em
Angola contavam com 65 992 homens (...) Em 1961, eram 6500 militares...» Rui
de Azevedo Teixeira, A Guerra de Angola 1961/1974, Quidnovi.
No século XVI, os padrões
já não garantiam a presença portuguesa no mundo. E porquê? Por causa do deficit demográfico...
Entretanto, foi-se gerando a ilusão do Império na metrópole, alimentada pelos
novos métodos de colonização, assentes na ideia da superioridade moral do
cristianismo europeu - uma colonização, no caso português, mitigada, porque,
devido ao deficit demográfico, se viu forçada à miscigenação...
e depois vieram as guerras de prova de ocupação,
decorrentes da Conferência de Berlim, e, sobretudo, 'a guerra colonial' como
prova de vida do Estado Novo...
Se no terreno, a guerra
parecia poder continuar enquanto a Guerra Fria se mantivesse ativa, a verdade é
que o esforço de guerra se tornara insuportável... de tal modo que a rendição
portuguesa se precipitou.
Nos últimos anos,
dilacerados por dentro, insistimos na nossa superioridade moral, por exemplo,
em relação a Angola, incapazes de julgar a peste que tudo vem dizimando.
17.3.17
Do
que é que têm medo? Será de Platão?
Acusem o homem!
Se tantas foram as
vantagens financeiras dos negócios apadrinhados pelo homem, acusem-no de vez!
O Ministério Público sabe
certamente onde é que param os milhões de euros ou como é que foram gastos. E
também conhece as rotas, pelo que se diz na comunicação social. Será que os
milhares de ficheiros produzidos não são suficientes para fundamentar a acusação?
O processo já vai tão
carregado que, quando chegar a julgamento, irá ficar parado até que os senhores
juízes o leiam. Provavelmente, serão os netos dos atuais magistrados a
deliberar, já Sócrates terá optado pela cicuta...
Do que é que têm medo?
Será de Platão?
16.3.17
«Em meados do século
XX, presumia-se frequentemente que o secularismo seria a ideologia dominante e
que a religião não mais voltaria a desempenhar um papel preponderante na
política mundial.» Karen Armstrong, Conseguimos Nós
Viver sem o Outro?
Na escola pública, o
silêncio sobre as religiões é tão profundo que já não sei o que fazer aos meus
jovens interlocutores. Se lhes ensinasse Matemática, provavelmente, a minha
angústia não teria razão de ser, mas como, por ora, o meu magistério continua centrado
na língua, na cultura, na arte, na literatura, nas vertentes diacrónica e
sincrónica, vivo num monólogo interminável, pois o Outro, absolutamente
secularizado, nada sabe da referência religiosa, vista de forma identitária ou
hostil... e tudo isto num tempo de proximidade e conflitualidade inevitáveis...
E apesar de tal
estranheza, os estereótipos continuam a poluir a língua e a reproduzir-se
insensatamente nas políticas, nos programas e nos manuais das Ciências, ditas,
Humanas, incapazes de abolir a simples ideia de que a superioridade moral de
uma qualquer cultura possa continuar a imperar, mesmo se alicerçada na
santidade de valores, como tolerância, liberdade de expressão,
democracia, separação da Igreja do Estado... porque «a modernidade
não foi baseada num conjunto de ideias, mas sim numa alteração fundamental que
se deu na base económica da sociedade.» Karen Armstrong, Conseguimos
Nós Viver sem o Outro?
Bem pode o Papa Francisco
declarar que comete "um pecado gravíssimo", quem «retira o
emprego" às pessoas para realizar "manobras económicas ou
negócios pouco claros", a verdade é que, neste século XXI, a base
económica da sociedade está a mudar, precarizando cada vez mais o trabalho
humano...
Eu, por mim, já tenho
dificuldade em explicar o que possa ser o ´pecado', ainda por cima gravíssimo,
embora saiba que a culpa é de Deus... e data do dia em que expulsou os anjos do
Paraíso, obrigando-os a sofrer, a trabalhar e a multiplicarem-se, isto é, a
serem homens... Afinal, no Paraíso não havia homens!
Pela via secular,
estaremos de regresso ao Paraíso e os meus jovens interlocutores estão bem mais
perto dele do que podem imaginar.
No essencial, o que eu
queria registar é que, em 2009, foi posto à venda um livrinho que talvez nos
possa FAZER PENSAR: Podemos Viver Sem o Outro? As possibilidades e os
limites da Interculturalidade, Lisboa, Tinta-da-China.
15.3.17
Costa
trava flexibilização curricular
Costa trava Tiago
Primeiro-ministro deu
orientações a Tiago Brandão Rodrigues para não avançar com flexibilização
curricular e evitar riscos no arranque do ano letivo, a um mês de eleições. Em
setembro, a medida só vai avançar em 50 escolas para o ministro da Educação não
perder a face.
Como todos sabemos, a
educação é a prioridade do coração socialista, mas que, de tão entranhada, bem
pode ser atirada para longe do calendário eleitoral... Quanto ao jovem Tiago,
este não irá "perder a face", pois vai poder flexibilizar nas 50
escolas que se manifestarem dispostas a servir 'suas excelências'...
14.3.17
As portas vão-se
fechando. Das janelas pouco se enxerga. Dos bandos, chovem acusações enquanto
se afiam facas...
Ainda se a guerra fosse
tão discreta, mas não, a que nos cerca arranca as raízes e esmaga os frutos...
Das flores, só as de plástico e mesmo estas, liquefeitas, já não sabem o
caminho da foz...
Ainda andamos à procura
do perfil do guerreiro, sem saber que este vive nos templos de todas as
religiões, de todas as seitas, de todas as ciências... Só que o guerreiro total
não tem perfil - é uma máquina omnívora infernal.
Não levem a mal! Isto
deve ser rabugice minha!
13.3.17
1. Contorno do rosto de uma pessoa, visto
de lado; delineamento de um objeto, visto de um dos lados...
2. Corte que deixa ver a disposição e a natureza das camadas dos terrenos...
3. Escrito breve, em que a traços rápidos se esboça o retrato de uma pessoa.
4. Carácter.
5. Génio
Dicionário de Português da Porto Editora.
Creio que os cubistas e
os intersecionistas (e outros que ignoro!) já se terão debatido com a
parcialidade (a insuficiência) do perfil. Já lá vão 100 anos!
Espero que, à saída dessa
enormidade que é a "escolaridade obrigatória", não aproveitem para
seccionar o aluno / cidadão, em democrático e não democrático... isto é,
observá-lo de um dos lados, como se a cidadania fosse graduada e segmentável...
Em termos psicológicos,
estou ansioso por ver a máscara que os jovens cidadãos vão ter de colocar para
poderem ser membros de pleno direito desta engrenagem carnavalesca.
Quanto ao carácter,
provavelmente, o programador já o terá desenhado, deixando-o falho de qualquer
engenho, por muito genial que possa parecer...
Como se pode imaginar, se
há algumas décadas, alguém se tivesse lembrado de traçar o "perfil do
aluno à saída do Liceu", não andaríamos hoje às voltas ao Marquês, a
tentar apurar se o Espírito Santo é, afinal, uma pomba estúpida ou uma língua de
fogo...
12.3.17
“Volvidas duas
(três) semanas de debate em torno de uma questão que, efetivamente, não se
coloca, entendeu o Ministério da Educação ser taxativo quanto à questão do
Português e Matemática — que não irão sofrer redução horária”. (sic)
Efetivamente, a questão
não deveria ter sido lançada nos termos em que o foi, até porque o tempo
atribuído para a lecionação das disciplinas de Português e de Matemática é
manifestamente insuficiente.
A aprendizagem pressupõe
tempo de exposição, de consolidação, de correlação e de aplicação em novas situações.
A aprendizagem pressupõe
o recurso a uma metodologia estável, imune à volubilidade de quem governa e de
quem gere...
E já agora, a
aprendizagem também pressupõe uma certa dose de honestidade!
10.3.17
(Um papagaio
indisciplinado soltou-se do penteado da "dona" e decidiu regressar ao
Congo...)
Um vizinho entra na loja
de pronto-a-comer e, fazendo de conta de que não está lá mais ninguém, compra
meio frango assado, porque não lhe vendem um quarto, uma colher de polvo, 50
gramas de batata frita...
Na mesma loja, o e-fatura
esclarece que os produtos ali vendidos não devem ser considerados na categoria
"restauração", mas "outros serviços"...
Entretanto, alguém me
pede explicação sobre o que é um "comportamento indisciplinado" numa
sala de aula, enquanto me é solicitado que deixe de cumprir a programação para
que uma turma possa estar presente numa atividade transdisciplinar(?) - prática
corrente, recorrente...
Convencido de que a
disciplina serve para poder levar a cabo um programa, uma aula, uma tarefa, um
plano de tratamento de saúde, de forma eficaz, vejo-me a braços com atos cada
vez mais abusivos de indisciplina.
Por este andar, mais vale
acabar com qualquer tipo de regra. Salve-se quem puder, que eu já não tenho
cura: a não ser ter paciência, ser tolerante, obedecer e conformar-me com a
desfaçatez reinante.
9.3.17
Viver como? Para quê
esperar que a razão nos elucide?
Basta abrir os olhos!
Só que há quem, não sendo
invisual, prefira fechá-los...
A noite a seu tempo virá,
e nada poderá opor-se-lhe.
8.3.17
Faltam poucos minutos
para que termine um dia que melhor seria não ter começado. Talvez, amanhã possa
ser diferente, mas não acredito...
Ainda há quem pense que
"a vida são dois dias" e que melhor que desperdiçá-los será
vivê-los... Mas como?
7.3.17
Mãe, eu nam me casarei
senam com homem discreto.
E assi vo-lo prometo
ou antes o leixarei.
Que seja homem mal feito,
feo, pobre, sem feição
como tiver discrição,
nam lhe quero mais proveito.
E saiba tanger viola,
e coma eu pão e cebola
siquer ῦa canteguinha
discreto,
feito em farinha
porque isto me degola.
Inês Pereira
Ao contrário do que se
diz, para Inês, o homem discreto não tem de ser cortesão.
Aquilo que se lhe exige é que não seja néscio, isto é, alguém que
não é capaz de reconhecer a própria ignorância, alguém que incorre em erros que
o expõem à troça...
O homem discreto será
assim um homem avisado, que tem o sentido da oportunidade, e sesudo,
porque sabe ponderar antes de decidir...
Em suma, a prudente Inês
começa por rejeitar o néscio Pero Marques, porque ainda não tomara conhecimento
da natureza do escudeiro Braz da Mata...
De qualquer modo, no
desconcerto vicentino, o mundo surge virado do avesso, e a prudência é uma
virtude muito arredia. Quanto mais a sabedoria!
6.3.17
Não sei se a reflexão
filosófica me acalma, no entanto, quando à deriva, atiro-me à etimologia,
acabando inevitavelmente na filosofia, matéria de que pouco sei...
A propósito de Inês que
desejava um homem 'avisado e discreto', acabei por embarcar numa viagem ao
território da 'prudência'.
Para além da ambiguidade
teatral da definição de cada uma das qualidades, surgiu-me a ideia de que a
'desmiolada' Inês era bem mais prudente do que se imaginava, sem que tal
impusesse que fosse virtuosa, pois se "quem sabe o que lhe convém e
atua em consequência, é prudente.»
De facto, o escudeiro
Brás da Mata é o exemplo do homem imprudente que casa sem ter avaliado o
património da nubente, e que se vê forçado a agir, com recurso à violência
doméstica para guardar o seu tesouro, partindo para terra magrebina, onde acaba
morto à paulada...
Por seu turno, Inês
Pereira é uma personagem epicurista, no sentido em que a vida vivida lhe dá os
meios para atingir o objetivo primordial, isto é, para folgar quanto lhe
convém... a prudência é nela uma virtude intelectual, própria da época
renascentista, a que o Concílio de Trento iria em breve por cobro...
Talvez valesse a pena
debater um pouco o que pensam sobre a matéria (a relação entre a sabedoria e a
prudência), Aristóteles, Epicuro, S. Tomás de Aquino, Kant, Shopenhauer... mas
para quê?
Espero que me perdoem a
maçada!
5.3.17
Já transcrevi umas
centenas de palavras, li também uns milhares, sem contar as que tive de
escutar. No entanto, neste primeiro domingo da Quaresma, só uma me ocupa o
pensamento: DESGASTE.
Não é que me tenha sido
encomendado algum verbete, nem para tal haveria motivo, pois o significado é
óbvio, pelo menos numa das aceções: [Figurado] Enfraquecimento;
diminuição de força física; sensação de abatimento.
Na realidade, não é tanto
a diminuição da força física que me preocupa... mas o desgaste que resulta da
soma dos dias pardacentos em que os asnos desprezam os burros...
Talvez o discurso padeça
de incoerência, mas não. A natureza dos asnos é diferente. Em tempos, era
aristocrática, hoje, apenas burguesa. Quanto aos burros, esses sempre foram a
besta de carga preferida da populaça...
Há dias, em que o
desgaste me torna um burro intratável, daqueles que, no próximo cruzamento, me
vão deitar ao chão... Só me falta escoicear!
Se a incoerência se
acentua é porque a um burro, ninguém nega a teimosia. Quanto ao asno, mais
avisado e discreto, nunca se sabe.
4.3.17
Disseram-me um destes
dias que os jovens não têm ideia do que é uma fronteira. Até os compreendo! Uns
simplesmente não viajam. Outros, quando o fazem, apanham o avião...
O problema não está tanto
na perceção das linhas que individualizam os territórios, mas, sim, na
ignorância de que o mundo ainda é partilhado por culturas diversas que, para se
individualizarem, estabelecem padrões que não devem ser desrespeitados.
Não ter ideia do que é
uma fronteira é desconhecer regras essenciais à interpretação e à compreensão
de tudo o que se move fora do nosso círculo identitário e, em alguns casos, é
atentar contra a própria identidade.
Por isso, a fronteira
pode ser um espaço apenas simbólico, mas é ela que nos permite descobrir a
alteridade.
Não está fácil respeitar
a fronteira tantos são os maus exemplos que enchem o nosso quotidiano... E
quando tal acontece, a deriva é o que nos resta.
Por mais que faça, há
tanta coisa em que não posso ajudar: abrir a janela, arejar o quarto, esconder
os medicamentos, subir a temperatura, vestir-te, levar-te à rua; convencer-te
de que vivemos um dia de cada vez, de que nada serve olhar para trás e de que
só amanhã saberemos como vai ser...Sobretudo, não posso ajudar a que os outros
se submetam à tua vontade...
Podia deixar-te! Mas para
quê? O remorso consumir-me-ia, como se tivesse cometido um qualquer crime...
A verdade é que tu não
queres abrir a janela, arejar o quarto, que eu te esconda os medicamentos, que
te leve à rua; preferes alimentar-te do passado e hipotecar o futuro. Continuas
a querer alienar os outros, alienando-te a ti própria...
Quanto a mim, não te
importas que viva a teu lado, desde que o faça servilmente.
3.3.17
Nada de consistente,
apenas poeira. Ao contrário do granizo, a poeira permanece. Não se sabe por
quanto tempo... em todo o caso, os eventos parecem granizo.
Caem sem querer saber do
rumo e diluem-se na nulidade das convicções.
(...)
Dizem-me que os saberes
chegarão a seu tempo e não tem de ser no tempo de cada um! Agora, é tempo de
folgar!
(...)
No entanto, as ratazanas,
ao primeiro sinal de descalabro, fogem para o paraíso fiscal mais longínquo,
deixando-nos a pagar o naufrágio. E porquê? Porque nada é consistente, tudo é
poeira.
2.3.17
Hoje, perguntaram-me se as férias foram
boas...
Há espaços onde as palavras, por mais que as filtremos, se tornam ineficazes e,
em múltiplos casos, agravantes... Filtrar as palavras é uma espécie de alquimia
cujo fito é depurá-las, despi-las até que da sua nudez surja alguma melodia...
Infelizmente, falhada a
depuração, percebemos que a alternativa era o silêncio, mas essa compreensão
chega sempre tarde...
Deve ser por isso que os
psiquiatras optam pela anestesia percetiva e os psicanalistas fizeram voto de
silêncio, deixando o paciente a contas consigo próprio...
Outrora, no recôndito das
grutas, o silêncio incomodava de tal modo que a palavra jorrava líquida e
catárquica...
1.3.17
Homens
Bons, de Arturo Pérez-Reverte
Hombres Buenos é
o título de um romance histórico espanhol, publicado em 2015, em que o seu
autor, Arturo Pérez-Reverte, nos convida para uma viagem às profundezas das
contradições morais, ideológicas e sociais do séc. XVIII espanhol e francês.
A tarefa é
aparentemente simples, pois se trata de iluminar a Espanha obscurantista,
disponibilizando-lhe a Encyclopédie Française, o que exige a
viagem árdua dos académicos don Pedro Zárate e don Hermógenes, cuja missão
é adquirir em Paris os preciosos e raros 28 volumes da 1º edição...
As
dificuldades sucedem-se ao mesmo tempo que os académicos se descobrem e
mergulham num novo universo, guiados pelo abade Bringas - personagem
fascinante, arauto da Revolução que se anuncia, mas que poucos anteveem, a
começar pelos enciclopedistas, que acreditavam que as Luzes seriam
suficientes para por termo ao Antigo Regime.
Este romance é um
instrumento precioso para melhor compreender ou revisitar o séc. XVIII,
sem esquecer o modo como o autor franqueia a sua oficina de
escritor, revelando as diligências necessárias à execução de tão ambicioso
projeto.
Ler é, neste caso, uma
verdadeira odisseia intelectual...
28.2.17
Em 1982, mais ano menos
ano, a professora V. solicitou-me que a acompanhasse na observação de umas
aulas de Latim (profissionalização em exercício), pois temia adormecer durante
a tarefa. A ilustre docente já passava, se não estou em erro, dos 65, mas nunca
virava a cara à causa da perpetuação da língua que era suposto correr-nos nas
veias...
Para os devidos efeitos
lá acompanhei a colega, sentando-me junto dela, procurando que o temor da Dona
V. não se concretizasse.
O professor A. (formado
em Latim num Seminário nortenho) fez o melhor que sabia, o que, por vezes, era
pouco, enquanto a Dona V. ia passando pelas brasas... Não querendo incomodar
nem o formando nem o formador, eu ia anotando alguns dislates, mas sem lhes
atribuir grande importância...
Chegado o momento de
atribuir a classificação final, em interminável seminário, o professor A.
solicitou uma nota bastante elevada, provavelmente porque dera conta dos
momentos de ausência da idosa formadora. Só que não esperava que lenta e
pacientemente a professora Virgínia abrisse o seu caderninho de notas e
começasse a por em destaque as lacunas de tão ambicioso magister.
Esta pequena história
veio-me, ontem, à memória, quando ouvi o eng. Sócrates, estarrecido, porque o
sonolento professor Cavaco também teria um caderninho onde ia registando todos
os entusiasmos de sua excelência...
Pouco tenho a acrescentar
Pouco tenho a acrescentar ao que, aqui, escrevi em
9.02.2016, a não ser que este ano o Carnaval chegou mais tarde...
«Não digo que o Céu esteja zangado, mas parece. A Igreja Católica inventou o
Carnaval de três dias, seguido da Quaresma, para dar cabo das Maias demasiado
primaveris e libertinas..., embora atualmente esta não se pronuncie quando os
corsos são deslocados para o primeiro domingo da Quaresma.
O Céu nunca gostou que
lhe alterassem o projeto genesíaco, mesmo que o tenham feito em seu nome... Já
a ideia da existência de quatro estações lhe desagradava-as flores florescem
durante todo o ano, cada uma a seu tempo... E nós próprios nascemos e morremos
para além das estações.
O Céu apenas reconhece,
como princípio estruturante, a semana de trabalho, com direito a um dia de
descanso. O mês e o ano são invenções de papas e de imperadores, preocupados
com o registo da sua efemeridade que confundiam com a “imortalidade"...
No que me diz respeito,
já deixei de andar pelas estações e aborrece-me falar delas, porque há tantos
lugares onde o Sol deixou de brilhar e a Chuva de cair ou, então, quando a
enxurrada chega, fingimos que a culpa é do Céu.»
No entanto, hoje, o Céu é
de cinza e tudo leva a crer que não vai ser necessário adiar os corsos... Por
outro lado, são as árvores que florescem... e nós nascemos e morremos
independentemente das estações. Quanto ao fingimento, não é preciso que a
enxurrada aconteça... ele é permanente, apesar de no Carnaval uma das máscaras
poder cair...
Esclarecimento
eclesiástico
Perante práticas
pré-cristãs, a Igreja Católica promoveu alterações que
permitissem ligar o período carnavalesco com a Quaresma. Uma prática
penitencial preparatória da Páscoa, com jejum, começou a definir-se a partir
de meados do século II; por volta do século IV, o período quaresmal
caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a
Igreja, por meio do jejum e da abstinência. Tertuliano, São Cipriano, São
Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II contestaram fortemente o Carnaval,
mas no ano 590 a Igreja Católica aprova que se realizem
festejos que consistiam em desfiles e espetáculos de carácter cómico. No
séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a evolução do Carnaval,
imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras,
quando permitiu que, em frente ao seu palácio, se realizasse o Carnaval
romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, corridas de corcundas,
lançamento de ovos, água e farinha e outras manifestações populares. Sobre
a origem da palavra Carnaval não há unanimidade entre os estudiosos, mas as
hipóteses “carne vale” (adeus carne) ou de “carne levamen” (supressão da carne)
remetem para o início do período da Quaresma. A própria designação de Entrudo,
ainda muito utilizada, vem do latim ‘introitus’ e apresenta o significado de
dar entrada, começo, em relação a um novo tempo litúrgico. Os católicos de todo
o mundo começam na quarta-feira a viver o tempo da Quaresma, com a celebração
das Cinzas, que são impostas sobre a sua cabeça durante a Missa.
26.2.17
Não
sei se compreendo o "erro estatístico"
Não sei se é possível um
núncio demitir-se do presente por causa de omissões no passado. Parece, no
entanto, que é o que está a acontecer. Pessoalmente, consciência atormentada,
estaria insatisfeito com a decisão, a não ser que ela me fosse imposta... para
proteger um qualquer papa...
Por outro lado, de acordo
com o senhor João Taborda da Gama (DN 26.02.2017), não haverá razão para
tal alarido e muito menos para que o dito núncio se demita de responsabilidades
atuais por causa de um "erro estatístico":
«Estamos a falar de
tudo isto precisamente porque estes pagamentos foram declarados - o fisco tem
todos os dados, montantes, origem, destino, datas, os números das portas para
ir lá bater e fazer as perguntas que quiser. E isto não tem nada que ver com as
estatísticas estarem ou não publicadas.»
Não sei se compreendo! Ou
o senhor Núncio era incompetente ou, então, é masoquista, pondo-se a jeito para
se imolar por uma causa inócua... Quanto ao senhor João Taborda da Gama, tão
bem informado, será que nos poderá dizer quantos foram os milhares de milhões
de euros que voaram para os offshores e inshores sem
conhecimento do fisco...
25.2.17
Comissão
- percentagem cobrada sobre negócios ou serviços.
Luvas
- recompensa, geralmente ilegal, ao que proporciona ou facilita um negócio
lucrativo.
A Operação Marquês, no
que toca à corrupção na PT, parece concluída com a responsabilização das duas
figuras máximas do grupo. Ricardo Salgado terá pago ao conjunto dos envolvidos
uma quantia que ronda os 100 milhões de euros. Semanário
'Sol'.
As notícias só falam de
luvas!
Por mim, tudo o que ajude
a economia nacional é bom. Sobretudo, se a produção for colocada lá fora. O que
interessa é o crescimento das exportações... Não posso deixar de ver com bons
olhos o negócio das luvas... protegem do frio, de acidentes de trabalho, evitam
o contágio. Em suma, enriquecem a nação.
Por outro lado, qualquer
negócio exige financiamento e é para isso que Deus criou os banqueiros - para
financiar.
Tudo leva a crer que,
quando Deus chamou os salgados, lhes terá dito: ide, multiplicai-vos e
sede gratos - não esqueçais as comissões a todos aqueles que facilitarem
os negócios...
24.2.17
O
visto dos 10 mil milhões de euros
O visto é a formula que a
autoridade apõe a certos documentos e que lhes dá validade. (Dicionário
da Língua Portuguesa, Porto editora)
O núncio, emproado como sempre,
assobia para o lado. Por definição, o núncio é o embaixador do papa.
Na conversa que por aí
vai circulando, o papa diz que não sabia de nada. A culpa é dos serviços
fiscais que não souberam interpretar o "visto"do núncio.
Porém, consta que os
serviços tinham feito uma pergunta ao núncio e, conforme, ele vai dizendo, o
que ele fez foi validar a pergunta...
Não querendo por em causa
a honra do embaixador, fica-me a certeza de que a resposta à pergunta só pode
ter sido dada diretamente pelo papa.
Quanto aos 10 mil
milhões, viste-los... e nós a descontar, a descontar...
23.2.17
Não é a vida que é
ingrata!
E pelo que me diz
respeito, não espero provas de gratidão. E também nunca as esperei...
Os laureados não passam
de efémeros ídolos de barro que, no meu fraco juízo, acabam por perder a
oportunidade de estar na vida em silêncio... o que não significa que não
façamos nada por nós e, consequentemente, pelos outros.
Quando menos se espera, a
corda desfez-se dos nós... e sobra, apenas, uma ténue linha da cor da página em
que se perde... e nesta estação não há qualquer fumo de desespero ou de
nostalgia, só uma melodia indizível.
22.2.17
Para uns, trata-se do
perfil de saída; para outros, do perfil de entrada...
Uns e outros insistem na
necessidade de formatar um homem novo e duradouro, o que pressupõe liturgias
bem definidas, com os respetivos sacerdotes bem treinados e acolitados por
sicários obedientes mas determinados...
Por mim, bem podem
esgrimir os sofismas mais convenientes para o fim em si. Um fim exterior ao
indivíduo, pronto a dobrá-lo a vontades mais ou menos messiânicas ou
teleológicas...
Num tempo em que todos os
dias se anuncia a substituição da inteligência humana pela inteligência
artificial, dá-me que pensar esta preocupação com o perfil, com esta
idealização do dever humano.
Por mim, habituei-me a
lidar com perfis baços, dilemáticos, heréticos, intermédios... e sempre que
deles me aproximei, compreendi que havia algures uma chama, que não era minha.
Uma chama que eu não tinha o direito de configurar...
Por uns tempos,
mostrava-lhes algumas ferramentas, por vezes, fora de prazo... e com elas
sempre fizeram o que bem entenderam...
21.2.17
O tema de hoje bem podia
cingir-se à "violência" no namoro... ação dinamizada pela APAV, tendo
como público jovens do ensino secundário... De tudo o que foi dito, nada me
surpreendeu, apesar da tendência de alguns jovens para considerarem que a
violência não é habitual entre gente civilizada, gente bem-educada...
Os palavrões, os
insultos, a chantagem, o boato, o empurrão e o apertão, o riso alarve, o
controlo das SMS, das chamadas, dos chats, o assédio, o abuso, são, afinal,
comportamentos dos bairros da periferia...
Por aqui, são tudo rosas,
meu senhor!
Nós, gente civilizada,
não faltamos ao respeito, não gritamos, não empurramos, não partilhamos fotos
inconvenientes, não arrastamos pelos cabelos os mais frágeis... aqueles /as que
não nos satisfazem os caprichos...
Talvez, o amigo /a se
exceda, grite, insulte, agrida, abuse da fraqueza do parceiro / da parceira...
No entanto, não vamos maçar-nos. Não metas a colher... assunto privado.
Quem disse que tal pode
ser crime público!
E a propósito, agora que
tanto se insiste em aligeirar a carga de trabalhos escolares, registo aqui um
excerto vicentino que bem poderia ilustrar um debate sobre a violência
doméstica:
Inês - Por
que bradais vós comigo?
Escudeiro - Será
bem que vos caleis.
E mais sereis avisada
que nam me respondais nada,
em que ponha fogo a tudo,
porque o homem sesudo
traz a molher sopeada.
Vós nam haveis de falar
com homem, nem mulher que seja
somente ir à igreja
nam vos quero eu leixar.
Já vos preguei as janelas,
Por que não vos ponhais nelas
estareis aqui encerrada
nesta casa, tam fechada
como freira d'Oudivelas.
Farsa
Inês Pereira
20.2.17
Vital Moreira contesta a
decisão e alerta para as consequências de aliviar o número de horas de
português e matemática. "Não concordo nada com uma eventual
redução da carga letiva do Português e da Matemática, quer por serem o
fundamento de todo o conhecimento, quer pelo evidente défice de saber nessas
duas áreas de que padece grande parte dos alunos que completam o ensino
obrigatório". jornal i
Há que ter cuidado com os
linguistas, com as associações profissionais e com os revisores curriculares,
pois, na maioria, só procuram protagonismo e emprego bem remunerado.
Quanto à disciplina de
Português, há muito que se sabe que a língua vem sendo instrumentalizada ao
sabor dos caprichos da circunstância política.
19.2.17
...o traço avança por
perseverança, não se desvia, mas também não se endireita; quando se debruça,
tropeça na aresta que o obriga a contorcer-se e a regressar à casa de
partida... pelo caminho ainda hesita...
... o traço regressa ao
labirinto e, em círculos, mergulha no tinteiro; o fundo é azul-escuro e o traço
encolhe-se e indistinto perde-se até que Kafka o arranca e o transforma em
barata tonta.
18.2.17
Insistir em escrever pode
ser sinal de avançada patologia espiritual. Sobretudo, quando o tema é o ajuste
de contas entre mortos, moribundos e desesperados...
Talvez devesse escrever
sobre mochilas ou, em alternativa, sobre redes e computadores incapazes de
assegurar um fluxo contínuo de informação... ou sobre editoras que capturam os
programas de ensino e os vendem a seu belo prazer, em suporte de papel e em suporte
digital...
Talvez pudesse escrever
sobre a desclassificação e a menorização do professor, em termos de formação e
de exercício...Ou ainda sobre os políticos que se imaginam peritos em educação,
conteúdos de aprendizagem, cargas horárias e que se prontificam a baralhar e a
voltar a dar, sempre suportados por meia dúzia de ex-ministros e respetivas côteries...
Mas para quê?
Para já, vou regressar ao
"estreito" de Gibraltar que, no dizer de Gonçalo Cadilhe, em vez de
unir, quase sempre separou. Separa. E a espaços, sigo os dois académicos
espanhóis, acabados de chegar a Paris, que procuram adquirir a famosa "Enciclopédia
“que tantas luzes disseminou. Malgré tout!
17.2.17
O senhor Cavaco acaba de
sair a terreiro com as memórias das suas quintas-feiras. Não vou lê-las, porque
as minhas expectativas saíram goradas, pois o que eu esperava era que o senhor
nos presenteasse com as suas memórias dominicais...
Assim, fico à espera das
memórias da senhora sua esposa ou, melhor ainda, do respetivo diretor
espiritual.
No entanto, pelo que vai
sendo dito pelos acólitos do senhor professor, este terá feito um registo
naturalista das manhas do engenheiro, dissecando-lhe o cadáver e expondo todas
as malfeitorias que o carismático mafarrico lhe ia servindo à quinta-feira e
nos restantes dias da semana...
Compreendo bem que o
senhor Cavaco nunca tenha elevado a voz, só não entendo é por que motivo não
demitiu o mefistófeles...
Creio que o senhor
Cavaco, no dia do Juízo Final, não vai ser capaz de ombrear com o seu
antecessor, o senhor Sampaio que, por muito menos malfeitorias, despediu o
alcaide Santana, futuro provedor da infinita misericórdia de que todos andamos
necessitados... e se há alguém que sabe porquê é o senhor...
16.2.17
«O militante
socialista acusa o pedopsiquiatra de ter apresentado um relatório em tribunal
de “acordo com as conveniências judiciais” de Barbara Guimarães e de ter
“mentido sem escrúpulos”.» Jornal i, 16/2/2017
«O militante socialista»!
Porquê? Será que se trata de um comportamento próprio de um militante
socialista, independentemente do sujeito ser o Manuel ou o Pedro?
Creio que nem a
militância política nem a profissão devem ser chamadas para o caso, pois os
atos de que o arguido é acusado são comuns a muitos indivíduos,
independentemente de qualquer estatuto político, social ou profissional...
Se os indivíduos
surgissem perante o juiz despojados de honrarias, as decisões judiciais seriam
mais rápidas e certamente mais justas.
15.2.17
A referência é tão vasta
que, por vezes, é difícil determinar o campo de aprendizagem prioritário.
O lugar em que crescemos,
segundo teorias várias, afeta-nos. No entanto, esse espaço parece diluir-se de
tal modo que raros são os que lhe fixam as coordenadas, lhe conhecem os
sucessos e os revezes.
A nova referência é
volátil e aleatória, o que mata a influência no sentido em que a tradição a
considerava fonte, autoridade, modelo, exemplo.
A doutrina (a ideologia)
é confundida com a instituição, tornando a ironia inútil e a sátira gratuita.
Desorientados, não nos apercebemos do avanço despudorado da contrarreforma...
da discricionariedade, não no sentido de satisfazer a necessidade pública, mas
a pessoal.
13.2.17
Há dificuldades que se
não são inultrapassáveis assim parecem. Uma das causas é a indigência; outra é
a dispersão.
Talvez o artista, numa
perspetiva romântica, seja a única criatura capaz de tirar proveito desta
conjunção.
O problema é que com
tanta gente indigente e dispersa torna-se difícil separar o trigo do joio. Eu
bem procuro o trigo, mas o terreno é tão pedregoso que só a erva daninha medra.
12.2.17
Voltou, mas ficou na 1ª
página... Por este andar, ainda vou ter de aprender curdo... Foram 265
quilómetros de marcha! Agora, dorme, Susana.
11.2.17
Porque a causa curda não
nos deve deixar indiferentes, procurei segui-la através dos meios de
comunicação e das redes sociais.
No que respeita a
Portugal, o tema foi ignorado, apesar de haver caminhantes portugueses. Em
termos internacionais, só a comunicação social regional das zonas atravessadas
foi dando eco do acontecimento, fundamentalmente porque a reação turca não deixou
de aparecer...
Enfim, por mais que se
explique a diferença entre o essencial e o acidental, só o acessório continua a
merecer atenção... E, em abono da verdade, a causa dos direitos humanos e,
consequentemente, do direito à autodeterminação dos povos, continua a ter muitos
detratores. Basta prestar atenção ao tipo de comentário que vai proliferando,
por exemplo, no Facebook, a propósito da cobertura de um evento, como a marcha
pró-curda 2017.
Se a senhora Le Pen acabar por ganhar as eleições presidenciais francesas... O
mundo está a ficar cada vez mais irrespirável!
Na manifestação, terão
participado cerca de 15.000 curdos, com concentração junto do estádio de
Meinau.
10.2.17
Risco
não arrisco
quem não arrisca, não petisca
se risco, o cisco deforma
desisto em forma de Anticristo
com um pouco de cebola, uma gota de azeite, uma linha de vinagre, talvez a isca
não se sinta arisca
Do risco
é melhor calar e esperar
esperar até que a linha estale
inexorável
já sem medida nem Anticristo
9.2.17
«Os refugiados
são um tema sobre os quais todos (as) temos uma opinião. É
um assunto de crescente importância social, política e mediática em
que, frequentemente, a construção dos discursos assenta na
perceção que nos chega pelas experiências pessoais, mas
sobretudo, e cada vez mais, pela sua hipermediatização. Muitos
pensadores têm refletido sobre este tema. Alguns
são mesmo intemporais.» (1º parágrafo do editorial "A
Caverna", cujo autor é Pedro Calado, Alto-Comissário para as
Migrações.)
A brochura tem o objetivo de apresentar "factos e argumentos para desfazer
medos e mitos". Na ficha técnica, é possível descortinar um revisor.
Este número é uma
iniciativa do ACM. Aborda o tema "Refugiados", deles dizendo:
«Também em torno dos refugiados existem cavernas (e mitos).»
Esta caverna não é uma
gruta qualquer! É a de Platão! Os homens de Platão, afinal, não estavam
'cegos', mas cercados... por abóboras?
8.2.17
SOCIÉTÉ SARRALBE Les Kurdes et leurs amis marchent
Ils sont Kurdes ou pas. Hier, ils ont marché de
Loupershouse à Sarre-Union, via Sarralbe. Pour la libération du leader Öcalan
et la création d’un statut pour le Kurdistan.
A marcha é pacífica,
decorre em solo europeu, e visa despertar a comunidade internacional para a
necessidade de criar um estatuto (autonómico?) para o Curdistão, e, em
simultâneo, apela à libertação do líder Öcalan. Como em muitos outros
lugares, os turcos residentes (emigrantes) na região de Sarre-Union não
perderam a oportunidade de sair a terreiro para criar incidentes. Felizmente, tudo acabou bem !
La tension a été vive, dans la nuit de mardi à mercredi entre les
communautés kurdes et turques, autour de la salle de la Corderie à Sarre-Union.
La marche qui conduit une délégation kurde de Luxembourg à Strasbourg avait
traversé mardi le secteur de Sarralbe. La soixantaine de personnes a fait halte
pour la nuit à la salle de la Corderie à Sarre-Union. Mais dans la soirée, de
vives tensions ont éclaté entre les marcheurs et des opposants turcs venus à
leur rencontre. Aucun affrontement physique n’a eu lieu. Mais de nombreuses
provocations et invectives ont fusé de part et d’autre. 80 à 100 personnes
étaient réunies dans chaque camp, hors et dans la salle, une majorité voulant
en découdre. Les forces de l’ordre, qui avaient placé cette marche sous
surveillance, ont renforcé leurs effectifs sur place. Une trentaine de
gendarmes ont ainsi contenu les animosités. Aux alentours de 23 h, les
manifestants turcs ont quitté les lieux. Evitant un affrontement avec des
soutiens des Kurdes, arrivés quelques minutes après pour soutenir les
marcheurs.
A noter que le véhicule d’un des accompagnateurs de la marche a été dégradé
; une vitre de la salle aurait aussi été détériorée.
Ce mercredi matin, la soixantaine de marcheurs a repris sa marche vers
Strasbourg.
7.2.17
A língua é de quem a fala
e de quem a escreve. Se deixar de permitir a comunicação é porque alguém a anda
a tratar mal, isto é, os falantes querem seguir por atalhos que, nalguns casos,
originarão novas línguas, e em que, noutros casos, os falantes acabarão
por se extinguir. O que, de facto, acaba por vir à tona é a
falência do sonho imperial de uma comunidade lusófona.
É sabido que o sonho, por
adjetivar, não prejudica ninguém. O problema é que não sonhamos coletivamente
e, quando tal acontece, de nada serve regular o que vai desconcertado...
A língua não é dos
gramáticos, nem dos livreiros nem dos políticos, que, na verdade, outra
coisa não fazem que não seja zelar pelos seus negócios ...
Agora, uns
tantos querem purgar o acordo ortográfico. Por mim, a tarefa é impossível,
porque, desde 1911, que não há acordo.
Se recuperássemos todos
os desentendimentos lexicais, semânticos, fónicos, ortográficos e outros,
chegaríamos facilmente à conclusão de que aquilo que nos une é cada vez mais
residual, mais líquido... E esse é um detalhe que deveria merecer atenção,
pois é nessa língua líquida que melhor navegam os que a falam e os
que a escrevem...
Reparem, entretanto, que
já começou a campanha contra a mochila - sacola de escravo e não de moleque...
Eu, por mim, também penso que para transportar um tablet basta
um bornal. Em tempos, para transportar a lousa, chegava-me uma mão... e
ignoro se a extinção da ardósia foi objeto de alguma decisão
da pretérita Assembleia Nacional...
6.2.17
Partiram
no dia 1 de fevereiro...
« Ils sont partis il y a cinq jours de la cour de justice de l’Union
européenne à Luxembourg, à pied et par tous les temps, pour traverser plusieurs
... »
Creio que a causa curda,
isto é, o direito dos curdos a disporem de um estado deveria merecer mais
atenção da comunidade internacional. E sobretudo deveria merecer mais atenção
porque se trata de um povo permanentemente perseguido, cujos dirigentes, acusados
de terrorismo, são condenados à morte e deixados a apodrecer nas cadeias
turcas, e não só. No entanto, é sintomático que a comunicação social ignore o
assunto ou, quando se lhe refere de forma pontual, nos obrigue a subscrever o
jornal, no caso o Républicain Lorrain.
A Internet é vasta, mas a
informação é escassa. Valoriza o fait-divers e ignora as causas.
5.2.17
O melhor será saudar o
sol desta manhã, antes que a nuvem o cubra e me deixe um pouco mais
deprimido...
É só mais um passo e,
talvez, outro passo sob a luz desta manhã, e tudo começa a ganhar sentido. E
não é preciso correr, a pé ou de bicicleta!
Até um simples reflexo
luminoso disseminado pelas águas de um qualquer rio - o Tejo é um privilégio! -
me faz regressar à margem e seguir o curso a que não devo colocar qualquer
termo, pois esse simples ato desrespeita a vontade da nascente, dando corpo a
uma soberba inebriante, mas, afinal, irracional...
4.2.17
Gonçalo Cadilhe sempre
foi, para mim, o homem que sabe ir aos lugares onde eu gostaria de ir. Desta
vez, o viajante soube reinventar os passos desse português que habita o nosso
imaginário desde a infância, mas que visto à distância, no tempo e no espaço,
pouco se importaria com a identidade terrena; o que lhe interessava era a chama
que o empurrava para a defesa de um Deus despojado e solidário - Fernando
Martins / Santo António de Lisboa / Santo António de Pádua.
Ao ler "Uma Viagem
Medieval" de Gonçalo Cadilhe, três ideias se foram apoderando de mim.
Primeira, o roteiro criado pelo Autor é tão apelativo que, talvez, um dia
destes também eu parta para cumprir parte desse destino antoniano; segunda, o
relato da viagem pelo Norte de África é tão ponderado que vale a pena lê-lo
várias vezes para compreender aquilo que nos liga e que nos separa nas margens
do mediterrâneo - o absurdo da inimizade que pouco tem a ver com a alma do
povo; finalmente, e já que o Ministério da Educação aposta num Projeto de
Leitura para o 10º ano centrado na Idade Média, parece-me que Nos
Passos de Santo António é uma obra genuinamente portuguesa, que
permite ao leitor tomar consciência de que o presente não está tão longe do
passado, mesmo se medieval, como a nossa ignorância persiste em defender.
Nos Passos de Santo
António, Uma Viagem Medieval, é um belo livro de
Gonçalo Cadilhe que nos liberta da poeira hagiográfica, e nos faz sonhar! Pelo
menos, a mim!
3.2.17
À Audun-le-Tiche, les marcheurs ont été accueillis à la
salle Jean-Moulin, pour s’y restaurer et surtout s’y reposer avant de repartir
vêtus de leurs gilets jaunes de sécurité ce jeudi en direction de Thionville,
sous escorte de la gendarmerie nationale.
Hoje,
a marcha pró-Curda segue para Talange. A caminhada dura um pouco mais de três
horas (?).
16h20. O grupo já chegou
a Talange. A minha previsão estava correta, embora o acontecimento não esteja a
ter grande impacto na comunicação social.
2.2.17
Scène insolite saisie ce mercredi soir à Audun-le-Tiche
lors de l’arrivée des marcheurs kurdes en route vers le Parlement européen de
Strasbourg.
A informação que acabo de
receber é que «Já fizemos 50 km e estamos no Norte de França; tudo corre bem».
O que é curioso é que a
Internet nos permite saber de forma precisa onde é que o caminhante se
encontrava no final do dia de ontem, embora ele não o saiba com rigor, pois o
que lhe interessa é atingir o objetivo.
No essencial, ao
peregrino interessa o esforço realizado e a distância a que se encontra da
meta.
No caso, as metas são
duas: uma pessoal e a outra solidária, esta bem mais difícil de alcançar,
apesar da primeira por à prova a resistência individual.
1.2.17
Marcha pela auto-determinação dos Curdos
C’est désormais une tradition : la « longue
marche » kurde. Pour la vingtième fois, celle-ci reliera deux villes
européennes pour rendre attentif au sort de la minorité kurde, partagée entre
la Turquie, la Syrie, l’Irak et l’Iran. Cette fois, la « longue marche des
Kurdes et de leurs ami-e-s » reliera Luxembourg-ville à Strasbourg. Sous
le mot d’ordre de « Liberté pour Öcalan – un statut pour le
Kurdistan », plusieurs centaines de marcheurs et marcheuses partiront du Luxembourg
le 1er février. À l’heure où le conflit dans les régions kurdes de Turquie
reprend de plus belle et où les forces kurdes sont sous pression en Syrie
aussi, tandis qu’une libération du leader kurde Abdullah Öcalan semble
s’éloigner toujours plus, ils revendiqueront, entre autres, une solution
politique au conflit en Turquie. Le 3 février, une conférence aura lieu à
20 heures aux Récollets à Metz. Ensuite, les marcheurs et marcheuses
repartiront pour atteindre, le 11 février, le Parlement européen à
Strasbourg, où la grande manifestation annuelle des Kurdes d’Europe aura lieu.
Départ à Luxembourg : mercredi 1er février à 10 heures
devant la Cour de justice de l’Union européenne.
Aqui está um tema de que
pouco se conhece em Portugal, mas a que nos últimos anos comecei a dar atenção,
porque a Susana não perde uma oportunidade de lutar pelos direitos dos povos,
como acontece com o povo curdo, obrigado a uma diáspora sem fim à vista...
31.1.17
Donald
Trump não é um ignorante
Ainda não eram 9 horas e
já tinha ouvido 3 pessoas dizer que Donald Trump é um ignorante. Concordo com
quase tudo o que se lhe aponta: nacionalismo mórbido, xenofobia, machismo,
caudilhismo, populismo, sectarismo, racismo, egotismo extremo. Só não posso aceitar
que o classifiquem como ignorante. O senhor sabe muito bem o que faz, e quem o
elegeu sabia muito bem o que queria!
Parece-me enorme
insensatez apresentar a ignorância como argumento, pois isso significa começar
a desculpabilizá-lo, tal como desresponsabiliza quem criou as condições para
que pudesse ser eleito e os que nele votaram ou se abstiveram...
Pensar que a situação se
resolve com um qualquer atentado também revela desconhecimento da História: os
autocratas sabem rodear-se de mastins que os defendem e que, em simultâneo,
espalham o terror...
E finalmente, este
argumentário cega-nos para o vírus de que Donald Trump é portador e que
rapidamente atravessará o Atlântico, gerando réplicas prontas a por termo à
sociedade democrática.
30.1.17
Um destes dias deixei
aqui uma nota sobre os tempos de euforia, concluindo que eles eram coisa
pretérita.
Entretanto, tenho vindo a
pensar se a euforia corresponde a um estado gasoso, líquido ou sólido... De
início, pensei que o eufórico fosse um nefelibata ou, mais próximo de nós, um
alcoólico deserdado... Porém, agora, que ando menos eufórico, dou conta de que
a euforia pode resultar da atitude de pessoas que se prezam de ter os pés bem
assentes no solo... Longe e perto, parece que a razão se desvaneceu, surgindo,
a cada momento, ações cada vez mais perniciosas ao bem comum.
Os propósitos parecem
razoáveis, mas, de facto, são insensatos... e tudo rodopia em tal estado de
contentamento que a euforia campeia, insensata e maltrapilha...
29.1.17
Se
os Últimos Dias se aproximam
Creio que o Senhor Donald
Trump não terá sido informado do projeto da Igreja de Jesus Cristo
dos Santos dos Últimos Dias...
Será que o senhor
presidente não pode fazer qualquer coisinha para evitar o desperdício de
milhões de dólares em solo onde já estão edificadas tantas igrejas cristãs?
Se os últimas dias se
aproximam, para quê construir um Templo de tamanha envergadura?
Até porque anda por aí
muita gente que pensa que o senhor presidente o que quer é acabar com o
planeta...
28.1.17
De dois em dois meses,
voltam os testes. Um teste para cada turma, porque os meninos deixaram de ser
filhos de Deus, e o Diabo está à espreita...
Em alguns testes,
criou-se o hábito de criar versões, porque os diabinhos ganharam o hábito de
catrapiscar o alheio...
Tudo isto decorre num
lugar cujo objetivo é educar, isto é, inculcar um conjunto de valores que visam
preservar a responsabilidade, o rigor, a honestidade.
Tantos testes para quê? O
professor sabe muito bem quais são os meninos cumpridores - que respondem na
hora, que leem de forma correta, que são capazes de dar uma resposta escrita,
fundamentada, coesa, coerente e obediente à instrução... e também sabe que tem
à sua frente uns tantos que não ouvem, que não abrem o manual, que não
respondem ao que é solicitado, e que se estão nas tintas para o processo de
ensino-aprendizagem...
... porque, de verdade,
só lhes interessa o EGO...
27.1.17
De repente, olhamos a
fachada, e sai fumo branco. Será que temos Papa?
Um destes dias,
saberemos...
Enfim, cada um faz o que
lhe apetece!
E se todos adotarmos o
unicórnio, será que este prédio da Portela poderá ser classificado
como multicórnio?
26.1.17
Com tanta chuva, ainda
pensei que talvez o edifício do Liceu Camões viesse abaixo. Mas não, as
construções lacustres estão preparadas para resistir às torrentes... Afinal, o
problema maior situa-se no Porto - alunos, encarregados da educação e professores
decidiram fechar a Escola Secundária Alexandre Herculano, por excesso de
água e de frio.
Edifícios centenários
morrem lentamente enquanto os decisores vão soprando para o lado, à espera do
inevitável. A cada ano que passa, uma reapreciação que morre na gaveta.
O Património só é
assumido quando os interesses se encontram.
25.1.17
As muralhas não estão à
vista, as 77 torres foram deitadas abaixo e das 38 portas, sobraram algumas
chaves, entretanto, oferecidas pelo alcaide aos forasteiros que, de tempos a
tempos, nos visitam...
Descurada a defesa,
apenas a voracidade campeia no arraial. A fome já lá vai-os homens deixaram de
esgaravatar nas lixeiras, as crianças de três e quatro anos dormem
tranquilamente nos infantários, e as mães já não precisam de ferir os peitos à
míngua de leite materno...
O cerco é coisa do
passado!
Já não há cidades
sitiadas, embora haja quem persista em edificar muros - uns de arame farpado,
outros de cimento eletrificado. De vez em quando, surgem notícias de Aleppo ou
da Faixa de Gaza, mas dizem-me que esses lugares não existem, que não passam de
reminiscências esventradas por deuses de outrora...
Gostava de ter a fé do
historiador José Mattoso que considera que a História «responde, muito
simplesmente, a uma curiosidade inata no Homem para com as suas próprias ações
individuais e coletivas...» Blogue de José Mattoso (26.10.2014)
24.1.17
Donald Trump escreveu
dezenas de livros sobre os mais diversos temas - tudo o que possa
transformar-se em ouro lhe serve.
Confessa que, apesar da
falta de tempo, gosta de ler. Atualmente, já só lê capítulos! Provavelmente,
curtos enunciados, descontextualizados, como convém a um político
desempoeirado... Confessa, no entanto, que os únicos livros a que volta
permanentemente são dois: A Bíblia e The Art of the
Deal.
Compreendo: Deus no Céu e
Trump na Terra!
Resta-me saber se foi
Deus que no-lo enviou. Receio que não, pois da última vez que Deus enviou um
Filho à Terra, este detestava os vendilhões do Templo.
23.1.17
A minha perplexidade
aumenta a cada momento! Na Ilha de Trump, está a chegar à costa um novo homem:
rico, branco, fanático, bronco, desbragado. E das mulheres, não sei o que
diga! Parecem-me noviças enfeitiçadas, prontas a renderem-se ao primeiro
salteador e, sobretudo, capazes de fazer da mentira o seu lema...
Para quem pensa que
entrámos na era da pós-mentira é melhor que se cuide, pois esse enunciado não
passa de um sofisma para enganar os mais incautos.
A mentira é uma arma
muito mais eficaz do que a verdade. Da verdade, aprendemos a duvidar! Quanto à
mentira, entranhada desde a meninice, nada podemos fazer...
A História, que procura
«a clara certidom da verdade», debate-se permanentemente com os mil e um ardis
utilizados na conquista e na manutenção do poder.
Talvez os Historiadores
devessem ocupar-se mais da mentira, porque esta, de facto, tem sido o
motor principal dos avanços e dos retrocessos da humanidade...
De momento, na Ilha de
Trump, é a própria configuração da humanidade que está a ser posta em causa,
fazendo lembrar o tempo de um certo tipo de super-homem que inebriou uma parte
significativa da Europa do séc. XX.
22.1.17
Acusar a Internet da
proliferação de erros ortográficos, de desconexões sintáticas, de plágios, de
falhas de carácter, de interferências estrangeiras, é fácil, desvia a atenção,
desresponsabiliza e, principalmente, cria uma sociedade dominada pela charlatanice.
Charlatão: Aquele
que se utiliza da boa-fé de alguém, geralmente, fingindo atributos e qualidades
que não possui, para obter (dessa pessoa) quaisquer vantagens, ganhos, lucros
etc.; impostor. O problema é que o charlatão não se encontra apenas na
"internet"..., ele navega em todas as águas, por vezes, ainda sem
saber...
Para mim, os que ainda
não sabem da sua condição são os que mais me preocupam...
21.1.17
Na Ilha de Trump, as
pontes começam a ser substituídas por muralhas. E claro, há que não esquecer as
portas para deitar fora «as gentes minguadas e non pertencentes para
defensom», tal como foi registado por Fernão Lopes:
«E isto foi feito duas
ou três vezes, atá lançarem fora as mancebas mundairas e judeus, e outras
semelhantes, dizendo que tais pessoas nom eram para pelejar, que nom gastassem
os mantimentos aos defensores; mas isto não aproveitava cousa que muito prestasse.»
Crónica de D. João I, 1ª
parte, Cap. CXLVIII.
20.1.17
«Cada um de nós é uma
ilha, não é verdade? Uma ilha rodeada por outras ilhas, separada delas por
correntes fáceis ou difíceis de transpor, conforme os dias.» in A
Empresa das Índias. Erik Orsenna, pseudónimo d'Eric Arnoult
No que me concerne, a
transposição já não é questão de dias, mas de horas. Hoje, por exemplo, a
travessia foi muito mais fácil às 8h15 do que às 11h45.
Então, por volta das
12h50, as correntes alteraram-se de tal modo que a comunicação terminou. Parece que o estômago se sobrepõe por inteiro
à vontade!
19.1.17
Na aceção mais comum,
purgar significa 'purificar através da eliminação de impurezas'.
Nas sociedades democráticas,
a palavra é evitada pois a 'impureza' é reconhecida como uma característica da
natureza humana.
No entanto, se observamos
a realidade social, verificamos facilmente que os processos de exclusão dos
mais fragilizados se multiplicam um pouco por toda a parte.
Nos hospitais e nas
prisões, há espaços reservados à impureza física, comportamental e mental -
sempre com o fito de preservar a saúde e a paz social.
Nas escolas, os
mecanismos de purga coabitam com os de integração, porque, afinal, a escola é o
lugar onde tudo é possível - coage-se o indisciplinado e integra-se o
impossível.
Paradoxalmente, os mais
astuciosos continuam a usufruir de privilégios que atentam contra a
construção da sociedade democrática.
Amanhã, terá início o
tempo da purga sem que seja necessário recorrer a qualquer sinónimo mais
aliciante.
(Pretexto: a purga de
uma garrafa de gás GALP; uma simples bolha de ar pode incomodar, deixando-nos à
mercê das temperaturas mais rigorosas...)
18.1.17
Um dia sem história, no
sentido em que a rotina, embora exigente, esgotou as horas. O frio
mostrou-se, obrigou a reforço de agasalho e a acelerar o passo...
Fui, no
entanto, dando conta do encantamento artificioso que se
eleva sem ousar confessar o objetivo... E depois há o círculo virtuoso,
plural, que lembra a colmeia melíflua que matou o zangão.
O ar respira misoginia,
descoberta recente, mas decadente...
17.1.17
Felizes
os filhos que têm pais e avós...
Felizes os filhos que têm
pais e avós e que, assíduos, lhes visitam as casas deixando lá os manuais.
De regresso à escola,
sentam-se e conversam sobre assuntos banais, nos intervalos jogam às cartas à
espera do tempo das assembleias de turma.
Lá, todos à uma,
insurgir-se-ão contra o professor que lhes solicita que abram os manuais na
página 90 (e na 84...), e leiam em silêncio a narrativa, o ato, o poema...
e sublinhem a conexão posta em igualdade ou em subordinação...
Já não se trata de
entender a continuidade da sucessão, a estanqueidade da enumeração… de ter
uma perceção sindética ou assindética, mas da lei da permutabilidade dos
símbolos.... no lugar da rosa, a espada, no lugar da espada, a lua cheia ...
das nações a nascer, aqui, neste hemisfério, norte...no Tempo com maiúscula...
E os manuais, em casa dos
pais e dos avós, enquanto estes não reúnem em assembleia de pais e de
avós, para se insurgirem contra…
16.1.17
«Uma tábua de tudo o
que é bom está suspensa por cima de cada povo.» (Nietzsche, Zaratustra)
As minhas escolas,
extintas ou em atividade, em tudo se assemelham... exceto no que respeita à
autoridade do professor.
Hoje, impera a
desconfiança em relação ao saber do docente. Importa é que consiga gerir a
relação de modo a dissimular os conflitos resultantes do desinteresse, da
deseducação e da irresponsabilidade coletiva.
Moisés bem tentou
disciplinar as tribos com recurso às tábuas da lei ditada por Deus no meio da
sarça ardente.
O Deus de Moisés deve
estar reformado, caso contrário já teria posto cobro ao faz-de-conta em que
navegamos.
(O assento destas
pobres ideias só é possível, porque me encontro na mesma situação de Godot - à
espera! Entretanto, vou relembrando o tempo em que havia curiosidade, fome de
saber, vontade de encontrar um rumo...)
15.1.17
Numa rua pouco
frequentada, surge a imagem furtiva de um velho desgrenhado, zarolho,
disforme. Ou será a moldura do enforcado?
Por um instante, penso
que eu não serei muito diferente daquele que, de um olho só, espreita ao
postigo..., pelo menos, aos olhos da Sofia e da Catarina que aproveitaram para
ali deixar uma histriónica declaração de amor sem objeto.
O mais perturbador é que
comecei por pensar que estaria perante mais um exemplo de arte de rua, mas o
que emerge da observação da tela é que, afinal, devo sofrer de PHP - perturbação
histriónica da personalidade, sobretudo ao encaminhar este post para
o Facebook...
Começa a ser tempo de por
cobro a esta perturbação!
14.1.17
A Orquestra Geração do
Centro Cultural de Amarante é um projeto de integração social que, desde 2010,
incentiva dezenas de jovens a desenvolver através da música valores como a
disciplina, a pontualidade, a persistência, o trabalho em grupo, a autoconfiança
e a adquirir os conhecimentos necessários que lhes permitam ter um crescimento
mais equilibrado proporcionando-lhes melhores perspetivas para o futuro.
Na Sala Polivalente do
Centro Cultural de Arte Moderna (F.C.G.), ouvi, esta tarde, durante 45 minutos,
uma orquestra constituída por jovens estudantes e respetivos professores, e
fiquei profundamente agradado com o desempenho individual e coletivo e, sobretudo,
pela confirmação de que a aprendizagem de um instrumento contribui para o
acréscimo significativo do rendimento escolar...
Num tempo em que muitos
jovens manifestam comportamentos de grande irresponsabilidade, talvez fosse
melhor olhar atentamente para o trabalho desenvolvido pelo Centro Cultural de
Amarante - Maria Amélia Laranjeira - que, em colaboração com o Agrupamento de
Escolas Amadeu de Souza-Cardoso, tem vindo a criar as condições para o
desenvolvimento pessoal, social e cultural de uma geração mais motivada e
produtiva.
13.1.17
Ouvir a razão e a falta dela...
Suspender a voz até que o silêncio irrompa...
Provavelmente uma quimera...
O arruído dos cavalos e das lagartas extinto pelas desvairadas vozes de eras
mortas
Faltam as vírgulas!
O povo queixoso respira ofegante cheira as rosas indiferente às espadas...
12.1.17
Liquidar
para defender o bem comum
O Benfica tinha a segunda
maior dívida do futebol europeu, em 2015, segundo revela a UEFA no relatório
financeiro publicado esta quinta-feira. De acordo com o documento, os
encarnados tinham uma dívida de 336 milhões de euros, com um aumento anual de
3%.
Saldar empresas de que
tipo for para satisfazer interesses de minorias significa sacrificar o
contribuinte e, sobretudo, aqueles que não têm meios para contribuir para o bem
comum...
Sempre pensei assim, e
não é agora que vou mudar de ideias. Os milhares de milhões despendidos (e
a despender) para adiar a liquidação de empresas falidas davam para
refundar o país.
Os bancos são sorvedouros
de infindáveis recursos financeiros porque, para além de mal geridos,
alimentam negócios que exploram a idolatria e a idiotia de massas
acéfalas.
A engrenagem está à
vista, mas poucos exigem o seu desmantelamento, e quando o fazem são
ostracizados.
Podia ter escolhido outro
exemplo, no entanto o melhor é não fazer vista grossa.
11.1.17
Desilusão? Talvez!
No entanto, sinto
dificuldade em determinar se houve um tempo de ilusão, no sentido em que o
imaginário é o que está por descobrir, por construir, por melhorar...
Sei que a História está
cheia de madrugadas radiosas, as minhas, contudo, foram sempre enevoadas, sem
que, alguma vez, me tenha imaginado redentor de qualquer ilha ou continente.
Porque a terra é um lugar
de tristeza, admiro quem celebra a alegria, porém tudo faço para não me deixar
inebriar, porque a fronteira é indistinta.
Apesar de tudo, a névoa
em que vivo não é minha - como tal não necessito de padre ou de analista - uma
névoa que, a pouco e pouco, submerge as margens em que arrisco cada dia...
Estranho é admitir um
qualquer estado de desilusão se nunca a ilusão amanheceu. Estou mesmo a
ver que, um destes dias, tudo é nada.
10.1.17
(A propósito das exéquias
de Mário Soares.)
Será que a Escola deve
alguma coisa à Democracia? Será a Escola um pilar da Democracia?
Por definição, a Escola
pode ser um pilar da Ditadura, tal como o pode ser da Democracia.
Descendo ao
particular, cada escola vem reclamando para si uma atuação
democrática, mesmo quando suportava a Ditadura...
Na Ditadura e na
Democracia, a Escola serve, sendo desejável que não se sirva a si própria...
Por vezes, vem-me à ideia
de que sou agente de uma escola que, em parte, vive na clandestinidade ou
que tem vergonha de defender os valores democráticos...
Entretanto, os inimigos
da Democracia não perdem uma oportunidade...
9.1.17
"Não é a multidão
que se esperava!" comentário de repórter da SIC.
Já lá vai o tempo da
vassalagem, já lá vai o tempo da arraia-miúda! Nem sequer o Estado tem coragem
para mover as "forças vivas"... Ainda se fosse um
"herói" da bola... Os deuses de hoje já não são majestáticos, nem
iluminam as vidas dos súbditos...
Só o futebol e a religião
conseguem aquecer o coração do povo miúdo, aquele povo que vive da
caridade, de subsídios, do ordenado mínimo, de pensões depreciadas, de
vencimentos estagnados... de promessas por cumprir...
A democracia tem destas
coisas - banalizou a morte, até porque se esqueceu da sua própria
natureza, ao criar oligarquias, inevitavelmente odiosas ao povo miúdo.
E depois há que não
esquecer que a História se faz de factos e de correlações, impossíveis de
entender quando não tendo memória, o regime se vem esforçando por
aboli-la.
Assim, sobra a opinião
que é reativa e, em regra, preconceituosa.
Por estes dias, o
povo não vê razão para sair à rua... Os dias da euforia já lá vão e
neles ficou sepultado um dos protagonistas da instauração do regime democrático
- Mário Soares.
8.1.17
Aborrece-me que a morte
possa ser um espetáculo, mesmo que o falecido tenha sido protagonista de um
determinado tempo...
Aborrece-me a memória
seletiva dos abutres que vão caindo sobre a presa, esquecidos de outros
tempos em que a pobreza coletiva lhes fornecia o pasto diário...
Aborrece-me que quem tem
como missão zelar para que a escola seja um espaço de educação e de
aprendizagem se comporte como um qualquer garimpeiro...
Há tantas atitudes que me
aborrecem que o melhor é remeter-me ao silêncio...
7.1.17
O meu tempo teria sido
bem diferente sem a ousadia de Mário Soares! Antes do 25 de Abril
sempre soube acolher e defender todos os que pugnavam pela liberdade.
Depois do 25 de abril, soube enfrentar as forças que tinham uma visão
restritiva da liberdade...
Consciente da fragilidade
económica de Portugal, Mário Soares abriu-nos as portas da Europa e do
Euro, apesar de bem saber que o interesse dos grandes da União
Europeia era distinto do caminho que o país precisava de trilhar... Mas sempre
assim fora no passado!
A ousadia de Mário
Soares devolveu Portugal à Europa e, no meu caso, livrou-me de uma guerra
colonial sem futuro.
Para mim, basta-me este
Mário Soares! O outro, o de que tanto se fala, neste momento, não me interessa.
6.1.17
As palavras escritas
correspondem cada vez mais à moeda errada. O seu valor tem vindo a
depreciar-se, de tal modo que poucos as leem e os que o fazem calam-nas ou
desvalorizam-nas sob a capa do relativismo... da subjetividade.
Esta tendência anda a par
com a uma certa ideia de democracia, em que uns tantos insistem em
manter (ou recuperar) privilégios de forma consuetudinária...
Se, por uns
tempos, a palavra escrita foi uma forma de resistência, isso significava
que ainda havia quem se deixasse persuadir pelo argumento ou pela emoção...
Hoje os argumentos são
tão incongruentes e as emoções tão artificiais que a pluma já só procura o
sulco para nele definhar.
5.1.17
(Esta nota não visa
responder à pergunta: - "Que modelo de gestão para uma escola
democrática?”)
Quando o adjetivo pesa
mais do que o nome, fico preocupado.
Creio que, num regime
democrático do séc. XXI, a pergunta deveria ser: Como construir uma escola
que dê resposta às atuais necessidades de educação e de instrução?
Para isso, e não é tarefa
fácil, é preciso elencar os objetivos, numa perspetiva de futuro, definir os
modos de operacionalização, sem esquecer os diversos recursos que, também eles,
serão distintos dos tradicionais...
Sem esta clarificação, de
pouco serve refletir sobre modelos de gestão e, em particular, sobre a
democraticidade do modelo, pois a participação de todos os atores na decisão,
por si, não resolve a questão principal...
De nada serve perspetivar
o futuro com os olhos do passado, porque, a continuarmos com a atual
disposição mental, a escola será cada vez mais obsoleta.
4.1.17
Aqui,
neste lugar, as janelas abrem para um coreto
Aqui, neste lugar, as
janelas abrem para um coreto, um dos muitos que existem nesta cidade de Lisboa.
Num relance, avisto seis bancos de jardim, quase todos ocupados por silhuetas
solitárias. Nas portas do coreto, dois cachos de jovens encontram alternativa à
vida escolar. Falam ininterruptamente vá lá saber-se do quê, talvez das imagens
que correm por entre os dedos... Ao lado, a esplanada do quiosque, quase sempre
repleta de estudantes, forasteiros e aliciadores diversos...
O jardim é constantemente
atravessado, sem que o que ali vai acontecendo desperte qualquer tipo de
atenção - é um jardim assimétrico - no centro de vias rodoviárias com fluxos de
trânsito irregulares... A verdade é que chamam ao lugar Praça José Fontana,
embora ninguém saiba quem foi o patrono, qual foi o seu contributo para a
criação do partido socialista oitocentista nem para o lançamento dos movimentos
sindicais... Envergonhado, também anda por lá um tal Henrique Lopes de
Mendonça, autor da letra da marcha A Portuguesa (Hino
Nacional). Parece que o município lisboeta, para que o dito Henrique Lopes de
Mendonça não permanecesse na clandestinidade, lhe atribuiu o nome ao jardim...
Entretanto, lá fora, só o
céu escureceu. E aqui dentro, espero que alguém queira saber quem foram José
Fontana e Henriques Lopes de Mendonça... Bem posso esperar!
3.1.17
Ao serviço da instrução
pública desde 2 de Janeiro de 1975, comecei hoje o dia escolar como se
nada tivesse ocorrido antes...
Na sala de professores,
ainda me perguntaram para quando a aposentação, mas a minha reação foi de
indiferença: respondi que o melhor é questionar o Vieira da Silva... ou a
Coligação que diz que põe e que repõe, porém, no que me diz respeito, vejo cada
vez menos...
Consequentemente, voltei
a enfrentar a turma das dez horas com a costumeira rotina, e lá ataquei o
Fernão Lopes e a revolução de 1383-1385, que é como quem diz, lá me esforcei
por contextualizar o conteúdo, ordenando os factos, a nosso favor, porque o D.
João de Castela decidira desrespeitar os tratados com o pretexto de que a
"aleivosa" lhe prejudicava a ideia de estender a hegemonia de Castela
a toda a Península Ibérica...
Claro que os jovens
saíram apressados, sem querer saber de "tempos de mudança"...
Lá, no fundo, a culpa
disto tudo é do velho Álvaro Pais e de um letrado, de seu nome, João de
Aregas, hoje esquecido na Praça da Figueira...
2.1.17
« Il faut épouser son temps », avait un jour lancé le
peintre Daumier à Ingres. « Et si le temps a tort ?» lui
avait répliqué le néo-classique. (Grégoire Delacourt, 2015, Les Quatre
Saisons de l'Été, pp 233-234, Le Livre de Poche.
Daquilo que ouvi,
ontem, ao Presidente da República, fiquei convencido de que ele sabe
agradar a todos, pois é isso que todos esperam dele.
Uns ficaram satisfeitos
porque ele elogiou a Coligação; outros ficaram agradados porque ele enviou
recados à necessidade de o Governo corrigir o rumo, designadamente em termos de
investimento, desenvolvimento da economia e da diminuição do desemprego...
E tudo o que disse foi
para uma plateia que parece existir para além dos agentes político-partidários
- uma plateia que sorri facilmente, que se entusiasma com discursos redondos,
sem espinha dorsal.
O Presidente da República
de ontem fez-me lembrar um ator que sobe ao palco para agradar à plateia,
independentemente das convicções de cada um... talvez porque as convicções de
cada um sejam cada mais frágeis...
Há quem diga que o
discurso foi muito bom, pode ser, mas não vi (nem ouvi nele) nada que
possa desfazer as contradições que minam a Coligação... a não ser o otimismo, a
esperança!
1.1.17
Aqui,
nesta terra, as portas abrem para o Céu
Aqui, nesta terra, está
tudo encerrado, exceto a Igreja cujas portas abrem, mas para o Céu...
Aqui nesta terra, não é
possível ter acesso ao Magazine de Notícias, do DN, em edição especial, que dá
conta dos trabalhos de Guterres, no passado e, sobretudo, doravante nas
Nações Unidas... Não é possível ter acesso à sombra de Guterres, a esse enigmático
Melícias, doravante diretor espiritual da humanidade...
Creio que, até hoje, a
Terra nunca teve um diretor espiritual que lhe pudesse abrir as portas do
Céu...
Os Poderosos deste mundo
desunido que se cuidem!